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Ações Constitucionais

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1/1/2015 
 
 
Ações 
Constitucionais 
Bernardo Fernandes 
Nathália Moreira Nunes de Souza 
CURSO FÓRUM TV – CARREIRAS JURÍDICAS 2015 
 
 
1 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Controle de Constitucionalidade....................................................................................................... 4 
1 Conceito ...................................................................................................................................... 4 
2 Pressupostos ............................................................................................................................... 4 
3 Requisitos .................................................................................................................................... 5 
3.1 Requisitos Formais ........................................................................................................... 5 
3.1.1 Inconstitucionalidade Formal .............................................................................. 5 
3.2 Requisitos Materiais ......................................................................................................... 6 
3.2.1 Inconstitucionalidade Material ............................................................................ 6 
4 Matrizes ou Sistemas do Controle de Constitucionalidade .......................................... 9 
4.1 Matriz Americana (Séc. XIX) .......................................................................................... 9 
4.2 Matriz Austríaca (Séc. XX) .............................................................................................. 9 
4.3 Matriz Francesa (Séc. XX) ............................................................................................. 10 
5 Brasil ........................................................................................................................................... 11 
5.1 Controle difuso e concreto de constitucionalidade ............................................. 14 
5.1.1 Origem ..................................................................................................................... 14 
5.1.2 Características ......................................................................................................... 14 
5.1.3 Análise do controle difuso nos Tribunais ....................................................... 15 
5.1.3.1 Análise do STF .................................................................................................... 18 
5.1.4 Efeitos do controle de constitucionalidade ................................................... 20 
5.1.4.1 Resolução do Senado Federal ....................................................................... 21 
5.1.4.2 Súmula Vinculante ............................................................................................ 22 
5.1.4.3 Exceções aos efeitos do controle difuso..................................................... 24 
5.2 Controle Concentrado .................................................................................................. 33 
5.2.1 Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) .................................................. 33 
5.2.1.1 Conceito ............................................................................................................... 33 
5.2.1.2 Objeto .................................................................................................................. 33 
5.2.1.3 Legitimidade ....................................................................................................... 41 
5.2.1.4 Procedimento – Lei 9.868/99 ........................................................................ 43 
5.2.1.5 Julgamento da ADI .......................................................................................... 48 
5.2.1.6 Medida Cautelar ................................................................................................ 55 
5.2.1.7 Procedimento especial na ADI ...................................................................... 58 
5.2.1.8 O que não cabe ................................................................................................. 58 
5.2.2 Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) ....................................... 60 
5.2.2.1 Conceito ............................................................................................................... 60 
5.2.2.2 Finalidade ............................................................................................................ 60 
5.2.2.3 Objeto .................................................................................................................. 61 
5.2.2.4 Legitimidade ....................................................................................................... 61 
5.2.2.5 Procedimento e Decisão ................................................................................. 62 
 
 
2 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
5.2.3 ADI por Omissão (ADO) ...................................................................................... 65 
5.2.3.1 Conceito ............................................................................................................... 65 
5.2.3.2 Objeto da ADO .................................................................................................. 65 
5.2.3.3 Legitimidade ....................................................................................................... 66 
5.2.3.4 Espécies ................................................................................................................ 66 
5.2.3.5 Procedimento e Decisão ................................................................................. 66 
5.2.4 ADI Interventiva ..................................................................................................... 72 
5.2.4.1 Conceito ............................................................................................................... 72 
5.2.4.2 Objeto .................................................................................................................. 72 
5.2.4.3 Legitimidade ....................................................................................................... 72 
5.2.4.4 Procedimento e Decisão ................................................................................. 72 
5.2.5 ADPF ......................................................................................................................... 76 
5.2.5.1 Conceito ............................................................................................................... 76 
5.2.5.2 Espécies de ADPF .............................................................................................. 77 
5.2.5.3 Objeto da ADPF ................................................................................................ 77 
5.2.5.4 Legitimados ........................................................................................................ 78 
5.2.5.5 Procedimento e Decisão ................................................................................. 78 
5.2.5.6 Efeitos da decisão ............................................................................................. 81 
5.2.5.7 Considerações finais ......................................................................................... 82 
5.3 Sentenças Intermediárias ............................................................................................. 83 
5.3.1 Sentenças Normativas .......................................................................................... 83 
5.3.1.1 Sentenças Interpretativas ................................................................................ 84 
5.3.1.2 Sentença Aditiva................................................................................................86 
5.3.1.3 Sentença Aditiva de Princípio ........................................................................ 87 
5.3.1.4 Sentenças Substitutivas ................................................................................... 87 
5.3.2 Sentenças Transitivas (ou Transacionais) ....................................................... 88 
5.3.2.1 Sentença de Inconstitucionalidade Sem Efeito Ablativo ....................... 89 
5.3.2.2 Sentença de Inconstitucionalidade com Ablação Diferida ................... 89 
5.3.2.3 Sentenças de Apelo .......................................................................................... 89 
5.3.2.4 Sentenças de Aviso ........................................................................................... 90 
5.4 Controle Concentrado no Âmbito Estadual ........................................................... 92 
5.4.1 Dispositivo Constitucional ................................................................................... 92 
5.4.2 Legitimidade ........................................................................................................... 92 
5.4.3 Parâmetro ................................................................................................................ 92 
5.4.4 Objeto ....................................................................................................................... 93 
5.4.5 Órgão Julgador ..................................................................................................... 93 
5.4.6 Fenômeno dos processos simultâneos ........................................................... 93 
5.4.7 Parâmetro Inconstitucional ................................................................................ 94 
 
 
3 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
5.4.8 Efeitos ....................................................................................................................... 95 
5.5 Mandado de Injunção .................................................................................................. 96 
5.5.1 Requisitos ................................................................................................................. 96 
5.5.2 Legitimidade ........................................................................................................... 97 
5.5.2.1 Ativa ...................................................................................................................... 97 
5.5.2.2 Passiva .................................................................................................................. 98 
5.5.3 Competência........................................................................................................... 98 
5.5.4 Procedimento ......................................................................................................... 99 
5.5.5 Efeitos da decisão ............................................................................................... 100 
5.5.5.1 Tese Concretista ............................................................................................. 100 
5.5.5.2 Tese Não Concretista .................................................................................... 101 
5.5.5.3 Tese adotada no Brasil ................................................................................. 102 
5.6 Habeas Data ................................................................................................................. 104 
5.6.1 Legitimidade ........................................................................................................ 104 
5.6.1.1 Ativa ................................................................................................................... 104 
5.6.1.2 Passiva ............................................................................................................... 105 
5.6.2 Competência........................................................................................................ 105 
5.6.3 Procedimento ...................................................................................................... 105 
 
 
 
 
4 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Aula 01 – 11/08/2015 – pt. 01 
Controle de Constitucionalidade 
 
1 CONCEITO 
O controle de constitucionalidade é uma análise (verificação) de 
compatibilidade (adequação) de leis ou atos normativos em relação a uma 
constituição. 
PARAMETRICIDADE – é uma palavra-chave no controle de constitucionalidade. 
O controle de constitucionalidade é uma relação de parametricidade entre uma 
Constituição e as leis ou atos normativos. 
 
2 PRESSUPOSTOS 
São quatro pressupostos para o controle de constitucionalidade: 
1) Constituição formal e rígida. Na Inglaterra e em outros países, existe uma 
jurisdição constitucional fraca. No Brasil, porém, ainda é pressuposto 
clássico a existência de Constituição formal e rígida. Se a CF for flexível, 
não há que se falar em controle, porque a Constituição estará no mesmo 
nível das leis ordinárias. O critério deixa de ser hierárquico para ser 
cronológico: a lei posterior revoga a anterior no mesmo nível. A 
Constituição formal e rígida é dotada de supralegalidade em relação ao 
restante do ordenamento. 
 
2) Constituição como fundamento de validade para o restante do 
ordenamento. As normas constitucionais têm que fundamentar a 
validade de todas as outras normas do ordenamento. Toda vez que 
existirem normas no ordenamento, teremos que analisar se elas são 
compatíveis e adequadas com a Constituição. 
 
3) Órgão com legitimidade para realizar o controle. Se existe controle de 
constitucionalidade, alguém tem que realizá-lo. Por isso, precisamos de 
órgão dotado de legitimidade para realizar o controle / verificação da 
relação da parametricidade. A maioria dos países trabalha com um 
Judiciário realizando esta atividade, numa minoria existe um aparato 
político com esse mister. Na maioria, porém, o controle é judicial e não 
político. 
 
4) Existência de sanção para o descumprimento da Constituição. A mera 
declaração de censura não basta. Classicamente, há uma sanção para o 
 
 
5 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
descumprimento da Constituição: nulidade
1
 ou anulabilidade da lei ou 
ato normativo2, com declaração de invalidade da lei. Ou seja, a lei é 
reconhecida como inválida. Preenchidos esses requisitos, falaremos 
numa jurisdição constitucional forte. (ou jurisdição constitucional 
clássica). 
 
3 REQUISITOS 
Quais os requisitos necessários para que uma lei seja compatível e inadequada 
com uma Constituição? 
Devem ser respeitados / preenchidos requisitos formais e materiais. Não sendo 
preenchido algum desses requisitos, haverá incompatibilidade com a 
Constituição, ou seja, inconstitucionalidade. 
 
