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3 Relações Humanas e Ética Profissional

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Relações 
Humanas 
E 
Ética Profissional 
 
GRUPO ANDRADE MARTINS 
Título 
RELAÇÕES HUMANAS E ÉTICA PROFISSIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © 2017 by Júlio Martins 
 
O direito moral do autor foi assegurado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todos os direitos reservados. 
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, ou transmitida por qualquer forma ou meio 
Eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópia, gravação ou sistema de armazenagem 
e recuperação de informação, sem a permissão escrita do autor. 
A reprodução sem a devida autorização constitui pirataria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 MARTINS, Júlio C,A 
 Relações Humanas e Ética Profissional – Itaúna: GAM, 2017. 
 
 
 ISBN – 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
As instituições de ensino superior são a ponte para que o indivíduo consiga melhor se quali- 
ficar para o mercado de trabalho e, consequentemente, ter a ascensão social tão desejada e 
difundida pelo sistema capitalista. 
 
Para que o indivíduo possa desenvolver as suas habilidades, torna-se necessário dar conti- 
nuidade aos estudos, frequentando um curso de nível superior nas diversas áreas existentes. 
Ao optar pelo curso de sua preferência é necessário que o aluno tenha em mente que estará 
entrando para um universo diferente da educação recebida no Ensino Básico e que seu es- 
forço pessoal é indispensável para o seu sucesso, principalmente nos cursos à distância e 
semipresenciais. 
 
Esse processo envolve realizar todas as atividades solicitadas no seu curso, a capacidade de 
ser autodidata e de buscar outras fontes de conhecimento. O objetivo maior deste esforço é 
melhorar as suas habilidades e, assim, o desempenho para o mercado de trabalho. Sabemos 
que esporadicamente esse mercado é afetado pelas crises econômicas, políticas e sociais 
e quem possui o maior grau de conhecimento específico e generalizado consegue suportar 
melhor essas variações. 
 
Como esse processo não é apenas econômico e político, mas principalmente social, cabe a 
cada um de nós fazer a sua parte através da dedicação à profissão, à educação continuada, 
ao desenvolvimento da ética e da cidadania em nosso dia a dia, entre outras ações. Segundo 
Voltaire, “a Educação é uma descoberta progressiva de nossa própria ignorância”, assim ao 
dar a nossa contribuição para o nosso próprio desenvolvimento, estamos levando adiante um 
anseio antigo, o de criar um país mais justo e menos desigual. Felicitamos a todas as pesso- 
as que dão continuidade aos estudos ou que tem a iniciativa de voltar aos mesmos, fonte de 
desenvolvimento pessoal e profissional. 
 
GRUPO ANDRADE MARTINS 
 
 
JÚLIO MARTINS
 
S
U
M
Á
R
I
O
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 05 
UNIDADE I - UNIDADE I: HISTÓRIA DA ÉTICA ...................................................................................... 06 
1.1. ÉTICA E HISTÓRIA ................................................................................................................................... 07 
1.1.1. Pré-socráticos ou filósofos da physis (século VI A.C).............................................................. 08 
1.1.2. Sofistas (séculos IV e V A.C) ................................................................................................... 08 
1.1.3. Períodomedieval(daquedadoimpérioromano, em 476 D.C, aoséculo XV) ............................. 10 
1.1.4. Filosofia moderna (fim da idade média até início do século XX) ............................................. 10 
1.1.5. Filosofia contemporânea ......................................................................................................... 11 
UNIDADE II MORAL E PRINCÍPIOS ÉTICOS ...................................................................................... 12 
2.1. A MORAL E A ÉTICA ..................................................................................................................... 12 
2.1.1. As regras ................................................................................................................................. 13 
2.1.2. As normas ............................................................................................................................................ 14 
2.1.3. A liberdade .............................................................................................................................. 15 
UNIDADE III – ÉTICA E NORMAS.................................................................................. 17 
3.1. AS NORMAS .................................................................................................................................. 18 
3.1.1. A pessoa e a comunidade........................................................................................................ 19 
UNIDADE IV - ÉTICA E POSTURA PROFISSIONAL ........................................................ 22 
4.1. O TRABALHO COMO PRODUTOR DE IDENTIDADE ................................................................... 22 
4.2. A POSTURA PROFISSIONAL EM TEMPOS DE ÉTICA EM DESUSO ................................................ 24 
4.2.1. Os códigos de ética ................................................................................................................. 25 
UNIDADE V - RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO ................................................... 27 
5.1. A CIENCIA E O SENSO COMUM: MÉTODO E DISCURSO .............................................................. 27 
5.1.1. Uma definição generalista da ciência ..................................................................................... 28 
5.1.2. Método e discurso científico ................................................................................................... 29 
5.1.3. O senso comum ..................................................................................................................... 29 
5.2. CIÊNCIAS HUMANAS: BASES FILOSÓFICAS ............................................................................. 31 
5.2.1. Pós-modernidade: afinal, quem somos e onde estamos ........................................................ 31 
5.2.2. A modernidade líquida de Zygmunt Bauman ........................................................................... 33 
5.2.3. Organizações e instituições .............................................................................................................. 34 
UNIDADE VI - MARKETING PESSOAL .......................................................................... 38 
6.1. DEFINIÇÃO..................................................................................................................................... 38 
6.2. ASPECTOS QUE ENVOLVEM O MARKETING PESSOAL ........................................................... 39 
6.3. TEXTO COMPLEMENTAR ....................................................................................................................... 42 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 44 
TESTE DE CONHECIMENTOS ....................................................................................... 47 
GABARITOS DAS UNIDADES........................................................................................ 58 
 
 
 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
4 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional.INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
Existem dois ditados muito conhecidos e que explicam e complicam muito as re- 
lações humanas. O primeiro deles é que “cada ser humano é único” e o segundo 
é que “o ser humano não é uma ilha”, ou seja, cada pessoa tem a sua maneira de 
dar sentido às coisas e de ver o mundo, mas, a grande maioria, não consegue viver 
isolado. Para analisar e entender melhor a complexidade que surge das relações hu- 
manas foi que pesquisadores desenvolveram estudos voltados especificamente para 
as relações humanas, a partir da análise da ética, da moral, da Filosofia, entre outros. 
 
Ao estar ciente que as relações entre os indivíduos não se desenvolvem, em boa 
parte, de forma harmoniosa é que a sociedade, no seu processo evolutivo, foram 
criando hábitos, costumes, regras e normas que permitissem delinear um limite às 
ações humanas e que permitissem a convivência baseada em acordos comuns. 
Dessa forma, foi surgindo leis, diretrizes e normas de convivência familiar e social, 
tendo o Estado como ente maior e isento para juntar provas, analisar e julgar 
conflitos entre os indivíduos, seus grupos e, até, entre países. 
 
Como já dito, o ser humano não consegue viver sozinho e cria relação de depen- 
dência entre si, portanto um dos principais ambientes em que as relações humanas 
devem ser bem trabalhadas é nas empresas. No ambiente de trabalho deve prevale- 
cer a relação em grupo, tendo por objetivo a otimização na oferta de bens e serviços 
e um ambiente de coleguismo, bem-estar e de trabalho em equipe. 
 
O relacionamento entre os membros de um grupo e de grupos entre si é a causa 
de estudos e pesquisas que buscam criar métodos e técnicas que melhorem o entro- 
samento desses indivíduos. Esses estudos fazem parte de um processo dinâmico, 
pois o seu objeto, os seres humanos, vivem em constantes mudanças que abrangem 
as dimensões tempo, espaço e a subjetividade de cada um. Dessa forma, as em- 
presas buscam implantar dinâmicas de relacionamento interpessoal, orientadas por 
profissionais da área, na tentativa de diminuir os conflitos internos que possam vir a 
prejudicar os seus resultados e, consequentemente, ao indivíduo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I 
HISTÓRIA 
DA ÉTICA 
UNIDADE I: HISTÓRIA DA ÉTICA 
6 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sendo a ética uma construção humana, uma 
aposta na reflexão sobre o agir das pessoas para 
que princípios básicos de convivência e sobrevi- 
vência sejam garantidos, a mesma evoluiu e con- 
tinua evoluindo de acordo com o pensamento hu- 
mano, as suas necessidades e desafios, ou seja, 
ela não pode estar distante ideologicamente do 
contexto ao qual é refletida. Desta maneira, ca- 
be-nos, primeiramente, diferenciar o discurso éti- 
co do discurso moralista, pois ambos estão pre- 
sentes nas relações humanas, porém a influência 
de cada um traz diferenças qualitativas nas vidas 
das pessoas. 
 
O discurso ético, este que nos interessa nessa 
unidade, trata-se de um discurso aberto e que 
não dá respostas prontas. Se, por exemplo, so- 
mos perguntados sobre questões muito melin- 
dres da sociedade e caso adotemos este tipo de 
discurso, levaremos em consideração muitas va- 
riáveis antes de chegarmos a alguma conclusão. 
Este discurso envolve o que chamamos de sujei- 
to dialogal. Por meio de uma prática comunitária, 
libertadora e ética, este modelo de discurso con- 
vive bem com a diferença, com o que não é gene- 
ralista e com aquilo que promove a multiplicidade. 
 
