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Administração de Mercado Exterior Cristiano Morini Regina Célia F. Simões Valdir Iusif Dainez 2010 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br © 2010 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Inmagine M 859a Morini, Cristiano; Simões, Regina Célia Faria; Iusif Dainez, Valdir. / Admi- nistração de mercado exterior. /Cristiano Morini; Regina Célia Faria Simões; Valdir Iusif Dainez. — Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2010. 238 p. ISBN: 978-85-387-0966-4 1. Economia internacional. 2. Estratégias mercadológicas internacionais. 3. Blocos econômicos. 4. Defesa comercial. 5. Acordos multilaterais de comér- cio. 6 . Despacho aduaneiro. I. Título. CDD 330.7 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Doutor em Engenharia de Produção pela Uni- versidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Mestre em Integração Latino-Americana pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Graduado em Relações Internacionais pela Uni- versidade de Brasília (UNB). Tem experiência na área de Engenharia de Produção, Gerência de Produção, Suprimentos, envolvendo os temas: comércio exterior, negócios internacionais e gestão de cadeias de suprimentos com âmbito global. Organizador do primeiro Manual de Co- mércio Exterior em língua portuguesa. Cristiano Morini Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Doutora em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Gradua- da em Ciências Econômicas pela Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal (AEUDF). Atualmente é professora dos Cursos de Ciên- cias Econômicas e Negócios Internacionais da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) desde 1990, ocupando o Cargo de Coordenado- ra de Estágio Supervisionado no Curso de Negó- cios Internacionais. Ainda é coordenadora do MBA em Negócios Internacionais da UNIMEP. É organizadora e coautora do livro Manual de Comércio Exterior, editado pela Alínea, e de vários artigos. É pes- quisadora na área de Economia Internacional e Microeconomia, especificamente no setor auto- motivo. É organizadora da Revista de Negócios Internacionais do Curso de Negócios Internacio- nais da UNIMEP. Regina Célia F. Simões Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Doutor em Economia pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Mestre em Sociologia pela UNICAMP. Graduado em Ciências Econô- micas na Universidade Metodista de Piracica- ba (UNIMEP). É professor do Curso de Ciências Econômicas da UNIMEP desde 1992, ocupando o cargo de Coordenador de Monografias do Curso de Ciências Econômicas desde 2000. Foi Coordenador do MBA em Comércio Exterior da UNIMEP. É coautor do livro Manual de Comércio Exterior, ed. Alínea, e de vários artigos. É pes- quisador na área de Economia Internacional e Macroeconomia. Valdir Iusif Dainez Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Introdução ao comércio internacional 13 13 | O papel do comércio internacional no atual estágio de desenvolvimento do país 18 | Benefícios do comércio internacional 20 | Principais características e evolução do comércio internacional 23 | Dependência e interdependência 25 | Forças que dirigem a globalização 26 | A política econômica e a política comercial Teorias do comércio internacional 33 33 | Mercantilismo e doutrina da balança comercial 36 | A teoria do equilíbrio automático da balança comercial 38 | Os clássicos e a teoria das vantagens comparativas 42 | Modernas contribuições à teoria do comércio internacional: o Teorema Heckscher-Ohlin 45 | Comércio internacional e a economia nacional Balanço de pagamentos 53 53 | Informações gerais sobre o balanço de pagamentos 56 | Estrutura do balanço de pagamentos 59 | Balanço de pagamentos e renda nacional 60 | O mercado de câmbio 64 | Desequilíbrios e reajuste do balanço de pagamentos Política comercial 75 76 | A intervenção do governo na economia e no comércio exterior 87 | Características do comércio internacional Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Instituições internacionais promotoras e reguladoras do comércio internacional 97 97 | O Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) 104 | Objetivos dos acordos GATT-OMC 105 | As funções da OMC 105 | Estrutura da OMC e seu processo de tomada de decisão 107 | Temas e acordos da OMC Integração econômica regional 119 120 | Níveis de integração econômica regional 123 | Integração na Europa 128 | Integração nas Américas 136 | Integração na Ásia 136 | Integração no Oriente Médio e África 137 | A posição do Brasil frente aos acordos de integração econômica Estratégias globais 145 148 | Promoção 151 | Distribuição 155 | Produto 157 | Preço Formas de internacionalização 169 172 | A pesquisa de mercado 178 | As formas de internacionalização mais usuais Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io A organização da empresa para o comércio exterior 191 192 | Estrutura interna 198 | Estrutura externa 203 | Órgãos de apoio Habilitação para exportação e despacho aduaneiro 213 216 | Habilitando a empresa como exportadora 216 | Passo a passo do despacho aduaneiro 223 | Documentos mais usuais Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br A dm inistração de M ercado E xterior Apresentação O livro Administração de Mercado Exterior apresenta aspectos ligados à gestão de ne- gócios internacionais, cujas características são fundamentais para a análise de prospec- ção de um mercado estrangeiro, bem como o acompanhamento de tendências econômicas internacionais. Alguns aspectos com que o leitor terá conta- to neste livro: a) Acordos internacionais: os acordos inter- nacionais são determinantes de oportunidades e ameaças para os negócios, porque estimulam exportações ou podem estimular a concorrên- cia a entrar no mesmo negócio que o do ramo de atuação de uma empresa. Conhecer também como os acordos internacionais podem propor- cionar litígios comerciais internacionais e como se defender, também poderão ser visualizados no livro. b) Planejamento de marketing: o marketing internacional é desafiador em termos de análise e tomada de decisão, bem como definição em termos de segmentação de mercado, posiciona- mento e outras estratégias. c) Despacho aduaneiro e demais trâmites: definida a forma de entrada no mercado estran- geiro, há a necessidade de propriamente proce- der a saída da mercadoria do país, daí a necessi- dade do conhecimento desse ritual. d) Economia internacional e balanço de pa- gamentos: entender como o governo estabelece políticas públicas na área monetária e cambial é importante para determinar condicionantes de um negócio. Conhecer como o governo fecha suas contas em termos de transações com o ex- terior também é válido para entender o motivo do estabelecimento de determinadas linhas de políticaeconômica. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional Cristiano Morini O papel do comércio internacional no atual estágio de desenvolvimento do país Para o estudo deste tema, será utilizado o período de 1990 a 2008. Nesse período a economia brasileira passou por vários choques de competitivida- de, graças ao comércio internacional. Este capítulo se propõe a mostrar que a relação do estágio de desenvol- vimento econômico de um país com o comércio internacional é direta. Um país pode oferecer maiores oportunidades de emprego e melhores condi- ções de renda, conforme o posicionamento da política comercial do país. A política comercial refere-se à postura de um país frente aos agentes econômicos estrangeiros, podendo assumir uma característica de maior permissividade no controle à entrada de produtos, ou o contrário. A política comercial também é orientada pelos interesses dos agentes econômicos do próprio país, que se organizam na forma de grupos de pressão ao governo e defesa de interesses setoriais. A política externa brasileira ao longo da história oscilou em termos de maior alinhamento aos interesses dos Estados Unidos, como nação que re- presenta o maior grau de desenvolvimento econômico, e ao não alinhamen- to ou uma política externa independente e autônoma. Outra característica da política externa brasileira é que, tradicionalmente, o Brasil é um dos países em desenvolvimento de maior presença em foros internacionais, de tradição pacífica, não ideológica, não excludente e de política externa multilateral ou universal, com vistas à cooperação e ao desenvolvimento. Até 1990, a economia brasileira importava pouco, seja por causa da moeda brasileira ser bastante desvalorizada, seja por causa das barreiras ta- rifárias na entrada de produtos na economia brasileira. A moeda desvaloriza- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 14 Introdução ao comércio internacional da faz com que haja a necessidade de maior quantidade de moeda nacional para adquirir um produto ou serviço estrangeiro. Como o Brasil teve várias desvalorizações da moeda nos anos 1980, a moeda nacional não estimulava a aquisição de produtos do exterior, porque tinha pouco valor. Essa desva- lorização provocou surtos hiperinflacionários que levaram os ministros da Fazenda a colocarem em circulação várias moedas, como o cruzado, cruzado novo, cruzeiro e cruzeiro real. Assim que uma moeda nova entrava em circulação, cortavam-se três zeros da moeda antiga, tamanho era o período de inflação que o Brasil pas- sava, a ponto da moeda valer cada vez menos. A inflação corroía a moeda e levava a um aumento interno de preços insustentável para o planejamento econômico de longo prazo. Quando a moeda é desvalorizada