3.1 REQUISITOS FORMAIS 
Os requisitos formais dizem respeito à forma ou modo de produção da lei, que 
deve respeitar o determinado na Constituição. 
O conteúdo da lei pode ser o melhor de todos, mas se a produção não 
respeitou a forma definida na Constituição, então a lei será inconstitucional. 
Existe todo um processo legislativo que estudamos anteriormente, voltado para 
a produção de leis, e que deve ser respeitado sob pena de 
inconstitucionalidade. 
 
3.1.1 Inconstitucionalidade Formal 
A inconstitucionalidade formal ocorre quando há o descumprimento de 
requisitos formais. 
Quais os tipos de inconstitucionalidade formal existentes no ordenamento? 
1) Inconstitucionalidade formal ORGÂNICA. Ocorre quando há o 
descumprimento de regras de competência. Toda vez que regras de 
competência forem descumpridas, deve-se alegar a inconstitucionalidade 
formal orgânica. Sempre pensamos nas regras derepartição de 
competências, o mais comum inclusive na jurisprudência (ex.: art. 22 CF). 
É o caso de uma matéria ser de competência legislativa exclusiva da 
União e o Estado legislar sobre o assunto. Mas também é comum haver 
uma invasão de esfera de competência entre legislações ordinárias e 
complementares. É o caso de a matéria ser reservada a lei complementar 
 
1
 Nula desde que surgiu. 
2
 Anulada dali pra frente. 
 
 
6 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
e ser fruto de lei ordinária, o que não é admitido no sistema, por melhor 
que seja seu conteúdo. 
 
2) Inconstitucionalidade formal POR DESCUMPRIMENTO DE 
PRESSUPOSTOS OBJETIVOS. Ocorre quando há o descumprimento de 
requisitos expressos / explícitos na Constituição para a produção de leis. 
Em determinados casos, se abrirmos a Constituição, acharemos de forma 
explícita para a produção de determinadas leis / atos normativos, como é 
o caso do art. 62 CF, que exige “relevância e urgência”, e art. 18, §4º, CF. 
 
3) Inconstitucionalidade formal PROPRIAMENTE DITA. É a 
inconstitucionalidade que ocorre quando há descumprimento de regras 
do processo legislativo dos arts. 59 a 69 CF. É o descumprimento do 
devido processo legislativo, que pode ser subjetiva ou objetiva. A fase do 
processo legislativo que tem “sujeito” é a fase de iniciativa (quando há 
sujeitos legitimados para iniciar o processo). Por isso, falamos que a 
inconstitucionalidade formal propriamente dita subjetiva é aquela por 
vício de iniciativa. Inconstitucionalidade formal objetiva é aquela na fase 
constitutiva (tramitação e votação) e complementação (promulgação e 
publicação). É o caso de tramitar na Câmara um projeto de LC aprovado 
por maioria absoluta; depois ir ao Senado, onde é aprovado por maioria 
simples. Trata-se de vício na fase constitutiva, porque o projeto de lei 
complementar precisa de quórum de maioria absoluta em ambas as 
casas, sendo insuficiente que haja maioria simples numa das casas e 
maioria absoluta na outra. 
Alguns ainda falam em inconstitucionalidade formal por vício de decoro 
parlamentar, como é o caso de uma norma ser aprovada porque pagaram 
propina pelos votos favoráveis dos legisladores. 
 
3.2 REQUISITOS MATERIAIS 
Pt. 02 
Os requisitos materiais dizem respeito ao conteúdo da lei em relação ao 
conteúdo da Constituição. É uma questão substancial / “conteudística”. 
 
3.2.1 Inconstitucionalidade Material 
Ocorre quando o conteúdo da lei ou ato normativo contraria o conteúdo da 
Constituição. 
Atualmente, para doutrina e jurisprudência a inconstitucionalidade material não 
ocorre apenas quando o conteúdo da lei contraria o conteúdo da Constituição, 
uma vez que pode existir por práticas ou atuações desproporcionais do 
legislador ou administrador. 
 
 
7 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Nesses termos, se o legislador atuar em excesso ou de forma insuficiente, haverá 
inconstitucionalidade material. Portanto, a inconstitucionalidade material não é 
apenas uma questão de conteúdo, mas também uma questão de análise da 
atuação dos poderes públicos. 
Nesses termos, falamos em p. da proporcionalidade enquanto princípio da 
proibição do excesso e enquanto p. da proibição da proteção insuficiente. Pode 
ser que o conteúdo da lei não contrarie o conteúdo da Constituição, mas o 
Judiciário conclua que a atuação do legislador foi excessiva ou insuficiente, o 
que gera inconstitucionalidade material por desrespeito ao p. da 
proporcionalidade. 
Atualmente, a atuação do administrador e do legislador é analisada em seu 
conteúdo, para a declaração de inconstitucionalidade dos atos normativos, 
inclusive com base no p. da proporcionalidade, uma regra implícita da 
Constituição3. A proporcionalidade tem alguns subprincípios: 
a) Adequação 
b) Necessidade 
c) Proporcionalidade em sentido estrito 
Adequação é uma análise se o meio utilizado é apto ao fim visado. 
Necessidade é uma análise se existiria outro meio menos gravoso para atingir 
aquele objetivo. 
Proporcionalidade em sentido estrito é um sopesamento / ponderação, isto é, 
uma análise de ônus e bônus, de custo-benefício. O custo daquela lei é maior ou 
menor do que o seu bônus? Afinal, tudo tem dois lados e se deve fazer uma 
ponderação se o ônus é maior do que o bônus da lei, o que a levaria à 
desproporcionalidade, seja pelo excesso ou pela insuficiência. 
ADI 855 -> na déc. 90, no Estado do Paraná, foi feita uma lei dizendo que toda 
compra e venda de botijão de gás deveria ser feita in loco com o consumidor, 
devendo ser pesado naquele momento e a diferença do preço deveria ser 
devolvida. O objetivo era impedir que o consumidor fosse usurpado na venda 
de botijão de gás. 
Em princípio, o conteúdo dessa lei não contraria a Constituição. Pelo contrário, 
defende o consumidor, seguindo o espírito constitucional. Foi feita ADI contra 
essa lei, constatando-se a sua desproporcionalidade. O meio era apto a atingir o 
fim (proteção do consumidor); havia necessidade deste tipo de obrigatoriedade, 
ao menos segundo alguns, porque haviam sido tentados outros meios 
anteriormente e eles não deram certo. Contudo, o bônus com a medida 
(proteção do consumidor) era inferior ao ônus (obrigar a empresa a ir in loco 
para pesar botijão na frente do consumidor, inviabilizando a distribuição de gás 
na prática). 
 
3
 Em verdade, a proporcionalidade é uma regra, não um princípio, mas vem sendo tratado 
generalizadamente como se assim fosse. 
 
 
8 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Em princípio o conteúdo dessa lei não contrariava a CF, mas ela era 
desproporcional porque violava a proporcionalidade em virtude do excesso. No 
afã de proteger o consumidor, acaba inviabilizando a venda do gás. 
O Judiciário, portanto, não analisa apenas o conteúdo, mas também a atividade 
/ atuação do Poder Público, exigindo uma proporcionalidade da mesma, sob 
pena de mácula de inconstitucionalidade. 
 
Requisitos 
Formais 
Inconstitucionalidade 
formal 
Orgânica 
Por descumprimento 
de pressupostos 
objetivos 
Propriamente dita 
subjetiva 
vício de iniciativa 
objetiva 
vício nas fases 
constitutiva e 
complementar 
Materiais 
Inconstitucionalidade 
material 
incompatibilidade 
entre conteúdo da lei 
e conteúdo da CF 
atuação 
desproporcional do 
legislador ou 
administrador 
p. da proibição do 
excesso 
p. da proibição da 
proteção insuficiente 
 
 
9 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
4 MATRIZES OU SISTEMAS DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
4.1 MATRIZ AMERICANA (SÉC. XIX) 
Deriva do caso Marbury vs. Madison, julgado pela Suprema Corte Americana, 
mais especificamente o juiz Marshall, caso datado de 1803. 
Pt. 03 
Na matriz americana, existe um sistema judicial de controle, chamado pela 
doutrina de CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE, porque todos 
os juízes controlam a constitucionalidade. 
 Controle pelo judiciário 
 Por qualquer juiz 
Esse controle difuso se dá sempre in concreto, ou seja, ele sempre terá por base 
um caso concreto. Note que nos EUA esse sistema surgiu justamente com um 
caso, o Marbury vs Madison. 
Esse controle se dá via exceção, que alguns chamam de via defesa, e de modo 
incidental. Trata-se de um processo subjetivo, porque tem partes, tem lide e tem 
contraditório. 
 Controle difuso 
 Em concreto 
 Exceção (via defesa) 
 Modo incidental 
 Processo subjetivo (com partes, lide e contraditório) 
Por tudo isso, os efeitos da decisão serão inter partes. Nos EUA, o que geraefeito erga omnes e vinculante é o stare decisis, o precedente obrigatório, 
decorrente do common Law (e não o efeito do próprio controle de 
constitucionalidade), em que a jurisprudência é vinculante. 
 
