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CORRELAÇÃO ENTRE A EPILEPSIA E OUTRAS PATOLOGIAS

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CORRELAÇÃO ENTRE A EPILEPSIA E OUTRAS PATOLOGIAS
TENCONI, Júlia Kassia
RADAELLI, Patrícia Barth
RESUMO
De acordo com o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas, epilepsia é conceituada como uma doença cerebral crônica causada por diversas etiologias e caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas. As causas da epilepsia podem ser várias e em alguns casos nem são descobertos. Os prejuízos sobre a cognição – processo ou faculdade de adquirir um conhecimento – parecem ser as consequências mais frequentes, bem como mais aparentes da epilepsia, sendo a memória e a atenção os domínios mais afetados. Os distúrbios de linguagem ocorrem em praticamente todos os tipos de epilepsia em algum momento, seja apresentando comorbidade, seja como consequência das crises de ausência e/ou convulsões. O mais comum é que ocorram alterações linguísticas durante e após uma crise. Existe ainda uma grande correlação entre a epilepsia e transtornos psiquiátricos. Sendo a depressão o mais comum - e fator de maior importância no julgamento do paciente sobre sua qualidade de vida. Há também muitos pesquisadores que creem que as drogas usadas no tratamento da epilepsias, conhecidas como antiepilépticas, são as responsáveis por muitas das consequências da doença que elas tratam e/ou são a ponte da comorbidade de outras doenças. 
PALAVRAS – CHAVE: Epilepsia; Patologias; Distúrbios; Cognição
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo relacionar se as descargas causadas pelas crises epiléticas danificam o cérebro causando outras patologias. Essa pesquisa foi realizada de forma básica, quanto à finalidade; qualitativa, quanto à abordagem; com a metodologia bibliográfica e documental, com recorte de pesquisas retrospectivas a partir de 2005, com contribuições de autores como Loutfi, Karina Soares; Carvalho, Alysson Massote; Ferreira, Daniella de Miranda; Toschi, Larissa Seabra entre outros.
Esta análise visa, definir a patologia epilepsia e rastrear suas possíveis causas, bem como, interpretar, pesquisas que versam sobre danos causados ao encéfalo durante as descargas elétricas ocorridas e ratificar a correlação das comorbidades patológicas que surgem após as crises. A análise evidenciará as drogas epilépticas como possíveis causadores do aparecimento de novas mazelas cognitivas. Dessa forma, evidenciar-se-ão os estudos sobre a correlação da epilepsia e outras patologias para fins de comprovação ou refutação das hipóteses levantadas.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. EPILEPSIA: DEFINIÇÃO E SUAS POSSÍVEIS CAUSAS
De acordo com o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas, epilepsia é conceituada como uma doença cerebral crônica causada por diversas etiologias e caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas. Esta condição tem consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais e prejudica a qualidade de vida, bem como o quociente intelectual do indivíduo afetado.
Existem diversos tipos e graus de epilepsia que podem se diferenciar pelo local no cérebro onde as crises ocorrem, a intensidade, como também a maneira como ocorrem. A atual Classificação Internacional das Epilepsias e Síndromes Epilépticas está apoiada sobre dois eixos principais: o primeiro aborda a distinção entre as síndromes parciais e as generalizadas, e o segundo confronta as categorias idiopático, criptogênico e sintomático (Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas, 2015 s/p).
