Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Inovação Social para Aperfeiçoamento de PolíƟ cas Públicas Inovação Social, PolíƟ cas Públicas e Sustentabilidade1 M ód ul o 2Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 2222EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Enap, 2019 Enap Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Educação ConƟnuada SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Presidente Diogo Godinho Ramos Costa Diretor de Educação ConƟnuada Paulo Marques Coordenadora-Geral de Educação a Distância Natália Teles da Mota Teixeira Conteudista/s (nome/s) Adriane Vieira Ferrarini; Monika Weronika Dowbor da Silva; Wanda Engel Aduan; e Júlia MoreƩo Amâncio. Curso produzido em Brasília 2019. 3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 333EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Sumário 1. Por que a ino vação social é necessária? ....................................... 5 2. Riquezas do Brasil ......................................................................... 5 2.1. Cultura .................................................................................................................................. 6 2.2. Economia .............................................................................................................................. 8 2.3. Energia de fontes renováveis ................................................................................................ 8 2.4. Meio Ambiente ..................................................................................................................... 9 3. Desafi os ...................................................................................... 11 3.1. Desigualdades .................................................................................................................... 11 3.2. Pobreza ............................................................................................................................... 13 3.3. Outros Desafi os .................................................................................................................. 14 4. O que é inovação social? ............................................................. 17 5. Como a inovação social surgiu? ................................................... 19 6. Inovação tecnológica X inovação social ....................................... 21 7. Onde e por quem a inovação social é produzida? ........................ 25 7.1. Inovação social na sociedade ............................................................................................. 26 7.2. Inovação social nas políƟ cas públicas ................................................................................. 27 7.3. Inovação social nas empresas ............................................................................................ 28 7.4. Exemplos de práƟ cas de inovação social ............................................................................ 28 Agora que aprendemos diferentes defi nições de inovação social e inovação social em políƟ cas públicas, vamos conhecer algumas iniciaƟ vas que uƟ lizaram mecanismos de inovação social em diferentes setores ou como resultado de cooperação entre setores. UƟ lizaremos quatro exemplos, conforme o quadro abaixo: ...................................................................................... 28 8. Inovação social como processo e como produto ......................... 29 8.1. Aprofundando a inovação social como processo ............................................................... 32 8.2. Aprofundando a inovação social como produto................................................................. 34 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 444EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca 5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 555EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca M ód ul o Inovação Social, PolíƟ cas Públicas e Sustentabilidade1 1. Por que a inovação social é necessária? Destaque h, h, h, h, Neste módulo, vamos falar de grandes desafi os que o Brasil enfrenta e mostrar porque é preciso inovar e trazer novas formas de romper com barreiras que difi cultam o desenvolvimento e a melhoria do bem-estar dos cidadãos. Mas antes, vamos analisar as riquezas e o grande potencial que o Brasil tem para ser melhor e mais justo. 2. Riquezas do Brasil Temos um país de dimensões conƟ nentais, com uma população de mais de 208 milhões de pessoas (em 2018) e com grande diversidade racial, cultural e religiosa espalhadas pelas cinco regiões listadas abaixo. Tabela 1: População do Brasil por grandes regiões, 2018 Região População (2018) % Brazil 208.494.900 100 Região Norte 18.182.253 8,7 Região Nordeste 56.760.780 27,2 Região Sudeste 87.711.946 42,1 Região Sul 29.754.036 14,3 Região Centro-Oeste 16.085.885 7,7 Fonte: IBGE. Diretoria de Pesquisas - DPE - Coordenação de População e Indicadores Sociais - COPIS. 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 6666EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Diversidade • 52% da população se declara parda, 7,8% preta e 39,4% branca (IBGE - PNAD 2015) • Mais de 300 etnias indígenas com cerca de 270 línguas indígenas (IBGE Censo 2010) • Mais de 40 grupos religiosos registrados no Brasil com liberdade de culto garanƟ da pela ConsƟ tuição Federal1. 2.1. Cultura Cultura Por todo o Brasil, a cultura e o folclore fazem parte da manifestação popular. A diversidade cultural pode ter um papel fundamental na redução de desigualdades sociais, considerando que aƟ vidades como o artesanato tradicional, pequenas manufaturas, moda e design podem ter um grande impacto nas condições de vida das populações mais pobres, contribuindo para a redução da pobreza2. Além disso, a manifestação da cultura popular ajuda a fortalecer a idenƟ dade de grupos e aumenta o senso de pertencimento à comunidade, contribuindo para maior qualidade de vida. FesƟ val Folclórico de ParinƟ ns 1_ IBGE. Censo Demográfi co 2000 – CaracterísƟ cas Gerais da População. Resultados da Amostra. IBGE, 2003. Disponível em hƩ ps://www.ibge.gov.br/estaƟ sƟ cas/sociais/educacao/9663-censo-demografi co-2000.html?edicao=9771&t=sobre Público acesso em 2018 2_ hƩ p://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-offi ce/single-view/news/unesco_message_for_the_world_day_for_ cultural_diversity_for-3/ 7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 777EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Dança Folclórica Cururu em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul Dança do Maracatu em Recife, Pernambuco Oktoberfest em Blumenau, Santa Catarina Festa do Divino em Paraty, Rio de Janeiro 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 8888EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca 2.2. Economia O Brasil é uma potência econômica. O país é o terceiro maior produtor agrícola do mundo3, o maior exportador de carne bovina do mundo (em toneladas de carne)4, o quarto maior produtor de vestuário5 e um dos maiores produtores de ferro, cobre e bauxita do mundo. O Brasil tem um setor agrícola desenvolvido e um setor industrial moderno, contando com a terceira maior empresa de aviões do planeta. Esses são exemplos que fazemdo Brasil a nona maior economia do mundo (medido pelo Produto Interno Bruto - PIB). 2.3. Energia de fontes renováveis Em relação ao conjunto de fontes de energia, o Brasil tem a matriz energéƟ ca mais renovável do mundo industrializado, com cerca de 44% da produção proveniente de fontes renováveis, conforme fi gura abaixo. Figura 1: Matriz energéƟ ca do Brasil, 2017 Fonte: MME 2017 hƩ p://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/ publicacao-46/topico-81/S%C3%ADntese%20do%20Relat%C3%B3rio%20Final_2017_Web.pdf No Brasil, em julho de 2018, as fontes renováveis representaram cerca de 82% da matriz de produção de energia elétrica (hidráulica, biomassa, eólica e solar). As usinas hidrelétricas geram cerca de 62% da eletricidade. Já as fontes eólicas estão crescendo e já representam cerca de 10% da produção de energia elétrica. 