4.2 MATRIZ AUSTRÍACA (SÉC. XX) 
Deriva de Hans Kelsen, da Constituição de 1920. 
Também é um sistema judicial, porque o controle de constitucionalidade é 
realizado por juízes. Mas aqui, o controle não é difuso, mas sim um CONTROLE 
CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE. Apenas um órgão controla essa 
constitucionalidade, que será um Tribunal / Corte Constitucional. 
O controle está concentrado num único órgão: o Tribunal / Corte 
Constitucional. Só ele diz o que é adequado / compatível ou não com a 
Constituição. 
Isso se deve porque no sistema romano-germânico (civil Law), que tem por base 
a interpretação da lei e não a jurisprudência, que não é vinculante, os demais 
 
 
10 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
juízes poderiam chegar a entendimentos diversos, de modo que isso geraria 
insegurança jurídica. Afinal, nada obstaria que outros juízes decidissem 
diferentemente do que o primeiro juiz decidiu. 
Por isso, Kelsen criou um modelo no qual um único órgão diria o que é 
constitucional ou não para o país inteiro, evitando essas discordâncias e 
insegurança jurídica. 
Esse controle é em abstrato, ou seja, sobre leis em tese. Não envolve casos 
concretos. Apenas se questiona, por exemplo, se a lei X contraria ou não a 
Constituição. 
Esse controle ocorrerá via ação. Ou seja, haverá uma ação específica, com nome 
próprio, apenas para discutir o controle de constitucionalidade nesse Tribunal 
Constitucional. 
Também se fala que o controle de constitucionalidade é “via principal”, no 
sentido de que não se dá por via incidental. 
Ademais, trata-se de um processo objetivo, porquanto não possui partes, não 
possui lide e não possui contraditório, nos termos de Gilmar Mendes, Moreira 
Alves e a doutrina alemã (também doutrina majoritária no Brasil). 
Uma vez reconhecida a inconstitucionalidade, o efeito será erga omnes. 
Quando o Tribunal diz que a lei é inconstitucional, di-lo para o país inteiro. Aliás, 
era justamente esse o intento de Kelsen em restringir a análise de 
constitucionalidade a um Tribunal Constitucional: garantir certeza e segurança 
jurídica no civil Law. 
 
4.3 MATRIZ FRANCESA (SÉC. XX) 
Provém da Constituição da França de 1958. 
Seu grande diferencial é ser um sistema político de controle de 
constitucionalidade. Isso significa que o órgão que controla a 
constitucionalidade é político, não do Judiciário, de modo que não há juízes 
controlando a constitucionalidade. 
Esse órgão político, na França, é chamado de Conselho Constitucional, 
composto por nove membros indicados, sendo 3 pelo Presidente, 3 pela 
Assembleia Nacional e 3 pelo Senado, com mandato de 9 anos, e também 
todos os ex-presidentes. 
O controle de constitucionalidade em regra é preventivo, ou seja, antes de a lei 
ou Tratado Internacional entrar no ordenamento. Senão, a lei ou Tratado nem 
entram no sistema jurídico francês. 
Existem algumas exceções, na qual o controle de constitucionalidade é 
repressivo. Já existe a lei ou ato normativo no ordenamento francês e o 
Conselho pode ser provocado para analisar se ele é compatível com a 
Constituição. Inicialmente, previa-se o controle dos atos normativos do Poder 
 
 
11 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Executivo e, de 2008 pra cá, tanto o Conselho de Estado Francês quanto a 
Corte de Cassação podem parar os casos de ação judicial francesa e leva o caso 
para o Conselho Constitucional, que dirá se a lei é constitucional ou não. Depois 
o caso será decidido, já se sabendo se a lei é constitucional ou não. 
Portanto, a regra é o controle preventivo. Excepcionalmente se admite o 
controle repressivo. 
 
 
5 BRASIL 
Pt. 04 
O Brasil não tem um sistema de controle político como a França. Seu sistema é 
JUDICIAL. 
O Brasil adota um sistema de controle judicial intitulado por muitos autores 
como MISTO ou HÍBRIDO. Em regra ele é feito pelo Poder Judiciário, ou 
seguindo a matriz americana de forma difusa em casos concretos via exceção, 
de modo incidental, e também de forma concentrada no âmbito nacional pelo 
STF via ação específica que discute em abstrato se leis em tese contrariam a 
Constituição. 
Nosso sistema de controle de constitucionalidade em regra é judicial misto, 
porque convivem o controle difuso concreto com o concentrado abstrato. 
Com isso, matriz americana e austríaca convivem no Brasil. 
EUA (séc. XIX) 
•Marbury vs 
Madison - 
Suprema Corte - 
juiz Marshall 
•Sistema judicial 
•Controle difuso 
(todos os juízes) 
•In concreto (caso 
concreto) 
•Via exceção / via 
defesa 
•Via incidental 
•Processo subjetivo 
•Efeito inter partes 
Áustria (séc. XX) 
•Hans Kelsen - 
Constituição de 
1920 
•Sistema judicial 
•Controle 
concentrado (um 
órgão: Tribunal ou 
Corte 
Constitucional 
•In abstrato (leis 
em tese) 
•Via ação 
•Via principal 
•Processo objetivo 
•Efeito erga omnes 
França (séc. XX) 
•Constituição da 
França - 1958 
•Sistema político 
(órgão político: 
Conselho 
Constitucional) 
•Em regra, controle 
é preventivo 
•Exceção: 
repressivo 
 
 
12 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Se adotamos como regra o modelo americano e austríaco, com um controle 
judicial, quanto ao momento o nosso controle em regra é REPRESSIVO. 
Excepcionalmente existe controle preventivo, mas a regra geral é o controle 
repressivo, ou seja, quando já existe ato normativo. Segundo jurisprudência do 
STF, o controle é realizado a partir da promulgação. Não precisa haver a 
publicação, basta a promulgação para que exista controle (mesmo que a lei não 
tenha sido publicada e, com isso, ainda não esteja em vigor). 
Há três possibilidades excepcionais no Brasil: 
A) Controle político preventivo. É uma dupla exceção, quanto ao órgão e 
quanto ao momento. Afinal, é um controle POLÍTICO (quando a regra é 
judicial) e PREVENTIVO (quando a regra é o controle preventivo). O 
controle de constitucionalidade no processo legislativo é realiado pela 
CCJ. Tramitando PLO ou PEC, a CCJ pode arquivar por entendê-la 
inconstitucional. Lembre que a CCJ existe tanto no Senado quanto na 
Câmara. Outrossim, existe um controle político pelo Executivo, que é o 
veto jurídico: o Presidente da República pode vetar projeto de lei por 
entendê-lo inconstitucional. É um controle PREVENTIVO porque ainda 
não existe lei, mas mero projeto de lei. Para derrubar esse veto, é 
necessária a maioria absoluta do Congresso. 
 
B) Controle político repressivo. Pode ocorrer pelo Poder Legislativo, pelo 
Poder Executivo e pelo Tribunal de Contas. Como é um controle 
REPRESSIVO, já existe a lei no ordenamento. O Poder Legislativo exerce 
esse controle no art. 62 e 49, V, CF. Ou seja, são as medidas provisórias 
rejeitadas pelo Legislativo, inclusive porque não há relevância e urgência 
(art. 62, §5º) ou porque o conteúdo da MP contraria o conteúdo da 
Constituição. Ou seja, é uma rejeição por inconstitucionalidade formal ou 
material, respectivamente. Embora não seja lei, é um ato normativo com 
força de lei. Logo, há controle REPRESSIVO por parte do Poder 
Legislativo. A doutrina majoritária também fala que é controle 
REPRESSIVO e POLÍTICO aquele previsto no art. 49, V, CF, qual seja, a 
sustação dos atos do Executivo que exorbitem os limites da delegação 
legislativa. O Poder Legislativo pode delegar ao Executivo o poder de 
fazer leis, mas existem parâmetros / limites, os quais são conferidos por 
resolução do Congresso Nacional. Estediz que pode fazer a lei delegada, 
mas desde já expõe os seus limites. Se a lei delegada exorbita os limites 
dessa delegação legislativa, o Poder Legislativa pode sustar a lei delegada 
que já vigora no ordenamento e já vincula condutas. Portanto, é controle 
político e repressivo. Para o professor e outros autores, esse é um 
controle de legalidade, não de constitucionalidade, porque em verdade a 
lei delegada contrariou uma resolução, que é ato com status de lei 
ordinária. Portanto, seria ilegalidade da lei delegada, não 
inconstitucionalidade. Mas majoritariamente se entende que isso seria 
controle POLÍTICO e REPRESSIVO executado pelo Poder Legislativo, 
porque em verdade a lei delegada fere o art. 68, §2º, CF. 
 
 
13 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Aula 02 – 11/08/2015 – pt. 01 
Segundo o STF, o Presidente da República pode deixar de aplicar 
administrativamente uma lei por entender que ela é inconstitucional. Isso 
vem da interpretação que o STF deu à nossa Constituição anterior. À luz 
do ordenamento anterior, isso tinha um sentido, porque estávamos num 
regime militar e havia um único legitimado a propor a ADI, o Procurador-
Geral da República. O Presidente da República militar, em regime 
autoritário, ficava refém do PGR. Se este não ajuizasse ADI para 
questionar uma lei, o Presidente tinha que cumprir lei que ele achava que 
era inconstitucional, porque nada poderia fazer. Para resolver isso, o STF 
criou o entendimento de que o PR pode deixar de aplicar uma lei 
administrativamente, que entendesse inconstitucional. O fundamento 
era que o Presidente jurou cumprir a CF, então não poderia descumpri-la. 
Aplicar aquela lei, em seu entendimento, seria descumprir a CF que ele 
jurou cumprir. 
Contudo, isso não se justifica no ordenamento democrático de 1988. 
Todos têm que cumprir a lei, então não pode o Presidente se esquivar a 
tal cumprimento. Outrossim, hoje o Presidente é legitimado para propor 
ADI. Se ele acha que a lei é inconstitucional, pode propor a ADI na 
instância constitucionalmente adequada, ou seja, o STF. Entretanto, o 
STF mantém esse entendimento, conforme ADI 221.4 
Os Tribunais de Contas exercem controle de constitucionalidade, 
conforme S. 347 STF. 
 