Por outro lado, o discurso moralista é sempre 
fechado. Nele, encontramos respostas prontas e 
acabadas, geralmente elaboradas para favore- 
cer algum grupo ou comunidade que não quer se 
haver com o diferente, o incomum. Esta prática 
discursiva é feita de cima para baixo, de maneira 
ditatorial, sem respeitar o sujeito e as possibilida- 
des tão plurais que podem ser encontradas na 
sociedade. De modo geral, trata-se de um hábito 
hipócrita, antiético e que gera ressentimento, já 
que não realiza o bem comum, mas apenas su- 
gere o bem de grupos específicos. 
Desta forma, consideramos o discurso ético 
como aquele que se preocupa com o bem co- 
mum e com os indivíduos que compõem os gru- 
pos, ou seja, tanto a pessoa quanto a comunida- 
de são elementos igualmente importantes dentro 
das relações humanas. 
FIG. 1 – Ética 
 
Fonte: Imagem da internet 
 
 
1.1. ÉTICA E HISTÓRIA 
A filosofia é considerada a forma originária que, 
do ponto de vista histórico, constituiu a ciência 
da ética, sendo ela a única forma adequada de 
pensarmos esta temática de forma racional. Não 
são poucas as tentativas recentes de descons- 
trução do saber ético tradicional, o que pode ser 
apontado como o anúncio de um niilismo ético, 
UNIDADE I: HISTÓRIA DA ÉTICA 
7 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ou seja, a perda de sentido do ponto de vista da 
ética. Isso está intrinsecamente ligado aos modos 
de estabelecimento de relação entre as pessoas. 
Na era da “descartabilidade”, em que tratamos as 
pessoas tal como lidamos com os objetos, a éti- 
ca vem aparecendo como um campo de reflexão 
que pode muito contribuir para pesarmos se que- 
remos, de fato, continuar por este caminho. 
 
Para o grande estudioso sobre ética, Henrique 
C. de Lima Vaz (2002, p. 15), “a moral continuou 
mostrando uma tendência a privilegiar a subje- 
tividade do agir, enquanto a ética aponta prefe- 
rentemente para a realidade histórica e social dos 
costumes”. O autor ainda ressalta em Escritos 
de Filosofia IV: Introdução à ética filosófica I, que 
foi na cultura grega arcaica que ocorrera a transi- 
ção da intenção do significado de ethos do cam- 
po animal para o campo humano, dando origem 
ao que chamamos de cultura clássica. Por ethos 
compreende-se “a realidade histórico-social dos 
costumes e sua presença no comportamento dos 
indivíduos” (ibdem, 2002, p. 13). 
 
A história da ética irá acompanhar a reflexão 
filosófica e a evolução do pensamento humano, 
uma vez que, como já vimos, é da filosofia que 
ela nasce. Assim, trazemos os principais perío- 
dos da filosofia e as suas principais ideias: 
 
1.1.1. Pré-socráticos ou filósofos da physis 
(século VIA. C): 
Os pensadores se preocupavam com o univer- 
so, sua origem, quais os elementos que o com- 
punham. Outra preocupação eram os fenômenos 
da natureza. Podemos dizer que este período foi 
marcado por um profundo questionamento sobre 
a origem de todas as coisas e a explicação de 
como e porque elas funcionavam de determinada 
maneira. Aqui, preocupa-se com o cosmos. Al- 
guns filósofos importantes: Tales de Mileto (qual é 
o arché – princípio – de todas as coisas?); Herá- 
clito de Éfeso (pantarhei – tudo se move, tudo es- 
corre); Pitágoras (o número é o princípio de tudo); 
Parmênides (o ser é e não pode não ser; o não 
ser não é e não pode ser de modo algum). 
 
 
1.1.2. Sofistas (séculos IV e V A.C): 
Sofista é o termo que significa sábio, especia- 
lista do saber. Responsáveis por operar uma 
grande revolução na história da filosofia, eles (os 
sofistas) “deslocaram o eixo da reflexão filosófi- 
ca da physise do cosmos para o homem e aquilo 
que concerne à vida do homem como membro de 
uma sociedade” (REALE, 1990, p. 38). O axioma 
quemais revela o cerne deste pensamento é o de 
Sócrates: “nosce te ipsum” (conhece-te a ti mes- 
mo). Assim, Sócrates torna-se o “descobridor” da 
essência humana como psyché (alma), protago- 
nizando Platão em seus “diálogos”. Este filósofo 
tão importante, nascido em Atenas (470 a 399 
A. C), foi acusado de não crer nos deuses das 
cidades e de corromper os jovens. Ele pode ser 
considerado também o fundador da filosofia mo- 
ral ocidental, pois conceitos como liberdade, feli- 
UNIDADE I: HISTÓRIA DA ÉTICA 
8 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
cidade, verdade e não violência ganharam peso 
a partir de então e estão presentes nas principais 
discussões filosóficas contemporâneas. 
 
Outro importante pensador deste período foi 
Platão (428-347 A. C.), discípulo de Sócrates e 
fundador da metafísica (meta-physis: aquilo que 
está além da física) ocidental e da academia, 
inaugurando com a metafísica a discussão sobre 
a existência de uma realidade suprassensível, ou 
seja, algo que não é da ordem da matéria, reafir- 
mando a tendência sobre questões não relacio- 
nadas à physis. 
 
A pergunta fundamental de Platão era: será que 
a razão daquilo que é físico e mecânico não seria 
justamente aquilo que é não físico e não mecâni- 
co? Para solucionar este problema, Platão elabo- 
ra a teoria do hiperurânio ou mundo das ideias, 
dizendo da existência de tais ideias (formas, 
entidades, substâncias) como representantes 
do verdadeiro ser. Assim, tudo que há no mun- 
do material seriam meras cópias do que está no 
mundo das ideias e o bem seria o fundamento e 
regulador de todas as ideias. Surge, também com 
Platão, a concepção dualista do homem (alma x 
corpo), que seria retomada mais tarde por Des- 
cartes, na filosofia contemporânea. 
 
Aristóteles (384/322 A. C.), nascido em Estagira, 
é considerado um dos pensadores mais univer- 
sais ou o mestre dos mestres, teve interesses um 
tanto quanto diferentes de Platão, inclusive pelas 
ciências empíricas e se convertendo ao naturalis- 
mo e ao empirismo. Podemos ver, na famosa pin- 
tura de Rafaello Sanzio (1483), a escola de Atenas 
obra do renascimento italiano: 
 
FIG. 2 – Escola de Atenas 
 
Fonte: Imagem da internet 
 
1.1.3. Período medieval (da queda do impé- 
rio romano, em 476 D.C, ao século XV): 
O teocentrismo juntamente com o domínio da 
igreja católica são a marca principal deste perío- 
do. O discurso filosófico desta época considera o 
divino como o detentor do saber, ao qual o homem 
deveria submeter a sua vontade. Santo Agostinho 
(354-430) e São Tomás de Aquino (1225-1274) 
são os principais autores deste período, colocando 
as sagradas escrituras e a fé no topo da importân- 
cia deste momento, ou seja, a conduta humana 
deveriam se embasar nestas verdades. 
 
1.1.4. Filosofia moderna (fim da idade média 
até início do século XX): 
Com uma separação quase radical entre a ciên- 
UNIDADE I: HISTÓRIA DA ÉTICA 
9 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
cia e a filosofia, o empirismo e o positivismo apa- 
recem como os modelos de cientificidade a serem 
adotados, promovendo a matetização da expe- 
riência, ou seja, dá- se muita importância para a 
experiência laboratorial, portanto, a natureza passa 
a ser mensurável e o padrão são as medidas uni- 
versais. Será a experimentação o motivo pelo qual 
o conhecimento será levado ao público e a razão 
humana é, mais do que nunca, instrumentalizada. 
 
1.1.5. Filosofia contemporânea 
Contemplando o pensamento filosófico desde 
meados do século XIX até os nossos dias, este pe- 
ríodo da filosofia é o que está mais ligado ao que 
podemos experimentar de fato. Por ser algo “novo”, 
uma vez que é atual, as correntes filosóficas deste 
momento são muito parecidas. 
 
Algumas temáticas estão muito presentes nas dis- 
cussões atuais, bem como a felicidade, a angústia, 
o consumo, as políticas públicas, entre outras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE II 
MORAL E 
PRINCÍPIOS 
ÉTICOS 
UNIDADE II: MORAL E PRINCÍPIOS ÉTICOS 
11 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.1. A MORAL E A ÉTICA 
Em tempos de relações tão fragmentadas, 
conforme nos aponta o sociólogo Zigmunt Bau- 
man(1998), a filosofia (em uma ação multidis- 
ciplinar com a sociologia, psicologia, antropo- 
logia, o direito, entre outras) serve-nos como 
uma ferramenta na tentativa de viabilizarmos 
uma profunda reflexão sobre o agir humano, 
sobre a nossa prática e, consequentemente, a 
nossa responsabilidade sobre os nossos atos. 
 
Como já vimos naunidade anterior, a Ética 
tem uma preocupação com o universal, com o 
coletivo, muito embora não exclua o valor 
das individualidades, pois a sociedade não é 
“uma nuvem que paira sobre as nossas 
cabeças”, mas é composta por indivíduos 
muito singulares: homens e mulheres 
carregados de histórias, dilemas, vitórias e 
derrotas. Assim, toda a preocupação da 
ética (parte da filosofia que se preocupa com 
o agir humano) está voltada para uma 
pergunta essencial: como lidamos com os 
valores sociais que nós mesmos esta- 
belecemos? 
 