As causas da epilepsia podem ser várias e em alguns casos nem são descobertos. Perelló e Ponces apud Daniela Ferreira et al. (2006), afirmam que a causa da crise epiléptica está associada a lesões cerebrais orgânicas de tipo macroscópico ou ligadas a um transtorno na bioquímica cerebral. Alguns processos fisiológicos e patológicos podem influenciar na origem da epilepsia, como: febres, fatores metabólicos, ativação sensorial, fatores emocionais, ritmos cicardianos, fatores hormonais e ingestão de álcool. Outros fatores, como lesões no cérebro ou infecções, também podem ser causas da epilepsia e em alguns casos sua origem ainda é desconhecida (GRÜNSPUM; GROSSMAN, citados por FERREIRA; TOSCHI e SOUZA, 2006)
Engel et al. (2005) propõem que é útil ter em mente três fatores gerais relacionados à expressão clínica das epilepsias. O primeiro deles é a susceptibilidade individual do cérebro em resposta a alterações epileptogênicas, determinada em grande parte por fatores genéticos. O segundo fator envolvido diz respeito às características específicas das anormalidades epileptogênicas, sejam adquiridas, sejam genéticas. Finalmente, o terceiro fator consiste de eventos que possam precipitar as crises, como a febre nas convulsões febris em crianças ou a abstinência alcoólica nos pacientes dependentes de álcool (TERRA; VALERIO e DE OLIVEIRA, 2013)
Há estudos que relatam como possíveis causas da epilepsia a deficiência em receptores específicos de neurotransmissores, assim como a falta dos mesmos. 
Uma diminuição da atividade de catecolaminas, especialmente dopamina, noradrenalina e serotonina, tem sido demonstrada como um facilitador nos processos de abrasamento do foco epileptogênico, na exacerbação da gravidade das crises e na intensificação da predisposição a crises epilépticas em alguns modelos animais. […] Animais com sistema noradrenérgico deficitário são geralmente mais suscetíveis a crises epilépticas, sugerindo que a noradrenalina endógena apresenta efeito anticonvulsivante, o que foi demonstrado, principalmente, em estudos envolvendo modelos de roedores com epilepsia audiogênica (LOUTFI e CARVALHO, 2010)
Alguns autores acreditam também que algumas deficiências cerebrais cooperam para a ocorrência de alguns tipos de epilepsia. Da Rocha, Carolina cita em 2019 Canitano, Spence e Schneider ao reiterar que alguns estudos relatam que existe uma maior probabilidade de ocorrência de crises epilépticas em pacientes com retardo mental grave associado.
Segundo o protocolo clínico e diretrizes terapêuticas, a estimativa da prevalência mundial de epilepsia ativa esteja entre 0,5% e 1% da população e que 30% desses possuam epilepsia refratária, ou seja, os pacientes continuam a ter crises, sem remissão, apesar dos anticonvulsivantes adequadamente administrados. O protocolo ainda informa que a incidência estimada na população ocidental é de um caso para cada duas mil pessoas por ano. Sendo assim, a probabilidade de ser afetado por essa doença ao longo da vida é de 3%. Números que corroboram a importância do estudo e revisão de todos os tipos, subtipos e graus de epilepsia (Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas, 2015).
2.2. EPILEPSIA: PATOLOGIAS CORRELACIONADAS E POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS
Em conversas e entrevistas com pacientes - e seus responsáveis - que sofrem de algum tipo e grau de epilepsia foi atestado que todos reclamaram de pelo menos falta de atenção nos epilépticos, quando não afirmaram perceber uma queda de cognição após o início das crises. Os prejuízos sobre a cognição – processo ou faculdade de adquirir um conhecimento – parecem ser as consequências mais frequentes, bem como mais aparentes da epilepsia, sendo a memória e a atenção os domínios mais afetados. Sendo assim, o quociente intelectual desses pacientes tende a ser menor que o padrão.
Estudos (GRÜNSPUM, GROSSMAN, 1992; SOUZA, GUERREIRO, 1996) têm demonstrado prejuízos sobre a cognição e o quociente intelectual, pois podem existir alterações significativas da atenção em crianças epilépticas. A precocidade e a duração das crises são fatores que estão ligados diretamente ao quociente intelectual e à aprendizagem do indivíduo. Dificuldades na memorização e lentidão mental também são destacadas entre as deficiências cognitivas (FERREIRA; TOSCHI e SOUZA, 2006)
Outras pesquisas com tipos específicos de epilepsia validam a relação de causa e consequência entre as crises epilépticas e o prejuízo cognitivo. Konkiewitz e Catsarini junior (2016) constatam que a Epilepsia Mesial Temporal (EMT) refratária afeta, ao longo de sua evolução, vários domínios do funcionamento cognitivoque parece estar associada a uma deterioração cognitiva lenta, porém contínua. Na percepção de seus pacientes, a memória seria o domínio mais afetado, mas eles também se queixaram de atenção reduzida, lentificação cognitiva e até dificuldade de expressão verbal. Loutfi e Carvalho (2010) atestaram que em pesquisa houve correlação significativa entre a presença de crises epilépticas noturnas, baixos escores de quociente intelectual na avaliação neuropsicológica e em testes de memória visuoespacial e descargas eletroencefalográficas rolândicas. Eles também fizeram testes com crianças com epilepsia benigna com elevada frequência de descargas interictais e essas apresentaram escores mais baixos nos testes neuropsicológicos. Problemas relacionados à atenção sustentada também foram identificados. Konkiewitz e Catsarini junior concordam que crises recorrentes podem afetar diversas esferas do funcionamento cognitivo, incluindo a memória, as funções executivas, a atenção, a linguagem, o julgamento e a resolução de problemas.
