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CAPÍTULO 1
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO 
E DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Conhecer a retrospectiva do ensino superior no Brasil, desde a colônia até a 
república.
 Analisar a evolução do ensino no Brasil e suas principais características.
10
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
11
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
CONTEXTUALIZAÇÃO
“A história é o exercício da memória realizada para compreender 
o presente e para nele ler as possibilidades do futuro, mesmo 
que seja de um futuro a construir, a escolher, a tornar possível”. 
Francisco Cambi
Conhecer o ensino superior brasileiro e sua organização requer um exercício 
histórico, ou seja, retroceder e ver lá no início do processo de colonização como 
se organizava o ensino em nosso país. Notadamente, não podemos falar que 
nos primeiros séculos do período colonial havia ensino superior no Brasil, porque 
estudos mais aprofundados e em nível superior existiam somente na metrópole 
portuguesa e em outros países europeus, pois a oferta dessa modalidade de 
ensino era proibida nas colônias por motivos óbvios que estavam atrelados 
à exploração das terras e dos nativos. Tratavam-se de ações convenientes ao 
controle e exploração dos espaços territoriais conquistados. Desse modo, a ação 
educativa fi cou a cargo dos religiosos jesuítas, que ofereceram na época colonial 
a formação para o sacerdócio, que não era uma formação superior, devido ao 
seu caráter confessional e específi co. Outras formas de ensino foram criadas e 
aplicadas pelos padres jesuítas nos três primeiros séculos da nossa história, as 
quais serão abordadas adiante.
É importante frisar que o ensino superior no Brasil só veio a ter um sentido 
universitário nos anos de 1930. Isso contrastou com o restante da América 
espanhola, que criaram ainda no período colonial suas primeiras universidades, 
como a do Peru e México. Em nosso país, o ensino superior só foi possível com a 
chegada da família real portuguesa em 1808. 
O MODELO EDUCACIONAL JESUÍTICO 
E SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO 
BRASILEIRA
Vindos para a América somente com o intuito de explorar a terra e lucrar 
ao máximo, a colonização brasileira foi decorrência da vontade de expansão de 
Portugal que buscava maneiras de superar as difi culdades econômicas existentes 
na Europa no fi nal da Idade Média. Após conhecer as terras que seriam a futura 
colônia na América, os portugueses se dedicaram exclusivamente a explorar as 
riquezas aqui existentes nos trinta primeiros anos, não se preocupando com um 
projeto de povoamento. 
12
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
Esse desinteresse em povoar as terras descobertas não duraria muito 
tempo. Notando que sua colônia na América corria o risco de ser tomada, devido 
às investidas de corsários e até de embarcações ofi ciais de países europeus, os 
portugueses decidiram tomar providências e povoar de forma efetiva a colônia. 
Para isso foram criadas as capitanias hereditárias em 1532. Todavia, havendo 
difi culdades de sua implementação, em 1549 a coroa portuguesa criou o 
governo geral, que foi a primeira forma de poder público no Brasil, e teve como 
objetivo auxiliar as capitanias hereditárias. É importante frisar que junto com o 
estabelecimento do governo geral vieram os padres jesuítas.
Para compreender o papel dos jesuítas na educação do Brasil, antes de 
tudo é preciso se localizar no tempo e no espaço e entender o cenário 
daquela época. 
A educação jesuítica esteve diretamente relacionada às ideias 
do Renascimento europeu, também conhecido como Renascença ou 
Período das Luzes, compreendido entre os séculos XV e XVI. 
No fi nal da Idade Média para a Idade Moderna, a luta entre 
católicos e protestantes não fi cou só no terreno religioso/espiritual, 
também foi muito acirrada no campo educacional. Para tentar barrar a 
reforma, os católicos organizaram a companhia de Jesus. Você já ouviu 
falar dela? Conhece um pouco da história dos jesuítas no Brasil e no 
mundo? Edifi cada pelo padre espanhol Inácio de Loyola em 1534, e reconhecida 
em 1540, a companhia de Jesus nasceu como instrumento de combate à reforma, 
fundamentando-se na perspectiva de que tudo deveria ser feito para a máxima 
maior glória de Deus. Enfi m, pode-se afi rmar que a contrarreforma católica foi 
a tentativa de resgate da perdida hegemonia católica, contra qualquer inovação 
política, ideológica e cultural, e os jesuítas colaboraram nessa empreitada 
(CARVALHO, 2008).
Aqui temos a presença dos jesuítas, que chegaram em 1549 nas terras 
brasileiras trazendo a expansão da fé católica e do reino, reunindo colonizadores 
e evangelizadores sob o mesmo empreendimento. Com uma missão catequista, 
edifi caram igrejas e escolas em várias regiões da colônia da América. 
Construíram um sistema educacional, desenvolvendo uma pedagogia que atingia 
especialmente as crianças, usando o teatro, a música e a dança para cumprir 
seus objetivos. 
Com a chegada ao Brasil do padre Manuel da Nóbrega, no ano de 1549, teve 
início de fato a tarefa de catequização. Com uma dupla tarefa de converter os 
povos indígenas ao catolicismo e, com isso, expandir a fé católica, a companhia 
A educação jesuítica 
esteve diretamente 
relacionada 
às ideias do 
Renascimento 
europeu, também 
conhecido como 
Renascença ou 
Período das Luzes, 
compreendido entre 
os séculos XV e 
XVI.
13
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
de Jesus, que nada mais era do que um pelotão de soldados de Cristo, também 
teve a missão de fazer retroceder o crescimento protestante que avançava mundo 
afora.
Sobre a ação dos jesuítas no período inicial da colonização 
brasileira, acesse o seguinte endereço eletrônico: <http://www.ufjf.br/
lahes/fi les/2010/03/c1-a7.pdf>.
Você deve estar se perguntando: como era a educação das populações 
indígenas do território brasileiro antes da chegada dos jesuítas e europeus? Não 
havia escolas, as crianças participavam espontaneamente de atividades com os 
mais velhos, recebendo informações dos papéis que iriam desempenhar quando 
adultas. Assim, a atuação dos jesuítas se volta para as crianças e jovens, pois 
com os adultos encontravam maior difi culdade na conversão.
Desembarcados em 1549, na Vila de Pereira, depois Vila Velha, quatro padres 
e dois irmãos da companhia de Jesus se juntaram aos propósitos do governo de 
Portugal. Assim, como já foi dito, a chegada da companhia de Jesus no Brasil 
colônia esteve diretamente vinculada com a missão de facilitar a implantação e 
a manutenção de um modelo econômico colonial e também a divulgação da fé 
católica, ambos ameaçados pela reforma na Europa.
Foi esta determinação, de um governo preocupado com 
a manutenção da ordem, disciplina, domesticação para 
o serviço escravo e imposição da fé cristã, que marcou 
o início da formação da identidade brasileira. Os padres 
jesuítas ocuparam papel central neste modelo de formação 
educacional, característica do ideal de pessoa e sociedade 
que se pretendia formar aqui no Brasil. A educação jesuítica 
do Brasil colonial esteve relacionada com todo o movimento de 
emergência da escolarização no mundo. Os jesuítas tiveram 
grande infl uência na organização da sociedade brasileira 
e coube a eles orientar a população, desde os fi lhos dos 
senhores de engenho, colonos, escravos e índios, na fé cristã, 
na disciplina do corpo e do silêncio, nos valores morais, nas 
artes eruditas e nos costumes europeus. Aos índios coube, em 
especial, a catequese, a leitura e escrita e o idioma de Portugal. 
