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1Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 2 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 3Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 3 Editorial Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor E u era ainda criança quando escutei pela primeira vez que os japoneses reservavam para o seu mercado interno os melhores produtos que podiam fabricar, e que a sobra era vendida para outros países. Acho que muita gente já deve ter escutado isso. Lembro-me que achei aquilo o máximo, mas até hoje não sei até que ponto isso era verdade. O fato é que nunca mais esqueci do país que reservava para o seu povo o que de melhor conseguia produzir, e isso só serviu para aumentar minha admiração pelo distante Japão. E como era distante pra mim, o país do meu super-herói National Kid. Awika! Nessa mesma época ganhei de presente um radinho portátil, que pra funcionar precisava apenas de duas pilhas pequenas. Era de longe a maior novidade eletrônica que um moleque brasi- leiro podia sonhar. O tal radinho era uma verdadeira jóia fabricada no Japão, que vinha protegido por uma capinha de couro marrom, e que podia até ficar apoiado numa pequena aba flexível. O presente parecia ter sido feito sob medida para andar grudado nos meus ouvidos. Diante da minha nova paixão, eu tentava imaginar como deveriam ser maravilhosos os radinhos que não eram exportados, já que o que produziam de melhor ficavam para as crianças japonesas. No Brasil, infelizmente não era assim. O país do café, não reservava para nós os seus melhores grãos. Eu não conhecia ninguém que havia provado do melhor café brasileiro, sabia apenas que ele existia, mas que as sacas com as melhores seleções seguiam direto para o Cais do Porto, rumo ao exterior. Assim foi também com as laranjas e com outros tantos produtos de altíssima qualidade, que nós brasileiros nunca tínhamos acesso, e que eram destinados apenas aos consumidores do lado de fora do país. Quando vi os produtores de camarão se voltando com disposição para o mercado interno, todas essas lembranças me vieram. Uma viagem às avessas imposta pela desvalorização cambial, que está obrigando a indústria do camarão cultivado a olhar com mais atenção, não só para os nossos supermercados, peixarias e feiras livres, mas também para o bolso do consumidor brasi- leiro, que anda um pouco mais recheado. O melhor do camarão cultivado estará agora sendo consumido no mercado brasileiro e o setor está apostando alto no sucesso dessa mudança. Teremos a oportunidade de comer um produto processado em estabelecimentos com SIF, com controle de resíduos, tudo como exige, por exemplo, a Comunidade Européia. Sorte de nós consumidores. A ocupação do mercado interno pela indústria do camarão brasileira é um dos muitos assuntos que tratamos nessa edição. Trazemos também um artigo sobre o cultivo de tilápias em açudes parti- culares, uma reflexão sobre os problemas climáticos e seus efeitos na aqüicultura e muito mais... A todos, uma ótima leitura, 4 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Sucesso Absoluto de Vendas! Garanta também o seu CD! Entre em contato conosco ou compre pelo site, que lhe enviaremos pelo correio! Navegue e imprima os artigos publicados na revista nos últimos 5 anos. São 32 edições, formatadas em PDF, que podem ser acessadas através de um Menu que possibilita visualizar as revistas tal qual foram diagramadas originalmente. 5Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 O mercado interno para o camarão O camarão de cultivo responde por cerca de dois terços da produção total de camarões no Brasil e o mercado interno é um dos temas mais discutidos atualmente pela indústria da carcinicultura brasileira, decorrente da queda no volume das exportações, que já atinge 43%. O mercado para camarões no Brasil, cujas vendas aumentaram na mesma proporção, oferece boas oportunidades de negócios, com algumas adequações, entre elas posicionar o camarão cultivado em pé de igualdade com os demais produtos concorrentes. No entanto, todos os esforços devem ser implementados sem que se perca o foco no mercado externo, conquistado com muito trabalho e que merece ser fortalecido e ampliado. O artigo publicado na página 22 dessa edição, faz um panorama desse mercado, onde o camarão de cultivo predomina. ...Pág 55 ...Pág 41 ...Pág 47 ...Pág 57 ...Pág 22 ...Pág 32 ...Pág 52 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 13 ...Pág 14 ...Pág 10 ...Pág 56 ...Pág 59 ...Pág 66 ...Pág 36 Í N D I C E Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Alexandre Alter Wainberg, Ana Eliza Baccarin Leonardo, Antonio Fernando Gervásio Leonardo, Camila Fernandes Correia, Carlos Augusto Gomes Leal, Fernando Kubitza, Henrique César Pereira Figueiredo, Itamar de Paiva Rocha, João Donato Scorvo Filho, Leonardo Tachibana, Luís Parente Maia, Ricardo Y. Tsukamoto, Neuza S. Takahashi, Rodrigo A.P.L.F. de Carvalho, Uilians E. Ruivo Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Assinatura: Fernanda Carvalho Araújo e Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua assinatura. Basta conferir o número de créditos descrito entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 16,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88 Projeto Gráfico: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na Grafitto Gráfica e Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a quali- dade dos serviços e produtos anunciados. Capa: Arte e foto Panorama da AQÜICULTURA Edição100 – março/abril 2007 Editorial Notícias e Negócios Notícias e Negócios on-line Ostras e vieiras do Rio de Janeiro têm doença desconhecida Tanques-rede em açudes particulares Mercado interno: Oportunidades para o camarão brasileiro Columnariose: doença da piscicultura moderna Problemas climáticos globais e seus efeitos na aqüicultura Diagnóstico dos conflitos entre a carcinicultura e a pesca artesanal Construindo o Enfoque Ecológico para Aqüicultura A piscicultura ao alcance de todos Lançamentos Editoriais Dourados sedia 1º Congresso Brasileiro de Peixes Nativos IV FENACAM atrai também piscicultores para Natal Aquabio elege nova diretoria Calendário Aqüícola 6 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Notícias & Negócios CABEÇA AMARELA - Uma notícia publica- da no jornal El Nuevo Diário, da Nicarágua, colocou em alerta a indústria do camarão cultivado na América Latina e levou as au- toridades nicaragüenses do Ministerio Agro- pecuario y Forestal (Mag-For), a fechar as fronteiras para a importação de larvas de camarão da vizinha Honduras, já que os laboratórios estavam utilizando alimentos de larvas importados da China, suspeitos de serem portadores da doença da “Cabeça Amarela”. Fiscais do Mag-For, em inspeção aos laboratórios de larvas de camarão de Honduras, encontraram, além de artêmia e poliquetas, alimentos da China cuja im- portação também não havia sido reportada às autoridades hondurenhas de sanidade animal. A preocupação das autoridades ni- caragüensesdeve-se a possibilidade desses alimentos não estarem livres da doença da “Cabeça Amarela” e, por isso, decidiram não por em risco as fazendas nicaragüenses. A doença da “Cabeça Amarela” é considerada pior que a da "Mancha Branca", que apare- ceu em 1998, e está atualmente controlada, mas que ocasionou grandes perdas para a indústria nicaragüense. Os hondurenhos, estão também muito preocupados porque o fechamento do mercado nicaragüense para as suas larvas pode dar início a uma reação em cadeia, que pode culminar com o fecha- mento das exportações para os mercados dos Estados Unidos e Europa, com perdas superiores a 219 milhões de dólares, fruto da exportação anual de 22.650 toneladas. CAMARÃO EQUATORIANO - O camarão equatoriano marcou um novo recorde em vendas ao exterior, exportando em maio 11.400 toneladas. Isso representa a entrada de 51 milhões de dólares. Segundo a Câma- ra Nacional de Aqüicultura, esse volume de venda por mês foi registrado como o mais alto da história das exportações de camarão do país. O crescimento tem sido progressi- vo. Em 2006, as vendas já aumentaram 24% com relação a 2005. No primeiro trimestre de 2007, 62% das exportações foram para os EUA. A boa notícia para os produtores equatorianos veio na primeira semana de junho, quando o Departamento de Comér- cio dos EUA (DOC) anunciou que o camarão equatoriano poderia ingressar com taxa zero nesse mercado. A decisão deve ser ratifica- da antes de 20 de agosto próximo. FUNDADA A FEAq - Acaba de ser fundada em Florianópolis (SC) a Federação das Em- presas de Aqüicultura, FEAq, cujo objetivo primordial é servir como órgão de represen- tação das empresas aqüícolas existentes em Santa Catarina. São sócios fundadores as empresas Ostra Sul, Blue Water Aquaculture, Fazenda Marinha Ostravagante, Alternativa Produtos do Mar, Santana Cultivos Marinhos, Fazenda Marinha Atlântico Sul, Fazenda Ma- rinha Ostra Viva e Mar do Sul e Ad Oceanum, todas com forte atuação na área de mala- cocultura. A presidência da entidade está a cargo do maricultor e engenheiro agrônomo Fabio Faria Brognoli, da Fazenda Marinha Atlântico Sul. Brognoli assinala que há mui- to tempo as empresas de aqüicultura preci- savam se organizar para levar adiante suas reivindicações. “Precisamos fazer com que o muito que pagamos em impostos, taxas e tarifas retornem na forma de projetos, leis, fomento, crédito, obras e melhorias, e ve- nha solucionar os problemas de toda ordem que as empresas se deparam no dia a dia” - explicou Brognoli. BOM EXEMPLO - Moradores do bairro San- ta Rita, localizado próximo ao centro de Piracicaba-SP, comemoram a produção de duas toneladas de tilápias. Há dois anos um grupo de 30 moradores se uniu para limpar os tanques abandonados do Centro de Piscicultura, situados