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O ENSINO DE GEOGRAFIA PARA ALUNO AUTISTA DO 8ºANO DO ENSINO FUNDAMENTAL II MARTA DE ARAÚJO SOUZA CRISTINA CORREIA DE MELO Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Curso (Flex1540) – Estágio 14/12/2019 RESUMO O objetivo deste paper é caracterizar o ensino de Geografia com alunos especiais/ autista no ensino Fundamental II, em classe comum regular. O atendimento a estudantes com necessidades especiais em classe comum, é o ponto central de análise, no qual se procurou identificar semelhanças e/ou diferenças entre o plano de ensino de geografia para crianças “normais” e portadoras de autismo. A metodologia utilizada pelos docentes de Geografia para o ensino de seu conteúdo, suas concepções sobre os sentidos da educação inclusiva, autismo e o educando autismo, são elementos também destacadas para propiciar um entendimento do quadro no qual se desenvolve o atendimento a este educando. Palavras-chave: EDUCAÇÃO. GEOGRAFIA. AUTISMO 1 INTRODUÇÃO O que permeia as práticas da escola são assuntos discutidos incessantemente durante nossa formação, enquanto licenciandos, na Universidade. No entanto, existem aspectos dentro da formação acadêmica que não são colocados em evidência. A Educação Inclusiva é uma delas, pois mesmo durante a prática de ensino, essa não é discutida. Diante disso, quando um professor se depara com uma situação para qual não havia se preparado, caso das propostas inclusivas, vem a pergunta: qual estratégia utilizar? O medo frequente e até a recusa em receber e/ou trabalhar com o aluno, torna- se algo até estressante e caótico no planejamento. Segundo Pelosi (2000), a escola inclusiva parte do pressuposto de que todas as crianças podem aprender e fazer parte da vida escolar e comunitária, na medida em que a diversidade é valorizada como meio de fortalecer a turma de alunos e oferecer a todos os membros maiores oportunidades de aprendizagem. Percebe-se que apesar da legislação ser datada de alguns anos, ainda se tem entraves para sua efetivação e aceitação por parte dos docentes, sempre com a desculpa que se não está preparado para trabalhar com esses alunos, que não sabem adaptar material e mais algumas justificativas. Nesse pensamento que “a proposta de inclusão enfatiza a igualdade concreta entre os indivíduos, com o reconhecimento das diferenças” (LIMA, 2005, p.21), a efetivação de uma proposta inclusiva tem início com a revisão de práticas e pressupostos que regem o ambiente escolar e também no modo como as disciplinas escolares serão abordadas. Como educador e professor de Geografia, disciplina a princípio ligada ao visual, onde “o olhar é frequentemente tomado – sobretudo como decorrência das tradições clássicas da Geografia – como o mais importante dos sentidos da observação que fundamentam o conhecimento” (HISSA, 2002, p. 179) era de se esperar que, no campo da educação inclusiva, minhas preocupações estivessem voltadas aos alunos especiais em geral e como afunilar o aluno autista. Porém percebe-se que tanto professor de geografia como o aluno autista encontram grandes dificuldades no processo de ensino aprendizagem, característica clássica dos autistas é a dificuldade de comunicação, e apresentando o despreparo do docente em lidar com tal questão, a aprendizagem se torna comprometida. Desta forma, apontam-se algumas questões sobre educação inclusiva e ensino de Geografia, tomando como ponto de partida uma turma de 8º ano de Ensino fundamental II em escola da rede estadual de ensino, com aluno autista com grau considerado severo. Tendo como objetivo caracterizar o ensino de geografia para aluno autista, como se dá e as metodologias utilizadas para o mesmo atender o referido aluno, buscou-se área de pesquisa por perceber a carência de atendimento aos alunos especiais e o pouco avanço cognitivo e de interação social, ofertada aos mesmos. Para tentar responder, pelo menos em parte, a essas indagações, procurou-se centrar as análises em dois pontos: primeiro, o estudo de alguns documentos oficiais sobre educação inclusiva; segundo, a realização de entrevistas com os docentes de Geografia dessa escola que atuam em turmas regulares com a presença de um ou mais de um estudante autista. Partindo do princípio de que “os discursos devem ser tratados como práticas descontinuas, que se cruzam por vezes, mas também se ignoram ou se excluem” (FOUCAULT, 2001, p. 52/53) o objeto de estudo é a análise dos discursos desses docentes sobre autismo e Geografia, construídos em sua prática diária. 