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EA D 3 Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 1. OBJETIVOS • Conhecer e identificar as estruturas macroscópica e mi- croscópica do músculo estriado esquelético. • Entender o mecanismo molecular da contração muscular. • Entender os mecanismos neurais que desencadeiam a contração muscular. • Identificar as fontes de energia para a contração muscular. • Conhecer e analisar os tipos de fibras musculares e de unidades motoras. • Definir os receptores sensoriais. • Entender como ocorre o controle motor e quais são os problemas associados à deficiência no controle motor. © Cinesiologia230 2. CONTEÚDOS • Estrutura do músculo esquelético. • Excitação dos nervos e das fibras musculares esqueléticas. • Fontes de energia para a contração muscular. • Tipos de fibras musculares. • Unidade motora. • Receptores articulares, musculares e tendinosos. • Controle motor. • Considerações clínicas a respeito do controle motor. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am- plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre com o material didático em mãos e discuta a unidade com seus colegas e com o tutor. 2) Recomendamos a leitura por várias vezes dos textos des- te material, a fim de que você fixe os seus conteúdos. Para isso, realize pequenos apontamentos com a finali- dade de comparar e de aprofundar pontos de destaque, utilizando-se das fontes aqui elencadas, que já indica- mos como indispensáveis para o estudo deste tema. 3) Volte às unidades anteriores para entender e recordar os conceitos propostos e quando surgirem ideias que ainda não foram completamente assimiladas. 4) Ao iniciar seus estudos desta unidade, lembre-se de que a autodisciplina lhe poderá auxiliar a monitorar seus pensamentos, suas imaginações, suas emoções e seus impulsos, canalizando-os para a aprendizagem dos con- teúdos aqui tratados. Claretiano - Centro Universitário 231© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Na Unidade 1, foram abordados os conceitos cinesiológicos e mecânicos que regem os movimentos. Também foram revistos os planos anatômicos e os eixos de movimentos, sendo estudado cada movimento que ocorre nesses planos e eixos. Na Unidade 2, estudamos, segmentarmente, o corpo huma- no, abordando as estruturas importantes para as funções. Abor- damos os conceitos de Artrologia com uma explanação suficiente para o entendimento da Cinesiologia. Nesta unidade, estudaremos os aspectos da fisiologia mus- cular abordando a estrutura do músculo esquelético, os tipos de fibras musculares, os eventos que caracterizam a contração mus- cular e a unidade motora. Na sequência, trataremos da neurofi- siologia do controle motor identificando as estruturas do sistema nervoso responsáveis pelo controle motor e as implicações clínicas de problemas sobre o controle motor. 5. ESTRUTURA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO O órgão quantitativamente mais desenvolvido no ser huma- no é o músculo, que representa de 40% a 50% do peso corporal total. O homem só pode produzir trabalho ou atuar sobre o meio ambiente por meio dos seus músculos, e isto é válido para toda atividade física, assim como para as atividades intelectuais, como, por exemplo, o falar e o escrever, que exigem atividade coordena- da de determinados grupos musculares (SCHMIDT, 1979). Dessa forma, os músculos do corpo humano são geradores de força interna que convertem a energia armazenada, quimica- mente, em trabalho mecânico. Revisando os conceitos apreendi- dos nos cadernos de Anatomia e de Fisiologia Humana, no corpo humano são encontrados três tipos diferentes de tecido contrátil: © Cinesiologia232 • Músculo liso ou involuntário: constitui a parede de vísce- ras como o estômago e a bexiga, como também as pare- des de vários sistemas de tubos, como os sistemas circu- latório, digestório, respiratório e urogenital. • Músculo estriado cardíaco: apresentam semelhanças tanto estruturais quanto funcionais com os músculos es- queléticos e lisos. O único exemplo desse tipo de músculo é o miocárdio – a camada muscular do coração. • Músculo estriado esquelético: contém terminações para dor e proprioceptores; suas principais funções são o mo- vimento do corpo e a manutenção da postura. São esses os músculos que dão forma ao corpo humano, como o quadríceps, por exemplo. No entanto, esses músculos apresentam certas característi- cas semelhantes, como, por exemplo: são afetados pelo mesmo tipo de estímulo, produzem um potencial de ação logo após a esti- mulação, são capazes de manter o tono muscular e de contraírem- se com a força de contração (dependendo de seu comprimento inicial e da velocidade da contração), atrofiam-se por decorrência de circulação inadequada e hipertrofiam-se em resposta a certos tipos de treinamento de sobrecarga (RASCH, 1991). Muitos dos princípios básicos da contração são comuns a to- dos esses músculos, mas, nesta unidade, serão discutidos, apenas, a estrutura e o funcionamento do músculo estriado esquelético. Estrutura macroscópica do músculo estriado esquelético O sistema muscular voluntário inclui, aproximadamente, 434 músculos, porém, somente 75 pares estão envolvidos na postura geral e no movimento do corpo. Unidades de 100 a 150 células ou fibras musculares são agrupadas em um tecido conectivo deno- minado "perimísio" para formar um feixe designado "fascículo". Vários fascículos estão reunidos por uma bainha de perimísio para formar uma unidade maior, encerrada numa cobertura de "epimí- Claretiano - Centro Universitário 233© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor sio", ou seja, o músculo. A parte central de um músculo é chama- da de ventre (RASCH, 1991). Próximas às extremidades do músculo, as células contráteis desaparecem, mas seu revestimento de tecido conectivo prosse- gue a fim de fixar os músculos nos ossos. Se o local de fixação ós- sea é distante do ventre, as bainhas do tecido conectivo fundem- se para formar um tendão ou aponeurose. Em alguns músculos, as fibras musculares continuam quase até o osso, no qual as bainhas dos tecidos contráteis realizam a fixação. Segundo Rasch (1991), quando um músculo se contrai forte- mente, a tendência é de que este mova ambos os ossos aos quais está fixado, sendo que o osso que menos se move é considerado fixo. O ponto no qual