(CARVALHO, 2008, p. 8).
Desde o início, a coroa portuguesa acreditavaque a catequese era a 
forma mais efi ciente para o domínio dos povos indígenas da colônia brasileira. 
14
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
Consequentemente, a catequese passou a ser um ato fundamental 
para Deus e para o rei. Quando chegaram ao Brasil, os colonizadores 
portugueses puseram o índio a serviço de três interesses: o reino 
ambicionava integrá-lo ao processo colonizador; os jesuítas aspiravam 
convertê-lo ao catolicismo; e os colonos esperavam usá-lo como 
trabalho escravo. Foram considerados, na época, como seres sem 
alma, animais, criados para serem instruídos e domesticados com 
violência e exploração. As práticas educacionais em muitos casos reforçavam 
isso, recusando sua diversidade. 
Nos primeiros tempos da colonização, os jesuítas frequentavam as aldeias 
e ensinavam às crianças a leitura, a escrita e a doutrina cristã. No entanto, como 
o trabalho de adaptação do indígena para a lavoura exigia sua presença para 
um adestramento diário e ininterrupto, começaram a organizar aldeias para 
reunir os indígenas da região. Essas aldeias fi caram conhecidas por quase todo 
o período colonial como missões. Também organizaram escolas elementares e, 
acima de tudo, difundiram um projeto pedagógico bastante uniforme, tão bem 
esquematizado que até nos dias de hoje é possível perceber seus refl exos.
Você sabe o que eram as escolas elementares? 
Durando aproximadamente um ano, o curso elementar continha em seu 
currículo o princípio católico e as primeiras letras, ou seja, o que conhecemos 
hoje por alfabetização, mas com conteúdo doutrinário. Muita disciplina, atenção e 
perseverança eram as três características de estudos a serem apreendidas pelos 
alunos, elementos que facilitariam o próprio aprendizado e o desenvolvimento do 
caráter ao futuro sacerdote e ao cristão leigo (ROCHA, 2005).
Aqui cabe uma observação importante! Os jesuítas não fi caram somente 
focados na obra da catequese e no ensino das primeiras letras aos “gentis”. 
Aos poucos, acabaram se dedicando à educação da elite colonial. Ainda que 
a principal missão deles fosse a conversão dos índios, o estabelecimento de 
colégios acabou por assumir, senão a prioridade, importância comparada à outra. 
Assim, a educação jesuítica acabou dando atenção à formação da elite letrada 
da colônia, ou seja, dos padres e senhores de engenho. Formou-se “[...] uma 
concepção que acabou por assumir contornos elitistas, almejada por 
todos que procuravam status, como símbolo de classe e de distinção, 
que demarcou as raízes fundantes da organização do ensino nacional” 
(CARVALHO, 2008, p. 9).
É importante assinalar que a partir de 1564 foi inventado um 
imposto para a sustentação dos colégios jesuítas, chamado de “padrão 
A coroa portuguesa 
acreditava que a 
catequese era a 
forma mais efi ciente 
para o domínio dos 
povos indígenas da 
colônia brasileira.
A partir de 1564 
foi inventado um 
imposto para a 
sustentação dos 
colégios jesuítas, 
chamado de “padrão 
de redízima”,
15
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
de redízima”, compreendendo 10% de todas as arrecadações dos impostos. 
Machado (2002, p. 27) lembra que “[...] com o passar do tempo, os jesuítas 
acabaram se tornando ricos e poderosos frente à coroa portuguesa, sendo este 
um dos motivos para serem expulsos pelo Marquês de Pombal”, conforme você 
verá mais adiante.
Os jesuítas fi caram conhecidos como soldados de Cristo, com 
a missão cristã e civilizatória de acabar com as “crendices” 
indígenas, impondo assim uma nova forma de ver e conceber 
o mundo. Assim, a educação brasileira, nesse período, estava 
estreitamente vinculada à política colonizadora portuguesa. 
A metrópole desejava que a educação dos índios servisse 
para formar súditos do rei em terras tropicais, ou seja, através 
da uniformização da fé buscava-se uma unidade política, 
facilitando a dominação do povo que se encontrava na colônia 
(MACHADO, 2002, p. 26).
A educação jesuítica teve dois momentos de destaque no Brasil colônia. O 
primeiro teve início em 1549, com a chegada dos padres jesuítas, e durou até 
1570, quando morreu o padre Manoel da Nóbrega.
Machado (2002) informa que na fase inicial do projeto educacional instituído 
pelo padre Manoel da Nóbrega no Brasil, a intenção era instruir e catequizar os 
indígenas e também os fi lhos dos colonos, haja visto que os jesuítas constituíam 
os únicos mestres ofi ciais da colônia. Para tanto, “[...] foram instituídos os 
‘recolhimentos’, sendo que através deles se processaria a educação dos mestiços, 
dos órfãos e dos fi lhos dos caciques, além dos fi lhos dos colonos, em regime de 
externato” (MACHADO, 2002, p. 31).
Esse plano de estudos foi elaborado para atender a objetivos 
muito diversos. Iniciava pelo aprendizado do português, 
que incluía o ensino da doutrina cristã e a escola de ler e 
escrever. Depois continuava, em caráter opcional, o ensino 
de canto orfeônico (coral) e de música instrumental. A partir 
daí, havia uma bifurcação: podia-se seguir pelo aprendizado 
profi ssional e agrícola, ou pelas aulas de gramática seguidas 
de viagem à Europa, é claro, para a elite. De início, não havia 
a intenção de oferecer um ensino diferenciado aos indígenas 
e aos fi lhos dos colonos, mas diante da falta de “adequação” 
do índio e de acordo com as características da colônia 
(latifúndio, escravidão e monocultura), aos índios foi reservada 
a aprendizagem agrícola e aos fi lhos dos colonos, o ensino da 
gramática, seguido de viagem à Europa. A partir da publicação 
das “Constituições da Companhia de Jesus” em 1556, o plano 
do Padre Manuel da Nóbrega deixou de vigorar, excluindo-
se das etapas iniciais de estudo o aprendizado de canto, 
música instrumental, profi ssional e agrícola. Esse processo 
16
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
culminará com a instituição da Ratio Studiorum em 1599, que 
trouxe grandes mudanças à prática pedagógica dos jesuítas 
(MACHADO, 2002, p. 31).
A partir da criação do ratio studiorum, inicia-se o segundo momento de 
destaque da educação jesuítica no Brasil colônia. O plano de catequizar e 
instruir os índios sofreu modifi cações. Os educados foram os fi lhos dos colonos 
e aos índios restou apenas a catequização. Aqui se juntava a vontade da coroa 
portuguesa e da igreja católica (coroa colonizadora) de tornar o índio mais 
submisso para ser aproveitado como mão de obra escrava. Já para os padres 
jesuítas, o de converter o maior número de nativos ao catolicismo, estremecido 
pela reforma protestante. 
Segundo Carvalho (2008), essa segunda fase chamada de ratio studiorum, 
que durou de 1570 até 1759, teve como concepção uma pedagogia tradicional 
com uma visão assistencialista de homem, compreendendo que esse mesmo 
homem era constituído por uma essência universal e imutável, e que eles já 
estavam prontos e determinados. Nessa fase, para atender à educação da elite, 
a criação de colégios assumiu uma importância maior que a ação missionária. 