2. ÁREA DE CONCETRAÇÃO: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Quando se trata de autismo é preciso considerar a complexidade que permeia esta especificidade, pois este é considerado um transtorno do desenvolvimento, o mesmo enquadra-se em diversas tipologias clínicas que abrangem em si diversos sintomas á avaliar. Afetando diversas áreas do desenvolvimento biológico e social do ser, a síndrome vem sendo delineada por diagnósticos de diversas origens, e conclui-se que são muitas as características que um indivíduo autista pode ter. Estudiosos como Leo kanner (1943) e Hans Aspeger (1944) iniciaram análises sobre o tema, suas pesquisas foram relevantes aos posteriores estudos sobre o transtorno, são muitos os debates a respeito das teorias destes autores BAPTISTAS C. e col. (2002). Mas não nos prolongaremos a esta questão, tendo em vista somente a importância de considerar as primeiras definições e debates sobre autismo feitas por estes influentes autores. Muitas definições sobre a síndrome são multifatoriais e devem ser consideradas em virtude de um contexto que abrange as características biológicas, sociais e emocionais do individuo em questão, levando em consideração que não há um padrão á ser seguido, várias áreas do desenvolvimento humano podem ser afetadas pela síndrome e a intensidade dos déficits podem se distinguir entre os indivíduos, dependendo do grau da doença e seus sintomas. Categoricamente, a pessoa com autismo tem déficits relacionados á tríade comunicação socialização e imaginação, isto significa dizer que o desenvolvimento destas habilidades não se dá de maneiras satisfatórias e o bem- estar destas pessoas é afetado, pois eles irão influir diretamente no comportamento destas pessoas, desta maneira destacamos o seguinte diagnóstico com vista a esclarecer sintomas mais comuns da síndrome: “O grupo de transtornos neuropsiquiátricos, compreendendo os transtornos globais do desenvolvimento, inclui o transtorno autístico. O autismo manifesta-se em tenra idade e persiste, normalmente, durante a vida adulta. Caracteriza-se também pela anormalidade na comunicação e no desenvolvimento social e pela restrição do repertório de atividades e interesses. O autista apresenta comportamentos hiperativo, agressivo e injurioso em relação a si e aos outros, assim como pensamentos e comportamentos interferentes e repetitivos. Estima-se que 66% dos afetados mantêm severos comprometimentos no seu desenvolvimento e jamais atingem uma função social independente. Diversos são os fatores que podem desencadear o autismo, dentre os quais se incluem o desequilíbrio nos sistemas neuroquímicos e fatores genéticos.” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000, pág.22). A origem do autismo não está comprovada, ele pode se desencadear por diversos fatores, biológicos, genéticos e até sociais, sabe-se que é mais recorrente em meninos e que não existe cura específica para a síndrome, mas há uma multiplicidade de tratamentos a ser utilizados na amenização dos sintomas (MINISTÉRIO DA SÁUDE, 2000). É um desafio para qualquer profissional, trabalhar com autismo, pois, não é fácil ter que lidar com personalidades mais complexas do que as que se está acostumado, pois poucos são os que se formam em virtude deste trabalho, porém é necessário que o atendimento aconteça e a busca por metodologiasque abarquem as mais diversas possibilidades de interagir com o aluno e tentar com que a socialização ocorra, buscando superar as mais diversas dificuldades. Apesar