em Área de Pre- servação Permanente (APP), e passaram a 7Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Notícias & Negócios investir na tilapicultura, transformando-se em piscicultores autodidatas. Hoje, após formarem a Associação dos Piscicultores do Santa Rita, exploram 11 mil m2 distribuídos em 15 tanques, que variam de 350 a 1000 m2, onde foram colocados 11 mil alevinos. Para recuperar os tanques e tocar o projeto de piscicultura, os associados empregaram recursos próprios e tudo o que conseguiram com rifas e doações. Além disso, firmaram parcerias com a Prefeitura e buscaram apoio da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), por meio do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Popular (Nepep). O trabalho de recuperação da área onde estavam os tanques atraiu também outros parceiros, como a Fraternidade Cristã e a Associação dos Deficientes de Piracicaba e Região, que se interessaram em utilizar par- te do terreno para o plantio de ervas medici- nais, com o objetivo de promover renda para os portadores de deficiência física. Dentro de duas semanas deverá ser aprovado na Câmara de Vereadores o projeto de lei que autoriza a exploração da área pela Associa- ção dos Piscicultores do Santa Rita e libera recursos municipais para suprir custos bási- cos. A aprovação da lei permitirá também que a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (Sema) comercialize os pei- xes. A renda obtida com a venda de parte dos peixes será distribuída entre as famílias carentes do Santa Rita. A outra parte da produção será doada à escola do bairro, para ser utilizada na merenda escolar. CAMARÃO CATARINENSE - A atual safra da produção de camarão em Santa Catarina ficou reduzida para apenas 300 ton. reflexo da doença do vírus da "Mancha Branca" nas criações em 2004. Antes da doença, a pro- dução do Estado, o quinto maior produtor nacional, foi estimada em 4,2 mil toneladas de camarão, após crescimento de 31% da produção. Segundo a Epagri-SC, mesmo sem a manifestação da doença, de um total de 109 fazendas catarinenses, apenas 12 con- seguiram produzir camarão este ano. PIRÁ TURBO 36 - O Grupo Guabi apresenta ao mercado aqüícola a sua nova ração para peixes, a Pirá Turbo 36, desenvolvida es- pecialmente para as situações de estresse. Com altos teores de vitamina C, de gordura e de proteína, a ração ajuda a minimizar efei- tos negativos do estresse que ocorrem por conta de altas densidades de estocagem, variações ambientais ou manejo intenso. A nova opção Pirá Turbo 36 deve ser adminis- trada de forma preventiva, ressalta o geren- te de produtos para aqüicultura da Guabi, João Manoel. O Pirá Turbo 36 tem 1.000 mg de Vitamina C/kg, alto teor de gordura (8% extrato etéreo) e de proteínas (36% PB). A vitamina C é um antioxidante natural que reduz os efeitos negativos do estresse, po- tencializa a resistência dos peixes e pode ser fornecido como reforço para outras ra- ções menos enriquecidas. Esta nova ração é acrescida dos principais nutrientes, de modo que, mesmo ingerida em pequenas quantida- des, fornece as vitaminas necessárias, ami- noácidos e gorduras de alta digestibilidade, suficientes para melhorar o quadro geral dos peixes afetados. A Pirá Turbo 36 pode ser administrada pura ou misturada a outras ra- ções para aumentar os níveis de nutrientes ou melhorar sua digestibilidade. O produto é apresentado em dois diâmetros 2-4 mm e 6-8 mm, atendendo todas as espécies e tamanhos de peixes. Mais informações no site: www.guabi.com.br REDE PARANAENSE I - Mais de 60 muni- cípios do Estado do Paraná estão se bene- ficiando com a Rede Paranaense de Pesca, com investimentos de R$ 22 milhões da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior/Fundo Paraná, e cerca de 80% dos projetos estão em fase adiantada de execu- 8 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 ção. A Rede foi criada em 2003, pelo Gover- no do Estado, e reúne mais de 20 pesquisa- dores de 13 instituições, entre elas a UFPR, PUC, Unioeste, Fundação Terra e Emater. No litoral, os principais projetos para desenvol- vimento de tecnologia estão voltados para a produção de sementes de ostras em labora- tório, alevinos de robalo peva Centropomus paralelus, formas jovens de caranguejo uçá Ucides cordatus e pós-larvas de camarão branco Penaeus schmitii, para repovoamen- to das baías. A rede também faz o lança- mento de armadilhas antiarrasto e de recifes artificiais em zonas próximas à orla maríti- ma, e ainda está construindo, reformando e ampliando 15 laboratórios de universidades e adquirindo 14 veículos e oito lanchas para uso no mar e em rios. REDE PARANAENSE II - No Mercado de Peixes de Paranaguá já foram instalados quatro módulos de depuração de mo- luscos (ostras e mexilhões) e quatro no Mercado Municipal de Guaratuba. Outras duas unidades serão instaladas ainda em Guaraqueçaba. Segundo o engenheiro de pesca Luiz de Souza Viana, os projetos de- senvolvidos no interior do estado tratam basicamente do repovoamento de rios e represas com espécies nativas como a pia- para Leporinus elongatus, pacu Piaractus mesopotamicus, curimba Prochilodus line- atus, surubim do iguaçu Steindachneridionmelanodermatum, jundiá Rhamdia sp. e lambari Astyanax sp. No Oeste e Sudoeste do Paraná, os projetos mais importantes estão relacionados à certificação do sis- tema de produção de tilápia em viveiros escavados. Também estão sendo implan- tados um frigorífico-escola e uma fábrica de ração, envolvendo mais de 180 pisci- cultores em nove municípios, em parce- ria com a Unioeste, para produção de al- môndegas, quibes, macarrão, sopas, entre outros itens que vão compor a merenda escola das escolas municipais. PAPYTEX - A empresa paulista Papytex, com mais de 25 anos de atuação na indústria têxtil, foi certificada em de- zembro passado com a ISO 9001, o que significa dizer que a empresa estabe- leceu uma abordagem sistêmica para a gestão da qualidade dos seus produtos. A Papytex oferece ao mercado da Aqüi- cultura produtos em multifilamento de nylon sem nós (Raschel), como a Rede anti-pássaro (polietileno com proteção Anti -“UV”); Rede para despesca (com ou sem saco) e Tanques-rede (tipo ber- çário) com ou sem tampa. A empresa confecciona também produtos sob me- dida e com garantia. Credenciada junto ao BNDES, a Papytex pode comercializar e financiar seus produtos através do car- tão BNDES (www.cartaobndes.gov.br). EUA VETA PRODUTOS CHINESES - Após inúmeras advertências ao governo chi- nês, a agência que controla os alimentos e medicamentos dos EUA (FDA) emitiu, em 28 de junho, um “alerta importante” proibindo a venda de cinco tipos de pes- cados cultivados na China - camarão, ba- gre, enguia, basa (Pangasius sp.) e dace (Cyprinidae). A medida foi uma resposta aos repetidos casos detectados de conta- minação com aditivos alimentares e me- dicamentos veterinários não aprovados. Segundo o FDA a ação foi tomada após anos de alertas e uma recente visita às fa- zendas aqüícolas chinesas. O assunto foi noticiado pelo jornal The New York Times, que reproduziu a opinião do professor Ro- bert Romaire, da Universidade Estadual da Louisiana, criticando o manejo nas fazen- das chinesas ao dizer que “às vezes che- Notícias & Negócios 9Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 ga a ter de 10 a 20 vezes a densidade de peixes de um ambiente natural” e, para isso, alguns criadores chineses usam substâncias proibidas, principalmente fungicidas e bac- tericidas, para prevenir doenças. Como os viveiros ficam freqüentemente lotados, os peixes e camarões podem adoecer à medida que a água fica poluída com rações e deje- tos. Nenhum dos antibióticos e aditivos ali- mentares encontrados nos pescados cultiva- dos chineses - nitrofurano, verde malaquita, violeta genciana e fluoroquinolonas - está na lista aprovada pelo FDA. Segundo o ór- gão, a exposição a longo prazo ao nitrofura- no, verde malaquita e violeta genciana, que também são ilegais na China, causou câncer em animais de laboratório. Já as fluoroqui- nolonas, permitidas na aqüicultura chinesa, não são permitidas nos Estados Unidos porque seu uso em rações animais pode aumentar a resistência a antibióticos. Ainda não é possível avaliar o impacto da medida, já que a China é responsável por 22% das importações de pescados feitas pelos EUA. Sobre as importações, os pes- cados somente poderão ser vendidos nos Estados Unidos se os importadores forne- cerem testes independentes comprovando que os peixes e frutos do mar não contêm os contaminantes. MONITORAMENTO HIDROBIOLÓGICO - A apostila sobre o “Monitoramento Hi- drobiológico em Fazendas de Cultivo de Camarão”, editada pela Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco - FAEPE com o apoio do SEBRAE-PE, en- contra-se publicada no site do SEBRAE Nacional. O link para acesso é www. biblioteca.sebrae.com.br CADEIA DA TILÁPIA - Piscicultores cea- renses elaboraram um diagnóstico da ca- deia produtiva da tilápia, que aponta vá- rios obstáculos referentes ao elo da cadeia produtiva desse peixe. O documento foi baseado num estudo feito por empresá- rios do segmento, por ocasião da visita de uma delegação cubana ao Estado do Ceará no mês passado. O diagnóstico, entregue ao Governo do Estado, aponta a falta de informação técnica oferecida e relata as dificuldades encontradas pe- los produtores quanto ao licenciamento ambiental dos seus cultivos. Além dis- so, enumera críticas à política de co- brança de impostos, a falta de incenti- vos e políticas para o setor, e a falta de incentivos ao consumo dos subprodutos da tilápia. O documento identifica ain- da, os gargalos do processamento, como a falta de fábricas de gelo, a falta de unidades de beneficiamento que visem o aproveitamento integral da tilápia. Os tilapicultores preocupados em sofrer a mesma crise do camarão, solicitam tam- bém o incremento de pesquisas sobre mortalidade dos peixes nos períodos de chuva, além de que sejam disponibiliza- das as estatísticas sobre o setor. Notícias & Negócios 10 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Notícias & Negócios On-line Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site www.panoramadaaquicultura.com.br clique em Lista de Discussão e siga as instruções. De: Antonio Dantas avdantas@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Adubação de viveiros Caros colegas, estou iniciando a estocagem de alevinos de tilápias (1g) em viveiros de terra para posterior criação em tanques-rede, aqui em Alagoas. Gostaria de saber como devo adubar os viveiros em questão. De: Fábio R. Sussel sussel@aptaregional.sp.