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Fundamentos e Metodologia de História e Geografia Autor: Lindolfo Anderson Martelli Tema 09 As Fontes Históricas e o Ensino da História Tema 10 O Ensino de História e a Cultura Material Índice Índice Tema 09: As Fontes Históricas e o Ensino da História 4 Tema 10: O Ensino de História e a Cultura Material 26 seç ões Tema 09 As Fontes Históricas e o Ensino da História Como citar este material: MARTELLI, Lindolfo Anderson. Fundamentos e Metodologia de História e Geografia: As Fontes Históricas e o Ensino da História. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014. SeçõesSeções Tema 09 As Fontes Históricas e o Ensino da História 7 CONTEÚDOSEHABILIDADES Conteúdo Nessa aula você estudará: • A natureza das fontes históricas. • Como o historiador interpreta as fontes. • A produção histórica a partir do enredo narrativo. • Metodologia do uso das fontes históricas. • As distinções entre a narrativa histórica e a ficcional. • As contribuições dos Annales para a historiografia a partir do uso das fontes. Introdução ao Estudo da Disciplina Caro(a) aluno(a). Este Caderno de Atividades foi elaborado com base no livro: Ensino de Geografia e História, dos autores Sônia Castellar, Jerusa Vilhena, Kátia Maria Abud, André Chaves de Melo Silva e Ronaldo Cardoso Alves, editora Cengage Learning (Coleção Ideias em Ação), 2010, Livro-Texto 492. Roteiro de Estudo: Lindolfo Anderson Martelli Fundamentos e Metodologia de História e Geografia 8 CONTEÚDOSEHABILIDADES As Fontes Históricas e o Ensino da História A construção conceitual da História está pautada em fontes, embora nem sempre elas forneçam informações objetivas, precisas ou fáceis de serem confirmadas. Nem sempre é possível estabelecer uma relação entre as fontes e a época precisa em que foram produzidas ou, ainda, garantir fidedignamente a legitimidade de seu conteúdo, dadas as várias versões apresentadas como originais. Os limites impostos pelas fontes não impedem que elas sejam úteis para a História, pois cabe ao historiador levantar hipóteses, estabelecer conexões entre as informações apresentadas, levantar uma quantidade de vestígios adequada à sua pesquisa e empreender uma reconstrução imaginativa acerca do que ocorreu no passado. Visto que a história depende da capacidade do historiador de interpretar as fontes, até que ponto as explicações dadas pelos historiadores aos acontecimentos passados podem ser qualificadas de relatos objetivos, se não rigorosamente científicos, da realidade? Em que medida as memórias e leituras das falas dos sujeitos podem ser violadas ou corrompidas pelo historiador? • Estratégias para o uso das fontes históricas em sala de aula. • Recursos para interpretar e investigar a história a partir das fontes. Habilidades Ao final, você deverá ser capaz de responder as seguintes questões: • Qual a natureza das fontes históricas? • Como utilizar fontes históricas em sala de aula? • A quais procedimentos analíticos as fontes devem ser submetidas? • Quais fontes podem ser utilizadas para o ensino da História? • Por que é importante ensinar História a partir das fontes? LEITURAOBRIGATÓRIA 9 LEITURAOBRIGATÓRIA Estas questões levaram o linguista Hayden White a desenvolver uma análise sobre os fundamentos epistemológicos que norteiam a construção do discurso histórico. Para White (1978, p. 89), a interpretação entra na historiografia por pelo menos três maneiras: esteticamente (na escolha de uma estratégia narrativa), epistemologicamente (na escolha de um paradigma explicativo) e eticamente (na escolha de uma estratégia pela qual as implicações ideológicas de dada representação possam ser deduzidas para a compreensão de problemas sociais do presente). O historiador deve procurar adotar procedimentos metodológicos que lhe permitam o máximo possível de objetividade, a fim de minimizar possíveis distorções na interpretação da realidade histórica. A leitura que se faz dos vestígios produzidos no passado pode estar permeada por valores e preconceitos do presente, comprometendo a objetividade do conhecimento histórico. Para Koselleck (2007, p. 56), o conceito de verdade na história está relacionado às fontes, porém não se encontra diretamente nelas. Diferentemente do jurista, do filólogo e do teólogo, paradigmáticos na hermenêutica, o historiador não estaria interessado propriamente no que diz o texto, com vistas a uma aplicação dos sentidos à sua realidade. O historiador estaria interessado na fonte como testemunho de uma realidade existente “além dos textos”. Por muito tempo a história foi considerada produto da escrita, do registro pretensioso de ideias em suportes materiais. A partir da metade do século XX, os questionamentos sobre a natureza das fontes e da construção da história passaram a ser revistos. As múltiplas possibilidades que se abriram a partir da pluralidade tipológica das fontes permitiram considerar elementos outrora irrelevantes como peças-chave para a compreensão das ações humanas. Para proporcionar o desenvolvimento do pensamento histórico do aluno e fazê-lo se distanciar do senso comum, a Didática da História propõe procedimentos críticos em relação às fontes, analisadas como recursos para a aprendizagem do aluno; promove a utilização do raciocínio comparativo, da periodização do tempo histórico, distinto do tempo subjetivo, da maestria do grau de generalização dos conceitos, distinguindo completamente a História de seus usos. Para tanto, mobiliza conhecimentos clássicos das ciências humanas e sociais, questionamento e observação, coleta de dados, exame e descrição (BUGNARD apud CASTELAR, 2012, V). Os primeiros documentos escritos não foram criados para serem investigados a posteriori como objetos de composição histórica. A produção desses documentos estava relacionada 10 a objetivos funcionais próprios da sua natureza. Testamentos, ofícios, certidões e, até mesmo, correspondências e diários pessoais são exemplos de fontes úteis para a história que, em sua origem, não foram concebidas com pretensões históricas. Cabe ao professor reconhecer a natureza e relevância destes documentos para a investigação histórica. O historiador Carlos Bacellar desenvolveu uma tabela em que apresenta exemplos de documentos escritos utilizados como fontes históricas, separados por tipos de instituições arquivísticas de cunho público e privado. Arquivos do Poder Executivo - Correspondência. - Ofícios e requerimentos. - Listas nominativas. - Matrículas e classificações de escravos. - Listas de qualificação de votantes. - Documentos sobre imigração e núcleos coloniais. - Matrícula e frequência de alunos. - Documentos de polícia. - Documentos sobre obras públicas. - Documentos sobre terras. Arquivos do Poder Legislativo - Atas. - Registros. Arquivos do Poder Judiciário - Inventários e testamentos. - Processos cíveis. - Processos-crimes. Arquivos cartoriais - Notas. - Registro civil. Arquivos eclesiásticos - Registros paroquiais. - Processos. - Correspondências. Arquivos privados - Documentos particulares de indivíduos, famílias, grupos de interesses ou empresas. Fonte: BACELLLAR. C. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006. p. 26. LEITURAOBRIGATÓRIA 11 O historiador Roger Chartier, ao refletir sobre o sentido da história, argumenta que a tomada da consciência sobre a brecha existente entre o passado e sua representação, entre o que foi e o que não é mais e as construções narrativas que propõem ocupar o lugar desse passado permitiram o desenvolvimento de uma reflexão sobre a história, entendida como uma escritura sempre construída a partir de figuras retóricas e de estruturas narrativas que também são da ficção (CHARTIER, 2009, p. 12). Embora a história seja construída a partir dos mesmos elementos narrativos presentes na literatura, ela não pode ser considerada uma ficção ou confundida com a literatura.A distinção entre história e ficção reside no fato de que a literatura se apodera não só do passado, mas também dos documentos e das técnicas encarregados de manifestar a condição de conhecimento da disciplina histórica. Entre os dispositivos da ficção que minam a intenção ou a pretensão de verdade da história, capturando suas técnicas de prova, deve- se colocar o “efeito de realidade” operado pelos procedimentos de investigação histórica (CHARTIER, 2009, p. 26). Para Roger Chartier, a distinção entre a História e Literatura é caracterizada pela intencionalidade, dependência das fontes e compromisso com os métodos científicos de investigação. A meta do conhecimento é constitutiva da própria intencionalidade histórica. Ela funda as operações específicas da disciplina: construção e tratamento dos dados, produção de hipóteses, crítica e verificação dos resultados, validação da adequação entre o discurso de saber e seu objeto. Mesmo que escreva em uma forma literária, o historiador não faz literatura e isso devido a dupla dependência ao arquivo, e portando em relação ao passado e em relação aos critérios de cientificidade às operações técnicas próprias do seu ofício (CHARTIER, 2002, p. 98). A História busca resgatar na Literatura a mentalidade de diferentes grupos sociais de uma época; sua pretensão é investigar como as pessoas concebiam o mundo em que viviam. A literatura como fonte possibilita ao historiador compreender a mentalidade dos grupos sociais, o modo como se davam as relações de poder, os conceitos subjetivos que permeavam as ações, os preconceitos e tantos outros aspectos da mentalidade de uma época. A História Cultural “formula perguntas e coloca as questões, enquanto a Literatura serve como fonte” (PESAVENTO, 2003, p. 82 apud CASTELLAR, 2012, p. 208). Ao utilizar textos literários, o historiador pode aproximar os alunos às representações do passado. A literatura é uma fonte muito preciosa para o estudo dos discursos e das relações de poder que se estabeleciam em determinada sociedade, em determinado contexto e período histórico. Os escritos literários são formulados com vistas a dialogar com seu próprio LEITURAOBRIGATÓRIA 12 tempo. Eles abordam todos os elementos que constituem a sociedade e, portanto, são úteis para a compreensão dos elementos políticos, sociais, econômicos, culturais e psicológicos tanto do autor quanto da sociedade que ele descreve. Para Castellar (2012), o ensino da História deve levar os alunos a refletir sobre a temporalidade e as representações presentes na Literatura. Ensinar os alunos a perceberem as diferentes dimensões temporais apresentadas pela Literatura é o primeiro (e grande) passo para a efetiva construção do conhecimento histórico. Num segundo momento, o desafio reside na descrição e interpretação dessas apresentações temporais, criadas pelos autores literários em suas obras, com vistas a compreender a mentalidade da época do escrito. Por fim, provocar a análise das relações dessas representações nos seus diferentes ambitos (político, social, econômico e cultural) com o atual momento histórico possibilita a qualitativa transposição didática tão objetivada pelo ensino da História (CASTELLAR, 2012, p. 2010). Ao trabalhar com fontes escritas, o professor precisa discutir com seus alunos as bases políticas, socioeconômicas e culturais do período e da sociedade a qual a fonte remete. Devem ser identificados a autoria do texto, a época, a data ou o período em que foi escrito, o lugar e a quem se destinava tal documento. A produção historiográfica depende das fontes escritas, todavia nem sempre existe a consciência de preservação da memória e dos registros escritos. Esses registros são produzidos com uma utilidade prática e funcional, porém nem sempre se tem a consciência de que possuem valor histórico e precisam ser conservados. As instituições públicas produzem documentos escritos diariamente, mas, em razão do custo de preservação e excesso de material ou por considerá-los inúteis, tais fontes são consideradas um amontoado de papel velho e inútil que deve ser descartado. Outro problema enfrentado por historiadores está relacionado à inacessibilidade às fontes, seja por impedimento jurídico ou por interesses ideológicos e políticos. Ao se deparar com um documento escrito, Castellar (2010, p. 179) sugere que a fonte seja submetida a alguns procedimentos analíticos. Deve-se contextualizar a fonte historicamente, ou seja, analisar o documento como produto de uma época e de um lugar. Os alunos devem buscar reconhecer as intenções e finalidades do documento. Neste caso, deve-se questionar: • A qual grupo socioeconômico e/ou político o autor pertence? • O documento tem caráter privado ou institucional? • A quais pessoas ou grupos sociais e/ou políticos o documento se refere? LEITURAOBRIGATÓRIA 13 Ao analisar uma fonte, é importante reconhecer os aspectos materiais utilizados para sua compilação. Deve-se questionar: • Como o documento foi produzido? • Sob qual suporte ele foi elaborado? • Quais são suas características físicas? O documento não é inócuo e também não foi concebido despretensiosamente tal como se apresenta. Portanto, é importante que se reconheça a finalidade de sua existência. Devem ser feitos os seguintes questionamentos em relação ao documento: • Qual é o assunto central do documento? • Quais expressões sintetizam sua intencionalidade? • Quais possibilidades de solução de problemas são apresentadas ao leitor? • O documento apresenta informações de denúncia, defesa ou crítica do objeto abordado? • Quais os argumentos apresentados? Quais as razões utilizadas para construir essa opção? Em que está embasada a argumentação? Esses questionamentos mostram que é importante considerar a especificidade do contexto histórico no qual a fonte foi produzida. Feita a análise dos elementos que compõem o documento, é necessário interpretá-lo com vistas a conferir um significado a experiências, fatos, situações e subjetividades