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697Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 697-710, dez. 2011.
A teoria de Norbert Elias: uma análise do ser professor 
Dagmar Hunger
Fernanda Rossi
Samuel de Souza Neto
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Resumo
No presente artigo, conforme o entendimento de que modelos te-
óricos subsidiam a compreensão de fenômenos investigativos, ob-
jetivou-se elucidar os conceitos da teoria sociológica de Norbert 
Elias, considerando-se que esta é uma excelente fonte de análise 
para se compreender o universo do ser professor, apesar de o autor 
não abordar diretamente questões relacionadas ao campo da edu-
cação. a partir do conceito de configuração, é possível dizer que a 
constituição do ser professor resulta das diferentes configurações 
nas quais ele está imerso, pois, de acordo com Elias, as pessoas 
(professores, pais, gestores, ministros, alunos etc.) modelam suas 
ideias a partir de todas as suas experiências e, essencialmente, das 
experiências vividas no interior do próprio grupo. É observável 
que as configurações, formadas por grupos interdependentes de 
pessoas, e não por indivíduos singulares, apresentam-se cada vez 
mais ampliadas nos contextos escolares, com funções especiali-
zadas e específicas (professores, alunos, diretores, coordenadores, 
supervisores, secretários etc.), em grupos que se tornam cada vez 
mais funcionalmente dependentes. as cadeias de interdependên-
cia estão mais diferenciadas e, consequentemente, mais opacas e 
dificilmente controláveis por parte de quaisquer grupos ou indiví-
duos. Portanto, uma melhor compreensão será possível quando se 
estudar empiricamente as configurações que estão em jogo na edu-
cação brasileira. daí se justifica a análise das configurações e das 
teias de interdependência em que os professores estão envolvidos. 
Enfim, a aplicação dos modelos de competição abordados por Elias 
possibilita evidenciar as problemáticas sociológicas do ser profes-
sor, tornando-as mais evidentes e facilitando o entendimento do 
jogo para reorganizá-lo em termos de equilíbrio na teia social.
Palavras-chave
Norbert Elias – configuração – Educação – Professor.
Correspondência:
Dagmar Hunger
Universidade Estadual Paulista 
“Júlio de Mesquita Filho”
Faculdade de Ciências - 
Departamento de Educação Física
Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, s/n 
17033-360 – Bauru/SP 
dag@fc.unesp.br
Livro volume 37 n.4 .indb 697 24/11/2011 10:48:34
698 Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 697-710, dez. 2011.
Norbert Elias’s theory: an analysis of being teacher
Dagmar Hunger
Fernanda Rossi
Samuel de Souza Neto
São Paulo State University “Júlio de Mesquita Filho”
Abstract
According to the understanding that theoretical models structure 
the comprehension of research phenomena, the present article 
seeks to explore concepts from Norbert Elias’s sociological theory, 
considering that the latter is an excellent analytical source to come 
to grips with the universe of being teacher, despite the fact that 
Elias himself did not deal directly with issues related to the field of 
education. Based on the concept of configuration, it is possible to 
say that the constitution of being teacher results from the different 
configurations in which a teacher is immersed since, according to 
Elias, people (teachers, parents, administrators, ministers, pupils 
etc.) model their ideas on the basis of all their experiences and, 
essentially, from the experiences within their own group. It can be 
observed that configurations, formed by interdependent groups of 
people, and not by singular individuals, are ever more amplified in 
school contexts, with specialized and specific functions (teachers, 
pupils, principals, coordinators, supervisors, secretaries etc.), in 
groups that become more and more functionally dependent. The 
interdependence chains are more differentiated and, consequently, 
more opaque and difficult to be controlled by any groups or 
individuals. Therefore, a better understanding will be possible 
when we study empirically the configurations at play in Brazilian 
education. Hence the justification to analyze the configurations 
and the webs of interdependence in which teachers are involved. 
Lastly, the application of the competition models described by 
Elias makes it possible to unveil the sociological problems of being 
teacher, making them more evident and helping to understand 
their interplay, in order to reorganize it in terms of equilibrium 
within the social web.
Keywords
Norbert Elias – Configuration – Education – Teacher.
Contact:
Dagmar Hunger
Universidade Estadual Paulista 
“Júlio de Mesquita Filho”
Faculdade de Ciências - 
Departamento de Educação Física
Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, s/n 
17033-360 – Bauru/SP 
dag@fc.unesp.br
Livro volume 37 n.4 .indb 698 24/11/2011 10:48:34
699Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 697-710, dez. 2011.
a relevância de compreender os profes-
sores escolares à luz do conhecimento histórico 
e social deve-se, especialmente, à importância 
de os estudiosos não se descuidarem da memó-
ria do que é ser professor no ensino brasileiro, 
ou melhor, das inter-relações que se vêm pro-
cessando, histórica e socialmente, ao se ensinar 
valores, princípios e conceitos culturais, educa-
cionais, éticos e científicos. 
Norbert Elias afirma (2001):
É fácil perceber que os pressupostos teóricos 
que implicam a existência de indivíduos ou 
atos individuais sem a sociedade são tão fic-
tícios quanto outros que implicam a existên-
cia das sociedades sem os indivíduos. (p. 182)
ou seja, 
dizer que os indivíduos existem em configu-
rações significa dizer que o ponto de partida 
de toda investigação sociológica é uma plu-
ralidade de indivíduos, os quais, de um modo 
ou de outro, são interdependentes. (p. 184)
isso seria afirmar que o professor é um 
ser eminentemente social e histórico. Ele não 
vive isolado e é inseparável do meio em que 
se encontra inserido; é um ser embriagado de 
cultura, e sua forma de pensar e agir são dire-
cionadas, esteja ele consciente ou não, por suas 
percepções e manifestações diante do contexto 
sociocultural e histórico de seu tempo, que é 
fruto de todo um passado. 
como orienta Roger chartier (1996), pes-
quisar o tempo presente significa, ao historiador, 
compartilhar com outras pessoas (os professores) 
o momento em que se encontram, narrando histó-
rias referentes ao mesmo contexto e sendo o pes-
quisador contemporâneo de seu objeto. Pensar o 
tempo presente do professor 
propicia uma reflexão essencial sobre as mo-
dalidades e os mecanismos de incorporação 
do social pelos indivíduos que têm uma mes-
ma formação ou configuração social (p. 217),
permitindo perceber com maior clareza as rela-
ções entre, de um lado, as percepções e as re-
presentações dos sujeitos, e, de outro, as deter-
minações e interdependências que formam os 
laços sociais.
