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U N O PA R A RTE E ED U C A Ç Ã O N Ã O FO RM A L Arte e educação não formal Tatiana Romagnolli Peres Arte e educação não formal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Peres, Tatiana Romagnolli ISBN 978-85-8482-448-9 1. Arte – Educação e ensino. 2. Educação não formal. 3. Museus. 4. Espaços culturais. 5. Patrimônio cultural. I. Título. CDD 708 Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2016. 200 p. P437a Arte e educação não formal / Tatiana Romagnolli Peres. – © 2016 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente Acadêmico de Graduação Mário Ghio Júnior Conselho Acadêmico Dieter S. S. Paiva Camila Cardoso Rotella Emanuel Santana Alberto S. Santana Regina Cláudia da Silva Fiorin Cristiane Lisandra Danna Danielly Nunes Andrade Noé Parecerista Rosângela de Oliveira Pinto Editoração Emanuel Santana Cristiane Lisandra Danna André Augusto de Andrade Ramos Adilson Braga Fontes Diogo Ribeiro Garcia eGTB Editora 2016 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Unidade 1 | Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias Seção 1 - Sobre a importância da formação em arte 1.1 | A importância da arte e da formação em arte 1.2 | Arte e sua relação com os espaços Seção 2 - Espaços culturais para a arte 2.1 | Museus 2.2 | Centros de cultura 2.3 | Escolas de arte 2.4 | Galerias 7 11 11 23 31 31 42 44 46 Unidade 2 | Interação entre os espaços de educação formal e não formal Seção 1 - Delimitações sobre espaço formal e não formal 2.1 | Espaço formal 1.1 | Espaço não formal Seção 2 - Arte em diferentes espaços 1.1 | A arte começa na escola? 1.2 | Possibilidades da integração entre educação formal e não formal 59 63 63 78 87 87 92 Unidade 3 | Conceitos de exposição, curadoria, monitoria e conservação de bens culturais Seção 1 - Conceitos de exposição, curadoria, monitoria 1.1 | Exposição 1.2 | Curadoria 1.3 | Monitoria Seção 2 - Patrimônio e conservação 2.1 | O que é patrimônio cultural? 2.2 | Conservação de bens culturais 107 111 111 120 130 137 137 143 Unidade 4 | Praticas pedagogicas em sala de aula Seção 1 - Novas práticas para a arte-educação: desafios de aproximação entre educação formal e não formal 1.1 | Os novos desafios para a aproximação da educação formal e não formal 153 157 158 Sumário 1.2 | Visitando exposições de arte: discussões, propostas e sugestões introdutórias Seção 2 - Reflexões sobre o museu virtual como prática educativa 171 187 Apresentação Atualmente, diversos questionamentos se interpõem frente à educação em arte. Muitos buscam desvendar e contribuir para a proposição de novos caminhos que tentam desvendar as potências implícitas ou explícitas do conhecimento em/ sobre arte. Contudo, um fator chama a atenção quando se atenta para as implicações da arte: as constantes e atuais transformações do universo informacional e tecnológico. É evidente que muitas dessas transformações, que, muitas vezes, são originárias de outras áreas, acabam também desencadeando uma série de mudanças nos modos de fazer, compreender, apreciar, pesquisar ou de relacionar-se com a arte e com seus desdobramentos. Em razão disso, interpõem-se questões sobre a capacidade de adaptação dos conteúdos ou metodologias da aula de arte. Por esse motivo, este livro visa debater como possíveis conexões entre espaços de educação formal e não formal podem alavancar as potencialidades da arte e cooperar de modo significativo para o surgimento de possibilidades educacionais que estimulem e instiguem os novos perfis de estudantes da contemporaneidade. Dessa forma, o livro Arte e Educação Não Formal objetiva discutir novas práticas e abordagens pedagógicas que tenham em vista ultrapassar os muros das escolas, alcançando outros possíveis lugares para formação e construção do conhecimento, mesmo que esses sejam simplesmente espaços virtuais. Neste material, você terá acesso a informações que demandam discutir sobre esses possíveis espaços não formais de formação e sua relação com o conhecimento em arte. A intenção será refletir sobre como esses espaços não formais podem cooperar para a criação de novos ambientes de intervenção e interação educacional. A Unidade 1, "Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias", possui duas seções. A primeira seção, "Sobre a importância da formação em Arte", compreende delimitações sobre a relevância da arte para a compreensão do universo comunicacional e imagético. A segunda, "Espaços culturais para a Arte", aponta como diferentes espaços culturais podem contribuir para a formação em arte. Na Unidade 2, Interação entre os espaços de educação formal e não formal, encontram-se duas seções, sendo que a primeira, "Delimitações sobre o espaço formal e não formal", apresenta definições sobre educação formal e não formal. Assim, a segunda, "Arte em diferentes espaços", proporciona formas de pensar a interação entre espaços formais e não formais na arte-educação. Já a Unidade 3, "Conceitos de exposição, curadoria, monitoria e conservação de bens culturais", apresenta duas seções. A primeira, "Conceitos de exposição, curadoria, monitoria", discute delimitações e especificidades desses termos. A segunda, "Patrimônio e conservação", trata de evidenciar a valorização e conservação do patrimônio cultural brasileiro. Por fim, a Unidade 4, "Práticas pedagógicas em sala de aula", apresenta também duas seções. A primeira, "Novas práticas para a arte-educação: desafios da aproximação entre educação formal e não formal", direciona debates sobre propostas de aproximação entre educação formal e não formal por meio da visita a museus. Já a segunda, "Reflexões sobre o museu virtual como prática educativa", aborda a importância da exploração de museus virtuais nas aulas de Arte. Bons estudos! Tatiana Romagnolli Peres Unidade 1 ARTE E OS ESPAÇOS CULTURAIS: MUSEUS, CENTROS DE CULTURA, ESCOLAS DE ARTE, GALERIAS Na primeira seção desta unidade, compreenderemos a relevância da arte para a compreensão do universo comunicacional e imagético. Tais conteúdos convergirão para reflexões sobre as potencialidades da arte e, Seção 1 | Sobre a importância da formação em Arte Objetivos de aprendizagem Nesta unidade, você irá compreender a importância da arte e do universo imagético para a atualidade e como ambos tornaram-se imprescindíveis para entender as relações do homem contemporâneo. Além disso, compreenderá que a arte pode ser um grande instrumento de comunicação, percebendo ainda que ela pode portar influências advindas de relações sociais e culturais precedentes. Nesse contexto, a posição de importância da arte na contemporaneidade será evidenciada por meio de análises sobre a sua função a partir das contribuições da arte-educação. Para tanto, serão evidenciadas as propostas de intervenção de espaços culturais específicos como museus, centros de cultura, escolas de arte e galerias. Também serão sugeridas reflexões que contribuirão para o estabelecimento de novos posicionamentossobre a arte por meio de correlações dessa com possíveis espaços de produção, apresentação e apreciação artística vigentes. Essas informações podem ser fundamentais para que você possa entender que a formação em arte ultrapassou, há tempos, os limites de escolas. Tatiana Romagnolli Peres Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 8 consequentemente, da imagem na formação dos indivíduos. Essas discussões convergirão, do mesmo modo, para a necessidade de pensar a respeito das relações estabelecidas entre a arte-educação e os espaços culturais. Já a segunda seção se desdobrará sobre os diferentes espaços culturais que podem contribuir para a educação cultural e formação em Arte. Sendo assim, serão abordados assuntos referentes às ações e possibilidades de intervenções sugeridas por museus, centros de cultura, escolas de arte e galerias. Seção 2 | Espaços culturais para a Arte Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 9 Introdução à unidade Qual a importância da arte? Em que espaços pode-se ter acesso à arte? Uma educação para a arte pode ser acessada somente por meio de instituições formais de ensino, como a escola? A arte é capaz de portar alta quantidade de elementos informacionais e comunicacionais. Dessa forma configura-se como importante instrumento de comunicação humana. Em função dessas constatações, percebe-se que o lugar que a arte ocupa atualmente na formação dos diferentes grupos tornou-se extremamente relevante na medida em que percebemos que ela contribui de maneira pontual para a construção de sujeitos muito mais críticos, criativos e capazes de melhor compreender a realidade que os cerca. Nesta unidade, faremos uma viagem por diferentes questões que embasam o conhecimento sobre a importância da arte para a formação dos indivíduos, abarcando questões que amparam a ideia de que se tornou imprescindível o contato e ampliação de conhecimento sobre a necessidade da arte. Configura-se, portanto, um momento em que se buscará promover a compreensão de como a arte e os espaços em que esta é apresentada são essenciais para o desenvolvimento estético. Para que isso ocorra, destacaremos também que a arte pode ser encontrada em ambientes surpreendentes e alternativos que rompem com lugares estereotipados ou elitistas. Para tanto, na primeira seção, "A importância da arte e de seus espaços culturais", o estudante entenderá as potencialidades da arte e as influências dos espaços para a educação não formal. Na segunda seção, 'Espaços culturais para a arte", você irá conhecer diferentes espaços culturais para a exposição de objetos artísticos/obras de arte como museus, centros de cultura, escolas de arte e galerias. Cultura: “Do verbo latino colere, que significa cultivo, cuidado com as plantas, os animais e tudo o que se relaciona com a terra, como a agricultura. Designava também o cuidado com os deuses, de onde vem a palavra ‘culto’; também era aplicada ao cuidado com as crianças e com sua educação, referindo-se ao cultivo do espírito. É neste último sentido Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 10 que o termo é usado até hoje. Do ponto de vista da Antropologia, o termo ‘cultura’ refere-se a tudo o que o ser humano faz, pensa, imagina, inventa, porque ele é capaz de viver somente guiado por seus instintos, ele é levado a construir ‘ferramentas’ que possam ajudá-lo a instalar-se no mundo, a sobreviver, a desenvolver sua humanidade. A essas ferramentas dá-se o nome de cultura. [...] Em sentido restrito, diz respeito à produção ligada às diferentes práticas artísticas, ou seja, às manifestações que façam uso das linguagens artísticas, populares ou eruditas” (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 409-411). Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 11 Seção 1 Sobre a importância da formação em Arte Nesta seção, iremos desvendar informações sobre importância da arte e compreender como ela pode interferir ativamente na construção crítica dos indivíduos. Abordaremos, para tanto, modos que possibilitarão a apreensão do potencial informacional, muitas vezes subjetivo, contido tanto na arte quanto nas imagens, sejam elas artísticas ou não. Discutiremos sobre como o universo imagético tornou-se imprescindível para as relações sociais e culturais do homem contemporâneo. Além disso, nesta seção, também será possível notar aprofundamentos sobre como a arte pode exercer ativamente sua função, ainda que encontrada em espaços culturais diferenciados, que rompem com a perspectiva óbvia da sala de aula, da educação formal. Por isso, você poderá notar como a arte se relaciona com os espaços em que é exposta e qual o papel que esses espaços podem ocupar atualmente na educação não formal sobre Arte. 1.1 A importância da arte e da formação em arte Qual a importância da imagem e da arte para você? Com base no que imaginou previamente, você poderá embrenhar-se em um outro universo que tentará a desvendar os segredos contidos na arte e por consequência na imagem. De diferentes O homem anseia por absorver o mundo circundante, integrá- lo a si; anseia por estender pela ciência e pela tecnologia o seu "Eu" curioso e faminto de mundo até as mais remotas constelações e até os mais profundos segredos do átomo; anseia por unir na arte o seu "Eu" limitado com uma existência humana coletiva e por tornar social a sua individualidade. Ernst Fischer Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 12 pontos de vista, vários autores, que serão estudados nesta unidade, debruçaram-se sobre inúmeras pesquisas na tentativa de desvendar e discutir a importância da arte, sua relação com o processo de aprendizagem e com a educação. Em função disso, é sabido que a arte-educação contribui amplamente com o desenvolvimento do aluno, podendo também colaborar na construção de criticidade e percepção do mundo. De acordo com Buoro (2003, p. 33), “a finalidade da Arte na educação é propiciar uma relação mais consciente do ser humano no mundo e para o mundo, contribuindo na formação de indivíduos mais críticos e criativos que, no futuro, atuarão na transformação da sociedade”. Por isso, pode-se imaginar antecipadamente que as relações estabelecidas entre arte e educação não são isentas de potencialidades extremamente importantes, não podendo, portanto, ser considerada desnecessária ao currículo. Consequentemente, é possível afirmar que a educação, em suas variadas instâncias, coexiste com a arte, num processo de dependência mútua. Essas relações denotam consequências altamente complexas para a arte-educação, já que complementam e influenciam o processo de ensino-aprendizagem. Inquestionavelmente, reafirma-se a necessidade da presença permanente da arte-educação nos currículos. Sendo assim, todas essas discussões iniciais giram em torno da ideia de se pontuar claramente qual é a verdadeira função da arte na formação educacional, metodológica, cultural ou histórica do indivíduo. A arte pode ser vista como reflexo de diferentes relações sociais. Pode ser percebida também como um modo do indivíduo, seja ele pertencente a qualquer época ou lugar, compreender seu entorno e, consequentemente, estabelecer relações com a cultura circundante. Para reforçar essa percepção sobre a função da arte, vale analisar a fala de Buoro (2003, p. 23) É necessário introduzir a arte na educação como uma metodologia pedagógica e como uma metodologia para adquirir conhecimentos. O fato é que é necessário introduzir noções pedagógicas na arte para afinar o rigor da criação e para melhorar a comunicaçãocom o público ao qual o artista quer se dirigir. O fato é que não há verdadeira educação sem arte nem verdadeira arte sem educação. O fato é que o artista que não consegue sobreviver no mercado vai ensinar sem saber como ensinar. O fato é que o professor que não tem ideias não se atreve a recorrer à arte para tê-las. O fato, trágico, é que aceitamos socialmente que é possível ensinar sem rigor e que somente pode se fazer arte por designação divina. [...] arte e educação são uma mesma atividade que se formaliza em meios diversos (CAMNITZER, 2009, p. 20-21). Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 13 ao assegurar que “em cada momento específico o homem tenta satisfazer suas necessidades socioculturais também por meio de sua vontade/necessidade de Arte”. Logo, há que se pensar que a arte é primeiramente e, no mínimo, necessária. Ao longo de toda a vida, cada indivíduo entra em contato com uma quantidade incalculável de imagens cotidianamente. Dessa maneira, devemos refletir que “imagens impõem presenças que não podem persistir ignoradas ou subestimadas em sua potencialidade comunicativa” (BUORO, 2003a, p. 35). Faz-se necessário compreender o mundo imagético e informacional circundante. Contudo, uma questão se faz presente: as imagens são mesmo relevantes na contemporaneidade? A resposta a essa pergunta decorre de um outro questionamento: onde encontramos imagens? Todos poderiam citar uma infinidade de espaços, até porque a quantidade de imagens a que se tem acesso atualmente tornou-se praticamente incalculável. Elas encontram-se na internet, nos celulares, A arte, portanto, se faz presente, desde as primeiras manifestações de que se tem conhecimento, como linguagem, produto da relação homem/mundo. Neste sentido, não existe homem puro, o ser biológico separado de suas especificidades psicológicas, sociais e culturais. Cada uma dessas especificidades está presente e sempre esteve presente na vida humana, e é por meio delas que, desde os tempos mais remotos, o homem foi se relacionando com a natureza e com o mundo ao seu redor, construindo as possibilidades de sua sobrevivência e desenvolvimento. A arte, enquanto linguagem, interpretação e representação do mundo, é parte deste movimento. Enquanto forma privilegiada dos processos de representação humana, é instrumento essencial para o desenvolvimento da consciência, pois propicia ao homem contato consigo mesmo e com o universo. Por isso, a arte é uma forma de o homem entender o contexto ao seu redor e relacionar-se com ele (BUORO, 2003, p. 20). FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 14 nos outdoors, nas revistas, na televisão, na escola, nos livros escolares dos alunos de todas as idades ou em outros inúmeros lugares ou espaços. No entanto, acessa-se cotidianamente um número de imagens, que podem ou não ser arte, mas que inundam seu repertório visual, mesmo que imperceptivelmente. Há, portanto, uma urgência em se pontuar e destacar qual o papel da imagem/arte para a formação do indivíduo, começando pela definição da importância que tanto a imagem quanto a arte possuem. Logo, é necessário investir em uma educação pautada em imagens e em sua compreensão. É imprescindível, sobretudo, uma alfabetização a partir das visualidades, decodificando o mundo imagético e compreendendo suas correlações. Sendo assim, para Buoro (2003a, p. 34-35): De forma categórica, podemos afirmar que já, há algum tempo, o homem contemporâneo convive com tantas imagens que essas passaram a fazer parte do seu dia a dia. A grande quantidade de imagens que vemos todos os dias pode se tornar prejudicial para a compreensão e distinção do valor da imagem? Autores como Vilém Flusser (2007) ponderam que o excesso de visibilidade dado às imagens pode ser prejudicial à visualidade e à compreensão do mundo, já que acabam interpondo-se na percepção do mundo. Dessa forma, Flusser (2007, p. 143) afirma que “o propósito das imagens é dar significados ao mundo, mas elas podem se tornar opacas para ele, encobri-lo e até mesmo substituí-lo”. A substituição assegurada por Vilém Flusser (2007) pressupõe que as imagens produzidas pelos aparelhos eletrônicos são incalculáveis e, por isso, tornam-se substitutas dos próprios objetos. O autor ainda continua explicando como superarmos tal problema entre excesso de imagens e a percepção do mundo, à medida que ele desvenda que uma das formas seria tornando compreensível o universo imagético. Dessa maneira, afirma que “as imagens são mediações entre o homem e o seu mundo [...]