dos envolvidos. Nesta fase de interpretação é muito importante que hipóteses sejam construídas para que a partir do cruzamento de informações entre diferentes fontes seja possível desenvolver algumas considerações em cima do que foi apresentado. Também é importante considerar que a leitura das fontes, a análise que se faz sobre seu conteúdo e materialidade, não é despretensiosa, pelo contrário, é transpassada por valores, escolhas, exclusões, estruturas políticas, sociais, econômicas e culturais que influenciam a interpretação que se faz delas. Embora em sala de aula a fonte de estudos mais utilizada para a compreensão da história seja o livro didático ou paradidático, o ensino da história não deve ficar restrito a essas fontes. É importante que o professor saiba reconhecer os procedimentos adotados pelos LEITURAOBRIGATÓRIA 14 historiadores no trato com as fontes, pois, desta forma, é possível ampliar as possibilidades didáticas e tornar os conteúdos históricos possíveis de serem analisados e compreendidos a partir de outros recursos. A formação do aluno deve permitir que ele compreenda a realidade social e as ações dos homens localizadas no tempo. Para tanto, é preciso que o professor utilize fontes que permitam a construção do texto histórico que encaminhem o aluno para o desenvolvimento do pensamento histórico. A história precisa se tornar, de uma vez por todas, uma disciplina que se entenda, e não que se decore (BELLOTTO, 2006, p. 246). A história, enquanto disciplina escolar, não tem sido ensinada apenas nas aulas específicas destinadas exclusivamente a este saber. Conteúdos históricos estão presentes em aulas de literatura, música, geografia, artes, matemática, entre outros. O caráter interdisciplinar da História permite que o conhecimento seja construído com fontes adotadas por outras disciplinas ou presentes no cotidiano dos alunos, mas que sem sempre são reconhecidas como instrumentos úteis para a construçãode conhecimentos. Um exemplo de fonte que faz parte da vida dos alunos, mas que frequentemente é subaproveitada nas aulas, é a música. Tanto o conhecimento histórico quanto a produção musical permitem explicar o presente, inventar o passado e imaginar o futuro, pois ambos adotam estratégias retóricas para narrar esteticamente os fatos sobre os quais se propõem a falar. Da mesma maneira, representam inquietudes e questões que mobilizem os homens (CASTELLAR, 2012, p. 225). Quando o professor leva para a sala de aula fontes textuais, visuais, musicais, orais, materiais de uso cotidiano, ele coloca seus alunos em contato com informações. Essas informações podem ser trabalhadas de maneira detalhada e reflexiva, a fim de permitir que os alunos relacionem seus próprios conhecimentos e experiências às informações que lhes são repassadas. Castellar (2012, p. 191) sugere que as informações repassadas aos alunos sejam contextualizadas, selecionadas, organizadas e analisadas. As fontes apresentadas aos alunos devem contribuir para que eles reflitam sobre a origem dos fatos, a fim de que compreendam aquilo que vivenciam no dia a dia. LEITURAOBRIGATÓRIA 15 LINKSIMPORTANTES Quer saber mais sobre o assunto? Então: Sites Leia o artigo: “Mas não somente assim!” Leitores, autores, aulas como texto e o ensino- aprendizagem de História, do autor Ilmar Rolhoff de Mattos. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/v11n21a02.pdf>. Acesso em: 02 jan. 2014. O artigo possibilita a compreensão das semelhanças e das diferenças entre aqueles que, ao contarem uma história, tornam-se historiadores: os escritores da história e os professores de História. Sublinhando o valor do ato de diferentes leituras para a autoria daquela Aula, sublinha-se também a importância de um texto diferente na formação de novos leitores, aos quais é oferecida, em circunstâncias e situações diversas, a possibilidade de se tornarem autores de novas identidades, construtores da cidadania e de ressignificar a memória. Acesse o Referencial de Expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora no ciclo II do Ensino Fundamental – História, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Disponível em: <http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/historia%5b1%5d. pdf>. Acesso em: 02 jan. 2014. O documento procura levar os professores a refletir e debater na escola a necessidade de inserir todos os alunos da rede municipal em uma comunidade de leitores e escritores, desenvolvendo para isso as habilidades exigidas para o domínio da linguagem escrita. Leia o artigo: Ensino e História: O uso das Fontes Históricas como ferramentas na produção de conhecimento histórico, escrito por Erica da Silva Xavier. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/ensino_e_historia_o_ uso_das_fontes_historicas_como_ferramentas_na_producao_de_conhecimento_historico. pdf>. Acesso em: 02 jan. 2014. http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/v11n21a02.pdf http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/historia%5b1%5d.pdf http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/historia%5b1%5d.pdf http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/ensino_e_historia_o_uso_das_fontes_historicas_como_ferramentas_na_producao_de_conhecimento_historico.pdf http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/ensino_e_historia_o_uso_das_fontes_historicas_como_ferramentas_na_producao_de_conhecimento_historico.pdf http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/ensino_e_historia_o_uso_das_fontes_historicas_como_ferramentas_na_producao_de_conhecimento_historico.pdf 16 LINKSIMPORTANTES O artigo trata das várias ferramentas mediadoras que auxiliam o processo de construção do conhecimento. Aborda a possibilidade de se pensar a utilização da canção enquanto documento histórico durante as aulas, pois são produções culturais, carregadas de significados, tanto de forma implícita quanto explicita. As fontes históricas não devem ser simplificadas a uma mera ilustração de conteúdos, uma vez que se traduzem em artefatos culturais repletos de intencionalidades; pelo contrário, devem assumir um papel fundamental de significação na estrutura cognitiva do aluno: demonstrar as representações que determinados grupos forjaram sobre a sociedade em que viviam, como pensavam ou sentiam, como se estabeleceram no tempo e no espaço; como servir para que o aluno seja capaz de fazer diferenciações, abstrações que o permitam fazer a leitura das distintas temporalidades. Vídeos Importantes Assista ao vídeo: O trabalho com as fontes históricas, com os comentários do historiador Dr. João Carlos de Souza (UFGD) sobre o trabalho com as fontes. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=czdgazbrZUw>. Acesso em: 02 jan. 2014. Assista ao vídeo: Entrevista Durval Muniz. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=TaKHfX4YNfU>. Acesso em: 02 jan. 2014. O historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior fala sobre a repercussão e as ideias contidas em seu livro A Invenção do Nordeste. O historiador mostra como setores da sociedade buscam representar o Nordeste de uma forma estigmatizada, buscando cristalizar a imagem de um Nordeste ruralizado. Assista ao vídeo: Morte e Vida Severina em Desenho Animado. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=rrhh_w75XMU>. Acesso em: 02 jan. 2014. Trata-se de uma versão audiovisual da obra-prima de João Cabral de Melo Neto, adaptada para os quadrinhos pelo cartunista Miguel Falcão. Preservando o texto original, a animação 3D dá vida e movimento aos personagens deste auto de natal pernambucano, publicado originalmente em 1956. Em preto e branco, fiel à aspereza do texto e aos traços dos quadrinhos, a animação narra a dura caminhada de Severino, um retirante nordestino que migra do sertão para o litoral pernambucano em busca de uma vida melhor. http://www.youtube.com/watch?v=czdgazbrZUw http://www.youtube.com/watch?v=TaKHfX4YNfU http://www.youtube.com/watch?v=rrhh_w75XMU 17 LINKSIMPORTANTES Assista ao vídeo: Arquivo Histórico de São Paulo. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=EQxUMkVMehU&list=PL916A6A43 3B651439>. Acesso em: 02 jan. 2014. O vídeo mostra o armazenamento, a conservação e o restauro de documentos públicos no Arquivo Histórico da cidade de São Paulo. Esses documentos podem se tornar fonte de pesquisa para contar a história da capital paulista, tanto do ponto de vista administrativo- legal quanto do cotidiano dos moradores. Instruções: Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão. Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas ao tema. Questão 1: Muitos professores orientam suas aulas estritamente a partir do livro didático e se esquecem de que o aluno traz consigo uma série de saberes que estão disseminados na sociedade, particulares da comunidade em que vive, do núcleo familiar e social ao qual pertence. Apresente alguns exemplos de conhecimentos relacionados à história que os alunos possuem antes mesmo de iniciarem a vida escolar. Questão 2: Os primeiros documentos escritos não fo- ram criados para serem investigados a posteriori como objetos de composição histórica. A produção desses documentos estava relacionada a objetivos funcionais próprios da sua natureza. Testamentos, ofícios, certidões e, até mesmo, correspon- dências e diários pessoais são exemplos de fontes úteis para a história que, em sua origem, não foram concebidas com preten- AGORAÉASUAVEZ http://www.youtube.com/watch?v=EQxUMkVMehU&list=PL916A6A433B651439 http://www.youtube.com/watch?v=EQxUMkVMehU&list=PL916A6A433B651439 18 sões históricas. Essas fontes estão à dis- posição dos historiadores graçasà preo- cupação em preservá-las, geralmente em arquivos públicos ou privados. Em relação à tipologia das fontes e seus espaços de preservação, aponte V para Verdadeiro e F para Falso e indique a sequência correta: ( ) Entre os exemplos de fontes presen- tes nos arquivos do Poder Executivo estão: correspondências, documentos de imigra- ção, matrículas de escravos, documentos policiais, documentos sobre obras públicas etc. ( ) Entre os exemplos de fontes presentes nos arquivos eclesiásticos estão: registros de batismo, registros de ordenações sacer- dotais, processos paroquiais, correspon- dências etc. ( ) Entre os exemplos de fontes presen- tes nos arquivos do Poder Judiciário estão: inventários, testamentos, processos de di- vórcio, processos-crime etc. ( ) Entre os exemplos de fontes presentes nos arquivos privados estão: fotografias, correspondências, licitações públicas, atas de audiências públicas. ( ) Entre os exemplos de fontes presentes nos arquivos cartoriais estão: fotografias familiares, correspondências, jornais, xilo- gravuras. a) V – V – F – F – F. b) V – V – V – F – F. c) V – V – F – V – F. d) F – V – V – F – F. e) V – F – V – F – F. Questão 3: Ao se deparar com um documento escri- to, Castellar (2010, p. 179) sugere que a fonte seja submetida a alguns procedi- mentos analíticos. Deve-se contextualizar a fonte historicamente, ou seja, analisar o documento como produto de uma época e de um lugar. Aponte a alternativa que não condiz à postura do historiador: a) O historiador busca saber quem é o autor da fonte. b) O historiador pretende descobrir como o documento foi produzido. c) O historiador procura saber as características físicas da fonte. d) O historiador só reconhece como verdadeiras as fontes escritas. e) O historiador procura entender como o documento foi produzido. AGORAÉASUAVEZ 19 Questão 4: As Diretrizes Curriculares Nacionais bus- cam aproximar as disciplinas, com vistas a desenvolver a interdisciplinaridade. Para o ensino da História, isto significa que: a) Ao ensinar conteúdos históricos, é possível trabalhar aspectos geográficos, filosóficos, biológicos, literários, musicais, entre tantos outros. b) A História desenvolve análises sobre as demais disciplinas. c) A interdisciplinaridade só é possível em ciências com afinidades eletivas. d) A História sempre dependeu dos conhecimentos de outras ciências para compor suas narrativas. e) Disciplinas específicas como Matemática, Física e Química limitam a interdisciplinaridade. Questão 5: O livro didático, que congrega o resultado das pesquisas científicas, não deve ser o único instrumento para o ensino de Histó- ria. Embora ele tenha um espaço privilegia- do na sala de aula, não pode ser considera- do o espaço que congrega toda a História. Sua utilização deve ser feita a partir da lei- tura crítica, em diálogo com outras fontes de estudo, tais como acervos de museus e arquivos, livros não didáticos, produção literária e artística, relatos orais, artefatos da cultura material, por exemplo. Em sala de aula, as fontes precisam ser ampliadas, contempladas, criticadas e revistas. O pro- fessor deve ter uma relação crítica, nun- ca de submissão ao livro de História, que, como todo texto, toda fonte, merece ser questionado, problematizado e amplamen- te explorado com os alunos, pois o concei- to de verdade histórica não está circunscri- to ao conteúdo exposto nos livros. A partir disso, pode-se concluir que: a) O livro didático apresenta todas as informações necessárias para que o ensino da história seja significativo ao aluno. b) Todas as fontes necessárias para o ensino da História podem ser levadas para dentro da sala de aula, a partir do livro didático com suas ilustrações e informações científicas. c) Toda informação apresentada no livro didático deve ser considerada legítima e válida para o desenvolvimento da consciência histórica, pois foi aprovada por historiadores competentes na área. d) O livro didático não pode ser visto como a única fonte capaz de produzir conhecimento histórico, tal como toda fonte, ele precisa ser questionado e problematizado. AGORAÉASUAVEZ 20 e) As fontes que o professor leva para a sala de aula servem para comprovar