Nessa perspectiva, o intelectual que se im-
põe o desafio de compreender o professor ao longo 
de inúmeras gerações humanas deverá imbuir-se 
do espírito do historiador, sociólogo que, perante 
as necessidades sociais sentidas no presente, in-
daga o passado e o presente e constrói perguntas 
referentes ao ser professor, a fim de evidenciar um 
futuro melhor para a educação nacional. 
andréa Borges leão (2007), ao discutir as 
contribuições do intelectual Norbert Elias para o 
campo dos estudos educacionais, na obra Norbert 
Elias & a educação, afirma que o autor “abre ca-
minhos para a compreensão da formação do indi-
víduo e suas implicações com as apropriações dos 
objetos da cultura” (p. 10), além de propiciar 
a análise dos efeitos produzidos pelos bens 
simbólicos no espaço social e dos proces-
sos de interiorização dos constrangimentos 
que permitem o aprendizado da vida em 
grupo. (p. 10)
carlos da Fonseca Brandão (2003), no li-
vro intitulado Norbert Elias: formação, educação 
e emoções no processo de civilização, também 
buscou demonstrar que as teorias do estudioso 
podemconstituir-se como um instrumental teó-
rico para a compreensão de certas especificidades 
da área educacional. Para tanto, ele relacionou os 
conceitos de disciplina e controle das emoções, 
presentes no pensamento de Elias, às questões das 
pedagogias modernas.
assim sendo, no presente artigo, objeti-
vou-se elucidar a teoria sociológica de Norbert 
Elias, por se considerá-la excelente fonte teórica 
para suscitar reflexões referentes ao ser profes-
sor. Nas palavras do referido autor:
uma teoria dá ao homem que se encontra 
no sopé da montanha, a visão que um pás-
saro tem dos caminhos e relações que esse 
Livro volume 37 n.4 .indb 699 24/11/2011 10:48:34
700700 Dagmar HUNGER; Fernanda ROSSI; Samuel de SOUZA NETO. A teoria de Norbert Elias: uma análise ...
homem não consegue ver por si próprio. 
a descoberta de relações previamente des-
conhecidas constitui uma tarefa central da 
investigação científica. Tal como os mapas, 
os modelos teóricos mostram as conexões 
entre acontecimentos que já conhecemos. 
como os mapas de regiões desconhecidas, 
mostram espaços em brancos onde ainda 
não se conhecem as relações. como os ma-
pas, a sua falsidade pode ser demonstrada 
por uma investigação ulterior, podendo 
ser corrigidos. Talvez se deva acrescentar 
que, contrastando com os mapas, os mo-
delos sociológicos devem ser visualizados 
no tempo e no espaço, como modelos em 
quatro dimensões. (Elias, 1980, p. 175)
O autor e o conceito de 
configuração 
Norbert Elias fugiu da alemanha nazis-
ta para a inglaterra nos anos 1930, tendo pu-
blicado pela primeira vez, em 1970, seu livro 
What is sociology?. sociólogo alemão, nasceu 
na cidade de Breslau (hoje chamada Wroclaw) 
em 1897, e morreu em amsterdam, no ano 
de 1990. Trabalhou com Karl Mannheim em 
Frankfurt após ter estudado medicina, filoso-
fia e psicologia nas universidades de Breslau 
e Heidelberg. Foi professor de sociologia 
na universidade de leicester (1945-62), na 
universidade de Gana (1962-64) e no centro 
de Pesquisa interdisciplinar de Bielefeld. seu 
trabalho mais conhecido é o livro intitulado O 
processo civilizador, publicado pela primeira 
vez em 1939. seu reconhecimento deu-se tar-
diamente, apenas em meados dos anos 1970, 
mas o transformou em um dos mais influentes 
sociólogos da contemporaneidade.
a teoria sobre o processo civilizador foi 
desenvolvida por Elias em dois volumes. No pri-
meiro, Uma história dos costumes (1994b), ele 
analisou o modo como as mudanças das regras 
sociais eram sentidas pelos indivíduos e a trans-
formação do comportamento e do sentimento em 
relação a elas. Já no segundo volume, Formação 
do Estado e civilização, Elias (1993) estabele-
ceu a correlação entre os processos de indivi-
dualização e a formação do Estado por meio do 
exame das condições sociais, econômicas e po-
líticas, enfatizando as mudanças, a longo prazo, 
nas estruturas da personalidade e na sociedade 
como um todo.
a obra sociohistórica do intelectual re-
fere-se essencialmente a padrões mutáveis de 
interdependência relativamente às relações de 
poder entre os homens em sociedade. ao siste-
matizar essa visão da história e das diferenças 
de poder, ele prestou uma contribuição funda-
mental para a sociologia moderna.
Em Introdução à sociologia (1980), o 
autor defende uma nova interpretação da so-
ciologia do conhecimento para a sociedade 
contemporânea. advoga ele que esta trata 
dos problemas da sociedade e é formada por 
nós e pelos outros, sendo que aquele que es-
tuda e pensa a sociedade é ele próprio um 
dos seus membros.
