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Alguns dos julgados abaixo transcritos apresentam referências a normas já revogadas ou alteradas. No entanto, optamos por mantê-los em atenção à sua relevância histórica e de maneira a expor a evolução jurisprudencial de nossos Tribunais. ART. 1º 1.1 Princípio da legalidade Inadmissibilidade de interpretação ampliativa ou analogia TACSP: “Em Direito Penal, o princípio da reserva legal exige que os textos legais sejam interpretados sem ampliações ou equiparações por analogia, salvo quando in bonam parte. Ainda vige o aforismo poenalia sunt restringenda, ou seja, interpretam-se estritamente as disposições cominadoras de pena” (RT 594/365). Sucessão de leis que regulam o fato STJ: “Penal. Trancamento da ação. Gestão fraudulenta. Bancos de investimentos. 1 – Os bancos de investimentos passaram a ter existência legal a partir da Lei 4.728/65. 2 – Não há cri- me sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal – CF, art. 5º, XXXIX. Havendo, no entanto, sucessão de leis regulando, no todo ou em parte, os mesmos fatos, se estes ocorreram já na vigência da lei nova mais benigna, esta é a que prevalece. No caso, considerando, inclusive, imputação constante da denúncia, tem-se que ocorreu a prescrição da pretensão puniti- va, pois foi recebida em 25-9-81 sem que haja havido causa interruptiva até hoje, considerando-se que o máximo da pena cominada é de 4 anos – Lei 4.595/64, art. 34, § 1º 3 – Recurso provido” (RHC 3.592-RJ – DJU de 7-11-1994, p. 30.026). Princípio da legalidade em crime de sonegação fiscal TRF da 4ª Região: “I – É vedada a interpretação integrativa de norma penal em prejuízo de acusado. II – Princípio constitucional da legalidade (art. 5º, XXXIX, CF/88), insculpido no art. 1º do CP/40: ‘não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal’. III – A falta de recolhimento de contribuição previdenciária por Prefeito Municipal no exercício do cargo é figura atípica, penalmente irrelevante. IV – A legislação previdenciária não arrola o Chefe do Executivo Municipal como sujeito ativo do delito previsto no art. 95, letra d, da Lei 8.212/91. V – Denúncia rejeitada pelo art. 43, I, do CPP/41” (Ap. nº 95.04.13805-PR, DJU de 16-11-1995, p. 78.811). Princípio da legalidade em crime militar STF: “Ofende o princípio da reserva legal – ‘não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal’ (art. 5º, XXXIX, da CF) – a construção jurisprudencial castrense baseada na aplicação subsidiária da norma contida no § 2º do art. 190 do CPM, concluindo que ‘não obstante o dispositivo repressivo referido não expressar reprimenda para os desertores que CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 2 retornem em lapso de tempo superior a dez dias, deve-se considerar que, para chegar ao somató- rio superior ao decêndio, o militar faltoso teve que ultrapassar os dez dias de ausência previsto no tipo penal incursionado’ ” (HC 73.257-7-RJ – DJU de 3-5-1976, p. 13.902). 1.2 Irretroatividade da lei penal Irretroatividade da lei mais severa quanto a penas TJSP: “Não é possível dar-se efeito retroativo à lei penal mais severa, aplicando-se a multa de conformidade com a Lei nº 6.426, de 1977, a fato ocorrido vários anos antes. Cumpre, pois, ajustá-la aos padrões da época” (RT 512/376). TACRSP: “Não se pode aplicar uma lei mais gra- vosa a fatos pretéritos, sob pena de se estar afrontando a regra geral da irretroatividade das leis penais, que só se dará quando beneficiar o réu” (JTACRIM 51/430). Irretroatividade de lei mais severa quanto a regimes de pena STF: “Aos fatos verificados anteriormente à sua vigência não se aplica o disposto no § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90, que veda a progressão do regime penal, quanto aos crimes hediondos. Pedido deferido, para imediata progressão ao regime-aberto” (RT 725/499). STF: “Habeas cor- pus. Lei penal. Aplicabilidade. Princípios: Tempus delicti commissi regit actum e irretroativida- de da lei mais gravosa. Crime hediondo. Atentado violento ao pudor, art. 214 do Código Penal. Crime qualificado como hediondo pela Lei 8.072/90 que modificou a pena a ele cominada e fixou o regime fechado para o seu cumprimento. Condenação que impõe a pena com base na redação anterior do art. 214 do Código Penal, vigente à época da infração, e fixa o regime fechado para o cumprimento da pena com base na Lei 8.072/90 que lhe é posterior. Impossibilidade em face do princípio de direito intertemporal tempus delicti commissi regit actum e da irretroatividade da lei mais gravosa. A lei mais benéfica deve ser aplicada na sua integridade. Por esta razão não se pode aplicar a pena mais branda cominada pela redação antiga do art. 214 do CP e impor-lhe o regime mais gravoso de cumprimento estabelecido pela Lei superveniente 8.072/90. Regime prisional. Normas que fixam a forma de cumprimento da pena. Natureza. As normas que impõem a pena e a forma de sua execução têm a mesma natureza, são normas de direito substantivo: as penas e os regimes de seus cumprimentos vêm disciplinados no Código Penal. Habeas corpus deferido em parte” (JSTF 193/361). STF: “Crimes de latrocínio e de ocultação de cadáver. Pena. Indeferimento de pleito de progressão para o regime semi-aberto. Aplicação do art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90, que veda aquele benefício nos casos de crimes hediondos. Impossibilidade de aplicação retroativa da lei. Ofensa ao art. 5º, XL, da CF. A vedação da progressão do regime penal nos crimes hediondos constitui lex gravior, que não pode ser aplicada aos fatos anteriores à sua edição. Precedentes: HC 71009 e HC 68416. A norma que trata do modo de execução da pena é de direito material e não processual penal. Aplicabilidade dos princípios tempus delicti commissi regit actum e da irretroa- tividade da lei mais gravosa” (HC 71.363-MG – DJU de 16-9-94, p. 24.279). TJSP: “A regra do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90, por ser mais gravosa, não pode retroagir para alcançar a execução penal em curso (a fim de perpetuar no regime fechado, quem ainda, por falta de requisito tem- poral nele se ache ou a fim de fazer regressar ao regime fechado quem já se encontre no regime semi-aberto ou aberto), ou a que vier a ser iniciada em razão de fato criminoso ocorrido antes da vigência da nova lei (a fim de obstar a progressão no regime penitenciário)” (RT 722/416). TJRS: MATERIAL SUPLEMENTAR 3 “Habeas corpus. Regime integralmente fechado para homicídios qualificados cometidos antes da vigência da Lei nº 8.930/94 – A regra legal que disciplina os regimes carcerários é de natureza material, tem caráter penal, impondo-se observar o princípio da legalidade. Impossibilidade de fazer-se retroagir a lei, para imposição de regime integralmente fechado, para quem tenha come- tido homicídio qualificado, antes da alteração procedida na Lei dos Crimes Hediondos pela Lei nº 8.930/94. Ordem parcialmente concedida, para cassar-se a decisão proferida no juízo das exe- cuções, que indeferiu a pretensão progressiva de regime, e para que se processe e julgue o pedido na origem” (RJTJERGS 173/81). Irretroatividade da lei mais severa no crime continuado TRF da 4ª Região: “A aplicação da regra do crime continuado deve obedecer critérios que atendam inclusive ao princípio da irretroatividade da lex gravior, ou mais nova e mais gravosa. Tendo o réu cometido somente um delito incidente na lei mais gravosa, a série delitiva não deve sofrer o agravamento decorrente do cálculo do aumento correspondente com base na lei nova, pelo motivo da irretroatividade (CP, art. 2º)” (Ap. Crim. 95.04.27405-6-RS – DJU de 14-2-1996, p. 7.366). TJPB: “Lei penal. Conflito no tempo. Delitos praticados em continuidade delitiva. Norma penal nova. Aplicação na parte em que não prejudica o réu. (...) No confronto de leis no tempo, aplicam-se cumulativamente, a revogada e a atual, quando praticadas as condutas em continuida- de delitiva, considerando-se que a lei mais nova não pode retroagir em prejuízo do agente” (RT 723/653). Continuação delitivana lei nova mais severa: aplicação desta STF: “Conflito de leis no tempo – Continuidade delitiva. Tratando-se de continuidade de- litiva, observa-se a lei em vigor na data dos procedimentos condenáveis mais recentes” (JSTF 225/369). STF: “Estupro. Continuidade delitiva. Lei nº 8.072/90. Regime de cumprimento da pena. Progressão. Lei nº 8.930/94. Juiz da Vara das Execuções Penais. Se o paciente praticou a série de crimes sob o império de duas leis, sendo mais grave a posterior, aplica-se a nova disciplina penal a toda ela, tendo em vista que o delinqüente já estava advertido da maior gravidade da sanção e persistiu na prática da conduta delituosa. A pretensão de ver reconhecido a favor do paciente o regime progressivo de execução da pena, sob alegação de que com o advento da Lei nº 8.930/94, o estupro, quando praticado na modalidade simples, deixou de ser considerado crime hediondo, havendo sido mantido apenas o praticado na forma qualificada pelo resultado (art. 223, caput e parágrafo único, do Código Penal), não pode ser apreciada na via do habeas corpus, pois cabe ao Juiz da Vara das Execuções Penais decidir quanto à aplicação de lei posterior mais benigna (Sú- mula 611), pelo que não é de conhecer-se da impetração no particular. Habeas corpus conhecido em parte e nela indeferido” (HC 76.680-2-SP – DJU de 12-6-1998, p. 53). STJ: “A lei nova que sobrevém ao crime continuado – ainda que mais gravosa – tem aplicação sobre toda a série cri- minosa. Violação do princípio da ultra-atividade da lei mais benéfica que não se verifica” (REsp 109.888-RS – DJU de 14-8-2000, p. 187). STJ: “Se a conduta permaneceu sendo reiterada na vi- gência da lex gravior, a majoração, em grau mínimo (1/6), pela continuidade delitiva, não ofende qualquer dispositivo legal. Recurso não conhecido” (REsp 115.774-RS – DJU de 2-3-1998, p. 130). TJSC: “Crime continuado. Lei nova mais severa. Aplicação a toda a série de