o músculo se une ao osso fixo, que geralmen- te é o osso proximal, é denominado "origem" e seu ponto de fixa- ção ao osso móvel é denominado "inserção". A inserção muscular é o local em que a força é aplicada ao osso (Figura 1). Fonte: SOBOTTA (1995, p. 10). Figura 1 Músculo braquial demonstrando o ventre muscular, o tendão muscular e os locais de origem e de inserção muscular. © Cinesiologia234 Estrutura microscópica do músculo estriado esquelético Na Figura 2, poderemos ver a organização do músculo es- quelético apresentada em uma amostra de sua composição, que é feita por numerosas fibras com diâmetros variando entre 10µm e 80µm. O sarcolema é a membrana celular da fibra muscular, po- rém, ele é formado por uma verdadeira membrana celular, chama- da "membrana plasmática", e por um revestimento externo com- posto de uma fina camada de material polissacarídeo, que contém numerosas fibrilas finas de colágeno. Cada fibra muscular contém desde muitas centenas a vários milhares de miofibrilas que, por sua vez, apresentam filamentos de miosina (grossos) e filamentos de actina (finos) responsáveis pela contração muscular. Nota-se que os filamentos de actina e de miosina se interdigitam em parte, fazendo com que as miofibrilas apresentem faixas alternadas cla- ras e escuras. As faixas claras só contêm filamentos de actina e são chamadasde faixas I, enquanto que as faixas escuras contêm os filamentos de miosina, além das extremidades dos filamentos de actina, e são chamadas de faixas A (GUYTON; HALL, 2006). Schmidt (1979) mostra-nos que, na metade da faixa I, há uma estria mais delgada e escura, denominada "disco Z". A por- ção compreendida entre dois discos Z constitui a menor unidade funcional da miofibrila – o sarcômero. Quando a fibra nervosa está em seu comprimento normal de repouso, ou seja, completamente estirada, o sarcômero tem uma extensão de cerca de 2 µm. Nesse comprimento, os filamentos de actina sobrepõem-se, totalmente, aos filamentos de miosina e começam a se sobrepor uns sobre os outros, sendo capazes de gerar sua força máxima de contração. Claretiano - Centro Universitário 235© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor faixa sarcômero disco A Z Z l faixa feixe de fibras fibra muscular miofibrila miofilamentos filamento de actina filamento de miosina moléculas de miosina moléculas de actina meromiosina leve – pesado músculo do esqueleto Fonte: SCHMIDT (1979, p. 151). Figura 2 Microestrutura do músculo estriado esquelético. © Cinesiologia236 Guyton e Hall (2006) citam que, no interior da fibra muscu- lar, estão presentes as miofibrilas, que ficam suspensas em uma matriz formada pelos constituintes intracelulares chamada "sarco- plasma". O líquido do sarcoplasma contém grandes quantidades de íons e de enzimas proteicas além de um grande número de mi- tocôndrias que ficam tanto entre as miofibrilas quanto paralelas a elas, o que indica a sua necessidade pela contração em quantidade elevada de trifosfato de adenosina (ATP) que, por sua vez, é forma- do nas mitocôndrias. O mecanismo da contração muscular Guyton e Hall (2006) ainda falam que a contração muscular ocorre segundo as etapas sucessivas que serão descritas a seguir. Inicialmente, um potencial de ação percorre o axônio motor até suas terminações nas fibras musculares. Em cada terminação, há a secreção de uma pequena quantidade da substância neurotrans- missora chamada "acetilcolina", que atua sobre uma área localiza- da na membrana da fibra muscular abrindo numerosos canais pro- teicos, que permitem o influxo de uma grande quantidade de íons sódio para o interior da membrana da fibra muscular. Isto produz um potencial de ação na fibra muscular, penetrando, profunda- mente, no interior dessa fibra, fazendo com que o retículo sarco- plasmático libere, para as miofibrilas, uma grande quantidade de íons cálcio, que ficam armazenadas em seu interior. Os íons cálcio geram forças atrativas entre os filamentos de actina e de miosina, fazendo com que estes deslizem um em direção ao outro, o que constitui o processo contrátil. Após uma fração de segundo, os íons cálcio são bombeados de volta para o retículo sarcoplasmá- tico, no qual permanecem armazenados até que ocorra um novo potencial de ação muscular, terminando, dessa forma, a contração muscular. Observe a Figura Claretiano - Centro Universitário 237© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor Fonte: LENT (2004, p. 351). Figura 3 Fluxograma descrevendo as principais etapas fisiológicas e moleculares da contração muscular. © Cinesiologia238 Lent (2004) menciona que a entrada de cálcio no sarcoplas- ma dá início aos mecanismos moleculares da contração muscular. A troponina capta os íons cálcio e altera a conformação do com- plexo molecular dos filamentos de actina. Ocorre um afastamen- to entre a tropomiosina e a actina, que expõe os sítios da actina capazes de se ligarem à miosina. Quando isto ocorre, formam-se pontes entre a actina e as cabeças da miosina (chamadas "pontes transversas"), que podem ser observadas na Figura 4. Fonte: Bear, Connors, Paradiso (2008, p. 436). Figura 4 Mecanismo molecular da contração muscular: formação das pontes transversas. Claretiano - Centro Universitário 239© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor Lent (2004) ainda cita que a formação das pontes transversas provoca o deslizamento da actina sobre a miosina, aproximando, assim, as linhas Z, o que resulta no encurtamento do sarcômero e, consequentemente, na contração da fibra muscular. Quanto maior a aproximação entre as linhas Z, maior será a contração muscular, conforme vemos na Figura 5. Figura 5 Os estados relaxado e contraído de unia miofibrila, mostrando o deslizamento dos filamentos de actina sobre os filamentos de miosina. Quando cessa a despolarização do sarcolema, ocorrem fe- nômenos inversos que resultam no relaxamento da fibra muscular (SCHMIDT, 1979). Assim, Lent (2004) relata que os movimentos que fazemos dependem da formação das pontes transversas que ligam os fi- lamentos de actina aos de miosina, seja para encurtar as fibras musculares na contração seja para alongá-las no relaxamento. Por isso, podemos estirar um músculo passivamente, puxando-o ou movendo uma articulação. Sua resistência dependerá, apenas, da elasticidade das fibras musculares e do tecido conjuntivo que as