Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ……. Processo-crime nº: Barnabé, brasileiro, estado civil, profissão, portador do RG nº. XXX SSP/SP e do CPF Nº. XXX, titular do e-mail, residente e domiciliada na Rua XXX, nº. XX, Bairro, CEP, na Cidade de ..., por seu Advogado que esta subscreve (mandado incluso), nos autos da ação penal que lhe move o Ministério Público do estado de _____, vem perante Vossa Excelência apresentar, no prazo legal e com lastro no Código de Processo Penal, arts. 403, § 3º , ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS, nos seguintes termos: 1. SÍNTESE DOS FATOS JULGADOS Barnabé foi denunciado pelo crime de lesão corporal gravíssima (art. 129, § 1º do CP), pois certa noite foi até o jardim de sua residência quando percebeu que lá estava um cachorro da raça pit bull, considerado um dos mais ferozes do mundo. Barnabé tinha um revólver calibre 22 e percebeu que o animal era bravo. O animal começou a andar em direção a Barnabé. Este já havia visto na televisão o que estes animais podem fazer, tremendo, atirou no cachorro, porém a bala atingiu uma pedra e ricocheteou atingindo a perna de Beiçola, dono do cachorro, que estava na rua. Beiçola sofreu lesão corporal de natureza grave, tendo ficado internado por 35 dias. Após o encerramento da instrução processual, o Ministério Público pleiteou, por escrito, a condenação de Barnabé nos termos da denúncia. 2. DO DIREITO 2.1. Do estado de necessidade Diante da síntese dos fatos narrados, é possível perceber que o réu estava em estado de necessidade e não havia alternativa senão reagir para salvar-se de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, uma vez que um animal bravo vinha em sua direção para atacá-lo e por isso precisou reagir. Agindo desse modo está amparado por uma excludente de ilicitude prevista no Inciso I, do artigo 23 do Código Penal. Sobre a temática, o grande Doutrinador, Guilherme de Souza Nucci assim se manifesta: Estado de Necessidade é o sacrifício de um interesse juridicamente protegido, para salvar de perigo atual e inevitável o direito do próprio agente ou de terceiro, desde que outra conduta, nas circunstâncias concretas, não fosse razoavelmente exigível. E quanto à origem do perigo poderá ser estado de necessidade defensivo: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 ocorre quando o agente pratica o ato necessário contra a coisa ou animal do qual promana o perigo para o bem jurídico. (NUCCI, 2020, p. 334-335)”. Nucci, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral. Vol. 1. 16ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2020.p. 334-335. Por isso, requer-se seja julgado procedente o presente pedido para decretar a absolvição sumária do réu, por exclusão de ilicitude do fato que lhe foi imputado, haja vista que agiu em estado de necessidade (CP, arts. 23 e 24 c/c art. 386, inciso VI, do CPP). 2.2 – Isenção de responsabilização do agente com base no art. 188 do Código Civil Não sendo o entendimento de Vossa Excelência aplicar a excludente de ilicitude do Estado de Necessidade, diante dessa situação ímpar, rara de acontecer, na qual o tiro disparado pela arma de Barnabé ricocheteou e atingiu a perna do dono do animal, sua conduta também está amparada no Código Civil, em seu artigo 188, Inciso II, e por isso não cometeu ato ilícito e assim deverá também ser isento de ter que reparar o dano causado a Beiçola que foi lesionado em sua perna. Tal previsão está contida também no parágrafo único do mesmo artigo. Portanto, não sendo acolhido o pedido da excludente de ilicitude do estado de necessidade, requer-se seja julgado procedente o presente pedido para decretar a isenção de responsabilidade do réu de ter que indenizar a vítima, por exclusão de ilicitude do fato que lhe foi imputado, haja vista que não cometeu ato ilícito conforme previsão no Código Civil (CC, art. 188, Inciso II, § único) 2.3. Desclassificação da imputação penal para lesão corporal culposa, com a substituição da pena de detenção pela de multa (CP, art. 129, §§ 6º, e 5º). Conforme se pode verificar pela síntese dos fatos narrados no dia do ocorrido, o réu agiu movido por situação alheia a sua vontade e sua reação aconteceu em vista de preservar sua própria vida. Além disso, sua ação foi direcionada para expelir o ataque de um animal bravo. Não tinha como ele prevê que o tiro que sairia de sua arma ricochetearia e atingiria terceiro a quem não direcionou sua ação. Poderíamos até pensar em caso fortuito para uma hipótese dessa natureza. Pelo que se pode extrair do acontecido, é que o denunciado não buscou atingir o dono do animal por maldade e gratuitamente. Tudo está indicando que foi uma ação sem ânimo predeterminado, e por isso mesmo poderíamos enquadrá-la ausente de qualquer