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Adubação de viveiros Pode-se proceder da seguinte forma: 300 gramas de esterco bovino por m2 ou 120 gramas de esterco de aves (ambos devem ser “tri- turados”, objetivando melhor dissolução na água); mais 5 gramas de uréia para dar o “quique” inicial à produção de fitoplâncton; de preferência com o viveiro ainda vazio, distribua o esterco mais a uréia por toda a extensão do fundo; abasteça o viveiro com água somente até a metade; após 3 dias proceda a soltura dos alevinos e complete o nível do viveiro. É possível substituir o adubo orgânico por adubo químico. De: Robert Krasnow robertkrasnow@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Adubação de viveiros Prezados Antônio e Fábio, verifiquem a transparência da água an- tes de adubar. Se a transparência estiver a redor de 30 cm não é necessário adubar, ao contrário, adubar sem necessidade pode ser prejudicial. De toda forma, se a água for transparente demais, pode adubar seguindo as indicações de Fábio. De: Fábio R. Sussel sussel@aptaregional.sp.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Adubação de viveiros Está correto Robert! Inclusive se os viveiros tiverem mais de 5-6 anos de uso, há que se considerar que já existe um residual de ma- téria orgânica dos cultivos anteriores. Neste caso, talvez somente a utilização da uréia para dar o “quique” inicial seja suficiente. Bem lembrado que a adubação sem necessidade é prejudicial. De: Anderson Rodrigues anderson@mma.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Alimentação de Tilápias Prezados, tenho algumas dúvidas primárias sobre a alimentação de tilápias e agradeceria se alguém pudesse me ajudar: 1) Como produzir uma ração para tilápia com um custo reduzido, quando comparado às rações prontas (de marca) encontradas no merca- do? Alguém tem experiência com a ração utilizada para frango? 2) Qual a quantidade de tratos por dia ideal? Vi aqui na lista há uns meses que estudos comprovam que uma quantidade maior de tratos diária favorece o ganho de peso. Mas, na prática, como é feito? 3) Vi numa reportagem a utilização de bandejas de alimentação, e achei interessante, pois desperdiça menos ração e diminui a quantidade de tratos diários, facilitando o manejo. Que tipo de ração utilizar nestas bandejas uma vez que a extrusada é flutuante? 11Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Notícias & NegóciosOn-line De: Álvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Alimentação de Tilápias Estimado Anderson,1) Produzir rações caseiras podem e devem ser eficientes quando monitoradas por profissional experiente, caso contrário é mais caro do que as comerciais (conversão alimentar alta, digestibilidade baixa, relação cálcio e fósfo- ro, nitrogênio/fósforo, proteína bruta e energia erradas, etc.). Quanto a utilização de rações de animais diferentes eu acho o maior erro, pois as necessidades também são diferentes, além de que têm em sua composição produtos incompatíveis com os peixes. 2) Os trabalhos divergem na freqüência, mas o ideal econômico/biológico/prático é no mínimo 2 vezes ao dia quan- do utilizado o homem. Quando mecânico, melhor 4 vezes. 3) Há controvérsias neste modelo, pois veja: deixar à disposição a alimentação, logo ela não é mais ração e torna-se matéria orgâ- nica (adubação de luxo), também não estimula o peixe a comer com eficiência (etologia), quanto não desperdiçar, concordo e o tipo de ração neste sistema é a peletizada. De: Ricardo Y. Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Alimentação de Tilápias Caro Anderson, o objetivo expresso no seu e-mail de consulta, é produzir tilápia com o custo mais baixo possível. Porém, fazer ração caseira pode sair mais caro e resultar em eficiência bem menor do que a ração comercial, conforme esclarecido pelo Álvaro Graeff. Por isso, considere uma alternativa mais barata, mas fre- qüentemente esquecida pelos interessados em criação de tilápia. A tilápia nilótica é uma das melhores espécies de peixe existentes para cultivo, já que é muito resistente, mas acima de tudo, por ser um excelente incorporador da produção natural do viveiro. Em con- traste à maioria das espécies de peixe, a tilápia é capaz de filtrar a água do viveiro e dali extrair as algas microscópicas (microalgas). Estas algas dão a típica cor verde à água do viveiro e estão ali presentes em grande quantidade, mas não podem ser “colhidas” por outros peixes. Já a tilápia nilótica tem uma “rede de plâncton” nas brânquias, que permite a ela filtrar até as menores microalgas (que têm cerca de 3 micra = 3 milésimos de mm). Além disso, mes- mo as algas tóxicas (cianobactérias ou algas verde-azuladas) são ingeridas e bem aproveitadas pela tilápia. Por esta razão, a tilápia pode ser considerada o “boi” da água, pois pasteja e incorpora a produtividade natural (plantas verdes que fazem fotossíntese) do viveiro - recurso alimentar que está sempre crescendo graças somente à luz do sol (gratuita e farta) e nutrientes. Para produzir tilápia em tanque-rede, onde não há possibilidade de usar esta produtividade natural, deve-se usar uma ração artificial equilibrada para garantir a saúde e o crescimento dos peixes ali confinados. Porém, para quem trabalha com peixes soltos em viveiro, a produ- tividade natural é um grande trunfo, pois pode representar a maior parte do alimento ingerido pelas tilápias em cultivo. No Brasil, um excelente exemplo deste uso da produtividade natural está na criação consorciada, desenvolvida há séculos na China, e aqui for- matada pela Epagri, de Santa Catarina - que conta nesta lista com o grande incentivador Sérgio Tamassia. Mas se você pretende criar só tilápia no viveiro, há numerosos trabalhos técnicos à respeito. Um destes trabalhos (Brown, 2000) mostra que a produtividade natural supre as tilápias durante os 45 a 75 dias iniciais do ciclo de criação, “sem” usar ração - o que permite economizar mais de um terço do custo total da criação, sem afetar o valor da colheita (ou seja, sem afetar o crescimento). A pesquisadora Zuleika Beyruth, da APTA-SP (zbeyruth@gmail.com), trabalha há mais de uma década com a rela- ção entre a produtividade natural do viveiro e a tilápia nilótica. Seus trabalhos mostram até cada tipo de microalga e de bichinhos comi- dos pela tilápia no viveiro (trabalho na íntegra: ftp://ftp.sp.gov.br/ ftppesca/Beyruth30_1.pdf). A conclusão é que o manejo eficaz da 12 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Notícias & Negócios On-line produtividade, ou seja, maximizar o quanto a tilápia irá aproveitar dela, resulta em menor custo de produção e maior ganho ambiental. Para fomentar a produtividade natural na piscicultura através da adu- bação orgânica, existe também uma interessante tese da Unicamp sobre a eficiência do consorciamento porco-peixe em Santa Catari- na (segundo modelo Epagri). Naquele trabalho, se buscou a melhor eficiência na relação porco-peixe. Nas propriedades rurais analisadas, o lucro obtido com peixe foi maior que com os suínos. A tese está disponível na íntegra na internet em: http://www.unicamp.br/fea/ ortega/extensao/Tese-OtavioCavalett.pdf . Já para um “manual” geral de criação de tilápia, com ênfase também em adubação orgânica para barateamento de custo, existe a publicação on-line da Emater-Paraná em: http://www.emater.pr.gov.br/arquivos/File/Comunicacao/Pre- mio_Extensao_Rural/1_Premio_2005/ModeloEmaterProd_Tilapia.pdf De: Álvaro Graeff agraeff@epagri.sc.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Alimentação de Tilápias Estimados Anderson e Tsukamoto, aproveitando o assunto aduba- ção orgânica lembrei que na Revista Panorama da AÜICULTURA vol. 16, nO 97 de setembro de 2006, na seção Lançamentos Editoriais consta: “Recomendações para o uso de fertilizantes orgânicos com baixo impacto ambiental para piscicultura” edição da Epagri. De: Jefferson Midei – Listas listas@jeffersonmidei.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Berçário Alguém pode me informar o volume de um berçário “padrão” para tanques-rede? Que malha usa-se para fazer o berçário? De: Chico Machado chicomachado@infonet.