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TCC EM SEGURANÇA PÚBLICA - Victor Amadeu Santos

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22
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA
CURSO SUPERIOR TECNÓLOGICO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CSTSP
VICTOR AMADEU OLIVEIRA PIRES DOS SANTOS
ECONOMIA DO CRIME
Teoria sobre as causas da criminalidade com destaque 
na literatura sobre a teoria econômica do crime
Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do Curso Superior de Tecnólogo em Segurança Pública da Universidade Estácio de Sá – CSTSP/UNESA, como requisito para aprovação na disciplina de TCC em Segurança Pública.
ORIENTADOR
Professora Kátia de Mello Santos
Rio de Janeiro – RJ
Maio de 2020
ECONOMIA DO CRIME - TEORIA SOBRE AS CAUSAS DA CRIMINALIDADE COM DESTAQUE NA LITERATURA SOBRE A TEORIA ECONÔMICA DO CRIME.
ECONOMY OF CRIME - THEORY ABOUT THE CAUSES OF CRIME FEATURED IN THE LITERATURE ON THE ECONOMIC THEORY OF CRIME.
[Victor Amadeu Oliveira Pires dos Santos][footnoteRef:1] [1: Graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá. E-mail: victorosantos@yahoo.com.br
] 
[Kátia de Mello Santos][footnoteRef:2] [2: Professor orientador– Universidade Estácio de Sá. Especialista em Políticas de Segurança Pública e Mestre em Saúde da Família. E-mail: katia.mello@estacio.br] 
RESUMO
Diante dos danos causados pelo crime à sociedade, esse artigo tem como objetivo central entender e identificar os determinantes socioeconômicos que influenciam a criminalidade brasileira, a partir da teoria econômica do crime de Becker (1968). O enfoque econômico do crime aborda as escolhas realizadas pelos indivíduos e explica o comportamento criminoso como um processo de decisão racional, no qual o indivíduo age como um agente econômico que avalia custos, benefícios e riscos antes de praticar um ato ilícito. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica sobre a teoria econômica do crime e os trabalhos empíricos sobre a criminalidade brasileira, visando identificar as possíveis variáveis e fatores socioeconômicos que motivam esse comportamento desviante, e traçar um perfil que possa servir de subsídio para a elaboração e implementação de políticas eficientes para o controle e redução da criminalidade.
Palavras-chave: Teoria econômica do crime; Escolha racional; Comportamento criminoso.
ABSTRACT
In view of the damage caused by crime to society, this article has the central objective of understanding and identifying the socioeconomic determinants that influence Brazilian criminality, based on Becker's (1968) economic theory of crime. The economic approach to crime addresses the choices made by individuals and explains criminal behavior as a rational decision-making process, in which the individual acts as an economic agent who assesses costs, benefits and risks before committing an illegal act. The objective of this work is to carry out a bibliographic review on the economic theory of crime and the empirical studies on Brazilian crime, aiming to identify the possible variables and socioeconomic factors that motivate this deviant behavior, and to draw a profile that can serve as a subsidy for the elaboration and implementing effective policies to control and reduce crime.
Keywords: Economic theory of crime; Rational choice; Criminal behavior.
	1 – INTRODUÇÃO
	De acordo com a pesquisa, realizada em 2018, pelo Instituto DATAFOLHA, a segurança pública é a segunda maior preocupação dos brasileiros, segundo 25,0% dos entrevistados, ficando atrás somente da saúde, 32,0%. Temas como: o desemprego, a inflação, os juros altos e impostos elevados não são mais as principais preocupações da opinião pública e, por outro lado, a criminalidade vem ganhando importância e atenção especial da sociedade, pois os elevados custos associados a esse fenômeno impõem restrições sociais, econômicas e afetam grande parcela da população.
	Nos últimos vinte anos, houve um aumento do número de estudos sobre a criminalidade no Brasil, inclusive entre os economistas, refletindo a preocupação com as perdas e danos que o crime provoca à sociedade, assim como os elevados custos socioeconômicos envolvidos. Estudos e estimativas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), demonstram que o Brasil é um dos países que apresentam, em termos nominais, os mais elevados custos de crime, incluindo: custos de vitimização em termos de perda de qualidade de vida devido a homicídios e outros crimes violentos e de renda não gerada da população encarcerada; custos incorridos pelo setor privado em termos das despesas de empresas e domicílios com prevenção do crime, especificamente gastos com serviços de segurança; e os custos incorridos pelo governo em termos de despesas públicas com o sistema judicial, serviços policiais e administração de prisões. Segundo os cálculos contidos no relatório emitidos pelo BID (2017) intitulado "Os custos do crime e da violência", em 2014 a violência no Brasil custou US$ 75.894 milhões ou US$ 103.269 milhões em paridade do poder de compra (PPC) para o país, ou, em termos relativos, o crime custa um montante equivalente a 3,14 % do PIB brasileiro (BID 510, 2017.p. 55).
