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Gestão da Demanda Aplicações da Gestão da Demanda Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Marcos Crivelaro Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin 5 Iniciaremos nossos estudos explicando a dependência das empresas de terceiros, parceiros e de outras empresas da cadeia de suprimentos para realizar suas atividades em vários pontos do Planeta. Em seguida, é apresentado o objetivo da administração de materiais e os requisitos básicos para o abastecimento. A partir de então, é abordada a importância da diretoria de suprimentos. Em seguida, aprenderemos os princípios da teoria dos estoques e o que significa quantidade demandada. Aprenderemos, também, os sete tipos de demanda e será vista a Função Compras. Por fim, é apresentada a importância do desenvolvimento e negociação com fornecedores, enfatizando o pedido de compra, negociação, organização de compras e as definições de grupo, equipe e time. Para ajudá-lo(a), realize a leitura dos textos indicados, acompanhe e refaça os exemplos resolvidos. Não deixe de assistir, também, à apresentação narrada do conteúdo e de alguns exercícios resolvidos. Finalmente, e o mais importante, fique atento(a) às atividades avaliativas propostas e ao prazo de realização e envio. A proposta desta Unidade é apresentar os conceitos e as práticas empresariais relacionadas a Suprimentos. Aplicações da Gestão da Demanda · Introdução · Gestão da Demanda · Função Compras · Negociação com Fornecedores · Organização de Compras 6 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda Contextualização Após a obtenção da previsão da demanda, as empresas irão utilizar as informações para realizar seu planejamento e, por meio dele é que são realizadas atividades como a administração de materiais e as compras organizacionais. Na administração de materiais são importantes itens como o prazo de entrega, quantidade do insumo ou da matéria prima, preço e condições de pagamento. Esses aspectos envolvem a organização de compras, bem como o desenvolvimento e negociação com fornecedores. Nas ações são considerados os tipos de demanda, pois as tomadas de decisão dependem desses fatores. Aspectos do dia a dia de nossa vida pessoal ocorrem também nas atividades profissionais. Exemplo disso é o nosso trabalho diário. Nele, realizamos a prestação de serviço para quem nos contratou. Isso ocorre também nas indústrias de manufatura e empresas prestadoras de serviços. Em nossa vida pessoal e nas empresas, é necessário prever a demanda de produtos, com o objetivo de atender às vendas realizadas. Assim, é realizada a compra de matéria prima e de insumos, para garantir os níveis de produção necessários para manter a entrega de produtos comercializada pelo setor de vendas da empresa. Exemplificando com fatos do cotidiano, como podemos avaliar a quantidade de produtos que devem ser adquiridos para as nossas necessidades mensais? Em quais épocas do ano determinados produtos são mais consumidos? Tendo essas informações, é possível determinar o estoque necessário em nossa casa. Podem surgir questões pontuais, como variações do consumo em uma determinada semana, no caso de aniversários, por exemplo. Todas essas preocupações são similares quando se comparam com as necessidades de uma empresa. Uma empresa pode passar por situações mais complexas como, por exemplo, a variação da demanda em função de aspectos da Economia ou climáticas. Mas, similarmente ao nosso cotidiano, as empresas precisam estimar as eventualidades inerentes à atividade de produção. Para cada tipo de produto, existem questões estabelecidas e eventualidades que devem ser administradas na programação da produção. Os resultados dos métodos de previsão causais são fundamentais para a determinação da demanda dos produtos pelos seus clientes. Desta forma, a previsão da demanda futura é muito importante para indicar os investimentos que devem ser realizados em uma empresa. Assim, com esse exemplo simples de nosso cotidiano, lembro que as organizações podem ter situações muito mais complexas em seu dia a dia. Cabe ao engenheiro de produção identificar as características de vendas de sua empresa e construir um sistema de previsão de demanda de produtos, capaz de informar as necessidades de produção, para que possa atender os níveis de vendas futuras. 