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Berçário Quem determina o tamanho do berçário é o tanque-rede que você utiliza. Tanques-rede de 4m³, 6m³ ou outro volume. Aqui em Sergipe utilizamos berçários de 4m³ em tanques-rede de 2m x 2m x 1,20m (volume útil de 4m³) para alevinos de tilápia com peso inicial de 3g ou de 5g, na 1ª fase do cultivo, com malha de 4mm e 7mm a depender do tamanho do alevino, por um período de 30 a 45 dias. Nas duas fases seguintes utili- zamos tanques-rede de 6m³. A biomassa na despesca de cada fase dependerá da capacidade de suporte do seu ambiente para cultivo. Utilizamos 25Kg/m³ na primeira fase, 50Kg/m³ na segunda e 75Kg/m³ na 3ª e última fase com despesca de peixes com 600 a 700g. Os berçários podem ser adquiridos prontos ou confeccionados por você. 13Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Ostras e Vieiras sofrem alterações fisiológicas de origem desconhecida N o dia 7 de maio, produtores da Associação dos Maricultores da Baía da Ilha Grande (AMBIG) no Rio de Janeiro, detectaram modificações fisiológicas nos moluscos cultivados. As ostras apresentaram alteração na coloração do líquido intravalvar, que se mostrava esverdeado, enquanto as vieiras apresentavam os rins com um volume maior do que o normal e com a coloração vinho, quando normalmente é marrom claro. Apesar das alterações fisiológicas, não foram registradas mortalidades entre os animais. Diante do fato, amostras de ostras e vieiras, bem como da água de cultivo foram encaminhadas, já no dia seguinte, ao Laboratório de Fitoplâncton do Departamento de Biologia Marinha da UFRJ. As análises não detectaram presença de algas nocivas ou qualquer outra anormalidade. Pesquisadores do Laboratório de Toxinas Marinhas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), no dia 14 de maio, coletaram novas amostras da água de cultivo, mexilhões, ostras e vieiras, e iniciaram uma bateria de análises, tendo como suspeita uma possível contaminação bacteriana. Material semelhante foi também levado para a FIOCRUZ. Nessa ocasião, uma checagem em todos os cultivos, constatou que todos os animais apresentavam as mesmas alterações fisiológicas, inclusive as vieiras selvagens coletadas por mergulhadores. Diante desse quadro de incertezas, os produtores da AMBIG, invocando o princípio da precaução, decidiram, por conta própria,interromper a comercialização dos moluscos cultivados e iniciaram um processo de mobilização, no sentido de buscar novas informações que pudessem colaborar com os pesquisadores das várias universidades que, a essa altura já estavam envolvidos na tentativa de identificação do problema. Considerando a descoberta de víbrios e Aerobacter sp nas análises realizadas, o presidente do Comitê Nacional de Controle Sanitário de Moluscos Bivalves (CNCMB), Felipe Suplicy, assinou, em primeiro de junho, uma portaria proibindo “a coleta, a colheita e a comercialização de moluscos” para toda a região da Baía da Ilha Grande. A partir desse momento e, principalmente, depois de divulgadas as análises realizadas pelo Laboratório de Bacteriologia da UFRRJ, muitas informações desconectas começaram a circular. Esse laboratório encontrou quatro espécies de víbrios (Vibrio metschnikovii, V. vulnificus, V. funissii e V. hollisae) totalmente diferentes das outras quatro espécies encontradas pelo laboratório da FIOCRUZ (Vibrio aestuarinuns, V. alginolyticus, V. carchariae e V. costicola). E, em nenhum dos laboratórios foi encontrada a Aerobacter sp. mencionada na portaria do CNCMB para proibir a comercialização. Foi montado um programa de análises para se conhecer, afinal, o que aconteceu com os moluscos. Apesar da urgência dos resultados, somente no dia 26 de junho, um mês e meio após o início das ocorrências, foram coletados novos animais para a análise. Ao fecharmos essa edição, na tarde de 9 de julho, fomos informados da assinatura de uma nova portaria do CNCMB revogando a proibição anterior, “considerando que as alterações físicas observadas nos moluscos bivalves de áreas de cultivo na região de Angra dos Reis nos meses de maio e junho de 2007 não estão mais presentes” e “que os resultados de análises microbiológicas da água do mar e da carne de moluscos de cultivo na região do município de Angra dos Reis está dentro dos padrões estabelecidos pela legislação vigente”. Segundo Felipe Suplicy, “passada a crise, o momento é de estruturar um serviço de monitoramento mais eficiente e organizado, de forma a não ter que lidar no futuro com situações sérias como esta, na base do improviso.” Infelizmente, porém, todo esse processo causou prejuízos graves, entre eles o da empresa Rio Maricultura (ver edição 95 da Panorama da AQÜICULTURA) que, por ter que ficar todo esse tempo sem comercializar, foi obrigada a demitir a metade de seus funcionários. Vieira (Nodipecten nodosus) apresentando alterações nos rins 14 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Por: Fernando Kubitza, Ph. D. Acqua Imagem Serviços Ltda. fernando@acquaimagem.com.br Tanques-rede em açudes particulares: oportunidade e atenções especiais M uitos proprietários rurais e empresas agroflorestais inves- tiram considerável capital na construção de açudes para prover água para irrigação, consumo animal, combate a incêndios e recreação. O retorno destes investimentos geralmente é demorado e, em muitos casos, pode até mesmo nem ocorrer. Desta forma, uma atividade capaz de agregar receitas adicionais, como a criação de peixes em tanques-rede, pode otimizar o uso destes açudes e reduzir o tempo de retorno do capital investido. Grande parte das propriedades rurais no Brasil dispõe de açudes e muitos deles apresentam condições adequadas para a produção de peixes em tanques-rede. Esta atividade não consome água e não implica em desmatamento ou degradação do entorno do açude. Além do mais, quando se implanta o cultivo de peixes em tanques-rede nestes açudes, o empreendedor acaba adotando medidas mais rigo- rosas de conservação do solo na bacia de captação e no entorno do açude, minimizando o transporte de partículas sólidas que podem acelerar o assoreamento do açude e prejudicar a qualidade da água e o desempenho dos peixes. Assim, a piscicultura em tanques-rede é plenamente compatível com a maioria das outras formas de uso dos açudes rurais. O investimento necessário para iniciar o cultivo de peixes em tanques-rede aproveitando açudes já existentes é muito menor quando comparado à implantação de pisciculturas em tanques escavados (viveiros). Além disso, também não exige a ocupação de novas áreas da propriedade, tampouco compete com outras atividades pelo uso da água. Outra grande vantagem a ser considerada no uso de açudes particulares para a piscicultura em tanques-rede é a maior facilidade de licenciamento ambiental do empreendimento, comparado à ob- tenção de outorga de uso da água e autorização para implantação e operação de cultivos em tanques-rede em águas públicas. Por estes motivos, e também pela grande possibilidade de obter bons retornos financeiros com a piscicultura, muitos empre- endedores já investiram, e outros tantos têm avaliado com atenção a oportunidade de investir no cultivo de peixes em tanques-rede, tanto em açudes próprios ou arrendados de terceiros. 15Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Tanques-rede Tanques-rede em açudes particulares: Uma boa avaliação da oportunidade do investimento Apesar do grande potencial de aproveitamento dos açudes particulares para a piscicultura em tanques-rede, antes de decidir pelo investimento o empreendedor deve dedicar especial atenção ao planejamento do negócio. Cinco pontos funda- mentais devem ser considerados antes de entrar no negócio: • A definição da capacidade de produção dos açudes disponíveis; • A identificação das espécies com potencial de cultivo e mercado; • O levantamento dos possíveis mercados e preços de venda; • A análise da viabilidade econômica da implantação do empreendimento; • A capacidade de formar uma equipe de produção competente. A capacidade de produção dos açudes - açudes de vários tamanhos podem abrigar tanques-rede para a engorda de peixes. Uma única propriedade pode dispor de um grande número de açudes. O mais adequado é concentrar o empreendimento em pou- cos açudes de maior porte do que pulverizar os tanques-rede em um grande número de açudes pequenos. Isso facilita a rotina da produção (alimentações, classificações e transferência de peixes) e diminui a necessidade de duplicar investimentos em infraestrutura e equipamentos (plataformas de manejo, barcos para a alimentação, estradas de bom acesso, poitas, iluminação para inibir roubos, entre outros). Também fica mais fácil prover vigilância para impedir roubos. Escolhidos os açudes de melhor potencial, o empreendedor deve ter a real dimensão do que é possível produzir, dadas as limitações de área e renovação de água em cada um deles. Ou seja, precisa ter uma idéia da capacidade de produção dos açudes, sem que haja comprometimento da qualidade da água para o próprio cultivo e para outros usos a que ela se destina. Para isso deve procurar auxílio de pessoas experientes no assunto. Invariavelmente, os proprietários, geralmente leigos na atividade, acreditam que o sistema comporta uma produção muito superior ao que é possível e rapidamente experimentam problemas de qualidade de água. A área do açude e seu potencial de renovação de água são fatores importan- tes que determinam a biomassa segura, a capacidade de produção anual e o nível de alimentação seguro para se atingir esta produção. Na Tabela 1 são apresentadas recomendações quanto à capacidade de produção de peixes em tanques-rede em pe- quenos açudes, respeitando uma taxa de alimentação compatível com a manutenção de adequados níveis de oxigênio dissolvido na água. Geralmente o regime de reno- vação de água nos açudes não mantém uma regularidade ao longo do ano. Há maior renovação na época das chuvas e menor na estiagem. Assim, para determinar a biomassa segura a ser sustentada no açude, possibilitando o planejamento inicial da produção, o empreendedor deve considerar o período de menor renovação de água. Implantado o projeto, com base na condição de qualidade de água após atingida a biomassa segura inicial- mente proposta, o empreendedorpoderá avaliar se há possibilidade de aumentar, ou mesmo se deve diminuir, a intensidade de produção no açude. Exemplo de aplicação da Tabela 1 - um açude de 4 hectares com renovação próxima de zero, pode sustentar uma biomassa instantânea de 8 toneladas de peixes (4ha x 2t/ha) e uma carga diária de ração entre 80 e 120kg (4ha x 20kg/ha/dia a 4ha x 30kg/ha/dia). A produção anual esperada deve ficar entre 20 e 28 toneladas (4ha x 5t/ha/ ano a 4ha x 7t/ha/ano); Outro exemplo - um açude de 15 hectares com renovação de 5 a 10% ao dia pode sustentar uma biomassa instantânea de 45 toneladas (15ha x 3t/ha) e uma carga diária de ração entre 600 e 750kg (15ha x 40kg/ha/ dia a 15ha x 50kg/ha/dia). A produção anual esperada deve ficar entre 120 e 150 toneladas (15ha x 8t/ha/ano a 15ha x 10t/ha/ano). O produtor deve assegurar um nível de oxigênio de pelo menos 3 a 4mg/l pela manhã no interior dos tanques-rede, de forma a manter um adequado desempenho dos peixes. Ní- veis de oxigênio abaixo de 2mg/l, além de prejudicar o desempenho (cresci- mento e conversão alimentar), podem deixar os peixes mais susceptíveis ao manuseio e doenças, aumentando a mortalidade no cultivo. Para evitar problemas com o oxigênio dissolvido é fundamental não exceder os limites seguros de alimentação. Tais limites são excedidos quando o produtor ins- tala mais tanques-rede do que o açude é capaz de suportar, ultrapassando a Tabela 1. Sugestão básica de capacidade de produção para início de implantação do cultivo de tanques-rede em açudes rurais, de acordo com os dados gerados com a planilha do livro “Cultivo de Peixe em Tanques-Rede” (Ono e Kubitza 2003). 