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Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 42 1. Introdução Oi amigos (s), Nesta aula veremos os assuntos Comissão de Conciliação Prévia e Direito Coletivo do Trabalho. Os demais tópicos do Direito Coletivo do Trabalho serão tratados na próxima aula. Vamos ao trabalho! 2. Comissões de Conciliação Prévia A previsão quanto à instituição e funcionamento das Comissões de Conciliação Prévia (CCP) foi instituída na CLT por meio da Lei nº 9.958/2000, que inseriu na Consolidação das Leis do Trabalho o Título VI-A – DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA. A intenção do legislador na criação das CCP é “desafogar” o Judiciário, procurando a resolução de conflitos trabalhistas por meio destas Comissões. O objetivo das CCP é tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Além disso, é importante destacar que a instituição das CCP é facultativa, e que, sendo instituída, sua composição deve ser paritária, ou seja, com a mesma quantidade de representantes dos empregados e dos empregadores. Estas disposições encontram-se no artigo 625-A: CLT, art. 625-A. As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representante dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 42 Em relação à composição e abrangência de atuação da CCP, admite-se sua existência no âmbito da empresa, em grupo de empresas e até mesmo entre mais de um sindicato: CLT, art. 625-A, parágrafo único. As Comissões referidas no caput deste artigo poderão ser constituídas por grupos de empresas ou ter caráter intersindical. Acerca da quantidade de membros (titulares e suplentes), o artigo 625-B corrobora a paridade e ainda define que: CLT, art. 625-B. A Comissão instituída no âmbito da empresa será composta de, no mínimo, dois e, no máximo, dez membros, e observará as seguintes normas: I - a metade de seus membros será indicada pelo empregador e outra metade eleita pelos empregados, em escrutínio secreto, fiscalizado pelo sindicato de categoria profissional; II - haverá na Comissão tantos suplentes quantos forem os representantes titulares; III - o mandato dos seus membros, titulares e suplentes, é de um ano, permitida uma recondução. Após estabelecer a quantidade mínima e máxima de empregados integrantes a CCP, duração do mandato, etc., a CLT estipulou que, nas CCP instituídas no âmbito do sindicato, sua constituição será definida em negociação coletiva (ou seja, as regras poderão ser diferentes das dispostas no art. 625-B). Esta é a conclusão que se chega a partir da leitura do artigo seguinte, o 625- C: CLT, art. 625-C. A Comissão instituída no âmbito do sindicato terá sua constituição e normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo coletivo. Comentamos inicialmente que a instituição da CCP é facultativa, e que o objetivo desta Comissão é tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Caso exista a Comissão (instituída facultativamente), é obrigatório que os conflitos trabalhistas sejam encaminhados à CCP? Ou mesmo havendo a Comissão seria possível ingressar diretamente em juízo sem acionar a CCP? Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 42 Pela leitura do artigo 625-D, seria obrigatório: CLT, art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria. Entretanto, existem posicionamentos do STF e do TST no sentido de que não seria obrigatória a tentativa de resolução do conflito pela CCP para somente depois poder-se acessar o Poder Judiciário. É que a CF/88 assegura o princípio da inafastabilidade do controle judicial: CF/88, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; ------------- Quando uma demanda é submetida à CCP, deve ser reduzida a termo e os interessados receberão cópia datada e assinada: CLT, art. 625-D, § 1º A demanda será formulada por escrito ou reduzida a termo por qualquer dos membros da Comissão, sendo entregue cópia datada e assinada pelo membro aos interessados. Além disso, a CLT prevê que, frustrada a tentativa de conciliação, será fornecida declaração: CLT, art. 625-D, § 2º Não prosperando a conciliação, será fornecida ao empregado e ao empregador declaração da tentativa conciliatória frustrada com a descrição de seu objeto, firmada pelos membros da Comissão, que deverá ser juntada à eventual reclamação trabalhista. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 42 Comentamos anteriormente que poderia haver CCP instituída no âmbito da empresa, de empresas e até mesmo com abrangência intersindical. Pode ocorrer, então, de uma empresa instituir CCP e haver outra CCP que atua perante a categoria sindical; nestes casos, o interessado poderá optar por submeter sua demanda a uma ou outra: CLT, art. 625-D, § 4º Caso exista, na mesma localidade e para a mesma categoria, Comissão de empresa e Comissão sindical, o interessado optará por uma delas submeter a sua demanda, sendo competente aquela que primeiro conhecer do pedido. E quando uma demanda é submetida à CCP e se chega a um acordo, qual o efeito prático? Nestes casos, será lavrado um termo: CLT, art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes. Quanto à natureza jurídica do termo de conciliação, a CLT define que este se constituirá em título executivo extrajudicial: CLT, art. 625-E, parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas. Já sobre o prazo para se realizar a sessão conciliatória, a CLT o estipulou como sendo de 10 (dez) dias, com a correspondente consequência da impossibilidade de seu cumprimento: CLT, art. 625-F. As Comissões de Conciliação Prévia têm prazo de dez dias para a realização da sessão de tentativa de conciliação a partir da provocação do interessado. Parágrafo único. Esgotado o prazo sem a realização da sessão, será fornecida, no último dia do prazo, a declaração