3_ FAO.2018. The State of Agricultural Commodity Markets 2018. Agricultural trade, climate change and food security. Rome. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO hƩ p://www.fao.org/3/I9542EN/i9542en.pdf 4_ United States Department of Agriculture Foreign Agricultural Service October 11, 2018 Livestock and Poultry: World Markets and Trade. Acesso em: hƩ ps://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/livestock_poultry.pdf 5_ ABIT, Associação Brasileira da Indústria TêxƟ l e de Confecção. Pesquisa de usos, hábitos e costumes do consumidor de vestuário. Edição 2017. Acesso em: hƩ p://www.abit.org.br/habitosdeconsumos/Banco_Dadosrpt.asp 9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 999EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Gráfi co 1: Matriz de Produção de Energia Elétrica do Brasil, julho/2018 Fonte:MME2018 hƩ p://www.mme.gov.br/documents/1138781/1435504/BoleƟ m+de+Monitorament o+do+Sistema+El%C3%A9trico+-+Agosto+-+2018.pdf/52bd520e-11ĩ -4b92-a3d8-621f3e27ed78 O Brasil tem um grande potencial para uƟ lizar fontes renováveis como a solar e a eólica, principalmente na região Nordeste, o que tornará sua matriz energéƟ ca ainda mais limpa. Saiba mais Se Ɵ ver interesse em conhecer mais sobre as vantagens e difi culdades no uso de energia solar e eólica, acesse estes conteúdos: hƩ p://www.cresesb.cepel.br/index.php? h t t p : / / w w w. m m e . g o v. b r / d o c u m e n t s / 1 0 5 8 4 / 3 5 8 0 4 9 8 / 1 5 + - +Energia+E%C3%B3lica+-+Brasil+e+Mundo+- +ano+ref.+2016+%28PDF%29+- +NOVO/f63a15ea-9d2c-4d27-9400-5d7c3fd97b22?version=1.4 hƩ ps://www.bnb.gov.br/documents/80223/3365127/solar_31-2018-FINAL. pdf/2c59b789-02ee-9a5a-3d8c-e5b95a0e3cb7 2.4. Meio Ambiente O Brasil é detentor de imensas riquezas e belezas naturais. O país contém cerca de 12% de toda a água doce do planeta e é formado por seis biomas disƟ ntos, conforme fi gura abaixo: 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1110000EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Diversos ecossistemas com grande diversidade de animais, vegetais, clima e relevo. Acompanhe algumas informações dos biomas brasileiros de acordo com o Ministério do Meio Ambiente6. Floresta Amazônica – abriga mais de 2.500 espécies de árvores e 30 mil plantas CaaƟ nga – abriga 1.487 espécies de fauna em dez estados Cerrado - detém 5% da biodiversidade do planeta, 11.627 espécies de plantas catalogadas Mata AtlânƟ ca – abriga cerca de 20 mil espécies vegetais 6_ hƩ p://www.mma.gov.br/biomas.html 11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111111EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Pantanal – Uma das maiores planícies inundáveis do planeta Pampa – Com fauna e fl ora próprias, esƟ ma-se que detém em torno de 3.000 espécies de plantas O meio ambiente é um fator de orgulho para quem tem consciência do papel das áreas protegidas, da fauna e da fl ora para o bem-estar da população7. No entanto, o desmatamento, a degradação e a deserƟ fi cação já são grandes problemas em diversas localidades do país8. Esses são alguns exemplos das riquezas e potencialidades do Brasil. Cada ecossistema representa uma grande potencialidade em termos de biodiversidade e recursos naturais que precisam ser bem aproveitados e preservados para as gerações futuras. Contudo, é um país também de grandes desafi os que serão mostrados a seguir. 3. Desafi os 3.1. Desigualdades Grandes Desafi os O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Um estudo do InsƟ tuto Econômico de Pesquisa Aplicada (IPEA) baseado em dados tributários de 2006 a 2014 mostra que: 7_https://www.wwf.org.br/?42323/Meio-ambiente-e-riquezas-naturais-disputam-com-esporte-e-cultura-o-orgulho-do- brasileiro 8_ Ver, por exemplo, CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS – CGEE. DeserƟ fi cação, degradação da terra e secas no Brasil. Brasília, DF: 2016. 252p hƩ ps://www.cgee.org.br/documents/10195/734063/DeserƟ fi cacaoWeb.pdf 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1112222EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca • O 1% mais rico do país concentra cerca de 22% do total da renda do país. • Os 10% mais ricos são detentores de quase 50% da renda. Gráfi co 2: Concentração de renda no Brasil, 2006-2014 Fonte: Souza e Medeiros (2017). hƩ p://www.ipcig.org/pub/port OP370PT_A_ concentracao_de_renda_no_topo_no_Brasil.pdf De acordo com o Coefi ciente de Gini de 2010-2015, o Brasil, com 0,515, é o quarto mais desigual da América LaƟ na e Caribe, atrás somente do HaiƟ , Colômbia e Paraguai e o décimo mais desigual no mundo. Essa desigualdade tende a ser ainda maior no meio rural9. Gráfi co 3: Coefi ciente de Gini de países da América LaƟ na selecionados, 2010-2015 9_ IPEA, Comunicado do Ipea Nº 42: PNAD 2008: Primeiras análises – O setor rural (2010). 13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111333EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Fonte: UNDP 2017. hƩ p://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/ RelatoriosDesenvolvimento/undp-br-2016-human-development-report-2017.pdf 3.2. Pobreza Além das grandes desigualdades, há muitos desafi os relacionados à pobreza e à miséria. Com dados de 2016, o InsƟ tuto Brasileiro de Geografi a e Estaơ sƟ ca (IBGE) mostra que quase 18% da população vive com até meio salário mínimo. A pobreza é maior no Norte e Nordeste, com cerca de 26% da população vivendo com até meio salário mínimo. Analise a tabela abaixo, comparando os diferentes graus de pobreza nas regiões. Tabela 2: Distribuição (%) das pessoas residentes em domicílios parƟ culares por classes de rendimento, 2016 Grandes Regiões Pessoas residentes em domicílios parƟ culares - % 2016 Até 1/4 de salário mínimo (R$ 220) Mais de 1/4 de salário mínimo a 1/2 de salário mínimo (R$ 440) Brasil 12,1 17,8 Norte 22,7 26 Nordeste 23,1 25,9 Sudeste 6,3 13,5 Sul 4,7 10,9 Centro-Oeste 6 15,2 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Conơ nua 2016 - hƩ ps://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101459.pdf Com base na linha de pobreza per capita de 5,5 dólares por dia (2011), o IBGE mostra também que: A pobreza em todos os estados tem maior incidência no interior do que nas capitais. Pessoas em situação de maior vulnerabilidade apresentam os maiores índices de pobreza, por exemplo: • 42,4% das crianças até 14 anos de idade, • 33,3% de homens pretos ou pardos e 34,3% de mulheres pretas ou pardas • 55,6% das mulheres sem cônjuge com fi lho(s) até 14 anos • 64% de mulheres pretas e pardas sem cônjuge e com fi lho(s) Fonte:IBGE, Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2017 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2017. Disponível em: hƩ ps://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101459.pdf 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111444EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca 3.3. Outros Desafi os Atualmente, além das desigualdades e da pobreza, o Brasil enfrenta outros desafi os relacionados às mais diversas áreas (saúde, educação, segurança, entre outras), exemplifi cados na fi gura abaixo: Estes problemas são bastante complexos e, geralmente, estão interligados. Isso quer dizer que um problema pode ter diversas causas que nem sempre são evidentes. Pode ser também que uma causa gere diversos problemas em vários setores, ou mesmo que uma combinação de causas crie problemas diversos. Como exemplo, vamos examinar que o problema de crianças fora da escola pode estar ligado a vários outros problemas e causas. 