	O fenômeno da criminalidade é um problema social, econômico e político de importância inquestionável. É um problema social, pois afeta a qualidade e expectativa de vida da população, é um problema econômico, pois limita o potencial de desenvolvimento das economias, e é um problema político, pois as ações necessárias para combater o crime envolvem a participação ativa dos governos e a alocação de recursos públicos escassos em detrimento de outros objetivos de políticas públicas. (ARAÚJO JR. e FAJNZYLBER, 2001)
	Apesar dos estudos teóricos e da série de trabalhos empíricos, não se chegou a uma conclusão a respeito da melhor proposta de política pública de redução da criminalidade. Alguns pensadores políticos e autoridades competentes sugerem que o crime deve ser combatido com ênfase na repressão policial, o que não se mostra eficiente a partir de dados estatísticos e teste de significância, e outros argumentam que o comportamento criminoso é um fenômeno oriundo das condições econômicas e sociais e que políticas devem ser desenvolvidas visando os seus determinantes. Desta forma, entender as causas da criminalidade seria fundamental para a correta formulação e implementação de políticas que permitiriam a prevenção e redução do crime e da violência.
	O objetivo deste trabalho é, justamente, contribuir para o entendimento do fenômeno da criminalidade no Brasil, realizando uma pequena revisão bibliográfica do Modelo de Gary Becker (1968), as contribuições de Andrade e Lisboa (2000), Pereira e Fernandez (2000), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001), Shikida (2002), Cerqueira e Lobão (2003), Lobo e Fernandez (2003), Almeida (2007), entre outros, e analisando, segundo o conceito econômico, o processo decisório individual que motiva um agente a ingressar na criminalidade. Para isso, além deste primeiro capítulo introdutório, este trabalho é composto por outros capítulos, onde serão apresentados os referenciais teóricos sobre a teoria da escolha racional, a qual suporta as pesquisas empíricas e estudos econômicos sobre a criminalidade.
	Sendo assim, ao explorar e identificar quais variáveis são mais significantes ao processo decisório de ingresso na criminalidade, é possível traçar o perfil criminológico brasileiro e determinar as características socioeconômicas que motivam à ilegalidade, permitindo a elaboração de política mais eficiente para redução dos crimes motivados por fatores econômicos como: tráfico de drogas, furto e roubo, crimes estes responsáveis por mais de 50,0% dos aprisionamentos no Brasil, segundo dados de 2016 do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) contidos no levantamento nacional de informações penitenciárias (INFOPEN) de 2017.
	2 – TEORIA ECONÔMICA DO CRIME
	A teoria econômica do crime analisa a atividade criminosa como uma atividade econômica ilegal, e não como uma atividade oriunda de patologias e/ou desvios sociais. Becker (1968) foi um dos primeiros estudiosos a estudar o crime como uma atividade puramente econômica, onde o crime pode serdefinido como:
Although the word ‘crime’ is used in the title to minimize terminological innovations, the analysis is intended to be sufficiently general to cover all violations, not just felonies – like murder, robbery, and assault, which receive so much newspaper coverage – but also tax evasion, the so-called white-collar crimes, and traffic and other violations. Looked at this broadly, ‘crime’ is an economically important activity or ‘industry’, notwithstanding the almost total neglect by economists. (BECKER, 1968, p.170)
	Em seu artigo Crime and Punishment: An Economic Approach, Becker (1968) desenvolveu um modelo teórico microeconômico sobre a criminalidade, onde a decisão de cometer ou não um crime era tomada pelo indivíduo a partir dos benefícios e custos esperados do ato criminoso em comparação aos ganhos da alocação de seu tempo no mercado de trabalho legal.
	Segundo esta teoria, o indivíduo se comporta como um maximizador racional e comete um crime somente se a utilidade esperada de uma atividade ilegal exceder a utilidade que obteria se empregasse seu tempo e seus recursos em uma atividade legal, fazendo a escolha com o maior retorno. O agente econômico é, na verdade, egoísta e racional, e visa à maximização da utilidade, prazer, e a minimização de seus custos, sofrimentos. Os criminosos em potencial atribuem um valor monetário ao crime, e comparam este valor ao custo monetário envolvido na realização do mesmo, que inclui os custos de planejamento e execução, o custo esperado de serem detidos e condenados, e o custo de oportunidade, isto é, a renda que não obterão enquanto estiverem fora do mercado de trabalho legal. Para Becker (1993) a racionalidade existente na teoria econômica do crime [...] “implies that some individuals become criminals because of the financial and other rewards from crime compared to legal work, taking account of the likelihood of apprehension and conviction, and the severity of punishment.” (1993, p.390)
	O comportamento criminoso é, na verdade, um comportamento humano em situação de escassez, onde os indivíduos têm desejos que podem ser satisfeitos cometendo crimes, o que implica em custos como o risco de ser capturado e punido (BALBINOTTO, 2003). Nesse sentido, a teoria econômica utilitarista do crime, substitui a teoria das patologias individuais, dos desvios psicológicos e da anomia por uma teoria puramente econômica, onde o crime é uma atividade como outra qualquer, onde o agente faz uma escolha econômica e busca maximizar os seus ganhos.