7 Introdução No mundo atual globalizado, as empresas não são autossuficientes. Elas dependem de terceiros, parceiros e de outras empresas da cadeia de suprimentos, para realizar suas atividades em vários pontos do Planeta. Para abastecer suas operações em diversos países, as empresas requerem matérias primas de países produtores, materiais, máquinas, equipamentos, serviços de países com tecnologia avançada e com baixo custo de mão de obra e uma extensa variedade de insumos que provêm do ambiente externo. Quer um exemplo? Observe o tênis que está usando e me responda: em qual país ele foi produzido? Há grande chance de ele ter sido produzido no continente asiático, mais precisamente na China. A figura 1 apresenta tênis de grife. Figura 1. Vários modelos de tênis. Fonte: Alan Witikoski/Freeimages E você se pergunta: por que isso ocorre se a marca do tênis não é asiática? As grandes multinacionais buscam as melhores oportunidades para a fabricação de seus produtos e, atualmente, na China, a mão de obra é mais barata, os impostos causam um impacto menor no preço final e a tecnologia fabril é de ponta, oferecendo maior produtividade. Mas isso rapidamente pode mudar e talvez seu próximo tênis seja fabricado no Vietnã, na Indonésia etc. A administração de materiais visa a abastecer, de modo contínuo, o sistema produtivo da empresa com insumos que sejam necessários para as suas atividades. São cinco requisitos básicos para o abastecimento: - qualidade do insumo e da matéria prima: possuir qualidade tal que possibilite sua aceitação dentro da empresa e no mercado. Esse requisito também está associado à durabilidade, rendimento e, atualmente, sustentabilidade; 8 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda - quantidade do insumo e da matéria prima: ser suficiente para suprir as necessidades da produção e estoque, evitando a falta de material para o abastecimento geral da empresa, bem como o excesso em estoque; - prazo de entrega: ser o menor possível, a fim de prestar um melhor atendimento aos consumidores e evitar a falta do material; - menor preço: ser tal que possa situá-lo em posição de concorrência no mercado, proporcionando à empresa lucratividade crescente; - condições de pagamento: ser as melhores possíveis para que a empresa tenha maior flexibilidade na transformação ou venda do produto. O órgão de compras, antigamente denominado departamento de compras e atualmente diretoria de suprimentos constitui um elemento de ligação entre a empresa e o seu ambiente externo. É responsável pelo suprimento dos insumos necessários ao funcionamento do seu sistema produtivo. O órgão de compras de uma empresa deve possuir executivos bem preparados, com talento compatível com a função que irão exercer. Com o advento de tecnologias mais modernas e o avanço na área de informática e de novas técnicas gerenciais, a demanda para a contratação de executivos para gerenciar as atividades de aquisição de materiais e contratação de serviços levou a um critério de seleção mais apurado, por buscar identificar as potencialidades técnicas e gerenciais de cada candidato. A diretoria de suprimentos é hoje considerada um centro de lucro, e não simplesmente um centro de custo. E, sem dúvida, é também importante na estratégia de proteção das marcas da empresa perante os consumidores. Um momento crítico evidente é o desenvolvimento de um novo produto pela empresa. É necessário, em muitos casos, desenvolver novosfornecedores por meio do estudo de especificações dos insumos e da qualidade requerida em cada caso. Um executivo bem informado vai trabalhar de forma eficiente e eficaz, com elevados resultados para a empresa que trabalha. A leitura obrigatória dos principais periódicos que circulam no país e no mundo e, também, o acompanhamento de sites especializados deverão ser as primeiras atividades ao iniciar seu dia de trabalho. Por exemplo, a oscilação do preço do petróleo altera rapidamente cenários econômicos de grandes corporações industriais e de países produtores que têm no petróleo sua base econômica (vide figura 2). 9 Figura 2. Plataforma de extração de petróleo. Um diretor de suprimentos que acompanha a cotação do petróleo deve saber a diferença da cotação do barril de petróleo tipo Brent ou WTI. Essas duas siglas, que normalmente acompanham a cotação do petróleo cru, indicam a origem do óleo e o mercado no qual ele é negociado. O nome Brent foi criado por uma política interna da Shell que, originalmente, denominava seus campos de produção com nomes de aves (neste caso, o ganso de Brent). Atualmente, a palavra Brent designa todo o petróleo extraído no Mar do Norte e comercializado na Bolsa de Londres. A cotação Brent é referência para os mercados europeu e asiático. O petróleo WTI tem o nome derivado de West Texas Intermediate. West Texas é a principal região petrolífera dos Estados Unidos e o óleo WTI é aquele vendido pelos intermediários do West Texas. Ele é negociado na Bolsa de Nova Iorque e sua cotação é referência para o mercado norte-americano. Todo esse arsenal de informações, que um executivo que atua na diretoria de suprimentos necessita, tem por finalidade primordial dar condições para que ele possa avaliar sua estratégia de atuação diante de situações como: - a economia está globalizada e esse fato não pode ser deixado de lado; - os mercados se tornam