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1 As Posturas Negociais dos Executivos Portugueses: Competição vs. Colaboração Autoria: Filipe João de Azevedo Sobral, Fernando Manuel Pereira de Oliveira Carvalho Anais do XXVI ENANPAD, Salvador, 2002. RESUMO A ambiguidade do actual ambiente empresarial, a aceleração da mudança nos contextos organizacionais e a cada vez maior interpenetração da acção dos vários agentes económicos, tanto à escala nacional como internacional, leva a que a negociação seja hoje considerada uma competência central na administração das organizações. Assim, a capacidade de antecipar a postura negocial dos agentes com que nos relacionamos torna-se vital para a definição das estratégias negociais a adoptar. Esta nossa investigação tem como principal objectivo definir as estratégias negociais mais adoptadas e/ou defendidas pelos executivos das maiores empresas portuguesas, identificando as diferentes posturas negociais seguidas pelos executivos em ambientes empresariais complexos e incertos como aqueles que caracterizam as negociações que ocorrem ao mais alto nível empresarial. A partir de um inquérito aos executivos das 500 maiores empresas portuguesas, recebemos 231 respostas válidas que nos permitiram identificar duas posturas negociais distintas: a competição e a colaboração. Posteriormente, discutimos a relação entre estes estilos negociais e as características individuais dos inquiridos, tais como : (1) o género sexual, (2) a formação em negociação, (3) a experiência profissional e (4) a percepção do perfil do negociador de sucesso. Palavras - Chave: Negociação; Estratégias; Portugal; Administração de Empresas INTRODUÇÃO As negociações ocorrem em todos os níveis e tipos de organizações. Podem envolver um processo formal, como a negociação de contratos, mas genericamente, ocorrem sempre que indivíduos ou grupos tentam adquirir privilégios ou recursos organizacionais, sejam eles tangíveis ou intangíveis. Todas as empresas inserem-se numa rede relacional com fornecedores, clientes, concorrentes, empregados e outros parceiros que foi sendo formada através do tempo por negociações. É difícil pensar qualquer iniciativa empresarial que não necessite de uma qualquer forma de negociação. Alderson (1957) refere que a negociação é “o coroar de todo o esforço empresarial” (pág. 113). No entanto, apesar do resultado de uma única negociação poder não ter um impacto decisivo na empresa, os milhares de negociações em que tipicamente uma empresa intervêm têm, em conjunto, um enorme impacto na implementação da sua estratégia e consequentemente no seu sucesso. Bazerman e Neale (1992) concordam que as negociações organizacionais são não só mais frequentes que anteriormente, mas também que são cada vez mais complexas e cruciais devido à crescente ambiguidade e aceleração da mudança nos contextos empresariais, pelo que, cada vez mais, a negociação tem de ser considerada uma competência central da administração de empresas (Ertel, 2000). A implementação da estratégia da empresa, sai seguramente reforçada e até potenciada se os administradores adoptarem as melhores estratégias negociais em face das estratégias adoptadas pelas partes com quem necessariamente se relacionam. A capacidade de antecipar a postura negocial dos outros torna-se assim vital para a definição da própria estratégia negocial 2 e/ou para a definição das medidas a adoptar no sentido de serem provocadas as alterações necessárias ao estabelecimento do contexto negocial mais favorável. O objectivo do nosso estudo consiste em primeiro lugar na identificação das estratégias negociais mais adoptadas e/ou mais defendidas pelos executivos das maiores empresas portuguesas e depois na procura de relações entre as posturas negociais e algumas variáveis demográficas do inquirido, como sejam : (1) o sexo, (2) a formação em negociação, (3) a experiência profissional e (4) a percepção do perfil do negociador de sucesso. ESTRATÉGIAS NEGOCIAIS Em face de uma determinada situação negocial cabe ao negociador ou equipa negocial delinear uma estratégia que lhe permita alcançar os seus objectivos negociais. Savage, Blair e Sorenson (1989) propuseram um modelo para a escolha da estratégia negocial. De acordo com esse modelo, a escolha da estratégia negocial dependia da resposta a duas simples questões: (1) Qual o grau de preocupação do negociador em relação ao resultados substantivos da negociação (objectivos substantivos)? e (2) Qual o grau de preocupação que o negociador tem em relação à relação actual e futura com a outra parte (objectivos relacionais)? A resposta a estas questões resulta num mix de alternativas estratégicas apresentadas na Figura 1. FIGURA 1 – ESCOLHA DE UMA ESTRATÉGIA NEGOCIAL Colaboração Acomodação Competição Evitamento Fonte: Savage, Blair e Sorenson (1989). Como a figura 1 mostra, respondendo a estas duas questões os negociadores podem escolher de entre quatro estratégias negociais alternativas: a colaboração, a competição, a acomodação e o evitamento. Quando existe um interesse forte nos resultados concretos da negociação (por exemplo, conseguir este contrato ou ganhar esta negociação), com pouco interesse na relação com a outra parte, o negociador deverá escolher uma estratégia negocial competitiva. Por outro lado, um interesse muito forte na obtenção de resultados relacionais, seja construindo, seja preservando uma relação entre as partes, sugere uma escolha pela estratégia de acomodação. Se existir um interesse tanto nos resultados substantivos, como relacionais, o negociador deve optar por uma estratégia de colaboração. Finalmente, se nenhum dos objectivos for importante para o negociador, este deverá optar por evitar