16 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 biomassa segura. O produtor inexperiente e que não tem controle sobre os parâme- tros de qualidade de água, sempre tende a acreditar ser possível instalar uma nova linha de tanques-rede, pois é enganado pelo grande espaço ainda disponível no açude. Este produtor acaba aprendendo, da maneira mais dura, que há um limite de sustentação que deve ser respeitado. Espécies que podem ser cultivadas em tanques-rede - Diversas espécies de peixes podem ser produzidas em tanques-rede. A tilápia, o pintado, o catfish americano, a carpa comum, os peixes redondos, o pirarucu, a jatuarana e a matrinxã são exemplos de espécies com bons resultados obtidos no cultivo em tanques-rede. As condições de mer- cado (preferências, demanda e preço), a disponibilidade de alevinos, o custo de produção, entre outras particularidades, devem ser avaliadas pelo produtor antes de optar por uma outra espécie. A tilápia - dentre todas estas espécies, a tilápia é a melhor para quem está debutando na atividade. O produtor não tem dificuldade em obter alevinos, o peixe é resistente ao manuseio mesmo quando envolve pessoal pouco experiente. E o mercado da tilá- pia está em plena ascensão. Por esses e outros motivos a tilápia é hoje a espécie mais cultivada em tanques-rede no país. O uso de tanques-rede é a opção mais acertada quando se pensa em produzir tilápias em açudes particulares. Geral- mente estes açudes são profundos, têm obstáculos ao arrasto das redes (plantas aquáticas, troncos e galhos de árvores, etc) e não podem ser drenados com freqüência, seja por falta de estrutura para drenagem completa, seja pelo uso da água em outras atividades. Sob tais condições, a despesca de tilápias soltas no açude é humanamente impossível. No entanto, quando as tilápias são cultivadas em tanques-rede, a colheita é simples e eficiente. Apesar da relativa facilidade de produção de tilápias nos tanques-rede, em algumas situações a grande oferta local pode tornar o valor de venda pouco atrativo diante do custo de produção entre 1,90 e 2,20/kg hoje obtido com a tilápia em tanques-rede. Estes custos podem variar em função da região do país, escala de produção e peso médio final do peixe produzido. Custos mais elevados podem ocorrer se os cultivos forem prejudicados pelo mau planejamento, doenças, roubos ou escapes de peixes. Os preços de ven- da da tilápia cultivada em tanques-rede variam entre R$ 2,50 e R$ 5,00/kg, em função da região, tamanho do peixe, estra- tégia de comercialização e mercado alvo. O pintado (surubim) - o cultivo deste peixe em tanques-rede vem empolgando alguns produtores em São Paulo e Minas Gerais. Devido ao seu alto valor de mer- cado, o pintado é uma interessante opção quando é preciso maximizar os lucros sob limitada disponibilidade de área, o que geralmente ocorre em pequenos açudes particulares. O pintado desfruta de grande conceito e valor no mercado. No entan- to, o produtor que optar por investir no cultivo do pintado, deve estar preparado para mudanças na rotina do cultivo. Uma delas é a realização de alimentações du- rante o período noturno, principalmente nos tanques-rede com juvenis, que não se alimentam bem durante o dia. Pintados de maior porte (acima de 20-25cm) podem ser habituados à alimentação em horários de baixa luminosidade (primeiras horas da manhã e ao final do dia). No entanto, ainda se alimentam melhor durante a noite. Mudar a rotina da produção para realizar as alimentações noturnas tem suas vantagens em nosso país. A principal delas é a inibição de roubos e vandalis- mos. Funcionários trabalhando são mais eficientes nisso do que um vigia dormindo a noite inteira. Além do mais, concen- trando o manejo da alimentação durante a noite, o período diurno fica reservado para outras atividades de manejo (classi- ficação, transferências, despescas, reco- lhimento de peixes mortos, ajustes nos anéis de alimentação, etc), sem que haja interferências com a rotina de alimenta- ção. O custo de produção do pintado em tanques-rede varia em função da escala de produção, qualidade do alevino (eficiên- cia do treinamento alimentar e genética) e peso final do peixe produzido. Este custo hoje gira entre R$ 4,30 a 5,80/kg, prati- camente o dobro do custo de produção da tilápia. Isso se deve principalmente ao maior custo dos alevinos e das rações no cultivo do pintado. Assim, o produtor que optar pelo pintado deve estar preparado para investir mais no custeio da produção. Ta nq ue s- re de "O uso de tanques- rede é a opção mais acertada quando se produz tilápias em açudes particulares. Geralmente estes açudes são profundos, têm obstáculos ao arrasto das redes e não podem ser drenados com freqüência, seja por falta de estrutura para drenagem completa, ou pelo uso da água em outras atividades. Sendo assim, a despesca de tilápias soltas no açude é humanamente impossível. No entanto, quando os peixes são cultivados em tanques-rede, a colheita é simples". 17Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Tanques-rede Apesar desse maior custo, os produtores de pintado têm recebido R$ 8,00 a 10,00 por quilo de peixe inteiro com a venda a intermediários (transportadores de pei- xes vivos, atacadistas e supermercados). Preços ainda melhores, entre R$ 10,00 e 12,00/kg são obtidos com a venda direta aos pesque pagues e ao consumidor final. Esta maior margem de lucro possível com o pintado resulta em retorno superior ao que pode ser obtido com a tilápia, tornan- do atrativa até mesmo a implantação de empreendimentos de pequeno porte. Uma avaliação dos canais de mercado - O pescado oriundo da piscicultura pode ser comercializado de diversas formas: a) peixe vivo para pesca esportiva, para o mercado de peixe vivo ou mesmo para entrega aos frigoríficos e algumas redes de supermercado; b) peixe abatido para venda direta ao consumidor final na fa- zenda ou em feiras livres; ou para venda a restaurantes ou a atacadistas (super- mercados, frigoríficos, entre outros); c) produtos processados na propriedade, para vendas diretas ao consumidor final, a restaurantes ou a atacadistas. Quando a escala de produção é relativamente pequena, os peixes acabam sendo vendi- dos localmente a preços compensadores,seja para consumidores no município ou pesque-pagues locais. Em particular, a venda de peixes vivos diretamente ao consumidor, apesar de exigir grande de- dicação do produtor, possibilita alcançar alta margem de lucro e um mercado sem concorrente para os produtos da aqüi- cultura. Dos relatos que tenho ouvido de produtores em diversas regiões do país, todos que partiram para esta forma de comercialização, principalmente no início dos seus empreendimentos, ficaram impressionados com o sucesso dessa mo- dalidade de venda. Com uma produção maior, muitas vezes é necessário expandir o horizonte de comercialização. Isso pode exigir investimentos em infraestrutura de transporte de peixe vivo ou mesmo a instalação de uma pequena unidade de beneficiamento, geralmente com alvará e licença para funcionamento no muni- cípio expedido pela vigilância sanitária e prefeitura local. Isso possibilita ampliar o leque de produtos ofertados (peixe evis- cerado e filés frescos e congelados), con- tribuindo para o aumento nas vendas diretas. Quando estes investimentos não são possíveis, o produtor passa a depender de transportadores de peixes vivos ou de outros intermediários/ atacadistas para escoar parte ou toda a sua produção. Análise preliminar da viabilidade econômica - Antes de decidir pela implantação, é fundamental realizar uma análise da viabilidade econômica do empreendimento, de forma a pre- ver o potencial de retorno ao capital investido sob diferentes cenários, prin- cipalmente variando as condições de preço de venda, volume de produção anual e preços dos principais insumos de produção (geralmente a ração e os alevinos). Para realizar esta análise é preciso ter uma idéia do tamanho do investimento (em tanques-rede, equipamentos, infra-estrutura de su- porte e demais desembolsos que serão necessários para a implantação do empreendimento). Também é preciso prever o montante das despesas opera- cionais (ração, mão de obra, alevinos, insumos diversos, manutenção das instalações e equipamentos) e ter uma previsão das receitas (descontadas as despesas e impostos sobre as vendas). As receitas são geralmente estimadas com base nos preços de venda que foram aferidos em diversos canais de mercado, como o pesque-pague, o mercado local (peixe vivo ou abatido) e os atacadistas. Capacidade para formar a equipe de produção - A maior dificuldade para a operação de uma piscicultura é a relativa dificuldade de encontrar funcionários familiarizados com o ma- nejo envolvido na produção de peixes. Assim, o proprietário deve se certificar de que contará com suporte técnico inicial, tanto para planejar a produção e as atividades rotineiras, como para capacitar os funcionários e gerentes do empreendimento. O sucesso da produ- ção depende, em grande parte, do olhar atento, da habilidade e do cuidado dos funcionários, além da capacidade de organização de quem gerencia o dia a dia do cultivo. Muitos proprietários "O proprietário de uma piscicultura deve se certificar de que contará com suporte técnico inicial, tanto para planejar a produção e as atividades rotineiras, como para capacitar os funcionários e gerentes do empreendimento. O sucesso da produção depende, em grande parte, do olhar atento, da habilidade e do cuidado dos funcionários, além da capacidade de organização de quem gerencia o dia a dia do cultivo". 