delitos. Cabimento. A lei nova que sobrevém ao início do crime continuado, ainda que mais severa, é aplicável a toda CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 4 a série de delitos que o unificam se o agente persevera na respectiva prática, porque está adverti- do das conseqüências de sua conduta. Apelação improvida (TRF/4ª Reg. Apelação Criminal no 95-04-05500-1 – Paraná. Ac. 1ª T. unân. Rel: Juiz Ari Pargendler, j. em 9-5-95 – Fonte: DJU II, 31/5/95, pág. 33.494)” (JCAT 79/661). TJRS: “Crimes contra a ordem tributária. Sonegação de ICMS. Continuidade delitiva. Lei aplicável. A lei nova tem inteira aplicação a toda série delitiva, mesmo sendo mais grave, pois se considera momento da ação tanto o do primeiro fato punível quanto o do último. Ademais, o agente estava advertido da maior gravosidade da sanctio juris” (RJTJERGS 173/128). Irretroatividade da lei mais severa quanto à prescrição STF: “A Lei nº 6.416, de 24 de maio de 1977, não se aplica retroativamente contra o réu, no tocante à prescrição, em face de pertencerem ao direito material as normas que disciplinam esse instituto; veio ela, no entanto, reforçar a interpretação mais ortodoxa do parágrafo único do art. 110 do Código Penal, na sua redação anterior” (RTJ 83/747). TJSP: “A Lei 6.416/77, que introduziu o § 2º ao art. 110 do CP, por conter norma mais gravosa para o réu, não pode alcançar fato criminoso perpetrado sob vigência de outra norma que ensejava interpretação mais favorável” (RT 525/332). Irretroatividade da lei mais severa quanto a agravantes TJSC: “Tendo o delito sido praticado antes do advento da Lei nº 9.318, de 5-12-96, que ti- pificou como agravante o crime cometido contra mulher grávida, forçosa é a aplicação do princí- pio da irretroatividade da lex gravior (art. 5º, XL, da CF, e art. 2º, parágrafo único, do CP” (JCAT 81-82/644). Irretroatividade da Lei nº 8.930/1994, que incluiu o homicídio entre os crimes hediondos STJ: “1. O inc. XL do art. 5º da Constituição Federal determina que “a lei penal não re- troagirá, salvo para beneficiar o réu”. 2. Assim, o delito de homicídio qualificado cometido em 16/1/94 não pode ser considerado hediondo, pois somente com o advento da Lei 8.930, de 6/9/94, este crime passou a integrar o rol previsto na Lei 8.072/90. 3. Ordem concedida” (HC 73207-RJ, j. em 19-4-2007, DJU de 21-5-2007, p. 603). ART. 2º 2.1 Abolitio criminis Nova lei que ainda incrimina o fato TACSP: “A conduta típica de um réu prevista em lei revogada pode ainda ser punível se existir outra lei que estabeleça conduta semelhante como infração penal, podendo a denúncia ser aditada para correção ou suprimento, antes da sentença final, e sendo facultado ao Juiz dar ao fato MATERIAL SUPLEMENTAR 5 definição jurídica diversa da que constar da queixa ou da denúncia, evitando assim o trancamento da ação penal” (RJDTACRIM 14/179-80). Inadmissibilidade da abolitio criminis por medida provisória TACRSP: “Impossível aplicar-se a norma do art. 2º, caput, do CP – abolitio criminis – se a descriminante é uma medida provisória não transformada em lei pelo Congresso Nacional, pois o Poder Executivo não tem a prerrogativa de concretizar disposições penais, o que é atribuição privativa do Poder Legislativo” (RJDTACRIM 9/164). Inadmissibilidade de abolitio criminis pelo costume TAMG: “O ‘princípio da legalidade’ não admite o direito consuetudinário, não podendo, pois, os costumes revogarem a lei penal, a qual somente por outra lei poderá ser revogada” (RJ- TAMG 21/414). Inadmissibilidade da revogação pelo costume (jogo do bicho) TACRSP: “O chamado ‘jogo do bicho’ é, e continua, sendo ilegal, embora seja tolerado até pelo Poder público em determinadas situações, dependa dele para sobreviver enorme força de trabalho, venham seus recursos a ser utilizados em dadas hipóteses – até em benefício da parte da coletividade carente. Ainda em vigor o Dec.-lei 6.259/44 (art. 58) que o coibiu, até que seja revogado continuará a subsistir e gerar efeitos. Uma lei, como se sabe, só se revoga por outra, de igual ou maior hierarquia. Não perde a eficácia por se haver tornado velha, ou ter caído em desu- so” (RT 703/313). Inadmissibilidade da revogação pelo costume (jogo do bicho) – Contra TACRSP: “Embora expressiva corrente jurisprudencial sustente que a não-reprovabilida- de da consciência popular não serve para excluir a criminalidade da norma penal, o que se vê, na realidade, é que o efeito repressivo do ‘jogo do bicho’ perdeu sua objetividade e não mais atende a necessidade social. Ao contrário, mostra-se até inconveniente sua observância, mesmo porque tal prática constitui, hoje, considerável mercado de trabalho à disposição de mão-de-obra não es- pecializada” (RT 606/334). Abolitio criminis pela criação da imunidade de vereador TACRSP: “Crime contra a honra. Imunidade parlamentar. Vereador. Ofensa irrogada em plenário da Câmara. Fato ocorrido no exercício do mandato e em estrita relação com a função. Superveniência de nova Carta Constitucional que lhe confere imunidade material. Ocorrência de abolitio criminis. Extinção da punibilidade confirmada. Aplicação dos arts. 2º, caput, do CP e 29, VI, da CF. Com o advento da nova Constituição Federal, que, em seu art. 29, VI, garante a invio- labilidade da palavra, o vereador não mais responde pelos delitos de opinião, como a calúnia, a difamação e a injúria, se os comete no exercício do mandato e em estrita relação com o exercício da função” (RT 648/309). CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 6 2.3 Retroatividade da lei mais benigna Retroatividade de todos os efeitos penais TACRSP: “O art. 2º, parágrafo único, do CP, com a redação que lhe foi dada pela Lei 7.209/84, estabelece que ‘a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado’. A retroati- vidade benéfica, após a Reforma Penal de 1984, deixou de sofrer qualquer limitação, abrangendo não só os crimes e as penas como, também, as medidas de segurança e a execução penal. Assim, a remição da pena temaplicação retroativa, porque se traduz numa inequívoca redução punitiva, e tudo quanto se referia ao preceito sancionatório é de Direito Penal Material. Pouco importa que a norma sobre a remição tenha sido inserida na fase de execução da pena. Esta circunstância não lhe retira a condição de regra penal favorecedora do condenado e que terá forçosamente de retroa- gir, se preenchidos os demais requisitos” (RT 652/300). Retroatividade na cominação da pena TAPR: “A lei posterior que beneficiar o réu, cominando ao fato pena menos rigorosa, deve incidir imediatamente nos processos em andamento” (RT 510/438). Inadmissibilidade da combinação das Leis nos 11.343/2006 e 6.368/1976: aferição da lei mais favorável no caso concreto STJ: “Penal. Embargos de divergência. Tráfico de drogas. Art. 12, caput, da Lei nº 6.368/76 (antiga lei de tóxicos). Aplicação do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. Vedação à combinação de leis. Princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica (art. 5º, inciso XL da CF/88) que impõe o exame, no caso concreto, de qual diploma legal, em sua integralidade, é mais favorável. Orien- tação prevalente no pretório excelso. Precedentes. Nova lei que se afigura, na integralidade, mais benéfica. I – A Constituição Federal reconhece, no art. 5º inciso XL, como garantia fundamental, o princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica. Desse modo, o advento de lei penal mais favorável ao acusado impõe sua imediata aplicação, mesmo após o trânsito em julgado da con- denação. Todavia, a verificação da lex mitior, no confronto de leis, é feita in concreto, visto que a norma aparentemente mais benéfica, num determinado caso, pode não ser. Assim, pode haver, conforme a situação, retroatividade da regra nova ou ultra-atividade da norma antiga. II – A norma insculpida no art. 33, § 4º da Lei nº 11.343/06 inovou no ordenamento jurídico pátrio ao prever uma causa de diminuição de pena explicitamente vinculada ao novo apenamento previsto no caput do art. 33. III – Portanto, não há que se admitir sua aplicação em combinação ao conteúdo do pre- ceito secundário do tipo referente ao tráfico na antiga lei (Art. 12 da Lei nº 6.368/76) gerando daí uma terceira norma não elaborada e jamais prevista pelo legislador. IV – Dessa forma, a aplica- ção da referida minorante, inexoravelmente, deve incidir tão somente em relação à pena prevista no caput do artigo 33 da Lei nº 11.343/06. V – Em homenagem ao princípio da extra-atividade (retroatividade ou ultra-atividade) da lei penal mais benéfica deve-se, caso a caso, verificar qual a situação mais vantajosa ao condenado: se a aplicação das penas insertas na antiga lei – em que a pena mínima é mais baixa – ou a aplicação da nova lei na qual há a possibilidade de incidência da causa de diminuição, recaindo sobre quantum mais elevado. Contudo, jamais a combinação dos MATERIAL SUPLEMENTAR 7 textos que levaria a uma regra inédita. VI – O parágrafo único do art. 2º do CP, à toda evidência, diz com regra concretamente benéfica que seja desvinculada, inocorrendo, destarte, na sua inci- dência, a denominada combinação de leis. VII – A vedação à combinação de leis é sufragada por abalizada doutrina. No âmbito nacional, v. g.: Nelson Hungria, Aníbal Bruno e Heleno Cláudio Fragoso. Dentre os estrangeiros, v. g.: Jiménez de Asúa, Sebastián Soler, Reinhart Maurach, Ed- gardo Alberto Donna, Gonzalo Quintero Olivares, Francisco Muños Conde, Diego-Manuel Luzón Peña, Guillermo Fierro, José Cerezo Mir, Germano Marques da Silva e Antonio Garcia-Pablos de Molina. VIII – A orientação que prevalece atualmente na jurisprudência do Pretório Excelso – em ambas as Turmas – não admite a combinação de leis em referência (RHC 94806/PR, 1ª Turma, Re- latora Ministra Cármen Lúcia, DJe de 16/04/2010; HC 98766/MG, 2ª Turma, Relatora Min. Ellen Gracie, DJe de 05/03/2010 e HC 96844/MS, 2ª Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 05/02/2010). IX – No caso concreto, afigura-se mais benéfico ao embargado a aplicação da nova lei, aí incluída a incidência da minorante, reconhecida em seu favor e, neste ponto, transitada em julgado para a acusação, no patamar de 1/2 (metade), totalizando a pena 03 (três anos de reclusão). Embargos de divergência providos. Ordem de habeas corpus concedida de ofício para alterar a pena aplicada nos termos da Lei nº 11.343/2006” (EREsp 1094499-MG, j. em 12-5-2010, DJe de 18-8-2010). STJ: “Habeas corpus. Tráfico de drogas. Delito cometido na vigência da Lei 6.368/76. Redução de 1/6 até 2/3 da pena. Retroatividade do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/06 (nova lei de drogas). Inadmissibilidade. Combinação de leis. Condenação transitada em julgado. Aplicação de uma ou outra legislação, em sua integralidade, conforme for melhor para o acusado ou sentenciado. Pro- gressão de regime prisional. Inconstitucionalidade do art. 2º, § 2º da Lei 8.078/90. Precedentes do STJ e STF. Ordem parcialmente concedida. 