cada vez mais internacionais e os problemas sociais, econômicos e políticos afetam substancialmente o suprimento de bens e serviços; - o custo dos materiais é afetado pelos níveis de estoques que a empresa estabeleceu em suas políticas internas de gestão de materiais; - o acompanhamento dos preços de mercado (desde a matéria prima até o produto acabado); e - o desenvolvimento de novos fornecedores. E se decisões erradas ocorrem, por exemplo, nessa fase de desenvolvimento de novos fornecedores? A rapidez das informações negativas sobre produtos de uma empresa que podem circular o mundo das redes sociais em segundos é um dos alertas para a área de suprimentos. Quer exemplos de denúncias de consumidores que levam empresas a terem suas marcas manchadas (vide figuras 3 e 4)?: - uma determinada marca de bola utilizada por crianças na faixa etária de 1 a 3 anos é feita com material tóxico levando diversas crianças aos prontos socorros; - uma camisa de grife caríssima com a qual você desfila com orgulho é denunciada na mídia, porque é feita com mão de obra infantil escrava; Fonte: Luiz Baltar/Freeimages 10 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda - diversas ocorrências de acidentes de trânsito com famoso modelo de carro esportivo, por causa de falha no sistema de freio de qualidade inferior oriundo de um novo fornecedor. Figura 3. (a) Bola de polímeros com alto grau de toxicidade. (b) Camisa fabricada com mão de obra infantil escrava. Fonte: (a) greschoj/Freeimages (b) A. Carlos Herrera/Freeimages Figura 4. Acidente com carro esportivo. Fonte: Zlyoga/Freeimages 11 Gestão da Demanda A demanda não é uma variável sob controle direto do fornecedor e tem impacto significativo na cadeia de suprimentos. A demanda pode ser interpretada como procura, mas não necessariamente como consumo, vez que é possível querer e não consumir um bem ou serviço, por diversos motivos. Toda a teoria dos estoques está pautada na previsão do consumo dos produtos acabados e na prestação de serviços realizada. A previsão de consumo ou da demanda estabelece as estimativas futuras do consumidor. Quais, quanto e quando os bens e serviços serão solicitados pelos clientes. A quantidade de um bem que os compradores desejam e podem comprar é chamada de quantidade demandada e depende de vários fatores, entre eles, a renda do consumidor, o preço, o preço dos outros bens substitutos e a preferência do indivíduo. A lei da demanda indica que, em condições normais, em um mercado, a quantidade demandada é inversamente proporcional ao preço do bem em questão. Os tipos de demanda são: - Negativa: quando o bem em questão não agrada os possíveis consumidores, que podem mesmo rejeitar o bem ou produto. Isso, muitas vezes, acontece quando uma marca ou produto é envolvido em algum escândalo; - Inexistente: acontece quando o bem é desconhecido para o consumidor ou então não se vê a utilidade em adquirir o bem; - Latente: ocorre no caso de se verificar uma determinada necessidade, mas, apesar de existir uma demanda, não existe um bem capaz de satisfazê-la; - Declinante: é o caso de um produto que já teve uma alta demanda, mas que, por algum motivo, ele está decrescendo. Por exemplo, o produto ficou desatualizado tecnologicamente; - Irregular: verifica-se quando um produto é sazonal e por isso a procura aumenta nessa época. A venda de panetones é um bom exemplo; - Plena: é a demanda considerada ideal pela organização que vende um bem, significando que os objetivos de venda previstos foram alcançados; - Excessiva: quando a procura por um determinado bem ou produto excede a capacidade de resposta da empresa, não conseguindo satisfazer a todos. A Gestão da Demanda está relacionada à habilidade de prever a demanda, com o canal de comunicação com o mercado, no poder de influência sobre a demanda, na habilidade de cumprir prazos e de priorizar e alocar os recursos disponíveis. A Gestão da Demanda deve ser de responsabilidade das áreas comercial (marketing e vendas) e planejamento, em conjunto. O planejamento da demanda deve ser iniciado com o plano de previsão de vendas, que é elaborado com base em dados históricos de venda, informações do pessoal que tem o contato com os clientes e informações de imprensa e mercado. 