18 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 interessados no cultivo de peixes em tanques-rede acabam optando por fazer experimentações, colocando muitas vezes gente inexperiente e sem suporte para conduzir as atividades de rotina, que geralmente acabam sendo execu- tadas nas brechas entre as atividades principais que estes funcionários desempenham na fazenda. Onde posicionar os tanques-rede? Decidir onde posicionar os tanques-rede em um açude não é uma tarefa muito simples. Os produtores quase sempre co- locam os tanques-rede nos locais mais fundos, em geral próximo à barragem. Diversos motivos induzem a isso: o principal, e há lógica nisso, é acreditar que quanto mais distantes os tanques- rede ficarem dos resíduos orgânicos do fundo, menor o risco de problemas com a qualidade da água no interior dos tanques-rede e menor o risco de doenças e infestações por parasitos. O segun- do motivo, pelo fato de poder contar com um acesso mais fácil às estruturas, visto que o topo da barragem geralmente oferece boas condições de tráfego de veículos, facilitando a chegada dos insumos e a saída dos peixes. O terceiro motivo é o fato de que, posicionando os tanques-rede no local mais fundo, dificilmente haverá necessidade de deslocá-los quando ocorre um abaixa- mento no nível do reservatório, o que pode ocorrer em açudes usados para irrigação durante os meses de estiagem. Mas a decisão de onde posicionar os tanques-rede nem sempre pode ser tomada com base em intuição, im- pulso ou comodidade. O produtor deve estar ciente de que há um grande risco de se posicionar os tanques-rede nos locais mais profundos do açude, devido aos riscos de mistura ou desestratificação da coluna d’água (ver Figura 1). Portanto, para definir onde os tanques-rede devem ser posicionados, diversos aspectos merecem ser considerados. O primeiro deles é a necessidade de assegurar um espaço mínimo de pelo menos 1,0m entre o fundo dos tanques- rede e o fundo do açude. Assim, para tanques-rede com 1,5m de altura útil, estamos falando em locais com 2,5m de profundidade. A maneira mais objetiva de selecionar o local (satisfeitas às exigências quanto à facilidade de acesso, investimento mínimo e segurança) é avaliar o perfil de oxigênio em profundidade nas áreas pré-selecionadas. Debaixo d’água muita coisa pode estar escondida. Áreas com grande quantidade de vegetação e/ou depósito de material orgânico (turfas, por exemplo) podem ter ficado submersas com a formação do açude. Níveis baixos de oxigênio e concentrações elevadas de gás carbônico são característicos nestes locais, podendo permanecer assim durante muito tempo, muitas vezes anos, após o enchimen- to do açude. Assim, a verificação dos níveis de oxigênio da superfície ao fundo pode confirmar se o local é adequado ou não. Locais adequados são aqueles em que o oxigênio se mantém acima de 3mg/l no ponto equivalente a 70% da profundidade. Exemplificando, em um local com profun- didade máxima de 5m, o oxigênio dissolvido a cerca de 3,5m de profundidade (70% de 5,0m) deve ser, pelo menos, 3mg/l. Isso diminui muito o risco de problemas de morte de peixes se houver a mistura da água do açude. O risco dos tanques-rede nos locais mais profundos Os corpos d’água dos açudes apresentam estratificação física, causada por diferenças na densidade da água em função da temperatura nas diferentes camadas, conforme ilustrado na Figura 1b e 1c. Na superfície, em função da radiação solar, a água permanece mais aquecida e com maior intensidade luminosa. A intensidade de luz é reduzida com o aumento na profundidade e, assim, a água do fundo não é aquecida com a mesma intensidade que a água da superfície. Quanto mais fria for a água (até 4oC), maior será a sua densidade. Desta forma, a água mais fria se posiciona nos extratos mais profundos. Com isso ocorre a estra- tificação física do corpo d’água de um açude. Na camada mais superficial do açude, com radiação solar mais intensa, o fitoplâncton se desenvolve melhor. Através da fotos- síntese, o fitoplâncton produz mais de 80% do oxigênio utilizado na respiração dos demais organismos aquáticos, inclusive os peixes nos tanques-rede. Com o aumento na profundidade, a intensidade de luz diminui, desacelerando a fotossíntese e reduzindo a produção de oxi- gênio. Isso resulta em uma redução progressiva no oxigênio dissol- vido, desde a camada mais superficial até a mais profunda do açude. A uma profundidade próxima de 2,4 vezes a transparência da água (medida com o disco de Sechi) a taxa fotossintética se iguala àtaxa respiratória, ou seja, todo o oxigênio produzido é consumido. Assim, em um açude com água de transparência ao redor de 1,00m, abaixo de 2,40m não há excedente da produção de oxigênio e, a oxigenação deste extrato mais profundo depende em grande parte da mistura de sua água com a água do estrato superior, mais oxigenado. Adicionalmente, sobre os sedimentos dos açudes ocorre a deposição de material orgânico (plâncton sedimentado; fezes dos peixes; folhas, estercos animais e outros materiais transportados pelo vento ou pela enxurrada; restos de plantas aquáticas; eventuais sobras de alimento; fertilizantes orgânicos aplicados no açude; entre outros). Este material depositado nos sedimentos é rapidamente reciclado nos locais mais rasos do açude (Zona 1). Neste estrato há grande dispo- nibilidade de oxigênio, pH adequado e temperaturas elevadas para acelerar o processo de degradação e decomposição da matéria orgâ- nica por bactérias e outros organismos. Os nutrientes liberados neste processo são rapidamente assimilados pelo fitoplâncton. Entre eles, o gás carbônico (CO2), o nitrogênio na forma amoniacal (NH4 +) ou de nitrato (NO3 -) e o fósforo na forma de ortofosfatos (HPO4 -2 e H2PO4 -). No entanto, nos locais mais profundos (Zonas 2 e 3), em virtude da menor disponibilidade de oxigênio, maior acidez e baixa temperatura da água, este material orgânico é decomposto de forma muito lenta. Isso provoca um acúmulo de material orgânico nos sedimentos, re- sultando em depleção total do oxigênio e aumento na concentração de gás carbônico nas águas mais profundas. Sem oxigênio, o processo de decomposição da matéria orgânica passa a ser anaeróbico (“fermenta- ção”), resultando na produção e acúmulo de substâncias tóxicas como a amônia (NH3), o nitrito (NO2 -), o gás súfídrico (H2S) e o metano (CH4). Assim, além de ter o oxigênio zerado (ou mesmo “negativo”, ou seja, demanda por oxigênio) e alta concentração de gás carbônico, a água das zonas mais profundas (Zona 3) concentra uma significativa quantidade de substâncias tóxicas aos peixes. Enquanto esta água permanece no fundo, sem perturbação, não há problema. No entanto, quando este estrato do fundo, por alguma razão, se mistura com as outras camadas (em um fenômeno Ta nq ue s- re de 19Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Tanques-rede chamado “desestratificação”), o risco de morte dos peixes nos tanques-rede é muito grande. Diferente dos peixes soltos no açude, os peixes confinados nos tanques-rede não conseguem se deslocar para um local de melhor qualidade de água. Tampouco, devido à alta densidade no interior dos tanques-rede, muitos não conseguem acessar a superfície, onde está o filme de água mais oxigenado, em contato com a atmosfera. Inevitavelmente, grande parte dos peixes morre. A boca e os opérculos abertos são sinais claros de que houve asfixia, causada pela súbita redução no oxigênio e alta elevação no gás carbônico após a mistura dos estratos. Quando a morte dos peixes não ocorre imediatamente (ou seja, o oxigênio e o gás carbônico não atingiram níveis suficientes para matar), nos dias seguintes pode ocorrer mortalidade em virtude da intoxicação dos peixes por outras substâncias tóxicas que aumentaram de concentração na água superficial. Por tudo isso, quando gativo – potencial redox negativo); acúmulo de matéria orgânica nos sedimentos; decomposição anaeróbica do material orgânico; acúmulo de compostos tóxicos, como o nitrito (NO2 -), o gás sulfídrico (H2S) e o metano (CH4). (a) – Vista superior de um açude com tanques-rede, identificando áreas com diferentes riscos para posicionamento dos tanques-rede. (b) – Seção longitudinal de um açude (AB) (c) – Seção transversal de um açude (CD) os tanques-rede são posicionados nas áreas de maior profundidade, o risco de mortalidade dos peixes devido à mistura das camadas é maior. Zona 1 – bem iluminada; presença do fitoplâncton; temperatura mais elevada; oxi- gênio adequado; pouco gás carbônico; rápida decomposição de material orgânico; Zona 2 – menor intensidade de luz; menos fitoplâncton; temperatura, oxigênio e gás carbônico em níveis intermediários; Zona 3 – pouca ou nenhuma luz; ausência de atividade fotossintética; baixos níveis de oxigênio (geralmente zero ou ne- Figura 1 – Na Fig. 1a é apresentado um desenho simplificado de um açude com baterias de tanques-rede posicionadas em diferentes locais. Geralmente os produtores posicionam os tanques-rede nas áreas mais fundas do açude, próximas à barragem. Os cortes AB e CD da Fig. 1a são representados na forma de perfis do açude, nas Fig. 1b (perfil longitudinal) e Fig. 1c (perfil transversal), respectivamente. Em ambos os perfis é apresentada uma simplificada estratificação da coluna d’água do açude. Estratificação como esta deve ser esperada em todos os açudes. Na Fig. 1b observe que a influência do estrato mais profundo e de pior qualidade (Zona 3) aumenta quanto mais próximo se chega a barragem. Na Fig. 1c observamos que a influência desta mesma Zona 3 é maior no centro do açude do que nas margens. Posicionar os tanques-rede próximos à barragem ou nas áreas centrais do açude implica em maior risco de incidentes com a mistura destas camadas de água (desestratificação). 