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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA ARIELA SABRINA BARCARO JUAREZ AMORA CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME TRANSIENTE E CONDUÇÃO DE CALOR BIDIMENSIONAL E TRIDIMENSIONAL JOAÇABA 2020 ARIELA SABRINA BARCARO JUAREZ AMORA CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME TRANSIENTE E CONDUÇÃO DE CALOR BIDIMENSIONAL E TRIDIMENSIONAL Relatório apresentado ao curso de Engenharia de Química, para a disciplina de Fenômenos dos transportes II, ministradas pelo docente Diogo Luiz de Oliveira, na Universidade do oeste de Santa Catarina JOAÇABA 2020 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 5 2 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................................ 6 2.1 CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME TRANSIENTE..................................................... 6 2.2 MÉTODO DA CAPACITÂNCIA GLOBAL ......................................................................... 6 2.3 TEMPERATURA UNIFORME ............................................................................................. 7 2.4 TEMPERATURA NÃO UNIFORME QUE VARIAM DENTRO DE UM CORPO EM ANÁLISE .................................................................................................................................... 10 2.5 CONDUÇÃO DE CALOR BIDIMENSIONAL EM REGIME TRANSIENTE .................. 17 2.6 CONDUÇÃO DE CALOR TRIDIMENSIONAL EM REGIME TRANSIENTE ............... 21 3 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 30 4 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 31 5 ANEXOS.................................................................................................................................. 32 SIMBOLOGIA A= área (m²) Bi= número de Biot c = calor específico de substância º (W/ m².K) k= condutividade térmica (W/m.K) L= comprimento (m) q” = fluxo de calor (W/ m²) r= raio (m) Ts= temperatura da superfície (K ou ºC) T∞= temperatura do fluído (K ou ºC) To= temperatura inicial (K ou ºC) ∂= espessura de filme (m) 𝜌= massa especifica (kg/m³) λ= parâmetro adimensional na solução de Stefan α= difusibilidade térmica (m²/s) τ= transmissividade, número de Fourier θ=temperatura adimensional 5 1 INTRODUÇÃO No nosso estudo da condução primeiramente analisamos os casos mais simples que são as conduções unidimensionais em regime permanente, sem nenhum tipo de geração de energia, onde o fluxo de calor se dava apenas em uma direção. Agora estaremos entrando em uma situação de maior realidade: condução em regime transiente ou também conhecido como regime variável, envolvendo condições em que a condução é bidimensional ou até mesmo tridimensional. A condução em regime transiente ocorre quando o fluxos de calor e as temperaturas no interior dos objetos variam com o tempo, até um novo estado estacionário de gradiente térmico, ou até um estado de temperatura uniforme ser alcançado “Isto acontece se as temperaturas externas e as fontes de calor e seus sumidouros não são alterados”. Durante o período de tempo que a temperatura em qualquer ponto do espaço em um objeto ou uma mudança de fluidos no tempo, o modo de condução de calor é chamado de condução transiente. A palavra transiente refere-se a distribuições de temperatura no interior do objeto, que mudam ao longo do tempo e, portanto, são transitórias. 