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1 LÍNGUA, CULTURA E DIVERSIDADE: BRASIL PLURAL, ESCOLA IGUAL. Maria Eneida da Silva1 Débora Cristina Santos e Silva² RESUMO: A discussão do tema “língua, cultura e diversidade” provém de reflexões advindas de revisão de literatura da pesquisa de mestrado que está em andamento intitulada Leitura e escrita no ensino médio: desafios do multiletramento, cujos objetivos são investigar, descrever e analisar quais os desafios enfrentados e quais as metodologias utilizadas no trabalho com a leitura e a escrita, com vistas ao multiletramento no ensino médio da rede pública estadual de educação do município de Luziânia, Goiás. A proposta deste artigo é promover reflexões sobre o ensino de língua portuguesa que saia da ênfase no ensino normativo para o reflexivo e que considere como imprescindível o aspecto sociolinguístico da língua, com foco na cultura e na diversidade de um país tão plural quanto o Brasil. Para tanto, contamos com os aportes teóricos sobre leitura e escrita (SAUSSURE, 1972; BAKHTIN, 2000; CHARTIER, 1999, 2011); letramento (SOARES, 2004); as perspectivas críticas sobre o letramento(s) (ROJO, 2008, 2009; SOUZA); multiletramento(s) (ROJO; MOURA, 2012); multilinguismo e história da língua portuguesa no Brasil (GUIMARÃES, 2005); cultura e culturas híbridas (GARCÍA CANCLINI, 2008); ensino de língua portuguesa (ANTUNES, 2009); sociolinguística (BOTONI-RICARDO, 2004); gênero textual e leitura (MARCUSCHI, 2008; DIONÍSIO; VASCONCELOS, 2013) e diversidade comunicativa contemporânea (FISCHER, 2007; BELLONI, 2001). A partir da etapa inicial da pesquisa, será discutido o ensino de língua portuguesa na busca pela reflexão dos sujeitos de uma língua que é história, cultura e diversidade. PALAVRAS-CHAVE: Língua. Cultura. Diversidade. Multiletramento. Escola. 1. INTRODUÇÃO O mundo do futuro, em que não existe mais de uma única língua, é também o mundo do esquecimento, sem museus, sem bibliotecas, sem livros [...] significa, assim, a perda da história, o desaparecimento das identidades e, finalmente, a destruição aprovada. (Roger Chartier) Neste trabalho, apresentaremos as teorias e conceitos de língua, cultura, diversidade, multiletramento(s), bem como abordaremos conceitos anteriores a este – letramento e letramentos. Discutiremos sobre leitura e escrita e as perspectivas em torno dos estudos sobre 1 Professora Titular da Universidade Estadual de Goiás – UEG, Campus Universitário de Luziânia; graduada em Letras; aluna do Programa Stricto Sensu de Mestrado Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias – MIELT – da UEG Campus Anápolis; Bolsista do Programa Próprio de Bolsas da UEG. e-mail: eneida.ueg@hotmail.com ² Professora Titular pós-doutora do Programa Stricto Sensu de Mestrado Interdisciplinar em Educação, Linguagem e Tecnologias – MIELT – da UEG Campus Anápolis e orientadora da pesquisa. e-mail: desants@uol.com.br mailto:eneida.ueg@hotmail.com mailto:desants@uol.com.br 2 educação linguística, com foco nos desafios e nas possibilidades de alcance do multiletramento, considerando a existência de novas tecnologias e novos espaços para seu desenvolvimento. A primeira seção apresenta um breve percurso teórico e histórico sobre a língua portuguesa no Brasil; a compreensão de língua, cultura e diversidade como indissociáveis no processo de historicidade individual e coletiva do homem. Trataremos da necessidade de que haja o alcance do multiletramento no ensino médio, preocupando-se com a inserção social e a valorização das diferenças linguísticas e culturais presentes em sala de aula. Em seguida, na segunda seção, traremos discussões acerca das diferenças da língua que se fala em casa, na rua e em outros locais e a que é ensinada na escola, levando-se em consideração as práticas sociais de leitura e escrita efetuadas que se ampliam e se modificam com a emergência das Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs. Haverá, ainda, exposição e discussão de estudos que focam a aprendizagem de língua materna no trabalho com textos, considerando a diversidade textual presente na sociedade e que deve estar presente também na escola. Por fim, na terceira e última seção, traremos algumas argumentações embasadas na revisão de literatura, na busca por reflexões acerca do que pesquisas e mais pesquisas apontam como desafios para os multiletramentos, mas também, grandes possibilidades de ensino da leitura e da escrita aos jovens, não se esquecendo de que o mundo acontece