À educação caberia apenas acomodar os alunos, segundo a essência universal. 
Dando ênfase a essa concepção, veja:
Entre 1554 e 1570 os jesuítas fundam cinco escolas de instrução 
elementar (Porto Seguro, Ilhéus, Espírito Santo, São Vicente 
e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, 
Pernambuco e Bahia). O currículo dividia-se em duas seções 
ou classes distintas. Nas classes inferiores, com duração de 
seis anos, ensinava-se retórica, humanidades, gramática 
portuguesa, latim e grego. Nas classes superiores, com três 
anos, os alunos aprendiam matemática, física, fi losofi a, que 
incluía lógica, moral e metafísica, além de gramática, latim e 
grego (CARVALHO, 2008, p. 12).
Rocha (2005) ressalta que a mais signifi cativa diferença entre a 
primeira (1549-1570)e a segunda fase (1570-1759), foi pelo tipo de 
dependência econômica entre religiosos e indígenas. “Se a primeira 
fase foi de penúria, ela teve o aspecto positivo de obrigar os jesuítas, 
desprovidos de recursos, a conquistar a simpatia popular, mostrando-
se identifi cados com seus problemas, necessidades e anseios” 
(ROCHA, 2005, p. 3). Desse modo, num primeiro momento, a tarefa 
dos jesuítas foi a de poder aproximar essas culturas e integrá-las numa 
nova e coesa realidade social. Já na segunda fase, sem se preocupar 
com a ausência de recursos, os soldados de Cristo teriam se voltado 
para um passado clássico e medieval, evitando a realidade imediata 
e recusando qualquer mudança social e ideológica. “A cultura deixou 
“Se a primeira fase 
foi de penúria, ela 
teve o aspecto 
positivo de obrigar 
os jesuítas, 
desprovidos 
de recursos, 
a conquistar a 
simpatia popular, 
mostrando-se 
identifi cados com 
seus problemas, 
necessidades e 
anseios” (ROCHA, 
2005, p. 3).
17
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
de ser posta a serviço da sociedade para se colocar à margem da vida, dedicada 
à conservação dos esquemas mentais clássicos e das convenções sociais 
estabelecidas” (ROCHA, 2005, p. 3).
Machado (2002) nota que a educação ofertada pela companhia de Jesus 
possuía características rígidas na maneira de pensar. A formação dos professores 
ganhava uma precaução no que tange à leitura e ao treinamento. Era apenas 
com mais de trinta anos que o professor iniciava seu trabalho educativo. “Havia 
um controle rigoroso para manter a tradição: em casos de alguns professores se 
aproximarem das novidades ou ter um de espírito demasiado livre, devem ser 
afastados sem hesitação do serviço docente” (MACHADO, 2002, p. 32). Era uma 
pedagogia altamente autoritária, que servia tanto ao governo português e aos 
interesses da Igreja, que via na fé e na autoridade da religião, um ótimo aparelho 
de dominação política (ROCHA, 2005).
Você acha que essa rigidez ainda é válida para os dias de hoje? 
Vamos nos deter um pouco mais no método ratio studiorum. Ele é fundamental 
para compreender a educação jesuítica da época e até mesmo posterior!
Conhecido de forma abreviada como ratio studiorum, era o método 
pedagógico dos jesuítas, também chamado de plano de estudos. 
Publicado no ano de 1599, esse plano de estudos foi estabelecido a 
partir das vivências pedagógicas que tiveram início no colégio italiano de 
Messina. A partir dessa primeira experiência italiana, houve uma disputa 
entre o modus italicus e o modus parisiensis de ensino, predominando 
o segundo, o modelo da Universidade de Paris, onde estudaram muitos 
jesuítas, até mesmo o próprio Loyola.
Composto de regras que abarcavam da organização escolar, orientações 
pedagógicas, até a aplicação rigorosa da doutrina católica, esse plano de ensino 
propunha uma pedagogia tradicional que remetia abertamente à escolástica 
medieval, onde a educação era sinônimo de catequese e evangelização. A 
formação proposta pelo ratio studiorum almejava o desenvolvimento de um 
homem perfeito, do bom cristão e era direcionada para a elite colonial. Veja o que 
Shigunov Neto e Maciel (2008, p. 180-181) dizem sobre o tema:
Conhecido de forma 
abreviada como 
ratio studiorum, 
era o método 
pedagógico dos 
jesuítas, também 
chamado de plano 
de estudos.
18
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
O Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Jesu, mais 
conhecido pela denominação de Ratio Studiorum, foi o 
método de ensino que estabelecia o currículo, a orientação 
e a administração do sistema educacional a ser seguido, 
instituído por Inácio de Loyola para direcionar todas as ações 
educacionais dos padres jesuítas, tanto na colônia quanto na 
metrópole, ou seja, em qualquer localidade onde os jesuítas 
desempenhassem suas atividades. O Ratio Studiorum não 
era um tratado sistematizado de pedagogia, mas sim uma 
coletânea de regras e prescrições práticas e minuciosas a 
serem seguidas pelos padres jesuítas em suas aulas. Portanto, 
era um manual prático e sistematizado que apresentava ao 
professor a metodologia de ensino a ser utilizada em suas 
aulas.
O método divulgado originariamente em 1599 era centralizador e autoritário 
em sua concepção, tendo também um aspecto universalista, humanista e literário. 
O ratio studiorum proporcionava três alternativas de cursos: o curso secundário e 
dois cursos superiores, de fi losofi a e teologia.
Assim, sua proposta curricular dividia-se em duas partes 
distintas: os “estudos inferiores”, conhecidos por ensino 
secundário; e os “estudos superiores”. Os cursos secundários 
com duração de cinco anos, que na maioria das vezes 
prorrogavam-se por seis anos, destinavam-se à formação 
eminentemente literária e humanista.
Portanto, o objetivo do curso de humanidades era a arte acabada 
da composição, oral e escrita. O aluno deve desenvolver todas 
as suas faculdades, postas em exercício pelo homem que se 
exprime e adquirir a arte de vazar esta manifestação de si 
mesmo nos moldes de uma expressão perfeita. As classes de 
gramática asseguravam-lhe uma expressão clara e exata, a 
de humanidades, uma expressão rica e elegante, a de retórica 
mestria perfeita na expressão poderosa e convincente “ad 
perfectam aloquentiam informat”.
Esse curso de humanidades foi o que mais se propagou 
e difundiu na colônia, podendo ser considerado o alicerce 
da estrutura educacional jesuítica. Já os cursos superiores 
eram integrados pelos cursos de fi losofi a e ciências, também 
denominado de curso de “artes”. Tinham duração de três 
anos e eram direcionados para a formação do fi lósofo, pois 
as disciplinas que compunham os estudos eram a lógica, a 
metafísica, a matemática, a ética e as ciências físicas e naturais 
(SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 180-181).
Os estudos superiores instituídos pelo ratio studiorum visavam à formação 
profi ssional do homem, enquanto que os cursos secundários tinham a fi nalidade 
de formar o humanista, o homem para viver em sociedade.