1. A redução da pena de 1/6 até 2/3, prevista no art. 33, parág. 4º da Lei 11.343/06, objetivou suavizar a situação do acusado primário, de bons antecedentes, que não se dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa, proi- bida, de qualquer forma, a conversão em restritiva de direito. 2. Embora o referido parágrafo te- nha a natureza de direito material, porquanto cuida de regra de aplicação da pena, tema regulado no Código Penal Brasileiro, mostra-se indevida e inadequada a sua aplicação retroativa à aquelas situações consumadas ainda na vigência da Lei 6.368/76, pois o Magistrado que assim procede está, em verdade, cindindo leis para criar uma terceira norma – uma lei de drogas que prevê pena mínima para o crime de tráfico de 3 anos, passível de redução de 1/6 até 2/3, para agentes primários e de bons antecedentes, possibilitando, em tese, a fixação da sanção em apenas 1 ano de reclusão; contudo, essa norma jamais existiu no ordenamento jurídico brasileiro, não podendo ser instituída por via de interpretação. 3. Na linha da melhor hermenêutica jurídica, tem-se que o conjunto é que compõe a norma e todos os seus preceitos precisam conviver em harmonia e devem ser aplicados de maneira ordenada, sob pena de aquela (norma) perder a sua natureza de ordenação racional. 4. Na hipótese, o § 4º faz referência expressa ao caput do art. 33 da nova Lei de Drogas, sendo parte integrante deste, que aumentou a pena mínima para o crime de tráfico de 3 para 5 anos. Sua razão de ser está nesse aumento, para afastar qualquer possível ofensa ao princípio da propor- cionalidade, permitindo ao Magistrado que, diante da situação concreta, mitigue a sanção penal do traficante ocasional ou do réu primário, de bons antecedentes e não integrante de organização criminosa; assim, não há como interpretá-lo isoladamente do contexto da novel legislação. 5. O princípio da reserva legal atua como expressiva limitação constitucional ao aplicador judicial da lei, cuja competência jurisdicional, por tal razão, não se reveste de idoneidade suficiente para lhe permitir inovar a ordem jurídica ao ponto de criar novas normas, sob pena de incidir em domínio reservado ao âmbito de atuação do Poder Legislativo e, sobretudo, desconstruir a lógica interna CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 8 do sistema, criando soluções desarrazoadas e incongruentes. 6. A solução que atende ao princípio da retroatividade da lei mais benéfica (art. 2º do CPB e 5º, XL da CF/88), sem todavia, quebrar a unidade lógica do sistema jurídico, vedando que o intérprete da Lei possa extrair apenas os con- teúdos das normas que julgue conveniente, é aquela que permite a aplicação, em sua integralida- de, de uma ou de outra Lei, competindo ao Magistrado singular, ao Juiz da VEC ou ao Tribunal Estadual decidir, diante do caso concreto, aquilo que for melhor ao acusado ou sentenciado. 7. O Plenário do colendo Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do HC 82.959-7/SP, deci- diu ser inconstitucional o § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90, que vedava a progressão de regimeaos condenados por crimes hediondos, o que autoriza o deferimento do writ para afastar a proibição ao benefício com fundamento no referido dispositivo legal. 8. Ordem parcialmente concedida, mas apenas para que o Juiz da VEC analise a possibilidade de redução da pena com fulcro no art. 33, § 4º da Lei 11.343/06, aplicando, se for o caso, em sua integralidade, a legislação que melhor favorecer o paciente, bem como para afastar a proibição de progressão de regime prisional, cuja análise do preenchimento dos pressupostos objetivos e subjetivos deverá ser feita nos termos do art. 112 da LEP” (HC 86797-SP, j. em 11-3-2008, DJe de 7-4-2008). Retroatividade quanto à reincidência específica TACRSP: “Abolida a figura da reincidência específica pela Lei nº 6.416, de 1977, impõe- -se em sede de apelação a imediata e automática aplicação da nova lei mais benéfica” (JTACRIM 48/301). Retroatividade quanto à reabilitação TACRSP: “A forma mais benigna prevista na lei nova deve ser aplicada em toda a sua exten- são, inclusive no que tange às exigências para o deferimento da reabilitação” (JTACRIM 59/136). Retroatividade em sentença transitada em julgado TACRSP: “A lei nova, mais benigna ao agente, retroage, ainda que os fatos anteriores se encontrem decididos em ato que transitou em julgado, devendo ser aplicada por mero reconheci- mento, não exsurgindo, portanto, caso de habeas corpus espontâneo” (RJDTACRIM 27/243-4). TACRSP: “É garantia constitucional inserida no art. 153, § 16, da Carta de 1969 (art. 5º, XL, vi- gente) e explicitada no art. 2º, parágrafo único, do Código Penal, que a lei posterior que favorece o agente aplica-se ao fato praticado sob a égide da lei anterior, mais severa, princípio da retroatividade benéfica da lei penal, aplicável mesmo existindo sentença condenatória irrecorrível” (RT 521/434). Retroatividade em vacatio legis TARS: “A lei penal mais benigna, em razão dos princípios inscritos no art. 5º, XL e § 1º, da CF, tem aplicação imediata, não se sujeitando ao período de vacatio legis” (RT 667/330). TA- CRSP: “Quando a Constituição Federal, no art. 153, § 16 (art. 5º, XL vigente), se refere a lei posterior, não cuida de lei posterior vigente. Logo, deve-se concluir que ela alude a lei posterior existente. Havendo lei posterior mais benéfica, tem incidência a norma constitucional, pois não seria aceitável que o legislador ordinário restringisse o alcance do preceito constitucional, fosse por imprevidência ou por mera ignorância” (RT 589/332). MATERIAL SUPLEMENTAR 9 2.4 Aplicação de lei intermediária Aplicação de lei intermediária TACRSP: “Se entre as leis que se sucedem surge uma intermediária mais benigna, embora não sejam nem a do momento em que se praticou o fato nem a daquele em que o mesmo foi julgado, essa lei intermédia mais benévola deve ser aplicada, ex vi do art. 2º, parágrafo único, do CP” (RT 534/364). 2.5 Retroatividade e lei penal em branco Irretroatividade na lei penal em branco TACRSP: “As leis penais em branco não são revogadas em conseqüência da revogação de seus complementos integradores. Não obstante a cessação destes, continuam elas em vigor, apenas faltan- do elementos ocasionais para sua ulterior aplicação. Assim, a circunstância de que, com a cessação dos complementos, deixam elas de ser aplicáveis, somente diz com o futuro” (JTACRIM 40/130). 2.7 Retroatividade das normas mistas Retroatividade dos institutos penais da Lei nº 9.099/95 TACRSP: “A Lei nº 9.099/95, vigente a partir de 26-11-95, trouxe, na órbita penal e proces- sual penal, novos institutos previsivos de aspectos de direito material mais favoráveis aos acusa- dos e, assim, comportam aplicação retroativa, com fulcro no art. 5º, XL, da Constituição Federal” (RJDTACRIM 31/170). Retroatividade de norma sobre representação – Contra TARS: “Lei nº 9.099/95. Arts. 90 e 91. A irretroatividade das disposições introduzidas pela Lei nº 9.099/95 não afronta ao art. 5º, XL, da CF, nem ao art. 2º, parágrafo único, do CP, pois não se trata de lex mitior. Nos casos em que a lei passou a exigir representação, sem ela não pode- rá ser intentada a ação penal pública, mas a que se encontra em fase de instrução ou julgamento prosseguirá independentemente dessa providência” (JTAERGS 97/83). Retroatividade de norma sobre transação TACRSP: “A regra do art. 76 da Lei nº 9.099/95, que prevê a transação penal, por tratar-se de disposição processual, mas de efeitos penais, na medida em que possibilita a aplicação de pena mais branda, sem implicar em reincidência, deve retroagir na forma do princípio consagrado no art. 5º, XL, da Constituição Federal e no art. 2º, parágrafo único, do CP” (RJDTACRIM 30/241). Retroatividade de norma sobre suspensão condicional do processo TACRSP: “Contendo o art. 89 da Lei nº 9.099/905 regra que beneficia o condenado, e consi- derando a amplitude do preceito constitucional inscrito no art. 5º, XL, e ainda o disposto no art. 2º, CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 10 parágrafo único, do CPP, é de rigor sua aplicação retroativa a todos os processos em andamento, inclusive aos que estiverem em fase recursal” (RJDTACRIM 30/237). TACRSP: “A Lei nº 9.099, de 1995, de aplicação imediata, prevê aspectos penais favoráveis, que indiscutivelmente devem ser observados. É o caso do art. 89 que dá ensejo à suspensão do processo. Na medida em que a tentativa é considerada para fins de incidência desse novo instituto, a pena aplicada não pode ser desconsiderada, embora o dispositivo se refira à cominada, para dar ensejo à aplicação imediata dessa nova lei” (RT 727/375). Irretroatividade dos institutos penais da Lei nº 9.099/95 nos proces- sos em andamento TARS: “A Lei nº 9.099/95 não tem aplicação aos processos cuja instrução já houver sido iniciada. Precedente do 2º Grupo Criminal deste Tribunal. Inviável a combinação de leis, mesmo para favorecer o acusado, sendo orientação do Supremo