também e, principalmente, fora da escola. A partir de reflexões acerca da língua e da grande diversidade linguística do Brasil, proporemos um olhar diferenciado sobre a língua portuguesa e seu ensino na escola, a fim de contribuir com a mediação pedagógica e com uma nova prática em que sejam valorizados os aspectos sociolinguísticos e não somente formais da língua. As discussões encaminhadas ao longo do texto objetivam contribuições que viabilizem a compreensão das diferenças dos papeis sociais, dos eventos de letramento, multiletramento e de oralidade com foco nas variações linguísticas e estilísticas que precisam ser destacadas, trabalhadas e valorizadas em sala de aula. Isso fará com que o aluno não sinta que sua língua é uma e a que a escola ensina é outra. É preciso valorizar a cultura e a diversidade em todos os domínios sociais (BORTONI-RICARDO, 2004), mas é no espaço escolar com todas as suas singularidades linguísticas que o esforço deve ser empreendido, visto que o Brasil se revela cada dia mais plural para um ensino de língua sempre igual. 3 2. LÍNGUA, CULTURA, DIVERSIDADE E O MULTILETRAMENTO Como falantes do português no Brasil, e mesmo como professores, estamos de algum modo, envoltos numa certeza: o Brasil tem uma língua: o português do Brasil. (Eduardo Guimarães) A história do Brasil teve por base uma grande diversidade de sujeitos históricos, considerando-se os colonizadores e os povos que aqui viviam ou que para cá vieram. Não se pode desconsiderar, pois, nos espaços de enunciação (GUIMARÃES, 2005) ou nos domínios sociais – que são os lugares onde as pessoas interagem, espaços em que a língua funciona ligada ao processo de identificação social do sujeito – as relações do português e as línguas indígenas; do português e as línguas africanas; do português e as línguas de imigração, pois tal relação é o resultado de histórias muito particulares da colonização e pós-colonização que produziram diferenças e efeitos importantes na estruturação e variação da língua no país. O espaço de enunciação do Brasil começa a ser modificado, segundo Guimarães (2005), quando Portugal direciona ações específicas para impor o português como língua oficial e o Marquês de Pombal proíbe, pelo Diretório dos Índios de 1757, o uso de línguas indígenas. Uma nova mudança desse espaço se dá tanto com a vinda da Família Real – em que cerca de 15.000 portugueses chegaram ao Rio de Janeiro, aumentando o número de falantes do português – quanto com a criação de duas instituições culturais, a Biblioteca Nacional e a Imprensa que usava oficialmente a língua portuguesa. A partir da independência, em 1822, há no parlamento brasileiro a decisão de que “o ensino da língua deve ser [...] através do uso da gramática da „língua nacional‟ [...] [e esta era assim denominada] como forma de não nomear a língua da nova Nação pelo nome do antigo colonizador” (GUIMARÃES, 2005, p. 15). Com o caráter de língua oficial e também nacional, estabelecer-se-iam relações conflituosas com as línguas indígenas e, mais tarde, com as línguas dos imigrantes. Ainda de acordo com Guimarães (2005), o idioma nacional passou a ser chamado de Língua Portuguesa quando, na Constituição de 1946, estabelece-se a obrigação do governo de constituir uma comissão de especialistas para tal fim. O argumentopara o novo nome foi o de que “como língua o português garante que somos um povo civilizado [...] [e] os instrumentos de gramatização (gramáticas, dicionários, descrições) tomam a língua portuguesa do Brasil e 4 de Portugal como a mesma, concluindo, a partir disso, que ela é a mesma.” (GUIMARÃES, 2005, p. 17). Na Constituição Brasileira de 1988, no Título II “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, no Capítulo III “Da Nacionalidade” em seu artigo 13, a língua portuguesa é tida como idioma oficial. No mesmo texto, as línguas indígenas são tratadas como língua de cultura no Título VIII “Da Ordem Social”, no Capítulo VIII “Dos Índios” em seu artigo 231, em que o Estado reconhece aos índios sua organização, costumes, línguas, crenças e tradições (BRASIL, 2004). Essa diferença imposta em texto Constitucional iniciou a consolidação de um caráter primitivo das línguas indígenas e civilizado da língua portuguesa, valorizando uma em detrimento da outra e, consequentemente, desvalorizando e impondo uma cultura à outra, tal qual fizeram conosco os portugueses. A partir de então, tinha-se amparo para justificar a valorização da língua nacional e querer que todos os habitantes