19
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
Atividades de Estudos:
1) A companhia de Jesus no Brasil colônia teve como missão facilitar 
a implantação e a manutenção de um modelo econômico colonial 
e também a divulgação da fé católica. Descreva de que forma 
isso ocorreu.
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
2) O modelo educacional jesuíta teve dois momentos de destaque 
no Brasil. O primeiro iniciado em 1549, com a chegada dos padres 
jesuítas, e que durou até 1570, e o segundo foi a partir da criação 
do ratio studiorum. Escreva um pequeno texto diferenciando 
esses dois momentos.
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
Sobre o legado e a infl uência dos jesuítas na educação colonial 
brasileira, leia a seguinte obra: 
SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L. S. B. O ensino jesuítico no 
período colonial. Curitiba: Editora UFPR, 2008.
O que parecia durar para sempre, não durou! Em 1759 o Marquês de Pombal 
expulsa os jesuítas de Portugal e consequentemente das terras brasileiras, 
20
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
acabando completamente com aorganização educacional por eles aqui praticada 
desde o século XVI. Conhecido como Marquês de Pombal, Sebastião de Carvalho 
e Melo conduziu a política e economia portuguesa por 27 anos. Nomeado por D. 
José I (1750-1777), como primeiro ministro de Portugal, Pombal foi responsável 
por mudanças drásticas na reorganização do Estado.
Você deve estar se perguntando: por que expulsar os padres 
jesuítas da colônia brasileira? Portugal tinha motivos para isso? Quais 
seriam esses motivos? Em termos gerais, a vontade de expulsar 
os jesuítas era antiga e, especialmente, por dois fatores: a miséria 
intelectual e econômica do reino, pela qual eram culpados; o privilégio 
exclusivo do ensino por eles exercido desde o ano de 1549. Sem 
sombra de dúvida, a companhia de Jesus se desviou dos seus objetivos 
missionários e educacionais na América. Não foram aquilo que eram 
na Ásia: somente ação missionária. Aqui, os jesuítas também foram 
“colonizadores”, atuando em diversas áreas e contrariando, em muitos 
casos, interesses econômicos e políticos portugueses. A questão não 
era simples e exigia avaliação.
Os jesuítas procuraram catequizar também os negros, 
combatendo o culto dos deuses africanos. Mas não lhes foi 
permitido oferecer aos escravos qualquer educação mais 
formal e, assim, a educação deles foi limitada aos sermões 
que os exortavam à prática da moral e fé cristãs.
Os jesuítas eram acusados de educar os índios a serviço da 
ordem religiosa e não dos interesses da metrópole e de não 
conhecerem outro soberano que não fosse o geral da companhia 
e outra nação que não fosse a sua própria sociedade. Pombal 
propôs-se a solucionar o problema do ensino não mais como 
tarefa das ordens religiosas, mas como atribuição própria, sem 
ser exclusiva do poder real. Mas, quando a coroa começou a 
impor a reforma pombalina (alvará de 28/06/1759) e o processo 
de secularização do ensino, determinando o fechamento das 
escolas jesuíticas, a colonização já estava consolidada e a 
língua portuguesa e a religião cristã já estavam divulgadas 
entre indígenas e escravos (ROCHA, 2005, p. 9).
Pombal sabia da importância política e econômica da colônia e por isso 
reformulou muita coisa por aqui. Criou as companhias de comércio que tinham 
privilégios de taxar produtos na compra e venda, aumentou os impostos na região 
de mineração, criando as famosas casas de fundição, e fi xou quotas anuais de 
produção de ouro.
Reforçando um pouco mais sobre as causas da expulsão dos jesuítas 
do Brasil, lembramos que elas foram variadas, desde questões políticas até 
ideológicas. Tornando-se uma barreira aos interesses do Estado moderno 
Os jesuítas 
também foram 
“colonizadores”, 
atuando em 
diversas áreas 
e contrariando, 
em muitos 
casos, interesses 
econômicos 
e políticos 
portugueses.
21
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
português, a companhia de Jesus possuía um amplo poder econômico desejado 
pela coroa portuguesa. Esse novo Estado português, infl uenciado pelas ideias 
iluministas então vigentes na Europa, também almejava a formação de um novo 
homem, ou seja, o homem burguês, o negociante, e não mais somente o cristão.
Shigunov Neto e Maciel (2008) observam que para analisar a expulsão da 
companhia de Jesus deve ser levado em conta a compreensão de um processo 
amplo, que abrange questões políticas, ideológicas e econômicas. Para os citados 
autores, a expulsão dos padres jesuítas e por consequência o fi m da companhia 
de Jesus, culminando com o desmoronamento do sistema de educação criado por 
eles, ocorreu por dois motivos:
Político – os jesuítas representavam um empecilho aos 
interesses do Estado moderno, além de serem detentores de 
grande poder econômico, cobiçado pelo Estado.
Educacional – a necessidade de a educação formar um novo 
homem – o comerciante e o homem burguês, e não mais o 
homem cristão – pois os princípios liberais e o movimento 
iluminista trazem consigo novos ideais e uma nova fi losofi a de 
vida (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 180).
As missões, que eram muitas, passaram a ser controladas por funcionários 
do governo. “As capelas tornaram-se paróquias, com vigários nomeados pelo rei; 
os indígenas deveriam deixar de ter “nomes bárbaros”, passando a ter nomes 
portugueses” (CARVALHO, 2008, p. 14). As línguas nativas faladas foram 
proibidas, tornando-se obrigatória a língua portuguesa. “Os caciques viraram 
capitães e juízes, e as lideranças passaram a ser os vereadores municipais. Todos 
os indígenas, a partir daquele momento, se tornariam cidadãos portugueses” 
(CARVALHO, 2008, p. 14).
Provocando um retrocesso no sistema educativo da colônia, a expulsão dos 
jesuítas comprometeu menos a educação dos pobres que a educação das elites. O 
sistema educacional edifi cado por eles, aos poucos se transformou num 
sistema cada vez mais voltado às elites, refl etindo o que recomendava 
a companhia de Jesus e o ratio studiorum. Em 1759, ano da expulsão, 
eles tinham, além das escolas de ler e escrever, inúmeros seminários e 
cerca de 24 colégios, sem contar a grande quantidade de missões.
Grande parte das características do padrão pedagógico do ensino 
jesuítico, que foi praticado no Brasil por mais de dois séculos, ainda 
permanece viva em muitas instituições escolares brasileiras, sejam 
elas públicas ou privadas. Isso é notório quando vemos muitas escolas 
preocupadas com a formação de valores religiosos, impondo uma 
disciplina corporal, preservando hierarquias e utilizando estratégias 
Grande parte das 
características do 
padrão pedagógico 
do ensino jesuítico, 
que foi praticado no 
Brasil por mais de 
dois séculos, ainda 
permanece viva em 
muitas instituições 
escolares 
brasileiras, sejam 
elas públicas ou 
privadas.
22
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
didáticas como: o aluno “líder” da sala, o estudioso que deve ser exemplo a ser 
seguido, e principalmente a memorização, o silêncio e até a competição. 
E a pergunta mais uma vez é necessária: o que foi feito em termos 
educacionais após a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras? Machado (2002) 
assinala que com o banimento dos jesuítas da colônia brasileira pelo Marquês 
de Pombal, a coroa portuguesa tentou implantar um sistema educacional para 
ocupar seu lugar. O mesmo autor diz que foi criado um sistema de aulas régias 
que era mantido pelo imposto chamado de subsídio literário, no entanto, essa 
nova tentativa não deu conta de prover a educação da colônia, pois não havia 
recursos e nem profi ssionais qualifi cados para tanto. 