4
 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISORIA. REVOGAÇÃO. PEDIDO 
DE LIMINAR. - POR SER A MEDIDA PROVISORIA ATO NORMATIVO COM FORÇA DE LEI, NÃO E 
ADMISSIVEL SEJA RETIRADA DO CONGRESSO NACIONAL A QUE FOI REMETIDA PARA O 
EFEITO DE SER, OU NÃO, CONVERTIDA EM LEI. - EM NOSSO SISTEMA JURÍDICO, NÃO SE 
ADMITE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI OU DE ATO NORMATIVO COM 
FORÇA DE LEI POR LEI OU POR ATO NORMATIVO COM FORÇA DE LEI POSTERIORES. O 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DA LEI OU DOS ATOS NORMATIVOS E DA 
COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO PODER JUDICIARIO. OS PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO, 
POR SUA CHEFIA - E ISSO MESMO TEM SIDO QUESTIONADO COM O ALARGAMENTO DA 
LEGITIMAÇÃO ATIVA NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -, PODEM TÃO-SÓ 
DETERMINAR AOS SEUS ÓRGÃOS SUBORDINADOS QUE DEIXEM DE APLICAR 
ADMINISTRATIVAMENTE AS LEIS OU ATOS COM FORÇA DE LEI QUE CONSIDEREM 
INCONSTITUCIONAIS. - A MEDIDA PROVISORIA N. 175, POREM, PODE SER INTERPRETADA 
(INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO) COMO AB-ROGATÓRIA DAS MEDIDAS 
PROVISORIAS N.S. 153 E 156. SISTEMA DE AB-ROGAÇÃO DAS MEDIDAS PROVISORIAS DO 
DIREITO BRASILEIRO. - REJEIÇÃO, EM FACE DESSE SISTEMA DE AB-ROGAÇÃO, DA PRELIMINAR 
DE QUE A PRESENTE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ESTA PREJUDICADA, POIS 
AS MEDIDAS PROVISORIAS N.S. 153 E 156, NESTE MOMENTO, SÓ ESTAO SUSPENSAS PELA AB-
ROGAÇÃO SOB CONDIÇÃO RESOLUTIVA, AB-ROGAÇÃO QUE SÓ SE TORNARA DEFINITIVA SE 
A MEDIDA PROVISORIA N. 175 VIER A SER CONVERTIDA EM LEI. E ESSA SUSPENSÃO, 
PORTANTO, NÃO IMPEDE QUE AS MEDIDAS PROVISORIAS SUSPENSAS SE REVIGOREM, NO 
CASO DE NÃO CONVERSAO DA AB-ROGANTE. - O QUE ESTA PREJUDICADO, NESTE 
MOMENTO EM QUE A AB-ROGAÇÃO ESTA EM VIGOR, E O PEDIDO DE CONCESSÃO DE 
LIMINAR, CERTO COMO E QUE ESSA CONCESSÃO SÓ TEM EFICACIA DE SUSPENDER "EX 
NUNC" A LEI OU ATO NORMATIVO IMPUGNADO. E, EVIDENTEMENTE, NÃO HÁ QUE SE 
EXAMINAR, NESTE INSTANTE, A SUSPENSÃO DO QUE JA ESTA SUSPENSO PELA AB-ROGAÇÃO 
DECORRENTE DE OUTRA MEDIDA PROVISORIA EM VIGOR. PEDIDO DE LIMINAR JULGADO 
PREJUDICADO "SI ET IN QUANTUM". 
(ADI 221 MC, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 29/03/1990, DJ 22-
10-1993 PP-22251 EMENT VOL-01722-01 PP-00028) 
 
 
14 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Existem algumas relativizações em relação a essa súmula. Gilmar Mendes 
e Lewandowski já deixaram de aplicar essa súmula em sede liminar em 
mandados de segurança. Entretanto, a súmula ainda é aplicada, não está 
cancelada e nem superada. MS 25.888.i 
 
C) Controle judicial preventivo. Aqui, apesar de o controle ser realizado pelo 
Judiciário, este atuará preventivamente, quando ainda sequer existe lei. 
Portanto, é um controle que se dá no processo de produção das leis. Será 
realizado pelo STF. É um controle realizado pelo STF no processo 
legislativo. Não é uma ADI! A ADI só é proposta contra lei ou ato com 
força normativa. Aqui existe mero processo legislativo. Por isso, esse 
controle judicial preventivo é realizado via MANDADO DE SEGURANÇA. 
Está tramitando um projeto de lei / emenda à Constituição com um vício, 
então se ajuíza mandado de segurança para que o STF suspenda esse 
vício. O STF concede o MS suspendendo a ilegalidade ou abuso de poder 
praticado. A lei que surgiria inconstitucional acabará surgindo 
constitucional, porque o vício no processo dessa lei foi sanado via MS, o 
qual sanou a ilegalidade / abuso que até então vigia no processo. Quem 
tem legitimidade para impetrar esse MS? A legitimidade é apenas dos 
deputados e senadores, que participam diretamente do processo 
legislativo. O direito líquido e certo do parlamentar é ao devido processo 
legislativo, ou seja, a participar de um processo legislativo hígido. 
 
5.1 CONTROLE DIFUSO E CONCRETO DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
5.1.1 Origem 
Esse controle apareceu pela 1ª vez no Brasil em 1890, com a Constituição 
provisória pós-proclamação da República, e depois com a Constituição efetiva 
de 1891. 
 
5.1.2 Características 
É um controle realizado por todos os juízes. É realizado em concreto, de modo 
que sempre deve haver um caso concreto. Ademais, é realizado pela via da 
exceção / da defesa, e realizado de modo incidental. 
O controle difuso só surge em casos concretos pela via da exceção, isto é, 
excepcionalmente em um caso concreto. Não é sinônimo de “exceção de 
defesa”, mas sim de “excepcionalmente”. No caso concreto, a 
inconstitucionalidade não é a questão principal. 
O controle de constitucionalidade surge excepcionalmente num caso concreto, 
cuja questão principal pode ser de direito civil, empresarial, trabalhista, 
tributário, penal, etc. 
 
 
15 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
A inconstitucionalidade nunca surgirá como pedido, mas como causa de pedir. 
Ex.: Zé ajuíza uma ação em face de João, pleiteando indenização em virtude de 
descumprimento do art. X do CC, causando-lhe prejuízos. João contesta 
afirmando que de fato descumpriu o art. X do CC, mas porque ela é 
inconstitucional. Entre cumprir o art. X do CC e cumprir a CF, ele deve cumprir a 
CF, lei maior que fundamenta a validade das demais normas do país. Com isso, 
João faz com que surja um incidente, com questão eminentemente prejudicial / 
incidental. Ele gera dúvida se a norma incidente no caso é constitucional ou 
inconstitucional. Daí alguns autores falarem que o controle de constitucionalidade se 
dá via exceção ou via defesa. Não há como o juiz dizerse a indenização é devida ou 
não sem antes enfrentar esse incidente, dizendo se a norma é constitucional. 
O juiz tem o poder-dever de controlar a constitucionalidade no âmbito de um caso 
concreto. A questão principal não é a constitucionalidade da norma, mas se essa 
discussão surge como um incidente no caso (o que é excepcional), o juiz pode e deve 
enfrentar essa discussão. 
Para julgar a questão principal, o juiz precisa enfrentar o incidente sobre se a norma é 
ou não constitucional. A isso denominamos controle concreto pela via da exceção. 
O juiz enfrenta esse incidente na fundamentação ou no dispositivo? E quem pode 
alegar esse incidente? 
Pt. 02 
O juiz enfrentará o incidente na fundamentação. Na parte dispositiva, ele 
julgará a questão principal do caso. 
 Fundamentação: controle da constitucionalidade 
 Dispositivo: julgamento da questão principal (caso concreto) 
O incidente pode ser alegado pelo RÉU, pelo AUTOR, pelo MINISTÉRIO 
PÚBLICO e pelo juiz, de ofício. 
O juiz pode, de ofício, levantar a questão da (in)constitucionalidade da norma 
sem que ninguém tenha suscitado. 
Na 1ª instância, o juiz enfrenta o incidente e diz que a norma é inconstitucional, 
julgando (im)procedente o pedido do autor. O juiz controlou a 
constitucionalidade no caso concreto e julgou a questão principal. 
 
5.1.3 Análise do controle difuso nos Tribunais 
Nos Tribunais brasileiros, a declaração de inconstitucionalidade é diferenciada. 
Digamos que no nosso caso concreto, o juiz diz que João tem razão e o art. X 
do CC é inconstitucional, de modo que o pedido foi desprovido. Zé apela para o 
Tribunal de Justiça, onde uma Turma ou Câmara apreciará o recurso. 
A grande característica do controle difuso e concreto de constitucionalidade 
nos Tribunais brasileiros é a CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO, prevista no 
art. 97 CF. 
 