6 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME TRANSIENTE Como estudamos anteriormente, considerávamos que a transferência de calor se dava em regime estacionário (parado) ou seja, nossos perfis de temperatura não variavam com o tempo ele só eram funções de coordenadas espaciais. Agora, vamos ver o regime transiente onde o perfil de temperatura depende do tempo, através do método da capacitância global, na qual é um método mais simples e o mais indicado para um analise introdutória ao regime transiente. Agora reconhecemos que muitos problemas de transferência de calor são dependentes do tempo. Em geral, tais problemas não estacionários, ou transientes, surgem quando as condições de contorno de um sistema são mudadas. Por exemplo, quando um lingote de metal é retirado de um forno e exposto a uma corrente de ar frio a energia será transferida por convecção e radiação de uma superfície para uma vizinhança. Da mesma forma, terá uma transferência de calor por condução no interior da peça, assim haverá uma diminuição da temperatura em cada ponto do lingote com o tempo até que uma condição de regime estacionário. 2.2 MÉTODO DA CAPACITÂNCIA GLOBAL Um problema muito comum de condução transiente envolve por exemplo um alimento sólido que passa por uma mudança súbita de temperatura. Supomos que o alimento está com uma temperatura inicial T₁ e é colocado em uma geladeira de temperatura inferior designada de T∞. Os primeiros efeitos da transferência de calor no corpo são detectados nas suas camadas superficiais. O perfil de temperatura nesta região é tal que liga continuamente os valores da temperatura no centro do corpo, T1, com o valor da temperatura superficial T2. Nestes processos a temperatura superficial sempre apresenta um valor entre T1 e T∞, e com o passar do tempo, este valor se aproxima da temperatura do ambiente T∞. Essa mudança na temperatura em função do tempo é decorrente da transferência de calor por convecção. Segundo Incropera, a essência do método da capacitância global é a hipótese de que a temperatura do sólido é espacialmente uniforme, em qualquer instante durante o processo transiente. Essa hipótese implica que os gradientes de temperatura no interior do sólido sejam desprezíveis. 7 Se observarmos a lei de Fourier abaixo, se não tivermos um gradiente de temperatura, teremos uma condutividade térmica infinita, então essa condição é impossível se resolver. 𝑞 = −𝑘. 𝐴. (𝑇2 − 𝑇1) 𝐿 Abaixo vamos estudar os dois casos em que vamos aplicar o método da capacitância global: temperatura uniforme, e temperatura não uniforme. 2.3 TEMPERATURA UNIFORME O corpo é caracterizado por um único valor de temperatura, ou seja, a temperatura é independente da variável espacial e só varia com o tempo. Então como podemos calcular a temperatura que varia com o tempo? Através da capacitância global podemos calcular isso, este método assume como válida a hipótese que a temperatura em cada ponto do sistema é a mesma, ou seja, o perfil de temperatura é uniforme em cada instante de tempo, o que significa dizer que o calor se difunde perfeitamente rápido. Essa hipótese, simplifica bastante o problema, já que ignora a dependência espacial do perfil de temperatura assumindo ter uma função apenas em relação ao tempo T (x, t) ou T (t). Apesar de se resultar em uma simplificação grosseira, a hipótese por trás do método da capacitância global se mostra adequada para problemas de aquecimento e resfriamento por convecção onde a resistência térmica condutiva no interior do sistema é muito menor que a resistência térmica convectiva entre o sistema e a vizinhança. Essa relação entre as resistências térmicas condutiva e convectiva é caracterizado pelo número adimensional denominado número de Biot, na qual é a razão entre as resistências internas e externas. Dá a medida do decréscimo de temperatura no sólido relativo á diferença de temperatura entre a superfície e o fluído. A equação é dada por: 𝐵𝑖 = ℎ . 