. São ferramentas para superar a alienação humana. [...] É necessário aprender a As imagens, que aparecem majoritariamente com função intransitiva de mera decoração nos livros de ensino fundamental e da educação infantil, surgem assim como que parcialmente emudecidas e, portanto, incapacitadas para fornecer significados a professores e crianças e, mais ainda, para encaminhá-los no sentido de sua apropriação como poderoso recurso a serviço da prática pedagógica. É imperativo investir numa prática que transforme esses sujeitos em interlocutores competentes, envolvidos em intenso e consistente diálogo com o mundo, estimulados para isso por conexões e informações que circulam entre verbalidade e visualidade. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 15 decifrar essas imagens, é preciso aprender as convenções que lhes imprimem significados” (FLUSSER, 2007, p. 142). A chave fundamental para superar esse processo de alienação é começar a compreender os códigos imagéticos trazidos pelas imagens. No entanto, ainda existem muitas referências a respeito dos prejuízos ocasionados pelos excessos de imagem. Uma das principais discussões ainda se refere a essa possibilidade das imagens se tornarem “biombos”, encobrindo o mundo e, consecutivamente, a visão crítica de fatos ou informações. Essas implicações determinam que a percepção do mundo visível também pode se tornar ofuscada, limitada ou destorcida. Pimentel (2003, p. 85-87) adverte que: Você já observou que, em parques, espaços públicos, exposições de grandes obras de arte ou até mesmo nas escolas, o ato de fotografar tem se tornado mais importante do que a simples observação das formas, dos objetos, dos momentos, das paisagens? Você, em algum momento importante, já se preocupou mais em tirar uma fotografia do que em apreciar o acontecimento? Você já retomou todas as imagens que fotografou para observá-las e apreciá-las calmamente? Nos dias de hoje, a imagem visual tem uma presença cada vez maior na vida das pessoas. Imagens nos são apresentadas e reapresentadas a todo momento, num misto de criação e recriação. A apropriação e transformação de imagens procura dar uma nova significação a imagens já conhecidas e, ocupa grande espaço na mídia, sendo cada vez mais usadas em cartazes, outdoors e nos meios de comunicação eletrônicos. Devido à velocidade com que vemos as imagens, nem sempre podemos pensar sobre elas e selecionar as que devem fazer parte do nosso repertório imagético, isto é, da referência visual que gostaríamos de deixar registrada. Nesse contexto, é importante desenvolver-se a competência de saber ver e analisar a imagem, para que se possa, ao produzir imagens, fazer com que ela tenha significação [...]. Assim, é preciso conhecer a produção artística visual contemporânea, valorizar nossa herança cultural e ter consciência da nossa participação enquanto fruidores e construtores da cultura do nosso tempo. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 16 Como compreender o universo imagético? Como tornaro alfabetismo visual acessível, consciente e necessário ao desenvolvimento humano? Essas respostas encontram-se, certamente, nos caminhos que levam à arte-educação, seja ela formal ou não formal. A tomada de consciência da potencialidade do mundo imagético perpassa por desvendamentos fornecidos pelo universo da arte e, hoje, são fundamentais para o estabelecimento da importância desses objetos. Qual a distinção entre imagem e arte? Toda imagem observada pode ser considerada uma obra de arte ou imagem artística? É possível assegurar que existe uma distinção muito pontual entre imagens artísticas ou não, mas é necessário destacar que a arte pode se utilizar frequentemente de imagens em suas criações. Do mesmo modo, os arte-educadores também se utilizam de imagens durante o processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, esta seção se debruça sobre discussões que abrangem tanto a imagem quanto a arte, por compreender, nesse momento, que em diversos contextos, não há como separar uma e outra. No entanto, para serem consideradas artísticas, as imagens devem respeitar uma série de critérios como, por exemplo: intenção de criação artística ou preocupação com ineditismo, unicidade (criação única), proposição de uma poética, criatividade, entre outros. Apesar disso, tanto a imagem artística quanto não artística possuem signos passíveis de leitura e análise. Porém, a leitura de imagens é diferente daquela que acontece com textos lineares produzidos pela escrita tradicional. Na imagem, a leitura acontece de forma livre e de modo não linear, já que os olhos caminham livremente pelo espaço. O mesmo não ocorre na escrita, pois ela possui uma lógica que deve ser obedecida durante a leitura, como, por exemplo: da esquerda para a direita, de cima para baixo. Já as imagens possuem códigos abertos, ou seja, códigos que não podem ser precisamente determinados como ocorre no caso do alfabeto. Desse modo, as informações sugerem a ocorrência de diferentes interpretações durante a leitura de uma mesma imagem ou obra de arte. Essas diferenças de interpretação dependem da vivência, da bagagem informacional ou da cultura que cada pessoa que observa e busca compreender a imagem possui. Por Visualidade: qualidade ou estado de ser visual ou visível; visibilidade. Imagem mental ou pictórica; visualização. Visibilidade: qualidade ou caráter do que é visível, do que pode ser percebido pelo olhar; percepção pelo sentido da visão. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/visualidade>. Acesso em: 18 fev. 2016. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 17 Curiosidade Você já brincou de olhar para o céu e determinar as formas que cada nuvem possui? E você já fez essa brincadeira, mesmo quando criança, junto com outras pessoas? Você já notou como é comum cada uma das pessoas encontrar formas completamente diferentes para uma mesma nuvem? O mesmo pode acontecer com uma obra de arte ou uma imagem! Cada uma das pessoas tem impressões, sensações ou percepções diferentes diante de uma mesma obra. isso, compreende-se que um mesmo traço pode representar diferentes objetos ou formas, dependendo do contexto em que está inserido e da pessoa que o observa. Para explicar as potencialidades da imagem, há que se adentrar mais profundamente nos conceitos que as embasam. E, se imagens possuem códigos passíveis de leitura, há que se compreender o que são os códigos e qual sua função na comunicação. Nesse contexto, Flusser (2007, p. 130) afirma que “um código é um sistema de símbolos. Seu objetivo é facilitar a comunicação entre os homens. Como os símbolos são fenômenos que substituem ('significam') outros fenômenos, a comunicação, é, portanto, uma substituição: ela substitui a vivência daquilo a que se refere”. A capacidade informacional das imagens, e consequentemente da arte, já foram descritas e elucidadas. Agora, faz-se necessário pensar sobre a criação artística de forma mais aprofundada, partindo justamente dos elementos sociais e culturais que podem influenciar uma produção em arte. O que influencia a criação artística? Pode-se pontuar que todo indivíduo é resultado do tempo histórico em que se encontra e das relações sociais e culturais que possa estabelecer. Descobrem-se assim, outras fontes que podem influenciar a criação artística. Portanto, os lugares que frequentam, a época em que vivem, o lugar onde moram, as pessoas com as quais se relacionam também influenciam na formação dos indivíduos e influenciam, consequentemente, a produção artística. Ostrower (1977, p. 5) corrobora essas ideias ao garantir que “a natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. Todo indivíduo se desenvolve em uma realidade social, em cujas necessidades e valorações culturais moldam os próprios valores de vida”. Essa noção de correlação entre o meio e a arte é necessária para que se possa compreender como a criação artística pode ser resultado de muitas influências socioculturais. Dessa forma, pode-se perceber que ao entrar em contato com uma Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 18 obra de arte, um objeto artístico, tem-se acesso a épocas, lugares ou culturas distintas. Esses conhecimentos obtidos por meio da arte são capazes de desvendamentos, esclarecimentos, ampliação de conhecimentos e até mesmo compreensão do mundo circundante. Retrocedendo no tempo, pode-se perceber que o homem, desde os primórdios da civilização, sempre se utilizou ou se expressou por meio de imagens. Essas informações reafirmam a necessidade de relacionar-se com imagens e, portanto, com diferentes formas de arte. Através do desenho, gravura, pintura, escultura, ou qualquer uma das modalidades, o ser humano sempre demostrou sua necessidade de comunicação ou de criação de imagens, fossem elas com objetivos artísticos ou não. Sobre essas informações, Buoro (2003, p. 24) destaca que: Surge, então, uma questão a ser pensada: ao longo da história, seria possível traçar uma forma única de criação de arte? Obviamente, não! A obra de arte é a consequência do tempo em que