a que se refere o § 2º do art. 625-D [declaração da tentativa conciliatória frustrada]. CCP e a interrupção da prescrição Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 42 A sessão foi designada para 20.07.2013, mas a empresa não compareceu. Munido de declaração neste sentido, Félix ajuizou reclamação trabalhista em 22.07.2013 postulando as referidas horas extraordinárias. Em defesa, a ré arguiu prescrição bienal. A partir dessa situação, assinale a afirmativa correta. A) ocorreu prescrição porque a ação foi ajuizada após dois anos do rompimento do contrato. B) não se cogita de prescriçãono caso apresentado, pois com o ajuizamento da demanda perante a comissão de conciliação prévia, o prazo prescricional foi suspenso. C) está prescrito porque o período do aviso prévio não é computado para a contagem de prescrição, pois foi indenizado, e a apresentação de demanda na comissão de conciliação prévia não gera qualquer efeito. D) não se cogita de prescrição no caso apresentado, pois com o ajuizamento da demanda perante a comissão de conciliação prévia, o prazo foi interrompido. Como a provocação da Comissão de Conciliação Prévia (CCP) suspende o prazo prescricional (CLT, art. 625-G), a arguição da empresa não deve ser acolhida. Dessa forma, o prazo foi suspenso em 10/07/2013 e voltou a fluir em 20/07/2013. Assim, considerando que, em 15/06/2011, Félix recebeu aviso prévio indenizado, de 30 dias, e que o mesmo integra a vigência do contrato de trabalho, concluímos que a ação trabalhista foi proposta dentro do prazo de 2 anos a contar da rescisão do contrato. Gabarito (B) Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 42 3. Direito coletivo do trabalho Para entendermos o que representa o Direito Coletivo do Trabalho em relação ao Direito Individual do Trabalho (e em relação ao próprio Direito do Trabalho) considero oportuno trazer a lição de Sérgio Pinto Martins1: “Direito Coletivo do Trabalho é o segmento do Direito do Trabalho encarregado de tratar da organização sindical, da negociação coletiva, dos contratos coletivos, da representação dos trabalhadores e da greve. O Direito Coletivo do Trabalho é apenas uma das subdivisões do Direito do Trabalho, não possuindo autonomia, pois não tem diferenças específicas em relação aos demais ramos do Direito do Trabalho, estando inserido, como os demais, em sua maioria, na CLT”. Neste contexto, esta aula tratará do assunto Direito Coletivo do Trabalho, dividindo-o em subtópicos, a iniciar pelos princípios aplicáveis a este ramo. 3.1. Princípios do direito coletivo do trabalho Abordaremos neste tópico os princípios aplicáveis ao Direito Coletivo de Trabalho, seguindo a lição do Ministro Mauricio Godinho Delgado. Princípio da liberdade associativa e sindical Preliminarmente, saliente-se que o direito de associação está assegurado pela Constituição Federal, em seu artigo 5º: CF/88, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; 1 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 27 ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 714. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 42 XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; (...) XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; Além disso, com relação à liberdade de associação sindical, o art. 8º dispõe que, além de ser livre a filiação, também o será a desfiliação: CF/88, art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; Retomando o princípio em estudo, vemos que será livre a criação associativa e, por outro lado, o empregado não poderá ser forçado a se associar (ou manter- se associado) ao sindicato. Sendo assim, nosso ordenamento jurídico não admite cláusulas de sindicalização forçada. Um exemplo de cláusula de sindicalização forçada seria a necessidade de o empregado ser sindicalizado para que a empresa pudesse contratá-lo (esta cláusula, no caso, seria firmada entre o sindicato obreiro e as empresas). Princípio da autonomia sindical O princípio da autonomia sindical garante que os sindicatos possam se organizar sem interferências do Estado e das empresas. Assim, não há controle político estatal, e a criação dos sindicatos também não dependerá de autorização. É desta maneira que o princípio em tela foi inserido na Constituição Federal: CF/88, art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 42 Percebam que o dispositivo constitucional proíbe a exigência de autorização para a criação do sindicato, mas prevê o registro do sindicato no órgão competente (no caso, no Ministério do Trabalho e Emprego). O princípio da autonomia sindical, entretanto, ainda sofre algumas restrições: é que existem disposições limitadoras da autonomia sindical. Estas limitações são três: a unicidade sindical, (art. 8º, II2), o financiamento compulsório, (art. 8º, IV) e o poder normativo da Justiça do Trabalho. Princípio da interveniência sindical na normatização coletiva Este princípio determina que a normatização coletiva, para ser válida, demanda a participação do sindicato representante dos trabalhadores: CF/88, art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho; Já a participação dos sindicatos patronais (representantes dos empregadores) não é obrigatória: é que a negociação coletiva pode dar-se entre o sindicato obreiro e a empresa. Falaremos mais sobre isso no tópico “Negociações Coletivas”. Princípio da equivalência entre os contratantes coletivos 2 CF/88, art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município; (...) IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei; Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 42 Existe nítido desequilíbrio entre o empregador (detentor do capital) e o empregado, e o Direito do Trabalho surge para atenuar tal desequilíbrio. No caso do Direito Coletivo, entretanto, as