𝐿𝑐 𝑘 Para escrever estaequação de forma adimensional, define-se primeiramente a dimensão característica do corpo como o volume a dividir pela área superficial, 𝐿𝑐 = 𝑉 𝐴𝑠 V= volume do sistema 8 As = área superficial do sistema E introduz-se uma escala de tempo difusiva, igual a 𝐿𝑐2 𝛼 [s], em que 𝛼 = 𝑘 𝜌.𝑐 [m2/s] é o coeficiente de difusão de calor (a difusividade térmica). O tempo adimensional fica: 𝜏 = 𝛼. 𝑡 𝐿𝑐2 Sendo por vezes designado como número de Fourier (não tem dimensões): 𝐹𝑜 = 𝜏 = 𝛼. 𝑡 𝐿𝑐2 Corpos pequenos de material com capacidade térmica baixa e condutibilidade elevada, irão ter tendência para apresentar um número de Fourier elevado. Só no estágio inicial do processo de arrefecimento (ou aquecimento) é que o Fo será baixo. Figura 1- Número de Biot Se Biot <<1, é razoável assumir uma distribuição de temperatura uniforme no sólido em qualquer tempo durante o processo transiente T (x, t) = T(t). Ou seja, se a resistência a condução no interior do sólido é muito menor do que a resistência á convecção através da camada limite do fluido. Aumentando o número de Biot, o gradiente de temperatura dentro do sólido é significativo T (x, t). Se Bi>>1, o gradiente de temperatura no sólido é muito maior que entre a superfície e o fluído. 9 A seguir, vamos observar um exemplo prático, para que através do mesmo possamos deduzir as equações que poderão ser utilizadas para calculas a temperatura em função do tempo. Exemplo: sólido emergido em fluído de menor temperatura. Para este problemas vamos utilizar o método da capacitância global, então vamos fazer um balanço energético. −𝐸𝑠𝑎𝑖 = 𝐸𝑎𝑐𝑢𝑚 −ℎ. 𝐴𝑠. (𝑇𝑠 − 𝑇∞) = 𝜌 . 𝑉 . с . 𝑑𝑇 𝑑𝑡 Onde: 𝜃 = (𝑇 − 𝑇∞) ℎ . 𝐴𝑠 . 𝜃 = 𝜌 . 𝑉 . с . 𝑑𝜃 𝑑𝑡 𝜌 . 𝑉 . с ℎ. 𝐴𝑠 ∫ 𝑑𝜃 𝜃 𝜃 𝜃𝑖 = − ∫ 𝑑𝑡 𝑡 𝜃 𝜃 𝜃𝑖 = 𝑇 − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝑒𝑥𝑝 [− ( ℎ. 𝐴𝑠 𝜌. 𝑉. 𝑐 ) . 𝑡] E por analogia a um sistema elétrico, pode-se definir: Resistência à transferência de calor por convecção: 𝑅 = 1 ℎ. 𝐴𝑠 Capacitância térmica do sólido: 𝜌. 𝑉. 𝑐 = 𝐶 Dessa forma a equação fica: ( 1 ℎ. 𝐴𝑠 ) . (𝜌. 𝑉. 𝑐) = 𝜏 = 𝑅. 𝐶 Pela análise da equação fica evidente que qualquer aumento de R ou C causará uma resposta mais lenta do sólido às mudanças no ambiente térmico e aumentará o tempo para alcançar o equilíbrio térmico. Pela observação da figura abaixo, nota-se que a temperatura cai exponencialmente com o tempo, até alcançar T∞. Da mesma forma, quanto maior a massa 10 do corpo e/ou seu calor específico, maior será o valor de τ e, por tanto, mais tempo levará para aquecer ou resfriar. Figura 2-Resposta transiente da temperatura de sólidos com capacitâncias globais para diferentes constantes de tempo térmicas τt. Então para calcularmos a quantidade total de calor trocado entre o sistema e a vizinhança podemos utilizar a seguinte equação: Integrando: ∫ 𝑞 𝑑𝑡 = ℎ. 𝐴𝑠 ∫ 𝜃 𝑑𝑡 𝑡 0 𝑡 0 𝑄 = 𝜌. 𝑉. 𝑐. 