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1 UNISUAM TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL 2ª AULA DA PESSOA NATURAL PESSOA NÃO HUMANA “Atualmente a ciência jurídica moderna busca discutir os paradigmas do Direito que foram construídos ao longo do século passado. A ampliação e extensão dos conceitos jurídicos modernos encontra resistência diante das fronteiras dos conceitos do Direito clássico. O novo desafio do sistema jurídico é exatamente saber quais e se existem limites para o reconhecimento de direitos. Obviamente o entendimento do sistema jurídico é indiferente para os animais. Dificilmente será possível explicar a qualquer animal não humano como funciona um sistema de leis e obrigar que eles sejam sujeitos de deveres. A racionalização do sistema jurídico é exclusividade dos seres humanos. Os animais não humanos podem no máximo ter normas de condutas sociais entre eles e outros seres. A valoração de condutas sempre vai depender da interpretação humana, mas nada impede aos animais não humanos o adestramento de suas condutas.” Atualmente, em nosso direito, os animais são bens móveis do tipo semovente, e recebem proteção por integrarem a fauna nacional (art. 225, VII CF/88). Fonte: https://fernandoandrioli.jusbrasil.com.br/artigos/314571682/biodireito-a-tutela- jurisdicional-a-pessoa-nao-humana-o-caso-sandra CONCEITOS DE PESSOA NATURAL ART. 1º CC 1. Para qualquer pessoa assim designada, basta nascer com vida e, deste modo, adquirir personalidade. (GLAGLIANO, , 2016, p.135). 2. É o sujeito da relação jurídica ocupando qualquer dos seus polos. Pessoa natural é gente, é o ser humano com vida, aquele ente dotado de estrutura biopsicológica, pertencente à natureza humana. Daí a denominação abraçada pelo Texto positivado: pessoa natural, isto é, aquele que pode assumir obrigações e titularizar direitos. (FARIAS E ROSENVALD, 2008, p.197) . 2 3. Pessoa natural é “o ser humano considerado como sujeito de direitos e obrigações”1. Para qualquer pessoa assim designada, basta nascer com vida e, deste modo, adquirir personalidade. (GONÇALVES, 2017, p.100). PERSONALIDADE JURÍDICA ART.2º CC CONCEITOS 1. É a aptidão reconhecida pela ordem jurídica a alguém, para exercer direitos e contrair obrigações. (GONÇALVES, 2017, p.94).2 2. A personalidade da pessoa natural vem com o nascimento (com vida); logo, independe de providências burocráticas como a elaboração de registro de nascimento. Equivale a dizer: a personalidade jurídica é adquirida através do nascimento com vida, conferindo-se ao regular registro de nascimento , no Cartório do Registro Civil de Pessoas Naturais, caráter meramente administrativo, de natureza declarativa e não constitutiva. (FARIAS e ROSENVALD, 2008, p.199). 3. Personalidade jurídica , portanto, para a Teoria Geral do Direito Civil, é a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações, ou , em outras palavras, é o atributo para ser sujeito de direito. AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Nascimento com vida. Pode o ser humano nascer , respirar e morrer. Diante da necessidade de aferir-se se respirou, adquirindo direitos, a medicina se vale do exame de docimasia pulmonar (docimasia hidrostática de Galeno) que determina se houve a presença de ar atmosférico nos pulmões. Entretanto, o choro da criança ou certos movimentos que ela tenha feito, também aferem o nascimento com vida.3 A criança terá sido considerada nascida, para fins do direito, após o corte do cordão umbilical.4 Diferentemente de outras ordens jurídicas, como a espanhola, por exemplo, não se exige a forma humana para concessão de personalidade jurídica em nosso ordenamento. Nem sempre foi assim: toda pessoa adquire personalidade jurídica com o nascimento com vida. Lembremos do período escravocrata em que os escravos eram coisa. A atual legislação evidencia conquista jurídica. Hoje a pessoa humana é o centro de nosso ordenamento. 