está inserida e das necessidades decorrentes desse período. Logo, ela é resultado de uma sequência de influências que respondem a características atreladas às transformações espaço-temporais. Daí a necessidade de pensar como a arte acontece, se articula e se transforma em decorrência de constantes transformações sociais e culturais. Para cada época, lugar ou região, apresenta-se um tipo de criação artística específica. Atualmente, deve-se levar em consideração várias transformações no que é ou não considerado arte. Os parâmetros que orientam os limites do que seja ou não arte são delimitados a partir de padrões, normas ou questões que estão conectadas a variantes intimamente arraigadas com o tempo ou o lugar em questão. Nota-se, na contemporaneidade, que se alteraram os materiais, os objetivos, os estilos, os espaços que apresenta ou se desenvolve a arte e, consequentemente, as relações estabelecidas entre artista, obra e público. Todas essas relações e formatos são absolutamente diferentes dos que eram apresentados há alguns anos atrás. Ao desenhar nas paredes das cavernas e fabricar cestarias e cerâmicas, o homem “primitivo” era impulsionado pelas mesmas questões de sobrevivência que motivaram o homem do Renascimento e do século XX. A Arte, então, aparece no mundo humano como forma de organização, como modo de transformar a experiência vivida em objeto de conhecimento que se desvela por meio de sentimentos, percepções e imaginação. Assim, ela abarca um tipo de conhecimento a partir de universos sensíveis e ideias da apreensão humana da realidade. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 19 Você percebeu como aarte pode refletir diferentes influências? Diante de todas as informações analisadas, já é admissível perceber todas as possíveis conexões e alterações propostas por esta arte na formação do indivíduo. Contudo, ainda é imprescindível refletir a relevância da contextualização da obra • Quais são as principais diferenças notadas por você entre as duas imagens a seguir? • Você percebeu que ambas as imagens podem ser percebidas ou analisadas a partir de reflexos do tempo sociocultural em que estão inseridas? • Você notou que elas pertencem a momentos históricos diferentes? • Portanto, você percebeu como as representações da figura humana são concebidas de modo completamente diferentes? Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/_2go2vY-U8Ac/ S9rUKVa24MI/AAAAAAAAAvA/PQoB0obulUs/s1600/ Rubens.jpg>. Acesso em: 11 fev. 2016. Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/thumb/8/81/JuanGris.Portrait_of_Picasso. jpg/464px-JuanGris.Portrait_of_Picasso.jpg>. Acesso em: 11 fev. 2016. Figura 1.1 | As três graças, Peter Paul Rubens (1635) Figura 1.2 | Retrato de Picasso de Juan Gris (1887-1927) Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 20 para a compreensão de informações pertinentes a ela. Por isso, ao observar a importância da arte por diferentes ângulos, é provável encontrar novos pontos a serem conectados. Um deles é que não se pode acostumar com a percepção e apreciação de formatos específicos de arte. Estando conectada ao período histórico, à cultura e à sociedade, a arte pode ser considerada efêmera e, portanto, altamente mutável. A história da arte não se pode basear na naturalização do objeto artístico. Além disso, é preciso admitir que a ideia de arte se relaciona aos usos da imagem. Os usos da imagem, porém, são muito diversificados e envolvem também os seus usos artísticos, o que confere um estatuto especial à imagem, distinguindo-a de outras. Há uma construção social que está baseada na afirmação de um sistema de artes, que define as características do circuito da criação, produção, exposição, fruição e recepção do objeto artístico, conduzindo à sua institucionalização. Isso implica um jogo de posições no sistema das artes que se relaciona com a ordem política da sociedade. Há um entrelaçamento entre ordem política e sistema das artes (KNAUSS, 2013, p. 61). Efêmero: [Figurado] De curta duração = breve, passageiro, temporário, transitório ≠ duradouro, permanente. Fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa 2008-2013. Efêmero. Disponível em: <https://www.priberam.pt/DLPO/ef%C3%AAmero>. Acesso em: 31 jan. 2016. Mutável: Que pode ser mudado. Fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa 2008-2013. Mutável. Disponível em: <https://www.priberam.pt/DLPO/mut%C3%A1vel>. Acesso em: 31 jan. 2016. Em razão dessa constatação, discute-se ainda sobre como a arte sofreu constantes transformações ao longo do tempo. Transformações essas que também puderam ser constatadas do mesmo modo nas sociedades, épocas ou culturas. Destaca-se que o Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 21 contexto histórico, todas as experiências e contatos que cada pessoa estabelece ao longo da vida acabam influenciando de modo único suas produções. Buoro (2003a, p. 58) demonstra que todas essas alterações ocorrem ao afirmar que: [...] qualquer ser humano inicia sua formação antes mesmo de nascer. Mais tarde, segue construindo seus caminhos pessoais, determinados pelos encontros e eventos significativos que nele operam crises e transformações, pelos desejos que movem suas buscas, descobertas de novos interesses e gostos, muitos dos quais inusitados, e pela superação de gostos e interesses que perdem seu vigor no embate com a experiência – e tudo isso é o mesmo que viver significativamente. A escola participa intensivamente dessa formação, a qual alterna as dimensões formal e informal e as entretece numa trama que é a da nossa história pessoal: somos as narrativas que construímos. Assim, cada ser humano é único nas relações que estabelece com o mundo – parceiro e eterno outro que nos fascina, assombra e põe em marcha – ao longo de seus percursos de vida e de formação profissional. Essa discussão sobre as alterações nos modos de propor, fazer ou apreciar arte define, portanto, que é preciso sempre ponderar sobre quais foram as influências determinantes em cada período da história. Do mesmo modo, essas possíveis conexões orientam esclarecimentos sobre como cada artista se apropriou e se relacionou com todas as influências no decorrer do processo de construção do seu trabalho artístico. Em contrapartida, surge a necessidade de compreensão das complexidades que entrelaçam a produção artística que, muitas vezes, só podem ser acessadas por meio da educação específica em arte, seja ela formal ou não. Muitas vezes, para que haja perfeita compreensão do objeto artístico é necessária muita pesquisa, conhecimento do contexto histórico e do percurso criativo do artista. Para complementar essas revelações sobre o universo artístico e suas complexidades, são necessárias definições a respeito da relevância de se desvendar a arte, ou a imagem, a partir de esclarecimentos mais profundos sobre seus códigos. Já é sabido que a arte pode conter uma imensa gama de informações referentes ao entorno, à cultura, à época ou ao próprio indivíduo que a produz. Acessa-se, portanto, um mundo codificado e altamente informacional até então adormecido. Você já percebeu anteriormente que as informações referentes ao universo imagético sempre estiveram ali, diante de nossos olhos, mas eram inacessíveis por falta de conhecimentos sobre como promover a leitura desses códigos contidos Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 22 nessas superfícies (imagens). Por isso, reafirma-se que o estímulo à capacidade de leitura dos códigos imagéticos também será responsabilidade da arte-educação, formal ou não. Sendo assim, vale destacar a importância de se distinguir as diferenças e relevâncias de esclarecimentos sobre os códigos em superfícies ou em linhas. Portanto, é imprescindível considerar novamente a fala de Flusser (2007, p. 102), ao assegurar que: As superfícies adquirem cada vez mais importância no nosso dia a dia. Estão nas telas de televisão, nas telas de cinema, nos cartazes e nas páginas de revistas ilustradas, por exemplo. As superfícies eram raras no passado. Fotografias, pinturas, tapetes, vitrais e inscrições rupestres são exemplos de superfícies que rodeavam o homem. Mas elas não equivaliam em quantidade nem importância às superfícies que agora nos circundam. Portanto, não era tão urgente com hoje que se entendesse o papel que desempenhavam na vida humana. Outro problema de maior importância existia no passado: a tentativa de entender o significado das linhas. Desde a “invenção” da escrita alfabética (isto é, desde que o pensamento ocidental começou a ser circulado), as linhas escritas passaram a envolver o homem de modo a lhe exigir explicações. O que pode ser pontuado, neste momento, é que muito tempo se passou sem que se pudesse compreender o quanto a imagem, e a própria arte, poderiam colaborar para a ampliação e aprofundamento do conhecimento geral ou estético. Tanto a imagem quanto a arte são capazes de ampliar visões de mundo. Visão essa que também pode ser transformada por meio da percepção dos códigos imagéticos/artísticos. Considerando-se que somente uma parcela da comunicação se dá sobre a forma da fala e escrita linear, há que se considerar como a apreensão de códigos das superfícies, das imagens ou da arte, é necessário à compreensão globalda comunicação humana. Essa comunicação global só pode ser alcançada quando compreende-se a existência de signos contidos