20 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 As principais forças que causam a desestratificação da água dos açudes são os ventos fortes, as enxurradas e a queda na temperatura do ar, que afeta a tempe- ratura e a densidade da água superficial. Nos meses de verão, momento em que o açude se encontra fortemente estratifica- do, a ocorrência de temporais, com fortes ventos, e/ou grande volume de enxurrada carreado para dentro dos açudes, as ca- madas de água podem ser rapidamente misturadas, desestratificando o açude. Por anos seguidos tenho conhecido pro- dutores que experimentaram mortalidade súbita de tilápias em tanques-rede, princi- palmente nos meses de verão. Em quase todos os casos, ocorreram temporais ao entardecer ou na noite que antecedeu a mortalidade. Onde isso não ocorreu, a mais provável causa da morte dos peixes por asfixia pode ter sido a morte súbita do fitoplâncton em açudes onde a água estava excessivamente verde e com transparência abaixo de 30cm (mais infor- mações sobre a morte súbita do plâncton poderão ser encontradas em livros sobre qualidade de água e em matérias já pu- blicadas nesta revista). Nos meses de inverno, a temperatura da água superficial acompanha a queda na temperatura do ar. Esse resfriamento da água superficial provoca uma queda na temperatura das camadas subseqüentes até que, aos pou- cos, o gradiente de temperatura entre as diferentes camadas é minimizado. Com isso, a diferença na densidade entre os estratos se reduz e a mistura da água do açude acaba ocorrendo, porém de maneira menos súbita. Esse fenômeno é chamado de inversão térmica. Em pequenos açudes a inversão térmica pode ocasionar a morte dos peixes nos tanques-rede, porém com menor intensidade do que se poderia es- perar em grandes reservatórios. Quando ocorre a morte dos peixes pela mistura das camadas (uma mortali- dade muito misteriosa aos olhos de um produtor leigo), é comum atribuir o pro- blema à ração ou mesmo a um possível envenenamento intencional da água do açude. No entanto, uma ração embolorada ou com alguma deficiência nutricional não mata todos os peixes da noite para o dia, a não ser que realmente alguém tenha colocado um veneno na ração. E, por outro lado, se houve algum envenena- mento da água, os peixes soltos no açude também deveriam ter morrido. E isso ge- ralmente não ocorre, pois os peixes soltos podem procurar locais com oxigênio mais adequado ou, até mesmo, se “esparramar” pela superfície da água, buscando o filme superficial mais oxigenado. O produtor pode prevenir a ocor- rência de forte estratificação através dos seguintes procedimentos de rotina: • drenagem periódica da água do fundo, com o uso de“monges”, cachimbos e ou- tras estruturas que removam continuamen- te o excesso de água pelo fundo do açude. Se estas estruturas não existem, ainda é possível fazer a implantação de sifões para a descarga da água do fundo; • captação de água para irrigação no estrato mais profundo do açude. A água em profundidade geralmente contém menos material particulado (água com ausência de plâncton), causando menos problemas com o entupimento de filtros e dos bicos dos aspersores. Além disso, remover a água do fundo ajuda a reduzir a severidade de morte dos peixes nos tanques-rede em um eventual problema com a mistura da água do açude. Quando a água é removida dos estratos interme- diários, o gradiente de qualidade de água entre a superfície e o fundo fica ainda mais acentuado, podendo amplificar a mortalidade de peixes com a ocorrência da desestratificação. • circulação diária da água nas áreas mais fundas do açude, com o uso de aeradores de pá ou com propulsores de ar eficientes. Esta circulação deve ser efetuada entre as 12:00 e 15:00 horas, horários mais quentes do dia e de pico de fotossíntese. O objetivo da circulação é empurrar a água mais rica em oxigênio da superfí- cie para o estrato mais fundo do açude, melhorando as condições de oxigênio no fundo, reduzindo assim o gradiente de qualidade da água entre a superfície e o fundo do açude. O produtor que dispuser de oxímetro notará que após a circulação de água haverá um aumento na concentra- ção de oxigênio em profundidade. O uso de aeração Em açudes pequenos, se houver eventuais problemas com a qualidade da água, não é difícil acudir providenciando uma aeração localizada próxima das Ta nq ue s- re de "Produtores inexperientes muitas vezes minimizam a importância do uso de rações de alta qualidade e, seduzidos por preços atrativos e por falsas garantias de bom desempenho, acabam comprando rações incapazes de atender às necessidades dos peixes cultivados em tanques-rede. Rações inadequadas, prejudicam o crescimento e a conversão alimentar, e podem resultar em maior incidência de doenças e mortalidade no cultivo, após o manuseio e durante e depois do transporte. Com isso o custo de produção se eleva e pode inviabilizar o cultivo". 21Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Tanques-rede linhas de tanques-rede ou mesmo no interior dos tanques- rede. No entanto, em açudes de grande porte, o esforço demandado por uma aeração de emergência pode ser muito grande, muitas vezes impossível de prover. Em açudes com tanques-rede, a aeração deve ser usada apenas como ferramenta em situações de emergência e não com a finali- dade de atingir um nível maior de produção. Realizar uma aeração localizada é mais eficiente do que tentar elevar o oxigênio em toda a extensão do açude. De um modo geral, em viveiros de piscicultura, a potência de aeração aplicada varia entre 5 a 10 HP/ha, dependendo da taxa de alimentação, da biomassa de peixes estocada e de diversos outros fatores. No caso de uma aeração localizada para tanques-rede nos açudes, esta potência pode ser reduzida em pelo menos 50% (2 a 5HP/ha), visto que a biomassa instantânea e taxa de alimentação por área geralmente é menor do que o praticado em viveiros. A aeração pode ser feita das seguintes maneiras: • Com o uso de aeradores de pás posicionados próximos as linhas de tanques-rede, provendo uma aeração localizada na área dos tanques- rede. Aeradores de pás são os mais eficientes. No entanto, deve se tomar cuidado para não posicionar os aeradores muito próximos aos tanques-rede, para não causar desconforto aos peixes com correntes de água muito rápidas. Aeradores de pá também podem ser usados para circular e misturar a água nas áreas mais fundas dos açudes, evitando que ocorra forte estratificação dos açudes; • Com difusores de ar de adequado tamanho e alta vazão posiciona- dos no interior dos tanques-rede. O sistema de aeração por ar difuso demanda a instalação de sopradores de ar (compressores radial), ramais principais de grande calibre (75, 100 e até mesmo 150mm, dependendo da distância das tubulações) e difusores de grande va- zão, de forma a evitar estrangulamentos no sistema e sobrecargas no motor dos sopradores. Grande parte dos sistemas de ar difuso que tenho visto nas pisciculturas tem sido implantada pelos pró- prios produtores e não segue os requisitos técnicos demandados por este sistema de aeração. Assim, é comum ver sopradores de alta potência estrangulados por tubos e mangueiras finas e mesmo por um sem número de ineficientes pedras porosas de pequeno calibre e vazão. Os resultados: a sobrecarga do sistema, queima freqüente dos motores dos sopradores e uma ineficiente aeração. A aeração por ar difuso consome mais energia por unidade de oxigênio incorporada, comparado a outros sistemas. No entanto, quando é necessário prover aeração apenas em caráter de emergência, pode ser uma boa opção em tanques- rede nestes açudes de pequeno porte. • Um sistema de aeração de emergência também pode ser montado com bombas de água que succionam a água da superfície do açude e, através de uma rede de tubos, conduz a água ao longo de todas as linhas de tanques-rede, injetando a mesma com pressão no interior ou bem nas laterais dos tan- ques. Isso força a incorporação de oxigênio durante a queda (efeito cascata) e promove uma melhor circulação de água no interior dos tanques-rede. Rações de alta qualidade são imprescindíveis Os peixes cultivados em tanques-rede dependem exclusivamente da ração para suprir, de forma equilibra- da, todos os nutrientes necessários para adequada saúde e desempenho produtivo. Produtores com pouca experiência muitas vezes minimizam a importância do uso de rações de alta qualidade e, seduzidos por preços atrativos e por falsas garantias de bom desempenho, acabam comprando rações incapazes de atender as necessidades dos peixes cultivados em tanques-rede. Deficiências nutricionais devido ao uso de rações inadequadas, além de prejudicar o crescimento e a conversão alimentar, podem resultar em maior incidência de doenças e mortalidade no cultivo, após o manuseio e du- rante e depois do transporte. Com