1 GOLÇALVES, citando Maria Helena Diniz in Curso de Direito Brasileiro. 2 GONÇALVES, citando Clóvis Beviláqua. 3 FARIAS e ROSENVALD citando Arnold Wald. 4 FARIAS e ROSENVALD citando Washington de Barros Monteiro. 3 RELAÇÃO JURÍDICA É toda relação que se estabelece entre pessoas, e é regulada pelo direito. Somente as pessoas são sujeitos de relação jurídica. Podem ser sujeitos ativos e passivos. Os animais , embora recebam proteção, são coisas móveis para o direito. Não podem ser sujeitos de direitos, não podendo ser beneficiados, por ex., em testamento. NASCITURO “O que está por nascer, mas já concebido no vente materno.”5 É o ser concebido, mas ainda não nascido. O artigo 2º do CC assegura que se põe a salvo os direitos do nascituro. TEORIAS SOBRE O COMEÇO DA PERSONALIDADE JURÍDICA TEORIA NATALISTA – adotada pelo CC. Admite que a personalidade jurídica surge do nascimento com vida. Para estes doutrinadores, o nascituro não seria pessoa, e teria mera expectativa de direitos. TEORIA CONCEPCIONISTA Inspirada no direito francês, o nascituro teria personalidade jurídica a partir da concepção, sendo desde então, pessoa. Os alimentos gravídicos seriam exemplo desta aplicação. TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL O nascituro possui direitos sob condição suspensiva. Os direitos se implementarão se ele nascer com vida. Arnold Wald entende que a proteção do nascimento explica-se , pois há nele uma personalidade condicional que depende de evento futuro e incerto: o nascimento com vida. A posição da Profª Maria Helena Diniz, citada por STOLZE e GAGLIANO, 2016, p.138: “Na vida intrauterina tem o nascituro personalidade jurídica formal, no que atina aos direitos personalíssimos e aos da personalidade, passando a ter a personalidade jurídica material, alcançando os direitos patrimoniais, que permaneciam em estado potencial, somente com o nascimento com vida. Se nascer com vida, adquire personalidade jurídica material, mas se tal não ocorrer, nenhum direito patrimonial terá.” PARA REFLETIR Embora o Código Civil brasileiro evidencie pelo artigo 2º a aplicação da teoria natalista, a teoria concepcionista avança. Pode-se dizer que a proteção à vida do nascituro é mera expectativa de direito? E a aplicação do artigo 1.779 CC? 5 GALIANO e PAMPLONA FILHO citando Francisco Amaral que citou Limongi França. 4 O nascituro pode receber legado e herança, recolhendo-se os impostos. A lei de alimentos gravídicos, 11.804//2008 tem influência para aplicação da teoria concepcionista? O REGISTRO DA PESSOA NATURAL É a principal prova da existência da pessoa natural, e é efetuado pelo oficial do Registro Civil das Pessoas Naturais. Em nada interfere na configuração da pessoa física. Tem caráter meramente declaratório, e não constitutivo. O que constitui a pessoa física é o nascimento com vida. A falta do registro não retira da pessoa sua condição de cidadão, apenas dificulta e, por vezes impede, seu exercício (ex. matrícula em escola, direito de voto, etc). FIM DA PESSOA NATURAL Ler art. 6º A extinção da pessoa física se dá com a morte real ou presumida. Morta uma pessoa natural, extingue-se sua personalidade jurídica. Lecionam FARIAS e ROSENVALD6:: Somente com o óbito, haverá cessação da aptidão para titularizar relações jurídicas, ocorrendo, de pleno direito, uma mutação subjetiva nas relações jurídicas patrimoniais mantidas pelo falecido (de cujus) , que passam a ser titularizadas por seus sucessores, ex vi do disposto no art. 1.784 CC. É preciso salientar, todavia, que mesmo após a extinção da pessoa, e por conseguinte, de sua personalidade, subsistirá a sua vontade para os fins do que , eventualmente, tiver o falecido disposto em testamento (art.1857 CC) ou codicilo (art. 1881 CC), bem como no que concerne ao destino do