a negociação. A tabela 1 resume e compara as principais características de cada uma das estratégias negociais activas – competição, colaboração e acomodação. O RESULTADO SUBSTANTIV O É IMPORTANTE? O RESULTADO RELACIONAL É IMPORTANTE? Sim Sim Não Não 3 TABELA 1 – CARACTERÍSTICAS DAS ESTRATÉGIAS NEGOCIAIS COMPETIÇÃO COLABORAÇÃO ACOMODAÇÃO ESTRUTURA DO PAYOFF Normalmente um montante fixo de recursos para dividir Normalmente um montante variável de recursos para dividir Normalmente um montante fixo de recursos para dividir A TITUDE NA PROCURA DE OBJECTIVOS Procura de objectivos próprios à custa dos objectivos contrários Procura dos objectivos comuns em conjuntos com a outra parte Subordinação dos objectivos próprios em detrimento dos objectivos contrários RELAÇÃO Relação de curto-prazo, onde as partes não esperam voltar a negociar no futuro; Relação formal e distante Relação de longo-prazo, onde as partes esperam voltar a negociar no futuro; Relação informal, de confiança mútua e altruísta Podem ser de curto-prazo (deixar o outro ganhar para manter a paz) ou de longo- prazo (para encorajar a reciprocidade no futuro) M OTIVAÇÃO PRINCIPAL Maximizar o resultado próprio Maximizar o resultado conjunto Maximizar o resultado contrário ou deixar a outra parte ganhar para melhorar a relação A BERTURA E CONFIANÇA Ambiente de secretismo e uma postura d efensiva devido à pouca confiança nos outros Confiança e abertura, com a exploração conjunta das alternativas Uma abertura relativa, expondo as vulnerabilidades próprias à outra parte CONHECIMENTO DAS NECESSIDADES As partes conhecem apenas as suas necessidades, escondendo-as ou distorcendo-as; As partes nunca deixam os outros conhecer as suas reais necessidades. As partes conhecem e expõem as suas reais necessidades enquanto procuram responder às necessidades dos outros Uma das partes é excessivamente aberta às necessidades dos outros, reprimindo as suas próprias necessidades OBJECTIVO DA COMUNICAÇÃO Definição das exigências, identificação das restrições e persuasão da outra parte Partilha dos problemas, ajuda mútua e criação de alternativasIdentificação das necessidades contrárias para a sua satisfação A GRESSIVIDADE As partes usam ameaças e bluffs para manter uma vantagem sobre o adversário As partes partilham honestamente a informação, tratando-se com compreensão e respeito Uma parte cede a sua posição para agradar à outra COMPORTAMENTO NA PROCURA DA SOLUÇÃO As partes defendem as suas posições, usando argumentação e manipulação para convencer os outros As partes fazem um esforço para encontrarem soluções mutuamente satisfatórias, usando a lógica e a criatividade Uma das partes faz um esforço para se acomodar aos interesses da outra M EDIDAS DE SUCESSO Sucesso é medido pela criação de uma boa imagem própria e pela má imagem no adversário Sucesso mede-se pela consideração das ideias e do seu mérito Sucesso mede-se pela minimizarão ou evitamento de conflito; os sentimentos próprios são ignorados em favor da harmonia A TITUDE PRINCIPAL “Eu ganho, tu perdes” “Qual a melhor maneira para respondermos às necessidades de todos os envolvidos?” “Eu perco, tu ganhas” Fonte: Adaptado de Johnston (1982) 4 Como se pode ver na tabela 1, a estratégia de negociação competitiva ou distributiva foca-se na maximização dos resultados próprios, apenas cedendo o necessário para conseguir um acordo. Cada parte vê o outro como um adversário e debate-se quase exclusivamente em termos de quem fica com que “fatia do bolo”. A única informação que as partes partilham é aquela que defende os seus ponto de vista, ou que aumenta as suas hipóteses de vitória. Por sua vez, uma estratégia de colaboração é rodeada de um ambiente de abertura e confiança mútua, no qual as partes partilham livremente informação e ideias. A colaboração significa um esforço conjunto direccionado na procura de uma solução que será benéfica para ambas as partes. No entanto, a colaboração não significa que se evitem ou suavizem as diferenças. Ao contrário, reconhece-as como necessárias, inevitáveis e mesmo desejáveis, uma vez que serão as diferenças que gerarão a tensão criativa que proporcionará uma solução final de qualidade (Ware, 1980). Finalmente, a estratégia de acomodação é usada quando o principal objectivo é construção ou o fortalecimento da relação com a outra parte, pelo que o negociador está disposto a fazer um sacrifício do seu resultado negocial. A lógica da aceitação de um resultado menos favorável prende-se à expectativa de uma reciprocidade numa negociação futura. Cialdini (1993) sugere que essa reciprocidade é, de facto, o que mantêm os grupos sociais unidos. ESTILOS DE GESTÃO DE CONFLITOS A gestão de situações de conflito é uma parte central do processo negocial. No entanto, os indivíduos diferem quanto às suas orientações preferenciais para lidar com estas situações de conflito. Existem dois níveis de preocupações que influenciam claramente o estilo de gestão de conflito de cada negociador: a preocupação com os interesses próprios e a preocupação com os interesses dos outros (modelo de interesses duais ou dual concern model). Thomas e Kilmann (1974) propõem um modelo em que interpreta estas duas dimensões em termos psicológicos: o grau de assertividade e o grau de cooperativismo, identificando cinco estilos de gestão de conflitos – Figura 2. Um indivíduo pode, por exemplo, ser muito competitivo e por isso mesmo ter tendência para uma estratégia de força - imposição do seu ponto de vista -, mesmo que o objecto de divergência seja para ele pouco importante ou significativo. Da mesma forma, características de baixa assertividade (timidez) podem levar um indivíduo a acomodar-se, ou seja, a ceder em pontos