𝜃𝑖 [1 − 𝑒𝑥𝑝 (− 𝑡 𝜏 )] 2.4 TEMPERATURA NÃO UNIFORME QUE VARIAM DENTRO DE UM CORPO EM ANÁLISE Neste caso, análise matemática do arrefecimento do corpo por convecção na superfície exterior, só é possível para corpos com formas simples: 1. Paredes planas de espessura 2L; 2. Cilindro infinito de raio R; 3. Esfera de raio R; 4. Corpo semi-infinito; Mesmo assim, a solução analítica é complicada (séries infinitas de funções transdescendentes, que se escrevem, de forma sintética: 𝜃 = ∑ 𝐴𝑛. 𝑒−𝜆 2.𝜏∞ 𝑛=1 , e por isso 11 na prática usam-se gráficos que dão a solução em termos do número de Biot e do número de Fourier (em anexos estão disponíveis os gráficos de Heisler). É possível no entanto, como primeira aproximação considerar unicamente o primeiro termo dessas séries, quando o número de Fourier não é pequeno. Na prática esta aproximação, é válida desde que 𝜏 = 𝐹𝑜 > 0,2. PLACA PLANA INFINITA, MEIA ESPESSURA L. Aproximação para o perfil de temperatura: 𝜃(𝑥, 𝜏) = 𝑇(𝑥, 𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝐴1. 𝑒−𝜆 2.𝜏 cos ( 𝜆1. 𝑥 𝐿 ) Os valores das constantes A1 e 𝜆1 são dadas em função da tabela 01, em função do número de Biot. Temperatura no plano central (x=0), com 𝜏 = 𝛼.𝑡 𝐿 : 𝜃𝑜(𝜏) = 𝑇𝑜(𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝐴1. 𝑒−𝜆 2.𝑡 Temperatura na superfície (x=L): 𝜃𝑜(𝜏) = 𝑇𝑠(𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝐴1. 𝑒−𝜆 2.𝑡𝑐𝑜𝑠𝜆1 Calor transferido pela superfície (os dois planos laterais), por unidade de área da parede, desde o instante inicial até um instante qualquer 𝜏 = 𝛼.𝑡 𝐿2 : 12 𝑄 (𝜏) 𝑄𝑚á𝑥 = 1 − 𝜃𝑜 𝑠𝑒𝑛𝜆1 𝜆1 Em que 𝑄𝑚á𝑥 = 𝜌. 𝐶𝑝. 𝐿 |𝑇𝑖 − 𝑇∞| é o calor máximo passível de ser transferido de, ou para, a placa (por unidade de área). CILINDRO INFINITO, RAIO R. Aproximação para o perfil de temperatura: 𝜃(𝑟, 𝜏) = 𝑇(𝑟, 𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝐴1. 𝑒−𝜆 2.𝜏 Jo ( 𝜆1. 𝑟 𝑅 ) Os valores das constantes A1 e 𝜆1 são dadas em função da tabela 01 (anexos), em função do número de Biot e Jo (x) é uma função de Bissel, cujos valores são dados na tabela 02 (anexos). Temperatura no eixo (r=0), com 𝜏 = 𝛼.𝑡 𝑅2 : 𝜃𝑜(𝜏) = 𝑇𝑠(𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝐴1. 𝑒−𝜆 2.𝑡 Temperatura na superfície (r=R): 𝜃𝑜(𝜏) = 𝑇𝑠(𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝐴1. 𝑒−𝜆 2.𝑡 𝐽𝑜. (𝜆1) Calor transferido pela superfície, por metro de comprimento do cilíndro, desde o instante inicial até um instante qualquer 𝜏 = 𝛼.𝑡 𝑅2 : 13 𝑄 (𝜏) 𝑄𝑚á𝑥 = 1 − 2𝜃𝑜 𝐽1. (𝜆1) 𝜆1 Em que 𝑄𝑚á𝑥 = 𝜌. 𝐶𝑝. 𝜋. 𝑅2 |𝑇𝑖 − 𝑇∞|, é o calor máximo que o cilindro pode ceder ou receber do exterior a T∞ (por unidade de comprimento do cilindro). ESFERA, RAIO R. Aproximação para o perfil de temperatura: 𝜃(𝑟, 𝜏) = 𝑇(𝑟, 𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝐴1. 𝑒−𝜆 2.𝜏 1 ( 𝜆1. 𝑟 𝑅 ) 𝑠𝑒𝑛 ( 𝜆1. 𝑟 𝑅 ) Os valores das constantes A1 e 𝜆1 são dadas em função da tabela 01 (anexos), em função do número de Biot. Temperatura no eixo (r=0), com 𝜏 = 𝛼.𝑡 𝑅2 : 𝜃𝑜(𝜏) = 𝑇𝑜(𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝐴1. 𝑒−𝜆 2.𝑡 Temperatura na superfície (r=R): 𝜃𝑠(𝜏) = 𝑇𝑠(𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 𝐴1. 𝑒−𝜆 2.𝑡 𝑠𝑒𝑛 𝜆1 𝜆1 Calor transferido pela superfície da esfera, desde o instante inicial até um instante qualquer 𝜏 = 𝛼.𝑡 𝑅2 : 𝑄 (𝜏) 𝑄𝑚á𝑥 = 1 − 3𝜃𝑜 𝑠𝑒𝑛 𝜆1 − 𝜆1 𝑐𝑜𝑠 𝜆1 𝜆13 14 Em que 𝑄𝑚á𝑥 = 𝜌. 𝐶𝑝. 4 3 𝜋. 