envolve. É importante ressaltar que durante o alongamento mus- © Cinesiologia240 cular, quanto maior o estado de relaxamento do músculo, maior a capacidade de o estirar. No entanto, não podemos deixar de consi- derar as propriedades mecânicas das fibras musculares e do tecido conjuntivo. Tipos de contração muscular Como estudamos anteriormente, o termo "contração" refe- re-se ao desenvolvimento da tensão dentro de um músculo, não implicando, necessariamente, qualquer encurtamento visível do músculo. Quando um músculo se contrai e produz força sem nenhu- ma alteração macroscópica no ângulo da articulação, a contra- ção é chamada "isométrica", "estática" ou "de sustentação", as quais funcionalmente estabilizam as articulações (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). Rasch (1991) acrescenta que, durante a contra- ção isométrica, a tensão é insuficiente para mover uma parte do corpo contra uma dada resistência. Quando um músculo desenvolve tensão suficiente para su- perar uma resistência, de modo que o músculo encurte visivel- mente e mova uma parte do corpo, diz-se que ele está em contra- ção concêntrica. Quando uma dada resistência sobrepõe a tensão muscular, visto que o músculo se alonga durante a contração, esta é chamada "contração excêntrica". As contrações musculares con- cêntrica e excêntrica são conhecidas como "isotônicas" pelos fisio- logistas (RASCH, 1991). Uma contração é isocinética quando a velocidade de movi- mento é constante (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). Como exemplo para a afirmação citada anteriormente, usa- remos o levantar-se de uma cadeira. Neste momento, o músculo quadríceps é contraído concentricamente e o ventre muscular é encurtado; já no movimento contrário, o sentar-se em uma cadei- ra, uma contração excêntrica do quadríceps é provocada e é alon- gado o ventre muscular. Claretiano - Centro Universitário 241© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor INFORMAÇÃO: A identificação de uma contração excêntrica é um problema persis- tente e crucial na análise do desempenho. Durante a realização de flexões de braço no solo, ocorre a extensão do cotovelo e a abdução do membro superior. Durante a parada momentânea que ocorre entre as fases de elevação e de estática, acontece a contração concêntrica dos extensores do cotovelo e dos abdutores do ombro. Já na fase de descida, ocorre a contração excêntrica desses músculos. 6. EXCITAÇÃO DOS NERVOS E DAS FIBRAS MUSCULA- RES ESQUELÉTICAS Todas as células vivas são envoltas de uma membrana formada por uma bicamada fosfolipídica contínua e por proteínas com várias características em toda a sua extensão. Tanto o tecido nervoso quan- to o tecido muscular são excitáveis, ou seja, suas membranas podem ser despolarizadas. O músculo esquelético e o neurônio que o inervapossuem características de membrana, as quais asseguram que a ex- citação ocorrida gerará um potencial de ação. O estímulo que produz a contração muscular pode ser elétri- co, mecânico, químico ou térmico, mas, usualmente, é de origem química; inicia-se no sistema nervoso e é conduzido a cada fibra muscular por uma fibra nervosa (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). Potencial de membrana Para Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), existem diferenças de potencial elétrico nas membranas das células vivas. Os líqui- dos que banham o lado de dentro e o lado de fora de cada célula contêm partículas carregadas (íons) dissolvidas em solução. O po- tencial do interior de uma célula é medido na comparação com o líquido existente fora da membrana. Sob condições de repouso, o potencial de membrana ou potencial de repouso é negativo. As células musculares e nervosas e os receptores sensitivos mantêm um potencial de membrana mais negativo (-60mv a --80mv) que em outros tipos de células. © Cinesiologia242 Potencial de ação Se um estímulo suficiente de força for aplicado a uma célula excitável, esse estímulo será capaz de fazer com que a membrana celular se torne mais permeável a certos íons, o que resultará em uma troca rápida de íons positivos e negativos. Os sinais neurais são transmitidos por meio dos potenciais de ação, que são varia- ções muito rápidas do potencial de membrana. Cada potencial de ação começa pela modificação abrupta do potencial de repouso negativo normal para um potencial positivo (despolarização) e termina com a modificação quase tão rápida para o potencial ne- gativo (repolarização). A onda de despolarização, avançando con- jugada com a repolarização, é denominada um potencial de ação, como podemos observar na Figura Para conduzir um sinal neural, o potencial de ação se desloca ao longo da fibra nervosa até atingir seu término (GUYTON; HALL, 2006). Já em músculos de mamíferos, a velocidade de condução é de, aproximadamente, 5m/s. A duração dos potenciais de ação não mostra uma diferença significativa entre os indivíduos de ambos os sexos de 20 a 40 anos de idade, mas torna-se prolongada com a idade ou a temperatura muscular baixa, levando a um tempo de resposta reflexa mais longa. Fonte: BEAR, CONNORS, PARADISO (2008, p. 77). Figura 6 Potencial de ação registrado por um osciloscópio (a) e as fases do potencial de ação (b). Claretiano - Centro Universitário 243© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor Neurotransmissão Como vimos anteriormente, o homem move-se pela ação de seus músculos, e, para que isso aconteça, é preciso que as contra- ções musculares sejam controladas com precisão. A parte motora do sistema nervoso central é responsável por esse controle, que, pela excitação dos nervos motores, provoca potenciais na placa motora (junção mioneural). Para Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), esses potenciais de placa motora causam a liberação do neurotransmissor acetilcoli- na, que se difunde rapidamente e interage com os receptores da membrana da fibra muscular. Essa interação aumenta a permea- bilidade da membrana muscular para íons sódio e outros íons. O movimento de íons para o interior da célula muscular despolariza a membrana da fibra muscular e deflagra, nas fibras musculares, potenciais de ação que por elas se propagam. Segundo Guyton e Hall (2006), a fibra muscular esqueléti- ca é tão grossa que os potenciais de ação que se propagam por sua membrana superficial produzem um