no “mundo codificado, ou seja, um mundo construído a partir de símbolos ordenados, no qual se represam as informações adquiridas” (FLUSSER, 2007, p. 96). A partir de agora, você já é capaz de entender quais são as potencialidades da imagem discutidas no decorrer desta seção: imagens/arte comportam uma série de códigos que contemplam informações que podem contribuir para a apreensão do mundo que nos cerca e, por isso, são fundamentais para o processo comunicacional. Em razão destas colocações, é possível saber como esse universo cultural imagético Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 23 também pode ser considerado uma forma de discurso que contribui para a compreensão da sociedade, da história e da cultura. Deve-se, sobretudo, aceitar o fato de que aprender a comunicar-se com palavras ou compreender suas regras é tão importante quanto aprender a comunicar-se com ou por meio de imagens. Diante de todas as informações já citadas, reafirma-se a necessidade de reforçar outras razões que podem contribuir para o estabelecimento desta linha de reflexão que se refere às potencialidades, muitas vezes subjetivas, das imagens. Portanto, reitera-se que o universo imagético se tornou imprescindível para as relações sociais e culturais do homem contemporâneo. Como começar a reestruturação dos encaminhamentos metodológicos sobre a educação que poderão alterar a percepção da relevância da arte-educação? A resposta encontra-se na formação dos arte-educadores (ou agentes-mediadores) e na conscientização de que esses devem propor discussões que contextualizem as informações artísticas durante as visitas aos espaços culturais de arte. Essa contextualização abrangerá, consequentemente, toda a referência sobre o entrelaçamento entre arte e cultura, já citado anteriormente nesta unidade. Por esse motivo, é importante destacar informações que evidenciam que: Qualquer que seja o caminho metodológico construído ou reconstruído, é de suma importância atentar para o papel dos agentes mediadores no processo: os educadores, os mediadores, assessores, facilitadores, monitores, referências, apoios ou qualquer outra denominação que se dê para os indivíduos que trabalham com grupos organizados ou não. Eles são fundamentais na marcação de referenciais no ato de aprendizagem, eles carregam visões de mundo, projetos societários, ideologias, propostas, conhecimentos acumulados etc. Eles se confrontarão com os outros participantes do processo educativo, estabelecerão diálogos, conflitos, ações solidárias etc. Eles se destacam no conjunto e por meio deles podemos conhecer o projeto socioeducativo do grupo, a visão de mundo que estão construindo, os valores defendidos e os que são rejeitados. Qual o projeto político-cultural do grupo em suma (GOHN, 2006, p. 1). 1.2 Arte e sua relação com os espaços Quando se sugere reflexões acerca da arte e sua relação com os espaços, uma das primeiras questões a surgir é: quais são os espaços da arte? Onde a arte pode ser observada e apreciada? Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 24 É plausível citar uma lista de espaços onde a arte pode ser encontrada, começando por museus, galerias, fundações culturais, coleções particulares, internet, entre inúmeros outros. E, ao longo do tempo, muitos espaços diferenciados foram utilizados. Nas paredes das cavernas, nas catedrais, em templos, palácios, livros, catacumbas, paredes das casas. Contudo, por diversas vezes, o público em geral não tinha acesso a muitas obras produzidas. Assim, o público encontrava-se “distante do ambiente artístico, da apreciação, da fruição ou manifestação artística, permaneciam alijados da cultura, prejudicados em sua sensibilidade, sem meios suficientes para apreciar ou produzir arte. Viviam afastados da cultura de seu tempo” (SANTA ROSA; SCALÉA, 2006, p. 54). Apesar disso, em diferentes momentos pode-se perceber que houve a pretensão de expor obras de arte em espaços públicos, mesmo que essa intenção estivesse atrelada à exaltação de governantes. Percebe-se, então, que esses ambientes de cultura transformaram-se em espaços onde se buscava usufruir ou apreciar a beleza e refletir a respeito das diferentes propostas dos artistas (SANTA ROSA; SCALÉA, 2006). Hoje em dia, em quais espaços a arte pode ser encontrada, visualizada, apreciada? De que modo estes espaços culturais interferem na construção da arte-educação? Atualmente, é perceptível que, diante das possibilidades de acesso propiciadas pelas mídias e pela internet, as fronteiras que distanciavam obra e espectador foram reestabelecidas e alargadas. Até há algum tempo atrás, a arte era objeto restrito aos espaços de grandes museus e galerias. Contudo, em todos esses espaços o objetivo é sempre o mesmo: esses ambientes são concebidos para se tornarem lugares para apreciação e reflexão crítica sobre arte. No entanto, desde de que outras propostas foram absorvidas pela arte contemporânea, como, por exemplo, o uso de novos espaços para apresentação e exposição da arte, alterações substanciais nos moldes do fazer artístico foram evidenciadas. Uma delas toma como ponto de partida a aproximação da obra com o público. Dessa forma, nota-se que a arte-educação, formal ou não formal, e a convivência com obras tornaram-se fundamentais para a perfeita compreensão do universo comunicacional circundante. Conclui-se, para tanto, que a arte pode exercer ativamente sua função ainda que encontrada em espaços culturais diferenciados. A educação em arte só pode propor um caminho: o da convivência com as obras de arte. Aquelas que estão assim rotuladas em museus e galerias, as que estão em praças públicas, bancos, repartições do governo, nas casas de amigos e de conhecidos. Também aquelas, anônimas, que Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 25 Durante a seção 1, você compreendeu a importância da exploração das potencialidades da arte. Por isso, agora vale refletir sobre como os espaços culturais, grandes vias de acesso à obra de arte, podem contribuir para a exploração de tais potencialidades. Importante se faz também a aproximação entre obra e público, promovendo constantes interações culturais e ampliação do conhecimento. Essas alterações se tornaram extremamente importantes, pois passaram a desmistificar a arte enquanto objeto de culto, intocável e praticamente inacessível. É necessário pontuar que a aproximação entre obra e público também aconteceu em razão da chegada dos aparelhos técnicos, de reprodutibilidade e das máquinas de fotografar. E, nessa onda da reprodução das imagens e da arte, ou de imagens de arte, novas relações ou aproximações se estabeleceram também entre público e obra. E, como num movimento em cadeia, essas transformações acarretaram, consecutivamente, novas formas de arte, novas práticas, novos espaços e novas formas de aproximação. Surgem novos espaços culturais para a divulgação da arte que ultrapassam as barreiras da escola (educação formal). Entre esses novos espaços, é possível destacar os museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias. Todos eles contribuem amplamente, e de modo muito pontual, para a formação artística. Desse modo, cada um desses espaços assume uma função complementar à aproximação do público com a arte, facilitando o processo de educação estética. Você sabia que muitos museus promovem diversas atividades educativas e culturais no intuito de aproximar-se do público? Muitas dessas ações educativas são resultado de um grande processo de desenvolvimento de tecnologias que servem, nestes casos, para auxiliar, aproximare proteger a memória cultural. E ainda vale lembrar o quanto os acessos e visitas a estes espaços que buscam promover a arte podem ser altamente enriquecedores. encontramos às vezes numa vitrina, numa feira [...]. As que estão em alguns cinemas, teatros, na televisão e no rádio. As que estão nas ruas: certos edifícios, casas, jardins, túmulos. Passamos por muitas delas, todos os dias sem vê-las. Por isso, é preciso uma determinada intenção de procurá-las, de percebê-las. Quanto mais ampla for essa convivência com os tipos de arte, os estilos, as épocas e os artistas, melhor. É só por meio desse contato aberto e eclético que podemos afinar nossa sensibilidade para as nuanças e sutilezas de cada obra (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 433). Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 26 Sobre as atividades do Museu Nacional de Belas Artes “As ações educativas do Museu Nacional de Belas artes visam à promoção da cidadania cultural, entendida como o acesso democrático ao universo artístico do nosso patrimônio cultural. Nesse sentido, as ações, que ocorrem nas Galerias da Arte Brasileira dos Séculos XIX e de Arte Brasileira Moderna e Contemporânea, procuram atender aos mais diferentes públicos, em diversos projetos, de forma a diminuir barreiras, estabelecendo uma relação dialógica: partindo dos contextos previamente trazidos pelos participantes, busca-se levá-los à construção do conhecimento artístico”. Projetos: Visitas ao acervo do museu; todo mundo no museu; oficina para professores; projetos inclusivo; material de apoio pedagógico. Disponível em: <http://mnba.gov.br/portal/educacao/atividades.html>. Acesso em: 1 fev. 2016. Sob sua ótica, é possível potencializar ainda mais a formação em arte a partir do incentivo a aproximações do público com museus, galerias, centros de arte, casas de cultura? Para adentrar nesse campo, é necessário saber que “é preciso repensar a formação do educador e do educando no sentido de possibilitar o conhecimento, levando em conta a totalidade do ser e de perceber a função da arte na educação como campo de conhecimento tão importante como o da ciência” (BUORO, 2003, p. 32). Com base nessas informações que enfatizam assuntos relativos ao potencial da arte, é possível pensar de que modo os agentes envolvidos no processo ensino-aprendizagem podem contribuir para promover estímulos que demandem encontros significativos com a arte. É necessário avaliar que existem influências mútuas e constantes advindas de todos os envolvidos neste processo de arte-educação. Por isso, considerar que o público apreciador também tem muito a contribuir. Como resultado, compreende-se que “não há espectador totalmente ingênuo. Portanto, há marcas culturais tatuadas nas pupilas dos olhos dos alunos que não devem ser desprezadas, mas, sim, incorporadas e ampliadas [...] para que novas interpretações e construção de sentido possam ser desveladas” (MARTINS; PICOSQUE, 2003, p. 9). Além de contextualização das informações estéticas, os propositores/mediadores também podem contribuir com o enriquecimento da formação e do contato com a arte a partir da ideia de impulsão de potencialidade. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 27 Vários exemplos de intervenções que divulgam uma remodelação nos formatos de relação obra e público vêm sendo implantadas no intuito de aproximar e aprofundar estas relações. O formato de exposição que considera a arte como metodologia do conhecimento, sugerido por Luis Camnitzer durante a da 6a Bienal do Mercosul, apresenta-se como um grande exemplo de novas propostas de intervenção. Ainda refletindo sobre como a arte se relaciona com os espaços de formação e apresentação e qual o papel que esses espaços podem ocupar atualmente na educação não formal, é possível destacar outras questões. Uma delas encontra-se no fato de que o Brasil é um país gigantesco com muitas peculiaridades que são fruto de influências específicas. Dessa forma, não há como falar sobre espaços para arte sem embrenhar-se em territórios que demandam considerações. Impulsionar a potencialidade de obras e artistas submersos nos livros, nos museus, nos sites, nas reproduções esquecidas que fazem parte de nosso acervo de professores, para além daquelas sempre escolhidas. Reside nessa ação a formação cultural dos alunos. Formação esta que, enfatizando a habilidade perceptiva e cognitiva para interpretar obras de arte em termos de seu contexto social e cultural, possa ampliar o acervo imaginário de tal modo que obras e artistas passem a integrar o patrimônio pessoal como um bem simbólico interno, um repertório conectado à vida para a leitura do mundo, das coisas do mundo e da própria Arte (MARTINS; PICOSQUE, 2003, p. 8). A equipe curatorial redesenhou a estrutura da Bienal para destacar a relação entre o artista e o público, para envolver o visitante no processo criativo do artista, para conseguir que o consumidor vá se equipando para ser criador; em outras palavras: para voltar a resgatar a arte como uma metodologia do conhecimento. Queremos que a ênfase da mostra não termine em exibir a inteligência do artista, mas em estimular a inteligência do visitante. Essa tarefa, por sua vez, estimula muito mais a nossa inteligência como artistas do que poderia conseguir o narcisismo tradicional (CAMNITZER apud CAMNITZER; PÉREZ-BARREIRO, 2009, p. 13-14). Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 28 Diversas cidades brasileiras não possuem museus, centros de arte ou galerias. Muitas delas sequer possuem espaços culturais. Em algumas escolas, principalmente públicas, o ensino da arte ainda está nas mãos de professores sem graduação específica. As aulas são curtas, o número de alunos por turma é bastante amplo em diversos lugares, os espaços para desenvolvimento das atividades são restritos à própria sala de aula e os materiais muitas vezes são simples ou reduzidos. Esses espaços limitados dificultam a exploração e o desenvolvimento pleno de atividades. Em contraponto, os espaços não formais podem, muitas vezes, possuir uma estrutura muita mais desenvolvida e planejada. O ensino de artes plásticas no currículo da escola formal coloca o professor diante de alguns determinantes, no que se refere à escolha de seu objeto de trabalho. A realidade física da sala de aula e o tempo de duração da aula, muito diferentes daquele vivido em um ateliê ou oficina, reduzem as diversas abordagens da escolha de atividades, que poderiam ser realizadas, para trabalhar os conteúdos. É o caso, por exemplo, das produções tridimensionais, que exigem espaços amplos, nem sempre compatíveis com a sala de aula. Além disso, o ensino de arte a ser proposto no contexto da escola formal deve considerar, entre outras coisas, fatores ligados aos conteúdos selecionados, às questões de ensino-aprendizagem, aos interesses de alunos e educadores, ao uso de materiais compatíveis com o espaço físico, e ao número de aulas que o educador dispõe para a abordagem em cada conteúdo (BUORO, 2003, p. 110). Um professor que mantém viva a curiosidade, que gosta de estudar, investigar imagens para sua prática na sala de aula e levar seus alunos ao encontro com a linguagem da arte sem forçar uma construção do sentido “correto” ou único, veste sandálias de professor-pesquisador, envolvendo com a mais fina atenção sua pele pedagógica, dando sustentação para pisar em terras ainda desconhecidas. Não lida com as certezas, Além disso, muitas questões precisam ser revistas para que se tenha acesso a esclarecimentos que apoiariam novas percepções e proposição de diferentes possibilidades de formação da educação em arte. Nesse sentido: Arte e os espaços culturais: museus, centrosde cultura, escolas de arte, galerias U1 29 e com reducionismos simplistas, mas com a compreensão e a articulação da complexidade. Por isso mesmo, seu caminhar se dá no futuro, no lugar da pergunta, da questão, da dúvida, movido por passos de andar sinuoso que evitam os caminhos retos porque assim pode traçar sua própria trilha na escavação das Arqueologias Contemporâneas (MARTINS; PICOSQUE, 2003, p. 8). Apesar de debatermos a respeito das potencialidades da arte (e ,consequentemente, da imagem), há que se destacar que outros pontos de vista podem se contrapor, ou até mesmo complementar tais colocações. Vicente Lanier (2011, p. 45) destaca que alguns posicionamentos somente reiteram que a arte esteja apenas empregada sobre os domínios da responsabilidade social, deixando de lado sua função de procedimentos estéticos-visuais. Por isso, explica que: Não há, tampouco, nenhuma razão constrangedora que nos faça duvidar ou negar que as atividades de arte na sala de aula possam promover crescimentos pessoais independente do valor ou da resposta estética. Talvez a arte possa tornar alguém mais criativo em geral (o que quer que isso queira dizer). Talvez possa fazê-lo perceber seu contexto físico ou social mais objetivamente. Talvez possa ajudá-lo a resolver suas inadequações emocionais, aumentar seu QI, enriquecer sua aposentadoria ou promover a paz mundial e a boa vontade entre os homens. O ponto sobre o qual queremos insistir é que todos esses outros aspectos do crescimento individual não são ou não deveriam ser o principal foco para o professor de artes plásticas: que a sua principal referência deveria ser o progresso no domínio dos procedimentos estéticos-visuais. [...] Em resumo, estou propondo que, de fato, devolvamos a arte à arte-educação (BARBOSA, 2011, p. 45). Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 30 1. Diante de todas as informações propostas na seção 1, descreva, de acordo com os textos estudados, qual a importância da arte? 2. Os espaços culturais para o desenvolvimento/formação em arte restringem-se somente às escolas? • Você já havia imaginado como os espaços culturais para divulgação e exposição de obras são importantes para a formação em arte? Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 31 Seção 2 Espaços culturais para a arte Nesta seção, será dada continuidade ao assunto já iniciado na seção 1, que discutiu a importância da arte e de seus espaços de divulgação e exposição. Neste momento, para fundamentar ainda mais o que já fora estudado, alguns aprofundamentos serão propostos. Dessa forma, assuntos ligados aos principais conceitos e funções dos espaços culturais serão discutidos. Você irá reconhecer e distinguir diferentes espaços culturais para a exposição de objetos artísticos, ou obras de arte, como museus, centros de cultura, escolas de arte e galerias. Muitos desses ambientes culturais têm como objetivo expor, promover debates e aprofundar os conhecimentos sobre arte por meio do contato aproximado entre público, obra e artista. Os conceitos e delimitações aqui sugeridos continuarão a revelar potencialidades subjetivas da aplicação da arte como forma de instigar o desenvolvimento intelectual e estético do indivíduo. Convido você a se enveredar por essa aventura, que se distingue principalmente por ser extremamente relevante para novas proposições sobre a disciplina de Arte! 2.1 Museus Antes de aprofundamentos mais conceituais sobre os museus e sua relação com a arte-educação, uma questão será respondida: como surgiram os museus? De acordo com Santa Rosa e Scaléa (2006), os museus surgiram no século XVIII com a chamada prática do colecionismo. Pessoas abastadas recolhiam objetos exóticos, pinturas, esculturas, recordações de viagens, documentos, sem nenhum critério e exibiam em suas casas. [...] Nos meados do século XVIII, com a democratização de grande parte da Europa, as coleções passaram a ser geridas pelo Estado e os governantes tomaram para si a reponsabilidade de preservá-las. Diversos museus foram criados com o objetivo de guardar as obras de arte, mas Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 32 logo se tornou necessário que exibissem suas coleções, isto é, que tornassem públicas as obras que pertenciam à sociedade, e o museu passou a ter um ou mais espaços expositivos destinados à visitação. [...] Só no final do século XIX, os museus passaram a ter coleções mais homogêneas, com espaços específicos para obras de arte, objetos e documentos de valor histórico (SANTA ROSA; SCALÉA, 2006, p. 55). É possível considerar que espaços como os museus podem socializar e democratizar o ensino de arte? De acordo com Ott (2011, p. 113), existem infinitas potencialidades a serem exploradas nesses espaços. O ensino de arte em museus constitui um componente essencial para arte-educação: a descoberta de que arte é conhecimento. A arte pode assumir diversos significados em suas várias dimensões, mas como conhecimento proporciona meios para a compreensão do pensamento e das expressões de uma cultura. Por meio dessa prática educativa em museus, podem ser reveladas diversas formas de expressão artística que contêm muitas das maiores ideias da cultura universal, cujos significados de arte são contribuições relevantes para a sociedade. Esses conceitos necessitam ser trabalhados por meio de um ensino sensível, ou seja, um sistema de arte-educação que possibilite, nos museus, uma atmosfera positiva para a crítica. Incontestavelmente, o museu é uma das instituições não formais e culturais de arte mais conhecidas, principalmente por apreciadores de arte que buscam promover a divulgação do patrimônio artístico e cultural de determinado artista, estilo ou período. No entanto, tais espaços não são encontrados em todas as cidades do país. Os museus não surgem com o objetivo de ensinar arte, mesmo que diversas vezes pode-se encontrar cursos e ações educativas em seus espaços. Schilaro e Scaléa (2006, p. 52) apontam que “a instituição em si não tem como objetivo o ensino da arte, e sim a formação de um público apto a usufruir desse segmento do conhecimento”. Diante das afirmações sobre o papel dos museus na construção do conhecimento, é importante pontuar o quanto as visitas a esses espaços podem ser acessíveis. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 33 Atualmente, pode-se ter acesso a esses lugares de duas formas: numa visita física, presencial ou por meio de visitas virtuais. Além da apreciação dos acervos, os museus hoje oferecem uma ampla gama de possibilidades de cursos, aperfeiçoamentos, ações educativas e projetos. Nesta seção, você terá a oportunidade de conhecer diferentes opções de materiais disponíveis na internet que serão capazes de agregar muitas informações relevantes sobre arte. Por isso, fique ligado! Essas dicas são necessárias justamente para propiciar acesso a espaços culturais a todas as pessoas que vivem em regiões que não possuem museus ou que se encontram distantes dos circuitos tradicionais de arte. Sugestão de visita ao site do Conselho Federal de Museologia! Nesse espaço você poderá acessar uma série de links de grandes universidades sobre temas ligados à teoria museológica, história dos museus, questões relacionadas à formação profissional, administração, planejamento, patrimônio, memória etc. Disponível em: <http://cofem.org.br/?page_id=423> Acesso em: 2 fev. 2016. Curiosidade Alguns sites oferecem sugestões de visitas a alguns dos principais museus de São Paulo. Além de visitá-los pessoalmente, você também pode visitá-los virtualmente, já que a maioria possui sites interessantíssimos!!Vale a pena conferir! Como exemplo, podemos citar um guia que propõe uma seleção do que considera os 9 museus mais imperdíveis de São Paulo. • PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO • MUSEU DE ARTE MODERNA – MAM • MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA • MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO – MASP Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 34 • MUBE – MUSEU BRASILEIRO DA ESCULTURA Disponível em: <http://www.guiadasemana.com.br/artes-e-teatro/noticia/ cinco-museus-imperdiveis-em-sao-paulo>. Acesso em: 3 fev. 2016. Vale lembrar que é possível refletir sobre a relevância dos museus para a arte- -educação e para as definições do valor da obra de arte enquanto portadora de infinitos signos e significados. Sendo assim, são essenciais algumas considerações sobre as obras de arte e sua relação com espaços culturais como os museus. Por isso, mesmo que você esteja em uma cidade que não possua museu, ainda assim, você pode e deve conhecê-los. Uma das grandes contribuições do desenvolvimento tecnológico é diminuir as distâncias. Dessa maneira, você pode conhecer virtualmente uma grande quantidade de espaços como esses por todo o país, ou até pelo mundo, acessando sites ou redes sociais e desfrutar de passeios virtuais interessantíssimos. Na verdade, esse pode ser um grande trunfo para o arte- -educador. Numa sala com muitos alunos e numa cidade que não possui espaços culturais, a visita ao museu poderia ser impensável se não fosse por meio de computadores. Então, aproveite e utilize todos os recursos a favor da arte! Os museus são repertórios de objetos com significado. Nós guardamos as coisas que nos são caras, mas, mesmo assim, os objetos nas coleções dos museus são meramente objetos. As obras como as que pertencem ao acervo dos museus, destituídas do valor monetário que a sociedade lhes atribui, servem para lembrar-nos das ideias que as inspiraram. Assim sendo, nós aprendemos e também nos afetamos pela Arte (OTT, 2011, p. 119). Sugestão de visita virtual! MARE – Museu de Arte para a Educação é um banco interativo de imagens e textos sobre os temas representados na arte ocidental, desde a Antiguidade. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 35 Para Chagas e Storino (2014, p. 74): Nele, você poderá descobrir muito mais sobre obras de arte! Você pode conhecer um pouco mais sobre este assunto acessando o site do museu disponível em: <http://www.mare.art.br/index.asp>. Acesso em: 3 fev. 2016. Os museus são compreendidos como práticas sociais, antros de relação e dispositivos de narração que se constrõem por meio de espacialidades, temporalidades, imagens, informações, vivências e convivências tratadas, em simultâneo, como bens, ver se deve aparecer dois Para saber mais a seguir. De acordo com a Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que instituiu o Estatuto de Museus, “Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento”. Disponível em: <http://www.museus.gov.br/os-museus/o-que-e- museu/>. Acesso em: 2 fev. 2016. No portal do colocar iniciais em caixa alta de Museus, você poderá encontrar assuntos correlacionados a museus, o que é museu, como criar museus, museus do Brasil, museus Ibram, economia dos museus, além de uma série de links sobre o assunto. Você pode conhecer mais sobre esse assunto acessando o site! Disponível em: <http://www.museus.gov.br/os-museus/>. Acesso em: 2 fev. 2016. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 36 No entanto, o objetivo de se pensar sobre museus é também distinguir sua função para a educação não formal em arte. Desse modo, há que se retomar as informações sobre ações educativas, já iniciadas na seção 1, para complementar a busca por posturas que promovam a ampliação de conhecimento artístico. Por isso, uma pergunta emerge: quais as ações promovidas pelos museus que estreitam ou viabilizam a promoção do conhecimento artístico? Existem vários museus no país que promovem ações no intuito de socializar conhecimento sobre obras ou temáticas específicas. Alguns possibilitam esses recursos por meio de palestras, revistas impressas ou digitais com artigos que discutem sobre temas relacionados aos museus, oficinas, visitas mediadas, materiais de apoio pedagógico (que, muitas vezes, podem estar disponíveis no site para download) e que podem acontecer de forma presencial ou a distância. Importante se faz ressaltar como estas ações são extremamente relevantes para a formação em arte. Indiscutivelmente, esses espaços virtuais encurtam distâncias e potencializam o uso do tempo, já que podem ser acessados virtualmente. Dessa forma, vários espaços que exploram estes ambientes virtuais serão trazidos como exemplo. O objetivo principal é o de divulgar possibilidades que podem contribuir para o enriquecimento cultural e estético. Vejam como essas ações culturais são apresentadas. O primeiro exemplo é o site do Museu de Belas Artes. Projetos ofertados: 1 – Visitas ao acervo do museu: mediações – voltadas para grupos de instituições escolares da rede pública e privada, e ONGs que possuam uma ação educativa, ocorrem mediante agendamento prévio pelo telefone. As visitas mediadas objetivam promover a construção de significados e novos olhares no espaço expositivo. As visitas do público infantil, a partir de 5 anos, podem ser permeadas por jogos e histórias, acolhendo a forma da criança interagir com o mundo. 