e perde valor com rapidez, não há estímulo para a importação de produtos. A importação se torna, nesse cenário, cada vez mais cara e desestimulada. Agregado a esse elemento monetário e cambial, até o final dos anos 1980 o país possuía altas taxas de importação, que marcavam ainda os resquícios de uma economia fechada e protecionista praticada durante o período mili- tar no país. Isso significa dizer que, para estimular o crescimento econômico interno, dificultavam-se as importações, via taxação elevada do imposto de importação. O imposto de importação (II) é o principal elemento de controle de entrada de mercadorias em um país. Quanto mais alto ele for, mais difícil a entrada de mercadoria estrangeira. Além do imposto de importação eleva- do, o país pode adotar também barreiras não tarifárias, como exigência de licenças de importação e cotas (restrições quantitativas), por exemplo. Aliás, a maioria dos países praticava, desde o final da Segunda Guerra Mundial, a política de altos impostos de importação como forma de esti- mular a economia interna a se desenvolver; afinal a entrada de produtos estrangeiros gera emprego e renda no exterior, e não no país importador. Para estimular o comércio mundial, desde o final da Segunda Grande Guerra (1939-1945), houve um momento de concertação (acordo, pacto) interna- cional denominado de Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, em inglês), justamente com o objetivo principal de derrubar barreiras tarifárias ao co- mércio internacional, estimulando o desenvolvimento, conforme confirma- vam os defensores do GATT. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional 15 O Brasil, embora membro do GATT desde o seu início (1946), somente no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, começou efetivamente a praticar uma política de rebaixa tarifária, estimulando: a entrada de produtos estran- geiros no país; a concorrência; a inovação tecnológica; e o barateamento dos preços internos, via política comercial de abertura da economia. Quando o então presidente Fernando Collor assumiu o poder, em 1990, a postura da política externa e comercial brasileira foi favorecer a entrada de produtos na economia brasileira, como tentativa de provocar um choque de competitividade e modernização. A política externa brasileira, com Fernando Collor, foi de maior alinha- mento aos Estados Unidos, o que se concretizou em uma política econômica rumo à liberalização da economia e estímulo à privatização. Se as importações eram poucas até o início dos anos 1990, as exporta- ções predominavam no resultado da balança comercial brasileira. Em uma situação de economia fechada, as exportações tendem a ser maiores que as importações. A balança comercial registra o valor da movimentação de mercadorias que entram (importações) e saem (exportações) do país. O movimento das mercadorias é inverso ao movimento de capital a ele relacionado. Ao serem exportadas mercadorias, contabiliza-se a entrada de capital no país, e vice- -versa. Se o resultado das exportações for maior que as importações (ou seja, se o país “vende” mais do que “compra”), o resultado é superavitário (posi- tivo); caso o contrário, se importamos mais que exportamos, o resultado é deficitário (sai mais dinheiro do que entra). Ao analisar a balança comercial dos anos 1990 até 2008 (figura 1), po- demos perceber que, de 1990 a 1994, o resultado da balança comercial é superavitário, graças principalmente à moeda brasileira desvalorizada1, além de altas tarifas de importação em alguns casos. No período de 1995 a 1999, o resultado se mostra deficitário, graças à valorização da moeda brasileira (o real), que entrou em vigor justamente em 1994, aliada à rebaixa tarifária de vários produtos. 1 A desvalorização da moeda deixa nossos pro- dutos mais baratos frente aos estrangeiros, o que fa- cilita a venda ao exterior. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 16 Introdução ao comércio internacional 160 140 120 100 80 60 40 20 0 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 Exportação Importação (S ED EX /M D IC , 2 00 9) Figura 1 – Exportações e importações brasileiras, em US$ bilhões (1990 a 2008). A valorização do real permitiu às indústrias brasileiras investirem na mo- dernização do parque tecnológico nacional, adquirindo máquinas e equi- pamentos do exterior, tendo em vista a busca por melhores condições de competitividade em um mercado de concorrência aumentada. É importante destacar também que, com o aumento da concorrência interna e aumento da oferta de produtos, a inflação ficou sob controle. Este efeito do controle da inflação está associado diretamente ao câmbio (real valorizado frente ao dólar) e à diminuição das barreiras de entrada de produtos estrangeiros no país. Moeda forte com menos barreira faz com que aumentem as importações, contendoa inflação interna. Este pode ser ob- servado como um claro exemplo do papel do comércio internacional para o desenvolvimento do país. No período de 1995 a 1999, embora tenha sido registrado deficit, a econo- mia brasileira estava se modernizando para os novos anos que chegavam. De 2000 a 2008, novamente pode-se observar o resultado como sendo superavitário, com forte influência da desvalorização do real, ocorrida no início do segundo mandato do governo Fernando Henrique (1999), e com influência da modernização fabril brasileira, que possibilitou a produção de produtos manufaturados com maior competitividade internacional. A diplo- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional 17 macia, que conduz a política externa do país, passou a privilegiar o econômi- co e passou a ser denominada de diplomacia econômica. A desvalorização do real foi uma medida adotada pelo governo Fernando Henrique para fazer frente à crise internacional da época, que havia afetado vários países da Ásia, a Rússia e o México. Desde o final dos anos 1990, políticas públicas estimularam a sensibili- zação do empresariado para a prática da exportação. O resultado disso foi o maciço crescimento das exportações brasileiras, principalmente no período de 2003 a 2008, quando o comércio mundial passou por uma das fases mais prósperas. O Brasil soube aproveitar esta fase, alcançando uma expansão de 21,9% ao ano no período (RIBEIRO, 2009). As exportações brasileiras foram respon- sáveis pela geração de empregos e por importante fração do crescimento da economia, além de contribuírem para melhor avaliação do risco país. Risco país é um dos instrumentos de avaliação dos investidores internacionais, que possui uma base de análise que considera o total exportado por um país, o tamanho da economia (o valor do Produto Interno Bruto, PIB) e outros indicadores econômicos e financeiros. Com o crescimento das exportações brasileiras, o risco país diminuiu con- sideravelmente, o que, aliado à política monetária de redução de taxa de juros, estoque elevado de reservas internacionais (superior à dívida externa pública), elevou o país, em 2008, à posição de credor internacional2, um fator de estabilidade econômica e fiscal. Essa posição credora internacional co- laborou para que o país pudesse passar fortalecido pela crise internacional de 2009, sendo um dos principais destinos de investidores internacionais no período da crise. Em síntese, pode-se afirmar que os resultados econômicos do país e o índice de preços praticados relacionam-se diretamente com as políticas ado- tadas pelo governo, como a política comercial. O índice de preços tem relação direta com a abertura ou o fechamento da economia. Uma economia em que o imposto de importação é baixo ou zero, fará com que o produto tenha um menor preço para o consumidor final (sem o ônus do imposto), e também fará com o que o produto tenha menor preço por conta do aumento da concorrência. Quanto mais ampla a concorrência, mais livre o mercado, o que provoca a rebaixa do índice de preços e a disputa por diferenciais competitivos. 2 Quando um país ou pessoa tem mais dinheiro a oferecer que a necessi- dade de receber. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 18 Introdução ao comércio internacional A influência de uma concorrência ampla pode ser visualizada com trans- parência em países como Estados Unidos, México e Chile. Nos Estados Unidos, em que a maioria dos produtos industrializados goza de isenção do imposto de importação, a concorrência é acirrada e o nível de preços é reduzido para estes produtos, mesmo considerando a renda eleva- da da população que, em tese, poderia pagar mais. México e Chile também possuem forte concorrência e variedade de produtos ofertados, mesmo com a renda per capita da população reduzida. Graças aos acordos internacionais que estes países possuem, o imposto de importação não é praticado corren- temente, e sim, isento. O nível de preços dos produtos manufaturados nestes países é consideravelmente menor que no Brasil, por exemplo, que possui uma política comercial mais protecionista que a dos países mencionados. Se observarmos, por outro lado, Bolívia e Cuba, países que adotam a pro- teção da economia interna com a prática de elevadas tarifas de importação, pode-se perceber que o índice de preços é alto (para produtos manufatura- dos) e a concorrência é restrita, deixando o consumidor com poucas opções de escolha e altos preços. No Brasil, a realidade do índice geral de preços não se compara a nenhum dos países identificados acima. Apesar da renda da população brasileira se assemelhar a do México, por exemplo, a prática de impostos de importa- ção mais altos que o México