de elevado interesse para ele. Para estes autores, a atitude individual face ao conflito seria então um factor adicional a ter em conta, susceptível de moderar a natureza objectiva da situação. De acordo com investigações posteriores concluiu-se os estilos de gestão de conflitos variavam por dois tipos de razões: a natureza da situação (i.e., os negociadores racionalizam as estratégias a utilizar de acordo com a situação) e a tendência individual para a utilizar um determinado estilo independentemente da situação (Kilmann e Thomas, 1977). Também se verificou que os estilos de gestão de conflitos se relacionam com outras características de personalidade. Thomas (1976) verificou que o maquiavelismo poderá estar associado a uma preferência do estilo de compromisso. Outras relações estabelecidas sugerem que o estilo competitivo está associado a uma tendência para correr menos riscos, a um maior controlo interno, a elevadas necessidades de poder e controlo e a baixas necessidades de afiliação. Da mesma forma, os indivíduos com mais orientação para a colaboração seriam mais criativos e dotados de maior complexidade cognitiva, ou seja, de maior capacidade de diferenciar e integrar conceitos e situações. 5 FIGURA 2 – ESTILOS DE GESTÃO DO CONFLITO Fonte: Adaptado de Thomas & Kilmann (1974). O modelo Thomas-Kilmann foi sem dúvida uma abordagem simplificadora e muito coerente para analisar os efeitos das características individuais na negociação. Vários estudos posteriores (por exemplo, Pruitt e Rubin, 1986; van de Vliert e Prein, 1989; O’Connor, 1997; O’Connor e Carnevale, 1997), explorando estas duas dimensões, têm corroborado amplamente a validade do modelo. Utilizando o modelo de Thomas-Kilmann, Dallinger e Hample (1995) realizaram um estudo em que analisavam a forma como os indivíduos encaravam as situações de conflito. Para estes investigadores, aqueles que levam as situações de conflito para uma dimensão pessoal sentem-se, com muito mais probabilidade, ameaçados, ansiosos, desvalorizados e mesmo insultados por uma determinada situação de conflito. Também concluíram que aqueles que assumem as situações de conflito de um ponto de vista pessoal: (1) preferem estilos de gestão de conflitos que evitem o confronto (evitamento e acomodação), (2) preferem superiores hierárquicos que tenham um estilo de compromisso; e (3) sentem-se perseguidos e reagem em stress quando confrontados com superiores que usem um estilo competitivo na gestão de conflitos. METODOLOGIA No nosso estudo tivemos como um dos objectivos primordiais a obtenção de respostas por parte de gestores e executivos habituados a negociar em diversas situações negociais, que não estivessem condicionados a um caso negocial concreto, mas com a riqueza da uma experiência multifacetada e o conhecimento profundo da realidade empresarial e negocial portuguesa. Também era importante que os inquiridos não estivessem condicionados por tempo ou observações nossas, uma vez que esse tipo de recolha de dados poderia distorcer os resultados obtidos. Assim, um inquérito postal pareceu-nos a melhor forma de garantir a validade do estudo e simultaneamente, garantir a sua representatividade. A necessidade de obter opiniões de executivos que tenham uma experiência negocial rica e variada em diversos contextos empresariais, levou à escolha, como população objecto deste estudo, dos gestores e executivos das empresas portuguesas. Para garantir a representatividade e validade do nosso estudo utilizamos como amostra os executivos das 500 maiores empresas portuguesas. Para além de aumentar a fiabilidade e coerência das respostas obtidas, uma vez que os quadros superiores e gestores destas organizações têm, quase sempre, um trajecto e uma experiência pessoal marcada por diversas situações negociais o que lhes permite dar uma opinião mais ASSERTIVO NÃO COOPERATIVO COOPERATIVO COMPETIÇÃO COLABORAÇÃO COMPROMISSO ACOMODAÇÃO EVITAMENTO NÃO ASSERTIVO 6 abalizada sobre estas questões, as 500 maiores empresas portuguesas incluem empresas de diversas dimensões e diversos sectores de actividade, sendo por isso, no nosso entender, representativa da realidade empresarial portuguesa. Utilizamos um inquérito onde os inquiridos eram questionadospara darem a sua opinião sobre um conjunto de comportamentos, atitudes e percepções de diversas situações negociais. Essas opiniões pretendiam acima de tudo perceber a atitude negocial dos inquiridos, isto é, a forma como acham que se deve abordar a negociação, o nível de abertura e confiança que devem ter com a outra parte, a pertinência da utilização de um conjunto de tácticas, etc. Para a elaboração deste conjunto de questões baseamo-nos num inquérito desenvolvido por Lewicki, Saunders e Minton (2000). Sendo a nossa amostra constituída por executivos das 500 maiores empresas portuguesas, este inquérito pareceu-nos mais pertinente do que o inquérito desenvolvido por Thomas-Kilmann, uma vez que admitimos que os principais executivos portugueses adoptando normalmente uma gama variada de comportamentos negociais, na prática, dado que os comportamentos de sujeição ou inacção não são assertivos, tenderão para a adopção de comportamentos proactivos do estilo competitivo ou colaborativo (Vasconcelos, 1993). Apesar de sabermos que o comportamento dos negociadores depende da situação negocial e do oponente, nomeadamente qual o grau de preocupação tida pelo negociador em relação aos resultados próprios e dos outros interessados na negociação (Vasconcelos-Sousa, 1992), interessa-nos perceber qual tendência individual para a utilizar de um determinado estilo independentemente da situação. Isto é, interessa-nos perceber em que ponto do espectro contínuo