Vejamos o que Rocha (2005, p. 10) ensina sobre o assunto:
Infelizmente, Pombal esperou treze anos para tentar substituir 
os dois séculos de tra balho jesuítico e, mesmo assim, a 
Ordenação de 10 de novembro de 1772, que instituiu o 
“subsídio literário”, imposto cobrado sobre o consumo da 
carne e produção de aguardente, criado especialmente para 
a manutenção das aulas de ler e escrever e de humanidades, 
não foi capaz de arrecadar os recursos necessários.
A instituição do regime das “aulas régias”, ou seja, aulas de 
disciplinas isoladas, não apresentava a coerência necessária, 
dada a ausência de um plano sistemático de estudos e a falta 
de motivação discente. Uma das razões para as escolas régias 
não serem frequentadas é a de que eram constantemente 
visitadas por soldados incumbidos de recrutar rapazes 
com mais de treze anos. Certamente, outros motivos mais 
sérios provocavam essa debandada das aulas, ministradas 
por professores leigos, ignorantes e sem nenhum senso 
pedagógico.
O legado desse período (1759-1808) foi de pura ilusão. A identidade da ação 
pedagógica de um nível para outro, e até os cursos superiores, foram trocados 
pelas difusas aulas régias, enfraquecendo a organização de um novo sistema.A distância entre a diretoria geral de estudos e os mestres não congregados em 
colégios, mas dispersos, sem órgãos intermediários permanentes, nem pedia 
qualquer inspeção efi caz, nem criava um ambiente favorável às iniciativas de 
vulto. Tudo, até os detalhes de programas e a escolha de livros, tinha que vir de 
cima e de longe, do poder supremo do reino, como se este tivesse sido organizado 
para instalar a rotina, paralisar as iniciativas individuais e estimular, em vez de 
absorver, os organismos parasitários que costumam desenvolver-se à sombra de 
governos distantes, naturalmente lentos na sua intervenção. Essa foi uma das 
razões pelas quais a ação reconstrutora de Pombal não atingiu, senão de raspão, 
a vida escolar da colônia.
23
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
Para Portugal, quando implantou esse sistema, seria o fi m do "atraso" da 
educação no Brasil. No entanto, a educação, que era quase de responsabilidade 
total dos jesuítas, teve um grande retrocesso. Vinte anos após a expulsão da 
companhia de Jesus, o número de escolas em toda a colônia era bem pequeno se 
comparado à época dos padres. Muitas escolas foram fechadas e as bibliotecas 
dos mosteiros foram abandonadas ou destruídas.
Mais uma vez, Machado (2002, p. 34) ensina:
Como você pode perceber, os jesuítas tornaram-se instrumentos 
na formação da elite colonial, já que foram os educadores 
durante 210 anos. O modelo de educação implantado era 
adequado à política colonial portuguesa, pois se privilegiava 
o trabalho intelectual, deixando de lado o trabalho manual. 
Desta forma, os alunos fi cavam distantes da realidade em que 
viviam. A maioria da população era iletrada - pobres, negros e 
mulheres - o que fazia a elite colonial acreditar que o mundo 
civilizado estava lá fora, sendo a metrópole, o modelo ideal.
De forma não muito consensual, alguns historiadores defendem a ação dos 
jesuítas no Brasil durante 210 anos, outros, porém, criticam de forma veemente 
esse trabalho educativo. O modelo educacional jesuítico teve infl uência em 
todo período colonial, alcançando até o império e, porque não dizer, o período 
republicano. Essa educação criou uma cultura importada, com infl uência 
notadamente europeia. No entanto, não podemos esquecer de que os padres 
jesuítas foram os orientadores sociais e intelectuais da colônia por mais de dois 
séculos e que, seguramente, sem eles teria sido impossível ao conquistador 
português conservar a coesão de sua cultura e de sua civilização. Isso era 
coerente com a ação educacional jesuítica, pois procedia com seus objetivos 
principais na colônia, a conversão do gentio à fé cristã. A obra jesuítica também 
apresentou papel fundamental e acabou contribuindo de forma determinante 
para que o governo de Portugal alcançasse seus objetivos na colonização e 
povoamento da colônia brasileira na América.
A ação educacional jesuítica na colônia pode ser compreendida a partir 
de duas fases: uma delas corresponde ao primeiro período, o de adaptação e 
construção do trabalho de catequese e, por conseguinte, a conversão do nativo 
aos costumes europeus; num segundo momento, que iniciou no segundo século 
de sua atuação, ocorreu um tempo de amplo aumento do sistema educacional 
disseminado no primeiro período, ou seja, foi a fase de solidifi cação do projeto 
educacional, dedicando-se também à catequização do gentio à fé católica e ao 
ensino dos fi lhos dos colonos e demais membros da colônia, principalmente, os 
fi lhos dos donos de engenho e funcionários reais. 
24
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
Existiram, e ainda existem, críticas realizadas ao método pedagógico 
aplicado pelos jesuítas na colônia brasileira. De forma geral, critica-se o monopólio 
da educação da juventude portuguesa e colonial, que tinha uma orientação para 
a uniformidade intelectual; acusavam seus ensinos de dogmático e abstrato; de 
usar em seus métodos autoritarismo, retórica e conservadorismo, não havendo 
lugar para os debates inovadores da época. Em meio a essas críticas, apesar das 
difi culdades e com as dimensões geográfi cas do Brasil:
Os números da obra jesuítica impressionam pela grandeza, 
pois foram fundadas 36 missões; escolas de ler e escrever 
em quase todas as povoações e aldeias; 25 residências dos 
jesuítas; 18 estabelecimentos de ensino secundário, entre 
colégios e seminários, nos principais pontos do Brasil, entre 
eles: Bahia, São Vicente, Rio de Janeiro, Olinda, Espírito Santo, 
São Luís, Ilhéus, Recife, Santos, Porto Seguro, Paranaguá, 
Alcântara, Vigia, Pará, Colônia do Sacramento, Florianópolis e 
Paraíba (SHIGUNOV NETO; MACIEL, 2008, p. 183).
A questão que se deve assinalar aqui, é a de peculiaridade após 
a expulsão dos jesuítas: o que foi colocado no lugar da educação 
jesuítica não deu conta nem de longe de educar tanto a elite como os 
demais moradores da colônia portuguesa na América. A destruição e 
substituição das antigas propostas pelas novas, só melhorou um pouco 
com a vinda da família real em 1808. Por fi m, a grande perspectiva 
que devemos pensar é a do educador comprometido, aquele que lê 
as entrelinhas da história da nossa educação, para entender que tipo 
de educação tínhamos e qual, eventualmente, podemos construir hoje 
para o futuro.
O que foi colocado 
no lugar da 
educação jesuítica 
não deu conta 
nem de longe de 
educar tanto a elite 
como os demais 
moradores da 
colônia portuguesa 
na América.
