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conhecida a linha central do metrô de Londres. 74 Aqui Chesterton brinca com as palavras riders (“viajantes”) e raiders (“invasores”). 75 John Morley, 1º Visconde Morley de Blackburn (1838-1923), estadista liberal inglês, escritor e editor de jornal. 76 A afirmação de lorde Morley contém, em língua inglesa, um jogo com os verbos mend (“reformar”) e end (“destruir”). O jogo não é feito sem razão, como fica claro a partir da frase seguinte. 77 As Poor Laws foram um sistema de ajuda social aos pobres em Inglaterra e Gales que se desenvolveu a partir da Idade Média tardia e das leis Tudor, antes de ser codificado entre 1587 e 1598. O sistema das Poor Laws subsistiu até o surgimento do Estado de bem-estar moderno, depois da Segunda Guerra Mundial. 78 Provavelmente uma referência ao sr. Bumble, bedel responsável pela inspeção de orfanatos e asilos, da obra Oliver Twist, de Charles Dickens. TRÊS NOTAS 1. SOBRE O VOTO FEMININO Não desejando sobrecarregar este longo ensaio com muitos parênteses que escapem à tese central de progresso e exemplo, anexo aqui três notas sobre detalhes que podem ser mal compreendidos. O primeiro se refere à controvérsia feminina. Pode parecer a muitos que eu rejeitei muito rudemente a opinião de que todas as mulheres deveriam votar, ainda que boa parte delas não o deseje. Quanto a isso, diz-se constantemente que foi dada aos homens a possibilidade de votar (por exemplo, aos agricultores), embora apenas uma minoria deles seja favorável a ela. O sr. Galsworthy, um dos poucos intelectos admiráveis de nossa época, usou esse argumento na Nation. Ora, em termos gerais, a única resposta que posso dar – aqui como em todo o livro – é que a história não é uma descida em tobogã, mas um trajeto a ser reconsiderado e até mesmo retraçado. Se nós realmente impuséssemos eleições gerais aos trabalhadores livres que certamente não gostassem de eleições gerais, então isso seria uma medida inteiramente antidemocrática; se somos democratas, devemos desfazer isso. Nós queremos o que o povo quer, e não os votos do povo. E conceder a um homem, contra a sua vontade, a possibilidade de votar significa tornar a votação algo mais valioso do que a democracia assegurada por ela. Mas essa analogia é falsa, por uma clara e específica razão. Muitas mulheres sem direito a voto consideram o voto algo não feminino. Ninguém diz que boa parte dos homens sem direito a voto considera um voto algo não masculino. Nem na mais calma aldeia ou no mais quieto pântano poder-se-ia encontrar um camponês ou um mendigo que pensasse ter perdido sua dignidade sexual por fazer parte de uma ralé política. Se ele não se importava com o voto, era somente porque o desconhecia. Ele não entendia a palavra “votar” assim como não entendia a palavra “bimetalismo”. Sua oposição, se existia, era meramente negativa. Sua indiferença ao voto era realmente indiferença. Mas o sentimento feminino contra o direito, qualquer que seja seu tamanho, é positivo. Não é negativo, não é de modo algum indiferente. Tais mulheres, na medida em que se opõem à mudança, consideram-na (correta ou incorretamente) não feminina, isto é, um insulto a certas tradições afirmativas às quais estão ligadas. Há quem considere tal ponto de vista preconceituoso, mas eu nego veementemente que qualquer democrata tenha direito a sobrepujar tais preconceitos, se eles forem populares e positivos. Portanto, ele não teria direito a fazer milhões de muçulmanos votarem marcando uma cruz num papel, se eles tiverem uma predisposição a votar com uma meia-lua. A menos que se reconheça isso, a democracia será uma farsa insustentável. Se o admitirmos, as sufragistas não terão apenas de despertar uma maioria indiferente, mas terão de converter uma maioria hostil. 