15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111555EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Pergunta Questão refl exiva 1: Você consegue pensar em outros fatores que fazem com que crianças não consigam ir à escola? Resposta Para resolver um problema na educação, é preciso olhar para todos os setores e pensar em uma solução em conjunto, não é verdade? Infelizmente, o modelo atual de desenvolvimento não está conseguindo vencer esses problemas complexos! As políƟ cas públicas, ou seja, o conjunto das diretrizes, programas e ações desenvolvidos pelo Estado que visam assegurar os direitos de cidadania e bem-estar da população, têm um papel central na resolução dos problemas da sociedade. O Estado desenvolve políƟ cas em todos os setores, inclusive nos setores sociais que incluem educação, saúde e proteção social, sendo de interesse direto da população. Essas políƟ cas nem sempre têm priorizado a inovação social e a parƟ cipação, essenciais para sua viabilidade e legiƟ midade. Dessa forma, tornar as políƟ cas públicas melhores para que de fato atendam às necessidades e demandas da população é ponto fundamental na promoção do desenvolvimento social e econômico do país. 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1116666EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Neste curso, você vai aprender como mecanismos de inovação social trazem uma nova perspecƟ va para lidar com problemas complexos. Mas antes, vamos saber o que dizem os gestores e usuários sobre a realidade e difi culdades encontradas na implementação de políƟ cas do governo. Texto para refl exão: Agora que vimos as principais potencialidades do Brasil, e também alguns dos seus problemas, vamos ler este texto que trata da importância da inovação social. Por que precisamos de inovação social? PolíƟ cas inovadoras são aquelas que, entre outros fatores, privilegiam a parƟ cipação. Ninguém Ɵ ra o saber que uma comunidade constrói sobre si mesma, quando as pessoas atuam desde a defi nição dos seus problemas e do conhecimento do seu território. Enquanto a comunidade está idenƟ fi cando os problemas, ela também está entendendo as soluções porque este processo de autoconhecimento é também um processo de auto-organização e de autogestão. E ainda que a inovação social não deva servir para a redução de custos de uma forma meramente instrumental - ou não estaremos colocando a primazia do social necessária à inovação social - a médio e longo prazo ela vai gerar redução de custo, porque o país passa a ter políƟ cas mais efeƟ vas e cidadãs. Quanto aos desafi os, o governo é fundamental. Não há como pensar em escala sem a presença aƟ va do governo. Porém, o governo precisa olhar para fora de si mesmo, ver toda esta inovação social que está acontecendo e aprender com ela. O governo também precisa inovar a si mesmo dentro das suas estruturas ainda muito fragmentadas. Inovar não é sinônimo de mera modernização, mas é pensar o econômico em conjunto com o social, especialmente no Estado em que não é o princípio mercanƟ l que rege, mas o princípio de redistribuição. Aqui, a lógica do lucro não pode ser imperaƟ va. O que se tem feito não é sufi ciente. Sabemos o quanto ainda persistem políƟ cas fragmentadas, paralelismos entre ações e desconƟ nuidades profundas. Isso é uma questão relevante quando pensamos a realidade coƟ diana do povo brasileiro. São fi las de espera, insufi ciências e contradições entre os serviços que acabam por gerar baixa efeƟ vidade, privações e sofrimentos. É uma preocupação porque temos tantos programas bons, temos políƟ cas emblemáƟ cas no mundo (como o sistema universal de saúde e de assistência social), mas quando olhamos os efeitos, idenƟ fi camos que, quando acaba determinado programa, não fi ca nada para a população. Aquela família retorna para a situação anterior. Daí porque a inovação social é tão importante. Ela indica caminhos para que as pessoas parƟ cipem mais aƟ vamente e para que os problemas possam ser pensados a parƟ r do local e do sofrimento concreto que a fragmentação gera na vida das famílias. Em termos de aperfeiçoamento das políƟ cas, temos o desafi o de desenvolver uma visão sistêmica, que precisa começar desde cima - dos ministérios - até a ponta, porque também o gestor público local não tem a mudança de paradigma necessária. Já vi 17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111777EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca situações em que havia condições para um trabalho conjunto e arƟ culado, como a inovação social requer, mas o paradigma compeƟ Ɵ vo, hierarquizado e setorializado prevaleceu. Ainda estamos dentro das nossas caixinhas e o governo vai precisar providenciar formas de mudança de cultura e de paradigma em prol de formas mais integradas de compreender e de intervir sobre os problemas. (Adriane Vieira Ferrarini - trecho do arƟ go do Seminário Internacional de Inovação Social - Brasília, 2018) 4. O que é inovação social? Mas, afi nal, o que é inovação social? Acompanhe as defi nições dadas por alguns estudiosos do tema: • “Novas combinações e/ou confi gurações de práƟ cas sociais em certas áreas de ação ou contextos sociais propiciadas por certos atores ou conjunto de atores de maneira intencional com o objeƟ vo de saƟ sfazer ou atender melhor necessidades e problemas do que com práƟ cas já estabelecidas” (HOWALDT & SCHWARZ, 2010, p.16). • “Desenvolvimento e implementação de novas ideias – de produtos, serviços ou modelos - que atendem necessidades de cunho social previamente não atendidas” (MULGAN ET AL., 2007). • “Resultado do conhecimento aplicado a necessidades sociais através da parƟ cipação e da cooperação de todos os atores envolvidos, gerando soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou para a sociedade em geral” (BIGNETTI, 2011). A ilustração a seguir mostra alguns pontos da inovação social apresentados por diversos autores: 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 1118888EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Apesar das diferentes abordagens, pode-se perceber que há alguns elementos comuns à maioria das defi nições de inovação social, resumidos na seguinte fi gura: Os estudos sobre inovação social têm se disseminado na Europa e nos Estados Unidos, especialmente a parƟ r da década de 1990, e se intensifi caram nos anos 2000, com contribuições relacionadas ao desenvolvimentoterritorial, mudança insƟ tucional e potencial para mudanças na sociedade (MOULAERT ET AL., 2017). No Brasil, sua expansão é mais recente, predominando estudos na forma de cases ou casos de sucesso10. Contudo, a inovação social é um campo de estudo muito amplo e ainda em construção pela interface entre diferentes disciplinas cienơ fi cas, como, por exemplo, administração, design, ciências sociais, engenharia, entre outras, portanto, é um campo interdisciplinar. Por fi m, a inovação social tem buscado facilitar o engajamento de indivíduos, grupos e comunidades em processos de melhoria das condições sociais e da qualidade de vida, o que pode explicar o crescente interesse do campo acadêmico e práƟ co em torno desse tema. Questão refl exiva 2: A parƟ r das defi nições de inovação social, idenƟ fi que e descreva uma inovação social na sua comunidade ou cidade. Com esses elementos em mente, vamos aprofundar nossa discussão sobre inovação social e inovação social em políƟ cas públicas. Primeiramente, vamos compreender o surgimento da inovação social e sua evolução ao longo do tempo. 