O SURGIMENTO DO ENSINO SUPERIOR 
BRASILEIRO
Tardou, mas aconteceu! O aparecimento do ensino superior no Brasil ocorreu mais 
de três séculos depois do seu “descobrimento”. A implantação de cursos superiores em 
terras brasileiras ocorreu por dois motivos: a chegada da família real portuguesa ao 
Brasil e a necessidade em atender aos jovens nobres que foram impedidos de cursar 
universidades europeias após o bloqueio continental de Napoleão sobre a Europa.
Para a metrópole portuguesa, a aventura em terras brasileiras, na colônia, se 
assemelhava ao investimento de uma empresa, unicamente voltada para a exploração 
e a esse fi m se manteve fi el. Dessa maneira, a coroa não se preocupava com a criação 
de instituições de ensino superior, ainda mais de universidades. Até as ações dos 
25
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
padres jesuítas de fundar seminários para a formação de um clero brasileiro cessaram 
na reforma efetuada pelo Marquês de Pombal, quando expulsou a companhia de Jesus 
no fi nal do século XVIII. Assim, as primeiras instituições de ensino superior foram criadas 
apenas em 1808 e as primeiras universidades são ainda mais recentes, datando da 
década de 1920/1930 (SANTOS, 2009).
Arrastando por alguns anos essa situação vexatória da educação em terras 
brasileiras, com a expulsão dos jesuítas, ela só começou a mudar no momento em 
que a família real portuguesa se mudou para o Brasil em 1808. Fugindo da invasão 
de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte, a corte se transfere para sua colônia 
mais importante, fi xando-se na cidade do Rio de Janeiro. Nesse momento, o Brasil é 
elevado à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves e ocorre a abertura dos 
portos às nações unidas. Isso signifi cou que todas as mercadorias importadas e 
exportadas pelo Brasil, que antes eram comercializadas somente com Portugal, agora 
são comercializadas diretamente com os países interessados. O principal parceiro 
comercial na época era a Inglaterra.
De forma esclarecedora, Rocha (2005, p. 12) lembra:
A transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro 
(1807-1808) mudou de maneira radical as relações entre a 
metrópole e sua colônia mais próspera, o Brasil. Do ponto de 
vista da educação, novas orientações foram, forçosamente, 
introduzidas,ampliando-se o processo de secularização do 
ensino iniciado com Pombal. Motivada por preocupações 
de utilidade prática e imediata, a obra escolar de D. João VI 
marcou uma ruptura com o programa escolástico e literário até 
então em vigor. Muito havia a ser feito para atender à demanda 
educacional da aristocracia portuguesa, preparando, inclusive, 
novos quadros para as ocupações técnico-burocráticas. 
Também é fato que o ensino superior foi a maior preocupação, 
fi cando os demais níveis relegados à própria sorte, mas, com 
essa obra teve início o processo de autonomia que iria resultar 
na independência política.
Sobre a família real portuguesa, sugere-se a leitura da seguinte 
obra: 
LAURENTINO, Gomes. Como uma rainha louca, um príncipe 
medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram 
a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do 
Brasil, 2007. 
26
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
A obra intitulada “Como uma rainha louca, um príncipe medroso 
e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de 
Portugal e do Brasil”, está disponível no seguinte endereço eletrônico: 
<http://goo.gl/nffLtj>.
Nessa ocasião, o Brasil se constituiria em capital do reino português, 
tornando-se assim essencial atenuar as carências do sistema de ensino brasileiro, 
suscitando uma estrutura educacional nova e que pudesse formar servidores 
preparados para esta realidade política. O primeiro passo foi multiplicar o número 
de cadeiras de ensino e criar cursos superiores e instituições culturais. Para tanto, 
foram criadas a Academia Real da Marinha (1808) e a Academia Real Militar 
(1910), destinadas a preparar ofi ciais e engenheiros para a defesa militar da 
colônia. Também foram criados os cursos de cirurgia, anatomia e medicina (1808-
1809). Por fi m, foram criados cursos voltados para a formação de técnicos para os 
campos da economia, indústria e agricultura (MACHADO, 2002). 
Conforme Machado (2002, p. 34):
Para incrementar a vida cultural e social do Rio de Janeiro, 
foram criados o Jardim Botânico (1810), a Biblioteca Nacional 
(1810) e o Museu Real, posteriormente Museu Nacional 
(1818). Foram incentivadas a vinda de missões estrangeiras 
compostas por pintores, músicos, cientistas, entre outros 
estudiosos. Em 1808, também foi liberada a imprensa e a 
criação de indústrias no país. A imprensa era proibida devido 
ao medo da metrópole de que, através dos jornais e dos livros, 
se difundissem ideias que levassem a independência. Também 
por causa disso, a entrada de livros na colônia era controlada.
É importante assinalar que muitos historiadores consideram a 
criação desses cursos superiores o verdadeiro início do ensino superior 
em nosso país. Pois, como assinala Sampaio (1991), a vinda da corte 
portuguesa marcou de fato o início da construção do ensino superior 
no Brasil, cujo padrão de ampliação teve, como particularidades 
principais, sua orientação para formação profi ssional e a infraestrutura 
necessária para modernizar a colônia.
Existia, para tanto, um modelo de formação profi ssional no qual:
A vinda da corte 
portuguesa marcou 
de fato o início 
da construção do 
ensino superior no 
Brasil.
27
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
As escolas de medicina, engenharia e, mais tarde, de direito, 
se constituíram na espinha dorsal do sistema, e ainda hoje 
estão entre as profi ssões de maior prestígio e demanda. 
Durante esse primeiro período, de 1808 a 1889, o sistema de 
ensino superior se desenvolve lentamente, em compasso com 
as rasas transformações sociais e econômicas da sociedade 
brasileira. Tratava-se de um sistema voltado para o ensino, 
que assegurava um diploma profi ssional, o qual dava direito a 
ocupar posições privilegiadas no restrito mercado de trabalho 
existente e a assegurar prestígio social (SAMPAIO, 1991, p. 6).
No Brasil, a criação de instituições de ensino superior seguiu esse modelo, 
buscando formar grupos profi ssionais para a administração dos negócios do 
Estado, para a construção de obras públicas e também para encontrar novas 
riquezas, rejeitando também o papel educacional da igreja católica, exceto o ensino 
das primeiras letras. A independência política, ocorrida em 1822, não signifi cou 
grandes mudanças no ensino superior do Brasil, menos ainda a ampliação ou 
diversifi cação do sistema. Os novos dirigentes não vislumbraram qualquer 
vantagem na criação de universidades, prevalecendo o modelo de formação para 
profi ssões em faculdades isoladas. De fato, o processo de independência não foi 
além de uma continuidade protocolar de poder (SAMPAIO, 1991, p. 7).
Atividades de Estudos:
1) Com a expulsão dos jesuítas das terras brasileiras, o que 
aconteceu com a educação da colônia portuguesa na América? 
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
2) Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, 
ocorreram mudanças signifi cativas na educação do Brasil, 
principalmente no ensino superior. Quais foram essas mudanças? 
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
28
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
A UNIVERSIDADE: UMA INSTITUIÇÃO 
TARDIA NO BRASIL
Cabe salientar que, proclamada a República, outras tentativas são feitas. 
A situação do ensino superior permaneceu praticamente inalterada, desde a 
independência em 1822 até a Proclamação da República, em 1889. O que mudou 
com a República foram as alterações na legislação do ensino, com um ideário 
positivista, pois o discurso passou a afi rmar que todos os cidadãos deveriam ter 
as mesmas oportunidades educacionais.