fluxo de corrente quase nulo na profundidade dessas fibras. Contudo, para que ocorra a contração, essas correntes elétricas devem penetrar a vizinhança imediata de todas as miofibrilas. Isto é conseguido na transmissão dos potenciais de ação pelos túbulos transversos (túbulos T), que atravessam toda a espessura da fibra muscular de um lado a outro. Os potenciais de ação nos túbulos T, por sua vez, fazem com que o retículo sarcoplasmático libere íons cálcio na vizinhança imedia- ta de todas as miofibrilas, e esses íons cálcio, então, induzem à contração. Esse processo global é chamado "acoplamento excita- ção-contração". À excitação da membrana muscular, segue-se a contração da fibra. Portanto, uma alteração no potencial da mem- brana muscular desencadeia a reação das proteínas contráteis do músculo – actina e miosina. Observe esse processo na Figura 7 a seguir. © Cinesiologia244 Fonte: BEAR, CONNORS, PARADISO (2008, p. 433). Figura 7 A estrutura de uma fibra muscular: os túbulos T e o retículo sarcoplasmático. Após provocar o aumento da permeabilidade da membra- na muscular para diversos íons, a acetilcolina é rapidamente ina- tivada pela enzima colinesterase. O tempo curto – cerca de dois milissegundos – que a acetilcolina permanece em contato com a membrana muscular é suficiente para excitar a fibra muscular. Entretanto, a inativação rápida da acetilcolina pela colinesterase Claretiano - Centro Universitário 245© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor impede que a membrana muscular seja novamente excitada após a fase de repolarização do primeiro potencial de ação, ou seja, a hi- perpolarização (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008; SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). 7. FONTES DE ENERGIA PARA A CONTRAÇÃO MUS- CULAR Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) mencionam que as células musculares, assim como as demais células do organismo, neces- sitam de energia para a atividade metabólica de manutenção da vida mesmo estando em repouso. Quando o músculo se contrai, a energia química é convertida em energia mecânica por meio da clivagem de ATP em adenosina difosfato (ADP). Assim, a fonte final de energia para os processos metabólicos é o ATP. A maior parte dessa energia é necessária para o deslizamen- to das miofibrilas na formação das pontes cruzadas, mas pequenas quantidades de energia também são necessárias para bombear o cálcio do citoplasma da célula muscular de volta para o retículo sarcoplasmático no término da contração e para bombear íons só- dio e potássio (bomba de sódio e de potássio), por meio da mem- brana da fibra muscular, para manter o ambiente iônico adequado à propagação dos potenciais de ação. Contudo, a concentração do ATP presente na fibra muscular é suficiente para manter a contração por, no máximo, um a dois segundos. No entanto, após o ATP ter sido clivado em ADP, este é refosforilado para formar um novo ATP em fração de segundo. Existem várias fontes de energia para essa fosforilação (GUYTON; HALL, 2006). A fosfocreatina contém uma ligação fosfato de alta energia semelhante à do ATP, e é uma das fontes de energia utilizadas para a reconstituição deste, embora contenha uma quantidade pouco maior de energia livre se comprada ao ATP. Como resultado, a fos- © Cinesiologia246 focreatina é clivada de imediato, e a energia liberada provoca a ligação de um novo íon fosfato ao ADP para reconstituir o ATP. En- tretanto, a quantidade de fosfocreatina é muito reduzida, e, como consequência, a energia combinada entre o ATP e a fosfocreati- na armazenadas no músculo são capazes de manter a contração máxima do músculo por cerca de apenas sete ou oito segundos (GUYTON; HALL, 2006). Metabolismo anaeróbio Para Guyton e Hall (2006), a mais importante fonte de ener- gia usada para reconstituir tanto o ATP quanto a fosfocreatina é o glicogênio previamente armazenado nas células musculares. A rápida degradação enzimática do glicogênio (glicólise) para áci- do pirúvico e ácido lático libera uma energia que é utilizada para converter o ADP em ATP, que pode ser usado, diretamente, para energizar a contração muscular ou para reconstituir a fosfocreati- na, como mostrado nas Figuras 8 e As reações glicolíticas podem ocorrer, até mesmo, na ausência do oxigênio, de modo que a con- tração muscular possa ser mantida por um breve período. A velo- cidade com que é formado o ATP pelo processoglicolítico é duas vezes e meia maior que a da formação de ATP pela reação entre os nutrientes celulares e o oxigênio. Todavia, infelizmente, ocorre o acúmulo de muitos produtos finais da glicólise nas células mus- culares, de modo que, isoladamente, a glicólise só pode manter a contração muscular máxima por cerca de um minuto, como mos- tra as Figuras 8 e Fonte: arquivo pessoal do autor. Figuras 8 e 9 Metabolismo anaeróbio gerador de energia para a contração muscular e para reconstituir a fosfocreatina. Claretiano - Centro Universitário 247© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor Metabolismo aeróbio A última fonte de energia é o processo do metabolismo oxi- dativo, ou seja, a combinação de oxigênio com os diversos nutrien- tes celulares para formar o ATP. É importante sabermos que mais de 95% de toda a energia utilizada pelos músculos em contrações continuadas de longa duração derivam dessa fonte. Os nutrientes consumidos são os carboidratos, as gorduras e as proteínas. Para a atividade muscular de longa duração, a maior proporção de ener- gia consumida deriva, em sua maior parte, das gorduras (GUYTON; HALL, 2006). Segundo Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), as molé- culas de carboidrato, de gordura e de proteína são mobilizadas a partir dos locais de armazenamento no corpo; já as enzimas que- bram as grandes moléculas em unidades menores, que podem ser oxidadas em uma série de reações químicas chamadas "ciclo do ácido cítrico" ou "Ciclo de Krebs". Observe a Figura CURIOSIDADE: Quando ocorre a morte de um indivíduo, cessa, subitamente, o fornecimento de energia para a contração muscular. Congelam-se as pontes transversas, e o resultado é a rigidez do cadáver, conhe- cida, na comunidade médica, como "rigor mortis". Figura 10 Ciclo de Krebs. Metabolismo aeróbio gerador de energia para a contração muscular. © Cinesiologia248 Eficiência muscular A