10_ (MOULAERT ET AL., 2017) 19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111999EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca 5. Como a inovação social surgiu? Começando por entender a inovação Inovação deriva do laƟ m innovaƟ o, palavra, em geral, relacionada a novos produtos, métodos, ideias e conceitos criados e pouco se parecem com padrões anteriores. Inovação "é o ato ou efeito de inovar, ou seja, de introduzir uma novidade" (Dicionário Aurélio), criar algo novo, renovar ou inventar, modifi cando anƟ gos costumes, legislações, processos e conceitos. A ideia de inovação passou a ser conhecida pela sua vinculação com a área tecnológica. A inovação tecnológica envolve novos produtos ou processos tecnologicamente novos ou aprimorados. Com o avanço da economia globalizada, a inovação logo se expandiu para a área econômica, abrangendo, por exemplo, inovações organizacionais e de mercado voltadas a aumentar o diferencial compeƟ Ɵ vo das empresas. O início sistemáƟ co da pesquisa em inovação como disciplina se deu com Joseph A. Schumpeter, em sua obra Teoria do Desenvolvimento Econômico publicada pela primeira vez em 1911, em alemão, e em 1934, em inglês11. Schumpeter foi um dos mais importantes economistas da época e um dos primeiros a considerar as inovações tecnológicas como motor do desenvolvimento capitalista. Ele fez a disƟ nção entre inovações de produtos, processos e organizações e esƟ pulou que o desenvolvimento é defi nido por essas novas combinações, englobando cinco situações: • Introdução de um novo bem ou de uma nova qualidade de um bem. • Introdução de um novo método de produção no ramo específi co da indústria de transformação. • Abertura de um novo mercado em que a empresa ainda não tenha entrado. • Conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou de um bem semimanufaturado. • Estabelecimento de uma nova organização de qualquer setor industrial, como a criação de um monopólio12. Schumpeter também reconheceu o papel da inovação social para garanƟ r efeƟ vidade econômica em outras esferas da sociedade, como a cultural, a social e a políƟ ca13, algo que passou a ser mais desenvolvido na atualidade, conforme será apresentado na sequência deste bloco. Na década de 1980, a inovação passou a se relacionar com um processo linear defi nido, começando com ciência e pesquisa e terminando com produtos e serviços de mercado, enquanto que, na década de 1990, as pesquisas mostraram que inovações envolvem um processo social complexo14. No entanto, a inovação social conƟ nuou sendo associada a uma estratégia de 11_ (HOWALDT & SCHWARZ, 2010) 12_ (BIGNETTI, 2011) 13_ (MOULAERT ET AL. 2005, HOWALDT & SCHWARZ, 2010) 14_ (HOWALDT & SCHWARZ, 2010) 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 22220000EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca administração de negócios/ciência da gestão para melhorar a compeƟ Ɵ vidade15. Houve, dessa forma, uma ampliação do conceito de inovação, saindo da inovação tecnológica de processos e produtos para a inovação organizacional e administraƟ va, além de inovação de mercado e markeƟ ng, mas fortemente vinculada ao desenvolvimento econômico e à geração do lucro16. Mais recentemente, o tema da inovação social ganhou força devido a três razões fundamentais: 1) O agravamento dos problemas sociais e ambientais nas úlƟ mas décadas. Se, por um lado, o avanço tecnológico promoveu um crescimento da produção e da riqueza, por outro lado, nunca se teve tamanho aumento da desigualdade e da pobreza em escala global. O uso da inovação tecnológica voltou-se prioritariamente para a criação de valor econômico e contribuiu para a globalização de um modelo de desenvolvimento baseado no aumento dos lucros, e não na saƟ sfação das necessidades humanas e do bem-estar. Este é o grande paradoxo da nossa sociedade moderna: criamos os meios técnicos para resolver os problemas de fome e epidemias que assolavam a humanidade na Idade Média, mas não fomos capazes de desenvolver as condições éƟ cas e morais para distribuir a riqueza produzida e resolver os problemas sociais. Ao contrário, recriamos novas barbáries na Modernidade, como a fome crônica que condena quase um quinto da população mundial à morte, desastres ambientais, mortes por doenças evitáveis, guerras, violência urbana, entre várias outras. 2) Os problemas sociais e ambientais já expostos têm demandado intervenções por parte dos governos, organismos internacionais, empresas e sociedade civil, "uma vez que as estruturas existentes e as políƟ cas estabelecidas se mostram insaƟ sfatórias na eliminação dos mais prementes problemas dos tempos atuais e necessidades que não são atendidas nem pelo mercado nem pelo Estado" (MURRAY ET AL., 2010). A sociedade procura preencher suas necessidades por meio de ações voluntárias, grupos de ação social, iniciaƟ vas na economia solidária, organização da sociedade civil, movimentos sociais. Entretanto, face à escassez de recursos, pequena escala de atuação e grandeza do problema, os resultados ainda são modestos17. 3) Incorporação do modo de pensar e de agir do campo tecnológico e econômico pelo campo social. Historicamente, não havia uma preocupação tão grande com o impacto das ações sociais e de sua relação com os recursos invesƟ dos, era uma lógica restrita a empresas. Porém, também o social passou a operar sob esses princípios, a parƟ r de uma compreensão de que os recursos são escassos e os problemas sociais são inúmeros e complexos. A inovação social oferece um aporte para potencializar as ações sociais e seus resultados, argumento que fi cará mais claro adiante, no item "inovação social como processo e produto". 15_ (MOULAERT ET AL., 2005) 16_ (BIGNETTI, 2011) 17_ (BIGNETTI, 2011) 21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 222111EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca A seguir, iremos compreender as diferenças e dúvidas comuns quanto à vinculação da inovação social com a inovação tecnológica e as várias combinações teóricas e práƟ cas que surgiram ao longo desta trajetória. 6. Inovação tecnológica X inovação social Considerando a origem do conceito de inovação, o primeiro aspecto que precisamos entender é que a inovação social se diferencia da inovação tecnológica, conforme demonstrado no quadro: Quadro 1: CaracterísƟ cas da inovação tecnológica e da inovação social Esse quadro sistemaƟ za as refl exões feitas anteriormente, sendo importante acrescentar um elemento. Dependendo da perspecƟ va adotada, se é tecnológicaou se considera a inovação como uma construção social, pode haver uma diferença importante. O viés tecnológico classifi ca a inovação como um processo linear, ou seja, para algo ser inovador, precisa possuir uma novidade totalmente inédita e que seja produzida passo a passo18. Já o viés da construção social defende que, para algo ser inovador, deve-se levar em consideração o signifi cado de novidade num 18_ (DAGNINO, 2008) 22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 22222222EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca determinado contexto ou comunidade19. Pode não ser inteiramente nova, mas é considerada uma inovação social para aquelas pessoas que estão produzindo, pois ainda não havia sido criado naquele contexto. • O viés da construção social é o que normalmente orienta os estudos de inovação social, porque cada experiência é recriada na práƟ ca de cada grupo de pessoas que se reúne para melhorar a sua comunidade, a parƟ r dos seus olhares, saberes, relações, sonhos e afetos. Inovação social + inovação tecnológica Diferentemente do que poderíamos pensar num primeiro momento, as diferenças entre inovação social e inovação tecnológica não criaram muros intransponíveis. Elas não representam dois conjuntos mutuamente excludentes, ao contrário, é indiscuơ vel que muitas inovações tecnológicas possuem caráter social e que inovações sociais podem lançar mão da tecnologia, parƟ cularmente no emprego das chamadas tecnologias apropriadas ou, mais amplamente, das tecnologias sociais20. Na atualidade, inovação tecnológica e inovação social são muito mais complementares do que concorrentes. A seguir, vamos compreender as várias possibilidades de integração entre elas. 1) Tecnologia a serviço da inovação social É cada vez mais comum a uƟ lização de inovações tecnológicas na inovação social. O importante é que a inovação tecnológica esteja a serviço da inovação social. Em outras palavras, a tecnologia deve ser um meio ou ferramenta que oportuniza ou oƟ miza a fi nalidade de gerar bem-estar ou soluções para problemas sociais. 