do Brasil a considerasse adequada, correta e única como se fosse possível sobrepor toda a cultura, a história e a singularidade daqueles que aqui viviam e daqueles que para cá vieram em vários momentos, em prol de uma língua estrangeira tentando se tornar brasileira. A invasão e a apropriação da Terra Brasilis e toda sua carga histórica deixaram resquícios de uma ideologia etnocentrista que colocou o colonizado na condição de inferioridade, de eternamente subalterno. E, na tentativa de igualar o português do Brasil ao português de Portugal – como se fosse possível engessar assim uma língua –, carregamos a culpa (também pela condição de subalternos) de ter empobrecido o português dos lusitanos, o que foi nos conduzindo a uma associação simplista e muito arraigada de que existe língua bonita e língua feia, língua certa e língua errada (ANTUNES, 2009). A língua é um sistema de signos em uso para fins de comunicação e é, portanto, delineada conforme o contexto histórico, social e cultural em que estiver inserida e não existe, portanto, certo ou errado. A língua materna do Brasil passou por intensas e consideráveis modificações ao longo de sua história, desencadeando uma grande diversidade linguística no país e tal diversidade é desconsiderada ao serem levantados e propagados os “erros de português” no espaço escolar, na sociedade e nas diversas mídias. Distorções assim desencadeiam o preconceito e a desvalorização da cultura e das variedades linguísticas, bem como dos sujeitos deste país tão plural, posto que “em nossas salas de aula, [...] [a] mistura de culturas, raças e cores não constitui constatação tão nova, embora passe o tempo todo quase totalmente despercebida ou propositadamente ignorada” (ROJO; MOURA, 2012, p. 15). 5 À multiplicidade de sujeitos históricos que fomentaram e consolidaram a língua e cultura brasileiras, é importante acrescentarmos as diversidades de gênero, de classe, de etnia, de credos, linguística, dentre outras, visto que diversidade é “toda alteridade, diferença ou dessemelhança.” (ABBAGNANO, 1999, p. 291); além de ser um termo de forte carga emocional e política e estar diretamente vinculado aos desdobramentos sociais e históricos do sujeito. Abbagnano (1999, p. 225 e 615) nos traz que cultura é “a formação do homem, [...] indica o produto dessa formação, ou seja, o conjunto dos modos de viver e de pensar cultivados, [...].” e língua é “um conjunto organizado de signos linguísticos. [...] Saussure [...] definiu a língua como „conjunto dos costumes linguísticos que permitem a um sujeito compreender e fazer-se compreender‟”. Chartier (1999) nos traz duas definições interessantes de cultura que são responsáveis pela formação da história cultural: uma cultura “enquanto obras e gestos que configuram e justificam uma apreensão estética, um princípio de classificação e de demarcação intelectual do mundo” e outra definição que entende cultura “enquanto práticas comuns, „sem qualidades‟, que exprimem a maneira pela qual uma comunidade produz sentido, vive e pensa sua relação com o mundo (CHARTIER, 1999, p. 8-9). Portanto, falar de cultura é compreender que tudo aquilo que define o homem e sua relação com a história individual e coletiva – considerando a sociedade e a inserção, a intervenção e a apropriação humana das práticas culturais – é uma realidade construída, pensada e lida de diversas formas e ângulos. A partir dessa percepção de cultura, Chartier (2011, p. 231) postula “que para debater a compreensão possível das práticas culturais, o exemplo da leitura é um exemplo muito bom, uma vez que sobre esse terreno encontram-se colocados, como num microcosmo, os problemas passíveis de ser reencontrados em outros campos e com outras práticas”. É preciso, portanto, compreendermos a sociedade e sua consequente diversidade como construto histórico; a língua como pertencente aos sujeitos envolvidos e por eles significada; a cultura como o conjunto de tudo aquilo que os define e os aproxima, através também, das práticas sociais de leitura e escrita. Estes três elementos coligidos são determinantes do que se torna o centro de nossas discussões: a diversidade linguística do Brasil e a necessidade de um ensino de leitura e escrita com vistas ao multiletramento. Eis a grande questão: não seria pelo fortalecimento daquela compreensão e deste alcance que deveria caminhar a escola – espaço de enunciação em que o papel social é construído na soma das diversidades? Antunes (2009) pontua que a escola, implícita ou explicitamente, reforça as distorções. 