as informações presentes no livro didático. f) O livro didático apresenta informações parcialmente verdadeiras, daí a necessidade de complementar o conteúdo com outras fontes. Questão 6: Atualmente, a história não pode ser apre- sentada simplesmente como um conjunto de informações a serem decoradas, mais deve, sim, ser um campo de conhecimento a ser aprimorado e interpretado. No ensino Infantil, os conteúdos históricos devem pri- vilegiar fontes diversas. Apresente exem- plos de fontes que podem ser trabalhadas para o ensino de história na Educação In- fantil. Questão 7: Visto que a história depende da capacida- de do historiador de interpretar as fontes, até que ponto as explicações que os histo- riadores dão sobre os acontecimentos pas- sados podem ser qualificadas de relatos objetivos da realidade? Questão 8: Embora a história seja construída a partir dos mesmos elementos narrativos presen- tes na literatura, ela não pode ser consi- derada uma ficção ou confundida com a literatura. Explique por que a história não pode ser confundida com a ficção literária. Questão 9: Muitos professores enfrentam dificuldades para ensinar história nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em razão da dificul- dade de levar o aluno a compreender a complexa e abstrata noção de tempo. “A formulação curricular associada à noção de tempo considera que alunos de 7 a 11 anos, no estágio das operações intelectu- ais concretas, não estão em condições de uma aprendizagem do conhecimento his- tórico” (PINSKY, 1997, p. 75). Quais as implicações pedagógicas relacionadas ao problema do despreparo dos professores em trabalhar o conceito de tempo com os alunos? Questão 10: No século XX, os questionamentos sobre a natureza das fontes e a construção da his- tória passaram a ser revistos. As múltiplas possibilidades que se abriram a partir da pluralidade tipológica das fontes permitiram considerar elementos outrora irrelevantes como peças-chave para a compreensão das ações humanas. Explique quais foram as mudanças em relação à compreensão das fontes. AGORAÉASUAVEZ 21 Neste tema, você estudou sobre a natureza das fontes históricas, analisando as formas de interpretação e utilização em sala de aula. Você estudou também a distinção entre a narrativa histórica e a narrativa literária, compreendendo que o compromisso com as fontes é inerente à prática historiográfica. Você também compreendeu como é importante construir atividades que adotem fontes diversificadas para o ensino da história. Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de acessar sua ATPS e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons estudos! CAIMI, Flávia Heloisa. Por que os alunos (não) aprendem História? Reflexões sobre ensi- no, aprendizagem e formação de professores de História. Tempo, Niterói, v. 11, n. 21, ju- nho, 2006. CASTELLAR, Sonia et al. Ensino de Geografia e História. São Paulo: Cengage, 2012. FONSECA, Selva G. (Org.) Ensino fundamental: conteúdos, metodologias e práticas. Campinas: Átomo & Alínea, 2009. MATTOS, Ilmar Rohloff. “Mas não somente assim!” Leitores, autores, aulas como texto e o ensino-aprendizagem de História. Tempo, Niterói, v. 11, n. 21. jun. 2006. ROCHA, Antonio Penalves. F. Braudel: tempo histórico e civilização material. Um ensaio bibliográfico. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 3, jan./dez. 1995. REFERÊNCIAS FINALIZANDO 22 REFERÊNCIAS SILVA, Marcos; FONSECA, Selva G. Ensino de História hoje: errâncias, conquistas e per- das. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 31, n. 60, 2010. VASCONCELOS, José Antônio. Fundamentos Epistemológicos da História. Curitiba: Ibpex, 2009. (Col.Metodologia do Ensino de História e Geografia, v. 5) Filólogo: é o indivíduo que estuda uma língua, literatura, cultura ou civilização sob uma visão histórica, a partir de documentos escritos. Contudo, a abordagem científica do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, especialmente a pesquisa da história de sua morfologia e fonologia, tradicionalmente chamada filologia, foi englobada pelo que hoje se chama Linguística Histórica. Hermenêutica: é um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode referir- se tanto à arte da interpretação quanto à teoria e ao treino de interpretação. A hermenêutica moderna, ou contemporânea, engloba não somente textos escritos, mas também tudo o que há no processo interpretativo. Isso inclui formas verbais e não verbais de comunicação, assim como aspectos que afetam a comunicação, como proposições, pressupostos, o significado, a filosofia da linguagem e a semiótica. Paradigmático: relativo a um modelo, paradigma, que sugere um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico, com métodos e valores que são concebidos como modelo. Tipológica: estudo que busca classificar por tipos. Vestígio: indício ou sinal de coisa que sucedeu. GLOSSÁRIO 23 Questão 1 Resposta: Antes mesmo de ser inserido no espaço escolar, o aluno tem contato com muitos elementos que compõem o patrimônio material e imaterial da sociedade. Esses patrimônios compõem a riqueza e a diversidade cultural de diferentes grupos étnicos, culturas e grupos sociais, e são muito úteis para a valorização das diferentes culturais, para a desconstrução de preconceitos e promoção da tolerância e do respeito. Muitos alunos chegam às escolas com noções sobre o tempo histórico, com memórias particulares que podem ser aproveitadas para o ensino, com conceitos sobre família, comunidade, igualdade, entre outros que são úteis para o ensino da história. Frequentemente, sabem identificar datas importantes e a relação simbólica relacionada a elas, a começar pelo próprio aniversário. Questão 2 Resposta: Alternativa B. Questão 3 Resposta: Alternativa D. Questão 4 Resposta: Alternativa A. Questão 5 Resposta: Alternativa C. Questão 6 Resposta: O ensino infantil deve privilegiar conteúdos históricos por intermédio de fontes diversas, de livros didáticos em diálogo com outras fontes de estudo, como acervos de museus, arquivos, livros não didáticos, produções literárias, periódicos do cotidiano, com as próprias memórias e as das pessoas que cercam os alunos, entre outros. GABARITO 24 Questão 7 Resposta: O historiador deve procurar adotar procedimentos metodológicos que lhe permitam o máximo possível de objetividade, a fim de minimizar possíveis distorções na interpretação da realidade histórica. A leitura que se faz dos vestígios produzidos no passado pode estar permeada por valores e preconceitos do presente, comprometendo a objetividade do conhecimento histórico. Questão 8 Resposta: O conceito de verdade na história está relacionado às fontes, porém não se encontra diretamente nelas, depende de uma série de análises que perpassam inclusive a subjetividade do próprio historiador. A distinção entre história e ficção reside no fato de que a literatura se apodera não só do passado, mas também dos documentos