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CHESTERTON O QUE HÁ DE ERRADO COM O MUNDO TRADUÇÃO LUÍZA MONTEIRO DE CASTRO SILVA DUTRA SUMÁRIO Capa Folha de Rosto Prefácio à edição brasileira Contra o senso comum Selecionar e rejeitar Epígrafe Dedicatória a C. F. G. Masterman, M.P. Parte I – O desabrigo do homem 1. O erro médico 2. Procura-se: homem não prático 3. O novo hipócrita 4. O medo do passado 5. O templo inacabado 6. Os inimigos da propriedade 7. A família livre 8. A selvageria da domesticidade 9. A história de Hudge e Gudge 10. A opressão pelo otimismo 11. O desabrigo de Jones Parte II – O imperialismo ou o erro acerca do homem 1. O encanto do Jingoísmo 2. A sabedoria e o tempo 3. A visão comum 4. A louca necessidade Parte III – O feminismo ou o erro em relação à mulher 1. A sufragista amilitar 2. O bastão universal 3. A emancipação da domesticidade 4. O romance da parcimônia 5. A frieza de Cloé 6. O pedante e o selvagem 7. A moderna rendição da mulher 8. A marca da flor-de-lis 9. Sinceridade e forca 10. A anarquia suprema 11. A rainha e as sufragistas 12. A escrava moderna Parte IV – A educação ou o erro em relação à criança 1. O calvinismo de hoje 2. O terror tribal 3. Os embustes do meio 4. A verdade sobre a educação 5. Um brado perverso 6. Autoridade, a inevitável 7. A humildade da senhora Grundy 8. O arco-íris partido 9. A necessidade de minuciosidade 10. O caso das escolas públicas 11. A escola para hipócritas 12. A rancidez das novas escolas 13. O pai banido 14. Insensatez e educação da mulher Parte V – O lar do homem 1. O império do inseto 2. A falácia do bengaleiro 3. O terrível dever de Gudge 4. Uma dúvida Conclusão Três notas 1. Sobre o voto feminino 2. Sobre o asseio na educação 3. Sobre a propriedade do camponês Créditos O QUE FALTA AO NOSSO TEMPO Rodrigo Gurgel Quando Gilbert Keith Chesterton publicou, em 1910, O que há de errado com o mundo, talvez não imaginasse que demoraria mais de uma década para se converter à Igreja Católica Apostólica Romana. Há incrível distância, portanto, entre suas ideias – ele publicara Hereges em 1905 e Ortodoxia em 1908 – e a decisão que o transformou num dos mais respeitáveis convertidos do século XX. Mas distância, neste caso, não significa incoerência. Ao contrário, a vida de Chesterton foi – até seu batizado, a 30 de julho de 1922, no simples salão de baile do Railway Hotel, em Beaconsfield, transformado provisoriamente numa capela, pois a cidade não dispunha de templo católico – um exemplo, segundo Joseph Pearce1, de “catolicismo latente”. Assim, se voltarmos às circunstâncias pessoais em que surge O que há de errado com o mundo, não causa surpresa o bem-humorado epitáfio composto pelo escritor Edward Verrall Lucas em 1910, de maneira a sintetizar a personalidade famosa por seu “dogmatismo”: O pobre Chesterton morreu; Deus, por fim, a verdade conheceu. Nosso escritor, entretanto, estava distante de ser um crédulo exagerado ou o cego defensor de uma doutrina religiosa. Ao contrário, o que acalentava no coração era demonstrado na singeleza dos desenhos oferecidos centenas de vezes a crianças, nos quais retratava seus respectivos santos patronos; ou na transcendência de influenciar amigos e conhecidos – como fez em relação ao poeta, historiador e crítico literário Theodore Maynard, cuja conversão ocorreu logo depois de ler Ortodoxia; ou, ainda, numa desconfortável dose de angústia, fartamente demonstrada em suas biografias. Um exemplo revelador da fé de Chesterton dá-se em janeiro de 1909, quando, depois de aceitar o convite da modernista e marxista Church Socialist Quarterly, publica nesse periódico o artigo “O sentimentalismo, a cabeça e o coração”, no qual contrapõe sua visão tradicionalista às ideias que já haviam sido condenadas por Pio X, em 1907, na famosa encíclica Pascendi Dominici Grecis. Usando de sua excepcional qualidade para trabalhar com metáforas, Chesterton cria a famosa filosofia da árvore e da nuvem: [...] A árvore vai crescendo e, dessa forma, mudando, mas o que se modifica é apenas o cerco que rodeia uma parte imutável. Os anéis situados no centro continuam sendo os mesmos de quando era um broto. Deixaram de ser vistos, mas não deixaram de ser centrais. Quando nasce um ramo na parte superior de uma árvore, ele não se desprende de suas raízes, antes, ao contrário, quanto mais alto se elevam os ramos, com mais força a árvore terá de se prender às suas raízes. Este é o verdadeiro conceito do que deve ser o progresso sadio e vigoroso do homem, das cidades, ou de toda uma espécie. Mas quando os progressistas a que estou aludindo falam de evolução, não se referem a isto. Eles não desejam que mude a parte externa de um centro orgânico e permanente, como numa árvore; objetivam a modificação total e absoluta de cada parte a cada minuto, como a transformação que sofrem as nuvens. Mas se adotarmos como filosofia uma evolução similar à das nuvens, ou seja, uma evolução de algo que não tem esqueleto, não haveria lugar, então, para o passado e a civilização estaria incompleta; o que hoje existe pode desaparecer amanhã, inclusive amanhã mesmo. Pois bem, eu não creio nesse progresso perpétuo que acarreta apenas um caos perpétuo; creio na evolução orgânica, ordenada e de acordo com o projeto e a natureza de cada coisa. Penso, por conseguinte, que não pode evoluir a civilização que não esteja razoavelmente completa, e a nossa, tão científica, avançada e progressista, está irracionalmente incompleta. Para termos uma ideia da repercussão desse artigo, seria o mesmo que, mutatis mutandis, certo autor publicasse texto semelhante numa revista dirigida, atualmente, pela Teologia da Libertação. O que só poderia acontecer, convenhamos, graças a um tremendo descuido do editor... O artigo de Chesterton recebeu virulenta resposta do esquerdista Robert Dell, um tipo especial de católico, muito comum nos dias de hoje, cujo esforço foi o de provar que “o despertar da consciência social e a difusão do sentimento de compaixão não eram conquistas da Igreja, mas, sim, da Revolução Francesa”, que a “Igreja Católica era a principal força reacionária em todos os países da Europa” e, finalmente, depois de atacar Pio X, que a “Igreja papista” deveria ser destruída. Antes que Dell abandonasse o catolicismo – para transformar-se em agnóstico e revolucionário socialista –, coube ao anglicano Chesterton defender Roma. Na tréplica “A podridão do modernismo”, nosso escritor afirma, dentre outras verdades: “O dogma da Igreja limita o pensamento da mesma maneira que o axioma de Euclides sobre o sistema solar limita a ciência física: não detém o pensamento, mas lhe proporciona uma base fértil e um estímulo constante”. Resposta que o trocista Edward Verrall Lucas certamente não leu. Chesterton mantinha, de forma repetida, essas polêmicas. No mês dessa resposta a Dell, pediram-lhe também a contestação, no Hibbert Journal, de um artigo assinado por certo “Mr. Roberts”.