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Estratégias de Escrita em Língua Portuguesa

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Língua Portuguesa
Aula 8 - Estratégias para uma boa escrita
INTRODUÇÃO
Nesta aula, vamos aprender algumas estratégias de escrita. Na aula 4, tratamos dos padrões frasais e, aqui, vamos
retomar esse tema, aplicando-o à escrita.
Será que escrever com base nesses padrões é sempre o melhor caminho? Se alterarmos essa ordem, quais serão as
implicações dessa mudança?
Quando escrevemos, devemos mencionar apenas informações principais do assunto de que pretendemos tratar?
Todas essas dúvidas serão esclarecidas ao longo desta aula.
OBJETIVOS
Reconhecer a ordem direta e o tamanho do período como estratégias de clareza.
Identificar a importância do uso de ideias acessórias ou suplementares.
Para começar esta aula, assista ao vídeo a seguir e entenda a importância da ordem direta como estratégia de clareza
na escrita:
VÍDEO
ORDEM DIRETA COMO ESTRATÉGIA DE CLAREZA
Fonte da Imagem:
Como vimos, usar a ordem direta é um ótimo recurso para tornar o texto claro e compreensível.
Você se lembra do padrão sobre o qual conversamos na
aula 2?
Identificamos que, em Língua Portuguesa, a ordem preferencial é a seguinte:
SUJEITO (S) + VERBO (V) +
OBJETO (O)
Essa é a ordem a que chamamos de direta. Para exemplificar, vamos analisar, a seguir, um texto veiculado pela mídia.
Leia um trecho de uma reportagem:
Amor eterno pelo colesterol
Durante décadas, alimentos como o ovo foram tratados ora como vilões, ora como mocinhos. Pesquisas recentes põem fim a
essa gangorra – a mais conhecida (e condenada) das gorduras não faz mal quando é levada ao organismo por meio da
alimentação.
Já não é o caso, tomando emprestado o mais conhecido verso do Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes, de um amor
que seja infinito enquanto dure, posto que é chama. Em relação ao ovo, o amor agora é eterno, incondicional, irrecorrível.
O consumo do mais eclético dos alimentos de origem animal, abundante em colesterol – a mais conhecida e condenada das
gorduras –, acaba de ser definitivamente liberado pela ciência da nutrição. [...]
Fonte: LOPES, A. D. Amor eterno pelo colesterol. Revista Veja online. Saúde. Publicação: 22 maio 2015. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/noticia/saude/amor-eterno-pelo-colesterol (http://veja.abril.com.br/noticia/saude/amor-eterno-pelo-
colesterol)>.Acesso em: 8 jul. 2015.
Você percebeu como o texto está bem escrito e transmite as ideias a que se propõe?
Considerando os padrões de escrita, seus parágrafos se mantêm, de forma geral, na ordem direta – à exceção dos adjuntos
adverbiais deslocados “Durante décadas” e “em relação ao ovo”.
Mas por que usar essa estratégia é tão importante? Vejamos...
ORDEM INDIRETA OU INVERSA
Sautchuk (2011, p. 21) afirma que:
“Se você estiver lendo uma frase que comece por qualquer termo que não seja sujeito, repare como você vai lendo,
lendo e fica à espera de que algo na frase apareça para funcionar como o tal sujeito, isto é, para funcionar como o
ponto de apoio”.
Isso acontece mesmo, não é verdade? Para ilustrar, a autora apresenta os seguintes exemplos:
No começo da noite, com as janelas fechadas, sem um único som na sala, entre móveis cobertos de pó.
No primeiro caso, a frase parece estar incompleta. Falta algo para organizar nosso pensamento, certo? De acordo com
Sautchuk (2011), aguardamos o sujeito para que o padrão SVC (Sujeito + Verbo + Complemento) se estabeleça.
No começo da noite, com as janelas fechadas, sem um único som na sala, entre móveis cobertos de pó, um estranho
vulto aparece.
Já no segundo caso, a frase está mais completa e conseguimos compreendê-la melhor, embora o sujeito apareça no
final. Aqui, identificamos a ordem indireta (glossário).
Veja, a seguir, mais exemplos da ordem inversa na escrita.