	Para formular a teoria econômica do crime, Becker (1968) une a teoria do bem-estar com a do problema do agente-principal, onde a sociedade é o principal, os criminosos são os agentes, e o problema, previsto na teoria, é que os objetivos do principal e dos agentes são divergentes. Os criminosos possuem desejos ilimitados e a sociedade dispõe de recursos limitados, o que causa o conflito de objetivos entre o principal e o agente, que é intensificado pela impossibilidade do principal saber o comportamento dos agentes, dada as falhas de mercados existentes pela assimetria de informações.
	O modelo de Becker (1968), conhecido como rational criminal model (RCM), não leva em consideração questões éticas e/ou morais, pressupondo que as pessoas são criminosas em potencial, indivíduos racionais que fazem escolhas e estão sujeitos a comparações entre ganhos e custos esperados, com o resultado incerto de sucesso ou de condenação. Pela teoria econômica racional do crime, algumas pessoas se tornam criminosas por questão de escolhas individuais, pois seus ganhos e custos são diferentes das demais. O autor aborda o crime como uma atividade econômica como qualquer outra, tendo como única diferença a sua ilegalidade e os elevados custos sociais, e a decisão de investir ou cometer um crime depende das expectativas de retorno.
	Para calcular a utilidade esperada e entender melhor quais são os fatores levados em consideração ao se planejar um ato criminoso, é utilizada a equação utilitarista do modelo, desenvolvida por Becker (1968):
EUi = pi Ui(Yi - fi) + (1 − pi)∙Ui(Yi)
	Onde EUi é a função utilidade do indivíduo; pi é a probabilidade do indivíduo de ser encontrado e condenado; Yi é o rendimento monetário do crime e fi são as punições no caso do indivíduo ser preso e condenado. Segundo a equação do modelo, se o rendimento monetário do crime Yi for superior que a probabilidade do indivíduo ser descoberto, condenado e punido pelo ato criminoso pi e fi, a utilidade esperada EUi será positiva e o indivíduo, teoricamente, escolheria cometer um crime e atuar na ilegalidade. Nas palavras do próprio autor:
[...] Both pj and fj might be considered distributions that depend on the judge, jury, prosecutor, etc., that j happens to receive. Among other things, Uj depends on the p's and f's meted out for other competing offenses. For evidence indicating that offenders do substitute among offenses, see Smigel (1965)The utility expected from committing an offense is defined as EUj = pjU(Yj -fj) + (1 -pj)Uj (Yj), where Yj is his income, monetary plus psychic, from an offense; Uj is his utility function; and fj is to be interpreted as the monetary equivalent of the punishment. Then […] as long as the marginal utility of income is positive. One could expand the analysis by incorporating the costs and probabilities of arrests, detentions, and trials that do not result in conviction. (BECKER, 1968, p.177)
	O modelo teórico microeconômico contido nesta teoria aborda a escolha do indivíduo maximizador de utilidade esperada frente a duas situações distintas e opostas: de um lado os ganhos potenciais de um ato criminoso e a probabilidade de punição, e de outro, o custo de oportunidade de praticar o ato criminoso, medido pela renda obtida no mercado de trabalho legal. Se a vantagem esperada for maior que o risco, medida pela probabilidade de ser pego e condenado, o agente racional irá cometer o crime, caso contrário, se o valor da punição do ato for elevado e o risco do crime superar os ganhos potenciais, a decisão racional será por não cometer do crime. A análise sobre a decisão de cometer um ato criminoso pode ser comparada à decisão de investimento quanto à análise de riscos, possibilidade de ganhos e posição do indivíduo à exposição ao risco.
	Segundo esta abordagem, o criminoso em potencial calcula os possíveis ganhos da atividade ilegal e os compara com os ganhos reais no mercado legal e sua disposição para cometer um crime, segundo o seu nível de exposição ao risco. Desta forma, se a renda no mercado de trabalho legal for inferior aos custos-benefícios e a probabilidade de ser pego e condenado for menor que o risco que ele está disposto a correr, o indivíduo irá optar pelo crime como forma de obtenção de renda. 
	Com a finalidade de tornar mais simples e objetiva o entendimento sobre a teoria econômica do crime de Becker (1968), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001) elaboraram uma equação que resume e identifica as variáveis mais importante deste modelo:
NBi = li − ci − wi − (pr∙pu)
	Onde NBi é o benefício líquido do indivíduo i; li é o valor monetário do ganho do crime, loot; ci é o custo de planejamento e execução do crime; wi é o custo de oportunidade, baseado na renda da atividade legal; pr é a probabilidade de captura e condenação; pu é o valor monetário do castigo.