𝑅3 |𝑇𝑖 − 𝑇∞|, é o calor máximo que a esfera pode ceder ou receber na presença de um ambiente a T∞. CORPO SEMI INFINITO Um corpo de grandes dimensões está inicialmente a temperatura uniforme Ti e, no instante inicial t = 0, é aquecido na superfície exposta (x = 0) por convecção com um fluido exterior à temperatura T∞. A coordenada espacial x aponta da superfície para o interior do corpo. O material do corpo tem condutibilidade térmica k, capacidade térmica mássica cp, massa volúmica ρ e difusividade térmica 𝛼 = 𝑘 ρ.cp ; o coeficiente convectivo exterior é h. Um sólido semi-infinito é um corpo idealizado que tem uma única superfície plana e se estende até o infinito em todas as direções. Ele pode ser utilizado para determinar a transferência de calor transiente próxima à superfície da Terra ou para aproximar a resposta transiente de um sólido finito, como uma placa espessa. Por curtos intervalos de tempo, a maior parte dos corpos pode ser modelada como sólidos semi- infinitos, porque o calor não tem tempo suficiente para se propagar profundamente no corpo e a espessura do corpo não entra na análise da transferência de calor. Se uma súbita mudança de condições for imposta nessa superfície, condução 1D em regime transiente ocorrerá no interior do sólido. A Equação do Calor deste problema (condução 1D em regime transiente e sem geração) é expressa por: 𝜕2𝑇 𝜕𝑥2 = 1 𝛼 . 𝜕𝑇𝜕𝑡 Como tratamos as condições na superfície? De maneira geral, existem três condições na superfície: 15 Figura 3- Condições sólidos semi-infinitos. CASO 01: TEMPERATURA CONSTANTE NA SUPERFICIE Quando já sabemos a temperatura da superfície, a condição de contorno é: 𝑇 (0, 𝑡) = 𝑇𝑠 Então através de resoluções matemáticas chegamos a uma fórmula onde é relacionada as temperatura em função do tempo: 𝑇 (𝑥, 𝑡) − 𝑇𝑠 𝑇𝑖 − 𝑇𝑠 = 𝑒𝑟𝑓 ( 𝑥 2. √𝛼. 𝑡 ) A função do erro de Gauss erf, já é tabelada conforme a tabela a seguir: Tabela 3 – Erros de Gauss (erf) 16 Para usar a tabela é muito simples, basta calcular o argumento da função (𝜔), olhar na coluna de argumentos qual valor mais se aproxima e verificar o valor correspondente do erf. Então podemos calcular o fluxo de calor: 𝑞𝑠" = 𝑘. (𝑇𝑠 − 𝑇𝑖) √𝜋. 𝛼. 𝑡 CASO 02: FLUXO DE CALOR CONSTANTE NA SUPERFICIE Neste caso, já sabemos o valor do fluxo de energia (qo”) que é aplicado na superfície, então: 𝑞𝑠"=qo" E a solução para a distribuição de temperatura T(x,t) é dada por: 𝑇 (𝑥, 𝑡) − 𝑇𝑖 = 2. 𝑞𝑜" 𝑘 . √ 𝛼. 𝑡 𝜋 . exp ( −𝑥2 4. 𝛼. 𝑡 ) − 𝑞𝑜". 𝑥 𝑘 . 𝑒𝑟𝑓𝑐 . ( 𝑥 2. √𝛼. 𝑡 ) Onde: 𝑒𝑟𝑓𝑐 (𝜔) = 1 − erf (𝜔) CASO 03: CONVECÇÃO NA SUPERFICIE Quando a superfície está exposta a um fluído numa dada temperatura T∞, a condição de contorno é que a taxa de condução no sólido é igual a taxa de convecção, então: −𝑘. 𝛿𝑇 𝛿𝑥 = ℎ. [𝑇∞ − 𝑇(0, 𝑡)] Então ficamos com a seguinte equação: 𝑇 (𝑥, 𝑡) − 𝑇𝑖 𝑇∞ − 𝑇𝑖 = 𝑒𝑟𝑓𝑐 − [exp ( ℎ. 𝑥 𝑘 + ℎ2. 𝛼. 𝑡 𝑘2 )] . [𝑒𝑟𝑓𝑐 ( 𝑥 2. √𝛼. 𝑡 + ℎ. √𝛼. 𝑡 𝑘 )] 17 2.5 CONDUÇÃO DE CALOR BIDIMENSIONAL EM REGIME TRANSIENTE Segundo Bejan, a diferença conceitual da aplicação do método das diferenças finitas a condução em regime permanente e da aplicação do método a condução em regime transiente pode ser apreciada a partir da análise dos problemas bidimensionais. Em ambos os casos, o meio condutor está discretizado espacialmente por uma malha cujos nós servem como centro para um conjunto de pequenos sistemas. A malha uniforme utilizada nas figuras é gerada por duas famílias de linhas paralelas equidistantes. A posição de um nó, ou do sistema, é indicada por dois números (m para a posição horizontal e n para a posição vertical). Considere-se uma região retangular em que a condução de calor é significativa nas direções x e y, e considera-se a espessura Δz = 1 na direção z. O calor pode ser gerado no meio a uma taxa de g (x, y, t), que pode variar com o tempo e posição, com a condutividade térmica do meio k assumida constante. Divide-se o plano da região numa malha retangular de pontos nodais espaçadas Δx e Δy nas direções x e y respectivamente, e considera-se um nó geral interior (m, n), cujas coordenadas são x = m.