Diversos autores acreditam, testam e verificam que a idade de início das crises epilépticas seria um fator determinante para o prejuízo cognitivo assim como o intelectual nos pacientes. Citados por Loutfi e Carvalho (2010), Schoenfeld et al. (1999) encontraram na literatura que o início precoce das crises seria forte fator preditivo de comprometimento cognitivo. Konkiewitz e Catsarini junior reforçam que diversos estudos em crianças e adultos confirmaram a correlação entre o grau de prejuízo intelectual e a precocidade na idade de início das crises.
Dentro dos prejuízos cognitivos e intelectuais causados pela epilepsia há correlação com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). “A prevalência do TDAH na população pediátrica é em torno de 3% a 7%. Em pacientes portadores de epilepsia, o TDAH ocorre em cerca de 20% a 40%, portanto muito acima da prevalência do TDAH na população em geral” (LOUTFI e CARVALHO, 2010). Citados por Loutfi e Carvalho (2010) Dunn et al. avaliaram 175 crianças com epilepsia, utilizando escalas comportamentais para investigar a presença de sintomas do transtorno de deficit de atenção e hiperatividade. O resultado mostrou maiores escores nos epilépticos que valores encontrados na população geral.
Não se sabe porquê dessa correlação e esse alto índice desse transtorno em epilépticos, porém alguns autores acreditam que, assim como na epilepsia, uma das causas para o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade seria uma desregulação de alguns neurotransmissores e receptores do metabolismo. “Outros argumentam que a participação de catecolaminas cerebrais na modulação da excitabilidade neuronal poderia ser a explicação de um mecanismo comum entre o TDAH e as epilepsias” (LOUTFI e CARVALHO, 2010)
Hesdorffer et al. avaliaram a presença de sintomas de TDAH em pacientes com epilepsia recém diagnosticada e crises incidentais não provocadas
. […] Um histórico compatível com TDAH foi 2,5 vezes mais frequente entre crianças com crises recém diagnosticadas que em controles normais, e essa associação foi ainda mais marcada para o tipo predominantemente desatento. Neste estudo, concluiu – se que a presença de TDAH esteve associada a um aumento do risco de desenvolvimento de crises incidentais não provocadas. O estudo sugere antecedentes comuns a ambas as condições, e não simplesmente uma relação de causalidade da epilepsia em relação ao déficit de atenção. (LOUTFI e CARVALHO, 2010)
Ainda há autores que acreditem que a correlação entre o TDAH e a epilepsia seja a alguma anormalidade cerebral estrutural, sendo assim a causa das duas patologias. “Os estudos que realizaram ressonância magnética volumétrica quantitativa cerebral revelaram diferenças anatômicas, confirmando a suspeita de que o TDAH em epilépticos pode estar associado a anormalidades cerebrais estruturais.” (LOUTFI e CARVALHO, 2010)
Problemas atencionais em portadores de epilepsia são frequentes e devem ser compreendidos não apenas no contexto do TDAH, e sim por meio de uma avaliação neuropsicológica mais ampla que inclua não só a avaliação da atenção em suas diversas modalidades, mas também de uma criteriosa análise de diversos aspectos da cognição, tais como funções executivas, memória e inteligência (LOUTFI e CARVALHO, 2010)
