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CENÁRIO ECONÔMICO MUNDIAL AULA 2 Prof. Leonardo Mèrcher 2 CONVERSA INICIAL Olá! A partir de agora iniciaremos nossa segunda etapa do módulo de Cenário Econômico Mundial. Veremos aqui que cada nação se encontra em um nível distinto de desenvolvimento econômico, bem como mantém modelos econômicos e de mercado próprios. Entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento estão nações de mercado aberto, em abertura e fechado. Além disso, as empresas privadas também lidam com empresas estatais – as maiores empresas do mundo são estatais chinesas – assim como muitos governos interferem no comércio por meio da diplomacia econômica, empresarial e presidencial. O cenário de integração regional também será tratado mais uma vez em nosso módulo, especialmente no que tange as etapas de integração que distinguem os blocos econômicos e interferem na ação empresarial e no comércio exterior regional. O livre mercado e a integração econômica, duas etapas distintas nesse processo de criação dos blocos, orientam estratégias diferentes para o comércio intrabloco, interblocos e transbloco. Vale a pena ressaltar ainda que as empresas também participam de debates e posicionamentos dentro de muitos desses processos de integração, como acontece no Mercosul – o qual mantém representantes sempre que possível acompanhando os processos decisórios e opinando em consultas públicas. De modo geral, o objetivo do presente conteúdo é mostrar que não existe uma economia mundial simplificada, ou seja, igual para todos e com os mesmos efeitos comerciais. Cada local no mundo está sob influência das dinâmicas econômicas de suas nações, empresas e mercados, bem como do nível de desenvolvimento e de abertura dos mercados. Uma única política econômica dos Estados Unidos, da China ou da União Europeia pode impactar diferentemente diversos setores econômicos e também as políticas econômicas nacionais ao redor do mundo. Por isso, é importante também entender que a ação internacional das empresas pode ocorrer de forma autônoma, ou seja, estudando o cenário econômico mundial e decidindo seu caminho, mas também pode ocorrer em apoio dos governos. A diplomacia presidencial brasileira, nos últimos anos, mostrou-se fortemente vinculada à diplomacia comercial e empresarial. Encontros diplomáticos entre chefes de Estados e empresários, bem como 3 cúpulas internacionais, associaram ainda mais o mercado e o comércio internacional ao cenário econômico e às relações internacionais. Além desse avanço, no entanto, é preciso compreender que algumas empresas também criam possibilidades de responsabilidade e mudam, pouco a pouco, o futuro econômico global. Iniciativas como o Pacto Global entre empresas e a ONU estipularam medidas para o desenvolvimento sustentável. Hoje a economia mundial e as demandas comerciais exigem responsabilidades de produção e gestão dos Estados e de suas empresas. Se antes a produção buscava apenas a eficiência ao diminuir custos para aumentar o lucro e a produtividade, hoje a eficiência é associada à capacidade de produção de forma sustentável – ou seja, que dê maneiras para a natureza se recompor às futuras gerações, sem perdas significativas a médio e longo prazo. Essas mudanças de produção impactaram o cenário econômico do século XXI, que não pensa mais a economia e o mercado como apenas dinâmicas de interesses comerciais, mas também de interesses sociais e de desenvolvimento sustentável. O quadrado do desenvolvimento sustentável, defendido pela ONU e por outros organismos internacionais, entende que mercado e economia, sociedade, cultura e meio ambiente devam andar juntos em qualquer plano estratégico de desenvolvimento ou de investimentos de capital. Cabe ao Estado e às empresas a responsabilidade pelo desenvolvimento de todos e a manutenção dos recursos da humanidade. Com essas reflexões iniciamos agora nosso conteúdo sobre como a relação entre empresas e governos faz parte do atual cenário econômico mundial. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Se os governos regulam os mercados internos com suas leis e instituições de fiscalização, o mercado internacional ocorre em um ambiente sem um governo, já que não existe um governo mundial. No entanto, nem por isso deixa de existir uma governança: diversos regimes e instituições regulam o mercado mundial. Mas e a economia? Como um campo resultante da ação de diversos governos e empresas, a economia mundial também se utiliza de alguns parâmetros que denominamos sistema financeiro internacional. Enquanto o mercado recebe as práticas de compra e venda, de negociações e outras dinâmicas empresariais e governamentais, o sistema financeiro internacional é dado por regras estabelecidas por comunhão dos 4 governos estatais sobre lastro, protecionismo, integração regional e combate a especulação e crimes financeiros nacionais e internacionais. Por isso, indiretamente, o cenário econômico mundial possui dois pilares de ordenamento e governança: as regras nacionais e internacionais do mercado; e as regras nacionais e internacionais do sistema financeiro. Em ambos os casos as políticas fiscais e cambiais dos governos, bem como a fiscalização de práticas empresariais – como crimes de responsabilidade e ambientais – ajudam a criar uma rede de boas práticas que se interligam e sustentam os fluxos e as regras implícitas da economia mundial. Nesse contexto, vale ressaltar que governos e empresas buscam os próprios interesses, mas ainda assim passam, em muitos casos, a atuar em conjunto