 
16 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Segundo o art. 97 CF, nos Tribunais brasileiros a declaração de 
inconstitucionalidade só pode se dar pelo pleno ou pelo órgão especial, por 
maioria absoluta de votos. 
A Turma ou Câmara (i.e., órgão fracionário) não pode declarar a 
inconstitucionalidade da lei. O juiz de 1º grau pode declarar a 
inconstitucionalidade sozinho. 
Isso se explica pelo PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE 
DAS LEIS, dando-se um simbolismo maior para o controle de 
constitucionalidade. Com isso, evita-se que cada Câmara externe um 
entendimento diferente sobre a (in)constitucionalidade de uma lei. 
Dificulta-se a declaração de inconstitucionalidade, fazendo com que o Tribunal 
reflita melhor se a lei é inconstitucional ou não, em prestígio ao p. da presunção 
de constitucionalidade das leis. 
Com base no art. 97 CF, definimos que turmas ou câmaras não podem declarar 
a inconstitucionalidade, mas apenas o pleno e o órgão especial, pela maioria 
absoluta de seus votos. 
Sabedores disso, os Tribunais brasileiros começaram a fazer uma “picaretagem”. 
As Câmaras e Turmas passaram a deixar de aplicar a norma por entender que 
ela é inconstitucional. Diziam que não estavam declarando a 
inconstitucionalidade, já que não poderiam fazer isso, mas que apenas 
deixavam de aplicar a norma por entender que ela é inconstitucional, em pura 
“malandragem”. Ora, deixar de aplicar a norma por entendê-la inconstitucional 
é o mesmo que declará-la inconstitucional. 
Por isso, o Supremo Tribunal Federal definiu que esse tipo de decisão seria nula. 
Assim, anulou diversas decisões por tal razão, posteriormente editando a S.V. 
10. 
Segundo essa Súmula Vinculante nº 10, viola cláusula de reserva de plenário a 
decisão de órgão fracionário de Tribunal que afasta a incidência da lei ou ato 
normativo do Poder Público, totalmente ou em parte, embora não declare 
expressamente a sua inconstitucionalidade, 
O que as Turmas ou Câmaras podem fazer, já que não podem declarar a 
inconstitucionalidade? Elas podem declarar a constitucionalidade da lei, bem 
como aplicar interpretação conforme a Constituição5 e realizar juízos de não 
recepção. 
O juízo de não recepção não é uma declaração de inconstitucionalidade. A 
norma não é inconstitucional, ela é NÃO RECEPCIONADA. Se a lei é de 1985, 
p.e., ela é anterior à Constituição, não sendo caso de análise de 
 
5
 Interpretação conforme a Constituição é dizer que a norma é constitucional, desde que tenha 
aquela determinada interpretação. Salva-se a norma, fazendo com que seja mantida no 
ordenamento, desde que tenha tal interpretação. Portanto, é verdadeira declaração de 
constitucionalidade, salvando a norma. 
 
 
17 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
(in)constitucionalidade, mas sim de recepção. A Turma ou Câmara pode 
declarar uma norma como não recepcionada pela CF/88. 
 
Turma Recursal de Juizado Especial deve respeitar a cláusula de reserva de 
plenário? A Turma Recursal se encontra em 1º grau de jurisdição, portanto, nem 
tem plenário. Em 1º grau, qualquer um pode declarar a inconstitucionalidade, 
até porque não há plenário. Por isso, as Turmas Recursais dos Juizados Especiais 
não se submetem à cláusula de reserva de plenário. 
 
Qual o procedimento da cláusula de reserva de plenário6? 
O procedimento está afeto ao Regimento Interno dos Tribunais e ao CPC. No 
CPC 1973, o tema é regido pelos arts. 480 e 481. No NCPC, o tema é regido 
pelos arts. 948 a 950, de forma praticamente idêntica7. 
Surgindo a dúvida sobre se a norma é constitucional ou não, o relator ouvirá o 
Ministério Público e submeterá a questão à Turma, que analisará se há incidente 
ou não de inconstitucionalidade. Se a Turma entende que não há incidente de 
inconstitucionalidade, porque não há dúvidas quanto à constitucionalidade da 
lei, poderá enfrentar o caso concreto. Mas se a Turma concorda que há um 
incidente de inconstitucionalidade, ou seja, a dúvida sobre se a norma é 
constitucional, será lavrado um acórdão. O incidente será submetido ao Pleno 
ou Órgão Especial, que analisará abstratamente a norma em tese e sua 
(in)constitucionalidade. 
O Pleno ou Órgão Especial enfrenta o incidente. A Câmara e a Turma depois 
julgará o caso concreto, com base no que foi decidido. 
 
6
 Também chamada de full bench. 
7
 O NCPC não mexeu com a cláusula de reserva de plenário. 
 
 
18 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
 
 
Chamamos isso de cisão funcional no plano horizontal. 
CISÃO FUNCIONAL NO PLANO HORIZONTAL nada mais é do que desenvolver 
a cláusula de reserva de plenário, efetivando os arts. 480 e 481 CPC 1973. 
Pt. 03 
Exceção à cláusula de reserva de plenário: Art. 481, p. único, CPC 1973 e art. 
949, p. único, NCPC. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao 
plenário, ou ao órgão especial, a arguição de inconstitucionalidade, quando já 
houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal 
sobre a questão. 
Isso evita que, havendo diversos casos idênticos no Tribunal em que se alega a 
inconstitucionalidade de uma lei, seja necessário remeter todas as vezes ao 
plenário / órgão especial. 
Caso haja manifestação do pleno / órgão especial daquele tribunal ou do 
Supremo Tribunal Federal, então a Turma ou Câmara já pode declarar a 
inconstitucionalidade, sem necessidade de respeitar novamente a cláusula de 
reserva de plenário. É uma questão de instrumentalidade e economia 
processual. 
 
5.1.3.1 Análise do STF 
O STF, em regra, segue a cláusula de reserva de plenário prevista na CF. O STF é 
composto por 2 turmas. Quando o processo é distribuído para a Corte, será 
encaminhado à 1ª ou 2ª T, cada umacom 5 componentes. Aplica-se o art. 97 
Surge a dúvida sobre 
inconstitucionalidade 
Oitiva do MP 
Turma define se há 
dúvidas quanto à 
constitucionalidade 
da lei 
Em caso positivo, é 
lavrado acórdão 
Incidente submetido 
ao Pleno ou Órgão 
Especial 
Turma ou Câmara 
decide o caso 
concreto 
 
 
19 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
CF, de modo que em regra a declaração de inconstitucionalidade deve se dar 
pelo Pleno (o STF não possui órgão especial). 
Porém, existe entendimento externado pela Min. Ellen Gracie no RE 361829 na 
2ª Tii, no sentido de que em grau de recurso extraordinário não há necessidade 
de as turmas seguirem a cláusula de reserva de plenário. 
O STF segue a cláusula de reserva de plenário, mas haveria uma exceção: o 
julgamento de recurso extraordinário. A 1ª e 2ª T já poderiam declarar a 
inconstitucionalidade, sem levar a questão ao pleno da Corte. 
Quando o pleno já declarou a inconstitucionalidade do dispositivo legal, a 
Turma pode declarar também (art. 481, p. único, CPC 1973), o que vale para 
todos os tribunais, inclusive STF. Mas a opinião da Ellen Gracie diz que mesmo 
não havendo decisão anterior do pleno, a Turma poderia declarar a 
inconstitucionalidade de forma originária no recurso extraordinário. Os demais 
Ministros acataram este entendimento. 
O professor discorda. A Ellen Gracie diz que retirou essa exceção do regimento 
interno, mas o professor acha que o regimento interno não possui nada 
autorizando este julgamento direto pelas Turmas. 
Apesar da aposentadoria da Ellen Gracie, esse entendimento continua sendo 
aplicado no STF e ele é cobrado em diversos concursos. 
 
No STF, existe a cláusula de reserva de plenário do art. 97 e também a exceção 
do art. 481, p. único, CPC 1973 (caso já julgado pelo pleno do STF). Se o Pleno 
do STF enfrentou a questão e depois vem questão equivalente na 1ª ou na 2ª T, 
elas já podem logo declarar a inconstitucionalidade. E isso se aplica a todos os 
casos, não apenas em recursos extraordinários, donde se nota a diferença com 
a tese da Ellen Gracie. 
 
O procedimento da cláusula de reserva de plenário é diferente no STF. No STF, 
quando o pleno analisar a inconstitucionalidade da norma jurídica, também 
julgará o caso concreto. 
Nos Tribunais em geral, o pleno / órgão especial julga a questão da 
(in)constitucionalidade e depois remete o julgamento do caso concreto ao 
órgão fracionário. Existe, como dissemos acima, cisão funcional no plano 
horizontal. 
Afinal, quem julga o caso concreto é o órgão fracionário. Quem analisa a 
questão da inconstitucionalidade é o pleno ou órgão especial. Já no STF, o 
pleno analisa a inconstitucionalidade e já julga o caso direto (art. 176 a 178 do 
Regimento Interno do STF). 
 
 
20 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
No STF, o pleno não só analisa a inconstitucionalidade, como já julga o caso 
concreto. A Turma não aprecia o caso concreto após a análise da 
inconstitucionalidade. 
Isso se explica porque já são 11 ministros. Se o pleno julga a 
inconstitucionalidade, os 5 componentes da Turma já estão ali. É mais lógica 
eles enfrentarem a inconstitucionalidade da norma e já decidirem o caso de 
uma vez, ao invés de retirarem de pauta, levarem para a Turma (cujos 
componentes já estavam ali), sabe-se lá para quando ser apreciado. É diferente 
do caso do TJ, em que são centenas de componentes no plenário. 
 