O autismo, uma patologia que afeta a cognição também tem correlação com a epilepsia. Sendo essa, também mais frequente em epilépticos do que na população em geral. Cristensen et al. - apud Da Rocha et al. em 2019 - afirmam que autistas podem apresentar comorbidades associadas, como: epilepsia. “A associação desta entidade nosológica com a epilepsia é pouco documentada na literatura e estudos (KUCZYNSKI, 2016) mostram que a prevalência de epilepsia chega a ser de 1% a 2% maior nos pacientes com autismo em relação à população em geral. […] A frequência de epilepsia em pacientes com TEA
 aumenta em menores de cinco anos e principalmente em adolescentes.” (DA ROCHA et al., 2019). Não se sabe exatamente o por que, mas a relação das duas patologias tem base no fato de que as convulsões ocorrem em maior quantidade e frequência em epilépticos com alguma deficiência mental severa e/ou retardo mental. Da Rocha et al., 2019 declara que um estudo mostra que convulsões ocorrem em 16% a 35% de crianças com TEA, sendo os maiores fatores de risco associados para o desenvolvimento de epilepsia são retardo mental severo, e a combinação de deficiência mental severa com déficit motor.
Além dos distúrbios já citados, os distúrbios de linguagem ocorrem em praticamente todos os tipos de epilepsia em algum momento, seja apresentando comorbidade, seja como consequência das crises de ausência e/ou convulsões. O mais comum é que ocorram alterações linguísticas durante e após uma crise. A explicação se refere as descargas elétricas excessivas que ocorrem durante as crises epilépticas e acabam por interferir no funcionamento normal do córtex durante e após esse período. “Outra alteração que ocorre durante as crises de ausência está relacionada a alterações da linguagem escrita, como omissões de palavras e linhas deformadas, ocasionadas pela perda de consciência” (LAUNAY, citado por FERREIRA; TOSHI e SOUZA, 2006)
Existem efeitos e/ou consequências da epilepsia sobre a linguagem que extrapolam o momento da crise ou de sua aura
 e alguns estudos já foram feitos para descobrir quais as alterações. Shirmer et al. - apud Ferreira; Toschi e Souza, 2006 – reconhecem que os distúrbios mais relatados englobam as disfasias do desenvolvimento, afasias críticas com alteração transitória da função cognitiva e a afasia epiléptica adquirida (Síndrome de Landau-Kleffner), caracterizada pela deterioração da linguagem na infância.
Alguns autores declaram que crianças que sofrem as convulsões causadas pela epilepsia possuem melhores chances de defesa e recuperação por conta de ainda estarem no processo de maturação de sua massa cinzenta. Portuguez – apud Ferreira; Toshi e Souza, 2006 – afirma que em virtude deste processo de maturação a linguagem, por exemplo, estaria mais preservada em pacientes que tiveram suas primeiras crises antes de completarem 3 anos de vida. Porém, o resultado encontrado na pesquisa de Ferreira; Toshi e Souza, 2006 contradiz a literatura de Portuguez, já que conduz a seguinte reflexão:
Crianças que tiveram início das crises antes dos três anos de idade apresentaram mais alterações linguísticas que aquelas com crises iniciadas após essa idade. […] Brasil (2000) explica que ‘quando o sistema nervoso ainda é imaturo as crianças são mais propensas às crises, pela falta de sistemas inibitórios às crises. As crises precoces são mais rápidas, recorrentes e evoluem facilmente para status epiléptico’ (FERREIRA; TOSHI e SOUZA, 2006). 
Ainda, nessa mesma pesquisa (FERREIRA; TOSHI e SOUZA, 2006), foi relatado que todos os indivíduos avaliados manifestaram distúrbios linguísticos em no mínimo uma habilidade linguística, o que neste caso corrobora a ideia de alterações de linguagem possam ser consideradascomórbidas à epilepsia em crianças e ocorrerem em praticamente todos os casos, pelo menos em casos pediátricos.