6 A compreensão da língua como produto histórico, dinâmico e flexível proporciona a articulação contínua entre cultura, língua e diversidade, conduzindo-nos a um olhar mais observador e crítico acerca dos fenômenos sociolinguísticos e também do multiletramento. A criticidade em questão refere-se ao fato de não considerarmos a língua como imutável e padronizada, enxergando nesta todas as suas potencialidades comunicacionais em uma diversidade que é regional, cultural, mas principalmente, humana. Para a abrangência e o alcance da multiplicidade cultural e também da multiplicidade de linguagens, modos ou semioses dos textos que circulam na sociedade para informação e comunicação, é que surgiu o termo multiletramento – para designar capacidades e práticas de compreensão e produção de cada uma dessas multiplicidades. Sobre a multiplicidade cultural, García Canclini (2008, apud ROJO; MOURA, 2012, p. 13) assinala que “o que vemos hoje à nossa volta são produções culturais letradas em efetiva circulação social [...] híbridos, caracterizados por um processo de escolha pessoal e política e de hibridização de produções de diferentes „coleções‟”. E a multiplicidade semiótica, segundo Rojo e Moura (2012, p. 18) “é evidente [...] nos textos em circulação social, seja nos impressos, seja nas mídias audiovisuais, digitais ou não”. Anterior ao conceito de multiletramento, com essa compreensão ampliada da sociedade contemporânea e da diversidade de fatores que a compõem, cada dia mais multi, lembremo-nos do termo letramento que por Soares (2004) é definido como o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais. De acordo com Rojo (2008), os estudos mais recentes do letramento consideram a diversidade das práticas sociais de leitura, escrita e uso da língua e da linguagem em seu caráter sociocultural e, portanto, o vocábulo letramento passa a ser utilizado no plural – letramentos. Assim, seu sentido é ampliado para dar conta dos muitos letramentos em que os indivíduos sociais estão envolvidos constantemente.Street (2003 apud ROJO, 2009, p. 102) afirma que essa abordagem dos letramentos que apontam para a heterogeneidade das práticas sociais “implica o reconhecimento dos múltiplos letramentos, que variam no tempo e o espaço, mas que são também contestados nas relações de poder”. Há, pois, a confirmação de que “nesse movimento, o conceito de letramento passa a ser plural: letramentoS” (ROJO, 2009, p. 102, destaque da autora). O multiletramento, por sua vez, vem complementar a significação de letramento, pois abarca o indivíduo em sua coletividade, sociabilidade tanto quanto se preocupa com as diversas manifestações culturais presentes na sociedade e com a multiplicidade semiótica dos diversos textos e meios pelos quais nos informamos e nos comunicamos. Justamente por 7 abarcar a multiplicidade de culturas e de linguagens presentes em nossa sociedade e que interferem diretamente na maneira como a língua (falada ou escrita) funciona na escola ou fora dela e como ela deve ser ensinada, passou-se a figurar o termo multiletramentos, no plural, a fim de que sejam contempladas as inúmeras maneiras de aprender na contemporaneidade. Temos o destaque de que estudos sobre multiletramentos são unânimes em apontar algumas características importantes: a) eles são interativos; mais que isso, colaborativos; b) eles fraturam e transgridem as relações de poder estabelecidas, em especial as relações de propriedade (das máquinas, das ferramentas, das ideias, dos textos [verbais ou não]); c) eles são híbridos, fronteiriços, mestiços (de linguagens, modos, mídias e culturas) (ROJO; MOURA, 2012, p. 22 e 23). Devido ao caráter de alcance das necessidades comunicativas e interacionais, requerem- se aprendizagens diferenciadas e abrangentes o que esclarece o porquê de os letramentos tornarem-se multiletramentos, visto que são necessárias novas ferramentas além da escrita manual e impressa como as de áudio e vídeo, tratamento de imagens e edição; e requeridas novas práticas de produção e de análise crítica do indivíduo enquanto receptor para o funcionamento de novos textos que não são só multi, mas hiper (textos), hiper(mídias) (ROJO; MOURA, 2012). Ademais, há a ênfase de que não são as características dos „novos‟ textos multissemióticos, multimodais e hipermidiáticos que colocam desafios aos leitores. Se assim fosse, nossas crianças e jovens nativos não teriam tanta facilidade e prazer na navegação. O desafio