ΔX e Y = m.Δy A formulação transiente de diferenças finitas para um nó interior em geral pode ser expressa como: Utilizando-se uma malha quadrada Δx= Δy=l e dividindo cada termo da expressão por k, após a simplificação obtém-se: Onde 𝛼 = 𝑘 𝜌.𝑐 , é a difusidade térmica do material e 𝜏 = 𝛼.∆𝑡 𝑙2 , é o número adimensional da malha de Fourier. Também pode se expressar em termos das temperaturas dos nós vizinhos pela seguinte fórmula: 18 Obtem-se a formulação explícita de diferenças finitas, expressando o lado esquerdo no passo de tempo i como: Expressando o lado esquerdo na etapa de tempo i + 1 em vez de i obtém-se a formulação implícita. Esta equação pode ser resolvida para a nova temperatura 𝑇𝑛ó𝑖+1 , para se obter: O critério da estabilidade requer que o coeficiente de 𝑇𝑚𝑖 , na expressão 𝑇𝑚𝑖+1 deve ser maior ou igual a zero para todos os nós e é igualmente válida para os casos bidimensionais e tridimensionais e limita severamente o tamanho do passo de tempo ∆𝑡 , que pode ser usado no método explicito. Para nós internos de transferência de calor bidimensional em coordenadas retangulares o critério de estabilidade é dado por: 𝜏 = 𝛼. ∆𝑡 𝑙2 ≤ 1 4 Apresentam-se a seguir algumas das equações mais utilizadas para a solução de problemas bidimensionais em regime transiente: 19 Figura 4- Caso 01: nó interior Figura 5- Caso 02: nó num vértice interior com convecção. 20 Figura 6- Caso 03: nó numa superfície plana com convecção. Figura 7- Caso 04: nó num vértice externo com convecção. 21 2.6 CONDUÇÃO DE CALOR TRIDIMENSIONAL EM REGIME TRANSIENTE Para uma solução tridimensional a mesma pode ser obtida através da determinação do campo de temperatura em condução multidimensional que por sua vez partem de soluções unidimensionais transientes. Desta forma demonstraremos o passo a passo até chegar na solução tridimensional para um paralelepípedo. Iniciando pela solução unidimensional transiente para uma placa de espessura 2L e temperatura inicial Ti, cujos lados são repentinamente expostos a um meio convectivo de temperatura T∞ e coeficiente h, definindo o excesso de temperatura θ (x,t) = T (x,t) -T∞, resulta no conjunto de equações para solução. Equação de condução: 𝜕2𝜃 𝛿𝑥2 = 1 𝛼 𝜕𝜃 𝛿𝑡 Equação (1) Condição inicial: 𝜃 = 𝜃𝑖 𝑒𝑚 𝑡 = 0 Equação (2) Condições de contorno Equação (3) e Equação (4): 𝛿𝜃 𝛿𝑥 = 0 𝑒𝑚 𝑥 = 0 Equação (3) −𝑘 𝛿𝜃 𝛿𝑥 = ℎ𝜃 𝑒𝑚 𝑥 = 𝐿 Equação (4) Separando as variáveis, adotando θ ( x,t ) X ( x ) τ ( t ), teremos: 𝛿2𝑥 𝛿𝑥2 + 𝜆2𝑥 = 0 Equação (5) 22 𝛿𝑋 𝛿𝑥 = 0 𝑒𝑚 𝑥 = 0 Equação (6) 𝑑𝑋 𝑑𝑥 + ℎ 𝑘 𝑋 = 0 𝑒𝑚 𝑥 = 𝐿 Equação (7) 𝑑𝜏 𝜏 = −𝛼𝜆2 𝑑𝑡 Equação (8) Sendo as equações (5, 6, 7) acima na forma: 𝑋 = 𝑐𝑜𝑠 (𝜆𝑚. 𝐿 𝑥 𝐿 ) Equação (9) E a equação (8) do tipo: 𝜏 = 𝐶 exp(−𝛼𝜆2𝑡) Equação (10) Sendo assim a solução de θ será da forma: 𝜃(𝑥, 𝑡) = ∑ 𝐶𝑚 cos(𝜆𝑚𝑥) exp(−𝛼𝜆𝑚 2 𝛼 𝑚=1 𝑡) Equação (11) Utilizando a condição inicial tem-se: 𝜃𝑖 = ∑ 𝐶𝑚 cos(𝜆𝑚𝑥) ∞ 𝑚=1 Equação (12) 23 Multiplicando ambos os lados da eq. (12) acima por e usando a condição de ortogonalidade das autofunções obtém-se: 𝜃𝑖 ∫ cos(𝜆𝑚𝑥)𝑑𝑥 = 𝐶𝑚 ∫ 𝑐𝑜𝑠 2 𝐿 0 𝐿 0 (𝜆𝑚𝑥)𝑑𝑥 Equação (13) Nasequência após realizar as integrações tem-se à expressão da constante: 𝐶𝑚 = 2𝜃𝑖 𝑠𝑒𝑛 (𝜆𝑚𝐿) 𝜆𝑚𝐿 + 𝑠𝑒𝑛 (𝜆𝑚𝐿) cos(𝜆𝑚𝐿) Equação (14) Substituindo a Equação (14) na Equação (11) teremos à solução para a temperatura na forma: 𝜃 (𝑥, 𝑡) 𝜃𝑖 = 𝑇 (𝑥, 𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = 2 ∑ 𝑠𝑒𝑛 (𝑎𝑚) 𝑎𝑚 + 𝑠𝑒𝑛 (𝑎𝑚) cos(𝑎𝑚) cos (𝑎𝑚 𝑥 𝐿 ) exp (−𝑎𝑚 2 𝛼𝑡 𝐿2 ) ∞ 𝑚=1 Equação (15) Na qual: 𝑎𝑚𝑡𝑔 (𝑎𝑚) = ℎ𝐿 𝑘 , 𝑎𝑚 = 𝜆𝑚𝐿 Equação (16) Na forma adimensional , a temperatura depende de três grupos adimensionais: 𝑥 𝐿 , 𝐹𝑜 = 𝛼𝑡 𝐿2 , 𝐵𝑖 = ℎ𝐿 𝑘 Equação (17) Obs.: Fo e Bi são os números de Fourier e de Biot respectivamente. Calculando a temperatura no plano médio da placa, utilizando x = 0 na Equação (15), a qual resulta em: 24 𝑇𝑐−𝑇∞ 𝑇𝑖−𝑇∞ = 2 ∑ 𝑠𝑒𝑛 (𝑎𝑚) 𝑎𝑚 + 𝑠𝑒𝑛 (𝑎𝑚) cos (𝑎𝑚) ∞ 𝑚=1 exp(−𝑎𝑚 2 𝐹𝑜) Equação (18) Para calcular a temperatura em qualquer outro plano da placa utiliza-se a forma: 𝑇(𝑥, 𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ = [ 𝑇(𝑥, 𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑐(𝑡) − 𝑇∞ ] × [ 𝑇𝑐(𝑡) − 𝑇∞ 𝑇𝑖 − 𝑇∞ ] Equação (19) É comum graficar os termos entre colchetes na Equação (19) em função do número de Fourier tendo o número de Biot como um parâmetro para facilitar estimativas rápidas da temperatura. A taxa total de transferência de calor é de interesse. Considerando apenas metade da placa, a máxima taxa de transferência de calor num intervalo 0 − t é calculada por: 𝑄𝑖 = 𝜌𝑊𝐻𝐿𝑐 (𝑇𝑖 − 𝑇∞) Equação (20) Na qual W e H são a largura e altura da placa respectivamente frontal à transferência de calor. A taxa de calor real num intervalo 0 − t é sempre menor do que o máximo e pode ser calculada como: 𝑄 (𝑡) = 𝑊𝐻 ∫ 𝑞" 𝑑𝑡 𝑡 0 Equação (21) Onde: 𝑞" = −𝑘 ( 𝜕𝑇 𝜕𝑥 ) 𝑥 = 𝐿 Equação 22 Normalmente se gráfica Q(t) / Qi em função de Bi² Fo. 25 Agora utilizaremos os resultados acima para se determinar o campo de temperatura em condução multidimensional numa barra retangular 2L x 2H, imersa num fluido a qual pode ser determinada como o produto da solução da placa vertical pela solução da placa horizontal. A equação original é da forma: 𝜕2𝜃 𝜕𝑥2 + 𝜕2𝜃 𝜕𝑦2 = 1 𝛼 𝜕𝜃 𝜕𝑡 Equação (23) Supondo uma solução na forma: 𝜃 (𝑥, 𝑡, 𝑦) = 𝜃𝐿(𝑥, 𝑡) × 𝜃𝐻(𝑦, 𝑡) Equação (24) Desta forma derivando a Equação (24) duas vezes em relação a (x e y), uma vez em relação ao tempo e substituindo na Equação (23), pode-se verificar que ela é automaticamente satisfeita. Equação (25) Ambos os termos entre parênteses são nulos o que mostra que a solução produto satisfaz a equação original. A solução da Equação (24) é respeitada apenas se a temperatura inicial também satisfaça: Equação (26) Dividindo-se a Equação (24) pela Equação (26) membro a membro, pode-se verificar que a temperatura adimensional da barra também é o produto das temperaturas adimensionais das placas, ou seja: 26 Equação (27 Segundo Bejan (1993), mostra que a taxa total de transferência de calor pode ser calculada como: Equação (28) Figura 8- Produto de soluções unidimensionais Para o caso da placa semi-infinita a determinação da temperatura dependente do tempo e pode ser obtido conforme figura abaixo: 27 Figura 9- Determinação de temperatura placas semi infinitas A solução da placa semi-infinita é o produto da solução da placa de espessura finita pela solução do sólido semi-infinito e fica na forma: Equação (29) Finalizando para o caso de um paralelepípedo, mostrado abaixo, a solução tridimensional pode ser obtida como: Equação (30) Determinação da temperatura dependente do tempo num paralelepípedo imerso em um fluído. 