Quando invertemos a ordem das sentenças em um texto, mudamos o foco de quem nos ouve. Isso aconteceu na
reportagem que analisamos anteriormente. Veja:
Amor eterno pelo colesterol
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/amor-eterno-pelo-colesterol
Durante décadas, alimentos como o ovo foram tratados ora como vilões, ora como mocinhos. Pesquisas recentes
põem fim a essa gangorra – a mais conhecida (e condenada) das gorduras não faz mal quando é levada ao organismo
por meio da alimentação.
Vamos retomar a primeira frase da notícia:
1. “Durante décadas, alimentos como o ovo foram tratados ora como vilões, ora como mocinhos.” (ORDEM INDIRETA)
2. “Alimentos como o ovo foram tratados ora como vilões, ora como mocinhos, durante décadas.” (ORDEM DIRETA)
No primeiro caso, o foco é o tempo. Por isso, o complemento – o objeto direto – aparece destacado, o que muda a
forma como interpretamos a frase.
Já no segundo caso, quando realizamos a inversão da ordem da frase original, o foco passa a ser o tratamento dado
ao alimento. Usar a ordem direta expressa a ideia central da frase, a parte principal do sentido que queremos dar ao
que afirmamos.
Já não é o caso, tomando emprestado o mais conhecido verso do Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes, de um
amor que seja infinito enquanto dure, posto que é chama. Em relação ao ovo, o amor agora é eterno, incondicional,
irrecorrível.
Agora, vamos retomar o segundo parágrafo da reportagem:
“Já não é o caso, tomando emprestado o mais conhecido verso do Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes, de um
amor que seja infinito enquanto dure, posto que é chama.”
Aqui, as ideias principais estão expressas em negrito, e as acessórias aparecem em itálico e entre vírgulas.
Vamos a mais um exemplo?
LEIA, AGORA, O TRECHO DE OUTRA REPORTAGEM:
Fonte da Imagem:
Bolos caseiros (de ouro?) podem render até R$ 80 mil
por mês
Responsáveis por propiciar boas sensações de nostalgia das tardes na casa da vovó, os bolos caseiros são
encontrados cada vez com mais frequência nas ruas de São Paulo. Com receitas simples, eles se tornaram febre
não só entre os consumidores mas também entre empresários que desejam abrir uma franquia. O investimento
inicial pode variar de R$ 100 mil a R$ 250 mil, e o faturamento mensal, de R$ 35 mil a R$ 80 mil. [...]
Fonte: TERRA – Notícias, esportes, coberturas ao vivo, diversão e estilo de vida. Publicação: 22 maio 2015. Acesso em: 8 jul.
2015.
Você percebeu que as duas quebras na ordem direta foram intencionais? Nos dois casos, o foco recai nos aspectos
positivos de nostalgia e praticidade.
Antes de continuarmos nosso estudo, vamos fazer, a seguir, um exercício.
ATIVIDADE
1 - Coloque as frases abaixo na ordem direta:
a) De forma tranquila, a menina trouxe o bolo.
Resposta Correta
b) As crianças, de forma bem simples, as barracas construíram.
Resposta Correta
c) As bicicletas, no horário de maior trânsito, as ciclovias têm tomado.
Resposta Correta
d) O pedestre se dá mal porque correr precisa para não ser atropelado.
Resposta Correta
e) Diferentes das crianças do passado, são as crianças de hoje.
Resposta Correta
IDEIAS ACESSÓRIAS OU SUPLEMENTARES
Como já sabemos, a ordem preferencial de uma sentença é:
Caso queira ver a tradução para Libras, clique aqui.
Mas será que devemos nos prender a ela? Como podemos ampliar nosso texto?
Vejamos...
Analise, a seguir, uma crônica de Rubem Braga:
A tartaruga
Moradores de Copacabana, comprai vossos peixes na Peixaria Bolívar, Rua Bolívar, 70, de propriedade do Sr. Francisco
Mandarino. Porque eis que ele é um homem de bem.
O caso foi que lhe mandaram uma tartaruga de cerca de cento e cinquenta quilos, dois metros e (dizem) duzentos
anos, a qual ele expôs em sua peixaria durante três dias e não quis vender; e levou até a praia, e a soltou no mar.
Havia um poeta dormindo dentro do comerciante, e ele reverenciou a vida e a liberdade na imagem de uma tartaruga.
[...]