faz com que os produtos cheguem mais caros para o consumidor brasileiro, embora o governo vislumbre este indicador como um potencial gerador de emprego no mercado interno. O imposto de importação também é utilizado pelo governo como forma de atração de investidores para o mercado interno. Se um mercado for atra- ente para um determinado negócio e o imposto de importação for alto, essa combinação pode provocar atração de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) para aquele país. Como a barreira tarifária é grande, as empresas optam por instalar uma planta no país para alavancar vendas. Benefícios do comércio internacional Entre os argumentos a favor do comércio internacional, destacam-se os seguintes: Diversidade de produtos � – o comércio internacional proporciona uma imensa variabilidade de fontes e produtos, inclusive o acesso a Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional 19 produtos que, pelas condições geográficas, naturais ou humanas, não podem ser obtidos em determinadas regiões ou épocas do ano. Diversificação de riscos � – uma empresa que tem parte das receitas de faturamento geradas com as exportações, fica menos suscetível a um problema de caixa. Concorrência ilimitada � – a situação de um mercado global propor- ciona um cenário hipotético de concorrência infinita. A alta concorrên- cia estimula a inovação e o advento de novas tecnologias. Superação da sazonalidade � – produtos que são sazonais e depen- dentes de clima, por exemplo, podem ser comprados ou vendidos para outro hemisfério. O hemisfério norte alterna com o hemisfério sul os períodos de temperaturas altas e baixas, além das estações do ano. Um fabricante de biquínis ou roupas de banho pode continuar sua produção no inverno, considerando que poderá atender a demanda do verão em outro hemisfério. Um mercado maior e mais exigente � – o mercado globalizado pro- voca ganhos de escala para os fabricantes. Um fabricante de relógios pode divulgar seus produtos em todo o mundo, com a mesma campa- nha publicitária, considerando táticas de marketing internacional. Aumento da riqueza mundial � – o comércio proporciona o aumen- to do PIB de cada país, de modo que é gerador de riqueza. A grande questão está na distribuição da riqueza gerada, que é polêmica. Estímulo a um ambiente pacífico � – o comércio é praticado quando há um ambiente de paz entre os parceiros. Além disso, a prática do comércio também estimula a paz. Ao longo de toda a história da hu- manidade, as relações internacionais são marcadas por guerras. O pe- ríodo recente é uma exceção, um período caracterizado pelo comércio e pelas relações pacíficas entre grande parte dos países. Aumento da cooperação internacional e da formação de regimes � econômicos internacionais – o comércio estimula a formação de acordos entre os países, com o intuito de facilitar o fluxo comercial entre os signatários. Esta condição desestimula a hostilidade no meio internacional e se configura em uma janela de oportunidades. Este material é parte integrante do acervodo IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 20 Introdução ao comércio internacional Principais características e evolução do comércio internacional O comércio internacional é caracterizado principalmente pelo comércio de mercadorias. O comércio de serviços ainda não representa uma grande parcela do total mundial. Os grandes fluxos comerciais internacionais ocor- rem no hemisfério norte, no sentido leste–oeste, entre países de mais alto PIB. Os maiores países exportadores são, pela ordem de valor exportado: Ale- manha, China, Estados Unidos, Japão, Países Baixos, França, Itália, Bélgica, Rússia, Reino Unido, Canadá e Coreia do Sul, conforme pode ser observado na tabela 1. Esses países conseguem um elevado grau de poupança externa, assim denominada pelo nível de recursos gerado pelo ingresso de divisas oriundas principalmente das receitas de exportações. Também há países que, embora não exportem muito em valor absoluto, têm significativos resultados gera- dos pelas exportações, como é o caso de Coreia do Sul, Taiwan, Filipinas e México. Tabela 1– Ranking dos principais países exportadores e importado- res em 2008 Ranking dos paí- ses exportadores Valor ex- portado (bilhões de US$) % Posição Ranking dos paí-ses importadores Valor im- portado (bilhões de US$) % Posição Alemanha 1.465 9,1 1 Estados Unidos 2.166 13,2 1 China 1.428 8,9 2 Alemanha 1.206 7,3 2 Estados Unidos 1.301 8,1 3 China 1.133 6,9 3 Japão 782 4,9 4 Japão 762 4,6 4 Países Baixos 634 3,9 5 França 708 4,3 5 França 609 3,8 6 Reino Unido 632 3,8 6 Itália 540 3,3 7 Países Baixos 574 3,5 7 Bélgica 477 3,0 8 Itália 556 3,4 8 Rússia 472 2,9 9 Bélgica 470 2,9 9 Reino Unido 458 2,8 10 Coreia do Sul 435 2,7 10 Canadá 456 2,8 11 Canadá 418 2,5 11 Coreia do Sul 422 2,6 12 Espanha 402 2,5 12 (O M C, 2 00 9) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional 21 Ranking dos paí- ses exportadores Valor ex- portado (bilhões de US$) % Posição Ranking dos paí-ses importadores Valor im- portado (bilhões de US$) % Posição México 292 1,8 16 México 323 2,0 14 Espanha 268 1,7 17 Rússia 292 1,8 16 Brasil 198 1,2 22 Brasil 183 1,1 24 Os países que apresentam elevado percentual de relação entre valor ex- portado e PIB são países mais internacionalizados e mais dependentes do comércio internacional. A demanda global estimula o crescimento econômi- co desses países, assim como, em épocas de crise internacional, são os países mais atingidos. O Brasil não está entre os países mais internacionalizados, porque aden- trou no comércio internacional de maneira protecionista (alto grau de prote- ção aos interesses nacionais). Apesar disso, o Brasil apresenta uma importan- te característica, a de ser um global trader. Essa expressão refere-se a um país que participa do comércio internacional com uma ampla pauta de produtos importados e exportados, além de realizar comércio com grande número de países, de forma a não ser dependente de um único país como fonte ou destino do comércio. O Brasil apresenta uma pauta variada de produtos comercializados. É, ao mesmo tempo, um grande país exportador de commodities e de produtos industrializados, o que torna o perfil do país mais sólido às flutuações de de- manda e preços no comércio internacional. Se um setor não está tendo um desempenho favorável, outros setores poderão apresentar características distintas. Isso significa que, no caso de uma crise internacional, o país pode apresentar diferentes impactos em termos de renda e geração de emprego. Além disso, o país apresenta certa harmonia em termos de origem e destino das exportações, diversificando continentes e países. O México, por exemplo, não é um país que apresenta a característica de “comerciante global”, porque depende majoritariamente do comércio com os Estados Unidos. Atualmente, o México busca diversificação no comércio exterior, para ficar menos suscetível a crises e quebras de demanda, o que o afeta profundamente. Outra característica a ser destacada do comércio mundial é que, de 1950 para hoje, o volume do comércio internacional aumentou enormemente. (O M C, 2 00 9) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 22 Introdução ao comércio internacional Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o advento de Conferência Mone- tária Mundial de Bretton Woods3, os rumos da economia mundial foram re- definidos. Passou a ser fundamental comercializar com todas as regiões do mundo, para expandir a produção e não se restringir a uma determinada região compradora ou país comprador. Após a Primeira Guerra Mundial, a produção norte-americana foi estimu- lada pela demanda europeia, que precisava se recuperar dos choques so- fridos durante a guerra. A expansão industrial americana foi muito grande nesse período, o que acabou resultando em grande especulação no merca- do de ações. A especulação acionária e o desejo pelo enriquecimento ilimita- do, associado a uma menor demanda europeia por produtos americanos ao longo dos anos 1920, acabaram culminando na crise de 1929. Para que uma crise como a de 1929 não se repetisse alguns anos após a Segunda Guerra Mundial, a estratégia das grandes corporações e dos go- vernos foi de estimular o comércio mundial e a demanda global por produ- tos. Para que isso ocorresse, haveria a necessidade de restringir o número de barreiras ao comércio, que passou a ser o objetivo maior do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, em inglês), estabelecida por esses agentes. Além da queda de barreiras, havia a necessidade de garantir a saúde financeira dos países (compradores). Para isso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi instaurado em 1944. Além disso, uma terceira instituição garantiu o tripé que fortaleceria o momento para a expansão do comércio mundial: um banco de investimentos com o intuito de auxiliar no desenvolvimento de países mais necessitados, chamado de Banco Mundial. Essas três instituições, ou acordos, formaram uma teia de proteção do ca- pital e dos interesses das grandes corporações em se internacionalizarem. Como resultado, cinquenta anos depois, o comércio internacional registrava um aumento de vinte vezes em valores transacionados, no período 1950 a 2000. Outra característica do comércio internacional recente é a proliferação de acordos de comércio: multilaterais, regionais e bilaterais. O GATT é um exem- plo de acordo multilateral que deu origem à Organização Mundial do Co- mércio (OMC), em 1995. Entre os acordos regionais, destacam a Comunidade Europeia (UE), o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, em inglês), o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e muitos outros. 