eficiência muscular é calculada de acordo com a porcen- tagem de energia consumida transformada em trabalho, não em calor. O percentual da energia química dos nutrientes consumida pelo músculo que pode ser convertida em trabalho é de 20% a 25%, sendo o restante transformado em calor. Mas levantar uma carga, por exemplo, exige de quatro a cinco vezes mais energia química, o que só poderia ser realizado se toda a energia fosse direcionada à movimentação da carga (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). A razão para essa baixa eficiência é de que cerca da metade da energia dos nutrientes é perdida na formação do ATP, e apenas cerca de 40% a 45% da energia do próprio ATP pode ser, posterior- mente, transformada em trabalho. Guyton e Hall (2006) citam que a eficiência máxima só pode ser conseguida quando o músculo se contrai com velocidade mo- derada, ou seja, se ele se contrair muito lentamente, ou sem que ocorra algum movimento, serão liberadas grandes quantidades de calor mesmo se estiver sendo realizado pouco ou nenhum tra- balho, o que diminui a eficiência. Entretanto, se a contração for muito rápida, grande parte da energia será consumida para vencer o atrito viscoso no interior do próprio músculo, e isto também re- duzirá a eficiência da contração. Comumente, a eficiência máxima será obtida quando a velocidade da contração for de cerca de 30% da velocidade máxima. 8. TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES Dentro de um músculo esquelético, há diferentes tipos de fibras musculares dispersamente distribuídas. É fundamental co- nhecer os tipos morfológicos de fibras musculares, uma vez que existe a correlação destas com a função que os músculos execu- tam, ou seja, o tipo de função desempenhada pelo músculo está relacionado com os tipos de fibras musculares que o compõem, já Claretiano - Centro Universitário 249© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor que, em cada um deles, pode predominar um dos tipos de fibras em detrimento das demais. Smith, Weiss, Lehmkuhl (1997) e Lent (2004) mencionam que, para desempenhar as diferentes funções motoras com maior eficiência, existem três tipos diferentes de fibra muscular esque- lética, que são baseadas nas propriedades físicas e metabólicas. Assim, temos os tipos I, IIB e IIA, como podemos ver na Tabela 1. • Tipo I: as fibras vermelhas e lentas dispõem de um rico suprimento sanguíneo, de muitas mitocôndrias, muita mioglobina (proteína que liga o oxigênio e fornece a to- nalidade avermelhada dessas fibras) e um metabolismo fortemente aeróbio. Por essas características, tais fibras são especializadas em contrações lentas e sustentadas e são muito resistentes à fadiga. • Tipo IIB: as fibras brancas rápidas, ao contrário das ver- melhas, possuem poucos capilares, poucas mitocôndrias e pouca mioglobina, mas também possuem grandes re- servas de glicogênio e um metabolismo anaeróbio ge- rador de ácido lático. Essas fibras são especializadas em contrações rápidas, fortes e transitórias, mas são muito fatigáveis. • Tipo IIA: fibras com características mistas. Tabela 1 Características das fibras musculares esqueléticas basea- das nas propriedades físicas e metabólicas. PROPRIEDADES TIPO I TIPO IIB TIPO IIA Cor Vermelho Branco Intermediária Número de mitocôndrias Alto Baixo Intermediário Velocidade de contração Lenta Rápida Rápida Tamanho Pequeno Grande Intermediário Resistência à fadiga Alta Baixa Intermediária Fonte: adaptado de LENT (2004, p. 352). © Cinesiologia250 Podemos mencionar o bíceps braquial como exemplo, pois, em sua composição, possui maior proporção de fibras do tipo IIB e do tipo IIA, o que lhe confere maior força e velocidade de contra- ção. Contrariamente, os músculos intervertebrais possuem maior proporção de fibras do tipo I, e é por isso que contribuem para a contínua sustentação do tronco. Geralmente, nos músculos distais, predominam as fibras do tipo IIB, enquanto os músculos proximais possuem maior propor- ção de fibras musculares do tipo I (LENT, 2004). 9. A UNIDADE MOTORA Retratada na Figura 11, a unidade motora, que representa a unidade funcional básica do sistema neuromuscular, consiste em um motoneurônio, proveniente do corno anterior da medula espi- nhal, com seu axônio e com as fibras musculares por ele inervadas (ENOKA, 2000). Fonte: BEAR, CONNORS, PARADISO (2008, p. 429). Figura 11 A unidade motora. Claretiano - Centro Universitário 251© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor Para Hamil e Knutzen (1999), um neurônio pode tanto termi- nar em até 2000 fibras nos músculos – assim como o glúteo máxi- mo – quanto em apenas umas cinco ou seis fibras – como ocorre no orbicular dos olhos. O número médio de fibras por neurônio é algo entre 100 e 200 fibras musculares. As fibras inervadas por cada unidade motora além de não ficarem arranjadas em feixes, também não ficam todas no mesmo fascículo, mas, sim, espalha- das sobre o músculo. Quando uma unidade motora é ativada suficientemente, to- das as fibras musculares a ela pertencentes se contraem em pou- cos milissegundos. Isto é denominado "princípio tudo ou nada". Se o músculo apresentar unidades motoras com proporções muito baixas entre o nervo e a fibra muscular (razão de inervação), mais preciso e coordenado será o movimento feito por esse músculo. Exemplos de movimentos precisos e coordenados são os realiza- dos pelos músculos da mão. Segundo Hamil e Knutzen (1999), os membros inferiores res- ponsáveis por funções como o suporte de peso ou a marcha neces- sitam de respostas musculares em massa, ou seja, de movimentos mais grosseiros. Dessa forma, esses músculos possuem altas rela- ções neurônio-fibra muscular. Lent (2004) afirma que as unidades motoras são, geralmen- te, classificadas em três tipos, cujos critérios para divisão são base- ados em suas propriedades mecânicas: lenta (L), rápida resistente à fadiga (RRF) e rápida fatigável (RF). Embora exista uma sobrepo- sição entre os três tipos, as unidadesmotoras L geralmente pos- suem axônios e motoneurônios menores, inervando menos fibras que as unidades motoras RF. Observe a Tabela 2. © Cinesiologia252 Tabela 2 Os tipos de unidades motoras e sua correlação com as fibras musculares. PROPRIEDADES TIPO L TIPO RF TIPO RRF Fibras musculares L R Intermediárias Motoneurônios Pequenos Grandes Médios Axônios Finos Calibrosos Médios Limiar de excitabilidade Baixo Alto Médio Velocidade de condução Baixa Alta Média Frequência de disparo Baixa Alta Média Tempo de contração Longo Curto Intermediário Velocidade de contração Lenta Rápida Rápida Força contrátil Pequena Grande Média Resistência à fadiga Alta Baixa Alta Fonte: LENT (2004, p. 356). Registros eletromiográficos de uma única unidade motora indicam que as unidades motoras L são recrutadas inicialmente e ativadas durante muitos tipos de atividades, enquanto que as uni- dades RF, e até certo ponto as RRF, são recrutadas para as ativida- des que exigem maior força e menor tempo de duração (ISHIHARA et al., 2003). 