Do latim mos-moris, moral é a ciência dos 
costumese não abarca o conceito grego com 
tamanha profundidade tal como quando fala- 
mos de ética. Possuidora de um caráter norma- 
tivo (norma) e prescritivo, a moral diz dos valo- 
res que norteiam as relações humanas dentro 
da convivência social, levando em conta as 
particularidades de cada grupo. Um exemplo 
que pode nos auxiliar neste entendimento são 
os grupos indígenas: eles participam de uma 
ética universal, mas possuem as suas normas 
e os seus valores morais particulares que de- 
vem ser respeitados pela sociedade de forma 
que, assim feito, terão a sua identidade grupal 
garantida. 
 
Nunca se falou tanto em “ter uma identida- 
de” ou em “ser a gente mesmo”, mesmo que 
para isso tenhamos que aniquilar a indenti- 
dade oposta à nossa. Basta averiguarmos al- 
guns programas de governo cada vez mais eli- 
tistas, preconceituosos e com o menor índice 
de tolerância possível. Mesmo no século XXI, 
ainda discriminamos por causa de cor, credo, 
gênero ou orientação sexual. A ética, de modo 
especial no Brasil, ainda está impregnada 
pelo discurso moralista, religioso e partidário 
que, antes de ver o ser humano, vê o rótulo. 
Assim, podemos nos perguntar: o que é va- 
lor para cada um de nós? Refletimos sobre as 
“bandeiras” que levantamos ou simplesmente 
adotamos a ideologia que nos foram 
“impostas” pelos pais, trabalho, governo? 
Enfim, acreditamos no que acreditamos 
porque escolhemos ou fomos escolhidos 
para acreditar? 
 
2.1.1. As regras. 
Entendendo a ética como a busca pelo bem 
e a evitação do mal, por que tais modelos de 
regras e normas não são suficientes para “en- 
direitar” o comportamento humano? Por que, 
UNIDADE II: MORAL E PRINCÍPIOS ÉTICOS 
12 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
mesmo sabendo o que é bom e o que é mal, 
ainda nos desviamos da conduta correta? Po- 
demos nos perguntar: é possível vivenciar to- 
das as regras estabelecidas pelos princípioséticos sem que tenhamos o outro como um 
detentor de importância, como um sujeito ao 
invés de um objeto? Ou seja, a nossa cultura 
(lembrando que a cultura é formada por indiví- 
duos particulares que integram a sociedade) 
favorece o cuidado com o outro? Nas nossas 
relações, temos nos preocupado com o bem- 
-estar e o estar-bem daqueles que convivem 
comigo? Assim, se as regras estão voltadas 
para o bem comum, fica mais fácil entender 
porque a normalização da ética não é capaz 
de padronizar a nossa conduta estritamente. 
Ela é uma proposta. A liberdade humana, por 
vezes, pode desviar-se da mesma por causa 
de interesses particulares. 
 
A moral como norteadora da conduta de gru- 
pos específicos dentro da sociedade, propõe- 
-se como um código a ser seguido que pode, 
por hora, ser questionado inclusive pela ética, 
já que os valores da sociedade mudam de 
acordo com o homem. Assim, sabemos que é 
muito difícil estabelecer um valor como imutá- 
vel. Foi justamente a flexibilização de alguns 
valores morais que possibilitou a conquista de 
tantos grupos que eram (ou ainda são) exclu- 
ídos, considerados minoritários. se a ética e 
a moral não tiverem, em primeiro lugar, um 
compromisso com a vida, com o bem-estar do 
ser humano, a mesma será em vão e não terá 
cumprido a sua missão original que é cuidar. 
Desta forma, a moral e os princípios éticos 
deverão servir para cada um de nós não como 
uma camisa de forças ou uma prisão. Sistemas 
que tentam enquadrar o ser humano e norma- 
tizá-lo a qualquer custo sempre findaram na 
degradação da espécie humana. No Brasil, 
conhecemos a história da Ditadura que não 
passava de um sistema cunhado por normas 
morais tão rígidas que sequer possibilitava às 
pessoas questioná-lo. Assim, podemos nos 
perguntar: um sistema moralista que não 
liberta o homem, mas, pelo contrário, o 
aprisiona em ideias e pensamentos 
totalitários é um sistema ético? Não. A ética 
serve justamente para averiguar a validade 
destes sistemas morais, pois enquanto 
cuidado e compromisso com a vida e o bem-
estar jamais poderá permitir este tipo de 
sistema. A moral, então, é constantemente 
“vigiada”, orientada e balizada pelos valores 
éticos. 
 
2.1.2. As normas 
No momento em que as questões éticas são 
propostas, tanto por indivíduos quanto por gru- 
pos sociais, falamos que as mesmas podem 
ser respondidas pela consciência, surgindo as 
normas morais. Se estas questões são res- 
pondidas pelo estado, dizemos que surgem 
as normas jurídicas. Segundo Cotrim (1997), 
a diferença entre elas é: 
Normas morais: são as regras éticas que têm 
UNIDADE II: MORAL E PRINCÍPIOS ÉTICOS 
13 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
como base a consciência moral das pessoas ou de 
um grupo social. As normas morais podem se es- 
tender por toda uma coletividade mediante os cos- 
tumes e tradições predominantes em determinado 
meio social(cotrim, 1997, p. 214). 
Normas jurídicas: são regras ético-sociais que 
tem como base o poder do Estado sobre a popu- 
lação que habita seu territórios. Assim, uma das 
principais características da norma jurídica e a co- 
ercibilidade, isto é, a norma jurídica conta com a 
força e a repressão potencial do Estado para ser 
obedecida pelas pessoas (idem). 
 
Caso alguma norma moral seja desrespei- 
tada, a mesma ofenderá apenas um determi- 
nado grupo específico e não carecerá de inter- 
venção do Estado, o que se difere de quando 
uma norma jurídica é violada, o que leva o 
Estado a intervir, às vezes através mesmo da 
força bruta ou da imposição de um pena pre- 
viamente estipulada pelo Código Penal. 
 
2.1.3. A liberdade 
Um dos aspectos que difere o homem de to- 
dos os outros seres, a liberdade é compreendi- 
da como um direito possuído pelo ser humano 
de escolher. A sua história, o seu caminho e as 
consequências serão orientados pelo tipo de 
escolha feita e pela condução da própria vida 
quando não houver outrem que o faça por ele. 
 
Entre a liberdade e a consciência moral há 
uma intríseca relação, já que só poderemos 
julgar uma ação caso ela tenha sido executa- 
da em liberdade, então só decidimos, 
escolhemos e somos livres se pudermos 
escolher. Daí 
a importância em lutarmos por uma sociedade 
mais livre e com maior potencial de escolha 
para que cada um possa, de fato, responder 
pelos seus atos, pelo resultado da sua práxis. 
Junto à liberdade, a palavra responsabilida- 
de (do latim, responder e) diz justamente 
da nossa condição em responder por aquilo 
que fazemos, que decidimos a todo 
momento. É o ato de justificar a nossa 
conduta de forma consciente. Se a 
liberdade é esse potencial, o livre-arbítrio 
poderá ser definido de uma forma um pouco 
diferente: diz do meio, do jeito que 
exercemos a nossa capacidade de sermos li- 
vres. A citação a seguir irá nos ajudar a com- 
preender a diferença entre os termos. 
 
Liberdade é a propriedade de um ser de realizar 
em plenitude a sua natureza. um homem é tanto 
mais livre, quanto melhor pode realizar a natureza 
humana, integral e harmonicamente. livre-arbítrio é 
uma faculdade do ser livre, pela qual pode agir ou 
não agir; agir desta ou daquela maneira. o livre-ar- 
bítrio é um meio de realizar a liberdade, e um meio 
ambíguo. bem empregado, liberta; mal empregado, 
escravisa. (ÁVILA, 2002, p. 27) 
 
Nesse contexto, sabemos que a conduta 
humana e as suas motivações jamais pode- 
rão ser decifradas. O homem não é um mo- 
delo matemático ou uma ciência empírica que 
pode ser inteiramente compreendida dentro 
de um laboratório. Ele é mais, muito mais, por- 
que é mistério. Mesmo que a ciência, por mais 
avançada que esteja, tente desvendar todos 
os segredos da mente, o seu funcionamento 
UNIDADE II: MORAL E PRINCÍPIOS ÉTICOS 
14 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
e as suas estruturas, o ser humano continuará 
sendo indecifrável. Assim, concluímos que so- 
mente por este motivo o homem é livre: nem 
ele e nem a sua ação cabem totalmente em 
definição alguma. 
 
FIG. 2 – Crítica à falta de ética 
 
Fonte: Imagem da internet 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE III 
ÉTICA E 
NORMAS 
UNIDADE III: ÉTICA E NORMAS 
16 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A palavra ética nunca esteve tão presente 
nos discursos, na escrita e, inclusive, em de- 
núncias como atualmente. Do grego ethikós, 
“costumes”, “comportamento”, a mesma diz 
respeito a uma parte da filosofia que “busca 
refletir sobre o comportamento humano sob o 
ponto de vista das noções de bem e de mal, 
de justo e de injusto” (COTRIM, 1993). 
 
