POLÍTICA EDUCACIONAL Caroline Costa Nunes Lima O Estado e a Educação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a relação do Estado com a educação. � Descrever as três principais tarefas do Estado, em sua relação com a educação. � Apontar a importância de se analisar o Estado para compreender a educação. Introdução Neste capítulo, você irá estudar as relações entre o Estado e a educação, identificando as influências de diferentes variáveis, tais como tendências governamentais e econômicas, bem como as associadas ao fenômeno da globalização. Posteriormente, identificará as principais tarefas do Estado, articuladas a partir de seus diferentes níveis (federal, estadual e municipal), assim como reconhecerá a relevância de se analisar as funções do Estado para compreender suas relações com o campo educacional. A relação do Estado com a Educação As relações do Estado com a educação tiveram diferentes fases ao longo de nossa trajetória educacional. Estabeleceram-se por meio de legislações que dispõem sobre as atribuições governamentais. Além disso, a intervenção do Estado na educação dá-se por meio da formulação de políticas públicas, dos meios de acompanhamento dos resultados de desempenho e das diferentes propostas de organização do sistema de ensino nacional. Ao observarmos o nosso desenvolvimento como nação, veremos que as configurações do Estado, a partir das políticas educacionais, não deram conta de superar problemas que atravessam gerações. Enquanto em outros países já havia, no século XIX um sistema educacional de abrangência nacional con- solidado (ARAÚJO, 2011), no Brasil encontramos problemas graves em pleno século XXI, tais como a evasão escolar, índice considerável de analfabetismo e distorção idade/série. Tivemos, em meados da década de 1980, um período em que o Estado voltou-se para a criação de um sistema de proteção de caráter assistencialista, buscando uma reconfiguração enquanto instituição. Nesse período, buscou-se uma reformulação econômica e uma centralização das tomadas de decisão (FAGNANI, 1997). Nesse cenário, a Constituição Federal em 1988 é formulada, buscando avanços sociais e investimentos em políticas, que denotam maior responsabilidade estatal em suas formulações, regulações e implementações (DRAIBE, 1989). É importante destacar que foi a partir do século XX que a concepção de educação como um meio de condições de igualdade de oportunidades passa a informar as ações do Estado: a educação passa a ser considerada um direito. Documentos, tais como a Constituição Federal em 1988, dispõem sobre esses aspectos (BRASIL, 1988, documento on-line): Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; [...] A reunião desses princípios, assegurados por lei como um dever do Estado, relaciona-se com a oferta de uma educação pública gratuita a todos os cidadãos, a responsabilidade de ofertar um ensino de qualidade, o compromisso com a autonomia e a democratização das instituições de ensino. A partir da década de 1990, as ressignificações dos papéis do Estado intensificaram-se, sendo influenciadas pela globalização, pelas relações com outros países e pelas novas tendências econômicas. Além disso, o cenário de crise afetava os mais variados setores. A partir desses desdobramentos, em 1995, o presidente Fernando Henrique Cardoso formula uma reforma por O Estado e a Educação2 meio de um Plano Diretor da Reforma do Estado (BRASIL, 1995). Com isso, passa-se a considerar que o Estado não é mais o responsável direto pelo desen- volvimento do país, passando a exercer atribuições de promoção e regulação do avanço econômico e social. O mesmo documento estabelece as seguintes relações entre Estado e educação: O Estado reduz seu papel de executor ou prestador direto de serviços, man- tendo-se entretanto no papel de regulador e provedor ou promotor destes, principalmente dos serviços sociais como educação e saúde, que são essenciais para o desenvolvimento, na medida em que envolvem investimento em capital humano; para a democracia, na medida em que promovem cidadãos; e para uma distribuição de renda mais justa, que o mercado é incapaz de garantir, dada a oferta muito superior à demanda de mão-de-obra não-especializada. Como promotor desses serviços o Estado continuará a subsidiá-los, buscan- do, ao mesmo tempo, o controle social direto e a participação da sociedade (BRASIL, 1955, p. 13). Esse plano traça objetivos tais como a instituição de um programa deno- minado “publicização”, que passa as fundações públicas para entidades de direito privado, incentivando os processos de privatização e terceirização (BRASIL, 1995). Todas essas propostas foram vistas por alguns especialistas como contra- ditórias, já que o Estado, a partir de tal plano, passa por um fortalecimento em suas funções de regular e coordenar por meio da esfera federal. Entretanto, “[...] ao passar o controle político-ideológico para as organizações públicas não-estatais, apenas financiando-as, [o Estado] transfere também a coordenação e a regulação dessas organizações para o mercado” (PERONI, 2000, p. 10). Outra entidade que influencia as relações entre o Estado e a educação é o Banco Mundial, que, nos anos de 1990, teve uma atuação estratégica como investidor de políticas educacionais, considerando a educação como uma ferra- menta de ascensão econômica. A partir dos estudos de Arruda (1998), o pacote de propostas educativas formuladas pelo Banco Mundial teve como objetivos focalizar investimentos na educação básica, desenvolver ações para a melhoria da qualidade do ensino, priorizar elementos financeiros e educativos no campo educacional, por meio de reestruturação de ministérios e instituições, assim como realizar ações para fortalecer os sistemas de ensino. Descentralizou-se e ampliou-se a autonomia das instituições, para que se responsabilizassem por seus resultados e garantissem uma maior adesão dos pais e da comunidade escolar nas decisões das instituições educativas. 3O Estado e a Educação No período de 1996 a 2000, verificamos a instituição da nova LDB nº. 9.394/96 (BRASIL, 1996), que reafirma disposições da Constituição Federal de 1988, demarcando o papel do Estado na educação. Nesse mesmo período, movimen- tações marcaram a descentralização educacional por meio da criação do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, que propõe novas formas de financiamento do ensino, articulando diferentes esferas governamentais. Em 2007, tivemos outra ação importante do Estado com a criação do FUNDEB, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, que substitui o FUNDEF para ampliar o fundo para toda educação básica (LOPES, 2008). Em 2014, foi promulgado o mais atualizado Plano Nacional de Educação, por meio da Lei nº. 13.005 (BRASIL, 2014). Com prazo de vigência até o ano de 2024, o documento apresenta uma série de 20 metas, com suas devidas estra- tégias voltadas à oferta de uma educação de qualidade para todos os cidadãos. Ações como essas, assim como as demais políticas educacionais que se seguiram em diferentes governos, tiveram como objetivo organizar ações de desenvolvimento, por meio de um sistema capitalista efetivamente articulado ao setor privado, propondo,