	Entre essas variáveis, as que estimulam o indivíduo a não cometer um crime e atuar no mercado de trabalho legal, fatores positivos, são: renda, benefícios, educação, oportunidades de crescimento, entre outros. Os fatores negativos deterrence são as variáveis que desestimulam o indivíduo a cometer um crime, via aumento dos riscos e dos custos como: nível de policiamento, eficiência do aparato da justiça criminal, severidade da lei, punições entre outros. Segundo Becker (1968) o cálculo das punições deve ser calculado via otimização das condições e recursos disponíveis, como forma de minimização dos custos sociais do crime, visando o bem-estar geral da sociedade.
	Essa equação possibilita a previsãoe entendimento da resposta dos criminosos frente às mudanças dos custos e benefícios. O maior rigor das atividades de execução penal, aumenta a probabilidade pr de punir o criminoso, do mesmo modo que a elevação das punições, aumenta a severidade pu do castigo empregado. Desta forma, o risco de se cometer um ato criminoso aumenta e o número de indivíduos racionais disposto a infringir a lei diminui, dado o aumento do risco da atividade ilegal. 
	Becker (1968) demonstrou matematicamente que a relação entre p e f, da equação de utilidade esperada EU original do modelo, é negativa sobre o montante de retorno esperado, pois acréscimos em p e/ou f alteram a utilidade esperada do indivíduo, podendo torná-la negativa e dissuadindo-o a cometer crimes.
	Segundo Becker (1968) o modelo de combate ao crime e otimização dos recursos deve ser dividido em cinco categorias distintas: o número de crimes e o custo social destes, o número de crimes e a punição imposta, o número de crimes, prisões e condenações e o gasto público com polícia e judiciário, o número de condenações e o custo das penitenciárias e outros tipos de punições, e o número de crimes e o gasto privado com proteção e apreensão.
	Como analisado, o comportamento criminoso pode ser reprimido e incentivado através de variáveis deterrence e uma melhor distribuição dos recursos da economia. Nos próximos itens, são estudadas detalhadamente cada uma das categorias que explicam, segundo este modelo, os gastos públicos e privados com a criminalidade e, segundo a análise de Becker (1968), qual o critério mais eficiente de políticas de combate ao crime, para obter de forma eficaz os benefícios da justiça com o menor custo à sociedade e maior bem-estar social.
	Com a pioneira interpretação econômica sobre o crime, Becker (1968) cria um ponto de partida para a análise do comportamento criminoso segundo aspectos microeconômicos, desenvolvendo uma condição teórica e prática aos estudos sobre o comportamento criminoso. As ciências econômicas têm como objetivo a alocação de produção e recursos segundo conceitos de escassez e de otimização, desta forma, seguindo esta mesma linha de raciocínio, políticas ótimas de combate ao crime podem ser alcançadas via alocação ótima dos recursos disponíveis. Segundo o próprio autor:
The main contribution of this essay, as I see it, is to demonstrate that optimal policies to combat illegal behavior are part of an optimal allocation of resources. Since economics has been developed to handle resource allocation, an "economic" framework becomes applicable to, and helps enrich, the analysis of illegal behavior. At the same time, certain unique aspects of the latter enrich economic analysis: some punishments, such as imprisonments, are necessarily non-monetary and are a cost to society as well as to offenders; the degree of uncertainty is a decision variable that enters both the revenue and cost functions; etc. (BECKER, 1968, p.209)
	Como apresentado nos itens anteriores, a teoria econômica do crime utiliza a análise econômica para o desenvolvimento de políticas, público e privado, ótimas e eficientes para combater o comportamento criminoso. As políticas públicas de alocação de recursos podem ser expressas pelos gastos com polícia e tribunais, que, determinam a probabilidade de um crime ser descoberto p e o agressor preso e condenado; pelas leis que determinam a severidade da pena para os condenados f; e pela forma de a punição b como: prisão, multas, liberdade condicional, entre outras.
	Segundo Becker (1968) o montante de recursos destinados para estipular os valores ótimos para as variáveis p, f e b são determinadas objetivando três relações comportamentais: os danos causados por um determinado número de ações criminosas, o custo da realização de uma determinada probabilidade do criminoso pagar pelo crime e o efeito das alterações de p e f no número de crimes. Desta forma, ainda segundo o autor, decisões ótimas são interpretadas como as decisões que minimizem a perda social, calculada pela soma dos danos, custos de apreensão, condenação e execução das penas impostas, custos estes que podem ser minimizados via determinação de p, f e b.
	A escolha individual sobre atuar ou não em uma atividade ilegal pode ser explicada pelo mesmo modelo de escolha que os economistas usam para explicar entrada em atividades legais, uma vez que os agressores são, na margem, preferenciais ao risco (BECKER, 1968) Desta forma, as atividades ilegais não compensariam se a renda real recebida for menor do que o que poderia ser recebido em atividades legais de menor risco.