partes envolvidas (empresa, sindicato patronal e sindicato obreiro) possuem força semelhante. O empregador e os sindicatos são reconhecidos como seres coletivos, e, além disso, eles possuem instrumentos eficazes para negociar. No caso do sindicato obreiro, pode-se citar como instrumento de atuação a garantia de emprego de seus dirigentes, o que lhes aumenta o poder de pressão para obter melhor resultado em negociação com o empregador. Desta maneira, assim como se reconhece a desigualdade entre as partes no Direito Individual do Trabalho, a doutrina reconhece, no DireitoColetivo do Trabalho, tratamento jurídico equivalente entre as partes (neste, frise-se, o empregado não atuará isoladamente, e sim através de sua representação sindical). Princípio da lealdade e transparência nas negociações coletivas Este princípio apregoa que a negociação coletiva deve transcorrer de forma leal e transparente, não se admitindo condutas que inviabilizem a formulação das normas jurídicas juscoletivas (as convenções coletivas e os acordos coletivos de trabalho). Estas normas criadas através da negociação coletiva serão de observância obrigatória pelas partes, motivo pelo qual sua criação não pode ser prejudicada por atos desleais ou que atentem contra a boa-fé. Princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva Este princípio se relaciona ao fato de que a negociação coletiva cria normas jurídicas (comandos abstratos, gerais e impessoais). Assim, a negociação coletiva não produz simplesmente cláusulas obrigacionais que se aderem ao contrato. Como dito acima, os acordos e convenções coletivos, em atendimento ao princípio da criatividade jurídica, geram normas jurídicas. Princípio da adequação setorial negociada O princípio da adequação setorial negociada foi delineado por Mauricio Godinho Delgado, e consiste em possibilidades e limites jurídicos à negociação coletiva. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 42 3.3. Características da CCT e ACT Neste tópico falaremos sobre algumas das características das CCT e dos ACT, como a legitimação, forma, vigência e duração. Legitimação Como comentamos acima, são legitimados para celebrar as negociações coletivas os sindicatos obreiro e patronal. No caso dos ACT, os empregadores, diretamente, também possuem legitimação para celebrá-los. Quando uma categoria profissional não é organizada em sindicato, é possível que figure no polo subjetivo da negociação a federação ou confederação que represente a categoria: CLT, art. 611, § 2º As Federações e, na falta desta, as Confederações representativas de categorias econômicas ou profissionais poderão celebrar convenções coletivas de trabalho para reger as relações das categorias a elas vinculadas, inorganizadas em Sindicatos, no âmbito de suas representações. É interessante mencionar que este dispositivo trata das federações e confederações; ele não menciona as centrais sindicais (como a CUT). Como ensina Mauricio Godinho Delgado4, estas instituições não possuem legitimação para celebrar negociação coletiva. Sobre negociação coletiva e serviço público, mencione-se que a jurisprudência tem entendido ser inaplicável tal negociação no âmbito da Administração Pública. Neste sentido a Súmula 679 do STF: SÚMULA Nº 679 A fixação de vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto de convenção coletiva. Sobre o assunto é oportuno destacar a alteração ocorrida na OJ-SDC-5 do TST: OJ SDC 5 DISSÍDIO COLETIVO CONTRA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA 4 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. p. 1419. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 42 Quanto ao item I, Ricardo Resende6 explica que “O item I se refere a matéria processual, mais especificamente à possibilidade de cumulação de pedidos. Com efeito, caso o empregado faça jus a multas distintas, decorrentes do descumprimento de mais de um instrumento normativo (uma prevista em sentença normativa e outra em convenção coletiva de trabalho, por exemplo), poderá cobrá-las em um único processo”. Já o item II trata dos casos em que existe previsão de multa por descumprimento de cláusula negocial e, ao mesmo tempo, a lei já prevê sanção ao empregador por descumprimento deste mesmo preceito legal. Ocorrendo a irregularidade descrita na lei e no instrumento coletivo, ambas as multas poderão se cumular. ------------- 2. (FGV_XVIII_EXAME DE ORDEM UNIFICADO_2015) Em normas coletivas firmadas pela empresa Montagens Industriais Ltda., há previsão de multa por descumprimento de cláusulas normativas que foram efetivamente descumpridas pela empresa. Diante disso, assinale a afirmativa correta. A) O empregado terá de ajuizar tantas ações quantas forem as lesões, postulando, em cada uma delas, a multa pelo descumprimento de obrigações previstas nas respectivas cláusulas. B) Tratando-se de multa prevista em instrumento normativo em decorrência de descumprimento de cláusula que reproduz texto de lei, a multa é incabível. C) Tendo em vista a reprodução de textos de lei em cláusulas de instrumentos normativos diversos, ficará a critério do juiz definir se pode haver esse acúmulo. D) O descumprimento de qualquer cláusula constante de instrumentos normativos diversos não submete o empregado a ajuizar várias ações, pleiteando, em cada uma, o pagamento de multa referente ao descumprimento de obrigações previstas nas respectivas cláusulas. 6 RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Método, 2012, p. 975. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 42 Gabarito (D) A questão cobrou a literalidade do item I da Súmula nº 384 do TST. Transcrevemos abaixo para fixação: Súmula nº 384 do TST. MULTA CONVENCIONAL. COBRANÇA I - O descumprimento de qualquer cláusula constante de instrumentos normativos diversos não submete o empregado a ajuizar várias ações, pleiteando em cada uma o pagamento da multa referente ao descumprimento de obrigações previstas nas cláusulas respectivas. ------------- Ainda sobre o conteúdo dos instrumentos coletivos, registre-se que a CLT, em seu art. 613, enumera alguns assuntos que, obrigatoriamente, devem ser abordados nos mesmos: CLT, art. 613 - As Convenções e os Acordos deverão conter obrigatoriamente: I - Designação dos Sindicatos convenentes ou dos Sindicatos e empresas acordantes; II - Prazo de vigência; III - Categorias ou classes de trabalhadores abrangidas pelos respectivos dispositivos; IV - Condições ajustadas para reger as relações individuais de trabalho durante sua vigência; V - Normas para a conciliação das divergências sugeridas entre os convenentes por motivos da aplicação de seus dispositivos; VI - Disposições sobre o processo de sua prorrogação e de revisão total ou parcial de seus dispositivos; VII - Direitos e deveres dos empregados e empresas; VIII - Penalidades para os Sindicatos convenentes, os empregados e as empresas em caso de violação de seus dispositivos. Forma Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 42 Os CCT e ACT são, necessariamente, escritos (ou seja, não podem ser verbais): CLT, art. 613, parágrafo único. As convenções e os Acordos serão celebrados por escrito, sem emendas nem rasuras, em tantas vias quantos forem os Sindicatos convenentes ou as empresas acordantes, além de uma destinada a registro. Por este motivo diz-se que tais instrumentos são solenes. Em relação à forma de aprovação de CCT e ACT, quorum de associados para votação, etc. a CLT estabelece algumas regras que parte da doutrina critica (pois estas regulamentações e procedimentos caberiam aos estatutos dos sindicatos e não à lei). Apesar desta divergência é oportuno conhecer alguns dos requisitos exigidos pela CLT: CLT, art. 612 - Os Sindicatos só poderão celebrar Convenções ou Acordos Coletivos de Trabalho,por deliberação de Assembleia Geral especialmente convocada para esse fim, consoante o disposto nos respectivos Estatutos, dependendo a validade da mesma do comparecimento e votação, em primeira convocação, de 2/3 (dois terços) dos associados da entidade, se se tratar de Convenção, e dos interessados, no caso de Acordo, e, em segunda, de 1/3 (um terço) dos mesmos. Parágrafo único. O "quorum" de comparecimento e votação será de 1/8 (um oitavo) dos associados em segunda convocação, nas entidades sindicais que tenham mais de 5.000 (cinco mil) associados. Sobre a forma de publicidade do instrumento negocial, a CLT estabelece a necessidade de apresentar o CCT e o ACT para ser registrado e arquivado no Ministério do Trabalho e Emprego – MTE -, no prazo de 8 dias contados de sua assinatura. Além disso, foi também estabelecido o prazo de 5 dias, a contar do depósito do instrumento negocial no MTE, para que cópias do documento coletivo sejam afixadas de modo visível, pelos sindicatos convenentes, nos estabelecimentos de empresas abrangidas pelo mesmo. Vigência Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 42 -------------- Já a teoria da aderência limitada por revogação, que é posição intermediária em relação às outras duas, é a tecnicamente mais adequada, segundo o posicionamento de Mauricio Godinho Delgado8. Esta teoria foi sedimentada na nova redação da Súmula 277, alterada em setembro de 2012: SUM-277 CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE. As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho. A ultratividade, como mencionado no verbete, é conceituada por Carvalho, Magalhães e Delgado9 como “A norma coletiva de trabalho é ultra-ativa, ou reveste-se de ultra-atividade, quando continua eficaz após o seu termo final de vigência. Se uma categoria profissional e a representação patronal definem quais os direitos que devem ser assegurados a certos trabalhadores a partir da data inicial de vigência de uma convenção ou acordo coletivo, o advento da data derradeira de vigência dessa norma não lhe retirará a eficácia.” Assim, podemos visualizar a ultratividade tanto na teoria da aderência irrestrita quanto na teoria da aderência limitada por revogação. No Brasil, portanto, prevalece a teoria da aderência limitada por revogação (ultratividade relativa). 8 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. p. 1432. 9 CARVALHO, Augusto César Leite de; ARRUDA, Kátia Magalhães; DELGADO, Mauricio Godinho. A Súmula Nº 277 e a Defesa da Constituição. Disponível em < http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/ bitstream/handle/1939/28036/2012_sumula_277_aclc_kma_mgd.pdf?sequence=1> http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/handle/1939/28036/2012 sumula 2 77 aclc kma mgd.pdf?sequence=1 <acessado em 29JUL13> Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 42 Outra situação correlata diz respeito aos casos em que existia disposição sobre garantia de emprego na CCT ou ACT (em período superior ao estabelecido em lei11, claro), que já perdeu a vigência; se, durante sua vigência, o empregado se acidentou, ele continuará fazendo jus à estabilidade provisória mais vantajosa mesmo depois que o diploma autônomo já não mais está vigendo? Exemplo: a CCT previu que os empregados abrangidos pela mesma teria garantia de emprego de 3 anos caso fossem vítimas de acidente do trabalho. Durante a vigência da CCT o empregado sofreu acidente de trabalho, e poucos meses depois a CCT deixou de viger. Ele continuará a ter o direito da garantia de emprego prevista na CCT? A resposta é afirmativa, com fundamento na OJ 41 do TST: OJ-SDI1-41 ESTABILIDADE. INSTRUMENTO NORMATIVO. VIGÊNCIA. EFICÁCIA Preenchidos todos os pressupostos para a aquisição de estabilidade decorrente de acidente ou doença profissional, ainda durante a vigência do instrumento normativo, goza o empregado de estabilidade mesmo após o término da vigência deste. Prorrogação, revisão, denúncia, revogação Na CLT também existe previsão quanto à possibilidade da CCT ou ACT ser prorrogada, revisada, denunciada ou revogada: CLT, art. 615 - O processo de prorrogação, revisão, denúncia ou revogação total ou parcial de Convenção ou Acordo ficará subordinado, em qualquer caso, à aprovação de Assembleia Geral dos Sindicatos convenentes ou partes acordantes, com observância do disposto no art. 612. § 1º O instrumento de prorrogação, revisão, denúncia ou revogação de Convenção ou Acordo será depositado para fins de registro e arquivamento, 11 Lei 8.213/91, art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio- acidente. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 42 na repartição em que o mesmo originariamente foi depositado observado o disposto no art. 614. § 2º As modificações introduzidos em Convenção ou Acordo, por força de revisão ou de revogação parcial de suas cláusulas passarão a vigorar 3 (três) dias após a realização de depósito previsto no § 1º. Quanto à prorrogação, precisamos lembrar que a própria CLT estabelece vigência máxima de 2 anos para os diplomas coletivos. Sendo assim, a eventual prorrogação (somada à vigência inicial, deve respeitar este prazo máximo). É comum na prática encontrar CCT e ACT com vigência prevista de um ano, e, neste caso, a eventual prorrogação seria de no máximo um ano. Este é o teor da OJ 322 do TST: OJ-SDI1-322 ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. CLÁUSULA DE TERMO ADITIVO PRORROGANDO O ACORDO PARA PRAZO INDETERMINADO. INVÁLIDA Nos termos do art. 614, § 3º, da CLT, é de 2 anos o prazo máximo de vigência dos acordos e das convenções coletivas. Assim sendo, é inválida, naquilo que ultrapassa o prazo total de 2 anos, a cláusula de termo aditivo que prorroga a vigência do instrumento coletivo originário por prazo indeterminado. A revisão do diploma coletivo é o procedimento pelo qual as partes envolvidas na negociação decidem alterar determinada (s) cláusula (s) durante a vigência do mesmo. Já a denúncia significa que uma das partes pretende não cumprir o instrumento coletivo em vigor, e comunica a outra parte de sua intenção. Por fim, a revogação (total ou parcial) tem lugar quando as partes decidem, como o nome sugere, revogar algumas cláusulas - ou a totalidade - do CCT ou ACT vigorante. Em todos estes casos mencionados, conforme previsto no art. 615 e seus parágrafos, tais alterações devem se subordinar, em qualquer caso, à aprovação de Assembleia Geral dos Sindicatos convenentes ou partes acordantes. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 42 3. (FGV_XIII_ EXAME DE ORDEM UNIFICADO_ 2014) Uma empresa, em consenso com os seus empregados e com a chancela do sindicato, realiza um acordo coletivo com prazo de vigência indeterminado. Com relação a esse caso, assinale a afirmativa correta. A) o instrumento é inválido naquilo que ultrapassar dois anos, prazo máximo de vigência deste instituto. B) o acordo é integralmente válido, já que fruto da vontade da classe trabalhadora,que possui poder de negociação. C) será válido o acordo desde que a superintendência regional do trabalho o homologue, já que a lei é omissa a respeito do prazo. D) o instrumento é inválido naquilo que ultrapassar quatro anos, prazo máximo de vigência deste instituto. O instrumento não é válido, com fundamento na OJ 322, da SDI-1 do TST, transcrita acima. Gabarito (A) 3.4. Hierarquia entre CCT e ACT É possível que seja celebrada CCT entre os sindicatos obreiro e patronal e, ao mesmo tempo, esteja em vigor ACT celebrado entre o sindicato obreiro e empresas (s) da categoria econômica representada pelo sindicato patronal que celebrou a CCT. Nestes casos, que diploma coletivo será aplicável aos trabalhadores da (s) empresa (s) citada (s) acima, que estarão abrangidos pela CCT e também pelo ACT? Para responder a esta pergunta é preciso saber que, no Direito do Trabalho, não se aplicam integralmente a pirâmide hierárquica rígida das normas como no Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 42 Direito Comum, e, também, a regra segundo a qual lei específica prevalece sobre lei geral. No Direito Comum, como estudamos nas matérias Direito Constitucional e Direito Administrativo, existe nítida hierarquia das normas, estando no ápice da pirâmide normativa a Constituição, e abaixo dela as emendas constitucionais, leis, medidas provisórias, decretos, etc. No Direito do Trabalho não se obedece exatamente a esta regra, até porque, no ramo justrabalhista, existem também as normas autônomas (elaboradas pelos seus próprios destinatários, como é o caso das CCT e ACT). Sobre a relação entre lei específica e lei geral, no Direito Comum a primeira prevalece sobre a segunda. No Direito do Trabalho, especialmente entre CCT e ACT, não se pode utilizar de modo inflexível a mesma regra (mesmo imaginando que a CCT, abrangendo toda a categoria profissional, seria “geral” e a ACT, por se aplicar a apenas uma – ou mais – empresa, seria “específica”). A questão é a seguinte: no Direito do Trabalho deve-se observar o princípio da norma mais favorável e, com, isto, é possível que a CCT prevaleça sobre o ACT. Nesta linha o art. 620 da CLT: CLT, art. 620. As condições estabelecidas em Convenção quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em Acordo. Feitas estas considerações, precisamos responder a mais uma pergunta: como definir qual é a norma mais benéfica ao trabalhador? À primeira vista pode parecer uma pergunta simples, mas não é: ao tratar de determinado assunto, uma CCT pode prever garantias e direitos vantajosos, mas, ao mesmo tempo, o ACT pode tratar de outros