 
 
5.1.4 Efeitos do controle de constitucionalidade 
Pt. 04 
A declaração de inconstitucionalidade da norma é ex tunc e produz efeitos inter 
partes, mesmo quando feita pelo STF. Afinal, refere-se a um caso concreto. 
 EX TUNC 
 INTER PARTES 
Quando o STF, Tribunal ou juiz declaram incidentalmente que a norma é 
inconstitucional, a declaração é retroativa e inter partes. 
Quando o STF diz que uma norma do ordenamento é inconstitucional, 
resolvendo o caso concreto, não deixa de estar declarando a 
inconstitucionalidade, o que repercutirá não apenas na doutrina, como também 
junto aos advogados e juízes. Aquilo vale para as partes, mas já sabemos que o 
STF disse que a norma X do ordenamento é inconstitucional, apesar de 
continuar válida para os demais. 
O STF em regra segue a cláusula 
de reserva de plenário. Ellen 
Gracie criou a tese de que no RE 
nao é preciso seguir a CRV, 
podendo a Turma declarar 
originariamente a 
inconstitucionalidade de uma 
questão. 
Também se aplica a exceção à 
CRV ao STF, nos termos do art. 
481, p. único, CPC 1973. Se o 
Pleno declarou a norma 
inconstitucional, depois da 1ª e 2ª 
T podem aplicar diretamente esse 
entendimento. 
O pleno declara a 
inconstitucionalidade e já julga o 
caso diretamente, sem remetê-lo 
para a turma. 
 
 
21 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
É uma situação constrangedora, porque o STF, Corte Constitucional, diz que a 
norma é inconstitucional, mas ela continua valendo para todas as demais 
partes, o que decerto vulnera a isonomia. 
Imagine que Janaina ajuíza ação contra o iii Fisco alegando 
inconstitucionalidade do tributo. A questão vai ao STF, que declara para ela 
aquele tributo inconstitucional. Janaína não precisará mais pagar aquele tributo 
porque ele foi reconhecido como inconstitucional, mas a sua vizinha, sua colega 
de trabalho e todos os demais não ganharam essa declaração, então 
continuarão pagando o Fisco. 
Vamos multiplicar isso em termos políticos, econômicos, sociais... enfim, 
analisemos o impacto que isso pode causar numa sociedade. Isso nos leva a 
procurar saídas para transformar o pronunciamento inter partes do STF em erga 
omnes, de modo a atingir as demais pessoas que não as partes daquele 
processo, garantindo a isonomia. 
 
5.1.4.1 Resolução do Senado Federal 
Uma das saídas é a atuação do Senado Federal, nos termos do art. 52, X, CF, o 
que é previsto desde a Constituição de 1934. Diz respeito a um controle do STF 
inter partes, ou seja, é um controle difuso e concreto de constitucionalidade. 
Compete privativamente ao Senado Federal suspender a execução, no todo ou 
em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo 
Tribunal Federal. 
Essa atuação do Senado Federal é apenas no controle difuso de 
constitucionalidade pelo STF. 
A atuação do Senado transformando a decisão do STF de inter partes para uma 
decisão erga omnes tem efeitos ex tunc ou ex nunc? Há profunda divergência 
na doutrina brasileira a respeito deste tema. 
Defendem o efeito ex tunc Gilmar Mendes, Clemerson Cleve e Zeno Veloso. 
Defendem o efeito ex nunc Lenio Streck, José Affonso da Silva, Nagib Slaib, 
Celso Antônio Bandeira de Mello, Alexandre de Moraes e Bernardo Fernandes. 
A corrente majoritária é aquela que defende o efeito ex nunc. Entretanto, o 
Senado já editou resolução com efeito ex tunc (Resolução 10/2005) e o Decreto 
2346/97 determinou que a Administração Pública federal aplique o efeito ex 
tunc às Resoluções do Senado. 
Aula 03 – 17/08/2015 – pt. 01 
O Senado NÃO é obrigado a suspender a lei. Ele possui a discricionariedade 
para suspender ou não a lei. 
Várias leis no ordenamento jurídico podem continuar valendo, mesmo o STF já 
tendo dito que são inconstitucionais, apenas porque o Senado não as 
suspendeu. 
 
 
22 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
A Resolução do Senado que suspende a lei deve respeitar a decisão do STF. Se o 
STF diz que toda a lei é inconstitucional, se o Senado resolver editar a Resolução, 
deve suspender TODA a lei. Se o STF diz que só os art. X, Y, Z são 
inconstitucionais, o Senado deve suspender X, Y, Z. Não pode resolver 
suspender também outro artigo além daquelesdeclarados inconstitucionais 
pelo Supremo. 
O Senado só pode suspender aquilo que o STF declarou inconstitucional. O 
Senado, por Resolução, não pode ampliar essa declaração – está adstrito à 
decisão do STF ao realizar a suspensão. 
O Senado pode se arrepender e, por outra Resolução, cancelar a anterior para 
que a lei suspensa volte a ter eficácia jurídica no ordenamento? A resolução 
posterior revoga a resolução anterior, como regra. Mas esta é uma exceção 
dentro da Teoria do Direito: embora o Senado não seja obrigado a editar a 
Resolução, ele não pode voltar atrás editando outra Resolução para revogar a 
anterior, na tentativa de fazer a lei voltar a valer. Enfim, a Resolução editada 
pelo Senado é IRRETRATÁVEL. No fundo, é uma “retirada da lei do quadro das 
leis”, embora a CF diga que o Senado apenas suspende a execução da lei. 
O Senado pode suspender apenas leis federais ou também leis estaduais e 
municipais? O Senado pode suspender qualquer tipo de lei, seja federal, 
estadual ou municipal. 
A suspensão só é feita pelo Senado e pode se relacionara qualquer tipo de lei, 
seja federal, estadual ou municipal, bastando que o STF declare em controle 
difuso a inconstitucionalidade daquela lei (art. 52, X, CF). O Senado já cansou de 
suspender leis estaduais e municipais, não apenas federais. 
 
 Senado não é obrigado a editar a Resolução. 
 Se editar, deve respeitar os limites da decisão do STF. 
 A Resolução é irretratável. 
 Pode ser lei federal, estadual ou municipal. 
 
5.1.4.2 Súmula Vinculante 
Outra possibilidade para transformar o efeito inter partes em erga omnes é a 
SÚMULA VINCULANTE. 
O objeto da súmula vinculante é a validade, a eficácia ou a interpretação de 
normas jurídicas. Portanto, o STF consegue transformar decisões inter partes em 
decisões vinculantes, suspendendo a validade ou a eficácia de uma norma em 
situações X, Y, Z; ou determinando que a interpretação correta é Tal. 
Os requisitos básicos da súmula vinculante são: 
(1) Oito ministros. Devem ser 2/3 dos Ministros do STF, o que significa 8 
Ministros. 
 
 
 
23 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
(2) Reiteradas decisões sobre a matéria objeto da súmula. É o que 
chamamos de “MQI” – multiplicação de questões idênticas. Ou seja, não 
pode ser uma decisão só – deve haver um conjunto mínimo de decisões. 
A questão aqui não é apenas quantitativa (8, 6, 20, 48), mas uma 
interconexão entre aspectos qualitativo e quantitativo. Ou seja, deve-se 
pensar no impacto do tema no ordenamento jurídico, em aspectos 
sociais, jurídicos, políticos. Essa relevância pode levar à edição de uma 
súmula mesmo que ainda não haja várias decisões. Mas ainda assim é 
preciso um conjunto mínimo de decisões, senão sequer é necessário 
“uniformizar” quando nem existem múltiplas decisões ainda. 
 
(3) Controvérsia judicial ou entre o Judiciário e a Administração Pública, que 
cause grave incerteza e insegurança jurídica. Se ficar provado que existe 
controvérsia no Judiciário sobre o tema, ou entre o Judiciário e a 
Administração, o que estaria gerando grave incerteza / insegurança 
jurídica, abre-se a possibilidade de edição de súmula vinculante. 
 
A SÚMULA VINCULANTE preza pelo princípio da celeridade, princípio da 
igualdade e segurança jurídica. 
 Celeridade 
 Igualdade / isonomia 
 Segurança jurídica 
 
Quem são os legitimados a provocar o STF para edição, revisão ou 
cancelamento da súmula vinculante? 
A) Legitimados do art. 103 CF, ou seja, aqueles que também podem propor 
a ADI. 
a. Presidente da República 
b. Mesa do Senado Federal 
c. Mesa da Câmara dos Deputados 
d. Mesa da ALE ou Câmara Legislativa do DF 
e. Governador 
f. PGR 
g. Conselho Federal da OAB 
h. Partido político com representação no Congresso Nacional 
B) Defensor-Público Geral da União. 
C) Todos os Tribunais brasileiros. 
D) Municípios -> mas só de modo incidental, ou seja, só no curso de 
processos em que o Município seja parte e que envolvam matéria que 
pode ser objeto de súmula. Portanto, o Município não pode provocar o 
STF de forma direta como os outros legitimados. 
E) O próprio STF de ofício. 
 
 
24 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
 O STF pode editar, revisar ou cancelar súmula vinculante de ofício, sem a 
provocação de terceiros. 
 
Quem está vinculado à Súmula Vinculante? É o que chamamos de limite 
subjetivo: 
a) Órgãos do Poder Judiciário 
b) Administração Pública federal, estadual e municipal 
Deste modo, não se vinculam à súmula vinculante o poder legislativo em sua 
função típica (legislar). O legislador pode fazer lei contrariando a S.V. 
Tanto é assim que a Lei 11.417/2006, a qual regula as S.V., diz que se o 
legislador fizer lei contrariando súmula vinculante, o STF terá que revisar ou 
cancelar a súmula. 
 