Elias critica o modelo tradicional de 
compreensão da sociedade ainda hoje predomi-
nante, chamando-o de padrão básico de uma 
visão egocêntrica da sociedade. a partir desse 
modelo, ele explica que a conceituação tradi-
cional dos grupos sociais em família, escola, 
indústria, Estado, universidade e cidade corres-
ponde à pessoa individual, ao ego particular, 
rodeado de estruturas sociais que são enten-
didas como objetos em cima e acima do ego 
individual. Portanto, o conceito de sociedade é 
também dimensionado dessa forma. 
os conceitos fundamentais do sociólogo 
foram construídos a partir da identificação das 
limitações de perspectivas teóricas associadas, 
sobretudo, à teoria funcionalista do sociólogo 
Talcott Parsons e a certas versões do estrutura-
lismo. Teóricos funcionalistas e estruturalistas 
tendem a identificar estruturas sociais asso-
ciando-as a atributos coercitivos que exercem 
influência total sobre o comportamento dos 
indivíduos. Porém, para Elias, não são aceitá-
veis concepções sociais totalizadoras ou mesmo 
individualistas dos processos sociais.
Livro volume 37 n.4 .indb 700 24/11/2011 10:48:35
701Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 697-710, dez. 2011.
Para reordenar a compreensão da socie-
dade, ele considera que é preciso substituir a 
concepção tradicional desse modelo pelo enten-
dimento de que as pessoas constituem teias de 
interdependência ou configurações de muitos e 
variados tipos, tais como famílias, escolas, ci-
dades, camadas sociais ou Estados. Estes, por 
sua vez, são apresentados num diagrama de-
nominado representação de indivíduos interde-
pendentes (Elias, 1980). 
a noção de configurações foi também 
elucidada por Elias e scotson (2000) na obra Os 
estabelecidos e os outsiders:
dizer que os indivíduos existem em con-
figurações significa que o ponto de parti-
da de toda investigação sociológica é uma 
pluralidade de indivíduos, os quais, de um 
modo ou de outro, são interdependentes. 
dizer que as configurações são irredutíveis 
significa que nem se pode explicá-las em 
termos que impliquem que elas têm algum 
tipo de existência independente dos indi-
víduos, nem em termos que impliquem que 
os indivíduos, de algum modo, existem in-
dependentemente delas. (p. 184)
No apêndice do primeiro volume de O 
processo civilizador, Elias (1994b) utiliza-se do 
exemplo das danças de salão para explicitar o 
que pretende com o conceito de configuração.
Pensemos na mazurca, no minueto, na po-
lonaise, no tango, ou no rock’n’roll. a ima-
gem de configurações móveis de pessoas 
interdependentes na pista de dança talvez 
torne mais fácil imaginar Estados, cidades, 
famílias, e também sistemas capitalistas, 
comunistas e feudais como configurações. 
usando este conceito, podemos eliminar 
as antíteses, chegando finalmente a valo-
res e ideais diferentes, implicados hoje no 
uso das palavras ‘indivíduo’ e ‘sociedade’. 
certamente podemos falar na dança em 
termos gerais, mas ninguém a imagina-
rá como uma estrutura fora do indivíduo 
ou como uma mera abstração. as mes-
mas configurações podem certamente ser 
dançadas por diferentes pessoas, mas, sem 
uma pluralidade de indivíduos reciproca-
mente orientados e dependentes, não há 
dança. (p. 249-250)
Ele complementa que a dança, como to-
das as outras configurações sociais, 
é relativamente independente dos indiví-
duos específicos que a formam aqui e ago-
ra, mas não de indivíduos como tais. seria 
absurdo dizer que as danças são constru-
ções mentais abstraídas de observações 
de indivíduos considerados separadamen-
te. o mesmo se aplica a todas as demais 
configurações. da mesma maneira que as 
pequenas configurações da dança mudam 
– tornando-se ora mais lentas, ora mais 
rápidas – também assim, gradualmente ou 
com mais subtaneidade, acontece com as 
configurações maiores que chamamos de 
sociedades. (p. 250)
 
desse modo, entende-se o conceito de 
configuração abordado como imprescindível 
para desenvolver estudos relacionados ao ser 
professor à luz da teoria elisiana. isso signi-
fica dizer que a constituição do ser professor 
resulta das diferentes configurações nas quais 
ele está imerso. conforme o pensamento de 
Elias (1980), as pessoas (no caso, professo-
res) modelam suas ideias a partir de todas as 
suas experiências e, essencialmente, das ex-
periências que tiveram no interior do próprio 
grupo. assim, é preciso entender as interco-
nexões e configurações elaboradaspor elas; 
tais configurações são formadas por grupos 
interdependentes de pessoas (professores), or-
ganizados coletivamente e não por indivídu-
os singulares. Nenhum indivíduo (professor) 
é inteiramente autônomo, pois as possíveis 
singularidades individuais estão sempre en-
raizadas nas figurações sociais e vice-versa 
(lEão, 2007). 
Livro volume 37 n.4 .indb 701 24/11/2011 10:48:35
702702 Dagmar HUNGER; Fernanda ROSSI; Samuel de SOUZA NETO. A teoria de Norbert Elias: uma análise ...
A teoria de Elias: compreendendo o 
ser professor
Norbert Elias (1980) esclarece que os 
processos humanos e sociais são representados 
por pessoas (professores) que estão sujeitas às 
forças que as compelem, ou seja, forças de fato 
exercidas pelas pessoas (professores) sobre ou-
tras pessoas (alunos, pais, direção etc.) e sobre 
elas próprias (professores). Nesse sentido, o en-
sino da sociologia e a prática de sua investiga-
ção sobre o ser professor deverá voltar-se para 
a aquisição de uma compreensão dessas forças, 
possibilitando domínio de conhecimentos segu-
ros das mesmas; em outras palavras, trata-se 
de uma compreensão clara do jogo de forças e 
poderes políticos, religiosos, educacionais e fa-
miliares presentes no contexto escolar. 