Assim, com dupla finalidade, a ética elabo- 
ra princípios de vida para orientar o ser hu- 
mano rumo a uma ação moralmente correta 
e, também, busca refletir sobre estes mesmos 
sistemas morais elaborados pelo homem. Ou 
seja, a ética não apenas elabora as normas e 
condutas, mas também verifica as suas vali- 
dades e, entendido como necessário, executa 
mudanças nos padrões outrora estabelecidos. 
O caminho é, então, duplo: criar e resignificar. 
A ética, então, tem preocupações práticas: ela 
orienta-se pelo desejo deunir o saber ao fazer. 
Afinal, “a teoria sem a prática é estéril e a práti- 
ca sem a teoria é ingênua”, portanto, o 
resulta- do desta proposta será um interação 
dialética entre a reflexão e a ação exterior. 
Ser, saber e fazer são as dimensões básicas 
das ciências humanas, principalmente da 
filosofia. 
 
Desta forma, podemos perceber que há uma 
relação inerente à vida humana entre a von- 
tade do indivíduo (o desejo pessoal) e a força 
do coletivo(do grupal, daquilo que está para 
além de um interesse particular). Isso explica 
o porque de tantas ações judiciais e da enor- 
me demanda no campo da justiça e do direito, 
uma vez que como seres plurais, diferentes, 
de interesses cada vez mais individualistas 
(reflexo da nossa práxis, do nosso agir no 
mundo pós-moderno) temos caminhado rumo 
a eliminação da noção de alteridade (o ho- 
mem social interage e interdepende do outro). 
Então, aquilo que nos difere do outro, que nos 
faz únicos e individuais tem nos separado das 
pessoas, do coletivo, ao invés de simplesmen- 
te tornar-se uma ferramenta na construção de 
uma sociedade mais cooperativa, integrada e 
voluntária. 
 
A definição da palavra ética também pode 
ser encontrada em vários dicionários. Fazen- 
do uma interação entre o conceito e o campo 
da psicologia, encontramos a seguinte defini- 
ção de acordo com a APA: 
1. Ramo da filosofia que investiga tanto o conteú- 
do dos juízos morais (i.é., o que é certo e o que é 
errado) quanto da sua natureza (i.é., se tais juízos 
devem ser considerados objetivos ou subjetivos). 
O estudo do primeiro tipo de questão, às vezes, é 
chamado de ética normativa e do segundo de me- 
taética. Também denominada filosofia moral. 2. Os 
princípios de conduta moralmente aceitos por uma 
pessoa ou grupo ou considerados adequados a um 
campo específico (p. ex., ética médica) (APA, 2010, 
p. 391). 
 
3.1. AS NORMAS: 
Se a ética carrega consigo a consideração 
daquilo que o meio coletivo elabora a partir das 
UNIDADE III: ÉTICA E NORMAS 
17 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
noções de bem e de mal, as normas trazem 
consigo aspectos relacionados aos pradrões 
e valores que estão mais interligados a grupos 
específicos e não à instância universal. Assim, 
podemos dizer que as normas possuem, sim, 
um caráter ético, mas que a sua abrangência 
não se equipara às mesmas demandas da éti- 
ca, já que, conforme já foi dito, a mesma se 
destina a grupos específicos. Por norma, po- 
demos compreender, então: 
1. Padrão ou série de valores que representa o de- 
sempenho típico de um grupo ou um indivíduo (de 
uma certa idade, por exemplo) contra o qual podem 
ser feitas comparações. 2. A conversão de um es- 
core bruto em um escore graduado que é mais fa- 
cilmente interpretável, como percentís ou escores 
de QI (APA, p.652). 
 
Fica claro, assim, que a adesão humana de 
normas dentro de empresas, escolas, famílias 
e tantas outras instituições são adequadas a 
partir de características muito específicas de 
cada ambiente ou comunidade, já que não 
trabalham com valores universais enquanto 
ponto de partida qualitativos e quantitativos. 
Obviamente, esta diferenciação que aqui fa- 
zemos tem caráter pedagógico, já que adotar 
parâmetros normativos não exclui a adoção de 
valores universais simultaneamente. Vejamos 
alguns exemplos: 
Uma família decide que nenhum dos filhos ou 
filhas poderá levar as namoradas ou namora- 
dos para dormir em casa. Sobre este aspecto, 
estamos falando de uma norma reguladora, já 
que a mesma não pode ser considerada um 
valor universal: existem famílias que adotam 
esta prática, inclusive depois de várias dis- 
cussões e considerações sobre o caso. Por 
outro lado, esta mesma família pode adotar, 
ao mesmo tempo, valores como a liberdade 
de expressão, não proibindo que os filhos e fi- 
lhas discordem da decisão tomada pelos seus 
pais. Assim, se por um lado temos uma norma 
ligada a uma família específica (não levar na- 
moradas e namorados para dormir em casa) 
temos, por outro lado, a adoção de um 
valor ético universal (a abertura à liberdade 
de ex- pressão) dentro do mesmo ambiente 
(aquela família). 
 
Outro exemplo que pode ser elucidador diz 
das religiões. Enquanto algumas delas acre- 
ditam que a relação sexual deve ser pratica- 
da apenas depois do casamento, ou seja, a 
virgindade é um valor específico de algumas 
religiões, já que esta prática não é vista como 
um valor universal, algumas religiões propõem 
a paz, a liberdade e o amor como práticas ne- 
cessárias para a perpetuação da humanidade. 
Assim, se por um lado o valor específico sobre 
a virgindade (norma) fica evidente, por outro 
lado o discurso sobre a paz, a liberdade e o 
amor (valores éticos universais) também ocor- 
re de forma simultânea. 
 
3.1.1. A pessoa e a comunidade. 
Uma das funções da filosofia, especifi- 
UNIDADE III: ÉTICA E NORMAS 
18 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
cadamente da antropologia filosófica, é rela- 
cionar a intersubjetividade e a comunidade, ou 
seja, discutir o valor ético da sociedade. Para 
isto, esta reflexão pode ser demarcada a par- 
tir de dois conceitos tão fundamentais quanto 
extremistas: o individualisimo e o coletivismo. 
Segundo Rabuske (2003): 
O individualismo concebe toda forma de comuni- 
dade segundo o modelo do acordo ou contrato, 
que dois indivíduos estabelecem em vistas a um 
fim. Não se afirma que um contrato explícito esteja 
sempre na origem das instituições, mas que ele, 
implicitamente, é o que sustenta as instituições. 
Fundamentação ontológica: toda realidade é indivi- 
dual, apenas as substâncias individuais (pessoas) 
são reais no sentido forte do termo ‘realidade’ (RA- 
BUSKE, 2003, p. 150). 
 
Já por coletivismo, o autor considera “a 
comunidade como um todo que precede as 
partes” (ibdem, p. 150). Assim, Rabuske ele- 
ge o organismo com os seus membros, leis 
e princípios norteadores de constituição como 
o modelo ideal, sendo que a sua fundamen- 
tação ontológica, diferente da que ocorre no 
individualismo, funciona da seguinte maneira: 
O que tem unidade e forma própria, também tem 
um ser próprio; este abarca e domina os indivíduos 
como o todo abrange e domina as partes; portanto, 
a comunidade existe num sentido mais perfeito do 
que os indivíduos (ibdem, p. 150). 
 
Desta forma, a fundamentação ética dentro 
do campo do coletivismo não poderia ser dife- 
rente: o bem-estar comum estará sempre aci- 
ma da felicidade individual, o que nos leva a 
concluir que o homem só poderá encontrar a 
sua perfeição caso haja a realização do todo, 
com o devido merecimento do sacrifício indivi- 
dual em detrimento do coletivo. 
 
As duas perspectivas são válidas desde 
que mediatizadas: uma não pode existir 
sem a outra, o que favorece um movimento 
dialético entre comunidade e pessoa. Esta 
implicação nos fornece a ideia de que se 
há uma “identidade” do “eu”, isto se dá 
porque há uma mediatização social, sendo 
um exemplo claro desta afirmação a 
formação da identidade de uma criança: ela 
começa pela imitação. 
 
Resumindo, só há a pessoa porque há a so- 
ciedade e só há a sociedade porque existem 
diversas pessoas singulares, únicas. É muito 
constante a noção do senso comum da so- 
ciedade parecer como uma “nuvem” sobre as 
nossas cabeças.Esta concepção errônea aju- 
da inclusive a fomentar a ideologia de que nós 
indivíduos não somos tão responsáveis pelo 
que ocorre, já que “a sociedade” é quem faz 
isso ou aquilo. 
 
Portanto, cabem a cada um de nós, 
sujeitos particulares, mas inseridos no meio 
social, perceber que somos parte de um 
grande projeto chamado sociedade e que a 
supervalorização de um indivíduo em 
detrimento dos grupos ou a valorização 
apenas da maioria das pessoas sem levar 
em consideração as necessidades 
UNIDADE III: ÉTICA E NORMAS 
19 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
individuais de cada membro social é o que 
pode nos levar à ruína e a um grande “mal es- 
tar” nas relações. 
 
FIG. 3 – O individual e o social 
 
Fonte: Imagem da internet 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE IV 
ÉTICA E 
POSTURA 
PROFISSIONAL 
UNIDADE IV: ÉTICA E POSTURA PROFISSIONAL 
21 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4.1. O TRABALHO COMO PRODUTOR DE 
IDENTIDADE. 
Identidade (do latim idem: o mesmo, a mesma) 
segundo o dicionário de psicologia da Dorsch 
(2001) é “ a unidade e inalterabilidade última de 
um ‘si mesmo’ (coisa, indivíduo, conceito, etc) 
no que tem de próprio e dele mesmo. com isto, 
a identidade se distingui da igualdade, como li- 
mite de semelhança”(DORSCH, 2001, p.467). 
 
