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Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1 CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2 www.questoesdiscursivas.com.br Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 3 AUTORES: FELIPE BORBA Delegado de Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul desde 2010. Especialista em Direito Público pela FMP. Mestre em Direito pela UniRitter. Professor universitário e de cursos preparatórios para concursos. Já coordenou as disciplina de Direito Penal e de Direito Constitucional da Academia de Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Integrou a banca do concurso para Agentes da Polícia Civil do RS (2013). Aprovado em diversos concursos públicos, tendo exercido os cargos de Analista do Ministério Público de Minas Gerais, Advogado do CREA/RS (aprovado em 1º lugar), Assessor do Ministério Público do Rio Grande do Sul (aprovado em 1º lugar) e advogado do CREMERS (aprovado em 2º lugar). RODRIGO DUARTE Advogado da União. Ex-Oficial de Justiça e Avaliador Federal no TRF da 2ª Região; Ex- Técnico Administrativo do Ministério Público da União (MPU) e Ex-Técnico de Atividade Judiciária no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Aprovado e nomeado no concurso de Analista Processual do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPE/RJ). MIGUEL BLAJCHMAN (Organizador) Advogado. Fundador do site Questões Discursivas. Ex-Analista de Planejamento e Orçamento da Secretaria Municipal da Fazenda do Rio de Janeiro (SMF/RJ). Aprovado nos seguintes concursos: Analista de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE/RJ). Analista e Técnico do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE/RJ) e Advogado da Dataprev. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4 ÍNDICE CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. PROCURADOR DO ESTADO – PGE/SE – 2017 – CESPE 2. AUDITOR - TCE/SP - FCC - 2012 3. ANALISTA DO MP – MPE/PI - 2018 - CESPE 4. ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA JUDICIÁRIA - TRT8 - CESPE - 2013 5. AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL - CESPE - 2012 6. ADVOGADO DA UNIÃO – AGU - 2016 - CESPE 7. POLICIAL CIVIL - PCAC - FUNCAB - 2015 8. MAGISTRATURA FEDERAL - TRF2 - CESPE - 2011 9. PROMOTOR DE JUSTIÇA - MPE/SP – 2010 – BANCA PRÓPRIA 10. PROCURADOR DO MP - TCE/RO - FCC - 2008 11. ADVOGADO DA UNIÃO – AGU - CESPE - 2006 12. DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2017 - CESPE 13. ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO – TCE/SP – 2011 – FCC 14. AUDITOR FISCAL - RECEITA FEDERAL - ESAF - 2012 15. PROCURADOR MUNICIPAL – PGM-BOA VISTA/RR – 2010 - CESPE Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 5 CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PROCURADOR DO ESTADO – PGE/SE – 2017 – CESPE No que concerne aos crimes contra a administração pública, redija um texto dissertativo, respondendo, de modo fundamentado, aos seguintes questionamentos. 1 Qual é o entendimento dos tribunais superiores a respeito da obrigatoriedade, nas ações instruídas por inquérito policial, da apresentação da defesa prévia, prevista no art. 514 do Código de Processo Penal, e a respeito do resultado da não apresentação da defesa prévia, no que se refere à nulidade? [valor: 8,25 pontos] 2 Qual é o tratamento dado a coautor particular no referido procedimento? [valor: 3,00 pontos] 3 O funcionário público que tiver deixado de exercer o cargo tem direito à defesa prévia? [valor: 3,00 pontos] SUGESTÃO DE RESPOSTA: O Superior Tribunal de Justiça sumulou o entendimento de “que é desnecessária a resposta preliminar de que trata o art. 514 do Código de Processo Penal (CPP), na ação instruída por inquérito policial” (Súmula n.º 330 – STJ). O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, entendia ser imprescindível a defesa prévia, mesmo quando a denúncia fosse lastreada em inquérito policial (Informativo 457/STF – HC 85.779/RJ). A fim de coadunar tais entendimentos, o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que a não apresentação da defesa prévia resulta em nulidade relativa, devendo o prejudicado comprovar o prejuízo a ser causado pela não apresentação da referida defesa, uma vez que o objetivo do art. 514 do CPP é o de evitar a propositura de ações penais temerárias contra funcionários públicos (RHC 120569, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 11/3/2014, Processo Eletrônico DJe-059 DIVULG 25/3/2014 PUBLIC 26/3/2014). Por sua vez, o coautor particular não tem direito à resposta, conforme entendimento doutrinário (Nucci. Código de Processo Penal. 2013, p. 944) e jurisprudencial. Nesse sentido: “*...+ 1. A notificação do acusado para apresentar defesa antes do recebimento da denúncia, prevista no art. 514 do Código de Processo Penal, somente se aplica ao funcionário público, não se estendendo ao particular que seja coautor ou partícipe. Precedentes. *...+” (HC 78.984/SP, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 26/10/2010, DJe 13/12/2010). Do mesmo modo, o funcionário público que houver deixado de exercer o cargo também não tem direito à defesa preliminar, conforme entendimento do STF: “*...+ O procedimento especial previsto no art. 514 do Código de Processo Penal não é de ser aplicado ao funcionário público que deixou de exercer a função na qual estava investido. Precedentes. [...]AP 465, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 24/4/2014, Acórdão Eletrônico DJe-213 DIVULG 29/10/2014 PUBLIC 30/10/2014 Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 6 AUDITOR - TCE/SP - FCC - 2012 João, escrivão de uma delegacia de polícia, apropriou-se da quantia de R$ 253,00 que havia sido apreendida em poder do indiciado no inquérito policial e estava sob a sua guarda para ser entregue à vítima. Instaurado outro inquérito policial para apurar a sua responsabilidade criminal, ressarciu a vítima, antes do recebimento da denúncia. Nesse caso, segundo jurisprudência dos Tribunais Superiores: a - o princípio da insignificância pode ser aplicado para justificar a atipicidade da conduta de João?; b - o ressarcimento espontâneo excluiu o crime em questão? Responda fundamentadamente. SUGESTÃO DE RESPOSTA: Inicialmente, faz-se necessário tipificar a conduta de João, que praticou, em tese, o delito de peculato-apropriação, previsto na primeira parte do art. 312, caput, do Código Penal, uma vez que, na condição de funcionário público, apropriou-se de dinheiro de que tinha a posse em razão do cargo. Conforme tem decidido o STJ, o princípio da insignificância não pode ser aplicado para reconhecer a atipicidade da conduta de João, pois a norma penal não objetiva resguardar apenas o aspecto patrimonial, mas a moral administrativa, o que torna inviável a firmação do desinteresse estatal à sua repressão. Trata-se de entendimento consagrado na Súmula nº 599 do STJ (“o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública”) Porém, em sentido oposto, o STF já reconheceu a possibilidade de incidência do princípio ao crime de peculato. O princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como um crime. Por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu, e não apenas na diminuição e substituição da pena ou não sua não aplicação. Para ser utilizado, faz-se necessária a presença de certos requisitos, tais como: (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada (exemplo: o furto de algo de baixo valor). Sua aplicação decorre no sentido deque o Direito Penal não deve se ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor, por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes, não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social. Por fim, a reparação do dano não conduz à exclusão do crime, podendo servir tão somente como causa de redução de pena, conforme previsão do art. 16 do Código Penal (arrependimento posterior), desde que ela tenha se dado até o recebimento da denúncia. JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA: Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 7 (...)o princípio da insignificância não pode ser aplicado para reconhecer a atipicidade da conduta de João, uma vez que a norma penal não objetiva resguardar apenas o aspecto patrimonial, mas a moral administrativa, o que torna inviável a firmação do desinteresse estatal à sua repressão. STJ, REsp 655.946/DF, rel. Min. Laurita Vaz, 5ª Turma, DJ 26/03/2007. HABEAS CORPUS. PECULATO PRATICADO POR MILITAR. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. CONSEQÜÊNCIAS DA AÇÃO PENAL. DESPROPORCIONALIDADE. 