5.1.4.3 Exceções aos efeitos do controle difuso 
Pt. 02 
Como vimos, são efeitos do controle difuso concreto – como regra – ex tunc, 
inter partes. A doutrina e a jurisprudência do STF vêm discutindo possibilidades 
de exceções a esse efeito ex tunc e inter partes em relação ao aspecto temporal 
e daqueles que são atingidos. 
No que tange ao aspecto temporal, há uma exceção pacificada na doutrina e 
na jurisprudência: decisão ex nunc ou modulada ou manipulada. 
Nem sempre a decisão do controle concreto tem efeito ex tunc (a regra é que 
seja retroativa): a declaração pode ter efeito ex nunc, prospectiva, modulada. 
Foi o caso do RE 197.917, em que o STF explicitou que o efeito manipulado 
pode ocorrer no caso concreto (e não apenas no controle concentrado do art. 
27, L 9868): 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MUNICÍPIOS. CÂMARA DE VEREADORES. 
COMPOSIÇÃO. AUTONOMIA MUNICIPAL. LIMITES CONSTITUCIONAIS. 
NÚMERO DE VEREADORES PROPORCIONAL À POPULAÇÃO. CF, ARTIGO 
29, IV. APLICAÇÃO DE CRITÉRIO ARITMÉTICO RÍGIDO. INVOCAÇÃO DOS 
PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA RAZOABILIDADE. INCOMPATIBILIDADE 
ENTRE A POPULAÇÃO E O NÚMERO DE VEREADORES. 
INCONSTITUCIONALIDADE, INCIDENTER TANTUM, DA NORMA 
MUNICIPAL. EFEITOS PARA O FUTURO. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. 1. O 
artigo 29, inciso IV da Constituição Federal, exige que o número de 
Vereadores seja proporcional à população dos Municípios, observados os 
limites mínimos e máximos fixados pelas alíneas a, b e c. 2. Deixar a critério 
do legislador municipal o estabelecimento da composição das Câmaras 
Municipais, com observância apenas dos limites máximos e mínimos do 
preceito (CF, artigo 29) é tornar sem sentido a previsão constitucional 
expressa da proporcionalidade. 3. Situação real e contemporânea em que 
Municípios menos populosos têm mais Vereadores do que outros com um 
 
 
25 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
número de habitantes várias vezes maior. Casos em que a falta de um 
parâmetro matemático rígido que delimite a ação dos legislativos 
Municipais implica evidente afronta ao postulado da isonomia. 4. Princípio 
da razoabilidade. Restrição legislativa. A aprovação de norma municipal 
que estabelece a composição da Câmara de Vereadores sem observância 
da relação cogente de proporção com a respectiva população configura 
excesso do poder de legislar, não encontrando eco no sistema 
constitucional vigente. 5. Parâmetro aritmético que atende ao comando 
expresso na Constituição Federal, sem que a proporcionalidade reclamada 
traduza qualquer afronta aos demais princípios constitucionais e nem 
resulte formas estranhas e distantes da realidade dos Municípios brasileiros. 
Atendimento aos postulados da moralidade, impessoalidade e 
economicidade dos atos administrativos (CF, artigo 37). 6. Fronteiras da 
autonomia municipal impostas pela própria Cartada República, que admite 
a proporcionalidade da representação política em face do número de 
habitantes. Orientação que se confirma e se reitera segundo o modelo de 
composição da Câmara dos Deputados e das Assembléias Legislativas (CF, 
artigos 27 e 45, § 1º). 7. Inconstitucionalidade, incidenter tantun, da lei local 
que fixou em 11 (onze) o número de Vereadores, dado que sua população 
de pouco mais de 2600 habitantes somente comporta 09 representantes. 8. 
Efeitos. Princípio da segurança jurídica. Situação excepcional em que a 
declaração de nulidade, com seus normais efeitos ex tunc, resultaria grave 
ameaça a todo o sistema legislativo vigente. Prevalência do interesse 
público para assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro futuro à 
declaração incidental de inconstitucionalidade. Recurso extraordinário 
conhecido e em parte provido. 
 
(RE 197917, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado 
em 06/06/2002, DJ 07-05-2004 PP-00008 EMENT VOL-02150-03 PP-00368) 
 
Foi o caso de Mira Estrela, cidade do interior do Brasil com pouco mais de 2.600 
habitantes. Em sua lei orgânica, essa cidade estipulava que haveria 11 
vereadores. Em ACP, foi alegada incidentalmente a inconstitucionalidade dessa 
lei orgânica, porque pelo texto constitucional (art. 29, IV), Mira estrela deveria 
ter apenas 9 habitantes. O STF reconheceu que realmente o número correto era 
9 vereadores, de modo que a previsão na Lei Orgânica era inconstitucional. 
Em 2004, criou-se a regra dos 47.000. O STF disse que para haver 9 vereadores, 
era até 47.000 habitantes, portanto Mira Estrela se enquadrava nesse número. 
O STF criou uma proporcionalidade que foi adotada por resolução do TSE, 
modificada pela EC 58/2009, que criou 33 faixas de vereadores. 
A regra é que a lei é inconstitucional com efeito retroativo. Mas o problema é 
que estávamos no meio da legislatura. Se usássemos a regra geral, a Lei 
Orgânica seria inconstitucional desde sempre e teríamos que retirar 2 
vereadores no meio da legislatura. 
O STF então adotou a decisão ex nunc / modulada / manipulada. Declarou que 
havia inconstitucionalidade dos 11 vereadores, porque deveriam ser apenas 9, 
mas os efeitos da inconstitucionalidade só valeriam para a próxima legislatura. 
 
 
26 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Isso é manipular os efeitos da decisão: declara-se a inconstitucionalidade, mas 
afirmando que os seus efeitos só valerão por um período determinado, que no 
caso foi a próxima legislatura. 
A manipulação de efeitos até então só existia no controle concentrado. Em 
2004, o STF inaugura a possibilidade para o controle difuso. 
RE 586453 
EMENTA Embargos de declaração em recurso extraordinário. Repercussão 
geral reconhecida. Inexistência das hipóteses autorizadoras da interposição 
dos embargos. 1. O acórdão embargado não incorreu em omissões ou 
contradições, tendo a Corte decidido, fundamentadamente, as questões 
postas em debate, nos limites necessários ao deslinde do feito. 2. No 
julgamento do recurso, as questões aduzidas pelas partes foram enfrentadas 
adequadamente e os resultados declarados seguiram os entendimentos 
majoritários no Supremo Tribunal Federal, conforme se vê nas manifestações 
ocorridas no julgamento, as quais se traduziram nos resultados constantes das 
atas. Inexistência, portanto, dos vícios do art. 535 do Código de Processo Civil. 
3. A parte recorrente busca rediscutir as teses anteriormente levantadas, 
indicando, inclusive, dispositivos constitucionais para sustentar suas 
colocações, o que só vem a confirmar a estatura constitucional das discussões 
travadas e a justiça da decisão. O embargante pretende, efetivamente, obter 
um novo julgamento do recurso, fim para o qual não se prestam os embargos 
declaratórios. 4. O art. 93, inciso IX, da Constituição Federal não determina ao 
órgão judicante que se manifeste sobre todos os argumentos trazidos por uma 
ou outra parte, mas, sim, que fundamente as razões que entendeu suficientes 
para formar seu convencimento. 5. Mantida a modulação fixada na decisão 
objurgada. 6. Embargos de declaração rejeitados. 
 
(RE 586453 ED, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 
19/03/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-148 DIVULG 31-07-2014 PUBLIC 
01-08-2014) 
 
Art. 27, L. 9868/99 -> no controle difuso concreto, como o que ocorre em RE, há 
necessidade do quórum de 8 ministros para a manipulação de efeitos? O STF 
enfrentou isso em 2013 e surgiram 2 correntes. Fux, Toffoli, Gilmar Mendes e 
Celso de Mello disseram que não, não há necessidade de 8 ministros para 
manipular efeitos no controle concreto e difuso. Isso é exigido textualmente na 
lei de ADI, e aqui não estamos trabalhando com uma ADI. Para manipular 
efeitos no caso concreto, não precisa haver 8 ministros, podem ser apenas os 6 
(maioria absoluta, suficiente para declarar a inconstitucionalidade). 
 A corrente majoritária (6 ministros) entendeu que para a manipulação de 
efeitos no controle difuso e concreto, também há necessidade do quórum de 8 
ministros. 
Se não for alcançado esse quórum, os efeitos não serão manipulados, de modo 
que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade incidental serão ex tunc. 
 
 
27 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Marco Aurélio é contra a manipulação de efeitos no controle difuso (processos 
subjetivos). Ele entende que só pode haver manipulação de efeitos em 
processos objetivos, porque a lei da ADI permite. Como aqui não há lei alguma, 
então não seria possível a manipulação de efeitos em casos concretos. 
 
Tem-se discutido muito nos últimos anos a possibilidade de exceção no que 
tange ao aspecto dos atingidos. Ou seja, se a decisão do STF no controle difuso 
concreto, ao invés de ser apenas inter partes, dependendo do Senado ou S.V. 
para ser vinculante a todos, já ser diretamente erga omnes e vinculante. 
Não há um posicionamento pacífico na doutrina e no STF. 
PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - RAZÃO DE SER. A 
progressão no regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado, semi-
aberto e aberto, tem como razão maior a ressocialização do preso que, mais dia 
ou menos dia, voltará ao convívio social. PENA - CRIMES HEDIONDOS - REGIME 
DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - ÓBICE - ARTIGO 2º, § 1º, DA LEI Nº 
8.072/90 - INCONSTITUCIONALIDADE - EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL. Conflita 
com a garantia da individualização da pena - artigo 5º, inciso XLVI, da 
Constituição Federal - a imposição, mediante norma, do cumprimento da pena 
em regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da 
individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a 
inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90. 
 