competição-colaboração os inquiridos se encontram, tentando assim definir diferentes posturas negociais. Para isso, pedimos a sua opinião sobre as seguintes atitudes e comportamentos negociais (utilizamos uma escala de Lickert de 7 posições variando de 1 - absolutamente em desacordo até 7 – absolutamente de acordo): - Um bom negociador deve ser agressivo, i.e., deve tomar a iniciativa se quiser alcançar os seus objectivos; - A honestidade e abertura são necessárias para chegar a um acordo justo; - Um negociador deve manter uma expressão impassível (cara de jogador poker): nunca se deve transparecer as suas emoções até à conclusão do acordo; - Uma ameaça sem resposta será interpretada pelo outro como sinal de fraqueza; - Numa negociação o mais importante é ganhar; - O melhor resultado duma negociação é aquele que for justo para todas as partes; - A maior parte dos resultados duma negociação pode ser alcançada através da cooperação entre as partes; - Os princípios são “muito bonitos” mas por vezes há que entrar em compromisso para alcançar os objectivos; Dos 764 inquéritos enviados aos executivos das 500 maiores empresas portuguesas em Maio de 2001 obtivemos 255 respostas das quais 24 foram anuladas devido à detecção de irregularidades preenchimento do inquérito. Resumindo, no final do trabalho de campo obtivemos 231 respostas válidas. Como podemos observar, a taxa de respostas é particularmente elevada para este tipo de inquérito, 33,4 % para as respostas recebidas e 30,2% para respostas válidas. 7 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS As 231 respostas válidas recebidas do inquérito aos executivos e gestores das 500 maiores empresas portuguesas permitem-nos uma primeira análise de algumas características demográficas que caracterizam esta amostra de modo a que possamos enquadrar o estudo de uma forma abrangente e ampla. O elevado número de respostas, associado a uma taxa de resposta superior a 30% atesta não só a importância e relevância atribuída ao tema em si, como garante a representatividade deste nosso estudo. Os executivos da nossa amostra apresentam em média uma idade de 50,17 anos e 25,21 anos de experiência profissional, o que revela que se tratam de indivíduos com uma maturidade e conhecimentos consolidados por uma carreira longa. Como foram seleccionados apenas gestores das maiores empresas portuguesas este parece-nos um resultado aceitável e normal, uma vez que para atingir um lugar de topo nestas empresas é necessário comprovar a sua competência ao longo de vários anos de actividade. Relativamente ao sexo dos inquiridos a amostra apresenta uma predominância do sexo masculino. Dos 224 inquiridos que indicaram o sexo, apenas 20 (menos de 9%) eram do sexo feminino, enquanto que a esmagadora maioria era do sexo masculino. A tabela 2 apresenta os resultados sobre a opinião dos inquiridos sobre o conjunto de atitudes e comportamentos negociais apresentados anteriormente. Nomeadamente, procura identificar a opinião dos inquiridos sobre a postura negocial percepcionada por estes como correcta em diversas situações negociais. Escala de Lickert de sete posições variando de 1 (absolutamente em desacordo) até 7 (absolutamente de acordo). TABELA 2 – COMPORTAMENTOS E ATITUDES DOS EXECUTIVOS PORTUGUESES (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) MÉDIA 1. Um bom negociador deve ser agressivo, i. e., deve tomar a iniciativa se quiser alcançar os seus objectivos. 9 27 42 23 71 51 8 4,32 2. A honestidade e abertura são necessárias para chegar a um acordo justo. 2 1 4 8 48 95 73 5,93 3. Um negociador deve manter uma expressão impassível: nunca deve transparecer as suas emoções até à conclusão do acordo. 7 27 29 28 61 66 13 4,55 4. Uma ameaça sem resposta será interpretada pelo outro como um sinal de fraqueza. 13 31 35 32 47 51 22 4,34 5. Numa negociação o mais importante é ganhar. 20 34 32 31 48 37 29 4,21 6. O melhor resultado de uma negociação é aquele que for justo para todas as partes. 2 3 8 11 31 67 109 6,04 7. A maior parte dos resultados de uma negociação pode ser alcançada através da cooperação entre as partes. 1 4 4 13 35 97 77 5,93 8. Os princípios são “muito bonitos” mas por vezes há que entrar em compromisso para alcançar os objectivos. 7 15 15 21 63 83 27 5,06 Os resultados da tabela 2 permitem-nos retirar algumas conclusões importantes. Primeiro, parece consensual que os inquiridos interpretam a negociação como uma actividade conjunta 8 e não individual. Isto é, em negociação só partilhando informação as partes poderão identificar os assuntos em que divergem e, consequentemente, propor alternativas e soluções que sejam aceitáveis para ambas as partes. Por isso, a quase totalidade dos inquiridos (93,5%) concorda que para chegar a uma solução justa para ambas as partes, os negociadores devem manter uma conduta negocial honesta e aberta coma outra parte (variável 2), 89,6% concorda que o melhor resultado de uma negociação é aquele que for justo para ambas as partes (variável 6) e mais de 90% acreditam que os resultados devem ser alcançados em colaboração com a outra parte (variável 7). Curioso é o resultado obtido relativamente à variável 5. Os resultados demonstram a existência de duas posturas negociais típicas. Uma é a competição, onde o negociador procura acima de tudo vencer o seu adversário. O que um ganha ou outro perde, pelo que é importante maximizar os resultados próprios à custa dos do seu oponente. Outra atitude possível é a colaboração. Este tipo de negociadores acredita que, se ambos colaborarem na procura de uma solução que os satisfaça a ambos, encontrando assuntos que, pela diferente valorização que ambos lhe atribuem, possibilitem cedências com ganhos mútuos, obtêm melhores resultados do que se optarem pela via competitiva. 