10. RECEPTORES ARTICULARES, TENDINOSOS E MUS- CULARES Receptores são mecanismos especializados que captam in- formações das estruturas do sistema motor e informam o sistema nervoso central sobre as alterações mecânicas que ocorrem. Isto permite ao sistema nervoso central realizar o controle preciso da função motora. Os receptores estão localizados nas estruturas ar- ticulares, nos tendões e no músculo esquelético, como veremos, a seguir, nas Figuras 12, 13 e 14, respectivamente. Claretiano - Centro Universitário 253© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor Fibra muscular Aferente lb Cápsula Tendão Terminações de (tipo 2) Ruffini (tipo 1) Corpúsculos pacinianos Terminações nervosas livres (tipo 4) Receptores dos ligamentos (tipo 3) Figura 12 Receptores articulares. Figura 13 Receptor tendinoso: órgão tendinoso de Golgi. © Cinesiologia254 Fibras musculares intrafusais Fibras musculares extrafusais Cápsula Aferente mecanoreceptor IA ou II Neurônio fusiomotor γ Neurônio motor α Fonte: LENT (2004, p. 358). Figura 14 Receptor muscular: fuso muscular. As alterações de tensão e de posição das estruturas nas quais os receptores estão situados geram um padrão de impulsos nervosos no receptor para transmitir a informação a outras partes do sistema nervoso. Como resultado, temos simultâneas altera- ções no ângulo articular, na velocidade do movimento articular, na quantidade de compressão ou de tração articular, como tam- bém alterações no comprimento muscular e na força de contração muscular são transmitidas para os centros da medula espinhal e do cérebro. No sistema nervoso central, a informação é integrada à que procede de outros órgãos sensoriais e é usada pelos centros de controle motor no cérebro para ajustar, automaticamente, a loca- lização, o tipo, o número e a frequência de ativação de unidades motoras, indispensáveis à realização de movimentos coordenados e precisos (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). Claretiano - Centro Universitário 255© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor Receptores articulares Para Hamil e Knutzen (1999), limitadas informações sobre os impulsos dos neurônios sensoriais são provenientes de receptores localizados no interior e ao redor das articulações sinoviais (Figura 12). As terminações de Ruffini, localizadas na cápsula articular, res- pondem às mudanças na posição articular e na velocidade de mo- vimento da articulação. O corpúsculo de Pacini é outro receptor, também localizado na cápsula articular e, ainda, no tecido conecti- vo, que responde à pressão criada pelos músculos, como a dor in- tra-articular. Os receptores articulares, assim como os receptores tendinosos e os musculares, continuamente informam o sistema nervoso sobre as condições no interior e ao redor da articulação. Receptor tendinoso Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) afirmam que os órgãos ten- dinosos de Golgi (OTG) estão localizados no interior dos tendões musculares próximos ao ponto de inserção da fibra muscular no tendão (Figura 13). O OTG é estimulado pela tensão produzida pe- las fibras musculares, e os impulsos nervosos são transmitidos por grandes axônios aferentes de condução rápida à medula espinhal e ao cerebelo. Esses impulsos provenientes dos OTGs excitam os interneurônios inibidores, que inibem os neurônios do músculo em contração limitando a força àquela tensão que pode ser tolera- da pelos tecidos que estão sendo tensionados. Assim, os OTGs são responsáveis por detectar as variações de força (tensão) muscular. Quando ocorre aumento de tensão, como quando tentamos levantar um objeto muito pesado, por exemplo, as fibras colágenas dos OTGs são estiradas; quanto maior é a ten- são, maior é o potencial do receptor e, consequentemente, maior é a frequência dos potenciais de ação conduzidos ao sistema ner- voso central (LENT, 2004). © Cinesiologia256 Receptor muscular Os fusos musculares são pequenos e sofisticados órgãos re- ceptores que possuem a função de detectar as variações do com- primento muscular (Figura 14). Cada um deles é formado de cinco a dez fibras musculares modificadas, muito finas e agrupadas em forma de fuso, envoltas por uma cápsula conjuntiva que as separa das fibras musculares comuns; a fibra intrafusal, sendo uma fibra muscular, também se contrai sob comando neural. Quando um músculo se contrai ou relaxa, seu comprimento, e também o dos fusos musculares em seu interior, varia. Da mesma for- ma pode variar quando o músculo é estirado pelo próprio indivíduo ou por outra pessoa, como, por exemplo, durante o alongamento muscu- lar. É isto que faz o médico quando percute o joelho do paciente para pesquisar o reflexo patelar, conforme observado na Figura 15, em que o tendão do músculo quadríceps da coxa é atingido, indiretamente, provocando um estiramento brusco do músculo. Esse estiramento é o estímulo para o movimento reflexo resultante (LENT, 2004). Figura 15 Pesquisa do reflexo patelar. Claretiano - Centro Universitário 257© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor Assim, podemos dizer que o fuso muscular detecta altera- ções no comprimento muscular e informa, sobre tais modificações, o sistema nervoso central, que prontamente realiza os ajustes ne- cessários para a atividade motora. 