Fávero (2006) lembra que, na Constituição Republicana de 1891, o ensino 
superior deveria ser amparado pelo poder central, haja visto que do ano de 1889 
até 1930 (período conhecido como República Velha), o ensino superior no país 
sofreu inúmeras alterações decorrentes da publicação de diferentes dispositivos 
legais sobre o assunto. Apesar da demora no surgimento da universidade, 
o regime de desofi cialização do ensino acabou por gerar condições para o 
surgimento das universidades, com tendência para se deslocar provisoriamente 
da órbita do Governo Federal para a dos Estados. Nessa conjuntura, surgiu em 
1909 a Universidade de Manaus, em 1911 é constituída a Universidade de São 
Paulo e, em 1912 a Universidade do Paraná, todas como instituições livres.
Como resultado disso, em setembro de 1920 o Presidente Epitácio 
Pessoa, mediante o Decreto nº 14.343, organizou a Universidade do 
Rio de Janeiro. Criada a partir de três unidades de caráter profi ssional, 
foi-lhe garantida autonomia didática e administrativa. Dessa maneira, a 
primeira universidade ofi cial foi criada, resultando da reunião formal de 
três escolas tradicionais já existentes, sem uma maior conexão entre 
elas e cada uma conservando suas características. Fávero (2006) 
lembra que apesar das ressalvas feitas à criação dessa instituição de ensino, 
cabe assinalar que na história da educação superior brasileira, a Universidade do 
Rio de Janeiro é a primeira instituição de ensino superior criada legalmente pelo 
Governo Federal.
Aos poucos o panorama começou a mudar. Em 1931, ainda no governo 
provisório de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, 
tendo Francisco Campos como o primeiro ocupante da pasta. Atravésde uma 
série de decretos, organizou a “famosa” Reforma Francisco Campos. Dentre esses 
decretos, o nº 19.851 de 1931, instituiu o estatuto das universidades brasileiras, 
que ao tratar sobre a disposição do ensino superior, instituiu o regime universitário, 
elevando para o nível superior a formação de professores secundários.
A Universidade do 
Rio de Janeiro é a 
primeira instituição 
de ensino superior 
criada legalmente 
pelo Governo 
Federal.
29
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
No que tange à organização do ensino superior, essa reforma previu duas 
modalidades: o sistema universitário (ofi cial, mantido pelos governos federal e 
estaduais ou particulares) e o instituto isolado. A direção central da universidade 
cabia ao reitor e ao conselho universitário, sendo o reitor escolhido a partir de uma 
lista tríplice, prática que vigora até hoje nas universidades federais e em algumas 
públicas estaduais. Essa reforma também dispunha sobre a composição do corpo 
docente, catedráticos e auxiliares de ensino, que deveriam ser escolhidos por 
concursos de títulos e provas, entre outras medidas.
Outro fator importante relativo à universidade nas primeiras décadas do 
século XX, dizia respeito à necessidade da pesquisa. A pesquisa que deveria ser 
realizada pelas universidades, sempre promovendo a formação do pesquisador, 
realizava-se até então nas escolas profi ssionais, muitas impróprias para esse fi m. 
“A pesquisa precisava de um espaço mais distanciado de resultados práticos, e 
com mais liberdade de experimentação e pensamento” (SAMPAIO, 1991).
Nesse quesito, a criação de uma universidade no Brasil ressurgiu com uma 
nova expectativa, qual seja, a de romper com a argumentação resumidamente 
política que prevaleceu ao longo de todo o século XIX e início do século XX. 
Atribuía-se à universidade um novo papel: desenvolver a ciência, as humanidades/
artes e a pesquisa. Para essa nova fi nalidade, a Academia Brasileira de Ciência 
(ABC) e a Associação Brasileira de Educação exerceram um papel de suma 
importância. “Elas colocaram em pauta um projeto de reformulação completa do 
sistema educacional brasileiro, desde o nível primário com o projeto da Escola 
Nova, até o superior com o projeto da Universidade Brasileira, que seria seu 
coroamento” (SAMPAIO, 1991, p. 8).
A criação da Associação Brasileira de Educação em 16 de 
outubro de 1924, foi um acontecimento de importância fundamental 
para o direcionamento das mudanças que ocorreram no sistema 
educacional escolar na segunda metade da década de 1920 e, 
principalmente, na primeira metade da década seguinte. Até aquela 
data, o debate sobre as questões educacionais se restringia, quase 
que exclusivamente, ao interior do Estado. Depois dela, passou a 
existir um espaço na sociedade civil onde se discutiam as políticas 
educacionais elaboradas pelo Estado e as sugestões. 
Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/eaBexD>. Acesso em: 16 fev. 2016.
30
 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
De acordo com Sampaio (1991, p. 8), essa universidade moderna deveria ser 
organizada:
[...] a) de maneira que se integrem num sistema único, mas 
sob direção autônoma, as faculdades profi ssionais (medicina, 
engenharia, direito), institutos técnicos especializados 
(farmácia, odontologia), e instituições de altos estudos 
(faculdades de fi losofi a e letras, de ciências matemáticas, 
físicas naturais, de ciências econômicas e sociais, de 
educação etc.); b) e de maneira que, sem perder o seu caráter 
de universalidade, se possa desenvolver, como uma instituição 
orgânica e viva, posta pelo seu espírito científi co, pelo nível 
dos estudos, pela natureza e efi cácia de sua ação, a serviço da 
formação e desenvolvimento da cultura nacional.
A despeito de todas as tentativas, a Reforma Francisco Campos não 
conseguiu pôr em prática o ideal de universidade que tinha movimentado 
educadores e intelectuais em 1920, apesar de não ter mantido o ensino superior 
nos moldes tradicionais anteriores. Desse modo, a Reforma Francisco Campos 
além de não modifi car solidamente a universidade imaginada pelos educadores 
nos anos 20, também não refl etiu na política do Governo Vargas ao longo do seu 
primeiro mandato (1930-1945). “Esse período assistiria à criação de dois projetos 
universitários que teriam continuidade, o da Universidade de São Paulo e da 
Universidade do Brasil, e o projeto frustrado da Universidade do Distrito Federal, 
no Rio de Janeiro” (SAMPAIO, 1991, p. 11).
Em suma, a concepção da universidade em nosso país signifi cou um 
processo de sobreposição de modelos, do que efetivamente de substituição, isto 
é, reuniu em muitos casos faculdades já existentes. A universidade, com forte 
tendência à pesquisa, foi parcialmente instituída com a fundação da USP em 
1934, no restante foi preservado o antigo modelo de formação para profi ssões, o 
que mudaria de certa forma com a Reforma Universitária de 1968, nosso próximo 
assunto.
A REFORMA UNIVERSITÁRIA DE 
1968
Após o fi nal da ditadura Vargas, teve início a redemocratização 
no Brasil, confi rmada com a promulgação de uma nova Constituição 
em 1946, que se distinguiu por ter caráter liberal em suas premissas. 
Já nesse período, fi nal dos anos de 1940 e começo dos anos 1950, 
surge nas universidades a vontade de mudanças, principalmente 
por uma autonomia universitária, tanto interna como externa. Eram 
os ventos das mudanças. 
Final dos anos de 
1940 e começo dos 
anos 1950, surge 
nas universidades 
a vontade de 
mudanças, 
principalmente por 
uma autonomia 
universitária, tanto 
interna como 
externa.