Entretanto, para se compreender tais 
forças, acredita-se que primeiro é preciso su-
perar o sentimento de olhar para os indivídu-
os (professores) como se fossem meros objetos 
– e o pior, estáticos. contesta o autor o fato 
de esse sentido de separação ser reforçado por 
conceitos correntes na linguagem acadêmica 
e científica, principalmente decorrentes das 
ciências químicas e físicas. conceitos como 
causalidade mecânica, modos de pensamento 
verdadeiros e absolutos, racionais ou lógicos, 
foram transferidos indevidamente para a in-
terpretação dos fenômenos sociais e humanos. 
com isso, impediu-se que se desenvolvesse um 
modo mais adequado às particularidades das 
configurações humanas.
sua crítica consiste em que, quando se 
fala do indivíduo e de seu meio, da criança 
e da família, do indivíduo e da sociedade, do 
professor e do aluno ou do sujeito e do objeto, 
não se tem claramente presente que o indivíduo 
(professor, aluno, irmão etc.) faz parte de seu 
ambiente, de sua família, de sua sociedade. os 
conceitos de família, escola e universidade refe-
rem-se essencialmente a grupos de seres huma-
nos interdependentes, às configurações especí-
ficas que as pessoas (professores, diretores, pais, 
alunos, governantes etc.) formam umas com as 
outras. diante disso, Elias chama a atenção para 
o problema de se enxergar a sociedade e seus 
fenômenos como se fossem coisas, estáticas e 
não-mutáveis. 
o modo tradicional (reificante) de falar 
sobre os indivíduos e a sociedade, e os mo-
dos usuais de pensar os grupos são duramente 
criticados pelo teórico. 
[...] a nossa maneira tradicional de formar 
esses conceitos faz com que esses grupos 
formados por seres humanos interdepen-
dentes apareçam como bocados de maté-
ria-objectos tais como as rochas, árvores 
ou casas. (Elias, 1980, p. 14) 
ou seja, 
a sociedade que é muitas vezes colocada 
em oposição ao indivíduo, é inteiramente 
formada por indivíduos, sendo nós pró-
prios um ser entre os outros. (p. 13)
Para complicar ainda mais, Elias 
(1994a) avalia que, devido à fragmentação 
das disciplinas acadêmicas no ensino uni-
versitário, com a orientação preponderante 
da biologia e da ciência médica, o organismo 
tem sido visto em isolamento. isso favorece a 
impressão de que o organismo humano sin-
gular – ou, como se costuma identificá-lo, o 
corpo tal como é estudado nas aulas de ana-
tomia e examinado pelos médicos – funcio-
na como modelo real do que se entende por 
indivíduo. o organismo isolado (professor) é 
então considerado como real, e a vida comu-
nitária das pessoas (professores, alunos, pais, 
governantes), sua sociedade e seus processos 
apresentam-se, em contraste, como não sendo 
determinados pela natureza e, portanto, não 
sendo efetivamente reais. 
É desse modo, complementando sua crí-
tica, que a especialização acadêmica vem re-
forçando que se construa um arcabouço con-
ceitual inadequado, postulando a natureza, o 
professor e a sociedade como opostos. assim, 
Livro volume 37 n.4 .indb 702 24/11/2011 10:48:35
703Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 697-710, dez. 2011.
o autor defende que não se pode reduzir a so-
ciologia à biologia ou à física.
Parafraseando Elias, estudar o professor 
é também tratar dos problemas da sociedade no 
que se refere à qualidade do ensino, a qual, em 
sua essência, é propiciada e construída por nós. 
Portanto, uma investigação sociológica que se 
volte para a compreensão do ser professor na 
sociedade deverá comprovar como e por que a 
interpenetração de indivíduos (professores) inter-
dependentes forma um nível de integração cujas 
formas de organização e cujos processos não po-
dem ser deduzidos, simplesmente, das caracterís-
ticas biológicas e psicológicas que os constituem. 
Bernadete Gatti (2003) corrobora as 
ideias de Elias, atentando para a compreensão 
dos docentes como seres psicossociais. Por isso, 
afirma ela:
É preciso ver os professores não como seres 
abstratos, ou essencialmente intelectuais, 
mas, como seres essencialmente sociais, 
com suas identidades pessoais e profissio-
nais, imersos numa vida grupal na qual 
partilham uma cultura, derivando seus co-
nhecimentos, valores e atitudes dessas re-
lações, com base nas representações cons-
tituídas nesse processo que é, ao mesmo 
tempo, social e intersubjetivo. (p. 196)
a autora explicita, ainda, a necessidade 
de considerar as macroinfluências,
o papel de eventos mais amplos, sejam so-
ciais, políticos, econômicos ou culturais, 
com seus determinantes que perpassam a 
vida grupal ou comunitária. sabemos que 
a interação desses fatores molda as con-
cepções sobre educação, ensino, papel 
profissional, e as práticas a elas ligadas, 
concepções e práticas estas que, por sua 
vez, são estruturalmente delimitadas pela 
maneira que as pessoas se veem, como es-
truturam suas representações, como se des-
crevem, como veem os outros e a sociedade 
à qual pertencem. (p. 196)
assim, para Elias (1980), no mundo mo-
derno que a cada dia se torna mais complexo e 
no seio das configurações mutáveis – que cons-
tituem o próprio centro do processo de configu-
ração –, há um equilíbrio flutuante e elástico e 
um equilíbrio de poder, que se move para fren-
te e para trás, inclinando-se primeiro para um 
lado e depois para o outro. Esse tipo de equi-
líbrio flutuante é uma característica estrutural 
do fluxo de cada configuração. Ele exemplifica 
que professores e alunos numa aula, médico e 
doentes num grupo terapêutico, clientes habi-
tuais num bar, crianças num infantário – todos 
eles constituem configurações relativamente 
compreensíveis. 
Para explicar o modo como se entrelaçam 
os fins e as ações dos homens, o autor apresenta 
uma série de modelos que são, à exceção de um, 
modelos de competição que, pelo menos em suas 
formas mais simples, assemelham-se a jogos re-
ais tais como xadrez, bridge, futebol ou tênis. 