49,4% dos executivos portugueses acreditam que ganhar é o mais importante, enquanto que 37,2% não concordam com esta atitude negocial. Para eles, mais importante que a vitória numa negociação específica é a satisfação pela obtenção de um acordo justo ou a manutenção e reforço de uma boa relação com a outra parte. O que é estranho é que alguns dos que concordam que o mais importante é ganhar ao seu oponente (variável 5), também acreditam que o melhor resultado é aquele que for justo para todas as partes (variável 6) e que a cooperação é necessária (variável 7). Uma explicação pode ser que, apesar de reconheceram que um acordo justo é o melhor possível para ambas as partes, preferemuma acordo que maximize os seus proveitos em detrimento dos do seu oponente. Outra explicação possível é que acreditam que podem ganhar mesmo chegando a um resultado justo para ambos. Outra ainda pode ser a cooperação como via de maximização dos seus ganhos individuais, isto é, numa primeira fase a procura de assuntos convergentes que aumentem o valor global do “bolo” a negociar, para posteriormente competir na sua distribuição. Resumindo, primeiro cooperar para criar valor, depois competir para distribuí-lo. Relativamente aos restantes resultados as opiniões parecem dispersar-se. Por exemplo, em relação à expressão de emoções as opiniões dividem-se (variável 3). Como podemos concluir da análise da tabela 2 a maioria dos inquiridos considera que é importante não exprimir qualquer emoção até à conclusão do acordo. Apesar de tudo, apenas 5,6% estão completamente de acordo com este tipo de postura negocial. Contrariamente, 27,3% dos inquiridos acreditam que um negociador pode, ou deve, exprimir emoções, pois isso não só não o prejudica como pode beneficiá-lo. A opinião sobre a variável 4 ajuda a interpretar o efeito da utilização de tácticas de força, como por exemplo ameaças, na negociação. Este tipo de tácticas pode ter um impacto muito negativo, não só na negociação em causa, como na relação entre as parte, pelo que deve ser utilizada apenas como um último recurso, e ponderando sempre as consequências da sua utilização. A maioria dos inquiridos (51,9%) acredita que em face de uma ameaça um negociador deve responder activamente, pois caso contrário, a sua posição fica enfraquecida. No entanto, 34,2% discordam desta posição pois acreditam que a melhor forma de reagir a uma ameaça é exactamente não respondendo. Por fim, podemos referir a variável 8 para concluir que, apesar de não ser unânime, por vezes os negociadores têm que comprometer os seus princípios para alcançar os seus objectivos. No entanto, como já foi referido, existem aqueles (16%) que acreditam que um negociador nunca deve violar os seus princípios, independentemente dos objectivos. Apesar de tudo, a grande maioria (74,9%) concorda que, por vezes, existe a necessidade de fazer compromissos que violem determinados princípios para poder chegar a uma solução. 9 POSTURAS NEGOCIAIS DOS EXECUTIVOS PORTUGUESES Para perceber até que ponto estas diferentes opiniões têm subjacente a mesma postura negocial, indicando as variáveis que estão relacionadas entre si e as que não estão, decidimos fazer uma análise factorial de componentes principais. O teste de Bartlett (sig. 0,0000) indica- nos que existe uma correlação entre as variáveis analisadas suficientemente grande para justificar a factorização da matriz dos coeficientes de correlação. Confirmando este resultado, o KMO é 0,656 valor que considera a análise factorial razoável, permitindo a sua prossecução. Da AFCP foram extraídos 2 factores com um valor próprio superior a 1 que explicam, no seu conjunto, 61,994% da variância total da amostra. De seguida, apresentamos os pesos de cada variável nos factores retidos após rotação varimax, interpretando cada um desses factores. TABELA 3 – FACTOR 1 – POSTURA COLABORATIVA CARGA DO FACTOR O melhor resultado de uma negociação é aquele que for justo para todas as partes. 0,842 A maior parte dos resultados de uma negociação podem ser alcançados através da cooperação entre as partes. 0,811 A honestidade e abertura são necessárias para chegar a um acordo justo. 0,688 Numa negociação o mais importante é ganhar. -0,303 Este factor agrega as variáveis relacionadas com uma atitude cooperativa por parte dos negociadores. Todas estas variáveis indicam uma postura negocial colaborativa, onde a honestidade e abertura são fundamentais para garantir um resultado justo e satisfatório para ambas as partes. Este tipo de postura requer dos negociadores não uma maximização dos resultados próprios em detrimento do seu oponente, mas uma procura conjunta de uma solução que, solucionando o conflito de interesses, maximiza os resultados globais conjuntos. Por tudo isto, denominamos este factor de Postura Colaborativa. Curioso, e confirmando a interpretação deste factor é a carga negativa atribuída à competitividade e desejo de vitória dos negociadores. TABELA 4 – FACTOR 2 – POSTURA COMPETITIVA CARGA DO FACTOR Numa negociação o mais importante é ganhar. 0,681 Um negociador deve ser agressivo, i.e., deve tomar a iniciativa se quiser alcançar os seus objectivos. 0,652 Uma ameaça sem resposta será interpretada pelo outro como um sinal de fraqueza. 0,605 Os princípios são “muito bonitos” mas por vezes há que entrar em compromisso para alcançar os objectivos. 0,433 Um negociador deve manter uma expressão impassível (cara de jogador de poker): nunca deve transparecer as suas emoções até à conclusão do acordo. 