para estabilizar os processos e as dinâmicas comerciais, financeiras, políticas e econômicas internacionais. A relação entre empresas e Estados, portanto, é um ponto importante para o futuro profissional de comércio exterior por trazer informações sobre como a economia mundial se organiza em sua diversidade de formas e resultados. Se não existe uma única economia mundial, é possível dizer que em todas as suas formas as fontes de origem são praticamente as mesmas: a relação entre mercados, finanças e governos. Pesquise Se o mundo não possui um governo mundial, então o que é a Organização das Nações Unidas? Não seria o secretário-geral da ONU o presidente da organização e o presidente do mundo? Não seria ele a maior autoridade política acima dos presidentes dos países? Como a ONU se impõe aos interesses econômicos dos diversos Estados que a compõem e faz cumprir suas recomendações? Essas e tantas outras perguntas são frequentes quando se estuda a economia mundial e as bases de sua estabilidade e ordem. Ao saber que o cenário internacional é anárquico, o primeiro pensamento é que o mundo é um caos sem regras. Mas o fato de não existir um governo mundial não significa que não exista ordem dentro dessa anarquia em que os Estados se relacionam. Para saber um pouco mais sobre como as regras funcionam internacionalmente, mesmo sem um governo para impor direitos e deveres, é importante estudar e pesquisar um pouco mais sobre governança, regimes e 5 organizações internacionais que se preocupam com a economia mundial. Autores como Stephen Krasner, Joseph Nye e John Ruggie escreveram muitos artigos sobre esse tema, cada qual com sua visão peculiar. Mas o que todos concordam é que, de fato, não existe um governo mundial e a ONU é apenas uma organização feita por Estados (e abaixo dos Estados) com poder de decisão. As suas recomendações são cumpridas mais pelo medo da coerção do coletivo (ou seja, dos demais Estados) do que pelo uso da força da ONU, que não possuiesse recurso. Logo, cumprem as recomendações da ONU aqueles que querem cumprir, inclusive em seus modelos econômicos. Já o secretário-geral da ONU é apenas chefe de um dos seis órgãos da instituição, que é o órgão administrativo denominado Secretaria Geral das Nações Unidas. Portanto, ele não é o presidente da ONU, mas apenas o responsável por facilitar a administração dos demais órgãos que gozam de autonomia decisória em relação a ele. O mundo não possui um presidente, apenas regimes e boa vontade dos Estados em fazê-los cumprir, cabendo à ação coletiva dos Estados pressionar pelo seu cumprimento, mas sempre garantindo o direito à soberania — ou seja, que cada Estado respeite o território e as políticas econômicas nacionais de cada um. Para saber mais sobre governança global e economia acesse o site da ONU Brasil, disponível em <http://www.onu.org.br/>. Lá você encontrará muitas informações sobre governança, regimes, empresas e suas relações com as organizações internacionais, bem como outros temas tratados pelos Estados, como o regime do comércio e do sistema financeiro internacional. TEMA 1 – CENÁRIO POLÍTICO E ECONÔMICO INTERNACIONAL Dentro de um Estado é fácil saber quais são as regras a serem seguidas em um processo de negociação, comercialização ou gestão empresarial. O Contrato Social que cada sociedade firma, que no caso do Brasil é a nossa Constituição Federal de 1988, estabelece as regras e normas mínimas para que a ordem seja mantida. O que pode e o que não pode ser feito estará sempre respaldado na Constituição Federal (no Estado) ou terá abertura para novos debates sobre novos desafios. Mas o que acontece internacionalmente? Como ficam as dinâmicas internacionais? É importante destacar que, dada a natureza anárquica do cenário internacional (ou seja, o fato de não existir um governo mundial para impor regras a todos), os Estados criam conjuntos de tratados 6 bilaterais e multilaterais para favorecer o comércio e as relações econômicas entre as nações. Esses conjuntos de tratados entre Estados criam também regulações (acompanhamento das dinâmicas) e regulamentações (direitos e obrigações das partes). Esses conjuntos de tratados em temas específicos são denominados regimes internacionais. Com o intuito de trazer mais segurança e tranquilidade entre as partes em comércio internacional, os Estados estabelecem regimes internacionais de comércio, sistema financeiro, ajuda financeira e desenvolvimento econômico e social. Esses regimes possuem formas diversificadas, mas os que os une em uma única classificação é que são feitos pelos Estados e para os Estados de livre participação. Nenhum regime é imposto a um Estado. Contudo, permanecer fora de um regime pode levar a perdas ao Estado, como pouca proteção internacional, violação de direitos comerciais e não ter a quem pedir ajuda ou denunciar outros Estados que se mostrem corruptíveis. Por isso participar de regimes internacionais é sempre um bom caminho aos Estados que, por sua vez, regulam e regulamentam as práticas das empresas. Por mais que muitos Estados possuam economias políticas distintas, desde economias socialistas até as neoliberais1, todos regulam a ação do mercado por meio de políticas públicas, como as de câmbio, de juros e fiscais. Mas a diferença de economias e mercados em cada Estado cria um cenário complexo de se analisar. Como um futuro profissional de comércio exterior, é importante entender essas peculiaridades. De modo geral, existem três tipos de estágios de desenvolvimento econômico hoje: nações desenvolvidas, em desenvolvimento, e não desenvolvidas ou subdesenvolvidas. O cenário econômico mundial é recortado por algumas poucas nações desenvolvidas, uma grande parcela em desenvolvimento e um grupo menor não desenvolvido. E de onde e como surge essa classificação do que é e do que não é desenvolvido? Resumidamente, existe uma convenção (consenso) no Sistema ONU (ou seja, a ONU e suas organizações internacionais, como o Banco Mundial) que estabelecem critérios de desenvolvimento econômico, como saneamento básico, formação intelectual 1 Para saber mais sobre esses termos, acesse o artigo do professor Maximiliano Martim Vicente, denominado “A crise do Estado de bem-estar social e a globalização”, disponível em <http://books.scielo.org/id/b3rzk/pdf/vicente-9788598605968-08.