Tribunal Federal. Embargos improvidos” (JTAERGS 99/41). TARS: “Incidência da Lei nº 9.099/95 rejeitada. Aplicação do art. 90 da nova lei, que não está contaminado pelo vício da inconstitucionalidade. Efeitos penais da norma devem ser analisados no âmbito próprio e no momento oportuno” (JTAERGS 97/114-5). Irretroatividade da composição, da transação e da suspensão condi- cional do processo em fase recursal TACRSP: “A Lei nº 9.099/95 aplica-se a processos que se encontram em grau de recurso no que tange à exigência de representação, prevista no art. 91; entretanto, as normas que tratam da composição civil, e da transação penal, ou suspensão condicional do processo, apesar da pos- sibilidade de exercerem influência na situação fática do réu, não podem retroagir para que sejam praticados atos incompatíveis com os já realizados no processo, porque perfeitos e acabados, sob pena de criar-se, a título de beneficiar aquele, situações injustas para todos os condenados que, em razão do trânsito em julgado das sentenças condenatórias proferidas em casos idênticos, não mais poderão usufruir desses benefícios” (RJDTACRIM 29/186). Retroatividade de norma sobre suspensão do processo TACRSP: “Enquanto não decidido em definitivo o litígio, o processo está fluindo, por isso que o alcança o novo diploma legal (Lei 9.271/96), quando determina a suspensão da instância, sendo revel e sem patrono constituído o réu citado por edital” (RT 736/645). Irretroatividade de lei mista: suspensão do processo STF: “A Lei 9.271/96, que deu nova redação ao art. 366 do CPP (se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do pra- zo prescricional, ...), sendo mais gravosa para o réu, não se aplica aos crimes cometidos antes do início de sua vigência, submetendo-se à regra da irretroatividade da lei penal (CF, art. 5º, XL). À vista disso, e afirmado a indissociabilidade do sobrestamento do processo e da suspensão da pres- crição dispostos na referida lei, a Turma indeferiu habeas corpus impetrado contra o Tribunal deAlçada Criminal do Estado de São Paulo, afastando a pretensão de aplicação ‘intermediária’ do art. MATERIAL SUPLEMENTAR 11 366 do CPP, com a qual se requeria fosse conferida ao paciente a retroatividade da parte benéfica (suspensão do processo) e a irretroatividade da parte a ele prejudicial (suspensão da prescrição).” (HC 64.695-SP-j. 11-3-1997) (Informativo STF 63, 19-3-1997). STF: “Dada a estreita conexão te- leológica, na Lei 9.271/96, entre a norma processual que determina a suspensão do processo contra o revel citado por edital e a norma penal que, na mesma hipótese, suspende o curso da prescrição, não é possível aplicar a primeira, aos processos pendentes, porque processual e mais favorável, quando impossível aplicar a segunda, penal e menos favorável” (RT 750/562). STJ: “Não se pode dissociar as disposições do art. 366 do CPP com a nova redação da Lei 9.271/96, para se aplicar, em relação a fatos pretéritos, tão-somente a suspensão do processo, deixando de fazê-lo em rela- ção ao lapso prescricional, o que quebraria o equilíbrio que o legislador procurou realçar entre os interesses do réu e o da sociedade, para julgamento mais justo. Em tais condições, remanescem as regras anteriores, aplicando-se o novo disciplinamento tão-somente aos fatos delituosos ocorridos após a sua vigência” (RT 751/571). STJ: “Contendo a norma do art. 366 do CPP, com a redação da Lei nº 9.271, de 1996, dois princípios integrados (suspensão do processo e do prazo prescricional), não se pode cindi-los, para fins de aplicação retroativa, mesmo porque disso nenhum benefício resultaria ao réu. Recurso desprovido” (RHC 6.406-SP – DJU de 16-6-1997, p. 27.403). TACRSP: “É inviável a aplicação retroativa e parcial do disposto no art. 366 do CPP, para infrações cometi- das antes da vigência da Lei 9.271/96, visto que, suspendendo-se o processo, enquanto a prescrição seguirá seu curso normal, poderá acarretar, caso não se cumpra a ordem de prisão preventiva ob- jeto da impetração, a insólita premiação do réu que prefere ignorar o chamamento judicial, assim permanecendo até que sua impunibilidade se consume via de prescrição” (RT 738/630). TACRSP: “O espírito da Lei 9.271/96 foi assegurar ao réu o seu day in Court e, por simetria, a suspensão da prescrição impede que a observância de um preceito fundamental se converta em favor da impu- nidade e desprestígio da Justiça. A filosofia da nova lei impede sua aplicação parcial, impondo-se incidência integral, pena de subverter a finalidade para a qual preordenada” (RT 737/628). Irretroatividade de lei mista: suspensão do processo – Contra TJSP: “Suspensão do curso e do prazo prescricional. Inadmissibilidade. Retroação parcial da Lei Federal nº 9.271, de 1996. Norma mista. Irretroatividade da parte material e aplicação imediata, no que tange ao caráter processual. Curso do prazo prescricional determinado. Ordem concedida. Voto vencido” (JTJ 194/309). TJAP: “Em virtude do disposto no art. 5º, XL, da CF, que não im- põe qualquer limite à retroatividade da lei mais benéfica, não mais se discute se a sua natureza é de direito material ou processual. Assim, a aplicabilidade do art. 366 do CPP, com a redação dada pela Lei 9.271/96, especificamente no que concerne à suspensão do lapso prescricional, é inapli- cável aos processos em curso, posto que a norma, neste particular, agrava a situação do acusado; porém, em relação às disposições acerca da suspensão do processo, por ser mais favorável ao réu, devem retroagir para fulminar de nulidade todos os atos processuais praticados após a decretação de sua revelia” (RT 753/652). TARS: “É possível a aplicação da Lei nº 9.271/96 a fatos criminosos acontecidos antes da entrada em vigor da mencionada legislação, se os atos processuais, no caso citação por edital, ocorreram após a vigência da lei mencionada. Esta lei é processual e, portanto, tem aplicação imediata, respeitando, na forma do art. 2º do CPP, os atos realizados sob a vigência da lei anterior (voto vencido)” (JTAERGS 104/148). TACRSP: “O exame da nova redação do art. 366 do CPP permite afirmar que se trata de uma norma mista. Ela compreende matéria pertinente ao direito processual penal e ao direito penal. A suspensão do processo é matéria processual e a CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 12 suspensão da prescrição é matéria de direito penal. A nova redação dada ao art. 366 do CPP é noci- va aos réus no que diz respeito à suspensão do prazo prescricional, e, assim, não pode ser aplicada aos processos em andamento em razão do princípio da irretroatividade da lei quando prejudicial ao réu. Ementa do voto vencedor: A redação dada ao art. 366 do CPP pela Lei 9.271/96, permite apenas a aplicação parcial desse artigo aos processos em andamento. O artigo é aplicado na parte em que determina a suspensão do processo e não se aplica à parte que determina a suspensão da prescrição” (RT 733/600). 2.8 Combinação de leis Inadmissibilidade de combinação de leis STF: “Os princípios da ultra e da retroatividade da lex mitior não autorizam a combinação de duas normas que se conflitam no tempo para se extrair uma terceira que mais beneficie o réu” (JSTF 174/260). STJ: “1. Consolidou-se no STF e no STJ o entendimento de que é inviável a conjugação de leis penais benéficas, dado que tal implicaria espécie de criação de terceira norma, com a violação do primado da separação dos poderes. (...)” (HC 114762-SP, j. em 16-6-2011, DJe de 28-6-2011). Combinação de leis no tráfico de entorpecentes: inadmissibili- dade da aplicação do redutor previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 às penas cominadas nos arts. 12 e 14 da Lei nº 6.368/1976 STF: “Habeas Corpus. 2. Fixação da pena-base acima do mínimo legal. Circunstâncias des- favoráveis. Decisão fundamentada. 3. Aplicação da causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 à pena cominada nos arts. 12 e 14 da Lei nº 6.368/76. Com- binação de leis. Impossibilidade. 4. Demora no julgamento do HC no 149.220 no STJ. Constran- gimento ilegal configurado. 5. Ordem parcialmente deferida” (HC 103833-SP, j. em 23-11-2010, DJe de 14-12-2010). STJ: “1. Diante de conflito aparente de normas, não é dado ao juiz aplicar os aspectos benéficos de uma e outra lei, sob pena de transmudar-se em legislador ordinário, crian- do lei nova. 2. No caso, se a pena da Paciente fosse aplicada nos patamares da Lei nº 11.343/06, o redutor de pena trazido pela novatio legis não seria aplicado, uma vez que as instâncias ordinárias reconheceram que a Apenada se dedicava a atividades criminosas de tráfico de drogas, circuns- tâncias que, por si sós, impedem a incidência da minorante prevista no § 4º do art. 33 da nova Lei de Drogas. 3. Da acurada leitura dos autos, verifica-se que a Paciente não preenche os requisitos do art. 44 do Código Penal, não se mostrando socialmente recomendável a substituição da pena privativa de liberdade, diante da constatação de que a Apenada se dedicava à atividades crimino- sas, do tráfico de drogas, sendo, inclusive, reconhecida no meio policial, como deixou assente o Tribunal local. 4. Ordem denegada” (HC 175697-MG, j. em 20-9-2011, DJe de 4-10-2011). STJ: “1. Ausente constrangimento ilegal a ser sanado pela via do Habeas Corpus, se a majoração da pena-base acima do mínimo legal foi devidamente justificada pelo Julgador, em vista do reconhe- cimento de circunstâncias judiciais desfavoráveis. 2. A quantidade de droga apreendida (mais de 11 Kg de maconha) e as consequências do crime (tal quantidade de entorpecente atinge um nú- mero muito maior de pessoas) constituem justificavas idôneas para a elevação da pena-base. 3. A redução da pena de 1/6 até 2/3, prevista no art. 33, § 4º da Lei 11.343/06, objetivou suavizar a si- MATERIAL SUPLEMENTAR 13 tuação do acusado primário, de bons antecedentes, que não se dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa, proibida, de qualquer forma, a conversão em restritiva de direito. 