12 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda Após análise, verifica-se a estimativa de consumo no futuro. Esta estimativa poderá ser influenciada negociando-se por meio de propaganda, promoção e prazo de entrega. Nota-se que nem toda a quantidade prevista de consumo no futuro pode vir a ser a quantidade prevista de produção da empresa. Assim, cabe à empresa decidir a qual cliente vender. A venda de produtos de informática e vídeo pode ilustrar os conceitos ligados à gestão de demanda: - o posicionamento de produto na faixa de preços e as funcionalidades existentes claramente caracteriza a camada social para a qual ele se destina. Existem tabletes que custam menos de cem dólares e outros que custam acima de mil dólares. Naturalmente os produtos mais baratos são produzidos em maior quantidade; - nas promoções de compra de TV digital pode existir uma promoção que oferece como “brinde” um celular ou um tablete. Ou quando o smartphone possui preço elevado de “brinde” e se ganha outro celular mais barato. Isso tudo sob a importância de se comprar esses produtos tecnológicos da mesma marca para garantir a conectividade entre eles; - na prestação de serviços ao efetuar a assinatura de TV de canais pagos, oferta-se a promoção da internet móvel. E os programas da TV de canais pagos podem ser vistos em tabletes e smartphones (vide figura 6). Estratégias de marketing e de convergência tecnológica acima explicitadas são exemplos de atuação de gestores de demanda. Figura 5. Produtos de vídeo e informática. Fonte: Mocho1/Freeimages A estratégia de acompanhamento da demanda tem limitaçõesrelacionadas à cadeia de suprimentos. Assim, a estratégia de nível de serviço é a mais recomendada, consistindo o 13 problema em decidir que percentual da demanda máxima esperada a empresa quer atender e o comprometimento desejado do nível de serviço, do resultado da empresa (custo de capital) e do custo de oportunidade (maior venda ou premium de preço). A estratégia de nível de serviço consiste em decidir que percentual da capacidade máxima esperada a empresa quer atender. Se a decisão é ter capacidade para atender o pico da demanda, isto significa assumir os custos de ociosidade nos períodos de demanda normal. O ideal é encontrar o equilíbrio entre capacidade e demanda naqueles períodos em que a oferta supera a demanda ou naqueles em que a demanda é maior que a capacidade. Porém, mais importante do que atender a toda a demanda, ou parte dela, é ter a preocupação de fazê- lo na melhor qualidade possível, pois esta é a única forma que a empresa dispõe de não perder sua fatia de mercado. Função Compras Os dicionários definem a palavra compras como o ato de dar dinheiro pela posse de alguma coisa, adquirir. É um procedimento pelo qual as empresas determinam os itens a serem comprados, identificam e comparam os fornecedores disponíveis, negociam com as fontes de suprimentos, firmam contratos, elaboram ordens de compras e, finalmente, recebem e pagam os bens e serviços adquiridos. O objetivo da atividade de compras é a obtenção e coordenação do fluxo contínuo de suprimentos a fim de atender aos programas de produção, comprar os materiais pelos melhores preços, não fugindo aos parâmetros qualitativos e quantitativos, além de procurar as melhores condições para a empresa. A administração de compras é uma atividade fundamental para uma gestão eficaz das empresas e que influencia diretamente seus estoques e o relacionamento com os clientes, estando também relacionada à competitividade e ao sucesso da organização. O estoque da organização afeta o custo de produção, podendo trazer problemas, como a necessidade de maior controle, além de despesas com pessoal e sua manutenção. Dessa forma, o setor de compras deve exercer a importante função de monitorar os níveis de estoque para que estejam sempre em equilíbrio. Comprar com eficiência de forma a garantir benefícios para a empresa é fator fundamental não só para a competitividade, mas até mesmo para a permanência das empresas no mercado. É necessário que se tenha um banco de dados sempre atualizado, funcionários capazes e com alto poder de negociação, além de se investir em um relacionamento forte com os fornecedores. Os grandes montantes de recursos financeiros envolvidos em compras públicas podem alterar o cenário econômico de cidades, estados e regiões. O estudo de caso 1 apresenta a atuação governamental na área rural destinada à produção de alimentos. Com essa atuação busca-se, simultaneamente, diminuir o quadro de alimentação 14 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda deficitária, principalmente na população infantil, que estuda em escolas públicas, e auxiliar pequenos agricultores a vender a sua produção sem a presença de intermediários. Estudo de Caso Demanda Estruturada e a Agricultura Familiar No Brasil O estudo original em inglês foi lançado em outubro de 2013 em parceria do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA) com o Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG). Figura 6 – Publicação “Demanda Estruturada e a Agricultura Familiar no Brasil”. A publicação analisa o caso de dois projetos brasileiros: o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O estudo mostra que abastecer escolas com alimentos produzidos por pequenos agricultores é uma maneira eficiente de fortalecer a agricultura familiar e reduzir a pobreza ao promover o combate à fome. Em 10 anos, o programa PAA adquiriu