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2017. 7 da mão de obra (tempo de estudo por indivíduo), acesso aos bens de consumo e qualidade de vida. Existem outros critérios, mas, de modo geral, eles giram em torno de índices econômico-sociais. É importante esclarecer que desenvolvimento econômico não necessariamente é igual a desenvolvimento social. Um Estado pode ter alto índice de desenvolvimento econômico, como nações do Oriente Médio que vivem do petróleo, mas com baixa distribuição de renda entre seus habitantes. Em uma análise teórica, o produto interno bruto (PIB), ou seja, tudo aquilo que uma nação produz de riquezas, pode ser contabilizado como se todos os indivíduos daquele país recebessem parcelas iguais de uma divisão igualitária dos lucros. Mas isso não acontece. Alguns detêm quase todo o lucro de produção, enquanto a maioria continua em índices baixos de desenvolvimento social. Por isso, nem sempre desenvolvimento econômico e índices econômicos revelam a realidade de uma sociedade desigual. Economias em desenvolvimento são aquelas que se esforçam para melhorar seus índices de desenvolvimento econômico e social, superando desigualdades e financiando obras e investimentos públicos e privados (nacionais e internacionais) para o crescimento e a eficiência de sua produção e gestão. E de onde vem essa ajuda? Geralmente, agências internacionais de desenvolvimento (FMI, Banco Mundial etc.) emprestam capital para financiar projetos nacionais de desenvolvimento e aproveitam para inserir sua cartilha de boas práticas (orientando a maneira como o dinheiro deverá ser gasto e até mesmo interferindo nos processos de decisão política da nação). Em alguns casos, nações de economias em desenvolvimento criam práticas inovadoras que, sozinhas, conseguem melhorar os índices de desenvolvimento. Mas, de modo geral, muitas nações buscam no investimento de capital estrangeiro (empresários e investidores) o financiamento de suas políticas de desenvolvimento. Essa dinâmica é vista em quase todos os Estados, incluindo os já desenvolvidos, onde o governo vende títulos de investimento a médio e longo prazo (também chamados de títulos de dívida nacional ou títulos do tesouro nacional). A China, por exemplo, conta com diversos empresários e investidores que compram esses títulos da dívida do tesouro dos EUA, Brasil e outras nações ao redor do mundo. Mas por que investidores compram esses títulos? Porque são investimentos, como já mencionado, que duplicam ou triplicam o dinheiro 8 investido de acordo com as taxas de juros dos bancos centrais nacionais. Se um brasileiro compra um título do tesouro dos EUA e a taxa de juros dos EUA aumenta (por decisão do banco central do próprio EUA), logo o investimento irá aumentar. Na data estipulada do título (todo título tem uma data de saque para o comprador), o brasileiro poderá devolver o título para os EUA em troca do valor inicial corrigido pelos juros. Esse tipo de investimento faz girar políticas econômicas locais que, consequentemente, interferem na macroeconomia e no cenário econômico mundial. Mas como as economias não desenvolvidas ou subdesenvolvidas geralmente têm instabilidades e incertezas de crescimento econômico,poucos se atrevem a investir nelas ou a lhes dar empréstimos, o que agrava ainda mais a situação. Quanto mais desenvolvida for uma economia, mais ela atrairá investidores, e quanto menos desenvolvida, menos investidores atrairá — o que perpetua desigualdades econômicas entre as nações. Também já mencionamos as economias abertas (EUA, Brasil, União Europeia), fechadas (Coreia do Norte) e em processo de abertura (Rússia e Cuba). Economias de mercado aberto são mais desejadas e passam maior confiança aos investidores, enquanto as fechadas podem omitir problemas e crises iminentes por determinação dos governos, o que afasta investidores. Mas todas as nações, abertas ou fechadas, fazem parte de um único mundo, onde os recursos são limitados a todos e exigem políticas de cooperação e planejamento de gastos. Figura 1: Mapa das Coreias: Coreia do Norte com mercado fechado e Coreia do Sul com livre mercado Fonte: Revista Nova Escola, 2017. 