Consequently, illegal activities "would not pay" (at the margin) in the sense that the real income received would be less than what could be received in less risky legal activities. The conclusion that "crime would not pay" is an optimality condition and not an implication about the efficiency of the police or courts; indeed, it holds for any level of efficiency, as long as optimal values of p and f appropriate to each level are chosen. If costs were the same, the optimal values of both p and f would be greater, the greater the damage caused by an offense. Therefore, offenses like murder and rape should be solved more frequently and punished more severely than milder offenses like auto theft and petty larceny. (BECKER, 1968, p.208)
	A teoria desenvolvida por Becker (1968) foi tão importante e inovadora que muitos dos estudos que foram e são desenvolvidos sobre o crime, segundo a abordagem da escolha racional, basicamente são inovações em torno deste modelo teórico original. No próximo capítulo, serão apresentados os estudos econômicos sobre a criminalidade brasileira de autores que identificaram os fatores socioeconômicos como determinantes da criminalidade, e como aplicaram a teoria da escolha racional e econômica do crime de Becker (1968) para analisar as práticas criminosas no Brasil. 
3 – LITERATURA NACIONAL SOBRE A CRIMINALIDADE
	No Brasil, ainda existem poucos estudos que utilizam a teoria econômica de Becker (1968) e a econometria empírica como forma de estimação sobre os determinantes da criminalidade no Brasil. Outras disciplinas, como a demografia, saúde pública, sociologia e ciência política vêm contribuindo para a discussão sobre esses determinantes, mas não se mostraram conclusivos sobre quais seriam as causas da criminalidade.
	A falta de estudos empíricos está relacionada à [...] “extrema limitação derivada da inexistência quase que absoluta de dados minimamente confiáveis, com cobertura nacional e reproduzidos temporalmente.” (CERQUEIRA e LOBÃO, 2004, p.253). Os estudos sobre a criminalidade, geralmente, mesclam observações sociais e/ou antropológicas com dados oriundos de indicadores econômicos, obtendo êxito no detalhamento de características sobre o aspecto do indivíduo como ser criminoso e das práticas criminosas e da vida penitenciária no país, mas não apresentam um denominador comum sobre as causas motivadoras do comportamento criminoso.
	Este capítulo discorre sobre as contribuições, de cunho econômico, sobre as causas da criminalidade no Brasil a partir da revisão bibliográfica da literatura nacional. São destacados os estudos de autores como: Pezzin[footnoteRef:3] (1986 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004), Andrade e Lisboa (2000), Pereira e Fernandez (2000), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001), Shikida (2002), Cerqueira e Lobão (2003), Lobo e Fernandez (2003), Almeida (2007), entre outros; assim como a metodologia e as variáveis utilizadas pelos mesmos. [3: PEZZIN, L. Criminalidade urbana e crise econômica. São Paulo: IPE/USP, 1986.] 
	Cerqueira e Lobão (2003) perceberam que os estudos empíricos sobre os determinantes do crime no Brasil baseados na teoria econômica do crime e no modelo de Becker (1968), como os trabalhos de Pereira e Fernandez (2000), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001) e Shikida (2002), apresentavam alta significância da variável desigualdade de renda como causa ou fator característico para as regiões com elevadas taxas de homicídios. Entretanto o modelo teóricooriginal de Becker (1968) não equaciona esta variável, causando uma distorção entre o modelo teórico e o modelo empírico. Desta percepção, os autores fizeram uma enorme contribuição para a teoria econômica do crime, desenvolvendo um modelo de produção criminal onde a variável desigualdade de renda consta explicitamente na equação, assim como as variáveis: renda esperada no mercado de trabalho legal, densidade demográfica, efetivo policial e punição.
	Desta forma, munido deste novo modelo e dos dados oriundos dos Registros de Ocorrências da Polícia Civil, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e do Sistema de Saúde (SIM/SUS), os autores puderam analisar empiricamente as possíveis causas do número de homicídios, variável dependente proxy escolhida como medida de criminalidade, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, nas décadas de 70 e 80; e concluíram que, para enfrentar o crime, a exclusão social e econômica deveria ser combatida e que não basta somente aumentar os investimentos em segurança pública e/ou em medidas de combate direto à criminalidade. 
A pesquisa concluiu, pois, que a diminuição da desigualdade tem impacto fortemente negativo sobre o número de homicídios, o que referenda várias teorias econômicas, sociológicas e psicossociais que procuram explicar as causas da criminalidade. Os resultados sugerem ainda um efeito pífio do aumento dos gastos em segurança pública na diminuição do número de homicídios. Considerando-se inúmeras experiências internacionais, além das diversas pesquisas nacionais e internacionais que enfatizam o papel crucial da polícia em coibir a criminalidade, acreditamos que esse resultado derive do fato de se estar lidando com um modelo exaurido de segurança pública, mais especificamente no que diz respeito às instituições policiais. (CERQUEIRA e LOBÃO, 2003, p.24)
	Lobo e Fernandez (2003), tendo conhecimento da importância dos fatores sociais, demográficos e econômicos como agentes causadores ou motivadores da criminalidade, desenvolveram um modelo econométrico, segundo a teoria econômica, para estudar as principais modalidades de crimes nos municípios da Região Metropolitana de Salvador, no período de 1993 a 1999, utilizando dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA). Ao analisar as curvas de oferta das atividades criminosas agregadas e algumas específicas como: furto, roubo e crimes contra o patrimônio, os autores identificaram que nível de educação, eficiência da polícia, concentração de renda, densidade demográfica, grau de urbanização e as rendas dos municípios e do governo municipal são as variáveis mais significantes aos índices de criminalidade.