2. SOBRE O ASSEIO NA EDUCAÇÃO Ao reler meu protesto (que eu, honestamente, considero muito necessário) contra nossa idolatria pagã da mera ablução, vejo que ele poderá ser mal interpretado. Apresso-me a dizer que considero o asseio coisa muito importante a ser ensinada, tanto ao rico como ao pobre. Não ataco a posição positiva do sabão, mas a relativa. Que se insista no sabão! Mas que se insista ainda mais em outras coisas. Estou até a ponto de admitir que o asseio esteja próximo da piedade; mas os modernos sequer admitirão que a piedade esteja próxima do asseio. Em seus discursos sobre Tomás Becket e santos e heróis semelhantes a ele, tornam o sabonete mais importante que a alma. Eles rejeitam a piedade quando não está vinculada à limpeza. Se nós nos ressentimos disso em relação a santos e heróis antigos, deveríamos nos ressentir mais em relação aos muitos santos e heróis dos bairros pobres, cujas mãos sujas limpam o mundo. A sujeira é má, sobretudo enquanto evidência da indolência. Mas nada anula o fato de que as classes que mais se mantêm limpas são as que trabalham menos. Em relação a estas, o método prático é simples: o sabão deveria ser imposto a elas e anunciado como o que é — um luxo. Com relação aos pobres, também não é difícil harmonizar o método prático com nossa tese. Se quisermos dar sabão às pessoas pobres, deveremos nos prontificar deliberadamente a dar-lhes luxos. Se não vamos enriquecê-los o suficiente para serem limpos, então deveremos fazer enfaticamente o que fizemos com os santos. Deveremos reverenciá-los por serem sujos. 3. SOBRE A PROPRIEDADE DO CAMPONÊS Ao discorrer sobre a distribuição da propriedade ou de sua possibilidade na Inglaterra, não tratei de nenhum detalhe pelo motivo exposto no texto. Este livro trata do que está errado, errado na raiz de nossas discussões e esforços. Creio que o erro está em avançarmos por medo de recuar. É por essa razão que o socialista afirma que a propriedade já está concentrada em trustes e riquezas e, portanto, a única esperança seria concentrá-la ainda mais no Estado. Mas eu digo que a única esperança é desconcentrá-la, isto é, arrependermo-nos e retornarmos, pois o único passo adiante é o passo para trás. Porém, ao propor tal distribuição, expus-me a outro erro potencial. Ao falar de uma redistribuição arrebatadora, falo de uma determinação nos objetivos, não necessariamente de uma rudeza nos meios. Estou certo de que não é tarde demais para restaurar uma situação de equilíbrio racional das posses inglesas sem precisar apelar para o confisco. Uma política de senhoriato, adotada regularmente na Inglaterra, como já o foi na Irlanda (notavelmente na sábia e vantajosa lei do sr. Wyndham), em pouco tempo aliviaria a extremidade mais baixa da gangorra e faria a balança equilibrar-se. Quem se opõe a esse processo não diz que ele não funcionará, mas que não será levado a cabo. Se deixarmos as coisas como estão, é quase certo que cairemos no confisco. Se hesitarmos, em breve teremos de correr. Mas, se nos apressarmos, ainda teremos tempo para fazê-lo com calma. Essa questão, entretanto, não é essencial para meu livro. Tudo o que tinha a dizer entre estas duas capas é que não gosto da grande loja de Whiteley e tampouco me apraz o socialismo, uma vez que ele culminará – de acordo com os próprios socialistas – em algo muito semelhante àquela loja. É sua realização, não sua revogação. Não desaprovo o socialismo porque revolucionará nosso comércio, mas porque fará com que ele permaneça tão horrivelmente o mesmo. O que há de errado com o mundo - G. K. Chesterton Publicado no Brasil, Março de 2013 Copyright (c) 2013 by CEDET Gestor Editorial Diogo Chiuso Tradução Luíza de Castro Monteiro Silva Dutra Revisão Ronald Robson e Silvio Grimaldo de Camargo Ilustração Capa Davi Carvalho Projeto Gráfico / Editoração Arno Alcântara Júnior Conselho Editorial Adelice Godoy Cesar Kyn D’Avila Diogo Chiuso Silvio Grimaldo de Camargo Desenvolvimento de eBook Loope – design e publicações digitais www.loope.com.br Os direitos desta edição pertencem ao CEDET - Centro de Desenvolvimento Profissional e Tecnológico Rua Angelo Vicentin, 70