0,432 O segundo factor agrega as variáveis que caracterizam uma postura negocial competitiva. Como podemos verificar, valoriza a competitividade e a agressividade negocial, tanto ao nível da iniciativa, como na interacção com a outra parte. Com menor peso, mas confirmando esta interpretação aparece outras duas variáveis. Por um lado, o controlo das emoções está 10 claramente relacionado com uma postura mais competitiva, uma vez que para este tipo de negociadores é importante não transmitir aos oponentes os seus reais interesses, não dando informção gratuita que os coloque numa posição desfavorável. Numa postura colaborativa isso não seria tão importante, uma vez que ambos os negociadores partilham abertamente os seus interesses, sentimentos e pontos de vista. Também importante é a preocupação demonstrada pela maximização dos seus resultados, mesmo que para isso tenha que se comprometer alguns princípios. Assim, denominámos este factor de Postura Competitiva. Um resultado curioso é a existência de apenas duas posturas negociais. Apesar de o modelo de Thomas e Kilmann apresentarem cinco estilos de gestão de conflitos, a nossa análise apenas encontra dois estilos dominantes. Tal facto pode ser explicado pela amostra e pelo inquérito utilizados. Como baseamos a nossa investigação nos executivos e administradores das maiores empresas portuguesas seria de esperar que estes demonstrem um carácter assertivo. Assim revelam-se apenas duas posturas que se distinguem pelo maior ou menor grau de competitividade ou de cooperatividade. COMPETITIVOS VS. COLABORATIVOS Identificadas as variáveis que caracterizam uma postura negocial colaborativa e competitiva, procederemos à análise de clusters que permitirá encontrar grupos homogéneos de indivíduos relativamente à sua abordagem à negociação. Para agrupar os indivíduos em clusters utilizaremos o método hierárquico “dentro dos grupos” (within groups). Nesta análise, os clusters formam-se com base nos pares de casos mais próximos de acordo com o quadrado da distância Euclideana. Da análise obtivemos dois grupos, um primeiro grupo com 162 indivíduos e um segundo com 69. O cluster 1 tem uma média negativa relativamente ao factor 1 (média -0,206) e positiva quanto ao factor 2 (média +0,484). O contrário se passa com o cluster 2 (média do factor 1 +0,460 e média do factor 2 –1,079). Isto quer dizer que os indivíduos que compõem o cluster 1 são os mais competitivos, e os que compõem o cluster 2 os mais colaborativos. Convém referir que, apesar de o cluster 1 agregar os indivíduos mais competitivos, não quer isto dizer que estes sejam desonestos ou não considerem que um resultado justo é o melhor para ambas as partes. Como concluímos anteriormente, uma postura competitiva pode pressupor alguma colaboração. A grande diferença está na atitude mais agressiva com que o negociador procura satisfazer os seus interesses individuais. Por isso mesmo, a diferença de médias para o factor 1 (postura colaborativa) é substancialmente diferente da diferença de médias para o factor 2 (postura competitiva). Isto permite-nosconcluir que enquanto que os mais competitivos (cluster 1) acreditam que podem cooperar com a outra parte para encontrar alternativas satisfatórias, mesmo mantendo uma postura que procure maximizar os seus resultados individuais, os mais colaborativos (cluster 2) acreditam numa colaboração num ambiente de total abertura e honestidade que contraria o espírito de competição puro. Para confirmar estas análises fizemos a análise discriminante múltipla. Os coeficientes da função discriminante confirmam os resultados da análise factorial de componentes principais uma vez que todas as variáveis que compõem o factor 1 (postura colaborativa) aparecem com sinal negativo e todas as variáveis que constituem o factor 2 (postura competitiva) apresentam um coeficiente positivo. Em relação à matriz de estrutura é importante referir que a variável que mais discrimina os grupos é a competitividade (variável 5 - coeficiente 0,575). Isto confirma as conclusões anteriores quando referimos que os dois grupos encontrados variavam sobretudo na sua atitude competitiva. Isto é, apesar da atitude colaborativa ser diferente (o que 11 se confirma pela análise discriminante, onde todas as variáveis “colaborativas” apresentam um coeficiente negativo), a principal diferença consiste nas variáveis “competitivas”. Como tínhamos referido anteriormente, a principal diferença entre os grupos não era a atitude colaborativa, pois ambos acreditam (com algumas diferenças) que é importante cooperar com a outra parte na procura de uma solução satisfatória e justa, mas na atitude competitiva. Por último, as médias (centróides) da função discriminante nos dois grupos permitem-nos concluir que o grupo 1 (média da função discriminante 0,815) agrega os indivíduos com uma postura competitiva e o grupo 2 (média da função discriminante –1,913) inclui os indivíduos com uma postura negocial colaborativa. RELAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DOS INQUIRIDOS E A SUA POSTURA NEGOCIAL Para perceber a relação existente entre as características demográficas dos inquiridos e a sua postura negocial (competitiva ou cooperativa) fizemos análise cruzada entre as suas características individuais e os factores que definem as diferentes posturas negociais. GÉNERO SEXUAL Uma primeira análise a realizar será a influência do sexo do inquiridos na postura negocial. Como referido anteriormente, a nossa amostra apenas incluía 9% de mulheres (20 respostas) pelo que os resultados podem não ser representativos. Os resultados obtidos da análise da variância e do teste de Kruskal-Wallis são apresentados na tabela 5. TABELA 5 – GÉNERO SEXUAL POSTURA NEGOCIAL MÉDIA HOMENS (204 RESPOSTAS) MÉDIA MULHERES (20 RESPOSTAS) ONE-WAY ANOVA (SIG.) KRUSKAL WALLIS (SIG.) Factor 