fica colocado pelas nossas práticas escolares de leitura/escrita que já eram restritas e insuficientes mesmo para a „era do impresso‟(ROJO; MOURA, 2012, p. 22). É preciso que a instituição escolar considere a existência de práticas de leitura e escrita em outros ambientes e outros suportes a fim de que o aluno seja preparado para o funcionamento de uma sociedade cada vez mais tecnológica e digital, considerando que o que ele faz fora da escola faz parte da construção de seu conhecimento e o insere socialmente. O problema não é ensinar como o aluno irá utilizar os recursos tecnológicos e midiáticos porque isso ele já sabe, até melhor do que muitos pais, professores e orientadores. O grande desafio é considerar a escola não como criadora de práticas discursivas, comunicativas e de inserção social, mas que é fora dela que tudo começa e é dentro dela que crianças e jovens precisam ter 8 orientações acerca das potencialidades e dos benefícios, tanto quanto dos malefícios que podem ser gerados a partir do uso inadequado de todo o aparato tecnológico a nosso dispor. 3. A LÍNGUA DO DIA A DIA E A LÍNGUA DA ESCOLA [Na escola, os colegas] conversavam muito diferente do que estava escrito nos livros e mais diferente ainda da gente de minha parentalha. (Carmo Bernardes) Várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas acerca da variedade linguística do português brasileiro, a fim de descrever a língua materna e as diferentes formas em que se apresentam a língua falada e a língua escrita no Brasil. Tais estudos trazem como resultados alguns direcionamentos pedagógicos para as práticas de educação linguística, ou seja, para as formas de se ensinar a língua portuguesa nas escolas (BOTONI-RICARDO, 2004). Os estudos e pesquisas empreendidos fizeram surgir, na sociolinguística, um campo de ação denominado sociolinguística educacional que fora inaugurado pela pesquisadora Stella Maris Ricardo-Bortoni com investigações não só da língua, mas das redes sociais e da cultura específica daqueles que enfrentam uma escola de práticas letradas com suas práticas essencialmente orais. As salas de aula são ambientes de grande riqueza e variedade linguísticas que poderiam ser instrumento do ensino de língua portuguesa e que, na verdade, são motivadores de diferenças, conflitos e discriminações entre falantes do mesmo idioma. As diferenças sociolinguísticas existem até mesmo em nossa família, em que os discursos são marcados por diferenças intergeracionais e de gênero, por exemplo; mas na escola em que a pressão comunicativa é maior, essas diferenças se acentuam e causam no aluno grande temor e uma enorme insegurança linguística (BORTONI-RICARDO, 2004). Quando o aluno chega à escola, apropriado de sua bagagem cultural e de uma linguagem por vezes regionalizada, esta é tomada como a língua do dia a dia e, portanto, considerada por todos – fruto “daquela” ideologia etnocentrista – como “errada”, posto que a que é “certa” é a padronizada, é a língua ensinada na sala de aula. O que deve ser ressaltado é que não há “erros” de português e sim diferenças, divergências entre variedades da língua. Mas há uma dúvida constante, até mesmo, e 9 principalmente, entre os professores em como conduzir os momentos em que aparecem os chamados “erros” de português na sala de aula. Por isso, vale destacar que nas últimas duas décadas, os educadores brasileiros, com destaque especial para os linguistas – seguindo uma corrente que nasceu da polêmica entre a postura que considera o “erro” uma deficiência do aluno e a postura que vê os chamados “erros” como uma simples diferença entre duas variedades –, têm feito um trabalho importante, mostrando que é pedagogicamente incorreto usar a incidência do erro do educando como uma oportunidade para humilhá-lo. Ao contrário, uma pedagogia que é culturalmente sensível aos saberes dos educandos está atenta às diferenças entre a cultura que eles representam e a da escola, e mostra ao professor como encontrar formas efetivas de conscientizar os educandos sobre essas diferenças. (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 37-38). A língua portuguesa dispõe de instrumentos que reorganizam mais uma vez os domínios sociais, a saber, a escola, a gramática, o dicionário e, decisivamente, a mídia (BORTONI-RICARDO, 2004), e todos em vez de olhares convergentes, ressaltam a divisão entre o certo e o errado, produzindo a fragmentação social da língua. Desconsidera-se, pois, que a língua é um conjunto de atividades