	Segundo a análise e interpretação dos resultados econométricos, dentre as variáveis supracitadas, a elevação dos níveis de educacionais, das rendas dos municípios e do governo municipal e da eficiência da polícia, assim como reduções da concentração de renda e do grau de urbanização, são as variáveis que reduziriam a criminalidade com maior significância. A maior contribuição de Lobo e Fernandez (2003) foi a análise da influência da urbanização/densidade demográfica sobe a incidência de crimes, algo, até então, pouco estudado teórica e empiricamente:
A densidade demográfica, a despeito de ter se correlacionado negativamente com os indicadores de criminalidade, mostrou uma correlação positiva com a probabilidade de variações nos índices de criminalidade, revelando que os municípios com maior densidade demográfica são também aqueles que apresentam as maiores probabilidades de aumentos em seus indicadores de criminalidade. Esse resultado vem reforçar o efeito perverso de aumentos no grau de urbanização tanto sobre o aumento do nível de criminalidade, detectado anteriormente, quanto sobre o crescimento da probabilidade de aumentos nos indicadores de crime. Esse resultado abre novas perspectivas para as políticas que favorecem a fixação da população no campo ou estabelecem condições para redirecionar as pessoas para as áreas rurais, como é o caso específico da reforma agrária. (LOBO e FERNANDEZ, 2003, p.18)
	Outra contribuição dos autores foi a análise da criminalidade pela própria criminalidade onde, explicando melhor, quanto maior for a quantidade de crimes em uma determinada região, menor será a probabilidade de aumento do próprio índice de criminalidade, evidenciando que os níveis de criminalidade reduzem ou freiam o crescimento dos mesmos, evidenciando uma grau de saturação criminal. “Esse resultado possibilita estabelecer medidas de curto prazo que possam combater eficazmente a criminalidade, amortecendo ou refreando seus indicadores através do tempo.” (LOBO e FERNANDEZ, 2003, p.18)
	Almeida (2007) foi mais além do que os outros autores estudados neste capítulo. Ele inovou os estudos sobre teoria econômica do crime analisando a dinâmica e os determinantes da criminalidade, segundo a abordagem racional, não de forma agregada como fizeram os autores anteriores, mas de forma espacial, através da análise exploratória e econometria espacial das atividades sociais, econômicas e demográficas de seiscentos e quarenta e cinco municípios de São Paulo, utilizado dados provenientes do Consórcio de Informações Sociais (CIS), Centro de Análise Criminal (CAC) e da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) de 2001. 
	A análise espacial revelou uma concentração de crimes contra o patrimônio e contra pessoa na Região Metropolitana de São Paulo, o que demonstra que, da mesma forma que Lobo e Fernandez (2003) concluíram, a urbanização e a densidade demográfica está relacionada com o índice de criminalidade, principalmente desses dois tipos específicos de crime. Além disso, outras conclusões foram destacadas pelo autor:
A proxy de urbanização mostrou-se diretamente relacionada com o delito desta regressão. Por outro lado, a diminuição da vulnerabilidade e um aumento do percentual da renda derivado das transferência [sic] do governo, reduziriam o crime contra o patrimônio de forma mais enérgica que outros fatores, com exceção ao logaritmo da renda per capta. A diminuição da vulnerabilidade, política estrutural, traria consequências [sic] a longo prazo enquanto um controle imediato do crime estaria ligado a transferências do governo como percentual da renda, política compensatória. (ALMEIDA, 2007, p.80)
	Os resultados apresentados nesta seção sugerem que a teoria e o modelo econômico podem contribuir para o entendimento dos determinantes do crime, também no Brasil. A literatura brasileira foi eficiente ao identificar algumas variáveis mais significantes para a determinação do comportamento criminoso, evidenciando que há uma alta relação entre o crime e a desigualdade, a educação e a idade. Os estudos brasileiros mostram claramente que não somente a desigualdade de renda afeta o nível de criminalidade, como também outras características a ela associadas como: a desigualdade na distribuição da educação e o padrão de mobilidade social existente, tanto no sentido ascendente quanto descendente.