31
PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
A partir dos anos de 1960, a União Nacional dos Estudantes (UNE) buscava 
em seus seminários exigir uma reforma universitária, vinculada, é claro, com 
mudanças estruturais e políticas do país. No entanto, entre abril de 1964 até 1967, 
as discussões no movimento estudantil foram centralizadas especialmente em dois 
pontos: “[...] a) revogação dos acordos MEC/USAID; b) revogação da Lei Suplicy 
(Lei nº 4.464, de 9.11.1964), pela qual a UNE foi substituída pelo Diretório Nacional 
de Estudantes” (FÁVERO, 2006, p. 20).
Ramos (2011) lembra que nesse período, um pouco antes do golpe militar 
que ocorreu em 1964, a comunidade acadêmica tinha iniciado a discussão em 
torno da necessidade da reforma universitária, envolvendo a criação de institutos 
de pesquisa, a modifi cação da estrutura da carreira docente, o reajuste salarial 
dos professores e a assistência aos estudantes, através de bolsas, alimentação, 
alojamento etc.
No começo do ano de 1968, uma intensa mobilização de estudantes, 
avivada por intensos debates nas universidades, exigiu do governo medidas que 
solucionassem os problemas educacionais mais graves, principalmente a falta 
de vagas. A resposta do governo militar ocorreu com o Decreto n. 62.937, de 
02.07.1968, que criou um Grupo de Trabalho (GT) encarregado de estudar, em 
caráter de urgência, as medidas que deveriam ser tomadas para resolver a crise da 
universidade. Veja:
No relatório fi nal desse grupo aparece registrado que essa 
crise sensibilizou diferentes setores da sociedade, não 
podendo deixar de exigir do governo uma ação efi caz que 
enfrentasse de imediato o problema da reforma universitária, 
convertida numa das urgências nacionais. Entre as questões 
levantadas, o relatório chama a atenção para o fato de a 
universidade brasileira estar organizada à base de faculdades 
tradicionais que, apesar de certos progressos, em substância, 
ainda se revelam inadequadas para atender às necessidades 
do processo de desenvolvimento, que se intensifi cou na 
década de 1950, e se conserva inadaptada às mudanças 
dele decorrentes.A universidade se expandiu, mas, em seu 
cerne, permanece a mesma estrutura anacrônica a entravar 
o processo de desenvolvimento e os germes da inovação 
(FÁVERO, 2006, p. 18).
Dentre as medidas da reforma que tiveram por objetivo a produtividade e a 
efi ciência da universidade, principalmente as públicas, destacam-se: “[...] o sistema 
departamental, o vestibular unifi cado, o ciclo básico, o sistema de créditos e a 
matrícula por disciplina, bem como a carreira do magistério e a pós-graduação” 
(FÁVERO, 2006, p. 18). Muitas dessas mudanças permanecem até os dias 
atuais, mas o que se discute hoje em relação ao ensino superior, não é tanto sua 
organização, mas sim seu alcance social e econômico para o país, assunto que 
será discutido nos próximos capítulos! 
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 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
Para conhecer um pouco mais sobre a reforma universitária de 
1968, leia com atenção o seguinte texto:
LIRA. A. T. N. As bases da reforma universitária da ditadura 
militar no Brasil. Disponível em: <http://goo.gl/BkulTo>. Acesso em: 
16 fev. 2016.
Atividades de Estudos:
1) Em que ano e em que contexto a primeira universidade brasileira 
ofi cial foi criada? 
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2) Durante o Período Vargas, uma importante reforma foi 
implementada na educação. Quais foram os principais aspectos 
dessa reforma para o setor?
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3) Descreva o que foi a reforma universitária de 1968 e o que ela 
modifi cou no modelo de ensino superior do Brasil.
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PANORAMA DA HISTÓRIA, DA EDUCAÇÃO E DO ENSINO 
SUPERIOR NO BRASIL
 Capítulo 1 
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Caro pós-graduando! Chegamos ao fi nal do primeiro capítulo. Esperamos 
que a leitura deste material tenha despertado não só o conhecimento sobre a 
educação superior brasileira, mas também, a vontade de conhecer mais. Faça 
isso, leia as indicações sugeridas no próprio texto do livro de estudos!
Algumas considerações são necessárias para encerrar este capítulo! De 
forma não muito consensual, alguns historiadores defendem a ação dos jesuítas 
no Brasil durante 210 anos, outros porém, criticam veemente esse trabalho 
educativo.
A educação praticada pelos jesuítas perpassou toda a época colonial, 
chegando a infl uenciar práticas desde o Império até a República. Essa educação 
criou uma cultura importada, com infl uência notadamente europeia. No entanto, 
não podemos esquecer que os padres jesuítas foram os orientadores sociais e 
intelectuais da colônia por mais de dois séculos e que, seguramente, sem eles 
teria sido impossível ao conquistador português conservar a coesão da sua 
cultura e da sua civilização. Isso era coerente com a ação educacional jesuítica, 
pois procedia com seus objetivos principais na colônia, a conversão do gentio 
à fé cristã. A obra jesuítica também apresentou papel fundamental e acabou 
contribuindo de forma determinante para que o governo de Portugal alcançasse 
seus objetivos na colonização e no povoamento da colônia brasileira na América.
Todavia, os primeiros ensaios do ensino superior no Brasil somente 
aconteceriam muito após a vinda dos primeiros colonizadores, ou seja, apenas 
com a chegada da família real portuguesa em terras brasileiras em 1808. Nesse 
momento surgiu, de fato, o ensino superior no Brasil, com uma preocupação 
basicamente profi ssionalizante. As universidades demoraram para serem criadas 
em nosso país, pois somente na década de 1920 e 1930 surgiram universidades 
com estatuto próprio. Por fi m, a ditadura militar empreendeu uma reforma 
universitária caracterizada pela racionalização e com forte teor político ideológico.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, C. et al. Educação jesuítica: contexto, surgimento e 
desdobramentos. Revista Eletrônica de Ciências da Educação, Campo Largo, 
v. 7, n. 2, nov. 2008.
FÁVERO, M. L. A. A universidade no Brasil: das origens à reforma universitária 
de 1968. Curitiba: Educar, 2006.
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 HISTÓRIA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
MACHADO, A. História da educação. 3. ed. Florianópolis: UDESC, 2002.
RAMOS, F. P. História e política do ensino superior no Brasil: algumas 
considerações sobre o fomento, normas e legislação. 2011. Disponível em: 
<http://goo.gl/iVZMVD>. Acesso em: 16 fev. 2016.
ROCHA, M. A. S. A educação pública antes da independência. 2005. 
Disponível em: <http://goo.gl/0XDQbV>. Acesso em: 16 fev. 2016.
SAMPAIO, H. Evolução do ensino superior brasileiro, 1808–1990. 1991. 
Disponível em: <http://nupps.usp.br/downloads/docs/dt9108.pdf>. Acesso em: 11 
fev. 2016.
SANTOS, A. P. Ensino superior: trajetória histórica e políticas recentes. 2009. 
Disponível em: <https://goo.gl/uI5eYN>. Acesso em: 14 fev. 2016.
SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L. S. B. O ensino jesuítico no período 
colonial. Curitiba: Editora UFPR, 2008.

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