aspectos de maneira mais interessante ao empregado (comparando com a mesma CCT). Neste caso, se cláusulas de ambos os instrumentos possuem disposições benéficas, como definir qual a norma aplicável? Aplicar-se-ão trechos de cada um dos instrumentos? Ou será eleito o mais vantajoso para aplicação, de forma integral, no caso concreto? Aqui então precisamos apresentar as duas teorias que trazem a solução para estes casos. São elas a teoria da acumulação e a teoria do conglobamento. Teoria da acumulação Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 42 Percebam que não é permitido às negociações coletivas envolvendo ME/EPP simplesmente desconsiderar as horas in itinere, mas apenas estipular o tempo médio de tal deslocamento. Sobre limitação da negociação coletiva também é interessante mencionar a OJ-SDI1-420, com a qual o TST sedimentou a interpretação de que não tem validade negociação que retroage para estabelecer jornada de oito horas em turnos ininterruptos de revezamento: OJ-SDI1-420 TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO. ELASTECIMENTO DA JORNADA DE TRABALHO. NORMA COLETIVA COM EFICÁCIA RETROATIVA. INVALIDADE. É inválido o instrumento normativo que, regularizando situações pretéritas, estabelece jornada de oito horas para o trabalho em turnos ininterruptos de revezamento. Para situar o(a) leitor(a), lembremos que, no regime de turnos ininterruptos de revezamento, a regra é que a jornada seja de seis horas: CF/88, art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; Caso haja negociação coletiva em sentido contrário (estabelecendo jornada superior a seis horas), não cabe o pagamento do adicional: SUM-423 TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. FIXAÇÃO DE JORNADA DE TRABALHO MEDIANTE NEGOCIAÇÃO COLETIVA. VALIDADE. Estabelecida jornada superior a seis horas e limitada a oito horas por meio de regular negociação coletiva, os empregados submetidos a turnos ininterruptos de revezamento não tem direito ao pagamento da 7ª e 8ª horas como extras. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 42 No caso da OJ-SDI1-420, após os empregados terem laborado além das seis horas em turnos ininterruptos (caso em que fariam jus ao adicional de horas extraordinárias das sétima e oitava horas), o sindicato quis “negociar” retroativamente de modo a tirar dos empregados o direito ao adicional. ----------- Outra limitação que se pode citar é a autorização, mediante negociação coletiva, para prorrogar jornada de trabalho em atividades insalubres. Tal limitação se deve á previsão constante do artigo 60 da CLT, que exige a inspeção prévia do MTE: CLT, art. 60 - Nas atividades insalubres, assim consideradas as constantes dos quadros mencionados no capítulo "Da Segurança e da Medicina do Trabalho", ou que neles venham a ser incluídas por ato do Ministro do Trabalho, Industria e Comercio, quaisquer prorrogações só poderão ser acordadas mediante licença prévia das autoridades competentes em matéria de higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, procederão aos necessários exames locais e à verificação dos métodos e processos de trabalho, quer diretamente, quer por intermédio de autoridades sanitárias federais, estaduais e municipais, com quem entrarão em entendimento para tal fim. Até 2011 estava vigente Súmula que dispensava a licença prévia do MTE caso houvesse autorização para a prorrogação da jornada na negociação coletiva da categoria. Entretanto, em 2011 esta Súmula foi cancelada: SUM 349 ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE HORÁRIO EM ATIVIDADE INSALUBRE, CELEBRADO POR ACORDO COLETIVO. VALIDADE A validade de acordo coletivo ou convenção coletiva de compensação de jornada de trabalho em atividade insalubre prescinde da inspeção prévia da autoridade competente em matéria de higiene do trabalho (art. 7º, XIII, da CF/1988; art. 60 da CLT). ----------- Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 42 Aproveitando a oportunidade é interessante trazer uma Súmula do TST que não trata exatamente de limitação de negociação coletiva, mas tem relação com tais instrumentos: é a Súmula 202. Segundo a Súmula, se o empregador concede gratificação por tempo de serviço e, ao mesmo tempo, o diploma coletivo também prevê tal gratificação, caberá apenas a mais benéfica: SUM-202 GRATIFICAÇÃO POR TEMPO DE SERVIÇO. COMPENSAÇÃO Existindo, ao mesmo tempo, gratificação por tempo de serviço outorgada pelo empregador e outra da mesma natureza prevista em acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa, o empregado tem direito a receber, exclusivamente,a que lhe seja mais benéfica. Exemplo: o empregador concede, aos seus empregados, gratificação de 1% do salário por ano de serviço (anuênio) e todos os empregados abrangidos pelo acordo coletivo (ou convenção) fazem jus a 2% de gratificação por tempo de serviço, de acordo com cláusula do instrumento. No caso, os empregados fariam jus a 2%, que é a mais benéfica. 4. Lista das questões comentadas 1. (FGV_XI_ EXAME DE ORDEM UNIFICADO_ 2013) Félix trabalhou na empresa só patinhas pet shop de 03.01.2011 a 15.06.2011, quando recebeu aviso prévio indenizado. Em 10.07.2013 procurou a comissão de conciliação prévia de sua categoria, reclamando contra a ausência de pagamento de algumas horas extras. A sessão foi designada para 20.07.2013, mas a empresa não compareceu. Munido de declaração neste sentido, Félix ajuizou reclamação trabalhista em 22.07.2013 postulando as referidas horas extraordinárias. Em defesa, a ré arguiu prescrição bienal. A partir dessa situação, assinale a afirmativa correta. A) ocorreu prescrição porque a ação foi ajuizada após dois anos do rompimento do contrato. B) não se cogita de prescrição no caso apresentado, pois com o ajuizamento da demanda perante a comissão de conciliação prévia, o prazo prescricional foi suspenso. C) está prescrito porque o período do aviso prévio não é computado para a contagem de prescrição, pois foi indenizado, e a apresentação de demanda na comissão de conciliação prévia não gera qualquer efeito. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 42 D) não se cogita de prescrição no caso apresentado, pois com o ajuizamento da demanda perante a comissão de conciliação prévia, o prazo foi interrompido. 2. (FGV_XVIII_EXAME DE ORDEM UNIFICADO_2015) Em normas coletivas firmadas pela empresa Montagens Industriais Ltda., há previsão de multa por descumprimento de cláusulas normativas que foram efetivamente descumpridas pela empresa. Diante disso, assinale a afirmativa correta. A) O empregado terá de ajuizar tantas ações quantas forem as lesões, postulando, em cada uma delas, a multa pelo descumprimento de obrigações previstas nas respectivas cláusulas. B) Tratando-se de multa prevista em instrumento normativo em decorrência de descumprimento de cláusula que reproduz texto de lei, a multa é incabível. C) Tendo em vista a reprodução de textos de lei em cláusulas de instrumentos normativos diversos, ficará a critério do juiz definir se pode haver esse acúmulo. D) O descumprimento de qualquer cláusula constante de instrumentos normativos diversos não submete o empregado a ajuizar várias ações, pleiteando, em cada uma, o pagamento de multa referente ao descumprimento de obrigações previstas nas respectivas cláusulas. 3. (FGV_XIII_ EXAME DE ORDEM UNIFICADO_ 2014) Uma empresa, em consenso com os seus empregados e com a chancela do sindicato, realiza um acordo coletivo com prazo de vigência indeterminado. Com relação a esse caso, assinale a afirmativa correta. A) o instrumento é inválido naquilo que ultrapassar dois anos, prazo máximo de vigência deste instituto. B) o acordo é integralmente válido, já que fruto da vontade da classe trabalhadora, que possui poder de negociação. C) será válido o acordo desde que a superintendência regional do trabalho o homologue, já que a lei é omissa a respeito do prazo. D) o instrumento é inválido naquilo que ultrapassar quatro anos, prazo máximo de vigência deste instituto. Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 38 de 42 5. Gabaritos 1. B 2. D 3. A 6. Conclusão Bom pessoal, Esta aula envolveu alguns assuntos difíceis e, de tudo o que comentamos, recomendamos atenção especial para as regras sobre acordos e convenções coletivos de trabalho. Recomendamos também que todos decorem as redações antiga e atual da Súmula 277. Grande abraço e bons estudos, Prof. Antonio Daud Jr www.facebook.com/adaudjr Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 39 de 42 7. Lista de legislação, Súmulas e OJ do TST relacionados ao tema CF/88 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; CLT Art. 9º - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes. Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Art. 611 - Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho. § 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho. § 2º As Federações e, na falta desta, as Confederações representativas de categorias econômicas ou profissionais poderão celebrar convenções coletivas de trabalho para reger as relações das categorias a elas vinculadas, inorganizadas em Sindicatos, no âmbito de suas representações. Art. 613 - As Convenções e os Acordos deverão conter obrigatoriamente: I - Designação dos Sindicatos convenentes ou dos Sindicatos e empresas acordantes; II - Prazo de vigência; Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 40 de 42 III - Categorias ou classes de trabalhadores abrangidas pelos respectivos dispositivos; IV - Condições ajustadas para reger as relações individuais de trabalho durante sua vigência; V - Normas para a conciliação das divergências sugeridas entre os convenentes por motivos da aplicação de seus dispositivos; VI - Disposições sobre o processo de sua prorrogação e de revisão total ou parcial de seus dispositivos; VII - Direitos e deveres dos empregados e empresas; VIII - Penalidades para os Sindicatos convenentes, os empregados e as empresas em caso de violação de seus dispositivos.Parágrafo único. As convenções e os Acordos serão celebrados por escrito, sem emendas nem rasuras, em tantas vias quantos forem os Sindicatos convenentes ou as empresas acordantes, além de uma destinada a registro. Art. 614 - Os Sindicatos convenentes ou as empresas acordantes promoverão, conjunta ou separadamente, dentro de 8 (oito) dias da assinatura da Convenção ou Acordo, o depósito de uma via do mesmo, para fins de registro e arquivo, no Departamento Nacional do Trabalho, em se tratando de instrumento de caráter nacional ou interestadual, ou nos órgãos regionais do Ministério do Trabalho e Previdência Social, nos demais casos. § 1º As Convenções e os Acordos entrarão em vigor 3 (três) dias após a data da entrega dos mesmos no órgão referido neste artigo. § 3º Não será permitido estipular duração de Convenção ou Acôrdo superior a 2 (dois) anos. Art. 615 - O processo de prorrogação, revisão, denúncia ou revogação total ou parcial de Convenção ou Acordo ficará subordinado, em qualquer caso, à aprovação de Assembleia Geral dos Sindicatos convenentes ou partes acordantes, com observância do disposto no art. 612. § 1º O instrumento de prorrogação, revisão, denúncia ou revogação de Convenção ou Acordo será depositado para fins de registro e arquivamento, na repartição em que o mesmo originariamente foi depositado observado o disposto no art. 614. § 2º As modificações introduzidos em Convenção ou Acordo, por força de revisão ou de revogação parcial de suas cláusulas passarão a vigorar 3 (três) dias após a realização de depósito previsto no § 1º. Art. 