e das técnicas encarregados de manifestar a condição de conhecimento da disciplina histórica. Entre os dispositivos da ficção que minam a intenção ou a pretensão de verdade da história, capturando suas técnicas de prova, deve-se colocar o “efeito de realidade” operado pelos procedimentos de investigação histórica (CHARTIER, 2009, p. 26). Para Roger Chartier, a distinção entre a História e Literatura é caracterizada pela intencionalidade, dependência das fontes e compromisso com os métodos científicos de investigação. Questão 9 Resposta: Em detrimento desta dificuldade, muitos conteúdos históricos são apresentados descolados do tempo. Muitos personagens históricos são apresentados de modo isolado do contexto histórico em que viveram, da sociedade a qual pertenciam. A falta de congruência entre a ação dos personagens com a realidade na qual viviam resulta em um passado separado do viver social. Quanto isto ocorre, os alunos ficam confusos, e sem a referência de tempo tendem a interpretar as ações dos indivíduos com tendências anacrônicas. A incapacidade de situarem os personagens em seus devidos períodos históricos faz com que a História seja considerada uma disciplina difícil, com tendência à universalidade, uma vez que se considera que os indivíduos agiriam de tal forma em qualquer contexto histórico, e nas avaliações os alunos tendem a interpretar os enunciados com esta visão. Questão 10 Resposta: Até a primeira metade do século XX os historiadores consideravam que as fontes estavam relacionadas aos códigos e sistemas de linguagem gráficos, tal como GABARITO 25 GABARITO a escrita. Daí a máxima que a história teria surgido com a escrita; todavia, a partir das contribuições teóricas da Nova História, todo e qualquer vestígio deixado pela humanidade passou a ser considerado objeto de investigação histórica. Desta forma, obras artísticas, pinturas, esculturas, documentos escritos nos mais variados gêneros literários, anotações, imagens estáticas ou cinéticas, vestígios materiais e arqueológicos, ou seja, toda e qualquer produção que traga informações sobre a vida humana passaram a compor o corpo de fontes históricas. seç ões Tema 10 O Ensino de História e a Cultura Material Como citar este material: MARTELLI, Lindolfo Anderson. Fundamentos e Metodologia de História e Geografia: O Ensino de História e a Cultura Material. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014. SeçõesSeções Tema 10 O Ensino de História e a Cultura Material 29 CONTEÚDOSEHABILIDADES Conteúdo Nessa aula você estudará: • O tratamento da cultura material a partir das novas abordagens metodológicas dos Annales e da Arqueologia Cultural. • A importância da subjetividade das fontes. • A cultura material na academia e nas salas de aula. • O uso da cultura material como fonte para o ensino de História. • A leitura da cultura material. Introdução ao Estudo da Disciplina Caro(a) aluno(a). Este Caderno de Atividades foi elaborado com base no livro: Ensino de Geografia e História, dos autores Sônia Castellar, Jerusa Vilhena, Kátia Maria Abud, André Chaves de Melo Silva e Ronaldo Cardoso Alves, editora Cengage Learning (Coleção Ideias em Ação), 2010, Livro-Texto 492. Roteiro de Estudo: Lindolfo Anderson Martelli Fundamentos e Metodologia de História e Geografia 30 CONTEÚDOSEHABILIDADES O Ensino de História e a Cultura Material As diferenças na relação social estabelecida em diferentes gerações com os objetos criados e produzidos pelos seres humanos impulsionam a refletir a respeito da dimensão histórica da cultura material no cotidiano. As mudanças e permanências dos objetos, os sentidos atribuídos a eles, seus diferentes usos ao longo do tempo, ou seja, a maneira como os indivíduos se relacionam com a cultura material representa, às diversas ciências humanas, um rico material de estudo da constituição cultural das sociedades. No século XIX surgiram novas ciências, como a Arqueologia, a Paleontologia e a Antropologia, que lançaram um olhar direcionado à diversidade material produzida pelos seres humanos, com o propósito de estudar a construção cultural. Os historiadores perceberam que os artefatos que os seres humanos criam, produzem, utilizam e consomem dizem respeito não só à sua trajetória histórica, mas também à construção de sua identidade. Entre os diferentes tipos de fontes históricas, a cultura material revela-se uma das mais antigas, pois é anterior ao desenvolvimento da escrita. No entanto, sua utilização pela ciência com o propósito de construir a História ocorreu somente a partirda emergência dos métodos científicos de análise histórica. Habilidades Ao final, você deverá ser capaz de responder as seguintes questões: • O que é cultura material? • Como utilizar fontes da cultura material para o ensino de História? • Qual a relação entre a Arqueologia e a História? • Existe objetividade nas fontes? LEITURAOBRIGATÓRIA 31 LEITURAOBRIGATÓRIA O olhar da historiografia para o horizonte da cultura material leva, inicialmente, ao desvelamento de três etapas de concepção de um objeto (projeto, processo e produto). Cabe à história realizar o caminho inverso: do produto final (o objeto e sua utilização) tentar entender como foi concebido (quais materiais, etapas de fabricação, instrumentos utilizados para a sua execução, recursos técnicos e tecnológicos, entre outros – elementos inerentes ao processo) e para quais finalidades foi pensado, isto é, para satisfazer quais necessidades, seja de um grupo social, seja da sociedade (etapa inerente à concepção da ideia, ao projeto) (CASTELLAR, 2012, p. 273). As contribuições teóricas promovidas pela Nova História francesa, no que diz respeito à cultura material, são expressivamente significativas aos estudos da Arqueologia, da História da Arte, da História Local e História dos Costumes. A retomada dos estudos sob um novo olhar contribuiu para superar modelos epistemológicos de compreensão da história tradicional, que em áreas como a Arqueologia refletia diretamente na forma como as fontes eram interpretadas e legitimadas. Anteriormente, a Arqueologia era encarada como adequada para as sociedades que produziram fontes a partir da escrita; quando eram ágrafas, a preocupação recaía, sobretudo, nos elementos estéticos, de cunho artístico. A visão tradicional de História compreendia a Arte a partir das produções de grandes personagens, de estilos considerados mais significativos, e colocava à margem das pesquisas arqueológicas a História Local e dos Costumes. A partir das discussões levantadas pelos historiadores da Nova História, o olhar sobre as fontes foi ampliado, pois conseguiram propor métodos de investigação histórica que superaram as hierarquias da erudição clássica e suas compartimentações. Embora as pesquisas tenham dado um salto qualitativo no que diz respeito ao tratamento dado às fontes, até meados da década de 1970 as análises privilegiavam principalmente os projetos