Disponível em: <http://contobrasileiro.com.br/?p=2155 (glossário)>. Acesso em: 9 jul. 2015.
Como você pôde observar, o segundo parágrafo apresentou algumas informações que, ao serem suprimidas no
primeiro, prejudicaram o efeito que o autor quis provocar.
Diante dessa constatação, concluímos:
Quebrar o padrão frasal com ideias suplementares pode sermuito importante
para que o autor expresse EXATAMENTE o que deseja.
Saiba mais
, Leia o texto completo da crônica de Rubem Braga – A tartaruga (galeria/aula8/docs/aula08_a_tartaruga.pdf).
Sautchuk (2011, p. 26) nos apresenta quatro posições possíveis a serem ocupadas por uma ideia acessória. São elas:
http://contobrasileiro.com.br/?p=2155
http://estacio.webaula.com.br/cursos/cee042/galeria/aula8/docs/aula08_a_tartaruga.pdf
VAMOS FAZER UMA ATIVIDADE!
Uma dessas posições ocupadas pela ideia suplementar é considerada menos adequada. Você saberia dizer qual
delas? Em caso positivo, justifique sua resposta.
Resposta Correta
Ordem e significado
Vamos analisar, a partir de agora, alguns exemplos de como a ordem das sentenças pode influenciar o significado do
texto como um todo:
Exemplo 1
Leia a propaganda a seguir:
Você percebeu que o foco está na maior velocidade de navegação proposta pela empresa em questão?
Exemplo 2
Agora, leia a propaganda a seguir:
Caso queira ver a tradução para Libras, clique aqui.
Já aqui, o foco está na marca: os benefícios virão depois como consequência de seu uso.
Ordem indireta como recurso de escrita
Diante de tudo o que estudamos até o momento, será sempre um problema usar a ordem indireta?
Se você acha que não, ACERTOU!
Em um texto literário, por exemplo, essa ordem inversa pode ilustrar um estilo do autor, como no Soneto de Fidelidade,
de Vinícius de Moraes:
Saiba mais
, Para saber mais sobre ordem indireta, conheça algumas Figuras de linguagem de inversão
(galeria/aula8/docs/aula08_figuras_de_linguagem_de_inversao.pdf).
http://estacio.webaula.com.br/cursos/cee042/galeria/aula8/docs/aula08_figuras_de_linguagem_de_inversao.pdf
Ordem: substantivo x adjetivo
Como vimos, na Língua Portuguesa, é comum usarmos a ordem direta de
colocação. Nesse caso, o sujeito antecede o verbo e o verbo antecede os
complementos.
Seguindo esse raciocínio, o substantivo costuma aparecer antes do adjetivo,
certo? O adjetivo é aquele que é colocado de lado, subordinado. Mas isso não
significa que NUNCA poderemos mudar essa ordem. Se o fizermos, o sentido
da sentença é que será alterado.
Vejamos alguns exemplos.
Exemplo 1
Leia as seguintes frases:
1. Ela tem cabelos negros.
2. Ela tem negros cabelos.
No segundo caso, ao antepor o adjetivo “negros” ao substantivo “cabelos”, a cor se torna
mais importante que o cabelo em si. Isso acontece por uma questão de processamento:
nosso foco recai sobre aquilo que ouvimos primeiro.
Embora essa anteposição seja um recurso de estilo, como vimos na aula 7, há uma série de
estruturas que, em função dela, perdem a força expressiva e se tornam clichês, como é o
caso de “um grave acidente”, “uma vã esperança” etc.
Exemplo 2
O que você pensaria se alguém dissesse:
Nosso velho amigo ainda mora naquela casa da esquina.
O uso do adjetivo “velho” indica idade ou afeto? Nesse caso, como a qualidade antecede o
nome, prevalece a ideia de afeto, o que demonstra certa intenção na sentença.
Exemplo 3
Uma curiosidade em relação à ordem diz respeito aos pronomes indefinidos que se
antepõem aos substantivos. Quando pospostos, eles podem perder o significado original.
Exemplos
Certo dia ≠ Dia certo
Todo dia ≠ Dia todo
Já os pronomes possessivos que se colocam após os substantivos criam belos efeitos
expressivos.