9 Na imagem do mapa da Coreia do Norte e da Coreia do Sul é possível perceber essa ideia de que não existem nações isoladas no mundo. Entre seus vizinhos estão o Japão, com economia de mercado aberta, e a China, em processo de abertura econômica após décadas de modelo econômico fechado. No caso das Coreias, além de outros processos políticos, foram os modelos econômicos que dividiram a península e resultaram da divisão entre os dois países atuais retratados no mapa. Mesmo que você não tenha tanto interesse em política ou no comportamento dos Estados, é fundamental lembrar que são eles que regulam e regulamentam o comércio internacional e o que suas empresas podem ou não fazer quando estiverem trabalhando no comércio exterior. Por isso, tente ao menos se familiarizar com as políticas econômicas e as dinâmicas de investimento internacionais. Esse conteúdo contribuirá, por exemplo, para que perceba de antemão futuras crises financeiras, quebras em bolsas ou até mesmo bolhas de crescimento (ou seja, crescimento especulativo sem um crescimento real da economia). TEMA 2 – EMPRESAS E A RESPONSABILIDADE ECONÔMICA MUNDIAL: PACTO GLOBAL Toda e qualquer empresa está submetida a, ao menos, um Estado no mundo. Nesse sentido, quando muitos Estados participam de um regime internacional, mais empresas se submetem às mesmas regras, ou seja, passam a ter os mesmos comportamentos, direitos e deveres e, com isso, diminui-se a insegurança e as práticas abusivas no comércio internacional. Se os regimes trazem consigo uma padronização do comportamento dos Estados e, consequentemente, das empresas e do comércio internacional, ainda assim não existe um governo global para impor as regras aos que descumprem os regramentos acordados. Por isso, muitas vezes empresas que prejudicam o mercado internacional levam seus Estados a serem chamados a prestar explicações dentro dos regimes dos quais fazem parte. Nem sempre os Estados conseguem defender as práticas comerciais que ocorrem em seus mercados e empresas. Por isso, alguns regimes, como o regime mundial do comércio, representado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), possuem em comum acordo as práticas de retaliações. 10 As retaliações do regime mundial do comércio não são para as empresas, mas caem sobre os Estados que permitem que as empresas atuem de má-fé. Isso significa que se uma empresa comete um crime internacional, como o dumping (baixar muito o preço de seu produto para quebrar a concorrência), não será ela a ir ao banco dos réus na OMC, mas sim o Estado que a regula. Nesses painéis de arbitragem e julgamento o Estado acusado poderá se defender, mas caso seja culpado terá que solucionar a questão ou então arcar com as consequências. Essas consequências vão desde boicotes comerciais dos Estados-membros da OMC aos produtos do Estado culpado até embargos econômicos nas transferências bancárias internacionais de todos os cidadãos daquele país, e até mesmo a expulsão do Estado do regime mundial do comércio, o que pode levar a um isolamento econômico e comercial em relação ao restante do mundo. Mas será que apenas os governos tomam iniciativas para cobrar as empresas a contribuir para uma economia mundial mais saudável e sustentável? A resposta é não. As próprias empresas participam de processos de colaboração. Algumas empresas buscam contribuir com o desenvolvimento sustentável defendido pelo Sistema ONU. Mais do que nunca, o consumidor em diversas partes do mundo, incluindo no Brasil, busca bens e serviços com práticas sustentáveis e socialmente positivas. Uma dessas iniciativas empresariais junto à Organização das Nações Unidas é o Pacto Global. Por definição, o Pacto Global é uma iniciativa desenvolvida pelo ex- secretário-geral da ONU, Kofi Annan, com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção refletidos em 10 princípios (Pacto..., 2017). Essa iniciativa conta com a participação de agências das Nações Unidas, empresas, sindicatos, organizações não governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado global mais inclusivo e igualitário. Hoje já são mais de 12 mil organizações signatárias articuladas por cerca de 150 redes ao redor do mundo (Pacto..., 2017). As empresas participantes do Pacto Global são diversificadas e representam diferentes setores da economia e regiões geográficas, buscando gerenciar seu crescimento de uma maneira responsável, que contemple os 11 interesses e as preocupações de suas partes interessadas — incluindo funcionários, investidores, consumidores, organizações militantes, associações empresariais e comunidade. O Pacto Global não é um instrumento regulatório, um código de conduta obrigatório ou um fórum para policiar as políticas e práticas gerenciais, mas sim uma iniciativa voluntária que procura fornecer diretrizes para a promoção do crescimento sustentável e da cidadania por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras. O Pacto Global conta com um website2 referencial sobre cidadania empresarial com informações sobre as iniciativas dos escritórios da ONU, eventos programados e informações sobre as empresas signatárias no Brasil e no mundo. Além de dar complementaridade às práticas de responsabilidade social empresarial e ser um compromisso mundial, o Pacto Global é uma iniciativa importante e base para a criação da ISO 26000 de Responsabilidade Social (RSE). Em seus dez princípios, diversos selos também encontram apoio. O Pacto Global promove dez princípios universais, derivados da Declaração Universal de Direitos Humanos, da Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. São eles, seguindo o texto do Pacto (2017): a. Direitos Humanos: 1. As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente; e 2. Assegurar-se de sua não participação em violações destes direitos. Figura 1: Selos referentes aos princípios de direitos humanos (números 1 e 2) e trabalho (números 3 a 6) Fonte: Pacto..., 2017. 2 Disponível em: <www.unglobalcompact.org>. 12 b. Trabalho: 3. As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva; 4.A eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório; 5. A abolição efetiva do trabalho infantil; e 6. Eliminar a discriminação no emprego. c. Meio Ambiente: 7. As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; 8. Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; e 9. Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis. d. Contra a Corrupção: 10. As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina. Figura 2: Selos referentes aos princípios de meia ambiente (números 7 a 9) e contra a corrupção (número 10) Fonte: Pacto..., 2017. Dessa forma, as empresas participantes se comprometem por livre vontade a cumprir esses pontos. Caso não os cumpram, são desvinculadas do Pacto Global e, consequentemente, podem ter sua imagem manchada perante a opinião pública e os investidores, bem como diante dos consumidores. Essa iniciativa une empresas, Estados e suas organizações internacionais em prol de um comércio internacional mais consciente sobre as responsabilidades com o desenvolvimento sustentável. 13 Os direitos humanos, sociais e os recursos naturais são um bem de todos e fazem parte de uma economia mundial mais saudável. Os selos ambientais, bem como o selo do Pacto Global, melhoram a imagem da empresa, o que, consequentemente, tem impacto positivo em suas negociações comerciais ou na busca por novos mercados internacionais. Por isso a iniciativa de empresas em contribuir com uma economia mais limpa, responsável e em cooperação com outros agentes internacionais deve ser vista como uma oportunidade concreta de mudanças na economia mundial. TEMA 3 – DIPLOMACIA E EMPRESAS NA ECONOMIA MUNDIAL A diplomacia não é exclusividade dos governos, pois as empresas também praticam o que chamamos de diplomacia empresarial ou diplomacia paralela empresarial (também conhecida como paradiplomacia empresarial). A diplomacia nada mais é do que uma instituição de normas de comportamento para negociar interesses com entes que estão sob uma outra jurisdição ou realidade nacional, isto é, entre Estados estrangeiros, empresas que vão a outros países e até mesmo entre cidades e organizações não governamentais. Tradicionalmente a diplomacia é exercida pelo Estado para se relacionar com outros agentes internacionais (Estados, organizações internacionais, blocos econômicos etc.). É a diplomacia entre governos estrangeiros que cria os já mencionados regimes que, por sua vez, regulam o sistema financeiro internacional e o mercado. A economia, como também já mencionamos, resulta da junção desses pilares (sistema financeiro e mercado), além da própria ação das empresas. Muitas empresas pressionam os governos para adotarem determinadas políticas econômicas. Essa pressão chamamos de lobby. Essa palavra estrangeira significa exatamente isso: quando uma ou mais empresas se juntam para pressionar políticos e diplomatas a se posicionarem favoravelmente aos interesses de mercado, o que se reflete na diplomacia e nos modelos econômicos nacionais e internacionais. As empresas, nesse momento, deixam de ser apenas agentes comerciais e do mercado e passam a ser agentes políticos nacionais e até internacionais. Com recursos financeiros, empresas conseguem negociar com governos flexibilizações para que abram filiais ou subsidiárias. Também conseguem, em uma relação diplomática com governos estrangeiros, a flexibilização de impostos 14 e responsabilidades jurídicas e sociais. Já vimos que o Pacto Global busca exatamente controlar essa situação para que os direitos humanos e a estabilidade política e econômica se mantenham saudáveis, diminuindo a corrupção e as desigualdades. Mas será que todos respeitam esses ideais? Infelizmente não. Muitas empresas ainda agem como predadoras no mercado internacional, e isso pode impactar negativamente o desenvolvimento da economia mundial. Geralmente a diplomacia de uma empresa é exercida por profissionais de comércio exterior, relações internacionais ou direito. Em alguns casos, profissionais com notório saber (e experiência profissional) também ocupam esses cargos. Essa atividade muitas vezes não recebe o nome de diplomacia empresarial dentro da firma, podendo ser denominada setor internacional, de vendas e exportação, de negócios estratégicos e tantos outros nomes. No entanto, suas funções quase sempre possuem processos similares, como o contato direto com mercados estrangeiros e representantes para negociação com governos e outras empresas estrangeiras. O processo de negociação diplomático empresarial, contudo, não diz respeito à compra e à venda de bens e serviços (isso ainda é comércio), mas sim às situações em que a empresa se relaciona politicamente com governos e outras empresas. Por exemplo: quando uma empresa negocia flexibilidade fiscal ou facilidades de instalação com uma prefeitura estrangeira, trata-se de diplomacia empresarial, dado que questões culturais serão evocadas — por exemplo, uma situação hipotética: “no meu país temos a cultura de usar materiais descartáveis, mas como em seu país não existe essa possibilidade os produtos finais ficarão mais caros e precisaremos de uma ajuda do governo na diminuição dos impostos para que não percamos capacidade de concorrência”. Nesse exemplo uma empresa dialoga diretamente com um governo estrangeiro ou empresa estrangeira parceira para pressionar por ganhos além da simples comercialização (compra e venda). Outro exemplo de diplomacia empresarial é o próprio Pacto Global, sob o qual empresas se reúnem para definir práticas e medidas que orientem o desenvolvimento sustentável junto à ONU. As empresas que enviam representantes para acompanhar painéis de arbitragem na Organização Mundial do Comércio (OMC) também estão fazendo diplomacia empresarial. 