1. A circunstância de tratar-se de lesão patrimonial de pequena monta, que se convencionou chamar crime de bagatela, autoriza a aplicação do princípio da insignificância, ainda que se trate de crime militar. 2. Hipótese em que o paciente não devolveu à Unidade Militar um fogão avaliado em R$ 455,00 (quatrocentos e cinqüenta e cinco) reais. Relevante, ademais, a particularidade de ter sido aconselhado, pelo seu Comandante, a ficar com o fogão como forma de ressarcimento de benfeitorias que fizera no imóvel funcional. Da mesma forma, é significativo o fato de o valor correspondente ao bem ter sido recolhido ao erário. 3. A manutenção da ação penal gerará graves conseqüências ao paciente, entre elas a impossibilidade de ser promovido, traduzindo, no particular, desproporcionalidade entre a pretensão acusatória e os gravames dela decorrentes. Ordem concedida. (HC 87478, Min. EROS GRAU, Primeira Turma, DJ23.2.2007). HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR. PACIENTE DENUNCIADO PELA INFRAÇÃO DO ART. 303, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL MILITAR (PECULATO). ALEGAÇÃO DE INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FAVORÁVEL À TESE DA IMPETRAÇÃO: APLICAÇÃO À ESPÉCIE VERTENTE. HABEAS CORPUS DEFERIDO”. (HC 92634, Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, DJ 15.2.22008). GRADE DE CORREÇÃO DA BANCA EXAMINADORA: Abordagem esperada: De acordo com o capítulo X, item 5, do Edital de Abertura de Inscrições, constará da avaliação da prova escrita o domínio técnico do conteúdo aplicado, a precisão da linguagem jurídica , quando for o caso , a correção e a adequação vocabular considerados os mecanismos básicos de Constituição do vernáculo e os procedimentos de coesão e argumentação. a -a - cuida-se, na espécie, de delito de peculato doloso, posto que o funcionário público se apropriou de dinheiro de que tinha a posse em razão do cargo.A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, se consolidou no sentido de que o princípio da insignificância é aplicável ao delito de peculato. a missão no direito penal moderno consiste em tutelar os bens jurídicos mais relevantes. Em decorrência disso, a intervenção penal deve ter o caráter fragmentário, protegendo apenas os bens jurídicos mais importantes em caso de lesões de maior gravidade. Todavia, no crime de peculato, a norma não busca resguardar apenas o aspecto patrimonial, mas a moral da administração e à probidade administrativa, razão pela qual, o referido princípio é inaplicável (Agrg no Ag.1133678/SC, Rel. Ministro Félix Fischer; REsp. 1.060.82, Rel. Min. Jorge Mussi, 5a Turma, 28/06/2010). b - a reparação do dano, mesmo se for espontânea e anterior ao Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 8 recebimento da denúncia pelo crime de peculato, não torna atípica a prática descrita na pela acusatória, podendo, apenas, influir na pena a ser imposta. ANALISTA DO MP – MPE/PI - 2018 - CESPE Indiciado pela prática de crime de estelionato, Carlitos está prestes a ser denunciado por Gael, promotor de justiça de uma cidade do interior do Piauí. Xavier, compadre de Gael e vizinho de Carlitos, sabendo da situação, solicitou ao indiciado a quantia de R$ 500,00 a pretexto de usar sua influência com o promotor para tentar impedi-lo de oferecer a denúncia. Na semana seguinte, Carlitos, com a expectativa de não ser acusado, pagou o valor solicitado por Xavier; entretanto, foi regularmente denunciado por Gael. Xavier sequer havia mencionado o caso ao compadre. Com base nas informações da situação hipotética apresentada, redija um texto dissertativo abordando os seguintes aspectos: 1 - tipicidade das condutas de Xavier, de Carlitos e de Gael; [valor: 15,00 pontos] 2 - bem(ns) jurídico(s) afetado(s) pelo(s) eventual(is) crime(s) praticado(s); [valor: 4,00 pontos] 3 - momento da consumação e do exaurimento de eventual(is) crime(s) praticado(s); [valor: 7,00 pontos] 4 - posicionamento do Superior Tribunal de Justiça acerca da aplicação do princípio da insignificância em crime(s) da mesma natureza do(s) praticado(s) na situação hipotética apresentada. [valor: 12,00 pontos] SUGESTÃO DE RESPOSTA: No que tange ao item 1, Xavier praticou o crime de exploração de prestígio, previsto no art. 357 do CP, que consiste em solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha. Carlitos pagou a quantia a Xavier na expectativa de que o membro do Ministério Público fosse influenciado, mas isso não ocorreu. Xavier sequer mencionou o caso com o compadre, o que caracteriza Carlitos como vítima de golpe/fraude por parte de Xavier, ou seja, Carlitos também é vítima da exploração de prestígio. Gael sequer ficou sabendo do fato e exerceu normalmente suas atribuições, não tendo praticado crime. Portanto, Xavier perpetrou a conduta do art. 357 do CP; Carlitos foi vítima da exploração de prestígio (conduta atípica) e Gael praticou conduta atípica. Acerca do item 2, os bens jurídicos protegidos são a administração pública (gênero) e, especificamente, a administração da justiça (espécie), em particular o normal funcionamento da atividade judiciária e o prestígio das pessoas que nela atuam. Em relação ao item 3, no caso, a conduta criminosa de Xavier se consumou no momento da solicitação dos R$ 500,00, sendo o pagamento mero exaurimento do crime. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 9 Por fim, a Súmula nº 599 do STJ estabelece que o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. O crime de exploração de prestígio é crime contra a administração da justiça e está no título que trata dos crimes contra a administração pública. Portanto, em regra, o princípio da insignificância não pode ser aplicado aos crimes dessa natureza, independentemente de o valor envolvido ser irrisório. ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA JUDICIÁRIA - TRT8 - CESPE - 2013 Estabeleça, com base no Código Penal brasileiro e na doutrina de referência, a diferença entre o crime de tráfico de influência e o de exploração de prestígio. SUGESTÃO DE RESPOSTA: A conduta prevista é basicamente a mesma nos crimes de tráfico de influência e o de exploração de prestígio. O ponto diferenciador envolve o sujeito passivo da influência. O ato de influenciar funcionário público do Poder Executivo ou do Poder Legislativo configura crime de tráfico de influência. Quando a influência atingir funcionário do Judiciário ou pessoas que atuam perante esse poder (juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça,perito, tradutor, intérprete ou testemunha), estaremos diante do crime de exploração de prestígio. Portanto, a diferença básica entre os crimes consiste no fato de que o tráfico de influência é espécie de crime praticado por particular contra a administração em geral, enquanto que o crime de exploração de prestígio é crime contra a administração da justiça. AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL - CESPE - 2012 O Departamento de Polícia Civil do Estado de São Paulo vem investigando os crimes cometidos por três pessoas, maiores e capazes, que atuam no roubo de cargas transportadas em operações interestaduais nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. As empresas transportadoras afetadas pelas ações dos criminosos são totalmente privadas, ou seja, não possuem participação financeira de nenhum ente da Federação, não havendo, portanto, em decorrência desses delitos, prejuízo patrimonial direto à União. Em operação destinada a prender em flagrante os criminosos, apenas um deles foi preso. No momento da prisão, ele ofereceu, ao chefe da equipe policial, cem mil reais para que fosse informalmente libertado. A proposta não foi aceita, e a prisão do criminoso foi efetuada, de acordo com as formalidades legais. Com base na situação hipotética apresentada acima, redija um texto dissertativo que responda, necessariamente e de maneira fundamentada, aos seguintes questionamentos. 1- Havendo necessidade de repressão uniforme dos crimes acima mencionados, poderá o Departamento de Polícia Federal investigar os Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 10 delitos contra o patrimônio (roubos)? 