mais de 3 milhões de toneladas de alimentos de mais de 200 mil agricultores. O programa PNAE alimenta cerca de 45 milhões de alunos das escolas públicas brasileiras. Parte do sucesso brasileiro na redução da pobreza e do combate à fome pode ser atribuída à vinculação da oferta dos agricultores familiares à aquisição institucional de alimentos para a rede de assistência social. A Fundação Bill e Melinda Gates refere-se a esse tipo de compra como “demanda estruturada”, que consiste em conectar uma fonte de demanda grande e previsível por produtos agrícolas a agricultores familiares com o objetivo de reduzir riscos, incentivar a melhora da qualidade dos produtos e do processo produtivo como um todo, de modo a aumentar a renda dos agricultores familiares e reduzir a pobreza. No Brasil, a agricultura familiar é responsável por cerca de 75 por cento de todos os empregos rurais e 70 por cento do consumo interno de alimentos no país. No entanto, apesar da importância dos agricultores familiares brasileiros, eles recebem apenas cerca de 25 por cento de todo o crédito agrícola. Muitos deles (especialmente na região Nordeste do Brasil) não têm acesso a mercados para vender seus produtos de modo competitivo e ficam obrigados a vender a maior parte de seus produtos para intermediários. Os problemas de mercado e a pobreza crônica em áreas rurais suscitaram a intervenção do governo nos mercados internos de alimentos, para conectar grandes mercados previsíveis à produção dos agricultores familiares. Fonte: ipc-undp.org 15 Figura 7. Porcentagem de Recursos do PAA por Região, 2010-2012. Fonte: Sambuichi et al. (2013). O PAA utiliza mecanismos diferentes para adquirir produtos agrícolas de agricultores familiares. Atualmente, há cinco modalidades de operação: - Compra Direta; - Apoio à Formação de Estoques; - Compra com Doação Simultânea; - Incentivo à Produção e ao Consumo de Leite; e - Compra Institucional. A intervenção do Estado para aumentar a demanda por alimentos de pequenos produtores pode ser uma ferramenta fundamental para a facilitação de novos mercados e para o sustento de variações diversas e regionais na produção de alimentos. Isto pode não ser possível nos mercados privados, em razão da proliferação de supermercados no Brasil, circunstância que torna a cadeia de abastecimento mais estreita e empurra os pequenos produtores para fora. No Brasil, os supermercados representam 75 por cento de todos os varejistas de alimentos do país, a porcentagem mais alta da América Latina. Processo De Aquisições Do Pnae Para A Agricultura Familiar (Simplificado): - Orçamento: identificar o montante transferido pelo governo federal com base no censo escolar do ano anterior. Estimar a parcela de compras da agricultura familiar a ser implementada naquele ano; - Menu: o nutricionista responsável pelo cardápio escolar deve: a) mapear os produtos produzidos pelos agricultores familiares; b) preparar um cardápio com tais produtos, levando em conta as necessidades nutricionais; e c) informar ao município a quantidade a ser adquirida de cada produto; 16 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda - Listagem de Preço: o município deve pesquisar os preços dos diversos produtos no mercado local, incluindo os custos de transporte até as escolas; - Proposta de Venda: os agricultores respondem ao edital por meio de uma proposta de venda, na qual declaram quanto são capazes de fornecer, de acordo com os requisitos especificados no edital; - Amostras para Controle de Qualidade: os alimentos devem cumprir as normas e regulamentos dos seguintes órgãos: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa/Ministério da Saúde) e Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa/Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento); - Entrega do Produto: o agricultor familiar ou a cooperativa entregaráos produtos de acordo com o cronograma previsto na proposta de venda (Fonte: <http://www.ipc-undp.org/ pub/port/PAAReportPT_Demanda_Estrutruada_e_a_Agricultura_Familiar_no_Brasil.pdf>. SAMBUICHI, R. H. R; EGALINDO,P.; OLIVEIRA, M. A. C. de; MAGALHÃES, A. M. de. Compras públicas sustentáveis e agricultura familiar: a experiência do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Mimeo. Brasília: IPEA, 2013). 4. 