É válido ressaltar, como nos orienta Bauman 
(2001), que o conceito e, principalmente, o uso 
do termo identidade é essencialmente novo, 
visto que será com o nascimento da moderni- 
dade que o mesmo representará a substituição 
dos valores coletivos pela noção de homem en- 
quanto ser único. 
 
Ofator humano, ou seja, esta particularidade 
dentro das organizações que carece de contro- 
le absoluto, tem sido objeto de várias pesquisas 
e estudos, sobretudo em uma época em que 
o produto final está cercado pelas implicações, 
inclusive trabalhistas, nas quais o ser humano 
se envolve. Não são raras as pesquisas, os 
questionários (principalmente de marketing) 
nas quais nos submetemos vez ou outra na 
tentativa desesperada do mercado de compre- 
ender melhor o homem e os seus desejos, suas 
necessidades, transformando-os, então, em lu- 
cro. 
 
Uma das consequências de uma experiência 
laboral que desvincula o processo de produção 
da realização humana é o alto índice de adoe- 
cimento no trabalho, razão de elevado grau do 
famoso absenteísmo. Conforme afirma Maria 
das GraçasJacques(2003, p. 6) “a psicologia 
organizacional e do trabalho é convidada a au- 
xiliar na análise do homem versus trabalho e as 
suas implicações sobre o sistema produtivo e 
sobre o contexto socioeconômico”. 
 
Dessa forma, identidade propõe uma noção 
de estabilidade, remetendo-nos aos conceitos 
de igual e diferente, permanente e mutante, de 
individual e coletivo, quando nos referimos ao 
termo como oposto ao coletivo. Trabalho (do 
latim tripalium, instrumento de tortura e instru- 
mento de cultivo de cereais) faz alusão ao so- 
frimento. 
 
Na sociedade contemporânea, quando fala- 
mos do papel do trabalhador, estamos locali- 
zando um dos principais papéis sociais repre- 
sentativos do eu. Basta observarmos as nossas 
relações no trabalho para identificarmos uma 
hierarquia, que é, na maioria da vezes, 
vertical e que determina e condiciona o nosso 
modo de “ser-no-mundo” (expressão do 
filósofo existencialista Martin Heidegger,de 
1997, que diz da forma com a qual estamos 
inseridos nas nossas relações, da nossa 
existência enquanto modo). O homo faber 
(homem que faz) tomou o lugar do homo 
sapiens (homem que sabe) exatamente no 
momento em que o lucro passou 
UNIDADE III: ÉTICA E POSTURA PROFISSIONAL 
22 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
a ser o grande regulador das relações no tra- 
balho. Afinal, não seriam as palavras resultado, 
meta, prejuízo e produção as mais escutadas 
por nós no nosso ambiente de trabalho? 
 
Outro aspecto que evidencia a importância do 
homo faber é a respeitabilidade por quem quer 
que seja considerado um “homem trabalha- 
dor” ou uma “mulher trabalhadora”. Aquele ou 
aquela que se encontra em posição contrária 
é, por hora, considerado quase um objeto (um 
não sujeito), mesmo que momentaneamen- 
te. Oimaginário social será, assim, um parque 
de diversões nas construções acerca do que 
deve ou não deve ser um sujeito trabalhador. 
Também as “doenças dos nervos” ou as “crises 
nervosas” adentram o cotidiano trabalhista tal 
como as encefaléias, o que é considerado uma 
ameaça à identidade laboral. 
 
Assim, o trabalho é considerado na sociedade 
ocidental, na maioria das vezes, como aquilo 
que diz da nossa condição humana, daquilo 
que essencialmente nos faz diferentes do que 
não somos. É claro que esta perspectiva não 
passa de mais um dos componentes do capita- 
lismo. O mundo do trabalho se tornou o locusda 
mediação entre o homem, as suas relações e o 
seu produto. 
 
Outro aspecto válido de ressaltar é a deter- 
minação de gênero (masculino ou feminino) e 
a de classes sociais (pobre ou rico) que irão 
nortear o mundo do trabalho. A mulher, ainda 
no séc. XXI, ocupa lugar de desigualdade sa- 
larial em relação ao homem, mesmo depois 
de “tantos avanços” e a determinação de clas- 
ses talvez seja a mais relevante no que tange 
à identidade profissional. Assim, os processos 
identificatórios irão formar seus pares, o que 
significa que as relações no trabalho tendem a 
seguir uma ordem pré-estabelecida de grupos 
que se unem. A qualificação ou desqualificação 
do eu vai se organizando em torno da lógica da 
meritocracia (deve ser promovido quem mere- 
ce, sem serem observadas as condições que 
o sujeito teve para ser ou não promovido) e a 
formação de identidade, saudável ou adoeci- 
da, se instala. A aposentadoria pode se tornar, 
por tanto tempo sonhada, um pesadelo quando 
pensamos a lógica da produção. Ficar “atoa” na 
pós modernidade é considerado um “pecado 
social”. 
 
Desta forma, podemos considerar o trabalho 
como um grande labirinto que ora nos fortalece 
emocionalmente e empodera o eu, ora sujere 
um lugar desqualificado e de empobrecimento 
da auto estima e, consequentemente, das nos- 
sas relações socias. Formulários, entrevistas, 
redes sociais, roda de amigos: em todos es- 
tes lugares, não raro, acabamos misturando o 
“quem somos” com o “o que fazemos”. 
 
 
4.2. A POSTURA PROFISSIONAL EM TEM- 
UNIDADE IV: ÉTICA E POSTURA PROFISSIONAL 
23 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POS DE ÉTICA EM DESUSO. 
 
Tornaram-se incomuns os casos mostra- 
dos pela mídia onde pessoas desconhecidas 
são mostradas cometendo atos que, infeliz- 
mente, tornaram-se raros nas relações huma- 
nas. São homens e mulheres, geralmente tra- 
balhadores comuns, que encontram motantes 
de dinheiro e, o que nos assusta, ao invés de 
os tomarem para si, procuram os donos e de- 
volvem o dinheiro. O que deveria ser uma prá- 
tica comum, normal e corriqueira, acaba por 
tornar-se motivo de título de cidadão do bem. 
Assim, perguntamo-nos: que sociedadeé esta 
em que ficamos surpresos com a prática do 
bem e passivos ou acostumados com a prática 
do mal? 
 
A filósofaHannah Arendt (2001), autora de 
uma das obras mais importantes do século 
XX, trouxe à tona um dos conceitos mais co- 
nhecidos da filosofia, a “banalidade do mal”, 
um tipo de prática e característica cultural que 
não constitui o pensamento crítico, no qual o 
homem nega a si mesmo e ao outro ao fazer 
parte da “máquina do sistema”, deixando-se 
levar pelas relações de destruição e maldade 
exacerbadas e por acatar ordens e regras sem 
refleti-las, sem fazer qualquer tipo de exame de 
consciência relacionado as suas ações. 
 
A postura profissional, assim, está para muito 
além de “como se comportar numa entrevista 
de emprego” ou “as dez regras do que fazer e 
não fazer perto de um patrão”. Trata-se, então, 
de um modo de ser no mundo, nos dizeres do 
filósofo alemão MartimHeidegger (1997), de 
uma prática pautada pelo equilíbrio, pela aber- 
tura ao outro e pela certeza de que os valores 
humanas, mesmo em tempos de crise, preci- 
sam balizar a conduta dos indivíduos e grupos 
sociais. 
 
Por causa de um práxis que está pouco pau- 
tada nestes valores e nesta postura, os mais 
variados conselhos de ética necessitam im- 
plantar regras de funcionamento profissional 
para que as consultas de cada classe profissio- 
nal seja padronizada, pensando no bem-estar 
do homem e na nossa responsabilidade frente 
ao outro, seja ela ecológica, econômica, emo- 
cional, entre outras. 
 
4.2.1. Os códigos de ética. 
Na tentativa de fazer com que a prática tra- 
balhista tenho um valor coletivo e não apenas 
individual, foram criados os códigos de ética 
de várias profissões. Médicos, psicólogos, en- 
fermeiros, dentistas, enfim, os profissionais 
da maioria das áreas têm um conjunto de 
acordos estabelecidos a partir de um 
padrão ético e consensual e que estabelece 
diretrizes e limites para a sua conduta. O não 
cumprimento destes códigos poderá inclusive 
culminar na exoneração e na cassação do 
registro profissional de um trabalhador. 
UNIDADE III: ÉTICA E POSTURA PROFISSIONAL 
24 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No Brasil foi decretada e estabelecida, em 1º 
de maio de 1943, a Consolidações das Leis 
Trabalhistas (CLT), as quais norteiam a 
conduta do empregado e, também, do 
empregador. No caso de não cumprimento 
das mesmas, qual- quer uma das partes 
poderá revogar os seus direitos através das 
ações trabalhistas, reque- rendo o 
adequamento do que reza a CLT.Estes 
códigos são criados e revisados de acordo com 
a necessidade e as mudanças sociais, sem dei- 
xar de lado os princípios norteadores universais 
e nacionais e os documentos mais importantes, 
bem como a Declaração Universal dosDireitos 
Humanos (1948), a Constituição da República 
Federativa do Brasil (1988), dentre outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE V 
RELAÇÕES 
HUMANAS NO 
TRABALHO 
UNIDADE V: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO 
26 
Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esta unidade irá abordar alguns conceitos e 
discussões centrais sobre as relações humanas 
a partir do campo científico, de modo específico 
sobre o viés da metodologia do conhecimen- 
to. Desta forma, iremos refletir sobre o discurso 
científico, o discurso do senso comum, a rela- 
ção entre sujeito versus objeto, dentre outras 
temáticas. Também recorreremos à sociologia 
e à filosofia para explicar alguns fenômenos das 
relações humanas que influenciam diretamente 
nas relações trabalhistas, já que não é possível 
separarmos umas das outras, pois, como será 
visto, não é possível dissociar o homem do seu 
trabalho. 
 