2) Tecnologia social Atualmente, a defi nição mais difundida caracteriza tecnologia social como produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas em interação com a comunidade, que sejam apropriadas por ela e representem efeƟ vas soluções de transformação social. Elas surgem a parƟ r da união de esforços entre diferentes atores como organizações da sociedade civil, iniciaƟ va privada, insƟ tuições de ensino e pesquisa e o próprio governo. Seu objeƟ vo é contribuir para a 19_ (MOREIRA e QUEIRO, 2007) 20_ (POL E VILLE, 2009; DAGNINO ET AL., 2004 APUD BIGNETTI, 2010) 23Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 222333EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca inclusão social, geração de trabalho e renda, promoção do desenvolvimento local sustentável, entre outros desafi os. A tecnologia social, no que concerne à gestão social, incorpora a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico às novas metodologias e sistemaƟ zações de gestão e de processos caracterizados por novas habilidades, aspectos intangíveis ou mensuráveis do conhecimento, internalizados por pessoas, comunidades, culturas ou organizações. O número de iniciaƟ vas desse Ɵ po tem crescido no Brasil, chamando a atenção de pesquisadores e empresários. Uma das consequências desse aumento foi a criação da Rede de Tecnologia Social (RTS), organização que tem por objeƟ vo contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável por meio da difusão e reaplicação, em escala, de tecnologias sociais. Com relação às tecnologias sociais, a Rede procura esƟ mular a sua adoção como políƟ cas públicas, a sua apropriação por parte das comunidades e o seu desenvolvimento. Os princípios ressaltam a importância da aprendizagem e da parƟ cipação como processos que caminham juntos e que a transformação social requer a compreensão da realidade de maneira sistêmica e o respeito às idenƟ dades locais. Os parâmetros de tecnologia social fornecem os critérios para a análise das ações sociais decorrentes ou propostas, tais como: • razão de ser da tecnologia social: atender demandas sociais concretas vividas e idenƟ fi cadas pela população; • tomada de decisão: processo democráƟ co e desenvolvido a parƟ r de estratégias especialmente dirigidas à mobilização e à parƟ cipação da população; • papel da população: há parƟ cipação, apropriação e aprendizado por parte da população e de outros atores envolvidos; • sistemáƟ ca: há planejamento, aplicação ou sistemaƟ zação de conhecimento de forma organizada; • construção do conhecimento: há produção de novos conhecimentos a parƟ r da práƟ ca; • sustentabilidade: a tecnologia social visa a sustentabilidade econômica, social e ambiental; • ampliação de escala: gera aprendizagem que serve de referência para novas experiências. 24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 2222444EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca São muitos os exemplos de tecnologia social, conforme podemos perceber neste trecho: “Existem tecnologias sociais voltadas à solução de problemas de várias ordens: saúde, educação, saneamento, habitação, geração de trabalho e renda. Podemos citar alguns exemplos clássicos, que hoje já se tornaram políƟ cas públicas, como o soro caseiro, a mulƟ mistura, a cisterna de placa (sistema de captação de água de chuva para o consumo humano) ou metodologias de alfabeƟ zação. No âmbito da Rede de Tecnologias Sociais, têm sido construídas alianças e parcerias com o propósito de mulƟ plicar experiências de tecnologias sociais voltadas à geração de trabalho e renda. Os territórios onde a atuação tem sido mais expressiva são o Semiárido, a Amazônia Legal e periferias de grandes centros urbanos. No caso do Semiárido, existe o Sistema Pais (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável). Trata-se de um sistema de produção de hortaliças e pequenos animais, que uƟ liza irrigação por gotejamento, trabalhando com a fi losofi a da permacultura, conceito criado nos anos 1970 que signifi ca a reunião dos conhecimentos de sociedades tradicionais com técnicas inovadoras, com o objeƟ vo de criar uma cultura permanente, sustentável, baseada na cooperação entre os homens e a natureza. Existe, ainda, o Programa P1 + 2 – Uma terra e duas águas, associação de várias tecnologias de captação e manejo sustentável de água da chuva para produção de alimentos e pequenos animais. Na Amazônia Legal, podemos citar a cerƟ fi cação socioparƟ cipaƟ va de produtos agroextraƟ vistas. Essa foi uma forma encontrada para agregar valor à produção familiar na Amazônia e atestar que a mesma foi confeccionada sem o uso de insumos e produtos químicos. Os processos de obtenção das informações, verifi cação do cumprimento das normas e 25Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 222555EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca aperfeiçoamento dos sistemas produƟ vos são realizados com a inclusão do maior número de pessoas possível, reunindo grande número de pequenas áreas no mesmo grupo. Por fi m, na periferia de grandes centros urbanos, existem trabalhos como a incubação de empreendimentos solidários e o desenvolvimento de tecnologias de reciclagem de resíduos sólidos.” Entrevista com Larissa Barros da Rede de Tecnologia Social (RTS) Disponível em: hƩ p://www.mobilizadores.org.br/wp-content/ uploads/2014/05/entrevista-com-larissa-barros.pdf 7. Onde e por quem a inovação social é produzida?Agora que já compreendemos as origens da inovação social, sua conceituação básica e as diferenças e convergências entre ela e a inovação tecnológica, vamos conhecer seus campos de aplicação e os diversos setores e atores sociais que a produzem. A inovação social é produzida em todos os setores, conhecidos como: Estado (primeiro setor), mercado (segundo setor) e sociedade (terceiro setor). Ainda que essas divisões sejam necessárias, é importante compreender que não são estanques. Por exemplo, a sociedade está profundamente implicada na construção das políƟ cas públicas (como estudaremos no próximo eixo). Outro exemplo é o mercado, que, no caso da economia social e solidária, mistura-se com organizações de terceiro setor que também são produƟ vas, já que o conceito de economia é mais amplo (como abordado no item “Começando por entender a inovação"). Nesta aula apresentaremos refl exões e exemplos ơ picos de cada setor, reconhecendo que eles possuem especifi cidades e assimetrias, ou seja, possuem recursos disƟ ntos e isso pode signifi car que tenham mais poder em determinadas relações e contextos. Entretanto, apesar de haver diferenças entre os teóricos que analisam a perspecƟ va insƟ tucional da inovação social, eles comparƟ lham uma visão comum: não consideram o Estado e a sociedade como opostos. Skocpol (1996) aponta que as relações históricas entre organizações da sociedade civil e o setor público estatal são mais complementares do que opostas (HULGÅRD E FERRARINI, 2010, P. 259). É desejável que todos os setores interajam para que a inovação social seja mais efeƟ va e sustentável, formando um ecossistema, conforme será apresentado adiante. 26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 22226666EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca 7.1. Inovação social na sociedade A sociedade civil é chamada a parƟ cipar de forma mais aƟ va no enfrentamento das consequências socioambientais da globalização, sendo designada no seu uso corrente como quase equivalente à defi nição de terceiro setor: uma rede de organizações civis, resultante do esforço e vontade de associação voluntária dos cidadãos, disƟ ntas tanto das insƟ tuições coerciƟ vas do Estado (ou mesmo em oposição a ele), como das insƟ tuições lucraƟ vas do mercado, mobilizando os cidadãos para causas públicas e promovendo pela sua ação a estabilidade e efeƟ vidade das democracias (MONTEIRO, 2004). Os movimentos sociais e as organizações sociais são expressões de forças vivas da comunidade e de processos populares de mobilização. Eles agluƟ nam um capital social plasmado na luta contra processos de opressão, exploração e garanƟ a de direitos. A forma de ajuda que a sociedade promove é diferente daquela do Estado, pois se dá de forma concreta. No Brasil, a consƟ tuição da sociedade civil precisa ser compreendida em meio a uma trajetória marcada por processos de escravidão, colonialismo e longos períodos de ditadura. PráƟ cas e políƟ cas eram predominantemente