1 Desenvolvimento de fornecedores O primeiro passo no desenvolvimento de novos fornecedores é conhecer o que eles comercializam e se atuam segundo normas técnicas nacionais. Produto da engenharia civil, por exemplo, em seu processo produtivo e de comercialização, o cimento deve seguir normas técnicas nacionais emitidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Figura 8. Depósito de cimento. Cimento Aparentemente simples, a compra de cimento exige que o profissional conheça bem os seus tipos, especificações e propriedades para obter o melhor resultado possível na aplicação que tem em vista. Os cimentos CP-I e CP-II são para uso geral, ao passo que o CP-III, CP-IV e ARI comportam-se melhor em situações especificas. As principais vantagens dos cimentos Portland de alto-forno (CP-III) e pozolânicos (CP-IV) estão relacionadas à maior estabilidade, durabilidade e impermeabilidade que conferem ao concreto; menor calor de hidratação; maior resistência ao ataque por sulfatos; maior resistência à compressão em idades mais avançadas; maior resistência à tração e à flexão, e melhor ou igual durabilidade. Fonte: ilker/Freeimages 17 A cura de uma doença, muitas vezes, passa pela orientação de um médico e pelo uso de medicação oral de remédios. E se faltar o remédio? Será que é possível utilizar outro remédio de outro fabricante com o mesmo princípio ativo? E o uso de um medicamento genérico? O farmacêutico sabe lidar com essas questões e dimensionar da melhor maneira a compra de lotes de medicamentos e desenvolver novos fornecedores. Figura 9. Remédios. Remédios A farmácia hospitalar é uma unidade clínica que, através do farmacêutico habilitado, busca garantir a qualidade de assistência aos pacientes fornecendo o uso de seus medicamentos. Por isto este estudo teve como objetivo mostrar a importância da farmácia hospitalar para os clientes/pacientes, tanto internos quanto externos em hospitais públicos, sabendo qua a obtenção da cura ocorre através do correto tratamento medicamentoso. A compra destes pode ser realizada através de cooperativas visando economia de escala. A distribuição dos medicamentos para os pacientes é feita por dose única ( paciente internado que recebe o medicamento por dosagem e no horário indicado na prescrição médica) e pela distribuição geral (pacientes externos que fazem a consulta e recebe o medicamento prescrito pelo médico para o tratamento por um mês ou até mesmo por mais tempo, e estão disponíveis nas farmácias públicas). Todo processo de terceirização estratégica bem estruturado deve constar de algumas etapas que vão desde o surgimento da ideia de terceirizar determinada atividade até o acompanhamento dos resultados práticos desta terceirização no dia a dia. Pode-se dividir estas etapas em três: - Definição da atividade a ser terceirizada. Discutir a ideia da terceirização como estratégia, definir o core business da empresa, estudar a viabilidade econômica de se terceirizar a(s) atividade(s) pretendida(s), e discutir a terceirização com os empregados que serão afetados por ela; - Seleção dos fornecedores. Determinar critérios de seleção de fornecedores, realizar levantamento de potenciais fornecedores e selecionar de acordo com os critérios pré- estabelecidos, e elaborar o contrato para regulamentar a parceria; - Avaliação e acompanhamento da parceria. Definir indicadores de desempenho da parceria e avaliar a parceria periodicamente por meio do acompanhamento dos indicadores de desempenho. No desenvolvimento de novos fornecedores, um ponto a ser observado é a escolha do que será feito internamente e o que será adquirido externamente. Para essa decisão, as seguintes características deverão ser observadas: - análise crítica das matérias primas e dos componentes; - avaliação do domínio técnico e conhecimento do processo para a produção interna; Fonte: Sergio Roberto Bichara/Freeimages 18 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda - verificação da qualidade desejada para a produção da matéria prima ou componente; - avaliação de custo, de quantidade e do acúmulo de conhecimento tecnológico; - disponibilidade de fornecimento de bens e de serviços na quantidade e prazos estipulados em contrato; - avaliação da saúde financeira empresarial do novo parceiro; - segurança contra vazamento de informações confidenciais; - possibilidade de celebrar contratos sinceros, claros e objetivos. As auditorias devem ser formalizadas e feitas por meio de checklist. Como sugestão, o checklist poderá ser totalmente baseado nos requisitos da ISO 9001. Após a escolha dos fornecedores, deve-se efetuar compras-piloto para verificar a qualidade, os produtos e a capacidade do fornecedor em cumprir com o fornecimento do suprimento. Caso as compras-piloto apresentem bons resultados, inicia-se o fornecimento em longo prazo pelo fornecedor. Os fornecedores que possuem a certificação da ISO 9001, já foram auditados por entidades externas à organização, que dão garantias do atendimento aos requisitos da ISO 9001. Para esses, o processo de desenvolvimento de fornecedores fica bastante reduzido, visto que já trabalham com garantia de qualidade nos seus processos. Por meio da parceria com os fornecedores, consegue-se redução de custos pela eliminação de processos caros de inspeção, pela eliminação de perdas e retrabalhos originados por produtos de qualidade ruim e pela redução da complexidade dos processos. Além disso, melhorando a