4. Embora oreferido parágrafo tenha a natureza de direito material, porquanto cuida de regra de aplicação da pena, tema regulado no Código Penal Brasileiro, mostra-se indevida e inadequada a sua aplicação retroativa àquelas situações consumadas ainda na vigência da Lei 6.368/76, pois o Magistrado que assim procede está, em verdade, cindindo leis para criar uma terceira norma – uma lei de drogas que prevê pena mínima para o crime de tráfico de 3 anos, passível de redução de 1/6 até 2/3, para agentes primários e de bons antecedentes, possibilitando, em tese, a fixação da sanção em apenas 1 ano de reclusão; contudo, essa norma jamais existiu no ordenamento jurídico brasileiro, não podendo ser instituída por via de interpretação. 5. Na hipótese, o § 4º faz referência expressa ao caput do art. 33 da nova Lei de Drogas, sendo parte integrante deste, que aumentou a pena mínima para o crime de tráfico de 3 para 5 anos. Sua razão de ser está nesse aumento, para afastar qualquer possível ofensa ao princípio da proporcionalidade, permitindo ao Magistrado que, diante da situação concreta, mitigue a sanção penal do traficante ocasional ou do réu primário, de bons antecedentes e não integrante de organização criminosa; assim, não há como interpretá-lo isoladamente do contexto da novel legislação. 6. A solução que atende ao princípio da retroati- vidade da lei mais benéfica (art. 2º do CPB e 5º, XL da CF/88), sem todavia, quebrar a unidade lógica do sistema jurídico, vedando que o intérprete da Lei possa extrair apenas os conteúdos das normas que julgue conveniente, é aquela que permite a aplicação, em sua integralidade, de uma ou de outra Lei, competindo ao Magistrado singular, ao Juiz da VEC ou ao Tribunal Estadual decidir, diante do caso concreto, aquilo que for melhor ao acusado ou sentenciado. 7. Parecer do MPF pela denegação da ordem. 8. Ordem parcialmente concedida, tão só e apenas para a análise da possi- bilidade de redução da pena com fulcro no art. 33, § 4º da Lei 11.343/06, aplicando, se for o caso, em sua integralidade, a legislação que melhor favorecer o paciente, no entanto” (HC 143373-SP, j. em 1-12-2009, DJe de 1-2-2010). Contra: admissibilidade da aplicação do redutor previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 às penas cominadas nos arts. 12 e 14 da Lei nº 6.368/1976 STF: “Recurso extraordinário. Constitucional. Penal. Tráfico de entorpecentes. Causa de di- minuição de pena, instituída pelo § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006. Figura do pequeno traficante. Projeção da garantia da individualização da pena (inciso XLVI do art. 5º da CF/88). Conflito in- tertemporal de leis penais. Aplicação aos condenados sob a vigência da Lei 6.368/1976. Possibili- dade. Princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica (inciso XL do art. 5º da Carta Magna). Máxima eficácia da constituição. Retroatividade alusiva à norma jurídico-positiva. Ineditismo da minorante. Ausência de contraposição à normação anterior. Combinação de leis. Inocorrência. Empate na votação. Decisão mais favorável ao recorrido. Recurso desprovido. 1. A regra consti- tucional de retroação da lei penal mais benéfica (inciso XL do art. 5º) é exigente de interpretação elástica ou tecnicamente “generosa”. 2. Para conferir o máximo de eficácia ao inciso XL do seu art. 5º, a Constituição não se refere à lei penal como um todo unitário de normas jurídicas, mas se reporta, isto sim, a cada norma que se veicule por dispositivo embutido em qualquer diploma legal. Com o que a retroatividade benigna opera de pronto, não por mérito da lei em que inserida a regra penal mais favorável, porém por mérito da Constituição mesma. 3. A discussão em torno da possibilidade ou da impossibilidade de mesclar leis que antagonicamente se sucedem no tempo CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 14 (para que dessa combinação se chegue a um terceiro modelo jurídico-positivo) é de se deslocar do campo da lei para o campo da norma; isto é, não se trata de admitir ou não a mesclagem de leis que se sucedem no tempo, mas de aceitar ou não a combinação de normas penais que se friccionem no tempo quanto aos respectivos comandos. 4. O que a Lei das Leis rechaça é a possibilidade de mistura entre duas normas penais que se contraponham, no tempo, sobre o mesmo instituto ou figura de direito. Situação em que há de se fazer uma escolha, e essa escolha tem que recair é sobre a inteireza da norma comparativamente mais benéfica. Vedando-se, por conseguinte, a fragmen- tação material do instituto, que não pode ser regulado, em parte, pela regra mais nova e de mais forte compleição benéfica, e, de outra parte, pelo que a regra mais velha contenha de mais benfa- zejo. 5. A Constituição da República proclama é a retroatividade dessa ou daquela figura de direito que, veiculada por norma penal temporalmente mais nova, se revele ainda mais benfazeja do que a norma igualmente penal até então vigente. Caso contrário, ou seja, se a norma penal mais nova consubstanciar política criminal de maior severidade, o que prospera é a vedação da retroatividade. 6. A retroatividade da lei penal mais benfazeja ganha clareza cognitiva à luz das figuras constitu- cionais da ultra-atividade e da retroatividade, não de uma determinada lei penal em sua inteireza, mas de uma particularizada norma penal com seu específico instituto. Isto na acepção de que, ali onde a norma penal mais antiga for também a mais benéfica, o que deve incidir é o fenômeno da ultra-atividade; ou seja, essa norma penal mais antiga decai da sua atividade eficacial, porquanto inoperante para reger casos futuros, mas adquire instantaneamente o atributo da ultra-atividade quanto aos fatos e pessoas por ela regidos ao tempo daquela sua originária atividade eficacial. Mas ali onde a norma penal mais nova se revelar mais favorável, o que toma corpo é o fenômeno da re- troatividade do respectivo comando. Com o que ultra-atividade (da velha norma) e retroatividade (da regra mais recente) não podem ocupar o mesmo espaço de incidência. Uma figura é repelente da outra, sob pena de embaralhamento de antagônicos regimes jurídicos de um só e mesmo insti- tuto ou figura de direito. 7. Atento a esses marcos interpretativos, hauridos diretamente da Carta Magna, o § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 outra coisa não fez senão erigir quatro vetores à cate- goria de causa de diminuição de pena para favorecer a figura do pequeno traficante. Minorante, essa, não objeto de normação anterior. E que, assim ineditamente positivada, o foi para melhor servir à garantia constitucional da individualização da reprimenda penal (inciso XLVI do art. 5º da CF/88). 8. O tipo penal ou delito em si do tráfico de entorpecentes já figurava no art. 12 da Lei 6.368/1976, de modo que o ineditismo regratório se deu tão-somente quanto à pena mínima de reclusão, que subiu de 3 (três) para 5 (cinco) anos. Afora pequenas alterações redacionais, tudo o mais se manteve substancialmente intacto. 9. No plano do agravamento da pena de reclusão, a regra mais nova não tem como retroincidir. Sendo (como de fato é) constitutiva de política crimi- nal mais drástica, a nova regra cede espaço ao comando da norma penal de maior teor de benig- nidade, que é justamente aquela mais recuada no tempo: o art. 12 da Lei 6.368/1976, a incidir por ultra-atividade. O novidadeiro instituto da minorante, que, por força mesma do seu ineditismo, não se contrapondo a nenhuma anterior regra penal, incide tão imediata quanto solitariamente, nos exatos termos do inciso XL do art. 5º da Constituição Federal. 10. Recurso extraordinário des- provido”(RE 596152-SP, j. em 13-10-2011, DJe de 13-2-2012). Admissibilidade de combinação de leis TACRSP: “O conflito de leis penais que se sucedem resolve-se sempre pela aplicação de um princípio básico, que é o da retroatividade ou ultratividade da lei mais benigna (extra-atividade da MATERIAL SUPLEMENTAR 15 lex mitior). A lei mais severa em nenhum caso retroage. A lex gravior, igualmente, em caso algum tem ultra-atividade.Assim sendo, em matéria de penas, nada obsta que se faça a aplicação conjun- ta de dispositivos das Leis nos 5.726, de 1971 e 6.368, de 1976, observando-se esta no tocante à multa e aquela quanto à sanção privativa de liberdade” (JTACRIM 50/392). TAMG: “Regula-se pela Lei 5.474/68 a aplicação da pena mínima cominada ao delito previsto no art. 172 do CP, pra- ticando antes da vigência da Lei 8.137/90, observando-se, entretanto, o limite máximo cominado nesta, em obediência ao princípio da retroatividade da lei mais benigna” (RT 710/330). TACRSP: “Embora a doutrina não se concilie quanto à possibilidade da combinação das leis mais benig- nas, para aplicação do caso concreto, pode, contudo, o julgador, em obediência aos princípios de eqüidade consagrados pela própria Constituição, aplicá-las simultaneamente. De fato, não haverá aplicação da lei mais benigna se em algum ponto a lei aplicada for mais prejudicial ao acusado” (RT 509/393). TACRSP: “Em sede de direito intertemporal, perfeitamente possível é a combina- ção das regras mais benignas da lei nova e da lei velha em benefício do réu” (JTACRIM 52/226). ART. 3º 3.1 Ultratividade das leis excepcionais e temporárias Inexistência de abolitio criminis TACRSP: “Mesmo que revogada, não gera abolitio criminis, porque, ainda que temporá- ria, guarda eficácia, aplicando-se aos fatos praticados durante sua vigência, conforme o art. 3º do CP” (RT 666/316). Ultratividade da norma complementar da lei penal em branco: cri- me contra a economia popular TACRSP: “Crime contra a economia popular. Transgressão à tabela oficial de preços. Li- beração dos preços após a consumação do delito. Irrelevância. Condenação. As leis penais em branco não são revogadas em conseqüência da revogação de seus complementos integradores. Não obstante a cessação destes, continuam elas em vigor, apenas faltando os elementos ocasionais para sua ulterior aplicação. Assim, a circunstância