Representam a competição realizada – mais ou 
menos – segundo regras. contudo, o jogo não 
é definido por tais regras, mas consiste numa 
combinação dinâmica das relações sociais.
Elias (1980) chama-nos a atenção para 
o fato de que os modelos de jogo são úteis para 
estimular a imaginação sociológica, que tende 
a ser bloqueada por formas correntes de pensa-
mento. os modelos de jogo que desenvolve são 
formados por duas ou mais pessoas (professores 
e especialistas da educação; alunos e professo-
res; diretores, professores e pais; governantes 
e professores etc.), que medem suas forças. Ele 
parte do princípio de que essa é a situação bási-
ca sempre que indivíduos (professores) entram 
ou se encontram em relação uns com os outros 
(professores e alunos). No entanto, a consciên-
cia desse fato é muitas vezes suprimida quando 
se reflete sobre as relaçõeshumanas.
Tomando como referência os modelos de 
jogo, pode-se associá-los à metáfora do jogo de 
bridge utilizada por Jean Houssaye (1992) para 
apresentar o lugar que os professores ocupam na 
sociedade; também antónio Nóvoa (1999b) ex-
plora tal modelo pedagogicamente. 
Livro volume 37 n.4 .indb 703 24/11/2011 10:48:35
704704 Dagmar HUNGER; Fernanda ROSSI; Samuel de SOUZA NETO. A teoria de Norbert Elias: uma análise ...
No jogo de bridge, um dos jogadores faz 
o papel do morto, pois todos sabem que ele 
faz parte do jogo, mas não tem nenhum poder 
de interferência no que diz respeito às cartas 
– enfim, ao próprio jogo. Nóvoa trabalha essa 
ideia com relação à figura do professor, ilus-
trando tal situação num triângulo e exploran-
do-a em sua concepção pedagógica. Trata-se 
de um triângulo retângulo, com os três lados 
iguais, em que se terá um vértice, uma base à 
esquerda e outra à direita.
Na base esquerda do triângulo pedagó-
gico, encontra-se o saber; na outra, os alunos; 
e, no vértice, o professor. Houve uma época 
em que se valorizava a relação professor-saber 
(ensino tradicional – o mestre) e em que a so-
ciedade concebia um poder quase espiritual 
aos docentes, tendo o aluno um papel passivo 
nesse processo. o ser professor constituiu-se 
no domínio de um corpo de saber disciplinar, 
sendo ele uma autoridade. depois dessa repre-
sentação, estabeleceu-se a relação professor-
-aluno (escola ativa – o aluno), na qual o 
discente passou a ser visto como o principal 
sujeito do processo, assumindo o professor o 
papel de um orientador. o foco principal pas-
sou a estar, então, no aluno. Posteriormente, 
mudou-se o foco, passando-se a valorizar a re-
lação saber-alunos, práticas de autogestão e/
ou de autoformação nas tecnologias de ensino 
(pedagogia comportamental – instrução), e a 
desvalorizar a relação humana e o próprio pa-
pel do professor, pois o foco está centrado na 
instrução, na competência. desse modo, o pro-
fessor, em tal cenário, passa a ser coadjuvante 
de todo o processo. Todos sabem que ele exis-
te, mas não tem papel ativo, pois esse papel foi 
transferido para os especialistas da educação.
 Elias (1994a) desenvolve, ainda, a refle-
xão em torno do conceito de habitus. os indi-
víduos, ao relacionarem-se uns com os outros, 
ao mesmo tempo em que modelam a socieda-
de, modelam-se a si próprios. os empreendi-
mentos individuais não ocorrem num vazio de 
determinações sociais. o indivíduo (o profes-
sor) porta em si o habitus de um grupo. Tal 
habitus representa o que a pessoa individualiza 
em maior ou menor grau. ou seja, 
a existência da pessoa como ser individu-
al é indissociável de sua existência como 
ser social. [...] Não há identidade-eu sem 
identidade-nós. Tudo o que varia é a pon-
deração dos termos na balança eu-nós, o 
padrão da relação eu-nós. (p. 151-152)
É preciso ponderar que o conceito de 
identidade humana está sempre relacionado a 
um processo. a balança da relação nós-eu é 
permeada por um equilíbrio tenso, diferenciada 
em cada sociedade e contexto histórico. 
Enfatiza leão (2007):
Elias supera as polarizações, a ordem 
das precedências e das determinações 
entre os indivíduos e a sociedade, vin-
culando-os no estudo da sociogênese e 
na psicogênese. (p. 85) 
assim, complementa a autora:
a correspondência ou equivalência entre a 
estrutura da personalidade e as formas de 
organização social formadas por um grande 
número de indivíduos interdependentes são, 
antes de tudo, dinâmicas e, por isso mes-
mo, vão assumindo modelos na história. 
interdependência não quer dizer harmonia, 
mas tensões e conflitos. como bem observa 
Roger chartier, o cerne da obra de Elias é a 
articulação entre as formas de diferenciação 
social, a estrutura do exercício do poder e a 
economia da personalidade. (p. 29)
como explica Elias (1980), as sociedades 
compõem-se de indivíduos, e estes só podem 
possuir características especificamente huma-
nas, tais como capacidades de educar, ensinar, 
falar, brincar, jogar, competir, pensar e amar 
nas e pelas suas relações com as outras pessoas 
– em sociedade, pois. se o objetivo da investi-
gação da natureza física era reduzir tudo o que 
Livro volume 37 n.4 .indb 704 24/11/2011 10:48:35
705Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 697-710, dez. 2011.