15 Um último exemplo importante de diplomacia empresarial é visto hoje nas câmaras de comércio. Observando a economia mundial e suas dinâmicas, as câmaras de comércio (associações de empresas de um determinado país) passam a representar interesses de seus membros (empresas associadas) em uma nação estrangeira. A Câmara de Comércio dos EUA no Brasil, por exemplo, possui diversas sedes espalhadas em cidades brasileiras e representa os interesses empresariais estadunidenses em nosso mercado e com nossos governantes brasileiros. As Câmaras de Comércio, portanto, exigem um corpo de profissionais capazes de entender as dinâmicas econômicas internacionais que podem dificultar ou favorecer negócios e exportações e exigir posicionamentos do empresariado junto às decisões dos governantes. A diplomacia empresarial exercida pela câmara de comércio pode ser no singular (ou seja, a câmara em si mandando seus funcionários representarem setores ou todos os seus associados), ou plural (quando diversos empresários das suas diferentes empresas associadas se fazem presentes em um evento diplomático, como jantares, comemorações e negociações com governantes estrangeiros). Além das câmaras de comércio, que são instituições empresariais, existem os consulados criados pelos governos. Quase sempre consulados gerais e consulados honorários também dão suporte às empresas e se tornam canais de escuta dos governos em relação ao interesse de mercado. Não é incomum câmaras de comércio enviarem representantes para apresentarem projetos e propostas de negociação diplomática aos consulados governamentais. Em muitos consulados, por exemplo, existem setores do governo especializados no comércio e na diplomacia empresarial,como é o caso do U.S. Commercial Service do governo dos EUA, que auxilia empresas estadunidenses na negociação com governos e empresas ao redor do mundo. Enquanto a Câmara de Comércio dos EUA no Brasil é composta por empresas estadunidenses, o Commercial Service é composto por funcionários diplomáticos do próprio governo dos EUA, sendo que ambos podem atuar juntos em uma diplomacia governamental e empresarial para novos mercados. Com isso, seja em relação a um governo ou uma organização internacional, seja com outras empresas, a diplomacia empresarial surge como um canal fundamental que cresce cada vez mais, dadas as exigências do atual cenário econômico mundial. A diplomacia empresarial ou governamental passa 16 a definir, junto às empresas e especialmente aos Estados e as suas organizações internacionais, as normas e práticas econômicas que se desenvolvem ao longo dos anos. Para que esse conteúdo possa ajudar em sua formação, é só lembrar que políticas econômicas são resultantes tanto dos interesses dos governos como também das empresas e do mercado. TEMA 4 – INTEGRAÇÃO REGIONAL E EMPRESAS Agora que já vimos a relevância de se compreender a economia mundial e a relação entre empresas, Estados e governos na criação de regimes, chegou o momento de ver como as economias regionais se organizam nesse mundo globalizado. Os processos de economias regionais hoje experimentam as dinâmicas da integração regional e a criação de blocos econômicos. Regiões do mundo com dinâmicas e interesses econômicos semelhantes optam por integrar ou criar novos tratados de cooperação comercial e econômica para se fortalecerem diante da intensa abertura de mercados causada pela globalização. Segundo o teórico da integração regional Bela Balassa, conforme exposto no livro de Paulo Vagner Ferreira (2015, p. 161), a integração regional proporciona um favorecimento às economias locais que se abrem para seus vizinhos em determinadas etapas, desde a mais simples (zona de livre comércio) até a mais complexa (integração econômica). As etapas de Balassa sobre a integração regional decorrem de sua observação do processo de criação da União Europeia no século XX. Inicialmente, França e Alemanha decidiram criar meios de cooperação econômica após a Segunda Guerra Mundial para evitar uma terceira guerra. A cooperação econômica iria atrelar as duas economias — o que dificultaria ações de violência mútua. Ambas as nações, anteriormente em posições opostas na guerra, precisariam se desenvolver em conjunto para se recuperarem dos estragos do conflito. Em 1952, além da França e da Alemanha, uniram-se Bélgica, Luxemburgo, Holanda e Itália em uma cooperação econômica que ficou conhecida como a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca). Esse nome veio dos dois insumos que sustentavam a recuperação econômica da França e da Alemanha e que também foram alvos de disputas durante as duas guerras mundiais. Com a Ceca se iniciava um processo longo que resultaria, ao longo do século XX, na adesão de mais Estados europeus a essa comunidade e a uma 17 outra criada em paralelo em 1967: a Comunidade Econômica Europeia (Cee). A partir da Cee os pilares da futura União Europeia foram erguidos. Em 1992, com o Tratado de Maastricht, a União Europeia, tal qual a conhecemos hoje, surgiu, não como uma criação nova, mas como resultado de todo o processo de integração dos Estados nas décadas anteriores. Observando a trajetória da União Europeia, Balassa, assim como os demais blocos de integração regional que foram surgindo após 1952, foram tendo como exemplo as etapas de integração experimentadas pela Europa. Primeiramente, os blocos surgem de um tratado que, no geral, defende a cooperação regional entre Estados vizinhos ou da mesma região geopolítica. Em um segundo momento, inicia-se o primeiro estágio da integração: a