1 - Postura Colaborativa -0,02336 0,19289 0,355 0,212 Factor 2 - Postura Competitiva -0,01021 0,05869 0,771 0,753 Como podemos verificar ao analisar a tabela 5, não existem diferenças estatisticamente significativas entre a postura negocial das mulheres e a dos homens. Apesar de serem bastante mais colaborativas, como a média do factor 1 demonstra, essa diferença não é suficiente para ser estatisticamente relevante a um nível de significância de 0,05. FORMAÇÃO EM NEGOCIAÇÃO Também a formação em negociação pode provocar a alteração da postura negocial dos inquiridos. Das 221 respostas sobre a frequência, ou não, de acções de formação em negociação, 121 (55% da amostra) são afirmativas. A Tabela 6 apresenta os resultados da média de cada um dos factores referidos em função da formação em negociação dos inquiridos, bem como a respectiva análise da variância e o teste não-paramétrico de Kruskal- Wallis. TABELA 6 – FORMAÇÃO EM NEGOCIAÇÃO POSTURA NEGOCIAL MÉDIA COM FORMAÇÃO (121 RESPOSTAS) MÉDIA SEM FORMAÇÃO (100 RESPOSTAS) ONE-WAY ANOVA (SIG.) KRUSKAL WALLIS (SIG.) Factor 1 - Postura Colaborativa -0,06421 0,06980 0,323 0,515 Factor 2 - Postura Competitiva -0,24732 0,26569 0,000 0,000 12 Podemos verificar que a formação em negociação aparece como um factor importante na atitude negocial já que os resultados revelam uma diferença bastante acentuada relativamente à postura competitiva. Os inquiridos sem formação específica em negociação apresentam uma muito maior predisposição para comportamentos competitivos. O papel da formação parece aqui evidente, ajudando a alterar as atitudes e comportamentos dos executivos relativamente à negociação. Uma atitude competitiva pode não permitir um saudável reconhecimento das diferenças entre as partes e, consequentemente, levar a acordos pouco satisfatórios. A formação ajuda a compreender que uma competição é o pior caminho para chegar a resultados individuais e relacionais óptimos. O ideal é colaborar para criar valor, descobrindo interesses e necessidades mútuos, e posteriormente, competir para dividir o valor criado. A competição desde o momento inicial inibe a maximização dos resultados, algo que a formação ajuda a compreender. EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL A experiência profissional do inquirido é outra característica que pode ter influência no estilo de gestão de conflitos. Como vimos anteriormente, a experiência profissional média da amostra é de aproximadamente 25 anos, pelo que subdividimos a amostra em dois grupos, um com indivíduos com menos de 25 anos e outro com mais de 25 anos de experiência profissional. Os resultados são aqueles que apresentamos na tabela 7. TABELA 7 – EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL POSTURA NEGOCIAL MÉDIA EXP.< 25 ANOS (102 RESPOSTAS) MÉDIA EXP.> 25 ANOS (110 RESPOSTAS) ONE-WAY ANOVA (SIG.) KRUSKAL WALLIS (SIG.) Factor 1 - Postura Colaborativa -0,04525 0,03563 0,561 0,588 Factor 2 - Postura Competitiva -0,19030 0,11874 0,035 0,037 Relativamente à experiência profissional, os resultados obtidos são extremamente curiosos. Quando seria de esperar que a experiência tivesse o mesmo papel que a formação, os resultados revelam exactamente o contrário. Neste caso, os inquiridos mais experientes distinguem-se por apresentarem um estilo negocial mais competitivo. Apesar da diferença não ser tão extremada como no caso da formação (nível de sig. 0,035 vs. 0,000), os resultados indicam que os executivos mais experientes aceitam, relativamente mais, uma postura negocial competitiva. A experiência em negociação que revelam os nossos inquiridos pode ter sido obtida em ambientes mais competitivos. Não nos podemos esquecer que a importância da negociação como capacidade distintiva assim como a colaboração e cooperação empresariais são temas e posturas relativamente novos na prática empresarial. RELAÇÃO ENTRE A POSTURA NEGOCIAL DOS INQUIRIDOS E AS PERCEPÇÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS CARACTERÍSTICAS DOS NEGOCIADORES Sendo este estudo uma parte de uma investigação mais ampla onde também inquiríamos os executivos portugueses sobre a importância de um conjunto de 52 características que distinguem um negociador superior, achamos pertinente perceber a relação que existe entre a postura negocial dos inquiridos e as suas percepções relativamente às características que distinguem um negociador eficaz. Assim, fizemos análise cruzada entre os grupos (clusters) e os factores resultantes da AFCP sobre as características dos negociadores. Essa análise permitiu-nos identificar quinze dimensões do perfil negocial: (1) a preparação; (2) o 13 desempenho; (3) a imagem; (4) a demografia; (5) a complexidade cognitiva; (6) a agressividade; (7) a colaboração; (8) a comunicação verbal; (9) a perseverança; (10) a formação; (11) a percepção da perspectiva contrária; (12) a comunicação não verbal; (13) o espírito defensivo; (14) a emotividade; (15) a competitividade. Os resultados encontrados são os que apresentamos na tabela 8. TABELA 8 – AS CARACTERÍSTICAS DOS NEGOCIADORES FACTORES ENCONTRADOS MÉDIA FACTOR GRUPO 1 (COMPETITIVOS - 162) MÉDIA FACTOR GRUPO 2 (COLABORATIVOS - 69) SIG.1- Preparação 0,07822 -0,18364 0,068 2- Desempenho 0,04694 -0,11019 0,275 3- Imagem 0,05803 -0,13625 0,177 4- Demografia 0,09899 -0,23242 0,021 5- Complexidade Cognitiva 0,02046 -0,04804 0,635 6- Agressividade Negocial 0,03055 -0,07172 0,478 7- Espírito Colaborativo -0,08550 0,20075 0,046 8- Comunicação Verbal 0,07940 -0,18641 0,064 9- Perseverança 0,01885 -0,04425 0,662 10- Formação 0,00013 -0,00030 0,998 11- Percepção da Perspectiva Contrária -0,13248 0,31105 0,002 12- Comunicação Não Verbal 0,01236 -0,02906 0,774 13- Espírito