se move e muda a algo estático e imutável, ou 
seja, reduzir tudo às eternas leis da natureza, 
o mesmo não se pode dar com os indivíduos, 
pois uma pessoa (professor) está em constante 
movimento; ela não apenas atravessa um pro-
cesso, mas ela própria é um processo. É nesse 
sentido que a imagem do homem (professor) 
para o estudo da sociologia não pode ser a da 
pessoa singular, do Homo Sociologicus. deve 
ser, antes, a de pessoas (professores), no plu-
ral; a imagem de uma multidão de pessoas 
(professores, alunos, diretores, secretários, mi-
nistros etc.), cada uma delas constituindo um 
processo aberto e interdependente. Pois, logo 
que nasce, todo indivíduo começa a jogar com 
os outros. Em suma, cada pessoa (professor) é 
uma entre as outras (professores, alunos, pais, 
gestores etc.), e daí advêm consequências de 
ser professor.
com os pronomes pessoais como mo-
delos figuracionais que Elias (1980) apresen-
ta, compreende-se facilmente que a posição 
individual nas relações não pode ser tratada 
separadamente. a função que o pronome eu 
desempenha na comunicação humana só pode 
ser compreendida no contexto de todas as ou-
tras posições relativamente às quais se refe-
rem os outros termos da série. as seis outras 
proposições são absolutamente inseparáveis, 
uma vez que não é possível imaginar um eu 
(professor) sem um tu (aluno), sem um ele (di-
retor) ou ela (supervisora), sem nós (pais), vós 
(ministros) ou eles (professoras, professores, 
alunos, diretores, supervisoras, pais, ministros, 
governadores, presidentes etc.). É ilusória a 
utilização dos conceitos de eu ou ego indepen-
dentemente de sua posição dentro da trama de 
relações a que se referem os demais pronomes. 
No sentido apontado por Bernard charlot 
(2000, 2005), todas as relações com o saber 
encerram determinada relação com o mundo, 
e essa relação é também uma relação consigo 
mesmo e com os outros. assim, 
a ideia de saber implica a de sujeito, de 
atividade do sujeito, de relação do sujeito 
com ele mesmo [...], de relação desse su-
jeito com os outros (que co-constroem, 
controlam, validam, partilham esse saber). 
(cHaRloT, 2000, p. 61)
Em seu livro A sociedade dos indivíduos, 
Elias (1994a) já afirmava que o abismo e o in-
tenso conflito que as pessoas altamente indivi-
dualizadas do estágio contemporâneo de civi-
lização sentem dentro de si são projetados no 
mundo por sua consciência. os conflitos apa-
recem em seu reflexo teórico como um abismo 
existencial e um eterno conflito entre indivíduo 
e sociedade. 
No âmbito desse processo, Nóvoa (1992, 
1999a, 1999b), em diferentes estudos, teceu 
uma imbricada teia de relações e inter-relações 
entre o indivíduo (o professor) e a sociedade. 
o primeiro aspecto considerado assina-
lou, em termos de configuração, que, no início 
do século XX, delineou-se o perfil do professor 
profissional e a sociedade passou a reconhecê-
-lo como agente de transformação, depositário 
de expectativas para o alcance dos anseios so-
ciais (NÓVoa, 1999a). 
Posteriormente, essa situação mudou, 
sendo que desde meados dos anos 1980 o pro-
fessor vive duas situações ambíguas: o processo 
de profissionalização e, concomitantemente, o 
processo de proletarização, que se caracterizam, 
dentre outros aspectos, por duas tensões a que o 
professorado está submetido: 
- a intensificação do trabalho dos professo-
res com uma sobrecarga de atividades, im-
possibilitando a dedicação dos docentes na 
construção de sua profissão;
- a tendência em separar a concepção da exe-
cução, ou seja, em separar a elaboração dos 
programas de ensino de sua concretização, 
o que provoca a degradação do estatuto dos 
professores e a retirada de margensimportan-
tes de autonomia profissional. (NÓVoa, 1992)
o processo de proletarização do pro-
fessor vai ser identificado por cilene chakur 
Livro volume 37 n.4 .indb 705 24/11/2011 10:48:35
706706 Dagmar HUNGER; Fernanda ROSSI; Samuel de SOUZA NETO. A teoria de Norbert Elias: uma análise ...
(2000) como um processo de desprofissionali-
zação a que o ser professor está submetido; a 
autora chama a atenção para
a desvalorização social e econômica da 
atividade; os desvios de função, que 
anunciam falhas ou confusão de identi-
dade; a parcialização do trabalho, que se 
manifesta no domínio parcial da prática; 
a desqualificação, responsável pela dimi-
nuição ou cristalização das competências 
e saberes; e a heteronomia profissional, 
caracterizada pela submissão a regras e 
decisões externas e pela adesão acrítica 
aos manuais didáticos. (p. 77)
Na mesma direção, Menga lüdke e luiz 
Boing (2004) apontam a precarização do traba-
lho docente, ressaltando que uma simples com-
paração com datas passadas é suficiente para 
identificar seus sinais: “perda de prestígio, de 
poder aquisitivo, de condições de vida e sobre-
tudo de respeito e satisfação no exercício do 
magistério hoje”, fatores que contribuem para o 
“declínio da profissão docente”. (p. 1160)
Nóvoa (1999b), ao discutir a situação 
dos professores na virada do milênio, indicou 
a existência de 
uma retórica cada vez mais abundante so-
bre o papel fundamental que os professores 
serão chamados a desempenhar na cons-
trução da ‘sociedade do futuro’. (p. 13)
Ele ainda assinalou ainda que, por um 
lado, os professores são concebidos como ele-
mentos essenciais para a melhoria da qualidade 
do ensino e para o progresso social e cultural, e, 
por outro, são vistos com desconfiança e acusa-
dos de serem profissionais medíocres e portado-
res de uma formação deficiente. 