sociais, históricas e culturais, e não um simples sistema que pode ser catalogado e categorizado em gavetas etiquetadas com a palavra certo ou errado, posto que O povo tem uma identidade, que resulta dos traços manifestados em sua cultura, a qual, por sua vez, se forja e se expressa pela mediação das linguagens, sobretudo da linguagem verbal. [...] Os paradigmas teóricos que tentaram isolar [...] língua e cultura serviram a outros objetivos que não o de dar conta da real natureza da linguagem, na sua abrangência de sistema de signos em uso, para fins de interação social. (ANTUNES, 2009, p. 19, grifos da autora). Portanto, não se pode considerar a língua como inflexível e amorfa, visto que as pessoas a vivificam em seus discursos e se apropriam dessa vitalidade na construção de sujeitos históricos e culturais que diversificam a coletividade, posto que “só existe língua se houver seres humanos que a falem.” (BAGNO,2006, p. 09). A partir de seu caráter epistemológico, a língua sai da generalização das línguas pertencentes a uma única família – assim como pretenderam os especialistas da Constituição de 1946. Saussure (1972) diz que essa generalização seria reduzir a língua ao alfabeto; seria reduzi-la a uma norma. Mas se é pela escrita que a norma aparece, assim como nas 10 gramáticas, seria como igualar a língua à escrita; a linguagem à fala. A linguagem é um sistema amplo, sem contorno, “[...] é uma das faculdades cognitivas mais flexíveis e plásticas adaptáveis às mudanças comportamentais e a responsável pela disseminação das constantes transformações sociais, políticas e culturais geradas pela criatividade do ser humano.” (MARCUSCHI; XAVIER, 2010, p. 11). A fala é somente um dos fenômenos da linguagem, configurando seu polo verbal; já a escrita tem caráter estrutural, delimitado e representativo, sendo uma das manifestações da língua; e esta, por sua vez, é caracterizada pela construção de um aparato cultural, histórico e social que vai além da escrita como forma de comunicação dos sujeitos. “A língua tem, pois, uma tradição oral independente da escrita e bem diversamente fixa.” (SAUSSURE, 1972, p.35). Na perspectiva de se evitar a exclusão e a discriminação linguísticas, a escola tem o papel fundamental de priorizar um ensino de língua que esteja preocupado com a formação integral do cidadão, no sentido de ampliar sua competência comunicativa – em função de competências sociais mais amplas – para que haja a participação consciente, crítica e relevante das pessoas na construção de um mundo em que possam ter vez e voz (ANTUNES, 2009). Nesse escopo, a concepção de língua que se deve ter é a de que a língua é uma atividade funcional [...] a serviço das pessoas [...] [com] estreita e inexorável reciprocidade entre língua e sociedade, entre língua e história, entre língua e cultura [...] regulada e moldada pelas estruturas sociais, de forma que não existem usos linguísticos aleatórios ou de aplicações irrestritas [...] acontece inevitavelmente sob a forma da textualidade [...] textos orais ou escritos, sejam eles breves ou longos (ANTUNES, 2009, p. 35-37). O ensino da língua, necessário à formação de sujeitos que se constroem social, política e culturalmente, não pode ser visto somente como ensino de regras gramaticais, leitura e escrita existente somente na escola, pois “todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a língua.” (BAKHTIN, 2000, p. 279). Assim, o estudo da língua portuguesa deve trazer para o espaço escolar os elementos multifuncionais que compõem o texto e que auxiliam nas diversas formas de leitura de que necessitamos para conceber o mundo, uma vez que “operar com textos é uma forma de se inserir em uma cultura e dominar uma língua” (MARCUSCHI, 2008, p. 90) e, acrescenta-se: desenvolver a criticidade. Diante disso, o aluno deve ser incentivado a ler de forma crítica e reflexiva as diversas manifestações de leitura da contemporaneidade para que, ao produzir textos, construa-os em gêneros diversos, em suportes diferentes, em meio digital ou físico, 11 tanto na escola quanto fora dela. E, para o alcance desse objetivo, o professor precisa atentar- se para as metodologias com base em multimodalidade, gêneros textuais e leitura (DIONÍSIO; VASCONCELOS, 2013). O ensino de língua portuguesa na escola que prioriza a normatização em detrimento da reflexão corrobora para a manutenção dos paradigmas do “certo” e do “errado” no contexto de sua utilização, pois, com raras exceções, o ensino está centrado na gramática, ou