 
5.1. A CIENCIA E O SENSO COMUM: MÉ- 
TODO E DISCURSO. 
Não é raro nos depararmos com notícias e re- 
portagens diárias falando de alguma descober- 
ta da ciência. Cura, evolução, avanço, pesqui- 
sa e descoberta são palavras que chegam aos 
nossos ouvidos e aos nossos olhos, deixando- 
-nos mais esperançosos e com um sentimento 
de progresso, de que a humanidade está no ca- 
minho certo. Mas, será que a ciência é, de fato, 
neutra? Ou ela está carregada de intenções? 
Como se “faz” ciência? Quais são seus princí- 
pios básicos? E o principal: o que é ciência? 
Antes de tudo, é válido fazer uma distinção. 
Os fenômenos naturais são aqueles que, 
dentro da pesquisa científica, possibilitam o iso- 
lamento de uma causa como, por exemplo: é 
consenso universal que a terra gira em torno 
do sol. Esta causa serve de base para vários 
estudos e não há necessidade de refutar a 
mesma. Os fenômenos humanos são o 
resultado de uma série de interação de 
causas como, por exemplo, a criminalidade 
está relacionada à pobreza, influência 
familiar, espaço geográfico, exclusão social, 
etc. Não há apenas uma causa universal que 
defina a criminalidade, ela não se reduz a um 
único fator. 
 
5.1.1. Uma definição generalista da ciência. 
Ciência é um saber organizado e metódico 
acerca de determinada realidade e suas pro- 
priedades à luz das causas que compõem tal 
realidade. Através desta definição, podemos 
perceber que sempre haverá necessidade de 
um método (do gregomethodos, que diz respei- 
to a um caminho para chegar a um fim), de um 
sujeito (aquele que se dispõe a percorrer um 
caminho em busca de um fim) e de um obje- 
to (aquilo que é estudado) para se “fazer” ci- 
ência. O discurso científico estará, geralmente, 
mesclado por uma determinada teoria (ciência 
pura) e a observação (ciência aplicada). 
 
A metodologia utilizada é composta por um 
conjunto de regras pré estabelecidas para re- 
alizar uma pesquisa (indagação, pergunta ou 
UNIDADE V: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO 
27 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
questionamento). Assim, toda pesquisa terá 
como pressuposto um conjunto de conheci- 
mentos ordenados, supostamente precisos, em 
relação a um determinado domínio do saber. 
A ciência trabalha com a ideia de progres- 
so, de continuidade, de evolução. Um exem- 
plo desta perspectiva no campo da biologia é 
justamente a Teoria da Evolução de Charles 
Darwin(ARAGUAIA, 2015)que, como sabe- 
mos, tem como uma das suas prerrogativas a 
constância, a manutenção e, inclusive, a sobre- 
vivência de determinada espécie em detrimen- 
to da sua maior adaptação ao meio ambiente. 
Desta forma, a ciência visa não apenas a uma 
regularidade, a um standard (padrão), mas 
também visa convencer a sociedade de que há 
uma rota, um caminho certo que estará sendo 
seguido. Algumas das ferramentas utilizadas 
nesta empreitada são a previsão e o controle. 
 
5.1.2. Método e discurso científico. 
Dessa forma, todo conhecimento humano, 
segundo a ciência, será traçado por meio da 
seguinte relação: 
FIG. 4 – Relações que produzem conhecimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Elaborada pelo autor 
A ciência considerando-se detentora de um 
saber ordenado, diz-se “senhora de si mesma”, 
possuindo os meios necessários e suficientes 
para estabelecer a verdade no seu domínio 
e alega que ninguém tem fundamentos para 
negar as verdades estabelecidas como tais. A 
ciência, intitula-se defensorada verdade. Se- 
gundo Edwin Guthrie(1966): 
[...] os eventos não podem ser ‘verdadeiros’ agora 
e tornar-se logo ‘falsos’, embora os enunciados a 
seu respeito possam ser aceitos num determinado 
momento e não no outro. quando dizemos, “pas- 
semos aos fatos”, o que estamos dizendo é muito 
mais de que devemos observar, ouvir, ou cheirar, 
ou tocar objetos reais. O que estamos realmente 
propondo é que procuremos todos descobrir certos 
enunciados sobre os quais possamos concordar 
unanimamente (GUTHRIE, 1966, p. 76) 
 
5.1.3. O senso comum. 
Em “Filosofia da Ciência: Introdução ao Jogo 
e suas Regras”, Rubem Alves (2000, p. 45) es- 
tabelece que “não importam as diferenças que 
separam o senso comum da ciência: ambos 
estão em busca da ordem”. Para o filósofo, há 
uma exigência de ordem que é inerente à so- 
brevivência humana; não há vida sem ordem 
e nem comportamento inteligente sem ela. Se- 
gundo Prescott(1961, p. 83), “o indivíduo deve 
sentir que vive num ambiente estável e inteligí- 
vel, no qual sabe o que fazer e como fazer”. 
 
A inspiração mais profunda da ciência, então, 
não é um privilégio da mesma, dado que o de- 
 
Sujeito Objeto 
 
 
 Saber Científico 
 
UNIDADE V: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO 
28 
Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
sejo pela ordem é de caráter mais primitivo. A 
prova disso é que se não necessitássemos da 
ordem para sobreviver, não a procuraríamos. 
Desta maneira, a ciência (busca da ordem) é 
uma função da vida. “Uma ciência que se divor- 
ciou da vida perdeu sua legitimação”, corrobora 
Rubem Alves (2000, p. 45). A ordem, então, não 
é algo evidente, mas, sim, uma elaboração hu- 
mana. 
 
Nesse contexto questiona-se: qual a diferença 
da ordem do senso comum e da ordem da ciên- 
cia? A primeira busca satisfazer o desejo. Já a 
segunda, a da ciência, busca a imparcialidade 
e a objetividade. A ordem da ciência é invisível, 
universal e já que não está tão clara, pois care- 
ce de maior elaboração; podemos dizer que a 
mesma “dá mais trabalho” para ser estabeleci- 
da. Não é possível negar, entretendo, que essas 
duas modalidades apresentam visões de ordem 
muito diferentes uma da outra. Uma pergun- 
ta que pode ajudar é: o seu comportamento é 
“científico”? Os seus desejos, sonhos e agir são 
demasiadamente organizados? Como você os 
descreve? 
 
O mundo humano está organizado a partir dos 
desejos e é do desejo que surge a música, a 
arte, a pintura, a religião, entre outros produtos 
“demasiadamente humanos”, como diria Nietzs- 
che(2012). Note que a afirmação relaciona as 
palavras ordem e desejo. Mas, então, qual a di- 
fença da ordem científica para a ordem do senso 
comum? Para Alves (2000, p. 62) “os esquemas 
do senso comum são absurdos, enquanto isso 
não acontece com a ciência”. Absurdo, aqui, não 
denota aquilo que não poderia ser, mas a prer- 
rogativa de que o mundo de cada um é sem- 
pre lógico do seu próprio ponto de vista.Como 
visto com Guthrie (1966), para fazer ciência, o 
senso comum costuma ser menosprezado pe- 
los pesquisadores. Isso ocorre pelo fato de que 
o mesmo não pretende à verdade universal, à 
objetivação dos fenômenos e à ordem universal. 
 
E no caso das ciências humanas é possível fa- 
lar em uma ordem científica? O homem é um ob- 
jeto de estudo controlável cientificamente? Aqui, 
caímos em um dilema epistemológico: o homem 
é sujeito e objeto de si mesmo. Este mesmo 
que pesquisa, que observa que quer controlar 
é, simultaneamente, o objeto estudado, 
pesquisado, controlado. Esta ambivalência 
estabelece aquela interação de causas que já 
foi contemplada e deflagra a dificuldade que o 
ser humano tem de falar de si mesmo. Afinal, 
como estabelecer verdades universais de um 
obejto que varia tanto? 
 
Desta forma, podemos concluir que o discur- 
so do senso comum e o discurso científico nas- 
cem da mesma necessidade e intenção: esta- 
belecer a ordem. Porém, as formas como os 
UNIDADE V: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO 
29 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
mesmos se apresentam e a maneira como são 
abordados é que irão balizar as suas diferen- 
ças e aplicações. 
 