Elias (1994a), preocupado em romper 
com a relação antagônica entre indivíduo e 
sociedade, dedicou-se ao estudo da relação 
entre a pluralidade das pessoas e a pessoa 
singular, e vice-versa. assim, seus esforços 
são direcionados a esquivar-se da dicotomia 
entre os termos usualmente empregada, vi-
sando explorar a tensa e dinâmica interação 
entre ambos.
o autor explora essa questão em contex-
tos de diferentes sociedades e tempos históri-
cos. Em Mozart: sociologia de um gênio (1995), 
tal relação é retratada pelo estudo da figura do 
gênio na teia social e estética do século XViii. 
com o estudo de um indivíduo, ele demonstra 
os limites e as relações possíveis na instância 
homem-sociedade, ou seja, a condição do ho-
mem singular e suas possibilidades, diante dos 
parâmetros sociais, de influenciar mudanças no 
contexto social. 
Mozart não se adequou às expectativas 
sociais de sua época, buscando uma margem 
de autonomia artística que não foi alcançada. 
o reconhecimento de sua genialidade como 
músico apenas se realizou tardiamente. Elias 
(1994a) afirma:
Nenhuma pessoa isolada, por maior que 
seja sua estatura, poderosa sua vontade, 
penetrante sua inteligência, consegue 
transgredir as leis autônomas da rede hu-
mana da qual provêm seus atos e para a 
qual eles são dirigidos. (p. 48)
Porém, para o intelectual, a histó-
ria não é determinada unilateralmente pelo 
conjunto da sociedade ou pelos indivíduos. 
Ressalta ele:
 
a importância de diferentes indivíduos 
para o curso dos acontecimentos históri-
cos é variável e que, em certas situações 
e para os ocupantes de certas posições 
sociais, o caráter individual e a decisão 
pessoal podem exercer considerável in-
fluência nos acontecimentos históricos. a 
margem individual de decisão é sempre li-
mitada, mas é também muito variável em 
sua natureza e extensão, dependendo dos 
instrumentos de poder controlados por 
uma dada pessoa. (p. 51)
Livro volume 37 n.4 .indb 706 24/11/2011 10:48:35
707Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 697-710, dez. 2011.
Enfim, o professor pertence a uma teia 
de interdependências e seu poder é relacional 
e mutável, ou seja, dependente das ações, cir-
cunstâncias, condições, crenças, convicções, 
desejos etc., de todos os indivíduos do seu grupo 
social. Por exemplo, depara-se hoje com o fato 
de o jovem não mais ser enquadrado, quan-
do criança, no degrau mais inferior da carrei-
ra funcional que deverá escalar, como se dava 
nas sociedades mais simples. sua futura função 
não será apreendida diretamente, servindo ele 
a um mestre adulto, como fazia o aprendiz de 
um mestre artesão, mas indiretamente, em ins-
titutos, escolas e universidades especializadas 
(Elias, 1994a). 
Considerações finais
Elias (1980) afirma: 
a tarefa da pesquisa sociológica é tornar 
mais acessíveis à compreensão humana 
estes processos cegos e não controlados, 
explicando-os e permitindo às pessoas 
uma orientação dentro da teia social – a 
qual, embora criada pelas suas próprias 
necessidades e acções, ainda lhes é opa-
ca – e, assim, um melhor controlo desta. 
(p. 168-169)
Em sua teoria, os jogos de competição 
configuram-se como um elemento constituinte 
de todas as relações humanas. ou seja, sempre 
sucedem provas de força maiores ou menores 
entre as pessoas: serei eu (o professor ou o alu-
no) o mais forte? – serás tu (o diretor) o mais 
forte? após algum tempo, é possível chegar a 
certo equilíbrio de poder que, de acordo com 
circunstâncias pessoais e sociais, poderá ser es-
tável ou instável.
ao abordar os modelos de jogos, Elias 
(1980) aponta:
o equilíbrio de poder não se encontra uni-
camente na grande arena das relações entre 
os estados, onde é frequentemente espeta-
cular, atraindo grande atenção. constitui 
um elemento integral de todas as rela-
ções humanas. [...] Também deveríamos 
ter presente que o equilíbrio de poder, tal 
como de um modo geral as relações hu-
manas, é pelo menos bipolar e, usualmen-
te, multipolar. (p. 80)
o autor explica, ainda, que esses mode-
los poderão auxiliar numa melhor compreensão 
de tal equilíbrio de poder, não como uma ocor-
rência extraordinária, mas como algo do coti-
diano. sejam as diferenças de poder fortemente 
significativas ou relativamente influenciáveis, o 
equilíbrio está sempre presente onde quer que 
haja uma interdependência funcional entre pes-
soas. Pois o poder não é um amuleto que um 
indivíduo possua e outro não; é uma caracte-
rística estrutural de todas as relações humanas. 
Enfatiza Elias (1980) que os modelos 
demonstram, de modo simplificado, o caráter 
relacional do poder. ao se aplicar os modelos 
de jogos de competição para tornar evidentes 
as configurações de poder, o conceito de “re-
lação de poder” é substituído pela expressão 
“força relativa dos jogadores” (p. 81). a força 
do jogo de um jogador varia relativamente ao 
seu adversário. o mesmo acontece com o po-
der e com muitos outros conceitos de nossa 
linguagem. os modelos de jogo ajudam a mos-
trar como os problemas sociológicos (de ser 
professor) tornam-se mais evidentes e como 
é mais fácil lidar com eles se reorganizá-los 
em termos de equilíbrio. Pois o conceito de 
equilíbrio é mais adequado ao que pode ser 
realmente observado quando se investigam as 
relações funcionais que os seres humanos in-
terdependentes mantêm uns com os outros do 
que os conceitos modelados em conformidade 
com objetos imóveis.
Elias acredita que, quando se utiliza a 
imagem dos participantes de um jogo como me-
táfora das pessoas que formam as sociedades, 
é mais fácil repensar as ideias estáticas que se 
associam à maior parte dos conceitos correntes 
usados para resolver os problemas da sociologia. 