zona de livre comércio. Nela os Estados-membros decidem diminuir ou eliminar barreiras de importação e exportação aos produtos regionais. Um exemplo hoje seria o Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, envolvendo Canadá, EUA e México) e a Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). O comércio intrabloco (dentro do bloco) possui facilidades de que vendedores fora do bloco não gozam. Depois da zona de livre comércio vem a união aduaneira. É na união aduaneira que a região deixa de ser apenas um espaço comercial específico e se torna, de fato, um bloco com políticas comuns às demais nações e empresas de fora da região. Um exemplo é o Mercosul. Na união aduaneira, os Estados- membros do bloco decidem seguir as mesmas taxações aos produtos estrangeiros, ou seja, a importação de algodão, por exemplo, por qualquer membro terá o mesmo imposto alfandegário. Essa medida exige uma coordenação dos governos, eliminando antigas preferências bilaterais. Um exemplo de união aduaneira: se antes do Mercosul (1991) o Brasil tinha tratados de importação de eletrônicos com a China, cobrando 2% de imposto sobre o produto chinês que chegava aos portos brasileiros, agora, com a integração, essa porcentagem será decidida por todos os membros. Se Argentina, Uruguai e Paraguai decidirem que para qualquer produto eletrônico chinês se cobre 5% de imposto, o Brasil terá que aderir e romper os tratados anteriores, passando a cobrar 5% dos produtos chineses ao chegarem a seus portos. Essa medida pode proteger a região de produtos da China e favorecer o consumo de eletrônicos produzidos dentro da região (intrabloco). Como medida 18 defensiva, a união aduaneira possibilita a industrialização e a complementariedade de produção e consumo no bloco. Mas, longe de buscar o isolamento, a união aduaneira visa muito mais facilitar o comércio do bloco com o mundo (por meio da diminuição da diversidade de taxas de importação) do que apenas proteger indústrias locais. Assim, um produto que chegar pelos portos brasileiros ou argentinos irá pagar apenas uma taxação, em um único valor. Vale ressaltar que o Mercosul é uma união aduaneira imperfeita, ou seja, ainda está em processo de simetria das taxas de aduana. Mas, como seu nome diz, o seu objetivo é chegar à terceira etapa: se tornar um Mercado Comum do Sul. O Mercado Comum é a terceira etapa, na qual além da zona de livre comercio dentro do bloco e de taxas de aduanas iguais, é possível que trabalhadores, estudantes, bens, serviços e investimentos (transferência de lucros e abertura de empresas) ocorram sem passar pela burocracia das alfândegas ou de controles, taxas e impostos nacionais. Isso significa que, hoje, no Mercosul, um brasileiro que busca abrir uma empresa na Argentina ainda tem que se adequar às normas locais e pagar taxas toda vez que fizer remessas do lucro para sua conta no Brasil. Com o mercado comum isso se resolve pela livre circulação. Após o mercado comum existe a quarta etapa da integração: a integração econômica. Apenas a União Europeia alcançou essa etapa, na qual se cria um banco central do bloco que elimina ou suprime os bancos centrais nacionais. Com um único banco central (como o Banco Central Europeu), os Estados- membros deixam de controlar as políticas macroeconômicas e muitas outras, como as políticas cambiais. Na integração ou união econômica é o bloco que determina as políticas econômicas sobre seus membros (salvo políticas econômicas menores, como a decisão sobre se vão investir mais ou menos no funcionalismo público ou como gastar a poupança em obras públicas). Nunca se realizou uma quinta etapa que desse um passo adiante em relação à integração econômica, mas os teóricos apontam que essa nova etapa seria a criaçãode uma integração política total, ou seja, o surgimento de uma organização internacional com ares de novo Estado. É como se a União Europeia deixasse de ser uma organização internacional e passasse a ser um novo Estado federativo, como os EUA ou o Brasil. Mas, como isso não aconteceu, para os estudos sobre o cenário econômico mundial fica a relevância 19 de se conhecer a origem das empresas consumidoras e vendedoras e como negociar com esses blocos, sabendo suas características e peculiaridades. TEMA 5 – LIVRE MERCADO OU INTEGRAÇÃO ECONÔMICA? Neste último momento do conteúdo, fica a grande dúvida sobre os rumos econômicos regionais: escolher entre o livre mercado na integração ou ir além e alcançar a integração ou união econômica? Essa questão é feita a todo momento, desde os EUA, que não querem uma integração maior com México e Canadá (permanecendo confortavelmente na zona de livre mercado), até os movimentos de saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) em 2016. Tanto o Nafta (na América do Norte) como a Asean (no sudeste asiático) estão confortáveis com a criação de uma zona de livre comércio mais cooperativa. Os interesses comerciais são facilitados e as empresas dessas regiões possuem vantagens em produção, venda e investimento intrabloco. Os governos dos Estados envolvidos alegam que avançar mais na integração seria abrir mão da autonomia de gestão nacional. Isso significa que criar aduanas iguais ou buscar uma integração ou união econômica traria mais problemas do que vantagens a partir do momento em que o governo dos EUA, por exemplo, teria que tomar medidas econômicas exclusivamente em consenso com os governos mexicanos e canadense. Mais ou menos na mesma linha de pensamento, parte do Reino Unido decidiu, em plebiscito, retirar-se da União Europeia em 