de que, com a cessação dos complementos, deixam elas de ser aplicáveis, somente diz com o futuro” (JTACRIM 40/130). Retroatividade e ultratividade da norma penal em branco TJRS: “Habeas corpus. Ex-prefeito. Código Penal. Decreto-Lei nº 201/67 e Lei nº 8.666/93. Retroatividade e ultratividade da norma penal em branco. A Lei nº 8.666/93, ao regular de forma completa o instituto da licitação pública e ao criminalizar mais abrangentemente as condutas dos agentes faltosos, revogou o art. 358 do CP e, bem assim, o inc. XI do art. 1º do DL no 201/67. A Lei nº 9.648/98, na parte que altera o complemento do art. 89 da Lei nº 8.666/93, previsto no art. 24, inc. I, que é norma regular ou permanente é retroativa, quando beneficiar o agente e, na parte que altera o complemento do art. 89 da Lei nº 8.666/93, previsto no art. 23, inc. I, letra a, por possuir caráter excepcional ou temporário, é ultra-ativa” (RJTJERGS 203/109). CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 16 ART. 4º 4.1 Tempo do crime Competência pelo lugar da ação ou omissão TJRS: “Competência. Homicídio. Determinação pelo lugar da infração. Crime plurilocal. Irrelevância de a morte da vítima ter-se dado em outra localidade. Nas infrações plurilocais o fo- rum delicti comissi é o lugar do resultado jurídico, típico, punível, identificado pelo encerrar do iter criminis, e não pelo ocorrer do evento material ‘morte’” (RT 616/344). TACRSP: “Em tema de homicídio culposo, competente é o juízo do local do sinistro, e não o do local do falecimento da vítima, quando diverso, para conhecimento e julgamento do feito” (RT 574/357). 4.2 Crime permanente, crime habitual e crime continuado Irretroatividade da lei mais severa no crime continuado STJ: “Em sede de crime continuado, se quando da perpetração do primeiro delito a pena cominada era mais branda, a superveniência de norma agravando o apenamento durante a execu- ção dos outros delitos não pode ser aplicada, caso contrário o princípio nulla poena sine lege será afrontado, ou seja, aplicar-se-á a sanção mais severa para todas as infrações, sendo que uma delas, por lei, era menor” (RT 752/557). TRF da 4ª Região: “A aplicação da regra do crime continuado deve obedecer critérios que atendam inclusive ao princípio da irretroatividade da lex gravior, ou mais nova e mais gravosa. Tendo o réu cometido somente um delito incidente na lei mais gravosa, a série delitiva não deve sofrer o agravamento decorrente do cálculo do aumento correspondente com base na lei nova, pelo motivo da irretroatividade (CP, art. 2º)” (Ap. Crim. 95.04.27405-6-RS – DJU de 14-2-1996, p. 7.366). Continuação delitiva na lei nova mais severa: aplicação desta STF: “Conflito de leis no tempo – Continuidade delitiva. Tratando-se de continuidade delitiva, observa-se a lei em vigor na data dos procedimentos condenáveis mais recentes” (JSTF 225/369). STF: “5. Direito intertemporal: ultratividade da lei penal quando, após o início do crime conti- nuado, sobrevém lei mais severa. 5.1 Crime continuado (CP, artigo 71, caput): delitos praticados entre março de 1991 e dezembro de 1992, de forma que estas 22 (vinte e duas) condutas devem ser consideradas, por ficção do legislador, como um único crime, iniciado, portanto, na vigência de lex mitior (artigo 2º, II, da Lei nº 8.137, de 27-12-90) e findo na vigência de lex gravior (artigo 95, d e § 1º, da Lei nº 8.212, de 24-7-91). 5.2 Conflito de leis no tempo que se resolve mediante op- ção por uma de duas expectativas possíveis: retroatividade da lex gravior ou ultra-atividade da lex mitior, vez que não se pode cogitar da aplicação de duas penas diferentes, uma para cada período em que um mesmo e único crime foi praticado. Orientação jurisprudencial do Tribunal no senti- do de aplicação da lex gravior. Ressalva do ponto de vista do Relator, segundo o qual, para o caso de crime praticado em continuidade delitiva, em cujo lapso temporal sobreveio lei mais severa, deveria ser aplicada a lei anterior – lex mitior – reconhecendo-se a sua ultra-atividade por uma singela razão: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (Constituição, artigo 5º, XL). MATERIAL SUPLEMENTAR 17 6. Habeas corpus conhecido, mas indeferido” (HC 76.978-1-RS – DJU de 19-2-1999, p. 27). STF: “Estupro. Continuidade delitiva. Lei nº 8.072/90. Regime de cumprimento da pena. Progressão. Lei nº 8.930/94. Juiz da Vara das Execuções Penais. Se o paciente praticou a série de crimes sob o império de duas leis, sendo mais grave a posterior, aplica-se a nova disciplina penal a toda ela, tendo em vista que o delinqüente já estava advertido da maior gravidade da sanção e persistiu na prática da conduta delituosa. A pretensão de ver reconhecido a favor do paciente o regime pro- gressivo de execução da pena, sob alegação de que com o advento da Lei nº 8.930/94, o estupro, quando praticado na modalidade simples, deixou de ser considerado crime hediondo, havendo sido mantido apenas o praticado na forma qualificada pelo resultado (art. 223, caput e parágrafo único, do Código Penal), não pode ser apreciada na via do habeas corpus, pois cabe ao Juiz da Vara das Execuções Penais decidir quanto à aplicação de lei posterior mais benigna (Súmula 611), pelo que não é de conhecer-se da impetração no particular. Habeas corpus conhecido em parte e nela indeferido” (HC 76.680-2-SP – DJU de 12-6-1998, p. 53). STJ: “Se a conduta permaneceu sendo reiterada na vigência da lex gravior, a majoração, em grau mínimo (1/6), pela continuidade delitiva, não ofende qualquer dispositivo legal. Recurso não conhecido” (REsp 115.774-RS – DJU de 2-3-1998, p. 130). TJSC: “Crime continuado. Lei nova mais severa. Aplicação a toda a série de delitos. Cabimento. A lei nova que sobrevém ao início do crime continuado, ainda que mais seve- ra, é aplicável a toda a série de delitos que o unificam se o agente persevera na respectiva prática, porque está advertido das conseqüências de sua conduta. Apelação improvida (TRF/4ª Reg. Ape- lação Criminal no 95-04-05500-1 – Paraná. Ac. 1ª T. unân. Rel: Juiz Ari Pargendler,j. em 9-5-95 – Fonte: DJU II, 31-5-95, pág. 33.494)” (JCAT 79/661). TJRS: “Crimes contra a ordem tributária. Sonegação de ICMS. Continuidade delitiva. Lei aplicável. A lei nova tem inteira aplicação a toda série delitiva, mesmo sendo mais grave, pois se considera momento da ação tanto o do primei- ro fato punível quanto o do último. Ademais, o agente estava advertido da maior gravosidade da sanctio juris” (RJTJERGS 173/128). Irretroatividade da lei mais severa quanto à prescrição STF: “A Lei nº 6.416, de 24 de maio de 1977, não se aplica retroativamente contra o réu, no tocante à prescrição, em face de pertencerem ao direito material as normas que disciplinam esse instituto; veio ela, no entanto, reforçar a interpretação mais ortodoxa do parágrafo único do art. 110 do Código Penal, na sua redação anterior” (RTJ 83/747). TJSP: “A Lei 6.416/77, que introduziu o § 2º ao art. 110 do CP, por conter norma mais gravosa para o réu, não pode alcançar fato criminoso perpetrado sob vigência de outra norma que ensejava interpretação mais favorável” (RT 525/332). ART. 5º 5.1 Conceito de território Competência da Justiça Federal para crime cometido em embarca- ções STJ: “Compete à Justiça Federal do Primeiro Grau processar e julgar os crimes comuns pra- ticados, em tese, no interior de navio de grande cabotagem, autorizado e apto a realizar viagens CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 18 internacionais ex vi do inc. IX, art. 109, da CF” (RT 729/509). STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios, incluídos os praticados contra a segu- rança do transporte marítimo” (RHC 1.286 – DJU de 9-1-1991, p. 18.044). Competência da Justiça Federal para crime cometido em aeronave STF: “1. Jurisdição e Competência: Fato ocorrido a bordo de aeronave que realizava vôo comercial oriundo de Atlanta (EUA)com pouso previsto para o aeroporto de Guarulhos/SP, município então integrado na 1ª Subseção de São Paulo, sobrevindo após o recebimento da denúncia, instalação da subseção naquela localidade. 1.1 Hipótese na qual a jurisdição bra- sileira se firma, ex vi do art. 90 do CPP, juntamente com a competência da Justiça Federal, a teor do art. 109, inciso XI da lei maior, em prol da 1ª Subseção de São Paulo depois prorrogada para a Subseção instalada naquela localidade. 1.2 Em se tratando de competência territorial a mesma é relativa. Sendo a jurisdição reveste-se de caráter uno e o indigitado conflito envolve juízes da mesma categoria, isto é, subseções judiciárias desta 3ª Região. Assim, a discussão em torno do ponto, demandava pronta arguição, ou mesmo a demonstração de prejuízo ao acusado (art. 563, do Código de Processo Penal), providência não adotada a modo e tempo oportunos (art. 571 do mesmo diploma legal)” (Ap. 8894-SP, j. em 6-10-2009, DJF3 CJ1 de 15-10-2009). STF: “Habeas corpus. Penal. Processo Penal. Constitucional. Tráfico interna- cional de entorpecentes. Crime cometido a bordo de aeronave. Consumação e Competência. O tráfico internacional de entorpecentes, praticado a bordo de aeronave, é da competência da Justiça Federal (CF, art. 109, IX). Quando a aeronave ingressa no espaço aéreo brasileiro, incide a referida competência. Ela não se desloca para a Justiça Estadual porque a apreensão foi feita no interior de aeronave. A Justiça Estadual tem competência, se no lugar onde o de- lito for praticado, não houver Vara da Justiça Federal (L. 6.368/76, art. 27). Não se confunde o momento de consumação com o da apreensão da droga. A consumação ocorre quando tem início o transporte, por ser delito de natureza permanente. Precedente. Habeas corpus inde- ferido” (JSTF 282/313). ART. 6º 6.1 Teoria da ubiquidade Ação praticada no território nacional TACRSP: “Tem eficácia a lei nacional quando os atos executórios do crime são praticados em nosso território e o resultado se produz em país estrangeiro” (RT 609/335-6). Crime a distância TARS: “Sentença condenatória. Nulidades. Incompetência