assistencialistas e Ɵ nham o objeƟ vo de amenizar as expressões da questão social e manter a coesão social, nunca se aproximando das verdadeiras causas da pobreza. Isso acabou por promover a formação de idenƟ dades subalternizadas, na qual os sujeitos sentem-se responsáveis pela própria pobreza porque desconhecem sua história e seus direitos, além de perpetuar a dependência. A ConsƟ tuição Federal de 1988, a chamada ConsƟ tuição Cidadã, representou um marco histórico no início das reformas, no senƟ do de ampliação e democraƟ zação das políƟ cas sociais brasileiras. A ConsƟ tuição de 1988 contou com a parƟ cipação de amplos segmentos da sociedade brasileira e incorporou novos direitos, demonstrando a já referida indissociabilidade entre sociedade e Estado. No Brasil, observam-se ciclos em que os interesses e a parƟ cipação popular são mais ou menos incorporadores, de acordo com uma série de elementos econômicos, políƟ cos, culturais e sociais de cada época, num contexto cada vez mais globalizado, ou seja, cada vez também mais susceơ vel a infl uências do mundo todo. De qualquer forma, isso não reƟ ra a importância e a possibilidade da atuação a nível local, nas comunidades, que são a fonte mais forte e genuína de criação de inovações que, em algum momento, poderão ser ampliadas e insƟ tucionalizadas. Foi assim, com os movimentos e organizações sociais no Brasil, que engendraram políƟ cas públicas a segmentos que, durante décadas, haviam sido considerados "invisíveis", como índios, negros, mulheres, defi cientes. O vídeo a seguir traz dois exemplos de Inovações Sociais produzidas pela sociedade. A primeira delas é mundialmente famosa, o Grameen Bank da Índia, considerada um negócio social. A segunda experiência é brasileira, o Banco Palmas do Ceará, que surgiu inspirada nos princípios e práƟ cas da economia solidária. Inserido no Conjunto Palmeiras como um todo e com uma gestão comunitária, o Banco Palmas, ainda que bem retratado pelo seu idealizador, jamais exisƟ ria sem 27Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 222777EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca a força viva da comunidade, ou seja, sem um ambiente disposto à cultura da cooperação e do associaƟ vismo. São tantos os exemplos no Brasil que seria impossível apresentar uma lista. O próximo vídeo mostra um exemplo que se caracteriza por ser mais recente e ligado a pautas diversifi cadas, a Casa ColaboraƟ va Vila Flores, em Porto Alegre. 7.2. Inovação social nas políƟ cas públicas O Estado tem o papel de garanƟ r espaços democráƟ cos de formação, discussão e deliberação guiadas pelo princípio da jusƟ ça social. É importante o fortalecimento da sua função intermediadora, sem chamar a centralidade para si, mas se caracterizando como Estado- facilitador dos processos sociais. Se pensamos na inovação social em políƟ cas públicas, um conceito uƟ lizado é: “[...] desenvolver ideias, ações e conhecimentos novos ou aperfeiçoados, mais efeƟ vos, efi cientes, sustentáveis que os existentes, cuja fi nalidade seja superar as necessidades nas mais diversas áreas, por meio do empoderamento e parƟ cipação visando ao desenvolvimento sustentável” (VILLA ET AL., 2018). Importante Nessa defi nição, três vetores devem orientar o ciclo de inovação social em políƟ cas públicas: V1 – Desenvolver novos modelos ou aperfeiçoar a elaboração dos programas e processos de gestão. V2 – Ampliar a mobilização de atores, esƟ mulando a parƟ cipação e o controle social, com o desenvolvimento de estruturas dinâmicas de governança, colocando o cidadão como protagonista do processo. V3 – Construir programas considerando as especifi cidades do território, com resgate da políƟ ca regional, mas, principalmente, buscando integrar a operação desses programas nesses territórios para aumentar a efi cácia de seus resultados. Destaque h, h, h, h, O que queremos, então, com inovação social em políƟ cas públicas? - PolíƟ cas que funcionem efeƟ vamente. - PolíƟ cas que atendam as reais necessidades e demandas da população dos 28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 22228888EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca diferentes territórios. - Menos desperdício de recursos. - Maior integração entre setores para resolução de problemas complexos. - Uma agenda cooperaƟ va! - ConƟ nuidade de ações mesmo com mudanças políƟ cas. - Maior fi scalização de ações pelos cidadãos. - Maior diálogo entre governo e sociedade civil. - Capacitação dos atores envolvidos para que possam aumentar o engajamento cívico. - Processo dinâmico de aprendizagem onde aƟ vidades com sucesso possam serreplicadas. 7.3. Inovação social nas empresas Há o setor econômico capitalista, cuja fi nalidade é o lucro, que desenvolve ações socialmente inovadoras, as chamadas empresas B, unindo lucro e impacto social com uma cerƟ fi cação de modelo de negócio pautado no desenvolvimento social e ambiental. Há também um novo segmento produƟ vo, cuja fi nalidade é social, que tem crescido muito no Brasil, com diferentes nomes e práƟ cas. 7.4. Exemplos de práƟ cas de inovação social Agora que aprendemos diferentes defi nições de inovação social e inovação social em políƟ cas públicas, vamos conhecer algumas iniciaƟ vas que uƟ lizaram mecanismos de inovação social em diferentes setores ou como resultado de cooperação entre setores. UƟ lizaremos quatro exemplos, conforme o quadro abaixo: Quadro 2: Exemplos de práƟ cas de inovação social Nome Inovação Social Setor Localidade Grameen Bank Acesso a crédito por pessoas vulneráveis sem necessidade de garanƟ a Setor privado e sociedade civil Bangladesh Projeto Aridas A primeira experiência de planejamento de desenvolvimento sustentável no Brasil Governo e sociedade civil Região Nordeste, Brasil Orçamento ParƟ cipaƟ vo ParƟ cipação social na defi nição de prioridades para o orçamento municipal Governo e sociedade civil Porto Alegre, Brasil Programa um milhão de cisternas Gerenciamento sustentável na água Governo e sociedade Região Semiárida, Brasil 29Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 222999EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca Questão refl exiva 3: Escolha um problema de cunho social e pense por que diferentes setores precisariam se unir para resolvê-lo. 8. Inovação social como processo e como produto Destaque h, h, h, h, Quando pensamos em alguma experiência no campo social (podendo ou não ser inovação social), geralmente nos fi xamos nos seus resultados porque é o mais visível e também o mais enfaƟ zado. É comum, por exemplo, vermos noơ cias sobre um determinado programa do governo que incluiu milhões de jovens no ensino superior ou que reduziu a mortalidade infanƟ l em tanto por cento. Ou ainda, que uma comunidade se uniu para reformar a escola ou cuidar do meio ambiente. É verdade que todos esses casos podem estar se referindo a inovações sociais, mas será que está faltando alguma coisa? Questão refl exiva 4: Lembra daquela experiência do Banco Palmas? Acesse este outro vídeo que a retrata de forma mais aprofundada e procure idenƟ fi car algumas etapas percorridas pela comunidade para a efeƟ vação da experiência: Como aprendemos, até chegar ao resultado, muitas coisas aconteceram: pessoas se mobilizaram e sensibilizaram um grupo maior para trabalhar junto, foram muitos encontros para planejar, organizar e executar as ações. Tudo isso chamamos de PROCESSO. Com isso, estamos dizendo que a inovação social, assim como a inovação tecnológica, possui duas dimensões, a de produto e a de processo. O texto a seguir vai mostrar como surgiu a noção de processo da inovação social e sua importância: Inovação social como processo e inovação aberta Até agora, especialistas do campo do empreendedorismo social têm prestado pouca atenção à maneira como o valor social é produzido, importando muito mais que as inovações benefi ciem os eleitores, especialmente aqueles em situação de pobreza. Nesse caso, o processo poderia ser estritamente orientado de cima para baixo, sem ambição de oportunizar a parƟ cipação