620. As condições estabelecidas em Convenção quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em Acordo. Art. 625-A. As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representante dos empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho. Parágrafo único. As Comissões referidas no caput deste artigo poderão ser constituídas por grupos de empresas ou ter caráter intersindical. Art. 625-B. A Comissão instituída no âmbito da empresa será composta de, no mínimo, dois e, no máximo, dez membros, e observará as seguintes normas: I - a metade de seus membros será indicada pelo empregador e outra metade eleita pelos empregados, em escrutínio, secreto, fiscalizado pelo sindicato de categoria profissional; II - haverá na Comissão tantos suplentes quantos forem os representantes títulares; Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 41 de 42 III - o mandato dos seus membros, titulares e suplentes, é de um ano, permitida uma recondução. Art. 625-C. A Comissão instituída no âmbito do sindicato terá sua constituição e normas de funcionamento definidas em convenção ou acordo coletivo. Art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria. § 1º A demanda será formulada por escrito ou reduzida a tempo por qualquer dos membros da Comissão, sendo entregue cópia datada e assinada pelo membro aos interessados. § 2º Não prosperando a conciliação, será fornecida ao empregado e ao empregador declaração da tentativa conciliatória frustada com a descrição de seu objeto, firmada pelos membros da Comissão, que devera ser juntada à eventual reclamação trabalhista. § 3º Em caso de motivo relevante que impossibilite a observância do procedimento previsto no caput deste artigo, será a circunstância declarada na petição da ação intentada perante a Justiça do Trabalho. § 4º Caso exista, na mesma localidade e para a mesma categoria, Comissão de empresa e Comissão sindical, o interessado optará por uma delas submeter a sua demanda, sendo competente aquela que primeiro conhecer do pedido. Art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes. Parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas. Art. 625-F. As Comissões de Conciliação Prévia têm prazo de dez dias para a realização da sessão de tentativa de conciliação a partir da provocação do interessado. Parágrafo único. Esgotado o prazo sem a realização da sessão, será fornecida, no último dia do prazo, a declaração a que se refere o § 2º do art. 625-D. Art. 625-G. O prazo prescricional será suspenso a partir da provocação da Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a partir da tentativa frustada de conciliação ou do esgotamento do prazo previsto no art. 625-F. Art. 625-H. Aplicam-se aos Núcleos Intersindicais de Conciliação Trabalhista em funcionamento ou que vierem a ser criados, no que couber, as disposições previstas neste Título, desde que observados os princípios da paridade e da negociação coletiva na sua constituição. TST SUM-202 GRATIFICAÇÃO POR TEMPO DE SERVIÇO. COMPENSAÇÃO Existindo, ao mesmo tempo, gratificação por tempo de serviço outorgada pelo empregador e outra da mesma natureza prevista em acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa, o empregado tem direito a receber, exclusivamente, a que lhe seja mais benéfica. SUM-277 Direito do Trabalho p/ XXIII Exame da OAB Aula 10 Prof. Antonio Daud Jr www.estrategiaconcursos.com.br Página 42 de 42 As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho. SUM-374 NORMA COLETIVA. CATEGORIA DIFERENCIADA. ABRANGÊNCIA Empregado integrante de categoria profissional diferenciada não tem o direito de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo no qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria. SUM-384 MULTA CONVENCIONAL. COBRANÇA I - O descumprimento de qualquer cláusula constante de instrumentos normativos diversos não submete o empregado a ajuizar várias ações, pleiteando em cada uma o pagamento da multa referente ao descumprimento de obrigações previstas nas cláusulas respectivas. II - É aplicável multa prevista em instrumento normativo (sentença normativa, convenção ou acordo coletivo) em caso de descumprimento de obrigação prevista em lei, mesmo que a norma coletiva seja mera repetição de texto legal. SUM-449. A partir da vigência da Lei nº 10.243, de 19.06.2001, que acrescentou o § 1º ao art. 58 da CLT, não mais prevalece cláusula prevista em convenção ou acordo coletivo que elastece o limite de 5 minutos que antecedem e sucedem a jornada de trabalho para fins de apuração das horas extras. OJ-SDC-36 É por lei e não por decisão judicial, que as categorias diferenciadas são reconhecidas como tais. De outra parte, no que tange aos profissionais da informática, o trabalho que desempenham sofre alterações, de acordo com a atividade econômica exercida pelo empregador. OJ-SDI1-41 ESTABILIDADE. INSTRUMENTO NORMATIVO. VIGÊNCIA. EFICÁCIA Preenchidos todos os pressupostos para a aquisição de estabilidade decorrente de acidente ou doença profissional, ainda durante a vigência do instrumento normativo, goza o empregado de estabilidade mesmo após o término da vigência deste. OJ-SDI1-322 Nos termos do art. 614, § 3º, da CLT, é de 2 anos o prazo máximo de vigência dos acordos e das convenções coletivas. Assim sendo, é inválida, naquilo que ultrapassa o prazo total de 2 anos, a cláusula de termo aditivo que prorroga a vigência do instrumento coletivo originário por prazo indeterminado. OJ-SDI1-420 É inválido o instrumentonormativo que, regularizando situações pretéritas, estabelece jornada de oito horas para o trabalho em turnos ininterruptos de revezamento. STF SÚMULA Nº 679 A fixação de vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto de convenção coletiva.
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