3 Conferência monetária internacional ocorrida no final da Segunda Guerra Mundial (1944), com o objetivo de estabelecer os novos rumos do mercado internacional, interessado em um ambiente favorá- vel aos negócios. Desses novos rumos, nasceram o Fundo Monetário Interna- cional (FMI), o Banco Mun- dial e o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, sigla em inglês). As três iniciativas constituiram-se no que ficou chamado de tripé do sistema financei- ro internacional. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional 23 O comércio internacional também evoluiu com a inserção de novos temas na agenda internacional, como a questão ambiental, a cooperação científica e tecnológica, a ascensão de novos países tomadores de decisão e foco de novos interesses, como os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Dependência e interdependência A teoria da dependência foi idealizada por economistas, cientistas polí- ticos, sociólogos e antropólogos latino-americanos, nos anos 1960 e 1970, no interior da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) e das Conferências das Nações Unidas parao Comércio e Desenvolvimento (UNCTADs). Propôs a explicação da estagnação econômica do então chama- do terceiro mundo com o enfoque na dificuldade de fechar as contas exter- nas (balança de pagamentos), devido à exportação de produtos de baixo valor agregado, e à importação de produtos de alto valor agregado, causan- do crescente e imodificável deficit comercial. Esse deficit comercial caracte- riza a relação de dependência de um país (periférico) com relação a outro (central). Tal deficit comercial deteriorava o comércio internacional e os termos de troca, na visão de Prebisch (1963). Os trabalhos de Prebisch alicerçaram todo o pensamento da CEPAL, surgida nos anos 1940. A CEPAL criticava a divisão internacional do trabalho, a deterioração dos termos de troca e a teoria clás- sica ou neoclássica do pensamento econômico. Contudo, defendendo a intervenção do Estado como propulsor do cres- cimento econômico, ratificava os princípios do capitalismo e da entrada de capitais estrangeiros, a fim de fomentar a industrialização e a formação de poupança interna para investimentos. A CEPAL observou também menor oferta de mão de obra nos países cen- trais, combinada com maior sindicalização dos trabalhadores, resultando em maior poder de barganha dos trabalhadores. Nos países periféricos, por sua vez, havia maior abundância de mão de obra e baixa organização sindical, gerando baixos salários e baixos preços. A situação de “dependência” é uma condição em que certo número de países tem suas economias condicionadas ao desenvolvimento e expansão de outro. Os países industrializados ou desenvolvidos são denominados de “centro”, enquanto os países menos desenvolvidos, “periferia”. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 24 Introdução ao comércio internacional Essa visão da teoria da dependência representou uma realidade histó- rica importante do comércio internacional no passado recente. Nos dia de hoje, contudo, o comércio internacional apresenta uma característica mais próxima da interdependência. A interdependência econômica, financeira e comercial faz com que países “centrais” também dependam dos países “peri- féricos”. Nesse novo cenário, há uma rediscussão do “centro” e “periferia” nas relações internacionais (transformação estrutural; nova geografia econômi- ca e política) e também há uma clara revelação da força dos elementos do- mésticos na conjuntura global (grande variedade de atores/forças internos e não somente externos – estatais e não estatais). Com os crescentes fluxos financeiros e produtivos dos países desenvol- vidos para os países em desenvolvimento, que apresentam potencial maior de crescimento econômico e maior rentabilidade financeira, o sistema inter- nacional passa a gerar uma trama de relacionamentos de interdependência. Os ganhos e lucros nos países em desenvolvimento sustentam os ganhos dos investidores nos países desenvolvidos que, por sua vez, fazem aumentar o fluxo comercial internacional para atender à demanda de consumidores ávidos por novos produtos. A interdependência também pode ser visualizada nos foros políticos e econômicos mundiais. O G7 (grupo de sete países de maior renda no mundo) cedeu importância para o G20 (grupo das 20 economias mais ricas do mundo), principalmente após a crise internacional de 2009. A solução para a saída da crise ultrapassou as decisões necessárias dos países desen- volvidos, de modo que os países em desenvolvimento, integrantes do G20 (como África do Sul, Brasil, China, Índia, Indonésia, México e Turquia), foram chamados a dialogar como parte da solução global. Nesse novo cenário, o sistema internacional atual se tornou mais multipolarizado (com vários cen- tros de poder no globo), estabelecendo uma redefinição da divisão interna- cional do trabalho. O grande capitalista leva o investimento produtivo, por exemplo, para a região com melhores condições de fornecimento de matéria-prima e que proporcione redução de custos (trabalhistas, legais e outros). Essa realoca- ção de investimentos e fábricas proporciona uma redefinição da divisão in- ternacional do trabalho, pois os países mais ricos ficam com alguns centros de tomada de decisão do novo investimento, mas a fabricação e conclusão do produto final são deslocados para regiões menos custosas e mais lucrati- vas, comprovando o cenário de interdependência. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional 25 Forças que dirigem a globalização Entre as forças que dirigem a globalização, estão a tecnologia e a queda das barreiras (WILD; WILD; HAN, 2008). O mundo contemporâneo é caracterizado, entre outras coisas, pela sua grande capacidade de mudança tecnológica. Por exemplo, entre 1500 e 1840, a melhor média das velocidades das carruagens e barcos a vela era de 16km/h; entre 1850 e 1950, as locomotivas a vapor alcançavam 100km/h, e os barcos a vapor, 57km/h; em 1950 os aviões a propulsão alcançaram 480-640km/h; de 1960 para cá, jatos de passageiros voam em média a 1 100 km/h. A rápida difusão dos meios de informação e de tecnologia fez com que acontecimentos de outras partes do mundo fossem capazes de ser mostra- dos simultaneamente à sua realização. Estudos recentes analisaram o impacto do século XX na história da huma- nidade. Uma conclusão que se pode chegar é o fato de que nunca se produ- ziu e se consumiu tanto quanto neste século, com relação a todos os outros séculos somados. O advento de novas tecnologias contribuiu para a diminuição das dis- tâncias geográficas (computador, satélite, internet e muitos outros). Dessa maneira, as relações internacionais têm se tornado cada vez mais presentes na vida das pessoas. No que tange ao comércio, há diversos índices que comparam a com- petitividade dos países, em termos de infraestrutura, facilidade de abrir um negócio, legislação trabalhista, estabilidade econômica e outros. Esses indi- cadores comparativos têm se disseminado para que tomadores de decisão optem por abrir um negócio em um país ou expandi-lo em outro, com a fa- cilidade de comunicação intercontinental (via satélite e internet), trânsito de mercadorias e pessoas (rotas aéreas e oceânicas cobrindo todo o planeta). Além da tecnologia, a queda das barreiras comerciais (tarifárias e não tari- fárias) tem sido uma busca obstinada da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da Organização Mundial das Aduanas (OMA). A cooperação interna- cional é o mote que propulsiona a globalização, rumo à agilidade nos pro- cessos e à segurança nas cadeias de suprimentos internacionais. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 26 Introdução ao comércio internacional A política econômica e a política comercial As decisões econômicas que um país toma estão ou deveriam estar orien- tadas por um instrumento denominado de política econômica. A política econômica também expressa a orientação política e ideológica de um de- terminado governo. Essa orientação norteará as decisões em termos de taxa de juros, fechamento ou abertura da economia, emissão de papel moeda, intervenção ou não no câmbio, entre outras. A política econômica pode ser subdividida em quatro outras políticas: monetária, fiscal, cambial e comercial. Grosso modo, a política monetária está ligada à emissão de moedas pelo Banco Central, à definição da taxa de juros referencial da economia, ao de- pósito compulsório e outras. A política fiscal refere-se principalmente aos gastos públicos e à arrecadação, à carga tributária interna praticada por um país, nada tendo a ver com impostos de importação ou exportação. A política cambial refere-se à taxa de câmbio praticada, que pode ser con- trolada, livre ou mista. O câmbio influencia diretamente na capacidade do país de fazer comércio exterior. Com uma moeda muito desvalorizada, as im- portações não são incentivadas,porque o produto a ser importado é muito caro para ser adquirido, o que se constitui em uma barreira de entrada. Por outro lado, uma moeda relativamente desvalorizada é importante para a competitividade exportadora do país. Pode-se então perceber que a política cambial é vital para a política comercial. A política comercial orienta a postura do país frente a acordos internacio- nais de comércio e frente a maior ou menor abertura da economia (impostos de importação praticados). Uma política econômica mais liberal, pratica uma política comercial favo- rável à internacionalização do país e à entrada de mercadorias estrangeiras. A teoria do liberalismo econômico defende a livre concorrência, em um mer- cado amplo e sem entraves, o que provoca um alto nível de competição. Esse nível de competição elevado pode provocar perda de empregos e desnacio- nalização da economia, com a venda de empresas nacionais a investidores estrangeiros. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional 27 Por outro lado, uma política econômica mais conservadora, pratica uma política comercial protecionista, protegendo os interesses de grupos nacionais frente aos interesses de grupos estrangeiros. Uma política comer- cial dessa natureza tende a proteger o emprego nacional, em detrimento de maior diversidade de produtos ofertados. Ambas as orientações de política comercial apresentam argumentos favoráveis e contrários. Uma outra política governamental associada é a política externa. A polí- tica externa orienta a postura do país frente aos temas internacionais, entre eles os temas comerciais. Assim, a política comercial também é parte da po- lítica externa adotada. Ampliando seus conhecimentos Com crise global, Ásia terá que ajustar modelo exportador (PILLING, 2009) Agora que os ocidentais estão ocupados refazendo suas poupanças esva- ziadas, será que as economias asiáticas dependentes das exportações conse- guirão se ajustar a um mundo em que o consumidor americano não será mais o comprador de última instância? Economistas estão questionando se países como a China poderão reo- rientar suas economias de modo que a demanda doméstica se transforme no principal indutor do crescimento. “A China deverá produzir coisas para si mesma”, afirma Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia. Desde que liberalizou sua economia, 30 anos atrás, a China vem produ- zindo grandes quantidades de bens reais, sendo que apenas parte deles vem servindo para melhorar os padrões de vida de sua própria população, diz Krugman. O mesmo aconteceu no Japão, cujo crescimento espetacular após a Se- gunda Guerra Mundial foi elaborado por burocratas que priorizaram o bem- -estar dos exportadores – através de políticas cambial, fiscal e ambiental –, em Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 28 Introdução ao comércio internacional detrimento dos consumidores. Os japoneses pagavam mais caro pelos produ- tos made in Japan do que as pessoas dos outros países. Mesmo assim, o consumo interno no Japão, em cerca de 55% do PIB, é muito maior do que o da China, de anormalmente baixos 33%, segundo afirma Yasheng Huang, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Em comparação, o consumo doméstico dos EUA subiu para 67% do PIB no auge da farra insustentável de gastos dos americanos. Por que o consumo doméstico chinês é tão baixo e o que pode ser feito para mudar isso? Krugman disse em um seminário da cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã, que grande parte da culpa é de uma rede de segurança social já gasta, que encolheu mesmo com a China ficando mais rica. Como as pessoas precisam “parar no banco a caminho do hospital”, elas vão formar uma pou- pança preventiva às custas do consumo, diz ele. O remédio, algo para o qual o governo chinês acordou tardiamente, é res- tabelecer uma rede de segurança de credibilidade. Pequim anunciou planos para gastar 850 bilhões de yuans (US$124 bilhões) em planos básicos de saúde e atendimento hospitalar essencial. No entanto, criar uma rede de segurança poderá ter um efeito apenas marginal sobre os gastos, afirma Huang. Ele culpa não os níveis elevados de poupança – a taxa de poupança doméstica da China é normal, diz ele –, e sim a queda da renda, especialmente nas áreas rurais, onde 700 milhões de chine- ses ainda vivem. Huang diz que os bancos estatais dirigem dinheiro para grandes empreen- dimentos e projetos de infraestrutura, mas negligenciam os empreendimen- tos rurais que tanto fizeram para melhorar os padrões de vida no campo na década de 1980. Ele defende um esforço para aumentar a renda nas áreas rurais com a legalização das microfinanças, abolindo o sistema de registro das cidades que impede que os trabalhadores migrantes recebam benefícios so- ciais. Defende também uma aceleração da reforma agrária. Andy Rothman, economista da CLSA em Xangai, diz que a enorme econo- mia chinesa é facilmente capaz de gerar uma demanda interna imensa. Ele aponta para as vendas no varejo, que continuam crescendo cerca de 16% ao Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional 29 ano, graças em parte aos subsídios do governo para a compra de aparelhos eletrônicos e artigos domésticos da chamada linha branca. Ele também afirma que a importância das exportações tem sido exagera- da, com as exportações líquidas respondendo por apenas 2% do crescimento recente da China. Mesmo sem elas, ele acredita que a economia pode retornar confortavelmente à taxa de crescimento de 8% ao ano ou mais. Nem todos os países asiáticos têm as características da China. Assim como a China, o Vietnã é uma economia aberta, mas, ao contrário de seu vizinho gigantesco, vem registrando deficits comerciais de maneira consistente. Isso porque ele vem importando produtos manufaturados e de alto valor agre- gado – até a abertura de sua primeira refinaria de petróleo no ano passado, todos os produtos refinados de petróleo que o país usava eram importados – e exportando matérias-primas e itens de baixo valor agregado. Como é típico dos países de baixa renda, cerca de dois terços da produção industrial vai para o consumo doméstico, deixando pouco espaço para estimular a demanda externa. Felizmente, as exportações vietnamitas vêm se mostrando bem resisten- tes. Enquanto economias como Cingapura e Taiwan vêm registrando quedas de 30% ou 40% nas exportações, o Vietnã teve uma queda modesta de 3,7% nos primeiros quatro meses do ano, em relação ao mesmo período de 2008. Economistas acreditam que o Vietnã poderá se beneficiar de um novo efeito Wal-Mart, no qual consumidores ocidentais trocam os produtos de marcas mais caras por produtos mais baratos, nos quais países como o Vietnã se destacam. No mês passado, o porto da cidade de Ho Chi Minh estava mais movimen- tado do que o habitual de antes da crise. “Eles não estão produzindo iPods e laptops; eles estão produzindo camisetas e sapatos”, diz Jonathan Pinkus da Kennedy School of Government da Universidade Harvard. Krugman diz que países como o Vietnã não são grandes o suficiente para afetar os desequilíbrios globais. Outros como China e o Japão começaram a gerar superávits em conta corrente anormalmente altos somente por volta de 2002. “Somente os últimos seis anos viram esse estranho acúmulo de dólares. Certamente eles poderão voltar ao que eram antes”, afirma ele. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 30 Introdução ao comércio internacional Atividades de aplicação 1. Com relação à evolução das exportações brasileiras, assinale a corre- ta. a) A política de rebaixa tarifária só foi efetivamente aplicada no Brasil no início dos anos 1990. b) As exportações predominam na balança comercial do Brasil até o final da década de 1990. c)De 1990 a 1994, o Brasil acumulou deficits na balança comercial. d) Entre 1990 e 1999, o país passou a ter efetivamente deficit na ba- lança comercial. 2. Explique os efeitos causados pela valorização do real para o comércio exterior brasileiro, entre os anos de 1995 e 1999. 3. Sobre os benefícios do comércio internacional, assinale a correta. a) Aumento do risco, porque a exposição à concorrência é maior. b) Aumento da variabilidade de produtos ofertados. c) Diminuição da concorrência. d) Diminuição da concentração de renda, porque os benefícios são compartilhados. Referências OMC. Organização Mundial do Comércio. Disponível em: <www.wto.org>. Acesso em: 31 out. 2009. PILLING, David. Com crise, Ásia terá que ajustar modelo exportador. Valor Econô- mico, A12, 1 de jun. 2009, Financial Times. PREBISCH, Raul. Towards a Dynamic Development Policy for Latin America. New York: United Nations, 1963. RIBEIRO, Fernando J. A evolução da balança comercial brasileira no período 1985- 2008. In: Revista Brasileira de Comércio Exterior, Rio de Janeiro, ano XXIII, n. 100, jul./set. 2009, p. 12-25. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Introdução ao comércio internacional 31 SECEX/MDIC. Secretaria de Comércio Exterior, Ministério do Desenvolvimen- to, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em: <www.mdic.gov.br>. Acesso em: 30 out. 2009 WILD, John J.; WILD, Kenneth L; HAN, Jerry C. Y. International Business New Jersey: Pearson, 2008. Gabarito 1. A 2. Os efeitos da valorização do câmbio (ou do real) foram responsáveis por, entre outros aspectos (o aluno deve indicar pelo menos três dos efeitos abaixo): aumento das importações; modernização do parque industrial brasileiro; deficit na balança comercial do período; aumento da diversidade de produtos ofertados na economia brasileira; diminuição de preços em virtude do aumento da concorrência; controle da inflação, também em virtude do aumento da concorrência; aumento da capacidade exportadora, no longo prazo. 