(HC 82959, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 
23/02/2006, DJ 01-09-2006 PP-00018 EMENT VOL-02245-03 PP-00510 RTJ VOL-
00200-02 PP-00795) 
O STF, por 6x5, declarou a inconstitucionalidade da vedação de progressão de 
regime nos crimes hediondos. Com base no art. 5º CF, o STF declarou por 6x5 a 
inconstitucionalidade num caso concreto da vedação à progressão de regime. 
O caso gerou muita celeuma no Brasil devido à importância e complexidade do 
tema. Muitos processualistas penais, pelos votos dos Min. Gilmar Mendes e 
Nelson Jobim, interpretaram que acabara a proibição à vedação de progressão 
de regime, porque o STF assim decidira. 
A comoção foi tão grande que a DP do Acre, em virtude da decisão do STF, 
pediu ao juiz da VEP de Rio Branco a progressão de regime de 10 condenados 
por crimes hediondos. O juiz da VEP disse que o HC versava sobre caso 
concreto, portanto houve controle difuso de constitucionalidade. Se não haviasuspensão pelo Senado ou S.V. a respeito do tema, a lei continuava válida. Por 
isso, não caberia a progressão de regime dos condenados porque a norma 
continuava válida, não fora suspensa, e a decisão do STF só valera para aquele 
caso concreto, não para o restante do Brasil. 
A DP do Acre ajuizou uma reclamação no STF (4335/2007). Todos achavam 
que o STF iria humilhar a DP. A reclamação é para preservar a autoridade e 
competência do STF, em suas decisões que são vinculativas e obrigatórias. Com 
o ajuizamento da reclamação, a DP estava alegando o descumprimento de 
 
 
28 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
decisão do STF, que portanto deveria fazer o juiz se curvar ao seu 
entendimento. É para isso que serve a reclamação, para preservar autoridade e 
competência do STF. Pois bem. Nos 2 primeiros votos da reclamação, ela foi 
julgada procedente, pelo Eros Grau e Gilmar Mendes. Eles votaram julgando 
procedente a reclamação dizendo que o juiz estava sim descumprindo decisão 
do STF e desrespeitando o posicionamento deste. 
Eles adotaram a seguinte tese: o art. 52, X, CF é obsoleto. Devemos fazer uma 
mutação constitucional no art. 52, X, CF, ou seja, o texto continua o mesmo, 
mas devemos reinterpretá-lo em virtude de novas realidades sociais. 
O Eros Grau disse que o texto continuaria o mesmo, mas deveríamos 
reinterpretá-lo porque estava obsoleto. A partir de então, entenderíamos que 
compete ao Senado apenas dar publicidade às decisões do STF. Não lhe 
competiria suspender a lei, mas apenas dar publicidade à decisão do STF. 
Assim, transformaríamos o Senado num “jornaleco”, “papeluxo” do STF, para dar 
publicidade às suas decisões, que já seriam automaticamente erga omnes. O 
Senado apenas oficializaria essa decisão – como se isso fosse necessário. 
Reclamação. 2. Progressão de regime. Crimes hediondos. 3. Decisão 
reclamada aplicou o art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90, declarado 
inconstitucional pelo Plenário do STF no HC 82.959/SP, Rel. Min. Marco 
Aurélio, DJ 1.9.2006. 4. Superveniência da Súmula Vinculante n. 26. 5. 
Efeito ultra partes da declaração de inconstitucionalidade em controle 
difuso. Caráter expansivo da decisão. 6. Reclamação julgada procedente. 
 
(Rcl 4335, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 
20/03/2014, DJe-208 DIVULG 21-10-2014 PUBLIC 22-10-2014 EMENT 
VOL-02752-01 PP-00001) 
Fica clara aí a TESE DA ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO. Ou seja, 
estaríamos transformando o controle difuso num controle abstrato. 
Logo em seguida, votaram Sepúlveda Pertence e Joaquim Barbosa, que ficaram 
horrorizados com os votos anteriores. Se o art. 52, X, é obsoleto, deveria ser 
chamado o poder constituinte derivado para alterá-lo. Não se poderia mudar 
um artigo no peito / no pau. Isso não seria mutação constitucional, mas rasgar 
um texto para fazer outro, e o Ministro do STF não é legislador para isso. 
Há um limite semântico. A CF diz que compete ao Senado SUSPENDER a lei, e 
não lhe dar publicidade. Portanto, está-se rasgando um texto para fazer outro, e 
o STF não é legislador para isso. Devemos respeitar a CF, gostando ou não. 
Se o Senado não atuou e não há decisão ainda, então a reclamação não 
poderia ser julgada procedente. 
Em 2013, Ricardo Levandowski finalmente votou. Ele pediu vista em 2007 e só 
deu o seu voto em 2013. Ele entendeu que deveria ser julgada improcedente a 
reclamação, por inexistir descumprimento pelo juiz da decisão do STF. Em 2014, 
veio a decisão final do caso. 
Pt. 03 
 
 
29 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
Em 2014, o STF chegou a um posicionamento sobre o caso. O Inf. 739 STF traz 
tal julgamento, 6x4 pela procedência da reclamação. 
 
Reclamação: cabimento e Senado Federal no controle da constitucionalidade - 11 
 
Em conclusão de julgamento, o Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em 
reclamação ajuizada sob o argumento de ofensa à autoridade da decisão da Corte no HC 82.959/SP 
(DJU de 1º.9.2006), em que declarada a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/1990, 
que veda a progressão de regime a condenados pela prática de crimes hediondos. Na espécie, juiz 
de 1º grau indeferira pedido de progressão de regime em favor de condenados a penas de reclusão 
em regime integralmente fechado, à luz do aludido dispositivo legal — v. Informativos 454, 463 e 
706. O Ministro Gilmar Mendes, relator, determinou a cassação das decisões impugnadas, ao 
assentar que caberia ao juízo reclamado proferir nova decisão para avaliar se, no caso concreto, os 
interessados atenderiam ou não os requisitos para gozar do referido benefício. Considerou possível 
determinar, para esse fim, e desde que de modo fundamentado, a realização de exame 
criminológico. Preliminarmente, quanto ao cabimento da reclamação, o relator afastou a alegação de 
inexistência de decisão do STF cuja autoridade deveria ser preservada. 
Rcl 4335/AC, rel. Min. Gilmar Mendes, 20.3.2014. (Rcl-4335) 
 
 
 
 
 
 
Reclamação: cabimento e Senado Federal no controle da constitucionalidade - 12 
 
O relator afirmou, inicialmente, que a jurisprudência do STF evoluíra relativamente à utilização da 
reclamação em sede de controle concentrado de normas, de maneira que seria cabível a reclamação 
para todos os que comprovassem prejuízo resultante de decisões contrárias às suas teses, em 
reconhecimento à eficácia vinculante “erga omnes” das decisões de mérito proferidas em sede de 
controle concentrado. Em seguida, entendeu ser necessário, para análise do tema, verificar se o 
instrumento da reclamação fora usado de acordo com sua destinação constitucional: garantir a 
autoridade das decisões do STF; e, superada essa questão, examinar o argumento do juízo 
reclamado no sentido de que a eficácia “erga omnes” da decisão no HC 82.959/SP dependeria da 
expedição de resolução do Senado que suspendesse a execução da lei (CF, art. 52, X). Para apreciar 
a dimensão constitucional do tema, discorreu sobre o papel do Senado Federal no controle de 
constitucionalidade. Aduziu que, de acordo com a doutrina tradicional, a suspensão da execução, 
pelo Senado, do ato declarado inconstitucional pelo STF seria ato político que emprestaria eficácia 
“erga omnes” às decisões definitivas sobre inconstitucionalidade proferidas em caso concreto. 
Asseverou, no entanto, que a amplitude conferida ao controle abstrato de normas e a possibilidade 
de se suspender, liminarmente, a eficácia de leis ou atos normativos, com eficácia geral, no contexto 
da CF/1988, concorreriam para infirmar a crença na própria justificativa do instituto da suspensão da 
execução do ato pelo Senado, inspirado em concepção de separação de poderes que hoje estaria 
ultrapassada. Ressaltou, ademais, que, ao alargar, de forma significativa, o rol de entes e órgãos 
legitimados a provocar o STF no processo de controle abstrato de normas, o constituinte restringira 
a amplitude do controle difuso de constitucionalidade. 
Rcl 4335/AC, rel. Min. Gilmar Mendes, 20.3.2014. (Rcl-4335) 
 
 
Reclamação: cabimento e Senado Federal no controle da constitucionalidade - 13 
 
 
30 
AÇÕES CONSTITUCIONAIS | Bernardo Fernandes 
 
O relator considerou que, em razão disso, bem como da multiplicação de decisões dotadas de 
eficácia geral e do advento da Lei 9.882/1999, alterara-se de forma radical a concepção que 
dominava sobre a divisão de Poderes, e seria comum no sistema a decisão com eficácia geral, 
excepcional sob a EC 16/1965 e a CF/1967. Salientou serem inevitáveis, portanto, as 
reinterpretações dos institutos vinculados ao controle incidental de inconstitucionalidade, 
notadamente o da exigência da maioria absoluta para declaração

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