Diversas alterações ainda podem ser encontradas (PERELLÓ, PONCES, 1995), como a uniformidade na voz, a perseveração, a afasia assemântica, todos os graus de parafias, contaminação de frases, formulação imprecisa, dislexias, disortografias e alterações na estrutura espacial. Sujeitos epilépticos podem apresentar também maior sensibilidade a sons agudos ( FERREIRA; TOSHI e SOUZA, 2006)
Existe ainda uma grande correlação entre a epilepsia e transtornos psiquiátricos. Sendo a depressão o mais comum - e fator de maior importância no julgamento do paciente sobre sua qualidade de vida - entre epilépticos, com uma prevalência de 50% a 60%. Com isso, a estimativa nas epilepsias é de seis a doze vezes mais elevada que na população em geral. Alonso et al. citam “ a relação entre epilepsia e depressão tem sido reconhecida desde os tempos de Hipócrates que observou uma frequência relativamente alta de melancolia entre pessoas com epilepsia e na atualidade lidera a lista de distúrbios psiquiátricos em indivíduos com epilepsia”. Mendez et al. - apud Terra; Valerio e De Oliveira, 2013 - observaram em estudo retrospectivo de 1993 que pacientes com epilepsia de uma clínica neurológica apresentavam nove vezes mais transtornos psicóticos do que os outros pacientes. Os casos de epilepsia em que mais ocorrem os transtornos psiquiátricos são aqueles com refratariedade
. Segundo Araújo et al (2008) – apud Terra; Valerio e De Oliveira, 2013 – até 6% de seus pacientes com epilepsia têm algum transtorno mental, e essa taxa cresce para até 20% em casos de refratariedade a tratamento.
Os autores ainda tentam entrar em um acordo sobre o porquê dessa comorbidade, mas ainda não obtiveram sucesso na unanimidade dessa relação. Uma vertente acredita fielmente na desregulação de químicos neuronais: “Considerando que a neuroinflamação crônica também é parte da fisiopatologia da EMT, é plausível sugerir, à luz do modelo citocinérgico da depressão, que a neuroinflamação seja um contribuinte direto da depressão nestes pacientes” (KONKIEWITZ e CATSARINI JUNIOR, 2016). A outra, enxerga o lado social do problema e contradiz o que muitos falam sobre ser normal sentir-se deprimido quando se convive com uma doença como a epilepsia: 
Os profissionais de saúde e os pacientes conservam a concepção errônea de que é normal sentir – se deprimido quando se tem epilepsia, visto ser esse um distúrbio carregado de implicações psicossociais que se perpetuam através dos séculos: o desconhecimento, o estigma, a exclusão social, as limitações impostas às atividades cotidianas. Tais problemas ao receberem o rótulo de ‘normais’ deixam de ser explicitados e questionados. O normal não é foco de reflexões sociais (ALONSO et al., 2005)
As duas correntes são possíveis e importantes, porém ao pensar na qualidade de vida do paciente como um todo e na problematização de sua doença, a segunda é a que melhor responde às questões. 
2.3. EFEITOS DAS DROGAS ANTIEPILÉPTICAS
Muitos pesquisadores creem que as drogas usadas no tratamento da epilepsias, conhecidas como antiepilépticas, são as responsáveis por muitas das consequências da doença que elas tratam e/ou são a ponte da comorbidade de outras doenças. 
Na literatura, vários autores (GUERREIRO, SANTOS, REIS, NEUROPSICONEWS) constataram que as drogas antiepilépticas têm efeitos sobre a linguagem, principalmente se são realizadas associações medicamentosas. Entretanto, as crianças que fazem associações não apresentam mais alterações que as que fazem monoterapia. (FERREIRA; TOSHI e SOUZA, 2006)
Alguns estudos ainda demonstram como os efeitos neurocognitivos em algumas crianças reagiram após a retirada de seus antiepilépticos expondo os efeitos negativos de alguns desses remédios sob o desempenho cognitivo e do quociente intelectual nas crianças que os tomavam. Alguns dos remédios tiveram seus efeitos confirmados por outras pesquisas de outros autores também.