3. B Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Teorias do comércio internacional Valdir Iusif Dainez Este capítulo tem o objetivo de expor as principais teorias sobre o co- mércio internacional. Tais teorias são tentativas de avaliar o impacto das re- lações econômicas que um país estabelece com o resto do mundo, sobre a produção nacional, a renda nacional e o emprego. As relações econômicas que um país estabelece com o resto do mundo são de dois tipos: aquelas que envolvem fluxos reais, como a exportação e importação de mercadorias e serviços; e aquelas que envolvem fluxos monetários, como a exportação e importação de capital, o recebimento e o pagamento de juros, lucros e divi- dendos etc. Embora nem sempre na prática seja possível a separação entre as relações reais e monetárias (já que uma relação real, como a exportação ou importação de uma mercadoria envolve uma contrapartida monetária, ou seja, o pagamento em divisas da operação), a maioria das teorias sobre o comércio internacional tem por objetivo avaliar as relações reais que um país estabelece com o resto do mundo. Mercantilismo e doutrina da balança comercial A primeira tentativa de compreender o papel que o comércio exterior exerce sobre as economias nacionais foi feita pelos autores mercantilistas. Chamamos de Mercantilismo a fase que marca a passagem do Feudalismo para o Capitalismo e que se estende do século XV ao XVII, e de mercantilistas aos autores que tentavam compreender a complexidade da nova realidade que o nascimento do capitalismo ensejava. Não é mero acaso que a gênese das teorias sobre o comércio internacio- nal tenha ocorrido nessa época. Como todo período de transição, o Mercan- tilismo marcava a crise de um sistema social que havia durado dez séculos (do século V ao XV) em meio ao nascimento de um novo, o capitalismo. As transformações econômicas, sociais, culturais, políticas, religiosas e científi- cas que a civilização dessa época assistia eram enormes. No campo econô- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 34 Teorias do comércio internacional mico, o advento das manufaturas que suplantavam aos poucos a produção artesanal, as transformações que se operavam no campo com o fim da pro- dução feudal e o advento da agricultura moderna, as grandes navegações que permitiam um intenso comércio com lugares e produtos nunca antes sonhados. Todas essas transformações clamavam por explicação. As pessoas esta- vam ávidas em compreender as raízes desse verdadeiro furacão que revo- lucionava por completo seu modo de vida. Coube aos mercantilistas elabo- rarem tentativas de compreender a nova realidade, chamada por muitos de modernidade. Os escritores mercantilistas, em geral, se debruçavam sobre temas eco- nômicos. É por isso que muitos autores e historiadores os consideram os pri- meiros economistas. O objetivo central dos escritos mercantilistas era com- preender no que consistia a riqueza de um país. Com a correta conceituação da riqueza, além de poder-se, sem controvérsias, avaliar qual Estado nacional era o mais rico, também era possível conceber políticas econômicas que per- mitissem o enriquecimento das nações. O enriquecimento das nações não apenas significaria o enriquecimento de seus habitantes, mas o que era tão ou mais importante naquela época, aumentaria de forma exponencial seu poderio militar: quanto mais rico um Estado nacional, tanto maior e mais equipado poderia ser seu exército e sua marinha. Por extensão, maiores po- deriam ser suas conquistas de novos territórios. Nesse sentido, portanto, os mercantilistas foram realmente os ancestrais dos economistas modernos, que também hoje, elaboram e colocam em prá- tica políticas econômicas que objetivam ampliar a riqueza nacional. O que acabou caracterizando todo o arcabouço teórico dos mercantilistas e mesmo se constituindo numa espécie de estigma da teoria mercantilista, foi a conceituação de riqueza criada por eles: a riqueza consiste no estoque de metais preciosos (ouro e prata, principalmente) de que dispõe um país. Conceito de riqueza criado pelos mercantilistas Quanto maior o estoque de metais preciosos, mais rico é um país e, por extensão, sua população. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Teorias do comércio internacional 35 Conceituada a riqueza, como estoque de metais preciosos, resolvia-se a um só golpe dois problemas práticos: aquele de mensuração da riqueza re- lativa dos países e outro de como tornar um país rico. A resposta inequívoca de que a riqueza se constitui em estoque de metais preciosos, colocava aos países como única forma de se enriquecer, ampliar seus estoques de ouro e prata. Existiam na época diversas maneiras para enriquecer, ou seja, aumentar a quantidade de metais precioso que um país dispunha. Todas essas maneiras foram utilizadas, não necessariamente por um mesmo país. A primeira maneira de se conseguir mais metais preciosos é aumentando a sua produção. Para tanto, é possível tentar ampliar a produção das minas já em operação internamente ou procurar novas minas no país. A segunda maneira era procurar novas minas em outros países. Lembre- mo-nos que durante as grandes navegações, as potências europeias busca- vam encontrar novas terras para colonizar onde houvesse abundância de metais preciosos. A terceira maneira, muito utilizada por muitos países, foi o saque e a pirataria. A última maneira era a que os autores mercantilistas advogavam: o co- mércio. Como os pagamentos internacionais naquele período se davam em metais preciosos ou em moedas metálicas, quanto mais se exportasse em relação às importações, maior seria a diferença que o paísreceberia. Como essa diferença era paga em metais preciosos, os estoques desses metais aumentariam por consequência. Assim, segundo os mercantilistas, manter uma balança de comércio favorável (ou seja, manter as exportações de mer- cadorias sempre maiores que as importações) resultava em aumento do es- toque de metais preciosos, por consequência, em enriquecimento do país e da população. Por muito tempo a recomendação dos mercantilistas de se manter uma balança comercial favorável (ou, em outras palavras, superavitária) foi segui- da pelos Estados nacionais. Ela, porém, era apenas mais um expediente da crescente intervenção do Estado na vida das pessoas. A crescente intervenção do Estado na economia e em outros âmbitos da nação criou um ambiente propício ao nascimento do Liberalismo. O movi- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 36 Teorias do comércio internacional mento liberal defendia o fim da intervenção do Estado na vida da nação, argumentando que a liberdade era condição suficiente para o desenvolvi- mento econômico. Muito embora o movimento liberal tenha, aos poucos, minado as doutri- nas mercantilistas, o conceito de riqueza bem como as recomendações de política econômica que dela derivavam, continuaram dominando a política econômica das nações. A superação da teoria mercantilista passava por uma refutação de seu conceito de riqueza e de suas recomendações de política econômica. Coube a David Hume fazê-lo. A teoria do equilíbrio automático da balança comercial Partindo da suposição de que o poder de compra da moeda é inversa- mente proporcional à sua quantidade, premissa essa aceita pelos próprios mercantilistas, Hume mostrou que a quantidade de metais preciosos é indi- ferente para a riqueza do Estado nacional. Como naquela época a moeda que circulava dentro dos países era de ouro e/ou prata, cada vez que aumentava o estoque de metais preciosos (ouro e/ou prata), aumentava a quantidade de moeda em circulação. O contrário ocorria, quando o estoque de metais preciosos diminuía. Se a quantidade de metais preciosos aumenta dentro de um país, em virtude de uma balança de comércio favorável, aumentará a quantidade de moeda em circulação e portanto, haverá inflação. A conse- quente queda do poder de compra da moeda determinará um aumento da quantidade de dinheiro necessária para adquirir os produtos – o que implica dizer que se instala um processo inflacionário. Se a quantidade de metais preciosos se reduz, em virtude de um deficit na balança comercial, a quanti- dade de moeda em circulação também diminuirá, o que leva a um aumento do poder de compra da moeda, implicando que uma menor quantidade de moeda será necessária para se adquirir a mesma quantidade de produtos – e, portanto, que há um processo deflacionário em curso (HUME, 1988). Se não fosse suficiente ter mostrado que o estoque de metais preciosos é indiferente a um país, Hume ainda confronta a teoria mercantilista, ao mos- trar que os esforços para perseguir uma balança de comércio favorável eram infrutíferos e efêmeros. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Teorias do comércio internacional 37 Teoria do equilíbrio automático da balança comercial de Hume Existiam mecanismos automáticos que tratavam de compensar os esforços para ter uma balança comercial superavitária, garantindo uma tendência ao equilíbrio na balança comercial (HUME, 1988). Hume, para expor sua teoria, parte de pressupostos simplificadores: con- siderava um mundo onde só circulavam moedas de ouro e onde o papel dos bancos era desprezível. Pressupunha ademais, que toda vez que uma mercadoria era exportada, o exportador levava a quantidade de ouro que recebia como pagamento à casa da moeda para ser cunhado. Assim, a quan- tidade de moeda aumentava toda vez que o estoque de ouro aumentava dentro do país. Da mesma forma, toda vez que se importavam mercadorias, os pagamentos eram feitos em ouro e, assim, a diminuição da quantidade de ouro se refletia numa queda da quantidade de moedas em circulação. (EICHENGREEN, 2000). Para entendermos o modelo de Hume vamos supor que nosso país obte- nha um superávit em sua balança comercial com o resto do mundo. Como consequência do superávit, um fluxo de metais preciosos sairá do resto do mundo e entrará no nosso país. A entrada de ouro em nosso país causará um aumento da quantidade de moeda em circulação e, como consequência, – já que para Hume o poder de compra da moeda é inversamente proporcional à sua quantidade – haverá um aumento dos preços internamente. No resto do mundo, já que a quantidade de ouro diminuiu, ocorre o contrário: diminui a quantidade de moeda em circulação e, por consequência, se reduzem os preços (HUME, 1988). No nosso país, o aumento dos preços domésticos fará com que o resto do mundo compre menos de nossas mercadorias, o que levará a uma queda das nossas exportações. O aumento dos preços também fará com que com- premos mais mercadorias estrangeiras que agora estão mais baratas que as nacionais, o que levará, portanto, a um aumento das importações. No resto do mundo, devido à queda dos preços, ocorrerá exatamente o contrário. Aumentarão as exportações e se reduzirão as importações. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 38 Teorias do comércio internacional Esse processo tanto na economia nacional, como no resto do mundo, prosseguirá até que o superávit comercial de nosso país desapareça. Caso nesse processo a redução das exportações de nosso país e o au- mento das importações levem a um deficit na balança comercial, o contrá- rio ocorrerá. Como consequência da saída de ouro, a quantidade de moeda em circulação diminuirá e o nível de preços também. O inverso ocorre no resto do mundo: aumento da quantidade de moeda e dos preços. A queda dos preços dentro de nosso país estimulará a exportação e inibirá as impor- tações. No resto do mundo o inverso: o aumento dos preços estimulará a importação e inibirá as exportações. Novamente, o processo em curso só terá fim quando o deficit desaparecer e o equilíbrio se estabelecer na balança comercial. Dessa forma, Hume mostrou que não há razões para se tentar manter uma balança comercial favorável, já que o superávit desencadeia mecanis- mos que o eliminarão. Adicionalmente, não há razão para se temer os deficits na balança comercial, porque eles também tendem a ser corrigidos automa- ticamente (HUME, 1988). Os clássicos e a teoria das vantagens comparativas A teoria das vantagens comparativas absolutas Adam Smith (1723-1790), assim como os Mercantilistas, tinha como objeto de sua análise a riqueza nacional, como já denuncia o título de seu mais famoso livro sobre economia, publicado em 1776: Investigação Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações (SMITH, 1988). A teoria de Smith sobre o comércio exterior foi, assim, decorrência de sua análise da riqueza. Teoria da riqueza de Adam Smith A riqueza de um país depende de sua renda per capita1. Quanto maior é a renda ou produto per capita mais rico é o país. A renda per capita, por sua vez depende da produtividade do trabalho e esta da divisão do trabalho. 1 A renda per capita ou produto per capita nada mais é que a produção agregada ou a renda agregada dividida pelo número de habitantes. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Teorias do comércio internacional 39 A divisão do trabalho amplia sua produtividade e, por extensão, a renda per capita e a riqueza nacional. Isso ocorre por três razões que são explicadas por Smith (1988a, p. 19) na citação abaixo. Esse grande aumento da quantidade de trabalho que, em consequência da divisão do trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar, é devido a três circunstâncias distintas: em primeiro lugar, devido à maiordestreza existente em cada trabalhador; em segundo lugar, à poupança daquele tempo que, geralmente, seria costume perder ao passar de um tipo de trabalho para outro; finalmente à invenção de um grande número de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, possibilitando a uma única pessoa fazer o trabalho que, de outra forma, teria que ser feito por muitas. Dessa forma, é a divisão do trabalho a grande causa do aumento da ri- queza nacional e essa, por sua vez, é tanto maior quanto maior for a extensão do mercado. Não é, portanto, sem razão que os argumentos de Adam Smith sobre as vantagens do livre comércio são utilizados hoje para legitimar a globaliza- ção. Smith foi, mesmo que inconscientemente, um dos primeiros ideólogos da globalização. Nesse ponto já podemos entender a teoria do comércio internacional de Smith. Segundo ele, para que os países tenham benefícios ao participar do comércio exterior é necessário que se especializem na produção daquelas mercadorias em que possuam maior vantagem comparativa. Vantagem comparativa para Smith é produzir certa mercadoria com um custo em trabalho menor que os seus concorrentes no comércio mundial. Se especializar na produção das mercadorias em que o país possui maior vantagem comparativa, significa produzir e exportar as mercadorias que se produz com um custo mais baixo que as importadas e importar as demais. Um país, ao assim proceder, está possibilitando que seus cidadãos sempre possam consumir mercadorias ao menor preço possível2. Para Smith, todo país possui vantagem na produção de alguma mercado- ria. As vantagens que os países podem possuir na produção de mercadorias são de dois tipos, segundo ele: Vantagens naturais � – como o próprio nome permite inferir, as vanta- gens naturais são aquelas decorrentes da dotação natural de fatores, ou dos recursos naturais, como clima e solo. A França, devido a seu cli- ma, possui vantagem na produção de vinho em relação à Inglaterra. 2 É interessante notar que é esse o argumento invocado ainda hoje pelos liberais para defender o livre comércio. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 40 Teorias do comércio internacional Vantagens adquiridas � – essas vantagens, contrariamente às naturais, são aquelas que não decorrem da dotação natural, mas são desenvol- vidas. São aquelas, portanto, que advêm da especialização. Os EUA, por exemplo, adquiriram vantagem na produção de automóveis em relação ao Brasil. A argumentação de Smith sobre as vantagens do livre comércio, basean- do-se nas vantagens absolutas, comporta certos problemas percebidos por seu sucessor, David Ricardo. A teoria das vantagens comparativas relativas A versão de David Ricardo (1772-1823) à teoria das vantagens comparati- vas encontra-se no Capítulo VII, intitulado “Sobre o Comércio Internacional” da sua obra máxima Princípios de Economia Política e Tributação, publicada em 1817. Na verdade, a contribuição de Ricardo para a Teoria das Vantagens Comparativas é uma espécie de complemento à posição de Smith. Nos termos em que Smith coloca a questão do comércio internacional ele só seria vantajoso para um país para se adquirir mercadorias que não se produz internamente com um custo menor que as importadas. Assim sendo, caso um país produza tudo o que ele necessita a um preço menor que as mercadorias importadas, não haveria razões para participar do comércio internacional. Por essa lógica também, caso um país não produza internamente nenhu- ma mercadoria com um custo mais baixo que as importadas, ele deveria im- portar tudo o que consome, não produzindo nada internamente. Teoria das vantagens comparativas relativas de David Ricardo Mesmo que um país produza tudo o que necessita com um custo mais baixo que o das mercadorias importadas, seria vantajoso para o país em questão participar do comércio internacional. Basta que ele se especialize na produção da mercadoria em que ele possui maior vantagem relativa, ou seja, aquelas mercadorias em que ele tem maior vantagem (custo mais baixo) entre todas que o país produz. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Teorias do comércio internacional 41 Da mesma forma, caso um país não produza nenhuma mercadoria com custo mais baixo que as mercadorias importadas, sempre haverá vantagens em se produzir mercadorias em que a desvantagem relativa é menor. Ricardo, dessa forma, desloca a questão da origem das vantagens no co- mércio internacional dos custos absolutos para os custos relativos, ou seja, das vantagens absolutas para vantagens relativas (NAPOLEONI, 1985). Para elaborar sua concepção de vantagens relativas Ricardo parte dos se- guintes pressupostos: não há mobilidade do capital em nível internacional; � todos os países que participam do comércio internacional praticam � uma política de livre comércio. A partir desses pressupostos, podemos definir a forma de inserção dos países no comércio internacional a partir da teoria das vantagens compa- rativas da seguinte forma: cada país deve se especializar na produção da mercadoria em que tenha maior vantagem comparativa relativa, nem que para tanto tenha que importar mercadorias por um preço maior do que o produzido internamente. Para entender como um país que produz tudo o que necessita a um preço menor que as mercadorias importadas teria vantagem em participar do co- mércio internacional, utilizemos o seguinte exemplo. Vamos supor a existên- cia de dois países que produzem milho e trigo ao custo que a tabela abaixo ilustra. País Milho (1 milhão de sacas) Trigo (1 milhão de sacas) Portugal 70 h/a * 90 h/a Inglaterra 110 h/a 100 h/a *h/a = homens/ano Como podemos perceber Portugal produz milho e trigo a um custo em trabalho muito menor que a Inglaterra e, portanto, possui vantagem absolu- ta na produção tanto de milho, quanto de trigo. Assim sendo, baseando-se nas vantagens absolutas não é vantagem para Portugal importar nem milho nem trigo da Inglaterra. Para Inglaterra, porém, é vantajoso importar tanto milho como trigo de Portugal, já que ela possui desvantagem absoluta na produção das duas mercadorias. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 42 Teorias do comércio internacional Segundo Ricardo, entretanto, seria vantajoso para Portugal se especiali- zar na produção daquela mercadoria que ele possui maior vantagem relativa e importar a outra. No exemplo acima, a mercadoria na qual Portugal possui maior vantagem relativa é o milho3. Imaginemos que Portugal tem 2 000 trabalhadores. Se Portugal, seguin- do as recomendações da teoria das vantagens comparativas relativas, se es- pecializar na produção de milho, produzirá 28,57 milhões de sacas de milho ( 2000 70 = 28,57). Suponhamos que Portugal reserve metade de sua produ- ção de milho (14,28 milhões de sacas) para consumo interno, e que venda a outra metade para, com as divisas adquiridas, importar trigo. Vejamos quanto de trigo Portugal adquirirá na troca. Vamos supor que Portugal conseguirá vender seu milho ao mesmo preço que os produtores ingleses vendem milho no mercado interno da Inglaterra, ou seja, a $110,00 cada milhão de sacas. Ao vender 14,28 milhões de sacas de milho ao preço de $110,00 Portugal obterá $1.570,80 (14,28 . 110,00). Supon- do que Portugal compre trigo inglês ao mesmo preço que os produtores in- gleses o vendem no mercado interno, portanto, $100,00, Portugal importará 15,7 milhões de sacas de trigo ( 1570,80 100 = 15,70). Se Portugal utilizasse os mesmos 1 000 trabalhadores para produzir trigo eles só produziriam 11,1 milhões de sacas de trigo ( 1000 90 = 11,11). No exemplo acima a Inglaterra não obteve vantagem no comércio, pois comprou o milho ao mesmo preço que produziria internamente. Para que o comércio seja vantajoso para a Inglaterra também, bastava que Portugal vendesse seu milho por um preçoum pouco menor do que o praticado dentro da Inglaterra. Se assim o fizesse, continuaria a obter vanta- gem e a Inglaterra também obteria vantagem. A vantagem mútua daí deri- vada estimularia ambos os países a participar do comércio internacional. Modernas contribuições à teoria do comércio internacional: o Teorema Heckscher-Ohlin A teoria neoclássica do Comércio Internacional foi formulada por Bertil Ohlin, Prêmio Nobel de Economia em 1977, sob inspiração de um artigo de seu professor Eli Heckscher, que se intitulava “Efeitos do Comércio Exterior na Distribuição da Renda”, publicado em 1919. 3 A vantagem de Portugal na produção de milho (110 – 70 = 40) é maior que na produção de trigo (100 – 90 = 10). Consequente- mente, a desvantagem da Inglaterra na produção de trigo é menor. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Teorias do comércio internacional 43 Para Ohlin a Teoria das Vantagens Comparativas de Ricardo não explica a forma de inserção dos países no comércio internacional por duas razões: primeiro porque ela leva em conta a existência de um único fator de produ- ção, e segundo porque ela não leva em conta os impactos que a tecnologia exerce na produtividade do trabalho. No modelo Heckscher-Ohlin as van- tagens comparativas são influenciadas pela interação entre os recursos da nação (a abundância relativa de fatores de produção) e a tecnologia utilizada na produção (que influencia a intensidade relativa com a qual os fatores de produção são usados na produção). Teoria do comércio internacional de Heckscher-Ohlin O que vai definir a forma como um país deve se inserir no comércio mun- dial é sua dotação de fatores. Para se obter vantagens no comércio interna- cional o país deverá exportar o produto que usa de forma intensiva o fator de produção que é relativamente mais abundante domesticamente. (OHLIN; HECKSCHER, 1991) Para explicar de que forma a especialização na produção do(s) produto(s) que utiliza(m) de forma intensiva o fator de produção mais abundante do- mesticamente dá vantagens ao país no comércio internacional, Heckscher e Ohlin partem dos seguintes pressupostos: duas economias que produzem tecidos e alimentos; � dois bens (tecidos e alimentos) que utilizam dois fatores de produção � em proporções diferentes; dois fatores de produção: mão de obra e terra. � Para se produzir alimentos pode-se usar mais terra e menos trabalho (se o aluguel da terra é menor e os salários maiores) ou menos terra e mais tra- balho (se o aluguel da terra é maior e os salários menores). Para se produzir tecidos vale a mesma coisa. Para entender os efeitos que o comércio internacional causa dentro de um país, vamos primeiro supor duas economias em autarquia, ou seja, que não participam do comércio internacional. Chamaremos uma de economia doméstica e a outra de economia estrangeira. Vamos supor também que as Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 44 Teorias do comércio internacional duas economias produzem tecidos e alimentos e que, em ambas, tecido é um produto trabalho-intensivo e alimentos é terra-intensivo. Os consumi- dores dessas duas economias (a doméstica e a estrangeira), por suposição, possuem os mesmos gostos e, portanto, a mesma demanda relativa quando se defrontam com os mesmos preços relativos de dois bens. As duas eco- nomias também possuem a mesma tecnologia, de tal forma que uma dada quantidade de terras e mão de obra gera a mesma produção de tecidos e alimentos nos dois países. A única diferença entre essas economias é na dotação de fatores de pro- dução: a economia doméstica é abundante em mão de obra e a economia estrangeira é abundante em terras. Em consequência da diferença na dotação relativa de fatores de produ- ção, as duas economias produzem tecidos e alimentos em quantidades e com preços diferentes. Vejamos. Na economia doméstica, que é abundante em mão de obra, o preço do tecido, que é trabalho-intensivo, será menor que o preço dos alimentos que é terra-intensivo. Devido à diferença entre os preços relativos, a produção de tecidos também será relativamente maior que a de alimentos. Já na economia estrangeira, que é abundante em terra, o preço dos alimentos será menor que o preço dos tecidos e se produzirá mais alimentos que tecidos. Quando as duas economias começarem a comercializar entre si, cada uma acabará exportando o produto em que ela possui mais vantagem na produção, ou seja, aquele produto que utiliza de forma intensiva o fator de produção que é internamente mais abundante. Na economia doméstica, como o preço dos tecidos é menor, ela exporta- rá tecidos e importará alimentos. Na economia estrangeira ocorrerá o con- trário: ela exportará alimentos e importará tecido. Os dois países ao se inserirem no comércio internacional dessa forma, estarão assegurando a sua população o acesso aos produtos com o menor preço possível (OHLIN; HECKSCHER, 1991; KRUGMAN; OBSTFELD, 2001). Mas o comércio internacional terá também outro efeito sobre as duas economias: quando a economia doméstica e a estrangeira comercializam, há uma conversão de preços relativos, que acaba beneficiando os consumi- dores das duas economias. Na economia doméstica, a exportação de tecidos, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Teorias do comércio internacional 45 ao aumentar a demanda por sua produção, levará a um aumento dos preços do tecido. O aumento do preço estimulará um aumento da produção e uma diminuição do consumo interno – a população consumirá menos tecidos, cujo preço aumentou e mais alimentos, cujo preço diminuiu em função da oferta externa – gerando um excedente de produção de tecido para a expor- tação. Na economia estrangeira a mesma coisa acontecerá com o preço e a produção de alimentos. Assim, de acordo com o Teorema de Heckscher-Ohlin, para se obter van- tagens no comércio internacional, cada país deve se especializar na produ- ção daqueles produtos que utilizam de forma intensiva o fator de produção que é mais abundante domesticamente. Comércio internacional e a economia nacional A riqueza é o resultado de um processo que tem origem na interação entre estoques e fluxos. O fluxo de riqueza, ou seja, o fluxo de renda agrega- da depende da grandeza da demanda agregada. A demanda agregada, por sua vez, é composta pelos gastos em consumo e investimento, pelos gastos do governo e pelo saldo da balança de comércio e serviços. A Balança de Comércio e Serviços – diferença entre exportações e impor- tações de mercadorias e serviços – é importante na medida em que ela espe- lha a contribuição, negativa ou positiva, que o comércio exterior desempenha na criação da riqueza de um país. Se um país tem saldo negativo na Balança de Comércio e Serviços, significa que seu fluxo de riqueza diminui na medida em que parte da renda gerada na produção está sendo utilizada na compra de mercadorias e serviços estrangeiros. Porém, se o saldo na Balança de Co- mércio e Serviços for superavitário, o fluxo de riqueza gerado internamente será maior, na medida em que o resto do mundo estará gastando parte de sua renda na aquisição de mercadorias domésticas. Em outros termos, supe- rávits na Balança de Mercadorias e Serviços aumentam a demanda agregada e, por consequência, o fluxo de produção e renda agregadas. Deficits na Ba- lança de Comércio e Serviços, por sua vez, reduzem a demanda agregada e, portanto, o fluxo de produção e renda agregadas. Não é à toa, portanto, que os países lutam para ampliar a sua participação no comércio internacional visando ampliar seu saldo na conta de Mercado- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 46 Teorias do comércio internacional rias e Serviços. Deficits na Conta de Mercadorias e Serviços, além de redu- zir o fluxo de riqueza nova, é sinal
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