isso o custo de produção se eleva, podendo inviabilizar o cultivo. Considerações finais A criação de peixe em tanques-rede é uma ativi- dade intensiva que demanda um adequado planejamento, conhecimento técnico, equipe de produção bem treinada e empenho na comercialização, de forma a obter a melhor re- muneração possível e estruturar canais de venda seguros. O uso dos açudes particulares disponíveis oferece uma oportunidade única de implantar um negócio promissor com uma imobilização mínima de capital. Essa oportunidade pode ser estendida a empreendedores não proprietários que, através de contratos de arrendamento ou através de parcerias de pro- dução, poderão se tornar donos do seu próprio negócio. Além disso, ao contrário da grande imobilização de investimento feito na implantação de pisciculturas tradicionais em tanques escavados, as unidades de cultivo e estruturas de apoio usa- das no cultivo em tanques-rede podem ser transferidas de um local a outro diante de uma eventual necessidade e, até mesmo, vendidas com maior agilidade se houver necessidade de interrupção do empreendimento. Observando o universo de propriedades rurais no Brasil, é possível identificar um grande número de açu- des com potencial para piscicultura convencional ou em tanques-rede de forma sustentável. A exemplo do que tem sido praticado há décadas na China, o aproveitamento dos açudes disponíveis para fins de piscicultura, seja de forma tradicional ou com o uso de tanques-rede, por si só, possi- bilitará um significativo aumento na produção e oferta de pescado em nosso país. 22 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Mercado Interno: Por: Rodrigo A.P.L.F. de Carvalho¹, Uilians E. Ruivo², Itamar de Paiva Rocha³ ¹Doutorando do Instituto Oceanográficoda Universidade de São Paulo (rodrigoplfc@usp.br ) ²Royal Fish (ruivo@redel.com.br) ³Associação Brasileira de Criadores de Camarão - ABCC (abccam@abccam.com.br) Consumo de camarão no mundo – maioria dos produtores consome pouco O total da soma do camarão capturado (3.349.466t) com o camarão cultivado (2.733.134t) em 2005 (FAO), dividido pela população mundial (6,451 bilhões em 2005, segundo o US Census Bureau), resulta na disponi- bilidade de camarão per capita de aproximadamente 0,94Kg. E como parte deste camarão é processado, podemos considerar que o consumo mundial per capita gira ao redor de 0,7 Kg. Os principais países importadores de camarão (Estados Unidos, Japão, Espanha e França) apresentam, porém, um consumo per capita bem superior à média mundial, em contraste com os principais produtores mundiais que apresentam um consumo inferior à média mundial, com exceção da China e do México (Figura 1). O Brasil possui um consumo per capita baixo, ao redor de 0,250Kg/ano. Situação e Oportunidades para o Camarão Brasileiro O “Mercado Interno” é um dos temas mais discutidos no momento pela carcinicul- tura brasileira e surgiu com força no momento em que as exportações despencaram devido à valorização do real, o aumento da oferta de ca- marões cultivados no mundo e a ação antidum- ping. A queda no volume das exportações, que em 2006 totalizou 25%, nos primeiros quatro meses deste ano já atinge 43%, enquanto que as vendas para os supermercados e as centrais atacadistas aumentaram na mesma proporção, como uma válvula de alívio da oferta. Como mostraremos adiante, o mercado para camarões no Brasil oferece boas opor- tunidades para as empresas, e as condições necessárias para aproveitar estas oportunida- des estão disponíveis. É necessário, porém, arregaçar as mangas e posicionar os produtos de camarão cultivado em pé de igualdade com os seus concorrentes (aves, bovinos e suínos), que estão pelo menos uma década à frente no que se refere à logística, padronização, varie- dade e popularidade junto aos consumidores. É importante, porém, alertar para os riscos do aumento do foco no mercado interno em detrimento do mercado externo, onde o Brasil conquistou um espaço importante que merece ser fortalecido e ampliado. Estão aí as indústrias da carne e do frango como bons exemplos do equilíbrio entre vendas domésti- cas e exportações. Figura 1- Consumo de camarão per capita em países selecionados Fontes: NMFS, Eurostat, Glitnir, Rabobank, ABCC, FAO, BID Poucos produtores de camarão no mundo possuem um mercado interno estabelecido. Na Ásia, a China se destaca como um grande produtor e consumidor mundial de camarões, seguida pela Índia, 23Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 M ercado de Cam arão onde o crescimento econômico e populacional vão torná-la um dos maiores mercados consumidores do mundo. Como conseqüência da melhoria das condições sanitárias e nutri- cionais, a população da Índia vai ultrapassar a população da China por volta de 2035. Na América Latina, muito embora o Equador seja o maior produtor de camarões, o México e o Brasil são os maio- res mercados, e consumiram 130 mil e 46,5 mil toneladas em 2005, respectivamente, o que é uma vantagem em comparação aos outros países que não contam com um mercado interno. O Brasil importa milhões de dólares de bacalhau, salmões e mer- luzas para suprir a demanda por pescado. Em 2006, o valor das importações de bacalhau e derivados foi 20% maior do que as exportações de camarão. Oferta de camarão no Brasil – o camarão de cultivo predomina O camarão de cultivo responde por cerca de dois ter- ços da produção total de camarões no Brasil. No mundo, o camarão de cultivo representa um pouco menos da metade da oferta total. A figura 2 mostra que a oferta de camarões de cultivo predomina no Brasil, principalmente nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Já os maiores produtores de camarão capturado são: Pará, Maranhão, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O IBAMA lista a Bahia como o maior produtor de camarão da pesca, o que é questionável. Alguns estados se consolidaram como fornecedores de camarão para o mercado interno, como, por exemplo, o Ceará, que abastece quase um terço do camarão que chega ao CEASA do Rio de Janeiro; o Rio Grande do Norte que vendeu R$ 72 mi- lhões de camarões para o mercado interno em 2006 e aumentou em 170% as vendas para o Rio de Janeiro de 2005 para 2006 e, a Bahia que vendeu cerca de R$ 18 milhões em camarões no ano passado e aumentou em 380% as vendas para o Paraná, que recentemente despertou para o consumo de frutos do mar e se tornou um mercado promissor. Os maiores concorrentes do camarão de cultivo, obviamente, são os camarões da pesca: camarão 7 barbas, camarão vermelho e/ou Santana, camarão Lagoa dos Patos e até mesmo o camarão rosa. Uma das principais vantagens do produto cultivado é a oferta regular e adaptável às janelas abertas pela sazonalidade do produto da pesca, como por exemplo, os períodos de defeso nos meses de Janeiro e Fe- vereiro, Março a Maio e Outubro a Dezembro. As grandes indústrias de pesca contornam o problema da sazonalidade estocando grandes volumes de camarão e colocando no mer- cado gradualmente para manter a regularidade da oferta. Aspectos do consumo de camarão no Brasil – o camarão de cultivo é pouco conhecido A pesquisa mais recente de Orçamentos Familiares do IBGE aconteceu entre 2002 e 2003 e avaliou o consumo nos domicílios, oferecendo detalhes sobre os dispêndios e hábitos de consumo de alimentos no Brasil. Serve como orientação sobre o consumo de proteínas de origem animal em geral e de camarão, em específico. Estes dados foram bem explorados no trabalho realizado por Sonoda (2006). A pesquisa comprova e mostra em detalhes a par- ticipação pequena do pescado na mesa dos brasileiros, em relação às outras fontes como as carnes vermelhas e as proteínas prontas (laticínios, presuntos e embutidos). Em relação a estas últimas, São Paulo e Rio Grande do Sul se destacam como maiores consumidores, o que sugere um maior potencial de consumo de produtos de valor agregado (Figura 3). Figura 2- Produção de camarão de cultivo (2006) e da pesca (2005) no Brasil Figura 3- Distribuição % do gasto domiciliar por proteína em relação ao gasto total nas principais unidades da federação de diferentes regiões no Brasil entre 2002 e 2003 O estudo mostrou que o camarão fresco apresenta o quarto maior consumo entre os tipos de pescado. O que nos chama a atenção é o consumo domiciliar elevado de camarões na região norte do país, onde o camarão é o segundo pescado mais consumido nos domicílios (Figura 4). "O camarão de cultivo responde por cerca de dois terços da produção total de camarões no Brasil". 24 Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 25Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2007 Para quantificar o potencial dos estados para o con- sumo de camarão foram criados dois índices auxiliares: i- o Índice de Consumo Potencial - ICP e ii- o Índice de Déficit de Camarão - IDC. Os dados de consumo domiciliar per capita foram combinados com o IPC e IDC em um único gráfico e mostram que os estados com maiores ICP e IDC (Rio de Janeiro, Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo) possuem bons potenciais de mercado. O consumo per capita quando elevado (AP, PA), indica um mercado amadurecido para o consumo de camarões e, quando baixo (RS, MG), é sinal de que o mercado não possui hábito de consumir camarões, o que não necessariamente é ruim, pois oferece um potencial inexplorado, embora exija um esforço maior de marke- ting para tornar o produto conhecido (Figura 7). M ercado de Cam arão O consumo domiciliar per capita de cama- rões frescos no Brasil é igual a 0,114g, ou cerca da metade do consumo per capita total (0,250kg). O consumo per capita de camarões varia muito entre os estados, com destaque para o Amapá, Pará e Sergipe e até o Distrito Federal como alguns dos principais
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