qualidade dos fornecedores, aumenta-se a confiabilidade do suprimento, podendo-se chegar à redução de estoques. Negociação com Fornecedores Definido o organizador escolhido, o órgão de compras passa a negociar com ele a aquisição do material requisitado, dentro das condições mais adequadas de preço e de pagamento. O atendimento das especificações exigidas do material e do estabelecimento de prazos de entrega devem ser assegurados na negociação, que serve para definir como será feita a emissão do pedido de compra ao fornecedor. O pedido de compra é uma espécie de contrato formal entre a empresa e o fornecedor, especificando as condições em que foi feita a negociação. O pedido de compra tem a força de um contrato. Sua aceitação implica o atendimento de todas as especificações nele estipuladas. O comprador é o responsável pelas condições e especificações contidas no pedido de compra, enquanto o fornecedor deve estar plenamente ciente de todas as cláusulas, pré-requisitos e critérios exigidos pela empresa, dos procedimentos que cercam o recebimento do material, dos controles e das especificações de qualidade, para que o pedido de compra seja válido legalmente. 19 Dá-se o nome de negociação ao processo no qual o comprador e o fornecedor procuram reduzir as possíveis divergências, quando cada parte cede um pouco para que ambas saiam ganhando (o famoso “ganha ganha), e que em seu término a bom termo é previsto um contrato de compras. Não há negociação quando apenas uma parte ganha e a outra perde. Na negociação, as perdas e ganhos são repartidos entre as partes para se chegar a um acordo. Organização de Compras Cada empresa organiza o seu setor de compras de acordo com suas necessidades de materiais. Na realidade, empresas industriais, grandes lojas, supermercados, empresas de serviços organizam suas compras conforme os materiais a serem comprados, asexigências do processo produtivo, as características do mercado fornecedor e outros fatores. Malgrado as diferenças particulares, podemos estabelecer algumas similaridades entre as empresas. Por exemplo, a questão se refere à centralização ou descentralização da atividade de compras: - Centralização das compras: a organização centralizada é aquela em que todas as compras da empresa são concentradas num único órgão de compras. Apresenta como vantagens a obtenção de maiores descontos financeiros dos fornecedores em face das compras em quantidades mais elevadas, qualidade uniforme dos materiais adquiridos, maior especialização dos compradores, e padronização dos procedimentos de compra, - Descentralização das compras: a vantagem é a flexibilidade para o atendimento das necessidades locais. Mas isso não impede a existência de um órgão central de compras para coordenar os órgãos periféricos, principalmente quando a empresa tem unidades dispersas. A descentralização permite o maior conhecimento dos fornecedores locais, melhor atendimento das necessidades específicas do processo produtivo de cada unidade da empresa e incremento na agilidade nos processos de compras. A compra centralizada exige estratégias logísticas mais complexas. Por exemplo, muitas vezes um caminhão comum não consegue atender a demanda de transporte de toneladas de alimentos. É necessária a utilização de carretas fechadas para compor a frota de entrega de mercadorias (vide figura 11). Figura 10. Carreta com grande quantidade de produtos. Fonte: Michal Zacharzewski/Freeimages 20 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda Um exemplo de problema quando se utiliza carreta para transporte de mercadorias é o difícil trânsito ou até proibição em regiões centrais de grandes metrópoles. As organizações necessitam nos dias de hoje ser flexíveis para aumentar sua competitividade. Para isso, necessitam ter estrutura que atenda suas necessidades e que suas decisões fluam numa velocidade para mantê-las competitivas. A flexibilidade das organizações possibilita contínuas readaptações dos seus recursos, sejam eles tecnológicos e financeiros, e isso somente é possível se as pessoas que nelas trabalham estiverem preparadas. A empresa, como um todo, deve estar alinhada em torno das estratégias formuladas, dessa maneira, todos se empenharão a atingir o fim proposto. A estratégia de negócios é hoje um dos três fatores que determinam a direção da organização e cuja importância é mais ampla que aquela da estratégia isoladamente. Em termos específicos, os executivos devem pensar separadamente e depois colocar lado a lado a estratégia de negócios da empresa, sua estrutura organizacional e o comportamento dos seus funcionários (inclusive o deles próprios). Os outros dois fatores são o comportamento humano e a estrutura da empresa. Nenhum predomina, cada um tem influência sobre os outros e sobre a organização e o alinhamento requer cuidadosa atenção na sua elaboração. Compreender