de existir legislação e ainda legislação complementar, percebe-se que esta não é cumprida, o que acarreta mais ainda em deficiência no processo de aprendizagem da pessoa com autismo. Mas desconsiderando esse não cumprimento da lei, está á necessidade de acolher a diversidade em nossas práticas educacionais independente dos poucos recursos que nos são dados, o trabalho com educação deve superar os desafios em virtude de um bem maior: o desenvolvimento e transformação dos educandos. E nesse sentido a geografia em sua abordagem de ensino tem muito a contribuir, pois implica na construção de saberes essenciais ao desenvolvimento de habilidades do ser, pois abarca uma multiplicidade de conhecimentos e conteúdos relativos á realidade. A necessidade do conhecimento geográfico está na importância de seu caráter reflexivo, sendo este respaldado pela análise e interpretação da organização do espaço, o que se apresenta com uma das situações a serem superadas pelo aluno autista, então há de se considerar a necessidade de o professor de geografia, ir em busca de metodologias que busquem superar as dificuldades e apresenta um plano de trabalho condizente ao aluno autista. A geografia interpreta a realidade mediante as relações que se dão entre homem e natureza, através do uso de seus conceitos chave; espaço, paisagem, território, lugar e região a mesma objetiva o desvendamento da ação humana na superfície terrestre, bem como as implicações destas ações. Consideramos imprescindível o processo de reflexão sobre a realidade em que vivemos e neste sentido enfatizamos a importância da educação geográfica na vida das pessoas, pois a mesma remete a compreendermos as dimensões políticas, ambiental e sócio- econômica do mundo. 3 VIVÊNCIA DO ESTÁGIO A apresentação à escola campo de estágio aconteceu de forma muito tranquila, com boa recepção por parte da coordenação pedagógica e administrativa, após ocorreu a apresentação ao docente da disciplina de geografia, o mesmo muito receptivo e acolhedor. Foi apresentado o interesse pela área de pesquisa, e ficou acertado como seriam as observações e conversas sobre a temática de pesquisa. Durante o processo de observação percebeu-se que o aluno não é frequente as aulas na classe regular, pois seu nível de comprometimento na relação e interação social, pode inclusive trazer prejuízos a saúde e integridade física do mesmo e de seus colegas. Porém tenta-se leva-lo em alguns momentos a sala, pude observa a agitação e falta de propostas de atividades em classe que favoreçam o aluno, então o mesmo fica inerte durante estes momentos, são poucos os docentes que proporcionam a ele algum material significativo, mesmo as atividades para os alunos da classe comum, são insipidas e muito atreladas ao livro didático e com pouca ou nenhuma contextualização com a realidade dos mesmos, percebe-se então que a disciplina perde eu foco de localizar o indivíduo no tempo e espaço e levá-lo a perceber o espaço que ocupa e como poderá contribuir e modificar o mesmo. Então fui com ele para a sala de recursos multifuncional, onde o mesmo desenvolve a maioria das atividades propostas para ele. Os professores mandam algumas atividades que são realizadas pela professora de AEE (ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO), algumas atividades até se aproximam do que poderia ser interesse do aluno, porém a maioria não traz significado nenhum para ele, inclusive com pouca motivação visual. A atividade enviada pelo professor de geografia, não atende aspectos da síndrome do aluno, pois uma atividade seca e sem nenhum atrativo visual, o que não foi conseguido realizar pelo mesmo. O aluno não ler, não fala com coesão, e não escreve com clareza, então as propostas de atividade devem ser lúdicas e que desafiem e chamem a atenção dele, para sua resolução. Percebe-se que a escola busca atender as necessidades em vários aspectos, porém as propostas de sala de aula, ainda estão longe de atender a legislação e a necessidade do aluno. Outro aspecto observado e não menos