cadáver se, em vida, ocorreu expressa manifestação de vontade própria (art. 14 CC). Não tendo ocorrido manifestação de vontade ainda em vida pelo titular, os familiares decidirão o destino do cadáver. Morte real é a morte física, momento em que o corpo é sepultado, e extraída a certidão de óbito , pelo médico competente,que servirá como prova. Morte presumida: ocorre conforme arts. 6º. Excepcionalmente, não é possível localizar o cadáver. Como a certidão de óbito somente poderá ser lavrada a vista de um atestado médico, será necessária a intervenção do Poder Judiciário para produzir os efeitos jurídicos da morte. A morte presumida poderá ser decretada judicialmente por procedimento de ausência ou não. Leitura do artigo 7º CC. 6 Direito Civil, 2008, p.220/221. 5 COMORIÊNCIA artigo 8º – relativo ao fim da personalidade. Pessoas que falecem na mesma ocasião, sem que se possa determinar quem pré-morreu à outra. Importa a comoriência ao direito sucessório. Se falecem ao mesmo tempo, a perda da personalidade é simultânea, os herdeiros de cada qual se beneficiam, caso contrário a sucessão pode se dar entre os comorientes e daí a seus herdeiros pessoais. Presunção de morte simultânea. Admite prova em contrário, que pode decorrer de exame médico-legal, testemunha que tenha presenciado o fato, posição dos corpos, etc). A TEORIA DAS INCAPACIDADES Capacidade não se confunde com personalidade jurídica. Todos os que têm personalidade jurídica têm, também, capacidade de direitos. “Toda pessoa tem capacidade de direito (Rechtsfähigkeit), como inerência própria de sua qualidade de sujeito de direitos, ou seja, da qualidade de quem tem personalidade. Não se pode ter personalidade e ser-se inteiramente desprovido de capacidade.” (NERY, 2015, p.80). Logo, a personalidade é absoluta, enquanto a capacidade é relativa. Todos têm personalidade jurídica, mas alguns têm ausência ou limitação de capacidade, para atos da vida civil. Vale dizer: regra geral todos os que têm personalidade jurídica , têm capacidade jurídica ou de direito. Entretanto: algumas pessoas, em razão de idade , por serem ébrios habituais, viciados em tóxicos, não puderem exprimir sua vontade , serem pródigos, não têm capacidade para o exercício de todos ou alguns atos da vida civil, conforme o caso. ESPÉCIES DE CAPACIDADES Capacidade de direito ou de gozo – aptidão oriunda da personalidade jurídica, para adquirir direitos e contrair obrigações na vida civil. Alguns autores admitem que são institutos semelhantes, já que em nosso sistema jurídico não se admite a privação do ser humano da aptidão para ser sujeito de direitos. Capacidade de fato ou de exercício – aptidão para exercer por si, os atos da vida civil. 6 INCAPACIDADE É o reconhecimento da inexistência , numa pessoa, dos requisitos que a lei acha indispensáveis para que ela exerça os seus direitos. Restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. ESPÉCIES DE INCAPACIDADE Absoluta – quando houver restrição absoluta , proibição total do exercício de um direito pelo incapaz, acarretando nulidade. CC 166,I se o realizar sem a representação legal. Art. 3ºCC. O ato nulo pode ser declarado pelo juiz ex officio. Menor de 16 anos Segundo Clóvis Beviláqua não é a puberdade que se deve levar em conta, mas a deficiência intelectual e o poder de adaptação à vida social. A norma fixa 16 anos para o início da capacidade relativa, e 18 para a plena capacidade. Segundo o Estatuto da Criança e do adolescente, a pessoa é criança até os doze anos, e adolescente dos 12 aos 18. Logo, dentre os absolutamente incapazes estão as crianças e os adolescentes até a data em que completarem dezesseis anos. Até a vigência da Lei 13.146/2015, Estatuto da pessoa com Deficiência, havia mais duas modalidades de incapacidade absoluta. Hoje, em razão da homenagem à dignidade da pessoa portadora de deficiência, esta