2 – Todo mundo no museu! – esse projeto contempla visitas mediadas para famílias, com jogos e brincadeiras, nas galerias do museu, com objetivo de articular arte, cultura e lazer. Ao apreciarmos uma obra de arte, nos despimo-nos do olhar cotidiano e abrimos espaço para novos significados. Fazer isto em família é uma oportunidade de renovar as relações humanas. 3 – Oficina para professores – o Museu Nacional de Belas Artes e seu acervo: contribuições para o ensino da Arte na Educação. Objetivo: discutir sobre o Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 37 papel do museu na educação, conhecer o Museu Nacional de Belas Artes, fornecer subsídios para que o professor crie estratégias pedagógicas para trabalhar o acervo do MNBA em suas aulas e incentivar a visitação ao museu. 4 – Projetos inclusivos: Ver e Sentir através do Toque – projeto experimental de acessibilidade estética. Consiste em visitas mediadas com grupos de cegos e videntes, utilizando estímulos sensoriais diversos, a fim de provocar o diálogo e a troca de impressões, lembranças, comparações, tornando a visita ao museu uma experiência enriquecedora para todos os visitantes do grupo. 5 – Material de apoio pedagógico Publicações da Seção Educativa disponíveis para download: Coleção aprendendo no Museu Vol. 1 - Guia de Visita em Família: orientações para a visita em família, de forma autônoma, com jogos e brincadeiras sobre o acervo do museu. Vol. 2 - Quando o Brasil amanhecia – a Primeira Missa no Brasil vista por Vítor Meireles e Candido Portinari Disponível em: <http://mnba.gov.br/portal/educacao/atividades.html>. Acesso em: 2 fev. 2016. Você observou como os museus oferecem muitas possibilidades de interação e informação por meio de ações educativas sugeridas em seus espaços virtuais? É possível promover o enriquecimento do conhecimento em arte a partir de visitas virtuais a museus? Existem ainda outros exemplos de museusque promovem discussões amplas a respeito de diversos assuntos ligados a este tema e também a temas correlacionados. Um deles é o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que possui um site com muitas informações. Vale conferir! Nele, é possível acessar uma revista científica com artigos que promovem debates interessantíssimos, tour virtual, notícias, apresentação de exposições, catálogos de obras, publicações, entre outros. Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 38 “O Museu de Arte do Rio Grande do Sul apresenta o primeiro número da revista Tes ] xOH. A publicação foi criada com o objetivo não só de refletir prioritariamente as áreas de atividade do museu, mas também de ampliar seu raio de ação para outras disciplinas. As áreas de desenvolvimento da revista são aquelas compreendidas entre conservação e restauração, curadoria, história de exposições, crítica e teoria da arte, arte-educação, administração em arte, arquivismo em arte e arte.” Acesse o site e descubra mais sobre a revista e o museu! Disponível em: <http://www.margs.rs.gov.br/publicacao/revista- no-01/>. Acesso em: 2 fev. 2016. Outras possibilidades para tratar das inter-relações sugeridas pelo museu demandam produções práticas. Como exemplo, é possível citar um artista, arquiteto, professor, poeta e artista plástico chamado Antônio Luiz Andrade (Almandrade). Ele se propôs realizar trabalhos que geraram exposições que discutiram a ideia de museu. Aqui, apresenta-se a criação de uma exposição, onde aconteceu, muito provavelmente, o ápice da interação e da busca por evidenciar a reflexão sobre as possibilidades da educação museológica. E sobre essa exposição e o museu ele comenta: Claramente, uma das grandes contribuições da arte é promover a plena comunicação entre homem e o universo circundante, reorientando novas formas de olhar e de pensar. Esses objetivos podem ser potencializados se o número de pessoas alcançadas por estes espaços for o maior possível. Portanto, alguns espaços, com suas ações plenamente ativas, educativas e disseminadoras de arte, contribuem imensamente para que os objetivos da educação em arte sejam alcançados. Destaca-se, por isso, ações com o intuito de promover o acesso do maior número possível de pessoas. Há exposições importantes para o universo artístico, como a Instituição paradigmática para a arte contemporânea, conhecer seu espaço físico e ideologia que a envolve era uma necessidade do artista experimental. Realizei algumas exposições que tinham entre os seus objetivos discutir o museu, a exemplo das exposições: O Sacrifício do Sentido, no Museu da Arte Moderna na Bahia e a instalação “Público/ Privado”, montada no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, em 1982 (ALMANDRADE, 2013, p. 10). Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 39 que aconteceu recentemente no Instituto Tomie Ohtake. A Exposição “Frida Kahlo – Conexões entre mulheres surrealistas no México” foi trazida para o Brasil em 2015 e circulou em diferentes estados por alguns meses. No entanto, por inúmeros motivos, muitas pessoas que gostariam de visitar a exposição não tiveram acesso. Pensando nisso, o instituto disponibilizou um espaço em seu site para visitas virtuais, em que é possível passear pela exposição utilizando apenas os comandos do computador. Incrível, não? Até pouco tempo atrás, essas atitudes eram impensáveis e a presença nos espaços físicos era incontestável. Pode-se afirmar, portanto, que esta é uma das grandes vantagens do universo altamente tecnológico no qual estamos inseridos! Você já visitou um museu de arte? Você pode acessar a exposição virtual “Frida Kahlo – Conexões entre mulheres surrealistas no México” e se aventurar no passeio através do endereço do Instituto Tomie Ohtake. Disponível em: <http://www. institutotomieohtake.org.br/media/frida/index.html>. Acesso em: 3 fev. 2016. Aproveite! Fonte: <http://www.institutotomieohtake.org.br/media/frida/index.html>. Acesso em: 3 fev. 2016. Figura 1.3 | Vista parcial do site com a exposição de Frida Kahlo Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 40 A acessibilidade aos espaços dos museus é completamente remodelada em função do aparecimento da internet. Todas as relações puderam ser reorganizadas justamente por tornar espaços que se encontram a milhares de quilômetros de distância acessíveis a um toque de tela. Por isso, enquanto professores de arte ou público apreciador, vale acompanhar notícias, exposições, cursos, visitas on-line e as agendas desses diferentes espaços de produção e divulgação da arte. As possibilidades mostram-se infinitas, mesmo que a distância. Nesta seção, você está estudando a importância de determinados espaços culturais de educação não formal para a formação em arte, por isso há que se exemplificar como acontece a divulgação, quais as atividades oferecidas e qual é a função destes espaços culturais com relação ao público apreciador, ao artista e à arte. Outro exemplo de espaço de educação não formal, de museu, que auxilia na formação e ampla divulgação da Arte é o MAM – Museu de Arte Moderna – de São Paulo. No quadro a seguir, você pode conhecer o Museu de Arte de São Paulo e conferir quais são as ações práticas propostas que servem como exemplo de interação entre arte e os espaços culturais na educação em/para arte, propostas como objetivo desta seção. Conhecendo o MAM! Missão: colecionar, estudar, incentivar e difundir a arte moderna e contemporânea brasileira, tornando-a acessível ao maior número de pessoas possível. Sobre o MAM: o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos, fundada em 1948. Sua coleção possui mais de 5 mil obras produzidas pelos nomes mais representativos da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto a coleção como as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas. As exposições principais são realizadas em duas salas, segundo uma grade anual estruturada em quatro temporadas. Outras mostras são exibidas regularmente nos espaços da biblioteca e do corredor de ligação, onde é desenvolvido o programa de instalações Projeto Parede. Integra a grade expositiva o programa DJ Residente, voltado para a difusão de pesquisas sonoras experimentais nas áreas internas do museu. A cada dois anos, o MAM realiza o Panorama da Arte Brasileira, exposição que resulta do mapeamento da produção contemporânea em todas as Arte e os espaços culturais: museus, centros de cultura, escolas de arte, galerias U1 41 regiões do país. O crescimento do interesse pela arte brasileira no mundo consolidou o Panorama como uma mostra relevante no circuito artístico internacional. O museu mantém ainda uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos, por meio de audioguias, videoguias e tradução para a língua brasileira de sinais. Instalações: o MAM está localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo. O edifício foi adaptado por Lina Bo Bardi e possui, além das salas de exposição, ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e loja. Os espaços do museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais. Coleção: as obras da coleção são exibidas em exposições temporárias realizadas no MAM e em outras instituições, tanto brasileiras como
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