importante é que a família também é pouco participativa, deixa o aluno por vezes sujo e com fome, o que o deixa muito irritado, a higiene pessoal do mesmo também é deficiente, o que causa prejuízo em seu desenvolvimento e socialização global. A professora do AEE tem boa vontade em proporcionar atividades lúdicas ao aluno, se houvesse maior interesse do professor de geografia em atender a necessidade do aluno, poderia se desenvolver um trabalho belo e de aprendizagem com aluno. Neste mesmo processo, trouxe ao docente algumas sugestões de como trabalhar com aluno, e as diversas possibilidades que a geografia apesenta, na tentativa de que o aluno possa superar suas dificuldades e ter um melhor desenvolvimento global. 4 IMPRESSÕES DO ESTÁGIO A docência é um desafio muito criterioso, pois ao entrar na vida do aluno e tentar transforma-la percebe-se a responsabilidade que isso significa, não obstante é imprescindível uma reflexão sobre o ato de ensinar, o que não é uma tarefa fácil, ao lidar com a diversidade o professor é levado a buscar em várias vertentes, possibilidades e caminhos para atender a necessidade do aluno “normal” e o aluno “especial”, notou-se que ainda está longe neste caso de atender a necessidade do aluno autista, pois o ensino da geografia mostrou-se mecanizado e até ineficiente para todos os alunos, de forma mais intensa para o aluno com autismo. O pouco interesse em apresentar uma proposta de ensino, onde a geografia atuasse na vida cotidiana dos discentes, fazendo com que o interesse pelo estudo da mesma seja fraco e banal, considerando os pontos chaves de atendimento da geografia: seus conceitos chave; espaço, paisagem, território, lugar e região a mesma objetiva o desvendamento da ação humana na superfície terrestre, estão um pouco longe de se chegar nesta vertente, porém espera-se que após algumas sugestões apresentadas ao professor, o mesmo possa refletir sobre a ação e buscar outras possibilidade de atender a necessidades de seus alunos. Considerando que as estratégias traçadas pela disciplina de geografia não atende as necessidades dos alunos e quando se reporta ao aluno autista a deficiência é mais evidente, o que caracteriza uma decepção, pois ao perceber que não está sendo trabalhado como deveria e sugestiona os autores e programas de ensino, poderíamos perceber um avanço melhora para o aluno autista. REFERÊNCIAS TAFNER, Elisabeth Penzlien; SILVA, Everaldo. Metodologia do trabalho acadêmico. Indaial: UNIASSELVI, 2011. http://www.urutagua.uem.br/014/14freitas.htm, pesquisa realizada em 10.10.2019, às 19h21. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_auti smo.pdf pesquisa realizada em 15.10.19. ENSINO DE GEOGRAFIA E AUTISMO: POR UMA PRÁTICA INCLUSIVA, disponivel em: http://falaprofessor2015.agb.org.br/resources/anais/5/1441204173_ARQUIVO_ENSIN ODEGEOGRAFIAEAUTISMO(revisado).pdf, pesquisa realizada em 20/11/2019, as 15h03 HISSA, Cássio Eduardo Viana. A mobilidade das fronteiras: inserções da geografia na crise da modernidade. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2002. PELOSI, Miryam Bonadiu. Leila Regina d’Oliveira de Paula NUNES: CARACTERIZAÇÃO DOS PROFESSORES ITINERANTES, SUAS AÇÕES NA ÁREA DE TECNOLOGIA ASSISTIVA E SEU PAPEL COMO AGENTE DE INCLUSÃO ESCOLAR. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbee/v15n1/10.pdf NASCIMENTO, ROSANGELA PEREIRA DO, PREPARANDO PROFESSORES PARA PROMOVER A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS, disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2496-6.pdfhttp://www.urutagua.uem.br/014/14freitas.htm https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf http://falaprofessor2015.agb.org.br/resources/anais/5/1441204173_ARQUIVO_ENSINODEGEOGRAFIAEAUTISMO(revisado).pdf http://falaprofessor2015.agb.org.br/resources/anais/5/1441204173_ARQUIVO_ENSINODEGEOGRAFIAEAUTISMO(revisado).pdf http://www.scielo.br/pdf/rbee/v15n1/10.pdf http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2496-6.pdf
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