5.2. CIÊNCIAS HUMANAS: BASES FILO- 
SÓFICAS 
 
“Uma vida sem busca 
não é digna de ser vivida” 
(Sócrates) 
 
Segundo o Dicionário de Filosofia, de Mora (1978): 
 
O significado etimológico de filosofia é “amor à sabe- 
doria”. A concepção da filosofia como uma procura da 
filosofia por ela própria conclui numa explicação do 
mundo que utiliza um método racional-especulativo, 
coincida ou não com a mitologia. Desde então o termo 
filosofia tem valido com frequência como expressão 
desse “procurar a sabedoria”. Inicialmente, com efeito, 
a filosofia estava misturada com a mitologia e com a 
cosmogonia; isto tem levado a perguntar-se se a filoso- 
fia grega carece de antecedentes ou não. Alguns au- 
tores indicam que as condições históricas dentro das 
quais emergiu a filosofia (fundação de cidades gregas 
nas costas da Ásia menor e no sul da Itália, expansão 
comercial etc.) são peculiares da Grécia e, portanto, a 
filosofia só podia surgir entre os gregos. Outros assina- 
laram que há influências orientais, por exemplo, egíp- 
cias. Outros, finalmente, indicam que na China e espe- 
cialmente na Índia houve especulações que merecem, 
sem restrições, o nome de filosóficas. Qualquer que 
seja a posição que se adote, é forçoso reconhecer por 
sentido que o termo filosofia atingiu a sua maturidade 
apenas na Grécia (MORA, 1978, p. 45). 
 
5.2.1. Pós-modernidade: afinal, quem so- 
mos e onde estamos? 
 
“Se Deus não existe, tudo é permitido” 
(Dostoievski) 
 
A nossa cultura, aqui entendida como oci- 
dental, é vista tanto como fonte de progresso e 
berço da ciência moderna, como de destruição 
do planeta, dilapidação dos recursos naturais 
e empobrecimento das relações humanas, 
tendo como um dos principais motivos as leis 
que regem o capitalismo neoliberal: já faz 
tempo que trocamos o ser pelo ter. A posse 
(materialismo) estrangulou o estatuto da 
essência (ontologia). Assim, a técnica foi a 
chave-mestra que iniciou essa engrenagem 
multifacetada que chamamos de pós-
modenidade (ou hipermodernidade- de?). 
De acordo com Rabuske (2003), podemos 
falar da cultura sobre dois polos: o da cultura 
tradicional e outro que se refere à cultura tec- 
nocentrista. A primeira diz respeito às coisas 
do espírito: filosofia, ética, artes, religião. Esta, 
como já vimos na unidade anterior, tem suas ra- 
ízes na Grécia antiga e na bíblia 
(cristianismo). Já a cultura tecnocentrista trás 
em seu seio um aspecto de indiferença à 
existência do homem enquanto essencial. 
Aqui, cabe a pergunta: qual é, então, a visão de 
homem que temos? O que é o homem para 
nós, sujeitos pós-modernos? 
É possível conciliar estes dois polos? Segun- 
do o autor, o que se percebe é uma mediação 
UNIDADE V: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO 
30 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
feita pelo homem: ele extrai elementos dos dois 
polos a seu favor, seja o enraizamento que foi 
lhe dado pela cultura tradicional, sejam os ins- 
trumentos eficazes ofertados pela pós-moder-nidade. Desta forma, cabe-nos estar atentos 
aos limites de cada um destes polos. Precisa- 
mos refletir sobre as possibilidades de exage- 
ros oriundos de cada uma dessas vertentes, no 
anseio de adotarmos uma posição madura e 
saudável no que tange as nossas relações, 
prá- ticas e produções. Como podemos 
perceber esta ambivalência no mundo do 
“trabalho”? Como podemos colocar o 
sistema da ciência (ação) e o sistema do 
homem (vontade) em consonância? 
 
De acordo com Rabuske (2003), a cultura 
também é considerada um sistema, na qual a 
existência humana (vontade, desejo) e a sua 
ação (atividade, produção) podem se interpre- 
tar e conectar. Mas, esse tipo de conexão nunca 
será total, dada a complexidade do ser humano 
e o seu movimento dialético. Haverá sempre 
uma nova necessidade de interpretação que 
carecerá por mais uma outra e, assim, infinita- 
mente. Para Ladrière (1978), trata-se de fazer 
um “meio-de-campo” entre a esfera íntima e a 
esfera pública. O refúgio em apenas uma delas 
não poderá ajudar o homem a ser gerenciador 
da ciência, em vez de gerenciado por ela. 
5.2.2. A modernidade líquida de Zygmunt 
Bauman. 
Para Bauman (2001), as diversas modi- 
ficações sociais que estamos experimentando 
de forma cada vez mais fugaz fazem com que 
os laços sociais fiquem cada vez mais líquidos 
(sem consistência). A individualização, o desa- 
pego e a rápida exclusão de tudo aquilo que 
se torna rapidamente obsoleto serão as mar- 
cas principais dos nossos relacionamentos, 
ou seja, vivemos a era da “descartabilidade”. 
O anonimato nas grandes metrópoles e nos 
centros urbanos contribuem para a invisibilida- 
de do homem, o que nos gera uma sensação 
de “liberdade”. Aqui, cabe lembramos a música 
Quatro Vezes Você, da banda Capital Inicial, do 
álbum Rosas e Vinhos (2002), que retrata jus- 
tamento a invisibilidade contemporânea: 
 
“Rafaela está trancada há dois 
dias no banheiro 
enquanto a sua mãe 
toma prozac, enche a cara 
e dorme o dia inteiro 
parece muito, mas podia ser 
Carolina pinta as unhas roídas de vermelho 
em vez de estudar 
fica fazendo poses 
nua no espelho 
parece estranho, mas podia ser 
O que você faz quando 
UNIDADE V: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO 
31 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ninguém te vê fazendo 
ou o que você queria fazer 
se ninguém pudesse te ver” 
 
(banda Capital Iinicial) 
 
Desta forma, as responsabilidades se en- 
contram reservadas às esferas individuais, 
argumento típico do sistema neoliberal con- 
temporâneo: o setor público perde as suas res- 
ponsabilidades frente à liberdade e a autonomia 
das pessoas individuais. As empresas privadas 
é que irão reger, embora não tenhamos tanta 
noção disso, o sistema. O que isso reflete nas 
relações humanas? Mercantilizamos a relação 
eu-outro e os laços encontram-se frágeis. 
Namoros, casamentos, amizades e até a 
nossa durabilidade nas empresas estão em 
risco, pois o compromisso agora é individual. 
A nossa tão sonhada liberdade e 
individualidade, solicita- das na Revolução 
Francesa, no iluminismo e nas nossas 
passeatas parecem ter-nos dado em troca uma 
espécie de ressaca existencial. 
 
Diz-nos Bauman (2001): 
 
Os fluidos se movem facilmente. Eles ‘fluem’, ‘escor- 
rem’, ‘esvaem-se’, ‘respingam’, ‘transbordam’, ‘vazam’, 
‘inundam’, ‘borrifam’, ‘pingam’, são ‘filtrados’, ‘destila- 
dos’; diferentemente dos sólidos, não são facilmente 
contidos – contornam certos obstáculos, dissolvem 
outros e invadem ou inundam seu caminho [...] asso- 
ciamos ‘leveza’ ou ‘ausência de peso’ à mobilidade e à 
inconstância: sabemos pela prática que quanto mais 
leves viajamos, com maior facilidade e rapidez nos mo- 
vemos (BAUMAN, 2001, p. 8). 
 
É justamente essa liquidez ou esse excesso 
de afrouxamento nas relações modernas que 
nos trancaram em casa com medo, síndrome 
do pânico, depressão, sentimento de solidão e 
ansiedade. Ganha notoriedade, então, a figura 
do “consumidor”, considerado cidadão por sta- 
tus, o comprador será a grande força que impul- 
siona e mantém a dinâmica rápida e constante 
de mudanças no mercado. Afinal de contas, 
quanto mais compramos, mais podemos agili- 
zar o processo de fluidez das coisas. O celular, 
o carro e a roupa de poucos meses atrás já não 
nos servem, pois estão ultrapassados. E o na- 
moro? E o casamento? Será que também não 
estão? Quem são, então, aqueles que não con- 
tribuem para este tipo de dinâmica? 
[...] tendem a serem as partes mais dispensáveis, dis- 
poníveis e trocáveis do sistema econômico. Em seus 
requisitos de empregos não constam habilidades par- 
ticulares, nem a arte da integração social com clien- 
tes – e assim, os mais fáceis de substituir têm poucas 
qualidades especiais que poderiam inspirar seus em- 
pregados a desejar mantê-los a todo o custo; contro- 
lam, se tanto, apenas parte residual do poder de bar- 
ganha. Sabem que são dispensáveis, e por isso não 
veem razões para aderir ou se comprometer com seu 
trabalho ou entrar numa associação mais durável com 
seus companheiros e trabalho. Para evitar frustração 
iminente, tendem a desconfiar de qualquer lealdade 
em relação ao local de trabalho e relutam em inscrever 
seus próprios planos de vida em um futuro projetado 
para a empresa. É uma reação natural à “flexibilidade” 
do mercado no trabalho, que, quando traduzida na ex- 
periência individual da vida, significa que a segurança 
UNIDADE V: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO 
32 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
de longo prazo é a última coisa que se aprende a as- 
sociar ao trabalho que se realiza (BAUMAN, 2001, p. 
174-175). 
 