Tonekaboni et al. estudaram os efeitos neurocognitivos após a suspensão do fenobarbital em crianças epilépticas e compararam com um grupo de controle formado por epilépticos que continuaram fazendo uso de fenobarbital. Após a interrupção do fenobarbital, foi observado, por meio da realização de testes neuropsicológicos, que houve aumento significativo nos escores de quociente intelectual com importante melhora no desempenho de itens não verbais, tendo demonstrado também efeitos deletérios, nos testes que envolvem maior demanda da atenção nos pacientes que continuaram em uso da droga […] Apesar de os barbitúricos apresentarem propriedades sedativas em adultos, em crianças essa droga pode cursar com alterações comportamentais importantes, como induzir ao surgimento de sintomas de hiperatividade, irritabilidade, além de sintomas depressivos. (LOUTFI e CARVALHO, 2010)
Estudos com outros remédios trouxeram resultados conflitantes e controversos, como também inconclusivos. Loutfi e Carvalho (2010) asseguram que estudos com o remédio sulthiame – usado para tratamento de epilepsia benigna da infância – demonstraram controvérsias. Enquanto alguns autores documentaram melhora cognitiva acompanhada de redução do número de descargas no cérebro, em outros casos houve piora cognitiva apesar do controle de crises. Eles declaram também que os estudos baseados em experimentos com drogas agonistas e antagonistas da dopamina mostraram que os efeitos estimulantes de convulsões ou inibidores dessas crises dependem, em parte, da seletividade dos receptores a serem ativados. 
Portanto, as drogas usadas para o controle de crises epilépticas e seus efeitos possuem diversas variáveis e a comunidade científica não encontrou a unanimidade ainda, mas continua procurando por soluções.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a análise bibliográfica realizada sobre correlações entre a epilepsia e outras patologias, podemos constatar que há algumas contradições quando colocado em prática a teoria, como na pesquisa com crianças que tiveram suas primeiras crises epilépticas antes de completarem 3 anos de vida. A teoria previa que essas crianças regenerariam o cérebro com maior facilidade e os danos seriam mínimos, talvez, inexistentes, mas a prática se mostrou incoerente quando, praticamente, todas as crianças analisadas tiveram maiores danos cognitivos e de fala quando apresentaram sua primeira crise antes dos 3 anos em comparação a outros pacientes que a tiveram depois dessa idade.
Ainda segundo a análise supracitada, em outra pesquisa realizada, todos os pacientes entrevistados, acompanhados – quando menores de idade – ou não de seus responsáveis, queixaram-se de problemas cognitivos e sintomas do TDAH, principalmente, falta de atenção e fácil perda de foco. Porém, não foi possível convalidar – por falta de provas suficientes e falta de unanimidade na comunidade científica – se a etiologia das duas patologias (epilepsia e TDAH) é a mesma ou se sua relação é de causa e consequência como atestado algumas vezes com os problemas cognitivos após crises epilépticas e com transtornos psiquiátricos em que é evidente que a qualidade de vida do paciente epiléptico é causa para transtornos como depressão e ansiedade que são consequência do modo como essas pessoas são tratadas, principalmente, pela sociedade.
Não foi possível também apurar que drogas antiepilépticas causam diretamente danos cognitivos aos pacientes que as utilizam. Essa relação foi reforçada por acompanhamento com pacientes que interromperam o consumo de certas drogas antiepilépticas e apresentaram considerável melhora na cognição. Porém, alguns autores documentaram melhora cognitiva utilizando as drogas, mas sem diminuição das crises e, outros pesquisadores documentaram piora cognitiva e melhora das crises ao utilizarem certos remédios.
Portanto, é possível notar que não há pesquisas suficientes para responder qual a correlação da epilepsia com outras patologias e esse déficit científico prejudica tanto neurologistas quantoseus pacientes que não obtêm respostas concretas e ficam a mercê de experimentos, testes e dúvidas sobre seus tratamentos. Ainda nesse prisma epiléptico, a discriminação dos pacientes epilépticos contribui para a piora da qualidade de vida deles, tendo como consequência, principalmente, desenvolvimento de depressão. Por isso, é necessário que novas pesquisas e experimentos sejam realizados.