Defensivo 0,13391 -0,31439 0,002 14- Emotividade -0,04372 0,10264 0,310 15- Espírito Competitivo 0,09302 -0,21839 0,030 Da análise da tabela podemos concluir que existem algumas diferenças significativas entre as percepções de indivíduos com um perfil competitivo e indivíduos com um perfil colaborativo. Os colaborativos valorizam mais as características relacionadas com o espírito colaborativo e com capacidade de compreensão da outra parte. Este resultado é de alguma forma esperado, uma vez que tanto características como a tolerância e o espírito de compromisso (factor 7 – espírito colaborativo), como características relacionadas com a percepção da perspectiva contrária (saber ouvir e percepção dos sentimentos e necessidades do oponente – factor 11) permitem desenvolver uma estratégia colaborativa, rodeada de um ambiente de abertura e confiança mútua, no qual as partes partilham livremente informação e ideias. A colaboração significa um esforço conjunto direccionado na procura de uma solução que será benéfica para ambas as partes. Para isso, é importante ser tolerante com a perspectiva contrária, bem como ter a capacidade para identificar os reais interesses e motivações da outra parte, ouvindo, questionando e interpretando os sinais emitidos por esta. Por sua vez, os competitivos valorizam a defesa das suas posições e a competitividade dos negociadores. Este resultado é também um resultado esperado, uma vez que os negociadores mais competitivos desejam acima de tudo vencer e ganhar a negociação. Esta postura leva-os a serem mais desconfiados, questionando constantemente as atitudes e comportamentos contrários, a reprimirem as suas emoções para não darem informação gratuita aos seus oponentes e a utilizarem tácticas pouco éticas. Todas estas características estão incluídas nos factores mais valorizados por estes indivíduos (factor 13 –espírito defensivo e factor 15 – espírito competitivo). Já um pouco 14 estranho nos parece o resultado do factor demografia. Neste caso, os competitivos acreditam que características como o sexo, a idade e o nível sociocultural têm uma importância mais decisiva do que os colaborativos. A interpretação deste resultado poderá indicar que negociadores com uma postura mais competitiva sejam mais influenciados por estas características do que negociadores mais colaborativos, uma vez que estes procuram, independentemente do sexo ou da idade da outra parte, encontrar uma solução que seja vantajosa para ambos. CONCLUSÃO O primeiro resultado deste nosso estudo é o de que será de esperar que a postura negocial adoptada pelos executivos portugueses, recaia efectivamente numa das duas posturas negociais mais típicas: Competitiva ou Colaborativa, com uma predominância de uma postura negocial competitiva. É, no entanto, de sublinhar que apesar da maioria dos inquiridos optarem pela estratégia negocial competitiva revelam uma preocupação assinalável por introduzir no seu comportamento elementos fundamentais da estratégia colaborativa, como sejam a procura de soluções justas para ambas as partes (93,5%), a procura de uma conduta negocial honesta e aberta com a outra parte (89,6%) e a firme convicção de que os resultados de uma negociação devem ser alcançados em colaboração com a outra parte (90%). A idade elevada (50,17 anos em média) e a longa experiência (mais de 25 anos) dos inquiridos, podem determinar a adopção de estratégias negociais mistas, i. e., primeiro cooperar para criar valor e depois competir para o distribuir. Ressalvando o facto de as mulheres estarem subrepresentadas na nossa amostra, não encontrámos diferenças significativas nas posturas negociais entre homens e mulheres. Já a formação em negociação parece ser determinante na adopção de posturas negociais menos competitivas. Ao contrário a experiência parece fomentar posturas negociais mais competitivas, o que merece em nosso entender, um estudo mais profundo pois isto pode ser resultado de uma experiência adquirida em ambientes negociais num passado muito mais competitivos ou revelar dimensões comportamentais muito curiosas. Finalmente, podemos concluir que parece confirmar-se um efeito de projecção que leva a que os negociadores mais competitivos considerem como mais importantes no perfil de um negociador superior as características mais competitivas, o mesmo sucedendo com os negociadores mais colaborativos. Sendo a amostra constituída por gestores e empresários de sucesso, com uma elevada auto-estima e consideração de si, a projecção das suas próprias características nas características requeridas para negociar com sucesso em contextos empresariais é um resultado natural e esperado. Se tivéssemos utilizado uma amostra mais alargada, incluindo indivíduos com uma menor autoconfiança, provavelmente este fenómeno não se reflectira tanto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alderson, W. (1957). Marketing behavior and executive action: A fundamentalist approach to marketing theory. Hornewood: Richard D. Irwin. Bazerman, M., & Neale, M. (1992). Negotiating Rationally. New York: Free Press. Cialdini, R. B. (1993). Influence: Science and practice (3rd Ed.). New York: Harper-Collins. 15 Dallinger, J. M., & Hample, D. (1995). Personalizing and managing conflict. International Journal of Conflict Management, 6, pp. 273-289. Ertel, D. (2000). Turning negotiation into a corporate capability. In Harvard Business Review on Negotiation and Conflict Resolution, pp. 101-127. Boston: Harvard Business School Press. Johnston, R. (1982). Negotiation strategies: Different strokes for different folks. Personnel, 59, pp. 36-45. Kilmann, R. H., & Thomas, K. W. (1977). 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