dos segmentos interessados e do público eleitor, ou ainda poderiam ser iniciaƟ vas de baixo para cima em caráter meramente informal, sem vínculos formais com as estruturas de poder da sociedade. O problema com defi nições orientadas pelo resultado da inovação social (e do empreendedorismo social) é que o valor social pode ser produzido em ambientes 30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 33330000EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca de trabalho paternalistas e não democráƟ cos. Apesar de o reinvesƟ mento do valor econômico na comunidade e da busca de melhores soluções para problemas sociais serem importantes critérios para o empreendedorismo social, observamos muitos exemplos de empresa social que, em suas práƟ cas coƟ dianas, não se disƟ nguem da maioria das empresas convencionais. Enquanto a pesquisa e o desenvolvimento do empreendedorismo social são orientados pelo resultado, nosso objeƟ vo é a ampliação rumo à variedade de processos voltados para a inovação social. Defi nida como processo, a inovação social adquire contornos semelhantes à noção de inovação aberta (Chesbrough, 2006), advinda da teoria da inovação em geral. Para clarear essa ideia e extrair riquezas do diálogo entre os dois campos, são inicialmente apresentados os conceitos de inovação fechada e aberta, para posteriormente serem arƟ culados com o conceito da inovação social. Chesbrough (2006) disƟ ngue entre o modelo dominante de inovação fechada e o novo modelo de inovação aberta. O modelo dominante (inovação fechada) foi baseado na ideia de que a inovação bem sucedida exige controle de ideias e sugestões e controle do ambiente, que inclui os fatores envolvidos, tais como: tecnologias, sujeitos (pesquisadores e empregadores) e condições variadas de produção. Nesse modelo, inovação é uma questão de pesquisa e de desenvolvimento dentro dos limites da empresa ou organização. Ideias, recursos e projetos saem como produtos e são enviados para mercados bem defi nidos. Na inovação aberta, muitos sujeitos estão envolvidos, de forma intencional ou não. Nenhuma empresa ou insƟ tuição isoladamente é capaz de controlar a entrada de ideias, processos e tecnologias que estão concorrendo para o resultado, o processo ocorre dentro e fora da organização. O resultado decorre da colaboração de muitos atores e tende a ser mais exitoso do que um produto restrito voltado para um determinado mercado e representa uma mudança de paradigma. Tanto a inovação aberta quanto a inovação social (esta concebida como processo) ocorrem em arenas colaboraƟ vas caracterizadas pela existência de limites tênues e indefi nidos entre agentes, empresas e insƟ tuições e de redes como Ɵ po dominante de organização. Relações internas e redes estão relacionadas a ideias, sujeitos e tecnologias externas que já não são controladas pela organização. Leadbeater (2009) uƟ liza o conceito WeThink (NósPensamos, em português) como uma expressão radical de inovação social aberta, em que a fronteira entre a inovação social e inovação aberta é fl uida. A hipótese básica do autor é que, com a expansão da internet, o mundo atualmente se depara com uma onda de colaboração criaƟ va global e de cocriação nunca antes pensada. Ao defi nir WeThink, Leadbeater(2009) usa um slogan da Wikipédia: “quanto mais comparƟ lhamos, mais ricos somos”. Ele ainda afi rma que o princípio organizacional do WeThink encontra-se no equilíbrio entre três ingredientes: parƟ cipação, reconhecimento e colaboração. Dessa forma, a inovação social como processo está inƟ mamente relacionada à cocriação, à aprendizagem e ao planejamento 31Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 333111EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca colaboraƟ vos (Healey, 1997) e a outros fenômenos voltados para a compreensão de formas coleƟ vas de mudança social." Fonte: HULGÅRD, Lars; FERRARINI, Adriane Vieira. Inovação Social: rumo a uma mudança experimental na políƟ ca pública? Revista Ciências Sociais Unisinos, v. 46, n. 2, jul. 2010, p. 256-263. Questão refl exiva 5: Tente idenƟ fi car uma inovaçãosocial com um resultado ou produto relevante, mas produzida de uma forma que não capacite ou emancipe os parƟ cipantes e tente idenƟ fi car uma inovação social que seja úƟ l e aumente a parƟ cipação e o empoderamento. Por mais que idenƟ fi quemos inúmeros aspectos acerca da importância do processo e o mesmo ocorra com relação ao produto da inovação social, ao observamos a nossa realidade social e as experiências, iremos perceber que ambas as dimensões são necessárias. É extremamente desejável que a inovação social seja produzida através da parƟ cipação de todos os envolvidos num verdadeiro processo de cocriação (termo bastante uƟ lizado e que se refere à criação conjunta, coleƟ va), mas se ela não gerar um resultado para aquele grupo, comunidade ou organização, provavelmente não terá cumprido inteiramente seu papel de suprir uma necessidade social. Indiretamente, poderá ter cumprido a função de contribuir para que as pessoas aprofundem seus laços sociais, conheçam a sua realidade, comecem um processo de organização, dentre outros efeitos, mas poderá também deixar as pessoas frustradas pelo envolvimento e dedicação, sem que um resultado concreto seja aƟ ngido. E se a importância for dada apenas ao produto, também haverá riscos, conforme será tratado no texto que segue, o qual propõe a perspecƟ va desejável para a inovação social, que é a integrada, na qual o processo e o produto andam de mãos dadas. A inovação social na perspecƟ va integrada Os conceitos de inovação social desenvolvidos, seja como resultado ou como processo, apresentam limites e dilemas. Por um lado, a inovação social não deixa de ser importante se a atenção for dada apenas ao resultado, porque vai garanƟ r a criação de um valor social, tal como o combate à pobreza, jusƟ ça social, acesso à água potável, democracia parƟ cipaƟ va e outros efeitos relaƟ vos a beneİ cios coleƟ vos (ver também Murray et al., 2010). Entretanto, pode-se deixar de observar o impacto nas relações e redes sociais envolvidas na criação de valor (antes, durante e após a inovação ser posta no mercado). O caminho para o resultado pode ser baseado em procedimentos e processos que mantém e, inclusive, reforçam velhas estruturas de poder, por meio dos quais nenhuma mudança real poderia ser alcançada. Por outro lado, se a atenção é dada apenas ao processo de inovação, então a apropriação do resultado pode ser reivindicada por grupos específi cos com interesses próprios, sem permiƟ r o pleno acesso à população em geral. Por exemplo, a inovação social pode ser usada como um meio para inovar todos os Ɵ pos de produtos e de atuação para 32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 33332222EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca o beneİ cio privado e o lucro obƟ do na economia de mercado (Polanyi,1980) ou pela economia empresarial capitalista (Coraggio, 2009) que, todavia, só representa um dos três princípios econômicos que consƟ tuem uma sociedade moderna. Na tentaƟ va de superação desse impasse, estudos recentes, em perspecƟ va integrada, têm defi nido a inovação social como a combinação do resultado (fi nalidade social) com o processo (Mulgan, 2007; Murray et al., 2010), com ênfase no caráter parƟ cipaƟ vo da inovação aberta e colaboraƟ vo da aprendizagem. Nessa perspecƟ va, o produto da inovação social não pode ser isolado do processo ou da forma como a inovação foi organizada. Fonte: HULGÅRD; FERRARINI, Adriane Vieira. Inovação Social: rumo a uma mudança experimental na políƟ ca pública? Revista Ciências Sociais Unisinos, v. 46, n. 2, jul. 2010, p. 256-263. Agora que compreendemos a importância da inovação social numa perspecƟ va integrada, aprofundaremos cada uma das dimensões. Vamos começar pelo processo. 