2- Na situação considerada, a proposta feita pelo criminoso ao chefe da equipe policial configurou crime contra a administração pública? Em caso afirmativo, especifique o delito. SUGESTÃO DE RESPOSTA: Cumpre destacar que à época da questão (2012) não restara configurado o crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CP), pois o tipo, em sua redação antiga, exigia a associação de mais de três pessoas para o fim específico de cometer crimes. Todavia, com a alteração trazida pela Lei nº 12.850/13, o art. 288 do CP – atualmente com o nomen juris de associação criminosa – exige a associação de três ou mais pessoas para o fim específico de cometer crimes. Portanto, diante do enunciado, poderíamos hoje afirmar a configuração do crime de associação criminosa do art. 288 do CP. Com relação à atribuição para investigar os delitos contra o patrimônio, é seguro afirmar que cabe à Polícia Federal tal atividade. Isso pode ser depreendido da Lei nº 10.446/02, que aduz que quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da CRFB, investigar furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação. Ainda que se afirme que o enunciado não traga explicitamente que há indícios da atuação da quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação, caberia à Polícia Federal investigar, desde que autorizada pelo Ministro da Justiça. Destaque-se, ainda, que essa atribuição da Polícia Federal ocorre sem qualquer prejuízo da investigação que vem sendo conduzida pela Polícia Civil do Estado de São Paulo, bem como independentemente do fato de as cargas serem privadas e não haver qualquer prejuízo direto à União. Por fim, quanto ao oferecimento por parte do criminoso ao chefe da equipe policial de cem mil reais para que fosse informalmente liberado, podemos afirmar tratar-se do crime de corrupção ativa consumado, nos termos do art. 333 do CP. É um crime contra a Administração Pública cuja consumação ocorre, no caso, com o oferecimento da vantagem indevida, independentemente do aceite ou não por parte do funcionário público. ADVOGADO DA UNIÃO – AGU - 2016 - CESPE Durante uma reunião em que se discutia a aplicação à empresa Alfa Ltda. de penalidade de impedimento de licitar — que fora sugerida em parecer elaborado por Marcelo, advogado da União —, o proprietário da empresa, João, com a intenção de atingir a honra do referido servidor público, acusou-o falsamente de estar utilizando Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 11 seu cargo para beneficiar sua concorrente, a empresa Beta S.A., já que, com a aplicação da penalidade sugerida, a empresa Beta seria a única no mercado nacional apta a fornecer o objeto do contrato. Redija um texto dissertativo a respeito da conduta de João, proprietário da empresa Alfa Ltda. Em seu texto, aborde 1- o crime cometido por João; [valor: 2,00 pontos] 2- o objeto jurídico tutelado pelo Código Penal com a tipificação do crime cometido e os requisitos para a configuração desse delito; [valor: 3,00 pontos] 3- a legitimação para a propositura da ação penal, considerando a doutrina e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. [valor: 4,50 pontos] SUGESTÃO DE RESPOSTA: Em relação ao item 1, João perpetrou o delito de calúnia, nos termos do art. 138 do CP, pois imputou falsamente ao Advogado da União fato tido como crime. Em relação ao item 2, a doutrina abalizada menciona que o bem jurídico tutelado com a tipificação do crime de calúnia é a honra objetiva, ou seja, a reputação da pessoa, abarcando o conceito que os demais membros da sociedade possuem a respeito do indivíduo. Esse conceito abrange os atributos morais, éticos, culturais, intelectuais, físicos e/ou profissionais, sendo, portanto, o sentimento do outro que incide acerca das próprias qualidades ou atributos. Em relação ao item 3, para que a calúnia fique configurada como crime, demanda-se: a) a imputação de fato determinado qualificado como crime; b) a falsidade da imputação; e c) o elemento subjetivo (animus caluniandi). Se não houver a configuração de qualquer desses elementos, não se cristaliza o delito de calúnia. Frise-se que o art. 145, parágrafo único, do CP aduz que em se tratando de crimes contra a honra de funcionário público em razão de suas funções, a ação penal será pública condicionada à representação. A Súmula nº 714 do STF entende que por violar o interesse individual do funcionário público, é concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções. Embora o STF afirme tratar-se de legitimação concorrente, a doutrina tem entendido que a hipótese aludida na referida súmula é de legitimação alternativa. O próprio STF possui entendimentos no sentido de que se o funcionário público ofendido em sua honra apresenta representação, fica preclusa a instauração penal de iniciativa privada, já que, em tal hipótese, o Ministério Público estaria definitivamente investido na legitimação para a causa. Logo, de acordo com a doutrina mais abalizada, se o STF entende que, uma vez oferecida a representação pelo ofendido, autorizando o Ministério Público a agir, não será mais possível o oferecimento da queixa-crime, a legitimação não é concorrente, mas alternativa. Sendo ação penal condicionada à representação, o Ministério Público não estaria legitimado a agir de ofício, cabendo ao ofendido fazer a opção entre a representação ou oferecer queixa-crime. Para que fosse efetivamente concorrente, o Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 12 ofendido deveria poder discordar da manifestação do Ministério Público no sentido de arquivamento e ingressar com a ação privada. JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA: "Exige-se, parao fim de balizar a legitimação concorrente do Ministério Público (Súmula 714, deste STF) quando o funcionário público é ofendido em razão de suas funções, contemporaneidade entre as ofensas e o exercício do cargo, mas não contemporaneidade entre a data da denúncia e o exercício do cargo. O ordenamento jurídico confere legitimação ao Ministério Público em razão da necessidade de se tutelar, nessas hipóteses, além da honra objetiva ou subjetiva do funcionário, o interesse público atingido quando as ofensas são irrogadas em razão da função exercida. Ocorre que, nesses casos - quando há nexo de causa e efeito entre a função exercida pelo ofendido e as ofensas por ele sofridas -, também vulnerado resta de forma reflexa o bem jurídico Administração Pública." (Inq 3438, Relatora Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, julgamento em 11.11.2014, DJe de 10.2.2015) GABARITO DA BANCA EXAMINADORA: Espera-se que o candidato desenvolva sua resposta com base no que se apresenta a seguir: 1- João cometeu o crime de calúnia (delito tipificado no art. 138 do Código Penal) contra o advogado da União ao imputar-lhe falsamente fato definido como crime. O fato imputado a Marcelo consiste no crime de advocacia administrativa, previsto no art. 321 do Código Penal. 2 Sobre o referido tipo penal, ensina Bitencourt (2012, p. 623) que o bem jurídico protegido pela tipificação do crime de calúnia, para aqueles que adotam essa divisão, é a honra objetiva, isto é, a reputação do indivíduo, o conceito que os demais membros da sociedade têm a respeito do indivíduo, relativamente a seus atributos morais, éticos, culturais, intelectuais, físicos ou profissionais; é, em outros termos, o sentimento do outro que incide sobre as nossas qualidades ou nossos atributos. 3 Os requisitos para a configuração do crime são: a) a imputação de fato determinado qualificado como crime; b) a falsidade da imputação; c) o elemento subjetivo — animus caluniandi. A ausência de qualquer desses elementos impede que se possa falar em fato definido como crime de calúnia. O parágrafo único do art. 145 do Código Penal dispõe que, em se tratando de crimes contra a honra de funcionário público em razão de suas funções, a ação penal será pública condicionada à representação. Contudo, o STF, na Súmula n.º 714, passou a entender que, por violar o interesse individual do funcionário público, “é concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções”. Embora o STF afirme tratar-se de legitimação concorrente, a doutrina tem entendido que a hipótese aventada na súmula é de legitimação alternativa. Essa conclusão é retirada de entendimento da própria Corte Suprema, que entende que, “se o funcionário público ofendido em sua honra apresenta representação, estaria preclusa a instauração penal de iniciativa privada, já que, em tal hipótese, o Ministério Público estaria definitivamente investido na legitimação para a causa”. (STF, Pleno, Inq. 1.939/BA, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 3/3/2004.) Ensina Oliveira (2009, p. 127) que, se o próprio Supremo entende que, http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=7709011 Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 13 uma vez oferecida a representação pelo ofendido, autorizando o Ministério Público a agir, não será mais possível o oferecimento da queixa-crime, forçoso é concluir que a legitimação, nesse caso, da Súmula n.