não integra diretamente a categoria da incapacidade. A lei não exige mais representação para os deficientes, mas criou a “tomada de decisão apoiada” segundo a qual o deficiente elegerá duas pessoas de sua confiança para auxiliá-lo na tomada de decisões sobre atos da vida civil. A interdição é medida extraordinária e estende-se apenas aos atos patrimoniais e negociais. Relativa – refere-se àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil, desde que assistidos por quem de direito os represente, sob pena de anulabilidade. CC 171,I do ato jurídico. Art. 4º CC. A regra da incapacidade é medida protetiva. As pessoas que não são capazes de externar sua vontade não podem ser criadoras de relações jurídicas. A prática do ato por absolutamente incapaz é nulo por faltar elemento substancial. 7 O absolutamente incapaz deve ser representado. Diferente é a inaptidão dos relativamente incapazes. A limitação é menos intensa. Pessoas que apresentam um grau intelectual não desprezível, têm liberdade jurídica de atuação limitada à assistência nos atos jurídicos – do pai, tutor, curador. A mulher casada assim se configurava até a Lei 4121/62 mas a CF art.5 a tornou plenamente capaz e igual em direitos e deveres aos homens. Maiores de 16 e menores de 18 devem ser assistidos por representante (assistente), mas seus atos são válidos desta forma. É o próprio menor que atua no negócio jurídico. A desassistência gera anulação dos atos jurídicos. Art.171, I CC causa de anulação. Art.180, ver. Defesa do ato de boa-fé. Se dolosamente ocultou, não haverá anulação. Silvícolas – lei especial. Atualmente Lei 6.001/1973. São tutelados pela FUNAI. Ao passo que vão se aculturando, haverá a cessação do regime tutelar. Obs. No direito brasileiro, nem o falido, nem o criminoso perdem a capacidade, como noutros ordenamentos jurídicos. MAIORIDADE: alcançada aos 18 anos, exceto se emancipado. Art. 5º CC caput. 6. EMANCIPAÇÃO: é a aquisição da maioridade civil antes da idade legal de 18 anos e a partir dos 16 anos. Análise do parágrafo único do art. 5ºCC. Apenas um inciso decorre da vontade manifestada pelo titular do poder familiar ou sentença judicial (I). Os demais decorrem de eventos como casamento, exercício de emprego público, colação de grau em curso superior, estabelecimento civil ou comercial ou existência de emprego, desde que em função destes tenha economia própria e mais de 16 anos. Hoje os casos de emancipação são menos frequentes porque a idade para a maioridade é 18 anos. No CC de 1916 a idade para a maioridade era de21 anos. A emancipação é irrevogável. Requer escritura pública no inciso I. Não é preciso homologação do juiz, se concedida pelos pais. Não se deve confundir a capacidade civil com capacidade eleitoral nem a idade para o serviço militar. Estes são direitos e deveres especiais, segundo o STF. O menor sob tutela pode ser emancipado por sentença judicial. 8 Requer-se a emancipação e são citados e ouvidos o tutor e o MP para tomarem ciência da justificação do menor, que deverá provar que é capaz de reger a si e a seu bens. A emancipação pelo casamento é irreversível. A viuvez não devolve a incapacidade. Emprego público estável – funda-se na confiança do Estado. Logo, a emancipação pode ser expressa ou tácita. Expressa a concedida pelos pais, tácitas as demais. FONTE: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. I Teoria Geral do Direito Civil. SP: Saraiva. FARIAS, Cristiano e ROSENVALD, Nelson. Direito Civil. Teoria Geral. RJ: Lunen Iuris, 2008. GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral, 1. SP: Saraiva, 2016. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Parte geral, Vol. I. SP:Saraiva, 2017. NERY, Rosa Maria de Andrade. Instituições de Direito Civil. Família. Vol.V. SP: Revista dos Tribunais, 2015.
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