seja, em classificação e nomenclatura gramatical. Embora se saiba que “[...] o ensino de língua deva dar-se através de textos [...] [seja] hoje um consenso tanto entre linguistas teóricos como aplicados. Sabidamente, essa é, também, uma prática comum na escola e orientação central dos PCNs.” (MARCUSCHI, 2008, p. 51), o trabalho com textos está aquém do necessário para a educação linguística de nossos alunos. A partir de tais afirmações e partindo também de experiências no ensino de língua portuguesa, percebemos que o problema não se dá por se trabalhar ou não com textos, mas nas maneiras como são conduzidas as aulas com essa mediação pedagógica, visto que “[professores] empenhados em „ensinar línguas com base no texto‟, „a partir do texto‟, „através do texto, „de forma contextualizada‟, [traziam] algumas propostas de atividades [...] [que] supunham estar alinhadas pelas novas perspectivas, simplesmente pelo fato de estarem propondo a retirada de palavras e frases dos textos para fazerem os mesmo tipos de análises que faziam antes, [mantendo] os mesmos pressupostos teóricos; só que, agora, as palavras e as frases para a análise já não eram escolhidas ao acaso, mas eram fragmentos de um determinado texto [...] (ANTUNES, 2009, p. 52). O contexto das salas de aula de língua portuguesa é, com raras exceções, permeado por textos sim, mas que são distantes da realidade cultural dos alunos, o que torna as aulas entediantes, com foco exclusivo nas questões gramaticais e com rasas questões de compreensão. Não que textos com informações diversas não precisem fazer parte das aulas, mas a se começar leituras desse tipo é preciso que seja dado o aparato suficiente para que o aluno não se sinta deslocado numa situação de total desconhecimento do que está sendo lido. É leitura superficial e sem compreensão e, menos ainda, sem interesse motivador da aprendizagem a que se destina seu uso. O trabalho com textos deve ir muito além do ato mecânico de levar para a sala de aula textos diversos, na tentativa de chamar a atenção dos alunos ou de ter “uma aula diferente”, se ao ler tais textos não houver nenhuma interação 12 diferenciada ou se, em seguida, somente forem propostas questões de compreensão textual só para que os alunos respondam, oralmente ou escrevendo no caderno. De acordo com Vigotsky (2007, p. 34), “o uso dos signos conduz os seres humanos a uma estrutura específica de comportamento que se destaca do desenvolvimento biológico e cria novas formas de processos psicológicos enraizados na cultura.”. Tomemos por referência esse postulado vigotskiano para compreender as interferências negativas que textos desconexos e trabalhados equivocadamente ou distantes da realidade dos alunos podem ter em seu comportamento nas aulas de língua portuguesa. O próprio cientista nos alerta que os estímulos externos ou signos, nesse caso os textos, quando “colocados” para o aluno, só trarão resultados efetivos em seu comportamento, se esse aluno estiver engajado no estabelecimento desse elo. Como é que o aluno estabelecerá um elo se o signo que lhe é apresentado está deslocado daquilo que é de seu interesse, daquilo que lhe fará ter uma resposta? Esse elo não agirá sobre o aluno, o que o impedirá de controlar seu próprio comportamento em relação ao signo que lhe está sendo apresentado. Ao passo que se o texto for significativo, conseguir estabelecer um elo com o aluno, a partir da forma como esse signo lhe for apresentado, criará formas de processos psicológicos que se enraizarão em sua cultura, ou seja, passará a fazer parte do sujeito como construto e não mais como aquilo que simplesmente passa e não é registrado como relevante. Fato comum nas salas de aula é ouvir alunos comentando com os colegas os acontecimentos reais, cenas de filmes e novelas, e poucas vezes esse contexto é explorado nas escolas. Esses assuntos para eles já são relevantes e, portanto, é rico material para o professor ensinar e o aluno realmente aprender. Conhecer e utilizar jornais, revistas, histórias em quadrinhos são alguns dos recursos midiáticos que podem ser adotados elos professores a depender do seu planejamento em conformidade com os objetivos delineados,pois conforme argumenta Fischer (2007, p. 296) estudar as imagens, os processos de produção de materiais audiovisuais, as diferentes formas de recepção e uso das informações, narrativas e interpelações de programas de televisão, filmes, vídeos, jogos eletrônicos, corresponderia, ao meu ver, a práticas