º 714, não é concorrente, mas sim alternativa. Na verdade, sendo condicionada à representação, o Ministério Público jamais estaria legitimado a agir de ofício; caberia, portanto, ao ofendido fazer a opção entre a representação, escolhendo a via da ação penal pública, ou oferecer queixa-crime, optando pela ação penal de iniciativa privada. Para que fosse efetivamente concorrente, o ofendido deveria poder discordar da manifestação do Ministério Público — no sentido de arquivamento — e ingressar com a ação privada. FONTE: Cezar Roberto Bitencourt. Código Penal comentado. 7.ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012. Eugênio Pacelli de Oliveira. Curso de processo penal. 11.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009. POLICIAL CIVIL - PCAC - FUNCAB - 2015 O policial civil Carlos Sperto, após exaustiva investigação, logra prender em flagrante delito, o indivíduo Pedro Custódio, conhecido pela alcunha de "motoboy", quando este vendia a pessoa não identifica por ter se evadido, certa quantidade da droga conhecida como crack, substância sabidamente nociva à saúde. No momento da abordagem policial, foi encontrada na mochila portada por “motoboy" a quantidade de 72 pedras de crack e 103 papelotes de cloridrato de cocaína. Instigado por seu cunhado David Silva, presente no momento da ação, o policial Carlos obriga "motoboy" a pagar a quantia de R$ 2.500,00, para não conduzi-lo ate a delegacia policial da área, sendo certo que o preso concordou com o valor estipulado, entretanto, alegou que somente poderia efetuar o pagamento em questão de dois dias depois, quando iria dispor do dinheiro, e assim ficou acertado. Neste interregno, o fato chegou ao conhecimento da Corregedoria de Policia, tendo a autoridade instaurado regular inquérito policial e representado pela prisão temporária, que foi decretada pelo juiz de direito competente. De posse do mandado de prisão, agentes da Corregedoria de Polícia se postaram de forma estratégica no local e obstaram o pagamento de forma estratégica no local e obstaram o pagamento a ser realizado. Analisando o fato descrito sob a ótica do Direito Penal, tipifique as condutas de Carlos Sperto e Pedro Custódio, o "motoboy", de forma justificada, em texto discursivo de 15 a 20 linhas. SUGESTÃO DE RESPOSTA: O policial civil Carlos Sperto, por ser funcionário público e se encontrar no exercício da função, com sua conduta, praticou crime contra a Administração Pública, tipificado como concussão (art. 316 do CP). Trata-se de delito próprio, doloso, considerando que a ação desenvolvida pelo agente deve ser consciente e com a vontade livre de exigir a vantagem, sabendo ser indevida. Além disso, foi consumado por ser formal e não exigir a ocorrência de resultado naturalístico, conformando-se com a simples exigência da vantagem Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 14 indevida de caráter econômico ou patrimonial, independentemente do seu recebimento (da vantagem) que, neste caso, constitui-se em exaurimento. Pedro Custódio, o “Motoboy”, por sua vez, comete o delito de tráfico ilícito de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/06), por ter sido encontrado e preso no momento em que vendia droga a pessoa não identificada, além de ter em seu poder grande quantidade de crack e de cocaína. É certo que “Motoboy” não pratica o delito de corrupção ativa, previsto no art. 333 do CP, uma vez que a conduta típica do referido crime consiste no oferecimento ou promessa de vantagem de forma espontânea. Se houve imposição do funcionário, não há corrupção ativa. MAGISTRATURA FEDERAL - TRF2 - CESPE - 2011 Responda, justificadamente: como deverá ser punido o agente público, carcereiro, que recebe vantagem indevida em dinheiro para que na semana seguinte ao crédito do valor em seu benefício deixe fugir da prisão, como de fato vem a ocorrer, acusado que lá se encontrava legalmente preso? SUGESTÃO DE RESPOSTA: O agente público carcereiro que, após receber vantagem indevida deixa fugir um preso, pratica o crime tipificado no art. 351, §3º, do CP. Malgrado sua conduta também se emoldure no art. 317, §1º, do CP (corrupção passiva), uma vez que recebeu vantagem indevida para deixar de praticar ato de seu ofício (impedir a fuga), a situação é dirimida pelo princípio da especialidade (princípiode solução do conflito aparente de normas). Decerto, o art. 351, §3º, do CP possui uma circunstância especial, consistente na facilitação de fuga por parte da pessoa que possui o dever de evitar a evasão (“pessoa sob cuja custódia ou guarda está o preso ou o internado”). Esse elemento específico não existe no art. 317, caput, e §1º do CP. Logo, quando a vantagem indevida for recebida por carcereiro ou agente penitenciário para auxiliar ou facilitar a fuga, prevalece o art. 351, §3º, do CP. OBSERVAÇÃO DO PROFESSOR: Vale registrar que essa não é uma posição pacífica na doutrina. Para ilustrar, Júlio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabbrini, conquanto reconheçam a orientação jurisprudencial, postulam em favor da incidência do artigo 317 do Código Penal: “Já se decidiu que aqueles que, como guardas de presídio e sob promessa de vantagem indevida, facilitam a fuga de detentos e por isso foram incluídos como coautores do delito, não podem responder, também, por corrupção passiva. Aplica-se à hipótese o princípio da especialidade. O crime do artigo 351 do CP tem caráter específico, ao Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 15 contrário do artigo 317. A corrupção passiva, porém, possui um plus (interesse na vantagem indevida); é crime mais grave e deve absorber o ilícito em exame.” PROMOTOR DE JUSTIÇA - MPE/SP – 2010 – BANCA PRÓPRIA É possível, em um mesmo fato, a convivência do crime de concussão com o de corrupção ativa por particular? Justifique. SUGESTÃO DE RESPOSTA: Concussão é um delito definido no art. 316 do CP. Trata-se de crime próprio, pois pode ser cometido somente por funcionário público. Na dicção do dispositivo legal, configura-se com a exigência de vantagem indevida por parte de um agente público. O núcleo do tipo é exigir, no sentido de impor ou ordenar. Assim, o funcionário público emprega o metus publicae potestatis para influir sobre uma pessoa, fazendo com que esta lhe entregue uma vantagem indevida. Já a corrupção ativa, preconizada no art. 333 do CP, consiste em oferecer ou prometer uma vantagem indevida a funcionário público. É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. A questão indaga se, no mesmo contexto, é possível a configuração das duas infrações penais. Em outras palavras, se o funcionário público exige vantagem indevida a um particular e este, anuindo à intimidação, entrega tal vantagem, haveria a consumação dois crimes: concussão para o funcionário público (art. 316 do CP) e corrupção ativa para o particular (art. 333 do CP)? Quase à unanimidade, doutrina e jurisprudência entendem que na hipótese aventada ocorre apenas o crime de concussão, pelo qual responde o funcionário público. O particular que entrega a vantagem exigida não será punido. Portanto, o funcionário público (intraneus) será responsabilizado pelo crime de concussão e o particular (extraneus) não será punido, já que sua conduta é reputada como atípica. JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA: [...] Não configura o tipo penal de corrupção ativa sujeitar-se a pagar propina exigida por Autoridade Policial, sobretudo na espécie, onde não houve obtenção de vantagem indevida com o pagamento da quantia. ‘Caso a oferta ou promessa seja efetuada por imposição ou ameaça do funcionário, o fato é atípico para o extraneus, configurando- se o delito de concussão para o funcionário’ *...+” (STJ, HC 62908/SE, 5ª T., Rel. Min. Laurita Vaz, DJ 3/12/2007, p. 339). PROCURADOR DO MP - TCE/RO - FCC - 2008 A existência de um crime de corrupção passiva importa necessariamente na existência de outro de corrupção ativa? Responda exemplificando e justifique. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 16 SUGESTÃO DE RESPOSTA: A bilateralidade não é requisito indispensável da corrupção, podendo esta apresentar-se de maneira unilateral. Por isso, de acordo com a qualidade do agente, o legislador criou delitos autônomos. O funcionário público pode “solicitar” vantagem indevida e o particular não concordar com a solicitação. Nesse caso, consuma-se o delito de corrupção passiva, mas não o de corrupção ativa. Assim, embora, conforme as circunstâncias, seja possível verificar-se ao mesmo tempo as duas figuras delituosas, a existência de um crime de corrupção passiva não importa necessariamente na existência de outro de corrupção ativa. ADVOGADO DA UNIÃO – AGU - CESPE - 2006 Redija um texto dissertativo acerca do crime de desobediência, abordando, obrigatoriamente, os seguintes casos à luz do ensinamento do Superior Tribunal da Justiça: I) sujeito ativo ser funcionário público; II) necessidade que o destinatário da ordem esteja juridicamente obrigado a obedecer; III) norma extrapenal considerando sanção de natureza civil ou administrativa. SUGESTÃO DE RESPOSTA: O delito de desobediência vem previsto no art. 330 do Código Penal, estando inserido topograficamente na parte dos crimes praticados por particular contra a administração em geral, que, por sua vez, está localizado na parte de crimes praticados contra a Administração Pública. O tipo penal tem por escopo resguardar a obediência das ordens exaradas por funcionários públicos no exercício de suas funções e, por isso, entende-se que o sujeito passivo é o próprio Estado. Referido delito é crime comum, de forma que pode ser perpetrado por qualquer pessoa. Existe grande controvérsia sobre a possibilidade de que esse delito seja praticado por funcionário público, uma vez que se inscreve nos crimes praticados por particulares contra a Administração Pública. Quando um agente público pratica ou deixa de praticar um ato, revestido da condição funcional, não pode ser sujeito ativo do crime de desobediência, pois ele é “reservado” aos particulares. Com isso, o agente público somente pode praticar crime de desobediência se estiver fora das suas atividades funcionais, ou seja, na condição de particular. Inexiste possibilidade de que esse delito seja perpetrado por agente público quando não atende uma ordem judicial emanada, em razão da função pública por ele exercida. Há ato abusivo quando se determina a prisão de servidor público, atuando em tal condição, por suposto desatendimento a uma ordem judicial. Inclusive, a jurisprudência é pacífica ao afirmar que crime de desobediência somente é praticado por agente público quando este está agindo como particular. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 17 Contudo, ainda que se cogite da prática de crime de desobediência, não pode a autoridade judicial simplesmente expedir sua ordem de prisão, já que o crime é de competência dos juizados especiais criminais. O procedimento correto é comunicar à autoridade policial da desobediência havida, para ser lavrado o termo circunstanciado e agendada audiência. Importante aduzir que o STJ possui alguns entendimentos no sentido de que funcionário público pode ser sujeito ativo do delito de desobediência, mesmo diante da topografia do tipo penal, se estiver obrigado a obedecer. Por fim, ressalte-se que o STJ possui entendimento no sentido de que para a configuração do delito de desobediência, salvo se a lei ressalvar expressamente a possibilidade de cumulação da sanção de natureza civil ou administrativa com a de natureza penal, não basta apenas o não cumprimento de ordem legal, sendo indispensável que, além de legal a ordem, não haja sanção determinada em lei específica no caso de descumprimento. JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA: RHC. PENAL. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. PREFEITO MUNICIPAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. 1. Em princípio, diante da expressiva maioria da jurisprudência, o crime de desobediência definido no art. 330 do CP só ocorre quando praticado por particular contra a Administração Pública, nele não incidindo a conduta do Prefeito Municipal, no exercício de suasfunções. É que o Prefeito Municipal, nestas circunstâncias, está revestido da condição de funcionário público. 2. Constrangimento indevido representado pela cláusula "sob pena de incidir em crime de desobediência à ordem judicial" corporificado em intimação para pagamento em 48 horas de vencimentos em atraso, não pleiteado em medida cautelar inominada, cujo provimento liminar, em segunda instância, assegura apenas a reintegração em cargo do qual foi o servidor demitido. 3. Recurso provido. Decisão: Por unanimidade, dar provimento ao recurso. Segundo o STJ, além de funcionário público não responder por crime de desobediência, Juiz do trabalho não pode decretar prisão. HC 6000/DF ; HABEAS CORPUS (1997/0049412-8) Fonte DJ DATA:19/12/1997 PG:67533 Relator: Min. ANSELMO SANTIAGO (1100) Data da Decisão 17/11/1997 Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA. Publicada em 06/08/2002. Min. FERNANDO GONÇALVES (1107) Data da Decisão 29/10/1998 Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA. “PENAL – CRIME DE DESOBEDIÊNCIA – DETERMINAÇÃO JUDICIAL ASSEGURADA POR SANÇÃO DE NATUREZA CIVIL – ATIPICIDADE DA CONDUTA. As determinações cujo cumprimento for assegurado por sanções de natureza civil, processual civil ou administrativa, retiram a tipicidade do delito de desobediência, salvo se houver ressalva expressa da lei quanto à possibilidade de aplicação cumulativa do art. 330, do CP. Ordem concedida para cassar a decisão que determinou a constrição do paciente, sob o entendimento de configuração do crime de desobediência." (HC 16.940/DF, DJ de 18/11/2002, Relator Min. JORGE SCARTEZZINI). Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 18 “CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL. DESCUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL, POR SECRETÁRIO DE SAÚDE DO ESTADO DE RONDÔNIA. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. POSSIBILIDADE DE CONFIGURAÇÃO. RECURSO PROVIDO. O funcionário público pode cometer crime de desobediência, se destinatário da ordem judicial, e considerando a inexistência de hierarquia, tem o dever de cumpri-la, sob pena da determinação judicial perder sua eficácia. Precedentes da Turma. Rejeição da denúncia que se afigura imprópria, determinando-se o retorno dos autos ao Tribunal a quo para nova análise acerca da admissibilidade da inicial acusatória. Recurso especial provido, nos termos do voto do relator. REsp 1173226 / RO. Ministro GILSON DIPP. 17/03/2011. DJe 04/04/2011 DELEGADO DE POLÍCIA – PCGO – 2017 - CESPE Gertrudes, dona de casa, foi incluída em inquérito policial que apura suposta prática de peculato-desvio (art. 312, caput, 2ª parte do Código Penal) em cidade do interior do estado de Goiás. A dona de casa foi apontada como beneficiária de um lote de leite em pó desviado de entidade beneficente do município, em um esquema que envolvia, ainda, João e Pedro, funcionários da Secretaria de Assistência Social municipal, que perpetraram o ilícito valendo-se das facilidades propiciadas por seus cargos, uma vez que, por causa dos cargos, tinham a posse do referido produto. O lote de leite foi encontrado na casa de Gertrudes, que na ocasião, afirmou saber da origem ilícita do leite em pó e pretender usá-lo para alimentar seus filhos. O Ministério Publico pretende denunciá-la por peculato-desvio e a defesa pretende pedir a desclassificação para receptação (art. 180, caput, do CP). Código Penal – Peculato - Art. 312 - Apropriar- se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. Receptação -Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. A respeito dessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, aos seguintes questionamentos: 1- É possível a imputação do crime de peculato-desvio a Gertrudes, como deseja o Ministério Público? 2- É possível a responsabilização de Gertrudes pelo crime de receptação, nos termos da tese defensiva? SUGESTÃO DE RESPOSTA: O crime de peculato demanda a condição de funcionário público do agente para sua caracterização, conforme se observa da leitura do artigo 312 em questão. Por isso, é classificado como “crime próprio”. Entretanto, é possível que um particular, que não se enquadre no conceito legal de funcionário público (art. 327 do CP), seja sujeito ativo do crime, uma vez que a expressão “funcionário público” é circunstância elementar de caráter subjetivo do tipo do artigo 312, de maneira que, por força do artigo 30 do Código Penal, comunica-se a todos os participantes do fato. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 19 Para que se conceba essa hipótese, dois requisitos devem estar presentes: i) o particular deve ter concorrido para a prática da infração penal; e ii) o particular deve ter conhecimento acerca da qualidade de funcionário público do sujeito que concorre para a prática delitiva. Diante desse quadro, pode-se afirmar que seria possível a imputação do crime de peculato-desvio a Gertrudes, desde que houvesse indícios de que ela teria concorrido para a prática do delito, na linha do previsto no artigo 29 do Código Penal, bem como que ela possuísse consciência sobre a qualidade de funcionários públicos de João e de Pedro, ou seja, que ela tivesse conhecimento de que estaria aderindo à conduta dos agentes públicos. Assim sendo, ressalta-se que o mero fato de os bens desviados pelos funcionários públicos serem encontrados na casa de Gertrudes não se mostra suficiente para embasar denúncia por crime de peculato-desvio contra ela, já que faltante a explicitação dos requisitos supracitados. Sobre a tese defensiva apresentada por Gertrudes, no sentido de que pretendia alimentar seus filhos com o lote de leite desviado, cabe destacar que, embora haja discussão doutrinária e jurisprudencial acerca da tipicidade do chamado “peculato de uso”, predomina o entendimento de que, em relação a bens consumíveis, não se cogita do caráter atípico do fato. Por outro lado, a depender das circunstâncias do caso concreto, poder-se-ia cogitar da exclusão da ilicitude da conduta, com fulcro no estado de necessidade (art. 24 do Código Penal), uma vez que ficasse evidenciada situação de extrema dificuldade financeira de Gertrudes, conjugada com a inexistência de razoáveis e lícitas alternativas de nutrição de seus filhos. Quanto ao segundo questionamento, afigura-se viável a responsabilização de Gertrudes pelo crime de receptação. Para tanto, como já referido, basta que o Ministério Público não tenha angariado elementos de convicção que apontassem na linha de que a acusada tivesse concorrido para os atos atribuídos a João e Pedro, ou de que soubesse que estes seriam funcionários públicos. Diferentemente do crime de peculato-desvio, a receptação está suficientemente narrada no enunciado da questão, uma vez que Gertrudes teria recebido produto de crime (no caso, produto do crime de peculato-desvio), confessando inclusive o elemento subjetivo específico do crime (dolo), ao declarar que tinha ciência acerca do caráter ilícito do lote de leite em questão. Assim, sua conduta se amolda perfeitamente ao tipo do artigo 180 do Código Penal. JURISPRUDÊNCIA APLICADA: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PENAL. INSTITUTO CANDANGO DE SOLIDARIEDADE. FUNCIONÁRIO PÚBLICO POR EQUIPARAÇÃO. PECULATO. CONCURSO DE PESSOAS. CABIMENTO. CIÊNCIA DA CONDIÇÃO PESSOAL DOS CORRÉUS. ELEMENTAR DO CRIME. ARTIGO 30 DO CÓDIGO PENAL. 1. No que toca ao delito de peculato admite-se o concurso de agentes entre funcionários públicos (ou equiparados, nos termos do art. 327, § 1º, do Código Penal) e terceiros, desde que esses tenham ciência da condição pessoal daqueles, pois referidacondição é Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 20 elementar do crime em tela (artigo 30 do Código Penal).(...) 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1459394/DF, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 17/09/2015, DJe 07/10/2015) ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO – TCE/SP – 2011 – FCC Tício, Deputado Estadual, Presidente da Assembléia Legislativa de um determinado Estado Brasileiro, autorizou, por meio de ato administrativo, o aumento de despesa de pessoal 120 dias antes do final de seu mandato, sem que houvesse disponibilidade de recursos, comprometendo a regularidade das Finanças Públicas. Decorridos 30 dias da data da autorização, o aumento foi implantado. Quando o fato foi noticiado pela imprensa local, a autoridade policial efetuou a prisão em flagrante de Tício. Analise a situação descrita e responda, fundamentadamente: A- Qual crime cometido por Tício e qual a espécie de ação penal cabível ? B- Para caracterização desse delito exige-se dolo específico ? Admite-se a forma culposa ? C- Qual o sujeito passivo e quem pode ser sujeito ativo desse delito ? D- Quando ocorre a consumação desse crime ? E- Houve alguma ilegalidade na prisão em flagrante ? SUGESTÃO DE RESPOSTA: Tício cometeu, em tese, o delito previsto no art. 359-G do Código Penal, com a redação dada pela Lei No. 1.028/2000. A ação penal cabível para essa infração penal é a ação penal pública incondicionada. Para a caracterização desse delito não é exigido o dolo específico, bastando o genérico, consistente na vontade de ordenar ou autorizar a assunção da mencionada obrigação. Não se admite a forma culposa. O sujeito passivo deste crime é o Estado e, secundariamente, a sociedade. O sujeito ativo do crime é o funcionário público competente para autorizar, ordenar ou executar o ato que acarrete aumento de despesa com pessoal Podem ser sujeitos ativos do delito em foco os chefes do Poder Executivo, os dirigentes do Poder Legislativo, os Presidentes dos Tribunais de Contas, os Presidentes dos Tribunais e os Chefes do Ministério Público, em funções administrativas, bem como todos os outros gestores nomeados para o exercício de um mandato, desde que gozem de autonomia administrativa e financeira para deliberar sobre gastos e estejam no exercício do cargo. Outrossim, deverá ser respeitado o conceito de funcionário público estabelecido pelo art. 327 do Código Penal. O crime consuma-se com a ordem ou autorização para que se assuma irregularmente a obrigação. Trata-se de crime formal, dispensando-se para a consumação que a obrigação venha a ser efetivamente assumida. A prisão em flagrante foi ilegal, pelos seguintes motivos: 1) o crime já estava consumado com o ato administrativo que autorizou o aumento de despesa de pessoal 180 dias antes do término do mandato, sendo a implantação do aumento mero Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 21 exaurimento do delito, não estando caracterizada qualquer hipótese prevista no art. 302, do Código de Processo Penal; Tício, por ser Deputado Estadual, só pode ser preso em flagrante por crime inafiançável, sendo de rigor a aplicação do art. 53, parágrafo 2º, da Constituição Federal de 1988, e artigo 14, parágrafo 2º, da Constituição do Estado de São Paulo. No caso em tela, o crime previsto no art. 359-G, do Código Penal tem pena mínima cominada de 01 ano e, portanto, é afiançável, na forma do artigo 323, do Código de Processo Penal. AUDITOR FISCAL - RECEITA FEDERAL - ESAF - 2012 Elabore um texto objetivo sobre o princípio da insignificância e sua aplicação ao crime de descaminho, abordando necessariamente os seguintes aspectos: a) parâmetro legal-tributário que tem sido utilizado pelo Poder Judiciário para a aplicação do princípio da insignificância ao crime de descaminho; b) se os Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil podem deixar de constituir créditos tributários relativos a tributos aduaneiros sob o argumento de aplicação do princípio da insignificância; c) eventuais consequências da aplicação do princípio da insignificância ao crime de descaminho no que tange aos tributos aduaneiros. SUGESTÃO DE RESPOSTA: Primeiramente, é preciso registrar que o crime de descaminho está tipificado no artigo 334 do Código Penal e, com as alterações introduzidas pela Lei nº 13.008/14, consiste na conduta de sonegar, total ou parcialmente, o pagamento de imposto referente à entrada, à saída ou ao consumo de mercadorias. A possibilidade de aplicação do princípio da insignificância ou bagatela durante um bom tempo foi um tema divergente na jurisprudência dos Tribunais Superiores. Para o STJ, em um primeiro momento, não era possível a aplicação do princípio da insignificância ao crime de descaminho, sob o fundamento de que o artigo 20 da Lei nº 10.522/02 não poderia servir como parâmetro. Isso se fundamentava no fato de que o mencionado diploma legal traria uma mera opção de política administrativo-fiscal, pautada nos princípios da eficiência e economicidade, não possuindo qualquer razoabilidade em correlacionar o exercício da jurisdição penal à iniciativa de uma autoridade fazendária. Ademais, o STJ entendia que o mencionado dispositivo legal, por se referir apenas à possibilidade de arquivamento, sem baixa na distribuição, das execuções fiscais ajuizadas com valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 não levaria à extinção do crédito tributário. Logo, não teria o condão de ser parâmetro para uma irrelevância penal do descaminho. Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 22 Nessa perspectiva, também é preciso considerar que os tributos aduaneiros, que incidem nas operações de entrada e saída de mercadorias do país, especialmente o imposto sobre a importação (II) e o imposto sobre produtos industrializados (IPI), possuem como uma de suas características a extrafiscalidade, ou seja, são utilizados pela União para interferir na atividade econômica do país. Assim, no que tange ao crime de descaminho, os bens jurídicos tutelados são a economia do país, a indústria nacional e própria moralidade administrativa, o que impede a aplicação do princípio da insignificância. Ocorre que, em sentido diametralmente oposto, o STF firmou jurisprudência no sentido de que o princípio da insignificância se aplica ao crime de descaminho, desde que o valor sonegado seja inferior ao estabelecido no art.20 da Lei 10.522/02, aplicando-se, ainda, as atualizações de valores trazidas pelas Portarias nº 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda. Para o STF, como a União não ajuíza ações fiscais relativas a valores inferiores a R$ 20.000,00, esse valor é tido como insignificante até mesmo pela União, de forma que a conduta criminosa, até esse limite, seria atípica. O STF, no entanto, entendeu que registros criminais pretéritos da prática do delito de descaminho, a demonstrar a reiteração delitiva do criminoso, afastam a irrelevância penal da conduta praticada, mesmo que o valor fique abaixo de R$ 20.000,00, relacionado na Portaria nº 130. Assim sendo, devido ao posicionamento do STF, o STJ, julgando recurso repetitivo sobre o tema e buscando uma uniformidade jurídica entre os Tribunais Superiores, reviu seu entendimento e passou a aplicar o princípio da insignificância, como causa supralegal de exclusão da tipicidade, em caso de crime de descaminho, utilizando como parâmetro o artigo 20 da Lei nº 10.522/02. Entretanto, o STJ não vem aceitando, para fins de aplicação da bagatela, as ampliações de valores inseridas no ordenamento jurídica pela Portaria nº 130 do Ministério da Fazenda, sob o fundamento de que uma norma infralegal não poderia alterar um parâmetro instituído por lei. A posição estabelecida pelos Tribunais Superiores é criticada por parcela da doutrina. Issoocorre porque há o risco de uma indevida sinalização para a sociedade no sentido de que o Estado não tem interesse em cobrar tributos sonegados ou iludidos. Por fim, importante destacar que os auditores fiscais não podem deixar de efetuar o lançamento e constituir o crédito tributário com fundamento no princípio da insignificância. Há que se diferenciar a esfera penal da administrativa, tendo em vista que o Código Tributário Nacional é expresso ao dispor, especialmente em seu artigo 142 e parágrafo único, que o lançamento é uma atividade administrativa vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. JURISPRUDÊNCIA APLICADA: Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 23 (...) 1. Hipótese em que foram apreendidas ao entrarem ilegalmente no país 644 (seiscentos e quarenta e quatro) pacotes de cigarro de diversas marcas e 12 (doze) litros de whisky, todas mercadorias provenientes do Paraguai, avaliadas à época em R$ 6.920,00 (seis mil novecentos e vinte reais). Impossibilidade de aplicação do princípio da insignificância. 2. Não é possível utilizar o art. 20 da Lei nº 10.522/02 como parâmetro para aplicar o princípio da insignificância, já que o mencionado dispositivo se refere ao ajuizamento de ação de execução ou arquivamento sem baixa na distribuição, e não de causa de extinção de crédito. 3. O melhor parâmetro para afastar a relevância penal da conduta é justamente aquele utilizado pela Administração Fazendária para extinguir o débito fiscal, consoante dispõe o art. 18, § 1.º, da Lei n.º 10.522/2002, que determina o cancelamento da dívida tributária igual ou inferior a R$ 100,00 (cem reais). 4. Há de se ressaltar que, no caso, existe controvérsia sobre o montante da dívida tributária, que pode até ser maior do que R$ 10.000,00, além de se tratar a denunciada de pessoa que ostenta outras duas condenações por crimes da mesma espécie, revelando, em princípio, reiteração criminosa. (...)” (EREsp 966077 / GO; Relator(a): Ministra LAURITA VAZ; Órgão Julgador: S3 - TERCEIRA SEÇÃO; Data do Julgamento: 27/05/2009; Data da Publicação/Fonte: DJe 20/08/2009) (...) I - Segundo jurisprudência firmada no âmbito do Pretório Excelso - 1ª e 2ª Turmas - incide o princípio da insignificância aos débitos tributários que não ultrapassem o limite de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei nº 10.522/02. II - Muito embora esta não seja a orientação majoritária desta Corte (vide EREsp 966077/GO, 3ª Seção, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 20/08/2009), mas em prol da otimização do sistema, e buscando evitar uma sucessiva interposição de recursos ao c. Supremo Tribunal Federal, em sintonia com os objetivos da Lei nº 11.672/08, é de ser seguido, na matéria, o escólio jurisprudencial da Suprema Corte. Recurso especial desprovido. (REsp 1112748 / TO; Relator(a): Ministro FELIX FISCHER; Órgão Julgador: S3 - TERCEIRA SEÇÃO; Data do Julgamento: 09/09/2009; Data da Publicação/Fonte: DJe 13/10/2009) (...). 1. A jurisprudência desta Quinta Turma reconhece que o princípio da insignificância não tem aplicabilidade em casos de reiteração da conduta delitiva, porquanto tal circunstância denota maior grau de reprovabilidade do comportamento lesivo, sendo desnecessário perquirir o valor dos tributos iludidos pelo acusado. 2. A existência de outras ações penais, inquéritos policiais em curso ou procedimentos administrativos fiscais, em que pese não configurarem reincidência, denotam a habitualidade delitiva do réu e afastam, por consectário, a incidência do princípio da insignificância. 3. Esta Corte consolidou o entendimento de que não é possível a aplicação do princípio da insignificância quando o valor do montante do tributo devido for superior a R$ 10.000,00 (art. 20 da Lei n. 10.522/2002), não se aplicando, portanto, a Portaria MF n. 75/2012. 4. Agravo regimental desprovido.” (AgRg no REsp 1618447 / PR; Relator(a): Ministro RIBEIRO DANTAS; Órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMA; Data do Julgamento: 09/03/2017; Data da Publicação/Fonte: DJe 17/03/2017) Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 24 “(...) 2. Para crimes de descaminho, considera-se, na avaliação da insignificância, o patamar previsto no art. 20 da Lei 10.522/2002, com a atualização das Portarias 75 e 130/2012 do Ministério da Fazenda. Precedentes. 3. Embora, na espécie, o descaminho tenha envolvido elisão de tributos federais em montante pouco superior a R$ 11.533,58 (onze mil, quinhentos e trinta e três reais e cinquenta e oito centavos) a existência de registros criminais pretéritos obsta, por si só, a aplicação do princípio da insignificância, consoante jurisprudência consolidada da Primeira Turma desta Suprema Corte (HC 109.739/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe 14.02.2012; HC 110.951/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 27.02.2012; HC 108.696/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 20.10.2011; e HC 107.674/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe 14.9.2011). Ressalva de entendimento pessoal da Ministra Relatora. 4. Ordem denegada. Decisão: (...).”. (HC 123861 / PR; HABEAS CORPUS; Relator(a): Min. ROSA WEBER; Julgamento: 07/10/2014; Órgão Julgador: Primeira Turma; Publicação: 28-10-2014) (...) 1. A pertinência do princípio da insignificância deve ser avaliada considerando-se todos os aspectos relevantes da conduta imputada. 2. Para crimes de descaminho, considera-se, na avaliação da insignificância, o patamar previsto no art. 20 da Lei 10.522/2002, com a atualização das Portarias 75 e 130/2012 do Ministério da Fazenda. Precedentes. 3. Descaminho envolvendo elisão de tributos federais no montante de R$ 19.892,68 (dezenove mil, oitocentos e noventa e dois reais e sessenta e oito centavos) enseja o reconhecimento da atipicidade material do delito pela aplicação do princípio da insignificância. (...)”. (HC 136984 / SP; Relator(a): Min. ROSA WEBER; Julgamento: 18/10/2016; Órgão Julgador: Primeira Turma; Publicação: DJe- 049 DIVULG 14-03-2017 PUBLIC 15-03-2017) (...) 1. O delito de descaminho reiterado e figuras assemelhadas impede o reconhecimento do princípio da insignificância, ainda que o valor apurado esteja dentro dos limites fixados pela jurisprudência pacífica desta Corte para fins de reconhecimento da atipicidade. Precedentes: HC 133.566, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia DJe de 12/05/2016, HC 130.489AgR, Primeira Turma, Rel. Min. Edson Fachin DJe de 09/05/2016, HC 133.736 AgR, Segunda Turma, Relator Min. Gilmar Mendes, DJe 18/05/2016. (...)”