	Considerando que a maioria dos homicídios ocorridos no Brasil e o número de presidiários cumprindo pena, tem relação com crimes de cunho econômico como: tráfico de drogas, furto e roubo, 65,0% do total de detentos, segundo dados consolidados referentes a todo o ano de 2015 e o primeiro semestre de 2016 do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, divulga a edição mais recente do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN), é possível afirmar que a teoria econômica de Becker (1968) está adaptada ao caso brasileiro, reafirmando a hipótese de que o crime é, fundamentalmente, uma atividade econômica, com todos os custos e benefícios envolvidos. Dos 726.712 mil presidiários cumprindo pena no Brasil (DEPEN, Junho de 2016), 30,0% estão cumprindo por tráfico de drogas, 35,0% por furto e roubo, crimes contra o patrimônio e apenas 16,0% estão cumprindo pena por crimes contra a pessoa, crimes que, pela literatura,são originários de sentimentos e características desviantes.
	Segundo os estudos empíricos apresentados neste capítulo, ratificados com os dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) de 2017, a população carcerária brasileira é composta, em sua maioria, por jovens, reincidentes, solteiros, presos por envolvimento com o tráfico de drogas, furto e roubo, e com baixo nível de escolaridade, muitos sem o ensino fundamental completo, tendo como grande motivo para a paralisação dos estudos a necessidade de contribuição com a renda familiar. Shikida (2002) constatou que 70,8% dos presidiários da Penitenciária Estadual de Piraquara no Paraná são reincidentes, percentual este em linha com os dados nacionais, que demonstram que mais da metade dos presidiários brasileiros apresentam o mesmo perfil.
	O baixo nível escolar do perfil criminoso brasileiro evidencia a falta de eficiência da gestão pública ao priorizar gastos com segurança pública em detrimento da educação, fator primário de equidade socioeconômico. Segundo os dados, de 2017, do Ministério da Justiça e do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), dos presidiários brasileiros, 3,0% são analfabetos, 45,0% tem fundamental incompleto e 12,0% tem fundamental completo, totalizando quase 60,0% dos detentos com baixo nível educacional. Brasil gasta com presos quase o triplo do custo por aluno, o país investe mais de R$ 40 mil por ano em cada preso em um presídio federal, gasta uma média de R$ 15 mil anualmente com cada aluno do ensino superior — cerca de um terço do valor gasto com os detentos, segundo dados obtidos da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) e do Ministério da Educação (MEC), em 2020.
	Desta forma, fica evidente que para a maioria dos estudiosos sobre a criminalidade brasileira, fatores como: desigualdade de renda, educacional e/ou de acesso, urbanização e falta de políticas voltadas para os jovens entre 18 e 29 anos de idade, 55,0% do total de detentos, estão diretamente relacionadas com o nível de criminalidade, constatação lógica e correta, confirmada pelo perfil criminológico dos detentos brasileiros. No próximo capítulo, está contida uma breve conclusão sobre a segurança pública no Brasil e sobre as possíveis causas da criminalidade brasileira.
	3 – CONCLUSÃO
	Atualmente, um dos maiores problemas da sociedade brasileira é a criminalidade. Segundo dados do Ministério da Justiça e do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), o número total de presos em penitenciárias e delegacias brasileiras era de 726.712 mil presos em Junho de 2016, 578,7% maior do que em 1992, 10 mil.
	O Brasil, mesmo apresentando taxas de crescimento econômico, redução da desigualdade e avanços educacionais, convive com a triste realidade da violência, fenômeno presente na sociedade atual, ao ponto de constituir um verdadeiro desafio para os governantes. A necessidade de intervenção sobre as ocorrências criminais torna necessária o entendimento sobre os motivadores e o próprio comportamento criminoso, de forma teórica e empírica, para a correta elaboração e aplicação de políticas para controle e redução da criminalidade.
	É justamente desta necessidade e da complexidade do tema, que se justifica a elaboração deste e de outros trabalhos, assim como o esforço acadêmico para entender o comportamento criminoso visando à identificação das variáveis significantes que motivam um indivíduo a efetuar um delito, ao invés de atuar no setor de trabalho legal. Desta forma, neste trabalho, foi revisada a bibliografia sobre o crime e analisadas as várias teorias, modelos e empirismos que explicam o comportamento desviante do criminoso, objetivando contribuir para o entendimento do crime, no caso brasileiro.
	Uma vez que a determinação da criminalidade está sujeita às diferenças institucionais, sociais, jurídicas e regionais, dependendo também da fragilidade física e psicológica dos indivíduos, o segundo e o terceiro capítulos apresentam algumas das mais importantes e estudadas teorias sobre a criminalidade, englobando ciências sociais, antropológicas, psicológicas e econômicas, descrevendo de forma clara e sucinta a lógica por trás das teorias e induzindo o leitor a entender a criminalidade não como um fenômeno subjetivo de difícil explicação e sim, objetivo e que pode ser entendido e quantificado. 