8.1. Aprofundando a inovação social como processo A noção de processo: ciclo da inovação social e parƟ cipação Quando falamos sobre o processo de inovação social, estamos nos referindo fundamentalmente ao ciclo ou às fases e à parƟ cipação dos envolvidos, a qual pode se dar de diferentes formas e intensidades, indo desde a mera consulta até a autogestão. Vamos iniciar nosso estudo pelo ciclo da inovação social. Há várias propostas de ciclos, mas focaremos no modelo desenvolvido pelos autores Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010), por ser o mais usual e por oferecer uma visão bem clara do processo, conforme será idenƟ fi cado no texto a seguir, porém não signifi ca que tais fases devam ser rígidas. O ciclo da inovação social (Síntese de Denise de Oliveira) Mulgan e Murray (2006) e Caulier-Grice e Mulgan (2010) desenvolveram diversos estudos envolvendo o contexto de estágios do processo de Inovações Sociais. Os autores destacam seis fases (em uma perspecƟ va macro), pelas quais passam as Inovações Sociais, que são: necessidades e desafi os, geração da ideia, desenvolvimento e protoƟ pagem, sustentabilidade, escalonamento e difusão e mudanças sistêmicas. A primeira fase se refere à idenƟ fi cação das necessidades e desafi os (prompts). Abrange todos os fatores que destacam a necessidade da inovação, como as crises, cortes de gastos públicos, o mau desempenho, assim como as refl exões criaƟ vas para novas evidências. Inclui também o diagnósƟ co do problema, considerando inclusive suas causas, e não somente os seus sintomas. A segunda fase consiste na proposta (proposals) ou geração de ideias para atender as necessidades e desafi os diagnosƟ cados. Esse passo pode abarcar 33Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 333333EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca métodos formais, como o projeto, ou métodos criaƟ vos para ampliar as possibilidades disponíveis. A terceira fase corresponde ao desenvolvimento, protoƟ pagem e testes (prototypes) da ideia gerada. É o momento em que as ideias são testadas na práƟ ca (por meio de simples tentaƟ vas - erro e acerto - até pilotos ou protóƟ pos mais formais). Consiste em um momento importante, uma vez que a aplicação práƟ ca da ideia gerada oportuniza diferentes interações e possibilidades para superação dos desafi os. A quarta fase consƟ tui na sustentabilidade ou manutenção da ideia (sustaining). É quando a ideia gerada se torna uma práƟ ca coƟ diana. Por conta disso, a atenção se volta à importância do aprimoramento da ideia e do desenvolvimento de estratégias que garantam a sustentabilidade fi nanceira e viabilizem as aƟ vidades envolvidas a longo prazo. A quinta fase envolve o escalonamento e a difusão da ideia (scaling). É o momento de se desenvolver diversas maneiras para expandir e divulgar a inovação. Deve-se voltar a atenção ao esơ mulo à inspiração de apoio e interação de conhecimentos para a divulgação e a demanda das necessidades. A sexta fase compreende as mudanças sistêmicas (systemicchange), e é o objeƟ vo fi nal da inovação social. Envolve a interação de múlƟ plos elementos transformadores e de longo prazo, como, por exemplo, movimentos sociais, novos modelos de negócio, leis e regulamentos e novas concepções na forma de pensar e agir. Mudanças sistêmicas normalmente abarcam novas estruturas ou arquiteturas compostas por inovações menores. Figura 5: Fases da inovação social As fases da inovação social estabelecidas por Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010) estão representadas na Figura 5. Murray, Caulier-Grice e Mulgan (2010) destacam que as fases do processo de inovação social não ocorrem necessariamente em sequência. Algumas Inovações Sociais recebem interações de feedback entre as fases. Outras são aplicadas em espaços com culturas e habilidades disƟ ntas. E algumas ultrapassam fases aƟ ngindo o amadurecimento e escalonamento. Assim, o desenvolvimentode Inovações Sociais pode ser representado como múlƟ plos espirais e o processo de suas fases é interaƟ vo e pode ser sobreposto (MULGAN, 2006; MURRAY; CAULIER-GRICE; MULGAN, 2010). 34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3333444EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca As fases são uma referência importante no processo de inovação social, mas podem acontecer de modos muito disƟ ntos, dependendo de quem parƟ cipa e de como parƟ cipa. Dica Atenção: algumas vezes encontraremos disƟ ntas denominações para as formas de parƟ cipação. Por exemplo: colaboração pode ser entendida como construção conjunta em um senƟ do diferente do apresentado no texto, que se refere a uma consulta. Contudo, o mais importante é compreendermos que existem tais disƟ nções e que a parƟ cipação aƟ va de todos os envolvidos é o valor maior, a fi m de se superar formas verƟ calizadas, em especial quando se tratam de projetos em contextos de pobreza. Sem uma parƟ cipação aƟ va das pessoas, acaba se reproduzindo o assistencialismo, que não tem nada de inovador. É importante percebermos que, num contexto desigual como o brasileiro, não basta resolver problemas, mas empoderar as pessoas para construir soluções e novas relações. 8.2. Aprofundando a inovação social como produto Vimos que a ideia de soluções sustentáveis e duradouras é algo presente direta ou indiretamente em todas as defi nições de inovação social. O nosso conceito não signifi ca apenas fazer as coisas diferentes, mas requer que essas coisas levem em consideração a sustentabilidade, ou seja, benefi ciem populações atuais sem prejudicar o direito de futuras gerações. A seguir, vamos compreender o que é sustentabilidade, requisito tão importante ao produto ou resultado da inovação social. O desenvolvimento sustentável é defi nido, de acordo com a ONU, como: “o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”. Para que se possa aƟ ngir o desenvolvimento sustentável de forma mais ampla é necessário pensar em várias dimensões. UƟ lizaremos aqui as defi nições de Stoff el e Colognese, 2015: 1) Dimensão Econômica: envolve geração de trabalho, distribuição de renda e desenvolvimento de tecnologias capazes de aumentar a produƟ vidade sem, no entanto, destruir os recursos naturais. 2) Dimensão Social: objeƟ va garanƟ r que todas as pessoas tenham condições iguais, acesso a bens e serviços de boa qualidade necessários para uma vida digna, que se paute no desenvolvimento como liberdade. 35Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 333555EEnEnapapp FFFununddada ãçãçãç oo EEsEscocollala NNNacaciioionanalll ddede AAAddmdmiininiisisttrtraçaççããoão PPPúbúbúblililicaca 3) Dimensão Ambiental: refere-se à manutenção do capital natural, respeitando-se o tempo de extração e uso dos recursos naturais. 4) Dimensão InsƟ tucional: devem ser capazes de redirecionar o curso dos eventos econômicos de tal maneira que as aƟ vidades que destroem o capital natural ou exƟ nguem totalmente os recursos renováveis precisam ser freadas. Por outro lado, aquelas aƟ vidades que privilegiam o uso desses recursos, que inferem de forma mais modesta nos seus ciclos regeneraƟ vos, precisam, necessariamente, ser incenƟ vadas. Em 2015, após diálogos e negociações, os 193 Estados Membros das Nações Unidas, inclusive o Brasil, assumiram o compromisso de implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. A Agenda 2030 representa uma ferramenta orientadora para planejamento de ações e políƟ cas públicas perenes, capazes de levar o Brasil ao efeƟ vo alcance do desenvolvimento sustentável. Em busca do equilíbrio entre a prosperidade humana com a proteção do planeta, seus principais alvos são: acabar com a pobreza e a fome; lutar contra as desigualdades; e combater mudanças climáƟ cas. Saiba mais Para saber mais sobre o Desenvolvimento Sustentável sob uma visão mulƟ dimensional, leia: STOFFEL Jaime A.; COLOGNESE, Silvio A. O desenvolvimento sustentável sob a óƟ ca da sustentabilidade mulƟ dimensional. Revista da FAE, CuriƟ ba, v. 18, n. 2, p. 18 - 37, jul./dez. 2015. Questão refl exiva 6: Escolha uma das experiências de inovação social estudadas e idenƟ fi que três resultados aƟ ngidos em cada uma das dimensões da sustentabilidade: • Econômica. • Social. • Ambiental.
Compartilhar