 
5.2.3. Organizações e instituições. 
Oinstitucionalismo conceitua a sociedade 
como a forma organizada da associação huma- 
na e a história como o devir da sociedade no 
tempo. Mas, antes de darmos sequência aos 
conceitos, podemos nos perguntar: qual é ou 
quais são as funções das instituições na vida 
humana? 
 
SegundoBaremblitt (1995), a sociedade é 
uma rede, um tecido de instituições. As instiui- 
ções são lógicas, que podem ser leis, normas 
ou, até mesmo, hábitos ou regularidades de 
comportamentos, dependendo da forma como 
estão colocadas e situadas na sociedade. As 
leis e normas geralmente estão escritas, mas 
outras formas de institucionalização estão pre- 
sentes no mundo sem que haja tal formaliza- 
ção. No entanto, nas suas maneiras, podemos 
dizer que há uma lógica que visa regularizar a 
atividade humana. Portanto, as instituições e 
suas lógicas existem como ferramenta de pro- 
teção da vida humana (a princípio seria este o 
seu primeiro ofício) que funcionará através de 
uma série de convenções sociais que irão for- 
malizar e orientar a atividade das pessoas. Esta 
lógica, que nem sempre é possível ser perce- 
bida de forma clara, diz daquilo que as coisas 
são e não são, do que pode e não pode ser 
realizado, por exemplo. 
 
O autor trás no seu compêndio de análise ins- 
titucional um exemplo de instituição que não é 
materializável, mas que organiza e define as 
formas de comunicação humana: a linguagem. 
Assim, com a gramática (conjunto de regras e 
formas sobre a linguagem) podemos criar um 
mundo infinito de mensagens, mas estas estão 
organizadas por, pelo menos, um conjunto de 
regras indispensável. Não conhecê-la ou não 
fazer uso daquilo que consideramos o básicoda língua acarreta-nos um preço: a impossíbili- 
dade da comunicação. 
 
Outro exemplo de instituição, talvez mais fá- 
cil de ser apreendida, é a que regula os graus 
de parentesco: pai, mãe, irmão, irmã, sobrinho, 
entre outros são funções e papéis sociais com- 
preendidos quase que por todo cidadão adul- 
to. Não é atoa que quando estas funções não 
são exercidas com a “regularidade” esperada, 
cria-se um discurso pedagogizante, ou seja, de 
correção em relação aos “desvios”. Aqui, cabe- 
-nos também fazer uma análise, inclusive insti- 
tucional: como vemos as funções sociais acima 
relatadas? Para você, o que seria a instituição 
família? Como andam as funções sociais nas 
novas modalidades familiares? 
Não poderíamos deixar de lado a institui- 
UNIDADE V: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO 
33 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ção que mais nos interessa aqui: o trabalho. 
Como um dos maiores mecanismos de pro- 
dução de identidade, o trabalho também 
apresenta as suas lógicas e formatos, tanto 
que aqui no Brasil temos como seu principal 
regulador a CLT.A divisão do trabalho, uma 
das suas lógicas, se dá não necessariamen- 
te pela importância produtiva daqueles que 
detêm estes lugares, mas pelo seu prestígio 
e lucro. Se fosse o contrário, o lixeiro, o pa- 
deiro e a empregada doméstica seriam talvez 
os mais bem assalariados no mercado. Isso 
revela que vivemos em um sistema que 
enfatiza o status e o resultado final de 
produção. Afinal, não seriam estes 
trabalhadores os que estariam lidando com 
necessidades mais que básicas e 
essenciais? 
 
Desta forma, educação, justiça e religião 
seriam também tantas outras modalidades 
de instituições que nos cercam, protegem e 
regulam. Aqui está um dos axiomas do so- 
ciólogo polonês Zigmunt Bauman: vivemos 
esbarrando em duas necessidades essen- 
cias:a liberdade e a segurança, que se 
apre- sentam como uma faca de dois gumes 
e que tem as instituições como as principais 
fontes de regulamento das mesmas. 
Quanto mais conectados às instituições, 
menos livres; quanto mais livres delas, 
menos seguros. 
Analisadas sob a ótica do invisível, as institui- 
ções se diferem das organizações, que são a 
forma “materializada” das mesmas, como “dis- 
positivos concretos”. Se não é possível “ver” 
a educação, a família, a justiça, etc, podemos 
perceber as organizações mais concretamente. 
Diz-nos Baremblitt (1992): 
 
As organizações são grandes ou pequenos conjuntos 
de formas materiais que concretizam as opções que 
as instituições distribuem e enunciam. Isto é, as insti- 
tuições não teriam vida, não teriam realidade social se- 
não através das organizações. Mas as organizações 
não teriam sentido, não teriam objetivo, não teriam 
direção se não estivessem informadas como estão, 
pelas instituições (1992, p. 27). 
 
“Abaixo” das organizações, podemos perce- 
ber ainda mais nitidamente os estabelecimen- 
tos, que são formas menores de materialização 
das instituições. Assim, uma “escola” seria um 
estabelecimento da organização “Ministério da 
Educação”, e a “educação” seria a instituição 
das mesmas. 
 
Escolas, fábricas, indústrias, lanchonetes, 
bancos, quartéis, todos estes são estabeleci- 
mentos que remetem às organizações e que 
também remetem às instituições. Podemos 
afir- mar, assim, que há todo um complexo 
que nos envolve e nos organiza em 
sociedade, dando- 
-nos a segurança que solicitamos, mas tam- 
bém castrando-nos, às vezes, no que tange à 
liberdade. Ainda depois dos estabelecimentos, 
UNIDADE V: RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO 
34 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
temos a categoria dos equipamentos: maquina- 
rias, instalações, arquivos, aparelhos, mesas, 
cadeiras, entre outros. 
 
Instituição – organização – estabelecimento 
– equipamento, tudo isso, naturalmente, soad- 
quire dinamismo através dos agentes, que são 
os seres humanos, ou seja, cada um de nós 
que acorda, levanta, se dispõe a trabalhar e a 
ser o grande gestor de todas as outras entida- 
des acima enunciadas. Da cadeira ao Ministé- 
rio da Justiça, do lápis à educação, todos nós 
somos os grandes gestores desta rede imensa 
que chamamos de sociedade e cada ato, cada 
avanço ou retrocesso irá delinear os resultados 
presentes e futuros. O que nos ocorre, infeliz- 
mente, é que estas unidades são confundidas. 
Numa instituição, iremos encontrar duas ver- 
tentes diferentes, mas que se conectam e co- 
municam a todo momento: o instituinte, que diz 
respeito à aquilo que está em devir, em movi- 
mento e é o inacabado em uma instituição; e o 
instituído, que diz respeito àquilo que está cris- 
talizado, que não muda, que é essencial para 
uma instituição. 
 
Nesse cenário, como pode ser percebido, as 
relações humanas dentro do campo do conhe- 
cimento científico pode ser analisado a partir de 
conceitos centrais como ciência, senso co- 
mum, filosofia, método e discurso, entre outros. 
Desta forma, cabe ao pesquisador entrar sem- 
pre em contato com a literatura universal e na- 
cional a respeito desta temática que, como já é 
esperado, não pode se exaurir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE VI 
MARKETING 
PESSOAL 
UNIDADE VI: MARKETING PESSOAL 
36 Todos os direitos autorais desta apostila foram cedidos ao Júlio Martins e registrado na Biblioteca Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Com o rápido avanço da tecnologia, o maior 
acesso à educação nos últimos tempos e o 
contato com a informação de forma veloz e prá- 
tica vem tornando o mercado de trabalho cada 
vez mais exigente em relação ao processo de 
seleção e contratação dos seus colaboradores. 
Obviamente, o capitalismo neoliberal que é re- 
sultado da competitividade e do consumismo 
desenfreados do homem contemporâneo tem 
fomentado algumas práticas empresariais que 
fogem do que rezam as leis trabalhistas, não 
sendo raros os casos de relações profissionais 
pautadas pelo desrespeito a algumas questões 
básicas como salários justos, carteiras assina- 
das, férias, comissões regulamentadas, etc. 
Por isso, o marketing pessoal mais bem pla- 
nejado que podemos pensar trata-se, primeira- 
mente, da ação de um indivíduo que, além de 
saber dos seus direitos e deveres, saiba tam- 
bém assegurá-los. A princípio, o primeiro e mais 
importante marketing pessoal é o exercício da 
cidadania, já que ele é, em primeiro lugar, uma 
postura de vida. 
 
 
6.1. DEFINIÇÃO 
A palavra marketing, de origem da língua in- 
glesa, já está inserida em nosso contexto por 
muitos anos. Desta maneira, esta palavra foi 
o que costumamos dizer “aportuguesada”, tal 
como a palavra show, ou seja, não utilizamos 
a forma traduzida. A prova disso é que, tanto 
pelo dicionário da Oxford, quanto pelo 
dicionário Longman, o significado de 
marketing é a própria palavra, ou seja, não 
há tradução. Todavia, quando pensamos na 
expressão marketing pessoal, podemos 
recorrer à tradução de Market, que significa 
feira, mercado. Desta forma, fazemos uma 
analogia e consideramos a expressão como 
“a venda de uma imagem pessoal” ou “a 
promoção de uma pessoa rumo ao sucesso”. 
Assim, recorremos às considerações iniciais e 
correlacionamos à definição do termo com a 
prática da cidadania,

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