do Juízo. ‘Crimes a distância’ (art. 70, §§ 1º e 2º do CPP). Teoria de ubiqüidade (aplicação)” (JTAERGS 169/166). MATERIAL SUPLEMENTAR 19 Crime de tráfico de entorpecentes no Brasil e no estrangeiro STF: “Extradição. Crimes de tráfico e de associação para o tráfico de entorpecentes e com atuação na Itália e no Brasil. Concurso material. Competência cumulativa das jurisdições penais brasileira e italiana: prevalência; art. 77, III e V, da Lei nº 6.815/80 e art. 36, I e II, a, I, da Con- venção Única de Nova Iorque, de 1961, promulgada pelo Dec. 54.216/64. O crime de tráfico de entorpecentes, art. 12 da Lei de Tóxicos, pode ser apenado em concurso material com o crime de associação para o tráfico de entorpecentes, art. 14 da mesma Lei. Prevalece a jurisdição penal brasileira quanto ao crime de associação para o tráfico de entorpecentes quando existe processo no Brasil ao ser pedida a extradição, art. 77, V, da Lei nº 6.815. Prevalece a jurisdição penal italia- na quanto ao crime de tráfico de entorpecentes quando não existe processo no Brasil, pois, para efeitos extradicionais, o que seriam momentos de um fato único (tráfico internacional) devem ser considerados crimes distintos, em face da Convenção Única de Nova Iorque, de 1961. Extradição deferida em parte” (JSTF 184/265). ART. 7º 7.1 Extraterritorialidade incondicionada Extraterrialidade incondicionada - Crime contra a fé pública da União TFR: “A falsificação de selos é crime contra o crédito da União e, assim, embora praticado no exterior, fica o delito sujeito à lei brasileira” (DJU de 25-9-56, p. 1.627). 7.2 Extraterritorialidade condicionada Crime praticado por brasileiro no exterior TJAC: “Compete ao Juízo da Capital do Estado, onde residia o acusado, processá-lo pelo delito cometido fora do território nacional, ex vi dos arts. 88 do Código de Processo e 5º, § 2º (art. 7º, § 2º vigente) do CP” (RT 376/396). ART. 9º 9.2 Eficácia condicional de sentença estrangeira Homologação para efeitos civis STF: “Sentença penal estrangeira. Crime de apropriação indébita produto de crime (dinhei- ro) depositado em estabelecimento bancário do Brasil. Pedido de homologação do decisório para os efeitos civis formulado pela vítima do dano sofrido. Harmonia da pretensão com os dispositi- CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 20 vos da legislação brasileira (CP, art. 9º, I e parágrafo único e alínea ‘a’, CPP, art. 790 e Regimento Interno, arts. 211 e 212)” (SE 2.290-SUÉCIA, j. em 17-11-1976, DJU de 13-12-1976, p. 10.711). ART. 10 10.1 Termo inicial do prazo penal Cômputo do dia do começo TJSP: “No cômputo dos prazos criminais inclui-se o dia do começo, consoante a nor- ma do art. 8º (art. 10, vigente) do Código Penal. Nisso difere, substancialmente, o diploma penal do critério do Código Civil, em que na contagem do prazo exclui-se o dia inicial” (RT 397/62) (v. art. 132 do CC). TACRSP: “Ao contrário do que ocorre com os prazos fixados na lei processual, na contagem dos previstos no Código Penal computa-se o dia do começo e exclui-se o do vencimento. Essa disciplina rege, entre outros, os prazos prescricionais, os de decadência, os da duração das penas, o do sursis e o do livramento condicional” (RJDTA- CRIM 7/142). TACRSP: “No que se refere à contagem dos prazos de prescrição e decadência, deve-se incluir o dia do começo no cômputo do prazo, seguindo-se a regra do art. 10 do CP” (RJDTACRIM 27/255). Contagem do dia do início em decadência TACRSP: “Na contagem do prazo decadencial inclui-se o dia do começo, conforme dispõe o art. 8º (art. 10, vigente) do CP, pouco importando que tenha caído num domingo e não haja ex- pediente forense nesse dia” (RT 525/389). Contagem do dia do início em prescrição TARS: “Para a contagem do prazo prescricional, sabendo-se que é ele previsto no CP, in- clui-se, no cálculo, o próprio dia do começo, ao contrário da regra estabelecida para os prazos processuais (art. 678, § 1º, do Código de Processo), pois o próprio CP, no seu art. 10, assim esta- belece a maneirade cômputo para os prazos nele previstos” (JTAERGS 63/71). Prazos de prescrição e decadência STJ: “Reconhece a extinção da punibilidade pela decadência se, em delito de sedução, a ofen- dida intentou a queixa-crime após o decurso do prazo de 6 meses. Por se tratar de causa extintiva de punibilidade, o prazo para a contagem da decadência tem caráter penal, devendo, portanto, obedecer aos ditames do art. 10 do CP” (RT 773/536-7). TACRSP: “A não-apresentação pelo ofen- dido, de queixa-crime dentro do prazo legal estabelecido no art. 38 do CPP acarreta a extinção da punibilidade do ofensor, devido à decadência, cujo prazo é contado como preceituado pelo art. 10 do CP, não se suspendendo nem se prorrogando, pois a ele é inaplicável a regra do § 3º do art. 798 do CPP” (RT 771/625). TACRSP: “O art. 10 da Parte Geral do Código Penal é aplicável, em relação aos prazos prescricionais e decadenciais, porque são de direito material e não processual, MATERIAL SUPLEMENTAR 21 sendo certo ainda que, quando tais prazos se encerram em domingos e feriados, não podem ser prorrogados até o primeiro dia útil subseqüente” (RJDTACRIM 23/58-9). Prevalência do art. 10 do Código Penal TACRSP: “O prazo decadencial, pela sua importância e porque acarreta o disciplinamento do direito de punir, nas ações privadas, que constituem uma exceção à regra geral, do procedimen- to público, só pode ser estabelecido na própria lei substantiva penal que constitui todo o sistema repressivo. As regulamentações posteriores ou concomitantes da lei adjetiva penal não poderão modificar o conceito estabelecido naquela outra lei” (JTACRIM 71/147). Prevalência do prazo mais favorável TACRSP: “Quando o prazo está previsto no Código Penal e no Código de Processo Penal, como o de decadência do direito de queixa ou representação, p. ex., que é cogitado, respectiva- mente, nos arts. 105 e 38, deve ser aplicado o disposto no art. 8º (art. 10 vigente) do CP, sendo inaplicável o art. 798, § 1º, do CPP” (RT 546/349). 10.2 Contagem do prazo penal Contagem pelo calendário gregoriano TARS: “Pelo calendário comum, considera-se ‘ano’ um período de doze meses, contado de certo dia do mês à véspera do dia idêntico daquele mês no ano seguinte, e não de 365 dias, moti- vo pelo qual é irrelevante que se trate de ano bissexto” (JTAERGS 89/68). TACRSP: “Os meses são contados pelo calendário comum ou gregoriano. Assim, quem tiver de cumprir a pena de, por exemplo, dois meses e dez dias, iniciando-se do desconto da sanção em fevereiro de certo ano, tendo este mês vinte e oito dias e o mês de março trinta e um cumprirá o sentenciado sessenta e nove e não setenta dias” (JTACRIM 44/423). Término do prazo penal TAPR: “Computando-se o dia do começo do prazo como imperativamente determina o art. 8º (art. 10 vigente) do Código Penal, ressalta inequívoco que o prazo de ano completa-se à meia- -noite do dia anterior correspondente” (RT 479/389). TACRSP: “Inocorre prescrição da pretensão punitiva na hipótese de recebimento da denúncia antes da meia-noite do dia fatal” (RJTACRIM 60/43). TACRSP: “Sendo a prescrição matéria substantiva, a computação do prazo se faz de acor- do com o Código Penal. Segundo a lei vigente, o dia do começo inclui-se no prazo prescricional. Nesse diapasão, ele termina não no dia idêntico do mês e no ano seguinte de seu termo inicial, mas à meia-noite do dia anterior” (JTACRIM 83/349). Inadmissibilidade de fixação em dias corridos TACRSP: “O juiz, tendo de condenar a um mês ou a um ano, não pode dizer, substitutiva- mente, 30 dias ou 365 dias. E a razão disso decorre de que nem sempre o mês tem 30 dias” (RT CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 22 504/358). TACRSP: “O Código Penal dispõe que os dias, os meses e os anos contam-se pelo ca- lendário comum, em face do qual um mês nem sempre tem trinta dias. Devendo o Juiz condenar a um mês, não pode dizer, substitutivamente, trinta dias” (JTACRIM 65/419). TACRSP: “Pena. Magistrado que impõe reprimenda de setenta dias ao invés de dois meses e dez dias. Inviabilida- de de retificação. Entendimento do art. 8º (art. 10 vigente) do CP. Recurso improvido. Na falta de recurso da Promotoria ou de pedido expresso da defesa, não cabe modificar a reprimenda im- posta, havendo, em tese, possibilidade de ser o réu tanto prejudicado como beneficiado, em face da disposição do art. 8º (art. 10 vigente) do CP e do eventual cumprimento da reprimenda, caso venha a ser revogado o sursis” (JTACRIM 72/242). Improrrogabilidade dos prazos penais TACRSP: “Na decadência não se pode falar em interrupção do prazo, o qual é sempre fatal e improrrogável” (RT 530/367). Inexistência de interrupção TACRSP: “Queixa crime. Decadência. Prazo de seis meses, contado do conhecimento do fato e de sua autoria, que não se interrompe pela continuação” (RT 562/339). TACRSP: “A de- cadência, como é iterativo, tem a característica essencial da fatalidade, ou seja, é improrrogável o seu prazo, não ficando sujeito a interrupção ou suspensão” (RT 485/330). ART. 11 11.2 Desconto na pena de multa Desconto de fração da unidade monetária TACRSP: “O art. 11 do CP deve ser interpretado como determinante de desprezo à fração da unidade corrente de moeda” (JTACRIM 97/298). Desconto sobre o valor final da multa TACRSP: “No cálculo de pena de multa fracionada, não se procede ao arredondamento para mais, nem para menos: mantém-se o resultado em fração, e somente depois dele ser convertido em cruzeiros, no momento da execução, é que se fará o desprezo dos centavos, conforme dispõe o art. 11 do CP” (RJDTACRIM 7/125). Desconto sobre o valor final da multa – Contra TACRSP: “Não se computam na pena de multa as frações de dia-multa, aplicando-se à mes- ma, por analogia in bonam partem, o princípio do art. 11, do CP, que manda serem desprezadas as frações de dia das penas privativas de liberdade” (RT 702/361). MATERIAL SUPLEMENTAR 23 Extinção da pena de multa TACRSP: “Impossível esperar o pagamento de multa se sua importância for insignificante, máxime quando inexistir dinheiro equivalente à sua irrisoriedade” (RJDTACRIM 3/56). ART. 12 12.1 Aplicação do CP à legislação penal especial Aplicação na Lei das contravenções penais TACRSP: “É possível impor medida de segurança ao autor de contravenção, pois a per- quirição dos institutos previstos no Código Penal aplicáveis às contravenções penais é de ser realizada na Lei Especial, posto que, se esta não dispuser de modo diverso, então, pela regra geral inserida no art. 12, daquele Diploma Regressivo, a aplicação é obrigatória” (RJDTA- CRIM 25/90). Aplicação na Lei de Segurança Nacional STF: “Na aplicação do Dec.