Livro volume 37 n.4 .indb 707 24/11/2011 10:48:35
708708 Dagmar HUNGER; Fernanda ROSSI; Samuel de SOUZA NETO. A teoria de Norbert Elias: uma análise ...
diz ele que os modelos servem para tor-
nar mais acessíveis à reflexão científica certos 
problemas relativos à vida social. o mais im-
portante entre eles é o problema do poder. a 
tarefa não consiste em resolver o problema do 
poder, mas em simplesmente desbloqueá-lo, 
tornando-o facilmente acessívelcomo um dos 
problemas centrais em que a sociologia se em-
penha. o autor esclarece que, na medida em que 
somos (professores) mais dependentes dos ou-
tros (diretores e governantes) do que eles são de 
nós, e em que somos mais dirigidos pelos outros 
do que eles são por nós, estes têm poder sobre 
nós, quer nos tenhamos tornado dependentes 
deles pela utilização que fizeram da força bruta 
ou por carências, pela necessidade que tínha-
mos de ser amados, pela necessidade financeira, 
de cura, de estatuto, de status na carreira ou 
simplesmente de estímulo emocional. 
os modelos poderão auxiliar a superar o 
hábito de utilizar o conceito de relação como um 
conceito estático, relembrando que todas as rela-
ções, tal como os jogos humanos, são processos.
assim, uma investigação sociológica 
que objetiva identificar o ser professor a partir 
dessa perspectiva deverá interpretar tais forças 
nas ações dos professores, diretores, supervi-
sores, alunos, funcionários e pais, que consti-
tuem teias de interdependência ou configura-
ções e que estão modelando suas ideias sobre 
todas as suas experiências, essencialmente 
sobre as experiências que têm dentro de seu 
meio educacional. 
Essas são indagações necessárias e que 
permitem questionar: como se apresentam as 
forças ou, ainda, as relações de poder do ser 
professor na escola? Tal questão se apresen-
ta especialmente quando se pode pensar, de 
acordo com Elias, que a escola representa jogos 
de competição que constituem provas de forças 
maiores ou menores entre as relações dos pro-
fessores, diretores, alunos, pais, ministros etc. 
as configurações que são formadas por 
grupos interdependentes de pessoas e não por 
indivíduos singulares tornam-se cada vez mais 
ampliadas entre os professores, com funções 
especializadas e específicas (professor, diretor, 
coordenador, supervisor, ministro etc.), e em 
grupos que são cada vez mais funcionalmente 
dependentes. assim, as cadeias de interdepen-
dência tornam-se mais diferenciadas e, conse-
quentemente, mais opacas e mais incontrolá-
veis, por parte de qualquer grupo ou indivíduo. 
isso pode estar gerando certo desconhecimento 
pelos professores em relação à história política 
da educação, que só poderá ser compreendida 
quando se estudarem empiricamente as confi-
gurações que estão em jogo no ensino brasileiro. 
Portanto, torna-se imprescindível levar 
em consideração as forças coercivas que grupos 
de professores, diretores, ministros etc., vêm 
exercendo uns sobre os outros, devido à sua in-
terdependência e de acordo com seus cargos de 
ocupação profissional. isso sem perder de vista 
a concepção de antonio Gramsci (1981) de que 
a relação pedagógica se faz 
em toda a sociedade no seu conjunto e em 
todo o indivíduo com relação aos outros 
indivíduos, bem como entre camadas in-
telectuais e não-intelectuais, entre gover-
nantes e governados, entre elite e segui-
dores, entre dirigentes e dirigidos, entre 
vanguardas e corpos do exército. Toda 
relação de ‘hegemonia’ é necessariamente 
uma relação pedagógica. (p. 37)
Finalizando e parafraseando Elias, as 
configurações na escola são um padrão mu-
tável criado pelo conjunto de professores, 
alunos, diretores, pais, supervisores, funcioná-
rios, ministros etc., não só por seus intelectos, 
mas, principalmente, pelo que eles são no todo, 
na totalidade de suas ações nas relações que 
sustentam uns com os outros. o indivíduo (pro-
fessor) é o que é porque pertence a um grupo 
social, pois tudo o que ele (professor) se torna 
dá-se em relação aos outros. logo, o ser profes-
sor adquire sua característica individual a partir 
da história de suas relações, de suas dependên-
cias e, por fim, da história de toda a rede huma-
na em que convive.
Livro volume 37 n.4 .indb 708 24/11/2011 10:48:35
709Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 4, p. 697-710, dez. 2011.
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Enviado em: 08.06.2010
Aprovado em: 11.12.2010
Livro volume 37 n.4 .indb 709 24/11/2011 10:48:35
710710 Dagmar HUNGER; Fernanda ROSSI; Samuel de SOUZA NETO. A teoria de Norbert Elias: uma análise ...
Dagmar Hunger é professora adjunta credenciada no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade da Universi-
dade Estadual Paulista de Rio Claro, na área de concentração em Pedagogia da Motricidade Humana, e vice-líder do Núcleo 
de Estudos e Pesquisas em Formação Profissional no Campo da Educação Física (NEPEF), cadastrado na plataforma do CNPq.
Fernanda Rossi é mestre e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade da Universidade Esta-
dual Paulista de Rio Claro, professora bolsista do Departamento de Educação da UNESP de Bauru e membro do Núcleo de 
Estudos e Pesquisas em Formação Profissional no Campo da Educação Física (NEPEF), cadastrado na plataforma do CNPq. 
E-mail: fernandarossi_ef@hotmail.com. 
Samuel de Souza Neto é professor adjunto credenciado no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade da 
Universidade Estadual Paulista de Rio Claro, na área de concentração em Pedagogia da Motricidade Humana, no Programa 
de Pós-Graduação em Educação, na linha de pesquisa em Docência, Práticas Escolares e Formação de Professores, e líder do 
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Formação Profissional no Campo da Educação Física (NEPEF), cadastrado na plataforma 
do CNPq. E-mail: samuelsn@rc.unesp.br.
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