. (HC 122348 AgR / RS - RIO GRANDE DO SUL; Relator(a): Min. LUIZ FUX; Julgamento: 09/11/2016; Órgão Julgador: Primeira Turma; Publicação: DJe-248 DIVULG 21-11-2016 PUBLIC 22-11-2016 PROCURADOR MUNICIPAL – PGM-BOA VISTA/RR – 2010 - CESPE Antônio, servidor público municipal, lotado na seção de licitação e contratos de uma prefeitura municipal, coordenador do departamento de compras, licitação e contratos do referido ente municipal, no regular exercício da função pública, dispensou licitação em diversas compras no período de janeiro a agosto de 2009, fora das hipóteses legais de dispensa e com inobservância das formalidades pertinentes ao procedimento administrativo licitatório, ensejando um prejuízo de R$ 90.000,00 aos cofres do município. Além disso, em concurso material, solicitou significativa quantia para célere liberação de pagamento a fornecedores e devassou sigilo de proposta apresentada em Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 25 procedimento licitatório, para beneficiar falsificação de documentos públicos e, com isso, ocultar algumas práticas ilegais. Por fim, no curso da apuração administrativa, Antônio retardou a prática de ato de ofício para satisfazer interesse e sentimento pessoal. Todos esses fatos restaram provados nos autos de inquérito policial que, concluso, foi encaminhado ao MinistérioPúblico, o qual denunciou Antônio, desencadeando ação penal que se encontra em curso. Considerando a situação hipotética narrada acima, redija um texto dissertativo que atenda, necessariamente, de forma justificada e com o devido fundamento, as seguintes determinações: 1- comente sobre a possibilidade de habilitação do município na condição de assistente de acusação; 2- informe que medida processual penal garantirá o ressarcimento dos prejuízos sofridos pela administração; 3- comente sobre os efeitos penais da sentença condenatória no tocante ao cargo público do servidor; 4- elenque as infrações penais praticadas pelo servidor. SUGESTÃO DE RESPOSTA: Em relação à assistência de ente público no processo penal, existe controvérsia doutrinária sobre o tema. A doutrina contrária à assistência aduz, sinteticamente, que o Estado já estaria presente na ação penal pública em virtude da atuação do Ministério Público. Com isso, não caberia ao ente público atuar na qualidade de assistente, pois haveria a situação de duas entidades estatais estarem contra o réu. Já a doutrina que defende a assistência aduz que determinadas infrações penais poderão gerar, além da sanção penal, outras formas de reação do Direito, possuindo, por exemplo, interesse de natureza patrimonial a partir da violação a determinados bens jurídicos de particulares perfeitamente individualizados. Não se pode negar, por exemplo, o interesse jurídico de determinado município na condenação de servidor público que cometeu delitos funcionais em um procedimento licitatório. O STJ possui entendimento no sentido de ser admissível a assistência de pessoas jurídicas de direito público como assistentes da acusação quando a motivação da intervenção for extrapenal. Para tanto, aduz que, segundo dispõe o art. 91, I, do CP, constitui um dos efeitos da sentença penal condenatória tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime. Por isso mesmo dispõe o art. 63 do CPP que, transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros. Nesse caso, a sentença constitui título certo e ilíquido em favor do direito à indenização, e, com esse título executório, o exequente não vai discutir o an debeatur, mas sim o quantum debeatur. A medida processual penal a ser adotada para garantir o ressarcimento do erário municipal é o sequestro. Constitui-se em uma medida assecuratória fundada no interesse público e antecipativa do perdimento de bens como efeito da condenação, no caso de ser produto do crime ou adquiridos pelo agente com a prática do fato criminoso. Por ter por fundamento o interesse público, qual seja, o de que a atividade Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 26 criminosa não tenha vantagem econômica, o sequestro pode, inclusive, ser decretado de ofício. Em relação à perda do cargo público do servidor, o art. 92 do CP menciona que, dentre os efeitos da condenação, temos a perda do cargo, função pública ou mandato em algumas situações de pena privativa de liberdade. Existe posicionamento no sentido de que a perda de cargo público é tão somente efeito administrativo da decisão judicial, de modo que a motivação/fundamentação para esse efeito da pena pode decorrer do próprio conjunto da decisão judicial. O STJ entende que os efeitos específicos da condenação não são automáticos, de sorte que, ainda que presentes, em princípio, os requisitos do art. 92, I, do CP, deve a sentença declarar, motivadamente, os fundamentos da perda do cargo público. No tocante às infrações praticadas pelo servidor, houve o cometimento do delito previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/93; do delito de corrupção passiva (art. 317 do Código Penal); do delito previsto no art. 94 da Lei nº 8.666/93 e do delito de prevaricação (art. 319 do Código Penal). JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA: MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO. AÇÃO PENAL PÚBLICA E ASSISTÊNCIA. CRIME CONTRA A PREFEITURA MUNICIPAL. 1. DA DECISÃO DENEGATORIA DE MANDADO DE SEGURANÇA EM UNICA INSTANCIA, CABE RECURSO ORDINARIO. 2. TRATANDO-SE DE AÇÃO PENAL PÚBLICA PROMOVIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO, SENDO LESADA A PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, E ADMISSIVEL O INGRESSO DESTA COMO ASSISTENTE. E QUE O INTERESSE DO BEM PÚBLICO GERAL DO ORGÃO MINISTERIAL NÃO COINCIDE COM O INTERESSE SECUNDARIO DA OFENDIDA MUNICIPALIDADE. 3. RECURSO PROVIDO. (STJ - RMS: 546 SP 1990/0007494-0, Relator: Ministro JESUS COSTA LIMA, Data de Julgamento: 17/10/1990,T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 05.11.1990 p. 12434</br> RT vol. 667 p. 334) AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. PODERES INVESTIGATÓRIOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA Nº 593.727. UTILIZAÇÃO DA PROVA EXTRAJUDICIAL COMO FUNDAMENTO PARA A CONDENAÇÃO. POSSIBILIDADE EM CARÁTER COMPLEMENTAR À PROVA JUDICIALIZADA. PARECER TÉCNICO. NÃO SUJEIÇÃO À DISCIPLINA LEGAL DA PROVA. INDEFERIMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVA CONSIDERADA IRRELEVANTE. DISCRICIONARIEDADE REGRADA. RENOVAÇÃO DO INTERROGATÓRIO AO FINAL DA INSTRUÇÃO. LEI Nº 11.719/2008. ALTERAÇÃO LEGISLATIVA SUPERVENIENTE. TEMPUS REGIT ACTUM. TIPICIDADE. ELEMENTO SUBJETIVO. REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. DESCLASSIFICAÇÃO. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. PERDA DO CARGO PÚBLICO. VIOLAÇÃO DE DEVER PARA COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 1. O Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 593.727, submetido ao rito do artigo 543-B do Código de Processo Civil, pacificou o entendimento no sentido de que "O Ministério Questões Discursivas – www.questoesdiscursivas.com.br CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 27 Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade - sempre presente no Estado democrático de Direito - do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição". 2. O artigo 155 do Código de Processo Penal não impede a utilização da prova extrajudicial como fundamento para a condenação desde que em caráter complementar à prova produzida sob crivo do contraditório judicial. 3. Documento particular produzido pela vítima tem natureza de parecer técnico, não sujeito à disciplina legal da prova inserta no artigo 155 e seguintes do Código de Processo Penal. 4. O parágrafo 1º do artigo 400 do Código de Processo Penal confere ao magistrado a condição de destinatário final das provas, o qual, pelo princípio do livre convencimento motivado, pode indeferir de forma fundamentada as providências que considere protelatórias, irrelevantes ou impertinentes, não estando obrigado a realizar outras provas quando já se encontra suficientemente instruído diante dos elementos probatórios existentes nos autos. (...). 8. A pena de perda do cargo público não é mero efeito da condenação, devendo ser motivada por determinação expressa do parágrafo único do art. 92 do Código Penal, tal como nos presentes autos, em que o réu, na condição de agente fiscal de rendas do Estado, valeu-se do cargo para perpetrar o crime de corrupção ativa em matéria tributária (artigo 3º inciso II, da Lei 8.137/90) causando lesão ao erário estadual que, segundo ele próprio, poderia alcançar mais de duzentos milhões de reais. 9. Agravo regimental improvido. (AgRg noREsp 1444444/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 16/02/2016, DJe 24/02/2016
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