	Ao analisar as teorias apresentadas no segundo capítulo, fica evidente a complexidade do fenômeno criminológico e a dificuldade de identificação das variáveis sociológicas e antropológicas determinísticas da criminalidade, que, segundo as teorias da desorganização social, do estilo de vida, do controle social e do autocontrole, por exemplo, tem raízes no processo de aculturação da criança desde a fase infantil até a pré-adolescência, entre dois e treze anos de idade, passando pela supervisão e interação com a família, os amigos e a escola, e terminando com outras fontes de tensão que envolve as instituições e as formas de organização social.
	Como forma de simplificar o fenômeno da criminalidade e permitir a identificação e quantificação de suas variáveis determinísticas, o terceiro capítulo apresenta uma análise completa sobre a teoria econômica do crime, desenvolvida por Becker (1968) e complementada por Ehrlich (1973), Block e Heineke[footnoteRef:4] (1975 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004), Eide[footnoteRef:5] (1994 apud BRENNER, 2001), Levitt (1996) Freeman (1994) e Glaeser et al (1995). Essa teoria estuda o crime segundo uma abordagem econômica, conhecida como teoria da escolha racional, e analisa a atividade criminosa como uma atividade econômica ilegal, e não, como uma atividade oriunda de patologias e/ou desvios sociais; introduzindo uma visão da escolha individual, quanto este, o indivíduo, compara as expectativas de lucro e de risco no mercado de trabalho legal e no crime. Além disso, esta teoria evidencia que alguns fatores como: aumento do custo de se cometer um crime e da probabilidade de punição afetam negativamente os indicadores de criminalidade, revelando também que se a atividade ilícita for mais rentável que a legal, a decisão racional do indivíduo seria a de se voltar para a atividade criminosa. [4: BLOCK, M. K. e HEINECKE, J. M. A labor theoretic analysis of the criminal choice. American Economic Review, v.65, p.314-325, 1975.] [5: EIDE, E. Models of crime. University of Oslo. n.C1, Noruega, 1994.] 
	Segundos os autores supracitados e a teoria econômica do crime, podemos interpretar o comportamento criminoso e desenvolver políticas adequadas para controle e redução da criminalidade a partir de variáveis como: renda per capita, graus de desigualdade, taxa de desemprego e acesso a serviços como: moradia, saúde, alimentação, educação e cultura pelos indivíduos; e também a partir de variáveis dissuasórias que levariam o indivíduo a se abster de cometer crimes, dada as probabilidades de aprisionamento e a severidade das punições, diretamente relacionadas ao efetivo e eficiência policial, da justiça criminal e às leis.
	Munido do entendimento sobre as teorias do crime, o quarto capítulo investiga a criminalidade e suas causas no Brasil, segundo o conceito econômico e os trabalhos empíricos de Pezzin[footnoteRef:6] (1986 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004), Andrade e Lisboa (2000), Pereira e Fernandez (2000), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001), Shikida (2002), Cerqueira e Lobão (2003a), Lobo e Fernandez (2003) e Almeida (2007), concluindo que fatores como: desigualdade de renda, educacional e/ou de acesso, urbanização e falta de políticas voltadas para os jovens, estão diretamente relacionadas com o nível de criminalidade. [6: PEZZIN, L. Criminalidade urbana e crise econômica. São Paulo: IPE/USP, 1986.] 
	O baixo investimento em educação mantém a grande parte da população marginalizada e em condições precárias, sem as condições necessárias para aproveitar o crescimento econômico e incapaz de buscar a igualdade socioeconômica pelas próprias vias do trabalho, sem a necessidade de ajudas assistencialistas. É fato que há mais investimentos no sistema prisionale na segurança pública do que na educação e, possivelmente, pela teoria econômica do crime, se houvesse mais recursos para melhorar o ensino, parte da população carcerária não estaria na cadeia, pois os custos de oportunidade seriam maiores que a rentabilidade e riscos de agir ilegalmente e o agente racional não optaria pelo crime como forma aquisição de renda. É conclusivo que os jovens de classe social mais baixa, com menor acesso à educação e vítimas da desigualdade de renda são mais propícios a serem introduzidos no mundo do crime, principalmente em atividades ilegais com maior rentabilidade como: tráfico de drogas, roubos e furtos, reafirmando a teoria de cunho econômico sobre a criminalidade.
	Apesar das estimativas dos trabalhos empíricos sobre a criminalidade brasileira se mostrarem significativos, ratificando a teoria econômica do crime, os resultados devem ser interpretados com cautela devido à curta e pouco confiável série de dados sobre a criminalidade, medida, pela grande maioria dos trabalhos, pela variável dependente proxy homicídios. Entretanto, mesmo com base nos limitados dados disponíveis, os trabalhos já realizados atestam a viabilidade e a importância das contribuições econômicas ao assunto e não há motivos para se rejeitar a hipótese de que problemas socioeconômicos afetam significativamente o nível de crimes, sendo a desigualdade, nas suas várias modalidades, o principal fator a ser combatido pelas políticas governamentais, agindo indiretamente sobre a criminalidade, diferentemente das políticas governamentais estão sendo implementadas atualmente.
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