28 Figura 10- Determinação de temperatura em paralelepipedo A taxa total de transferência de calor neste caso, de acordo com Bejan (1993), é calculada como: Equação (31) Dando sequência ao nosso estudo sobre condução tridimensional outras soluções para outras geometrias podem ser obtidas através do passo a passo citado anteriormente dentre elas a geometria cilíndrica e esférica. Para o caso de um cilindro curto de comprimento 2L e raio externo 𝑟𝑜, a determinação da temperatura dependente do tempo e pode ser obtido conforme figura abaixo. Figura 11- Determinação da temperatura em cilindros curtos. A solução para este caso fica na forma: 29 Equação (32) Para o caso de um cilindro semi-infinito a determinação da temperatura dependente do tempo e pode ser obtido conforme figura abaixo: Figura 12- Determinação de temperatura em cilindros semi-infinitos. Para o caso do cilindro semi-infinito, a solução é da forma: Equação (33) Para o cálculo da taxa total de transferência de calor das Equações (32 e 33), também é feito por uma equação similar à Equação (28). 30 3 CONCLUSÃO Concluímos então que, a condução em regime transiente ocorre por um tempo em qualquer situação onde há uma alteração na temperatura das fontes externas ou internas ou dissipadores de calor, causando uma nova fonte de entrada de calor ou saída no interior de um objeto, ou seja, de dentro ou fora do objeto para as suas proximidades. Novas fontes de calor "ativadas" no interior de um objeto podem causar o fenômeno “um exemplo prático pode ser na partida de um motor de um carro”. Novas condições externas também causam esse processo de condução transiente, por exemplo numa barra de cobre onde suas extremidades estão submetidas a uma temperatura diferente da outra. Ao longo do tempo, o campo de temperaturasno interior da barra chegaria a um novo estado de equilíbrio, “um estado estacionário” no qual um gradiente de temperatura constante ao longo da barra vai finalmente ser criado, e este gradiente então permaneceria constante no tempo. Normalmente, esse novo gradiente de estado estacionário é atingido exponencialmente com o tempo, depois que uma fonte de temperatura ou calor novo ou dissipação for introduzido. Nesta medida, a fase de "condução transiente" é então dominante, embora o fluxo de calor possa ainda continuar em alta potência. Por exemplo, em um automóvel, a fase transitória de condução térmica seria inicialmente predominante, e a fase de estado estacionário aparece, logo que o motor tenha atingido o estado estacionário através da temperatura operacional. Então como podemos observar, a condução transiente é muito comum no nosso dia a dia se formos analisar. Para calcular, basta procurar entender cada caso para que possam ser calculadas da maneira correta. 31 4 REFERÊNCIAS INCROPERA, F.P., DEWITT, D.P., BERGMAN, T.L. & LAVINE, A.S., 2008. Fundamentos de Transferência de Calor e de Massa. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: LTC, 643p. BEJAN, A., 1994. Transferência de calor. Hoboken, NJ, USA: John Wiley & Sons, 1480p. ÇENGEL, Y.A.. “Transferência de Calor e Massa – Uma abordagem prática”, Mc. Graw Hill, São Paulo, 3ª ed., 2009 BOHN, Mark S.; KREITH, Frank. “Principios de Transferência e Calor”. 1ª Edição, Thomson Heinle, 2003. 32 5 ANEXOS Tabela 1- Coeficientes do 1º termo da série que dá a solução analítica para a transferência de calor por convecção de placa plana infinita, cilindro infinito e esfera. Tabela 2- Função de Bessel de 1ª especie, de ordem 0 e 1. 33 GRÁFICOS DE HEISLER
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