4. REFERÊNCIAS
ALONSO, Neide Barreira et al. Sintomas depressivos e qualidade de vida em indivíduos com epilepsia por esclerose mesial temporal, publicado em Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology, 2005. Disponível em file:///C:/Users/Usuario/Desktop/ARTIGO%20CIENTÍFICO/artigos%20base/Sintomas%20depressivos%20e%20qualidade%20de%20vida%20em%20indivíduos%20com%20epilepsia.pdf, com acesso em setembro de 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. Portaria SAS/MS nº 1319, de 25 de novembro de 2013. Retificada em 27 de novembro de 2015. Disponível em file:///C:/Users/Usuario/Desktop/ARTIGO%20CIENTÍFICO/artigos%20base/Epilepsia---PCDT-Formatado--.pdf, com acesso em setembro de 2019.
FERREIRA, Daniella de Miranda; TOSCHI, Larissa Seabra; SOUZA, Tatiane de Oliveira Souza. Distúrbios de linguagem e epilepsia. Goiânia – GO, 2006. Disponível em file:///C:/Users/Usuario/Desktop/ARTIGO%20CIENTÍFICO/artigos%20base/Distúrbios%20de%20linguagem%20e%20epilepsia.pdf, com acesso em setembro de 2019.
KONKIEWITZ, Elisabete Castelon; CATSARINI JUNIOR, Francisco Márcio. Não são apenas as crises epilépticas: cognição, emoção e comportamento na epilepsia mesial temporal. Dourados – MG, 2016. Disponível em file:///C:/Users/Usuario/Desktop/ARTIGO%20CIENTÍFICO/artigos%20base/Não%20são%20apenas%20as%20crises%20epilépticas,%20cognição....pdf, com acesso em setembro de 2019.
LOUTFI, Karina Soares; CARVALHO, Alysson Massote. Possíveis interfaces entre TDAH e epilepsia. Belo Horizonte - MG, 2010. Disponível em file:///C:/Users/Usuario/Desktop/ARTIGO%20CIENTÍFICO/artigos%20base/Possíveis%20interfaces%20entre%20TDAH%20e%20epilepsia.pdf, com acesso em setembro de 2019.
ROCHA, Carolina Cunha et al. Autismo associado à epilepsia: relato de caso, Belém – PA, 2019. Disponível em file:///C:/Users/Usuario/Desktop/ARTIGO%20CIENTÍFICO/artigos%20base/autismo%20associado%20a%20epilepsia.pdf, com acesso em setembro de 2019.
TERRA, João Ricardo; VALERIO, Nelson Iguimar; DE OLIVEIRA, Guilherme Nogueira. Correlações clínicas entre as epilepsias e transtornos psiquiátricos: considerações da literatura publicado em Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology, 2013. Disponível em file:///C:/Users/Usuario/Desktop/ARTIGO%20CIENTÍFICO/artigos%20base/correlações%20clínicas%20entre%20epilepsia%20e%20transtornos%20psiquiatricos.pdf, com acesso em setembro de 2019.
�	Trabalho apresentado como requisito parcial de avaliação do Programa de Desenvolvimento Pessoal e Profissional – PRODEPP, ministrado pela professora: Dra. Patrícia Barth Radaelli no curso de medicina do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz.
�	Acadêmica do primeiro ano do curso de medicina do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz. 
�	Professora Orientadora – Doutora em Letras, pela UNIOESTE, Mestre em Linguagem e Sociedade, Especialista em Literatura e Ensino pela mesma instituição. Coordenadora do Núcleo de Atendimento e Apoio ao Estudante do Centro FAG - NAAE, docente no Centro FAG. 
�	 São crises isoladas ou agrupadas dentro de um período de 24 horas, que ocorrem na ausência de um fator clínico precipitante e em uma pessoa sem histórico prévio compatível com epilepsia. 
�	Transtorno do Espectro Autista 
�	Momento que antecede a crise
�	 Persistência na frequência das crises epilépticas após o uso de pelo menos duas medicações devidamente indicadas para o tipo de epilepsia, utilizadas em associação ou não com outras.

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