as interações humanas num grupo de trabalho demanda o conhecimento mais aprofundado das questões psicodinâmicas. Pode-se dizer que o conceito de grupo é menos abrangente que o de equipe que, por sua vez, é mais restrito que o de time. Para melhor entendimento, seguem os três conceitos: - Grupo é o conjunto de pessoas que compartilha valores, crenças, visões semelhantes de mundo, possui uma identidade e pode ser considerado um todo. A visão de grupo é de natureza essencialmente relacional, de integração e alianças afetivas, que dão unidade e identidade ao conjunto de pessoas; - Equipe é o conjunto de pessoas que busca um objetivo comum, clara e explicitamente formulado. Cada uma usa suas habilidades e se esforça no cumprimento de sua tarefa de acordo com o objetivo maior. Os componentes de uma equipe têm grande clareza da divisão de responsabilidade e das fronteiras de suas ações, bem como de suas atribuições. O foco da definição de equipe é a responsabilidade pelo cumprimento das atribuições que levarão à consecução dos objetivos comuns; - Time é o conjunto de pessoas com habilidades e potencialidades peculiares a serviço de um objetivo comum. Elas compartilham valores, buscam resultados comuns e contam com alto grau de comprometimento, o que as faz responsabilizar-se por mais do que a simples realização de suas tarefas e atribuições individuais. À medida que a organização cresce, torna-se difícil para a alta administração manter o mesmo nível de centralização da decisão. O crescimento traz como consequência a diversificação e o aumento da complexidade dos problemas técnicos e administrativos. Assim, certas decisões precisam ser tomadas em níveis hierárquicos inferiores, a fim de aliviar a alta administração e tornar mais dinâmica a operação da organização. 21 A descentralização não pode ser absoluta nem a estratégia empresarial opressiva, mas a organização precisa desenvolver uma estratégia coletiva, o que exige do corpo gerencial postura mais cooperativa e menos competitiva em relação aos seus pares. A descentralização pode ser de autoridade, de atividade ou funcional. A descentralização de atividade é também chamada de dispersão geográfica, com o objetivo de interagir localmente. Quando a organização se dispersa de maneira geográfica e possui pessoas que se subordinam ao responsável desse local e não ao chefe central, diz que há descentralização funcional. A organização necessita que as pessoas tomem a decisão certa e, para que isso aconteça, é preciso que o responsável pela tomada de decisão disponha das informações necessárias. Uma das razões da descentralização numa organização é delegar as decisões aos níveis hierárquicos inferiores, que detêm informações. 22 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda Material Complementar Explore AFONSO, Marina Weil; MOREIRA FILHO, Roberto Malheiros; NOVAES, Mario Lucio de Oliveira. Aplicação de Modelos de Previsão de Demanda em uma Farmácia Hospitalar. Juiz de Fora: Relatório de Pesquisa UFJF, 2011. Disponível em: · http://www.producao.uff.br/conteudo/rpep/volume112011/RelPesq_V11_2011_04.pdf. Acesso em: 17 jan. 2015. FERREIRA, Ricardo Vieira. Previsão de Demanda: Um Estudo de Caso para o Sistema Interligado Nacional. Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte: UFMG, 2006. Disponível em: · http://www.ppgee.ufmg.br/defesas/417M.PDF. Acesso em: 17 jan. 2015. WERNER, Liane; RIBEIRO, José Luis Duarte – Previsão de Demanda: Uma Aplicação dos Modelos BoxJenkins na Área de Assistência Técnica de Computadores Pessoais. Porto Alegre: Revista Gestão e Produção, 2003. Disponível em: · http://www.scielo.br/pdf/gp/v10n1/a05v10n1. Acesso em: 17 jan. 2015. 23 Referências BALLOU, RONALD H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística Empresarial. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BERTAGLIA, P. R. Logística e Gerenciamento da Cadeia de abastecimento. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J.; COOPER, M. B. Gestão Logística da Cadeia de Suprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2014. CHIAVENATO, I. Gestão de Materiais: Uma Abordagem Introdutória. 3.ed. Rio de Janeiro: Manole, 2014. GONÇALVES, P. S. Administração de materiais: obtendo vantagens competitivas. 4.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. KRAJEWSKI, L. J.; RITZMAN, L. P. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Prentice Hall, 2004. KRAJEWSKI, L; MALHORTA, M.; RITZMAN, L. P. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Prentice Hall, 2009. MARTINS, P. G., LAUGENI, F. P. Administração da produção. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 24 Unidade: Aplicações da Gestão da Demanda Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo - SP - Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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