Exemplo: Quando a luz dos olhos meus [...] (Tom Jobim e Vinícius de Moraes)
O problema da ambiguidade
A partir deste momento, começaremos a conversar sobre ambiguidade. Para isso, vamos analisar a seguinte manchete
de uma notícia:
Que significados podemos atribuir a essa chamada?
Há duas leituras possíveis, quais sejam:
1. O homem praticou o atentado junto com a criança;
2. O homem salvou a criança durante o atentado.
Mas só conseguimos esclarecer o real significado dessa frase quando lemos a matéria completa: Atentado suicida
mata mais de 30 e fere 100 no Afeganistão, diz governo (glossário).
Com base na leitura do conteúdo da notícia, fica claro que a interpretação 2 faz mais sentido.
Conheça, a seguir, os tipos de ambiguidade.
CAUSAS DA AMBIGUIDADE
Como vimos, a ambiguidade traz problemas à interpretação. Há dois tipos de ambiguidade:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/04/atentado-suicida-mata-30-e-fere-80-no-afeganistao-diz-governo.html
Tipos de ambiguidade
Para entender melhor a questão da ambiguidade, assista ao vídeo a seguir.
VÍDEO
Causas da ambiguidade
Vamos conhecer, agora, algumas causas da ambiguidade?
Carneiro (2001 apud MONNERAT, 2004) apresenta algumas possíveis causas da ambiguidade estrutural, quais sejam:
1 A difícil distinção entre agente e paciente
Exemplo: A demissão do ministro causou impacto.
2 O mau uso da coordenação
Exemplo: Pedro e Maria vão desquitar-se.
3 A má colocação de palavras
Exemplo: A professora deixou a turma entusiasmada.
4 O mau uso de pronomes relativos, geralmente com dois antecedentes expressos
Exemplo: Encontrei a menina e o primo de que lhe falei.
5 A não distinção entre pronome relativo e conjunção integrante
Exemplo: O jogador falou com a secretária que mora perto daqui.
6 A indefinição de complementos
Exemplo: O pai quer o casamento logo, mas a filha não quer.
7 O mau uso das formas nominais
Exemplo: O advogado encontrou o réu entrando no tribunal.
8 O mau uso dos possessivos
Exemplo: Elas viram sua casa.
ATIVIDADE
Agora, vamos praticar! Identifique as possíveis ambiguidades das seguintes frases:
1. Ana comeu a torta em uma padaria que era muito gostosa.
Resposta Correta
2. A cantora deixou a multidão entusiasmada.
Resposta Correta
3. Vi Ana ontem correndo para o trabalho.
Resposta Correta
4. O cachorro do meu namorado sumiu ontem.
Resposta Correta
5. O gatinho da minha irmã enterrou o passarinho que encontrou no quintal.
Resposta Correta
6. Gostamos muito das fotos daquele rapaz.
Resposta Correta
7. Tenho um livro para entregar ao editor que me deixa preocupado.
Resposta Correta
8. Conheci uma professora de arte grega.
Resposta Correta
9. Meu irmão comprou o carro rápido.
Resposta Correta
10. A demissão do gerente surpreendeu a todos.
Resposta Correta
Usos da língua
Para finalizar esta aula, listamos, aqui, alguns termos da Língua Portuguesa que, quando usados de forma inadequada,
podem comprometer seu texto. São eles:
ALTERNATIVA
A palavra “alternativa” é formada pelo seguinte elemento: alter = “outro”.
Por essa razão, a expressão “outra alternativa” não é coerente. O correto é:
Eu não tenho alternativa.
EVENTUAL x POSSÍVEL
Caso queira ver a tradução para Libras, clique aqui.
“Eventualmente” = o que acontece de vez em quando
“Possivelmente” = o que pode ou deve acontecer
Exemplos
Sairemos cedo hoje eventualmente. (= isso não é comum)
Sairemos cedo hoje possivelmente. (isso pode acontecer)
INDEPENDENTE x INDEPENDENTEMENTE
“Independente” = adjetivo
“Independentemente” = advérbio
Exemplos
O Brasil é um país independente.
Sairemos cedo, independentemente de ele ter chegado.
Glossário
SÃO EXEMPLOS DE FRASES NA ORDEM INDIRETA:
Saiu
(VERBO) + ela(SUJEITO) + da sala.(COMPLEMENTO)
Da sala,
(COMPLEMENTO) + ela(SUJEITO) + saiu.(VERBO)

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