responsabilização. Mas se não for esse o entendimento, sua ação poderá ser enquadrada apenas como culposa, pois ausente qualquer dolo e assim ter a imputação para o crime de lesão corporal culposa, prevista no § 6º do artigo 129. E a pena de detenção ser substituída pela de multa com base no § 5º do mesmo artigo. Na hipótese de ser condenado, requer julgar procedente o presente pedido para desclassificação do fato incriminador para o tipo penal previsto no dispositivo http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641786/inciso-i-do-artigo-397-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641837/artigo-397-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637476/artigo-23-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 supramencionado com substituição da pena de detenção pela multa ou restrição de direitos, ou a cumulação das duas últimas. 2.4. Circunstâncias judiciais e legais atenuantes Se for negado o pedido de desclassificação do crime (tópico anterior), cabe também que sejam consideradas na aplicação da pena cominada as circunstâncias judiciais elencadas no art. 59 do CP, fixando-a no mínimo legal. Isso porque a culpabilidade do réu deve ser amenizada, porquanto de menor intensidade sua culpa. Além disso, não tem antecedentes criminais, possui emprego e domicílio fixo, bem como não é pessoa de má índole. Adicionalmente, merece a incidência da circunstância legal atenuante especificada no CP, artigo 65, Inciso I, uma vez que já conta com mais de 70 anos, tendo a exata idade de 84 anos e assim sua pena deverá ser reduzida ou mesmo substituída pelas elencadas no rol do artigo 319 do CPP. Sobre a circunstância legal atenuante prevista, serve para ilustrar a transcrição do julgado abaixo: “Lesão corporal. Legítima defesa. Extinção da punibilidade. Quem aceita provocação, ainda que injusta, não age em legítima defesa, pois aquela não exige reação mediante desforço físico. No entanto, isso não afasta o reconhecimento do privilégio da violenta emoção, se injusta a provocação da vítima” (TJRS, AC 69000731331, Rel. Danubio Edon Franco, j. 17-6- 1997). 2.5. Do sursis Por fim, mas não menos importante, não sendo acatada nenhuma das teses até agora apresentadas, o denunciante, diante das circunstâncias judiciais que lhe são favoráveis e da idade superior a 70 anos, uma vez que possui 84 anos de idade, tendo a desclassificação do crime que lhe é imputado para a modalidade culposa, será merecedor do instituto do sursis etário, com previsão § 2º do artigo 77 do Código Penal. Esse é o entendimento da jurisprudência pátria, como segue: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL. OMISSÃO. SUSPENSÃO CONDICIONALDO PROCESSO. SURSIS ETÁRIO OU HUMANITÁRIO. CONCESSÃO DA BENESSE. Diante da pena fixada, bem como da idade do condenado, cabível a concessão da suspensão condicional da pena, nos termos do artigo 77, parágrafo 2º, do Código Penal. Hediondez do delito que não impede o alcance da benesse. Omissão sanada. ACOLHERAM PARCIALMENTE OS EMBARGOS DECLARATÓRIOS. UNÂNIME. (Embargos de Declaração Nº 70060329463, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Laura Louzada Jaccottet, Julgado em 17/07/2014) (TJ-RS - ED: 70060329463 RS, Relator: Laura Louzada Jaccottet, Data de http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/124459/estatuto-do-desarmamento-lei-10826-03 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10630881/par%C3%A1grafo-2-artigo-77-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631078/artigo-77-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 Julgamento: 17/07/2014, Sétima Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 30/07/2014) 3. PEDIDOS Ante o exposto, requer a Vossa Excelência: a) A absolvição do réu, com fundamento no art. 386, VI, do Código de Processo Penal c/c os arts. 23 e 24 do Código Penal. b) Isentar o réu de pena a ter que indenizar a vítima com base no artigo 188, II do Código Civil. b) Subsidiariamente julgar procedente o pedido formulado com a consequente desqualificação do crime de lesão corporal art. 129, § 1º para lesão corporal culposa do § 6º, e artigo 5º, substituindo a pena de detenção, pela de multa. c) E se houver a condenação pela autoria do delito, requer a aplicação das circunstâncias atenuantes judiciais e legais, conforme razões apontadas no tópico “2.4”, bem como a substituição por penas alternativas e o direito de recorrer em liberdade. d) Consequentemente, requer-se, que seja aplicada ao réu o benefício do sursis etário conforme previsão do § 2º do Art. 77 do CP, como medida de justiça. Nesses termos, pede deferimento. Local, _________. ADVOGADO OAB/SP Nº. 000.000 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637476/artigo-23-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
Compartilhar