2016, num movimento conhecido como Brexit (Great Britain Exit). Indivíduos e políticos britânicos alegavam que a união econômica da União Europeia trazia mais malefícios do que benefícios, como a baixa autonomia de se criar políticas econômicas nacionais em momentos de crise internacional. Além de outras questões de âmbito mais social, a mobilização pela saída do Reino Unido da União Europeia aponta para o questionamento já mencionado: até que ponto a integração é vantajosa e até onde ir? Para França e Alemanha, as duas maiores economias da União Europeia hoje, a integração é o único caminho em um mundo globalizado. De fato, muitos políticos britânicos também se posicionam ainda hoje contra a saída do Reino Unido da organização. Mas, na condição de decisão nacional, a integração regional pode avançar, retroagir e até mesmo permanecer 20 confortavelmente estagnada quando os interesses econômicos e comerciais dos envolvidos estão sendo atendidos. TROCANDO IDEIAS As questões econômicas são inerentes aos processos de integração regional e ao comportamento empresarial no cenário mundial. Existem outros blocos ao redor do mundo em diversos estágios de integração. Nas Américas, como já mencionados, existem Nafta, Caricom (Mercado Comum e Comunidade do Caribe), Mercosul, Can (Comunidade Andina), Parlacen (Parlamento Centro- Americano) e Unasul (União de Nações Sul-Americanas), além das mais antigas Alalc (Associação Latino-Americana de Livre Comércio) e Aladi (Associação Latino-Americana de Integração). Na África existem Ecowas (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental), a Sadc (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), Cemac (Comunidade Econômica e Monetária da África Central), Igad (Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento) e Amu (União do Magrebe Árabe). Na Ásia existem GCC (Conselho de Cooperação do Golfo), Saarc (Associação Sul-Asiática para a Cooperação Regional), Asean e Cis (Comunidade dos Estados Independentes). Na Europa, além da União Europeia existe o Efta (Associação Europeia de Livre Comércio), e na Oceania, o Pif (Fórum das Ilhas do Pacífico) e a Anzcerta (Acordo Comercial sobre Relações Econômicas entre Austrália e Nova Zelândia). Essa diversidade de blocos regionais cresce a cada dia, visto que além dos blocos as cooperações em zonas oceânicas também ocorrem, como entre as nações ao redor do Oceano Pacífico. Que tal dar uma olhada em alguns desses blocos e ampliar seu conhecimento sobre o cenário econômico mundial? Um bom caminho é iniciar pelo site do Ministério das Relações Exteriores sobre Integração Regional3. Bons estudos! NA PRÁTICA Identifique se existe complementariedade econômica entre as nações do Mercosul e suas empresas. Observe, por exemplo, a produção e o consumo de um setor, como o de eletrodomésticos. Veja as reclamações do governo 3 Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/integracao-regional>. 21 argentino, nos anos 1990 e início dos anos 2000, sobre exportação brasileira de eletrodomésticos brancos (geladeiras, fogões, máquinas de lavar etc.) e investigue esse setor hoje. É possível fazer essa observação e criar relatórios sobre como evoluiu o processo de mercado intrabloco. Se cruzar dados de exportações do setor entre as duas nações nos dois períodos distintos (no passado e atualmente) você poderá fazer uma boa análise de mercado econômico internacional. Agora faça um relatório sobre complementariedade econômica no Mercosul seguindo essas indicações. Não se esqueça de escrever suas observações críticas ao final, especialmente se o setor comercial escolhido pode ser favorecido pelas relações entre as economias das nações em questão. Bom trabalho! FINALIZANDO Nessa aula foi visto que o processo de integração econômica pode favorecer ou dificultar as políticas econômicas das nações. Também pudemos observar como as empresas criam diplomacias empresariais com outras empresas (Pacto Global) e com governos estrangeiros. Sendo assim, em sua formação profissional você pode compreender melhor o cenário econômico mundial para além da ideia de uma única economia internacional, entendendo também sua complexidade: uma teia formada por diversas peculiaridades econômicas locais e regionais. Indo além dessas dinâmicas, também é preciso lembrar que nações se encontram em níveis de desenvolvimento distintos: desenvolvidas, em desenvolvimento ou subdesenvolvidas. Esses níveis se refletem no índice de investimentos e financiamento de políticas públicas. Vimos também que para auxiliar as economias em crise e em desenvolvimento existem agências internacionais econômicas e financeiras, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que emprestam dinheiro desde que o contratante siga e gaste o empréstimo da forma que orientam. Agora é hora de rever o conteúdo e buscar outras fontes sobre os temas aqui tratados. Sinta-se instigado a fazer novas análises econômicas sobre o cenário mundial. Tenha certeza de que esses pequenos exercícios farão grande diferença em sua experiência e atuação profissional. 22 REFERÊNCIAS CULPI, L. Empresas Transnacionais: uma visão internacionalista. Curitiba: Intersaberes, 2016. FERREIRA, P. V. Análise de cenários econômicos. Curitiba: InterSaberes, 2015. PACTO GLOBAL. Disponível em: <http://www.pactoglobal.org.br>. Acesso em: 12 set. 2017. UM PAÍS fora do nosso tempo. Nova Escola. Disponível em: <http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/um-pais-fora-do-nosso- tempo>. Acesso em: 29 ago. 2017.
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