eminentemente pedagógicas e indispensáveis ao professor que atua nestes tempos. E o grande problema é que a escola tem desconsiderado essa realidade, pois “há um descompasso entre a educação formal e a vida dos jovens fora do âmbito escolar que é gritante, e diz respeito tanto às questões éticas (conteúdos, mensagens) quanto aos aspectos 13 estéticos (imagens, linguagens, modos de percepção, pensamento e expressão)” (BELLONI, 2001, p. 18). Reside nesse espaço social de diversidade comunicativa contemporânea, o papel da escola rumo a uma educação linguística adequada a alunos que “podem interagir com tudo e com todos: com pessoas, com textos, com sites, com home-pages, com a mídia, etc., em qualquer parte do mundo” (COSTA, 2006, p. 23, destaque do autor). A diversidade de gêneros no ambiente escolar traz, portanto, condições essenciais para a processabilidade cognitiva e discursiva do texto, visto que este é a unidade máxima de funcionamento da língua (MARCUSCHI, 2008). 4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES [...] queremos trazer elementos que nos ajudem a compreender como o ensino de línguas – línguas que marcam a identidade cultural de um povo – pode favorecer a formação do sujeito para a cidadania. (Irandé Antunes) A língua oficial do Brasil é a língua portuguesa e por que não é a língua brasileira? A história da colonização explica a nomenclatura, mas não a justifica. O processo de inserção da língua de Portugal em nosso país se deu pela colonização e sua manutenção por interesses políticos e por equívocos de valor, a julgar que, ao optarmos pelo português como língua, teríamos a garantia de não sermos mais um povo primitivo, pois a Língua Portuguesa era “a história de nossa origem e a base fundamental de nossa formação de povo civilizado” (SILVEIRA, 1960, p. 293, apud GUIMARÃES, 2005, p. 16). Seria por esses e outros lapsos em nosso processo histórico de constituição de uma língua oficial que o ensino de língua nas escolas sempre primou pelo caráter normativo em detrimento do reflexivo? Por que um ensino baseado em regras gramaticais e engessamento da língua que exclui linguisticamente seus próprios falantes? Qual é a dificuldade da escola em trabalhar a cultura e a diversidade linguística da sala de aula a favor e não contra a língua? No passado, houve a anulação da língua que utilizávamos em nosso país na tentativa utópica de se ter duas línguas iguais em países tão distintos geográfica, política, cultural e linguisticamente. A língua é movimento, é interação, é cultura; e um país que foi colonizado e depois ocupado por tantos outros povos com línguas e culturas diferentes, jamais conseguiria engessar a língua e reduzi-la a um único padrão. Assim entendido, ser-nos-á claro qual deve 14 ser o objetivo do ensino da língua portuguesa na escola; o porquê da existência da gramática normativa que nada mais é do que um conjunto de regras necessárias à escrita e sua consequente compreensão em todo território nacional, mas não determinante nos eventos de oralidade. Portanto, a normatização desejada por muitos só é possível em instrumentos linguísticos como gramáticas, dicionários, enciclopédias e descrições, mas não em processos linguísticos, em domínios sociais. Por conta da tentativa de padronização da língua portuguesa no Brasil com a de Portugal, nossa língua perde identidade, perde a mobilidade que é inerente às línguas e faz com que o ensino nas escolas esteja cada vez mais distante do que é a língua que acontece lá fora. Isso gera o desinteresse pelo aprendizado, tornando frustrante um estudo de língua que parece limitar-se somente a exercícios de classe gramatical e deveres de casa, que pouco ou nada tem de discursivos, de textuais ou interativos. A partir das exposições e reflexões discorridas neste trabalho, esperamos iniciar discussões que inibam o reducionismo da língua à gramática ou a textos que não estimulem os alunos e nem façam parte de sua realidade. Este é o desafio, visto que, na sala de aula, tanto quanto em outro domínio social, a interação sociocomunicativa se dá, especialmente, pela língua à qual devemos dar a devida importância; sobretudo para reconhecer, valorizar e utilizar a diversidade linguística e a cultura do Brasil a favor da língua e não como geradora de preconceitos e marginalizações. 5. BIBLIOGRAFIA ABBGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999. ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009. 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