11. O CONTROLE MOTOR Até o momento, foram descritos os mecanismos fisiológicos bá- sicos responsáveis pelo desenvolvimento de quantidades graduadas de tensão nas unidades motoras contidas dentro de um único músculo. No entanto, para realizar atividades motoras especializadas, como a marcha, por exemplo, é necessário um conjunto altamente integrado de comandos motores para ativar (ou inibir) os múscu- los apropriados na sequência correta. De que modo o sistema nervoso consegue ativar os múscu- los para conseguir esses movimentos tão variados e complexos? A Figura 16 nos mostra, um organograma das estruturas envol- vidas na execução dos movimentos, que podem ser classificadas em: efetores, ordenadores, controladores e planejadores. Os receptores, como discutido anteriormente, são órgãos sensoriais que têm a função de captar informações dos meios interno e externo. Essa informação captada é transportada ao sistema nervoso central por vias aferentes. Inicialmente, precisamos do executor da ação ou efetor, função essa desempenhada pelos músculos. Posteriormente, seria necessá- rio um sistema de comando, isto é, as estruturas ordenadoras, cuja função é transmitir aos músculos o comando para ação. Nessa cate- goria, entra um conjunto de regiões neurais situadas na medula espi- nhal, no tronco encefálico, no mesencéfalo e no córtex cerebral. Mas quem garante que os comandos estão corretos e que os movimentos estão sendo executados adequadamente? Nesse ce- nário, temos as estruturas controladoras, o cerebelo e os núcleos da base (gângliosda base), capazes de checar, a cada momento, se o sistema funciona adequadamente. © Cinesiologia258 Fonte: LENT (2004, p. 344). Figura 16 Diagrama descritivo do sistema motor. Finalmente, já que a intenção final de um ato motor depen- de de uma sequência complexa e ordenada, temos as estruturas planejadoras, cuja função é idealizar uma sequência ordenada e detalhada de instrução que fosse veiculada aos ordenadores para que eles as transmitissem aos músculos. Essa função de planeja- mento motor é exercida por regiões específicas do córtex cerebral, diferentes das regiões de comando (LENT, 2004). Integração sensório-motora Os neurônios sensitivos conduzem os impulsos dos múscu- los esqueléticos aos neurônios motores da medula espinhal, que transmitem impulsos de volta a esse músculo, formando uma alça de retroalimentação, que regula a atividade de cada unidade mo- tora do músculo. O circuito é o componente segmentar básico para o controle do sistema motor. Claretiano - Centro Universitário 259© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor Nenhum movimento, seja ele reflexo ou voluntário, pode suceder sem que ocorra a integração sensório-motora. Esses cir- cuitos regulam, automaticamente, o comprimento e a tensão dos músculos. São responsivos, centralmente, ao impulso neural a par- tir de vários centros motores e, perifericamente, ao impulso mecâ- nico, tal como o estiramento do músculo. Os impulsos sensoriais a partir dos músculos não influen- ciam, apenas, os seus neurônios motores, mas, também, os neu- rônios motores de músculos estreitamente correlatos. Assim, o estiramento ou a contração de um músculo excita os seus próprios neurônios motores, tanto aqueles que realizam uma ação oposta quanto aos que facilitam a ação. Enquanto uma resposta imediata está ocorrendo, os mesmos sinais sensitivos estão sendo transmitidos aos centros superiores do sistema nervoso para análises mais elaboradas do conteúdo de informação, o que contribui na regulagem dos circuitos espinhais e das unidades motoras que produzem movimento (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). Cinestesia e propriocepção Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997) mencionam, ainda, que, em condições normais, uma pessoa é capaz de saber, conscientemen- te, a posição dos diversos segmentos do corpo no espaço e na rela- ção com os outros segmentos, bem como se estes estão estáticos ou se movimentando. Essa capacidade define o sentido de posição, o conhecimento da posição estática de um determinado segmento corporal e a cinestesia, ou seja, o conhecimento do movimento dinâmico articular. Os sinais cinestésicos são gerados a partir dos receptores sensoriais musculares, tendinosos e articulares em res- posta aos movimentos do corpo e à tensão nos tendões. A propriocepção refere-se ao impulso sensorial que parte dos receptores musculares, tendinosos e articulares para discriminar a posição articular e o movimento articular, o que inclui a direção, © Cinesiologia260 a amplitude e a velocidade, bem como a tensão nos tendões. Os impulsos proprioceptivos são integrados em centros sensório-mo- tores para a regulagem automática dos músculos posturais, man- tendo o equilíbrio corporal (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). Tônus muscular postural "Tônus postural" é o termo utilizado para particularmente caracterizar a tensão nos músculos que estão ativamente envol- vidos na manutenção das relações apropriadas para garantir pos- turas convenientes nas diferentes partes do esqueleto. Os mús- culos frequentemente usados para manter o corpo na posição ortostática são classificados "músculos antigravitacionais", como, por exemplo, os músculos do tronco, os flexores das extremidades superiores e os extensores das extremidades inferiores (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997). 12. CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS A RESPEITO DO CON- TROLE MOTOR É necessária uma compreensão das fisiologias muscular e neural para o entendimento dos problemas clínicos associados aos distúrbios do controle motor, e também é de grande importância saber que o comprometimento do controle motor pode resultar de muitas doenças, lesões ou incapacidades de desenvolvimento. Alterações no tônus muscular Tônus muscular é a quantidade de tensão do músculo em repouso. Clinicamente, o tônus muscular é, em geral, avaliado pela faixa de movimentação passiva. Em pessoas com o sistema de controle motor íntegro, a resistência ao estiramento passivo é mínima. A lesão em qualquer estrutura do sistema motor pode inter- ferir na capacidade de regular o tônus muscular. A hipotonia, tam- Claretiano - Centro Universitário 261© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor bém chamada "flacidez" ou "resistência baixa ao estiramento pas- sivo" ocorre em distúrbios cerebelares, em lesões dos neurônios motores da medula espinhal e, temporariamente, após uma lesão aguda nos neurônios motores do córtex cerebral (Figura 17). Figura 17 Hipotonia muscular (flacidez). Já o outro extremo, ou seja, a hipertonia ou resistência alta ao estiramento passivo, ocorre em lesões crônicas nos neurônios motores