-lei 889/69, deve a Justiça Militar aplicar subsidiariamente, salvo no que entender com o livramento condicional, as normas gerais do C. Pen. comum, e não as do C. Pen. Militar. Crime continuado. Seu reconhecimento, com a conseqüente alteração da pena imposta” (RTJ 77/170). Aplicação na Lei de imprensa – (anterior à declaração de inconsti- tucionalidade da Lei nº 5.250/1967) TACRSP: “Em tudo o que não é regulado por norma especial da Lei de Imprensa, o CP e o CPP se aplicam à responsabilidade penal, à ação penal e ao processo e julgamento dos crimes de imprensa. Na medida em que a regra especial não versou de modo particular sobre as causas interruptivas da prescrição, autorizado está, de conseguinte, a incidência subsidiária do direito co- mum, tal como prevê o art. 48 da Lei de Imprensa” (RT 735/601). TACRSP: “Sem prejuízo das disposições expressas da Lei nº 5.250, de 1967, no tocante à prescrição, são aplicáveis aos delitos de imprensa as normas do Código Penal relativas à sua interrupção e suspensão, bem como a dis- posição do art. 115 do estatuto básico” (JTACRIM 36/250). Aplicação na Lei de imprensa – (anterior à declaração de inconsti- tucionalidade da Lei nº 5.250/1967) – Contra TACRSP: “A Lei de Imprensa fixou norma quanto à prescrição do crime, estabelecendo o termo a quo na data do fato sem qualquer referência às causasinterruptivas da lei penal” (RT 498/320). CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 24 Aplicação na Lei de Falências – (anterior à vigência da Lei nº 11.101, de 9-2-2005) TJSP: “A lei falimentar não repudiou a regra geral do Código Penal, art. 10 (art. 12 vigente), que disciplina: ‘As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispõe de modo contrário’. De maneira que o recebimento da denúncia, que funcio- na como causa interruptiva da prescrição (art. 117, I, do CP) tem repercussão no processo penal falimentar” (RT 546/342). ART. 13 13.4 Princípio da intervenção mínima O princípio da insignificância como derivação do princípio da in- tervenção mínima STJ: “(...) 1. O princípio da insignificância, como derivação necessária do princípio da in- tervenção mínima do direito penal, busca afastar desta seara as condutas que, embora típicas, não produzam efetiva lesão ao bem jurídico protegido pela norma penal incriminadora (...)” (HC 56519-RJ, j. em 30-5-2006, DJU de 26-6-2006, p. 221). 13.5 Princípio da insignificância Aplicação do princípio da insignificância TJAP: “Revestindo-se a ação de ínfima gravidade, não lesionando nem ameaçando o bem jurídico de valor irrisório, de forma a justificar a necessidade de invocar proteção penal, cabível a aplicação do princípio da insignificância” (RT 761/649). TACRSP: “A lei penal jamais deve ser invocada para atuar em casos menores, de pouca ou escassa gravidade. E o princípio da insignifi- cância surge justamente para evitar situações dessa espécie, atuando como instrumento de inter- pretação restritiva do tipo penal, com o significado sistemático e político-criminal de expressão da regra constitucional do nullum crimen sine lege, que nada mais faz do que revelar a natureza subsidiária e fragmentária do direito penal” (RT 733/579). TACRSP: “O princípio da insignificân- cia pertine aos delitos de bagatela, permitindo sua consideração pela jurisdição penal como fatos atípicos, posto que destituídos de qualquer valoração a merecer tutela e, portanto, irrelevantes. São os que pertinem a ações aparentemente típicas, das de tal modo inexpressivas e insignificantes, que não merecem a reprovabilidade penal” (RJDTACRIM 1/216). Análise para a aplicação do princípio da insignificância STF: “1. Para a incidência do princípio da insignificância, devem ser relevados o valor do objeto do crime e os aspectos objetivos do fato, tais como, a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do com- portamento e a inexpressividade da lesão jurídica causada” (HC 99.207-SP, j. em 24-11-2009, DJe MATERIAL SUPLEMENTAR 25 de 18-12-2009). STF: “Descaminho considerado como ‘crime de bagatela’: aplicação do ‘princí- pio da insignificância’. Para a incidência do princípio da insignificância só se consideram aspectos objetivos, referentes à infração praticada, assim a mínima ofensividade da conduta do agente; a ausência de periculosidade social da ação; o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; a inexpressividade da lesão jurídica causada (HC 84.412, 2ª T., Celso de Mello, DJ 19.11.2004). A caracterização da infração penal como insignificante não abarca considerações de ordem subje- tiva: ou o ato apontado como delituoso é insignificante, ou não é. E sendo, torna-se atípico, im- pondo-se o trancamento da ação penal por falta de justa causa (HC 77.003, 2ª T., Marco Aurélio, RTJ 178/310). Concessão de habeas corpus de ofício, para restabelecer a rejeição da denúncia” (RT 840/538). TRF da 1ª Região: “Pelo princípio da insignificância, excluem-se do tipo os fatos de mínima perturbação social. A adequação social ‘leva à impunidade dos comportamentos nor- malmente admitidos ainda que formalmente realizem a letra de algum tipo legal’” (Rec. Crim. 95.01.3129-9-MG – DJU de 11-4-1996, p. 23.263). TACRSP: “À luz do princípio da insignificân- cia, que opera como excludente da tipicidade no Direito Penal, alguns fatos podem guardar-se da censura da Lei (pois não é de bom exemplo ocupar-se o varão grave com ninharias: de minimis non curat praetor, recitavam os romanos). A pedra de toque desses a que a Doutrina chama de- litos de bagatela é a pequena lesão ao patrimônio da vítima, o ínfimo valor do bem. Não cai sob esse número, pois, a infração penal de vulto nem a ofensa a objeto jurídico de grande monta e estimação” (RJTACRIM 37/136). TACRSP: “O reconhecimento do crime de bagatela exige, em cada caso, análise aprofundada do desvalor da culpabilidade, do desvalor da conduta e do desvalor do dano, para apurar-se, em concreto, a irrelevância penal de cada fato” (RJDTACRIM 24/101). TARS: “O princípio da insignificância é método auxiliar de interpretação versando sobre a atipi- cidade do fato. Só é possível identificar a insignificância social do fato quando a conduta e o dano conseqüente forem bagatelares. Consideração necessária do desvalor da conduta e do resultado. Nos delitos patrimoniais, a consideração isolada do valor da res é insuficiente para concluir pela insignificância” (JTAERGS 96/44). Aplicação do princípio da insignificância em lesão corporal STJ: “Indiscutível a insignificância da lesão corporal conseqüente de acidente do trânsito atri- buído a culpa da mãe da pequena vítima, cabe trancar-se a ação por falta de justas causas. Preceden- tes do tribunal” (RSTJ 59/107 e RT 705/381). TARS: “Pequenas contusões que não deixam vestígios externos no corpo da vítima, decorrentes de acidentes automobilísticos, provocando apenas dor momentânea, não possuem dignidade penal, permanecendo aquém do indispensável para justificar uma sanção criminal” (JTAERGS 87/112). TACRSP: “Em caso de crime culposo, com induvido- sa insignificância da lesão corporal, cuja inexpressividade é patente, cabe a adoção do princípio da insignificância, em face do comprometimento da materialidade do delito” (RJDTACRIM 6/106). Aplicação do princípio da insignificância ao furto STJ: “Habeas corpus. Furto. Princípio da insignificância. Aplicabilidade. Mínimo desvalor da ação. Valor ínfimo subtraído. Irrelevância da conduta na esfera penal. Precedentes do Supremo Tri- bunal Federal e desta Corte. 1. A conduta perpetrada pelo agente – furto de R$ 20,00 (vinte reais) em espécie e um celular, avaliado em R$ 80,00 (oitenta reais) – insere-se na concepção doutrinária e jurisprudencial de crime de bagatela. 2. O furto não lesionou o bem jurídico tutelado pela norma, CÓDIGO PENAL INTERPRETADO 26 excluindo a tipicidade penal, dado o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento do agente e o mínimo desvalor da ação. 3. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. 4. Ordem concedida para cassar o acórdão de apelação impugnado e a sentença condenatória de primeiro grau, absolvendo o Paciente do crime imputado, por atipicidade da conduta” (HC 135.495-DF, j. em 19-9-2009, DJe de 3-11-2009). TARS: “Furto tentado. Bagatela. Rejeição da denúncia. Tentativa de subtração de lata de leite condensado e de lanterna em supermercado. Fato penalmente irrelevante pela insignificância do valor da res furtiva insuscetível de lesionar o interesse protegido, aliado à ausência de perigosidade social da conduta incriminada, não justifica o reconhecimento do crime nem a imposição de pena” (JTAERGS 79/25). TACRSP: “O furto de um pedaço de queijo é ação que implica dano de pequena monta ao bem jurídico, ensejando a aplicação do princípio da insignificância” (RJDTACRIM 22/107). Inadmissibilidade da aplicação do princípio da insignificância no crime de furto – valor pequeno mas não ínfimo TACRSP: “Furto. Subtração de bicicleta em Comarca do Interior. Consideração como crime de bagatela. Impossibilidade. (...) É impossível o reconhecimento de crime de bagatela na subtração de uma bicicleta, em Comarca do interior, uma vez que essa conduta não representa ofensa de pe- quena intensidade ao patrimônio, bem jurídico tutelado no delito de furto” (RJDTACRIM 33/458). Inadmissibilidade
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