do córtex cerebral e em alguns distúrbios dos gânglios da base (LUNDY-EKMAN, 2008). Há dois tipos de hipertonia: • Hipertonia espástica ou espasticidade: na qual o grau de resistência ao movimento passivo depende da velocida- de. • Rigidez: em que a resistência ao movimento passivo per- manece constante, independentemente da velocidade com que a força é aplicada. Fraqueza e atrofia muscular Quando um músculo não é usado durante longos períodos de tempo, a quantidade de filamentos de actina e de miosina em © Cinesiologia262 cada fibra muscular diminui, o que causa atrofia muscular e pode resultar na diminuição da força muscular. A esse tipo de atrofia provocada pela imobilidade, chamamos "atrofia de desuso", mos- trada na Figura 18. Segundo Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), os potenciais de ação nas fibras musculares são responsáveis pela liberação de substâncias tróficas que contribuem para a prevenção da atrofia muscular. A falta de uso, causada por doença ou lesão nos neurô- nios motores inferiores que inervam um músculo, remove a fonte do suprimento contínuo de substâncias tróficas, podendo causar uma progressiva atrofia de desnervação. Figura 18 Atrofia muscular. 13. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, foi possível notar a importância de certos conceitos de Anatomia e de Fisiologia para o entendimento da Ci- nesiologia. Inicialmente, fizemos uma explanação sobre as estru- turas macroscópica e microscópica do músculo estriado esquelé- tico e sobre os mecanismos moleculares envolvidos na contração Claretiano - Centro Universitário 263© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor muscular. Estudamos os três tipos de fibras musculares e suas res- pectivas características correlacionando-as com as características das três unidades motoras. Você pôde notar que, para ocorrer a contração muscular, é necessária uma informação que provém do sistema nervoso, por meio dos potenciais de ação, que causará, na junção neuromuscu- lar, a liberação do neurotransmissor acetilcolina, responsável pelo desencadeamento dos eventos para a contração muscular. Nota- se, ainda, que, para ocorrer a contração, as fontes de produção de energia, ou seja, o metabolismo aeróbio e o metabolismo anaeró- bio, são necessárias. A presença de receptores sensoriais nas articulações, nos músculos e nos tendões informam o sistema nervoso central sobre as características físicas e mecânicas das articulações, sendo indis- pensáveis para que áreas específicas do sistema nervoso central ordenem, controlem e planejem atos motores ordenados e coor- denados. Entretanto, quando ocorrem doenças, lesões ou distúr- bios de desenvolvimento, o controle motor, pelo sistema nervoso, não é eficiente, o que pode gerar distúrbiosde motricidade. 14. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Por meio de uma autoavaliação, vamos verificar como está sua aprendizagem. Tente responder, para si mesmo, às seguintes questões. 1) Quais são os eventos envolvidos no processo de contra- ção muscular? 2) Quais são as fontes de energia para a contração muscular? 3) Caracterize os diferentes tipos de fibras musculares. 4) Defina "unidade motora" e caracterize os tipos de uni- dades motoras. 5) Quais são os tipos de receptores sensoriais e como atua cada um deles? 6) Como ocorre o controle motor? © Cinesiologia264 7) Qual é a importância da propriocepção no controle motor? 8) Caracterize as alterações no tônus muscular. 9) Quais são os tipos de atrofia muscular? 15. E-REFERÊNCIAS Lista de Figuras Figura 5 – Os estados relaxado e contraído de unia miofibrila, mostrando o deslizamento dos filamentos de actina sobre os filamentos de miosina: disponível em: <http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/biologia/imagens/ sarcomero_est_contr.gif>. Acesso em: 5 jan. 2010. Figura 10 – Ciclo de Krebs. Metabolismo aeróbio gerador de energia para a contração muscular: disponível em: <http://www.fisiologia.kit.net/bioquimica/ck/ciclokrebs.gif>. Acesso em: 5 jan. 2010. Figura 12 – Receptores articulares: disponível em: <http://br.monografias.com/ trabalhos3/concepcoes-bale-recurso-terapeutico-fiosioterapia/image022.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2010. Figura 13 – Receptor tendinoso: órgão tendinoso de Golgi: disponível em: http://www. ibb.unesp.br/nadi/Museu2_qualidade/Museu2_como_funciona/Museu_homem_ nervoso/Museu2_homem_nervoso_somestesia/Imagens/proprioceptores_2.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2010. Figura 15 – Pesquisa do reflexo patelar: disponível em: <http://media.photobucket. com/image/reflexo%20patelar/maxaug/nervoso9.gif>. Acesso em: 5 jan. 2010. Figura 17 – Hipotonia muscular (flacidez): Disponível em: <http://2.bp.blogspot. com/_ j0oAApQn lhE/S sdO_s J6 Ie I /AAAAAAAAAA4/WByP l_SEqEg /s320/ Inform%C3%A1tica+Eucativa.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2010. Figura 18 – Atrofia muscular: disponível em: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ spanish/ency/images/ency/fullsize/19477.jpg>. Acesso em: 05 jan. 2010. 16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências desvendando o sistema nervosa. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. ENOKA, R. M. Bases neuromecânicas da cinesiologia. ed. São Paulo: Manole, 2000. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. HAMIL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole, 1999. ISHIHARA, A. et al. Motoneuron and sensory plasticity to varying neuromuscular activity levels. Exerc Sport Sci Rev. 31(1):51-7, 20 Claretiano - Centro Universitário 265© U3 - Aspectos da Fisiologia Muscular e Neurofisiologia do Controle Motor LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Atheneu, 2004. LUNDY-EKMAN, L. Neurociência, fundamentos para a reabilitação. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. RASCH, P. J. Cinesiologia e anatomia aplicada. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. SCHMIDT, R. F. Neurofisiologia. ed. São Paulo: Pedagógica e Universitária, 1979. SMITH, L. K.; WEISS, E. L.; LEHMKUHL, L. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. ed. São Paulo: Manole, 20 SOBOTTA, J. Atlas de anatomia humana. 20 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. Claretiano - Centro Universitário
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