políticos e sociais a partir do viés econômico, com forte influência das teorias marxistas. A História Social inglesa, de heterodoxa inspiração marxista, deu grande destaque à ação de grupos populares e a seu cotidiano, a múltiplos suportes documentais e ao diálogo presente/ passado. A segunda metade do século XX foi marcada por uma mudança muito significativa na forma como a cultura material passou a ser compreendida, e as contribuições teóricas da chamada Nova História Cultural francesa refletiram principalmente no que diz respeito ao caráter da Arqueologia enquanto disciplina. A busca por artefatos, pelos vestígios da cultura material permaneceu como uma das preocupações da Arqueologia, todavia, a pesquisa arqueológica não se restringia somente às escavações, pois, ao assumir os critérios científicos que se sustentam na reflexão metodológica e teórica, reconheceu que os artefatos podiam 32 trazer ricas contribuições para o entendimento dos aspectos culturais da sociedade a qual pertenciam. Embora a escavação seja importante, visto que é responsável pela produção de novas documentações arqueológicas, ela passou a ser rigorosamente analisada levando em consideração não somente sua materialidade, mas também muitas outras relações que, amparadas por outras áreas do conhecimento científico, como a História, a Geografia, a Psicologia, Antropologia, resultavam em boas análises sociais e culturais. O professor Pedro Paulo Funari argumenta que as técnicas de escavação não são culturalmente neutras, pelo contrário, por meio do uso das técnicas é possível diagnosticar um conjunto de questões metodológicas que denotam um viés teórico e político definido, ou seja, histórico-culturais, processualistas e contextuais que encaminham seus trabalhos segundo metodologias com intenções políticas bem demarcadas (FUNARI, 2005, p. 58). Nos últimos anos, os estudos que buscam a cultura material como fonte têm crescido muito no mundo acadêmico. Nas últimas décadas, a arqueologia ganhou espaço como campo teórico e metodológico em diálogo com outros campos científicos. Para Funari (2005, p. 33), esta emergência dos estudos que adotam a cultura material como fonte se deve às contribuições dos estudos culturais. Tal como a Nova História Cultural, a arqueologia é uma disciplina que não pode estabelecer qualquer verdade como se detivesse em seu ofício um caráter comprobatório. Portanto, é importante estar ciente de que a arqueologia precisa dialogar, e não impor objetivamente qualquer fato. Admitindo-se que os arqueólogos se valham de seu ofício como discurso, é importante perceber que, no interior de seus limites, “cada disciplina reconhece proposições verdadeiras e falsas; mas ela repele, para fora de suas margens” (FOUCAULT, 2008, p. 33), mesmo porque uma disciplina não pode ser considerada um princípio de coerência e de sistematicidade. As discussões sobre o uso da cultura material pela História levam em consideração que a atividade dos arqueólogos não é dotada de objetividade. Tal como as demais ciências humanas, encontram-se dentro de um caráter discursivo no qual a atividade arqueológica também está inserida dentro de relações de poder. Neste sentido, a leitura que se faz dos vestígios deixados pelo homem passa pela interpretação de profissionais como os arqueólogos e historiadores, os quais estão inseridos em embates políticos e culturais na sociedade em que vivem. A consciência destas influências é em parte tributária às obras de Foucault, que levam em consideração o caráter subjetivo do sujeito na construção de discursos que pretendem exercer um “efeito de verdade” na sociedade. Os estudos que adotam a cultura material como fonte precisam compreender a sociedade em seu caráter LEITURAOBRIGATÓRIA 33 heterogêneo, fugindo dos discursos normativos. Este pensamento rompe com a ideia de que é possível encontrar, a partir da cultura material, sociedades que seguiam um só modelo ou norma de comportamento (FUNARI, 2005, p. 41). Nos últimos anos, a consciência de que as fontes históricas são na realidade discursos nos quais estão presentes elementos subjetivos é válida para todo tipo de fonte. De acordo com Siân Jones (1997, p. 57), muitos arqueólogos colocam a cultura material como um tipo de fonte dotado de objetividade. Esta abordagem procura anular as questões subjetivas e acaba criando a ilusão de que a arqueologia teria um status de supremacia sobre as demais fontes. Para Funari (2005, p. 33), as fontes, sejam elas arqueológicas ou históricas, são dotadas de subjetividade, caso contrário, não seria possível compreender os contextos culturais nos quais as pessoas viveram. Autores como Stuart Hall chamaram a atenção para o caráter subjetivo das fontes e apontaram que elas devem ser consideradas pelo pesquisador sob uma análise crítica, pois tanto artefatos quanto textos podem ser lidos sob os mesmos referenciais de cientificidade. Para Jones (1997), uma vez que a subjetividade é reconhecida, os documentos podem fornecer importantes informações sobre os contextos culturais de uma sociedade. A arqueologia depende de suportes teóricos de várias áreas das ciências humanas, entre as quais a história, sua principal interlocutora, sendo que por muito tempo ela foi considerada, dentro da tradição acadêmica, uma vertente da história. Atualmente, a arqueologia estuda “a totalidade material apropriada pelas sociedades humanas, como parte de uma cultural total, material e imaterial, sem limitações de caráter cronológico” (FUNARI, 1988, p. 11). Neste empreendimento, está cada vez mais vinculadacom a história, mas dialogando com outras áreas das ciências humanas, como a sociologia, a antropologia, a psicologia. Embora esses diálogos sejam estabelecidos, nem a história nem a arqueologia possuem um caráter de atestar os fatos ou a finalidade de comprovar ou confirmar algo. Frequentemente, o que se percebe é que os dados obtidos da cultura material podem tanto complementar o que a história colocou tradicionalmente como “verdade” quanto contradizer estas informações (FUNARI, 2005, p. 33). Os debates sobre cultura material e História perpassam tanto a pesquisa acadêmica quanto o Ensino Médio e Fundamental. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais de História, tais vínculos foram evocados a partir da Nova História francesa e da História Social inglesa, mesmo que de forma ligeira, além de enfatizar pouco, ou nem sequer registrar, a importância de se problematizar o presente de que se fala historicamente. O historiador inglês Peter LEITURAOBRIGATÓRIA 34 Burke alerta que a maioria dos estudos históricos sobre cultura material está relacionada ao clássico “trio de temas”, alimentos, vestuário e habitação, com grande ênfase à história do consumo. Tradicionalmente, os historiadores culturais atribuíram menos atenção à cultura material do que às ideias, deixando aquele campo aos historiadores econômicos, com influências teóricas do marxismo. Entretanto, nos últimos anos, muitos historiadores culturais voltaram- se para o estudo da cultura material, aproximando-se da arqueologia e de curadores de museus, especialistas da história do vestuário, do mobiliário, das religiões, entre outros temas. Um exemplo dessa aproximação pode ser dado a partir da obra La culture dês habits (1989), do historiador francês Daniel Roche, que se debruçou sobre fontes da cultura material, como o vestuário, e desenvolveu uma análise complexa sobre o comportamento e a mentalidade das pessoas durante o período da Revolução Francesa (BURKE, 2004, p. 91-92). No plano da História Imediata, muitos exemplos de Cultura Material encontram-se na própria sala de aula, no espaço escolar, na vizinhança, nos corpos humanos, roupas, edifícios, ruas, móveis, equipamentos esportivos, alimentos, instrumentos de trabalho, entre tantos outros. A cultura material está acessível não somente em museus, sítios arqueológicos e espaços de memória, ela está presente em todos os artefatos do cotidiano, nos livros didáticos convencionais que costumeiramente apresentam fotografias e representações pictóricas. A História Imediata, por sua vez, oferece um torrencial de possibilidades temáticas e documentais. A utilização da cultura material no ensino de História proporciona várias frentes de estudos, como a investigação das características físicas dos artefatos; seu percurso de construção; suas mudanças e permanências de função, utilização, estética e valorização ao longo do tempo; e compreensão de aspectos de diferentes ordens da sociedade. Cabe ao professor construir, juntamente a seus alunos, um espaço de interatividade com os objetos que os cercam, para que, por meio deste olhar, possam perceber que o documento histórico é um suporte de informação (CASTELLAR, 2012, p. 276). O estudo da História a partir da cultura material deve conduzir os alunos para a historicidade das relações sociais concretas em que se veem envolvidos. Neste sentido, o mundo material apresenta-se como meio privilegiado de concretização dessas relações e, portanto, é um elemento importante para pensar e questionar os mecanismos de alienação e submissão tanto materiais como ideológicos. O morro, antes de ser enredo de escola de samba, são LEITURAOBRIGATÓRIA 35 as ladeiras de terra, os barracos com seus tetos de zinco, seus utensílios domésticos, seus varais com roupas secando... É a parir do concreto quotidiano que se pode compreender e criticar as próprias práticas (FUNARI, 1999 apud CASTELLAR, 2012, p. 278). Este procedimento privilegia a construção da consciência histórica nos alunos, de forma a torná-los agentes de seu próprio pensamento à medida que interpretam os artefatos que os cercam e/ou que lhe são apresentados diariamente nos sistemas midiáticos, não somente por seu aspecto utilitário, mas também pelo caráter ideológico embutido nesses objetos. A leitura de artefatos deve contemplar metodologias que levem o aluno a entender conceitos históricos a partir da análise de artefatos, de textos ou da leitura consciente de documentos materiais, como filmes, pinturas, dramatizações etc. A leitura histórica pode ser realizada a partir de eixos temáticos, tais como relações de trabalho, propriedade privada, identidade e diversidade cultural, relações de poder, cidadania, entre outros. Para realizar estas atividades, Castellar (2012, p. 282) sugere que os alunos discutam a pluralidade de ideias, como: • Relação da “biografia do artefato” – seu percurso histórico – com a biografia de uma pessoa ou da sociedade na qual o objeto se originou. • Diferentes apropriações dos artefatos por parte das sociedades ao logo do tempo. • Uso ideológico dos artefatos com vistas à aquisição e/ou manutenção do poder de várias ordens (político, econômico, cultural) em uma sociedade. • Presença de artefatos que indiquem conflitos entre diferentes grupos sociais. • Relação das instituições públicas e privadas com o patrimônio material da sociedade (diferença no cuidado dos artefatos produzidos pelas diversas classes sociais). • Diversas repercussões locais e globais do uso da tecnologia no aprimoramento dos artefatos. O estudo do meio é uma excelente estratégia para a construção do conhecimento histórico por professores e alunos, pelo fato de unir pesquisa, contato direto com o contexto, observação e descrição. Os estudos do meio permitem que alunos e professores entrem em contato direto com elementos que formam um patrimônio cultural regional ou local (fazendas, monumentos, prédios históricos). Esse patrimônio remete a um espaço e tempo específicos e a suas formas de sociabilidade, além dos significados atribuídos a eles pelas pessoas no presente, o que alimenta a construção da memória e do imaginário (CASTELLAR, 2012, p. 241). LEITURAOBRIGATÓRIA 36 Uma das diretrizes do ensino de História propõe que sejam articulados o cotidiano, a história de vida dos alunos à história local e nacional. Por meio da cultura material disponível no dia a dia dos alunos é possível desenvolver atividades com este objetivo. Por exemplo, quando o professor proporciona que os alunos entrem em contato com utensílios domésticos, peças de roupas e instrumentos de trabalho guardados na casa dos habitantes da cidade, ele permite que os alunos analisem o modo de vida das gerações anteriores e atuais, das transformações pelas quais a cidade passou e as razões dos usos e desusos dos artefatos, entre tantas outras abordagens. Ao adotar tal estratégia de ensino, o professor consegue demonstrar ao aluno que a história é construída por pessoas, consideradas comuns, em suas práticas cotidianas. A construção do conhecimento histórico ocorre quando os alunos conseguem relacionar os artefatos com sua própria história, com a história de sua família, de sua localidade e até de seu país. Quando o aluno se apropria da ideia de que seus próprios objetos e os de sua sociedade são fontes importantes para a construção da História, está aberta a possibilidade de aprimoramento de sua consciência crítica em relação ao mundo. LINKSIMPORTANTES Quer saber mais sobre o assunto? Então: Sites Conheça o projeto desenvolvido pela professora Agnes Pereira Machado, com turmas do 3o ano do Ensino Fundamental. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/historia-cotidiano-677974. shtml>. Acesso em: 02 jan. 2014. Trata-se de um projeto que trabalha o uso da cultura material para problematizar conteúdos históricos, o qual conquistou o Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. LEITURAOBRIGATÓRIA http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/historia-cotidiano-677974.shtmlhttp://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/historia-cotidiano-677974.shtml 37 Leia o artigo: F. Braudel: tempo histórico e civilização material. Um ensaio bibliográfico. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/anaismp/v3n1/a20v3n1.pdf>. Acesso em: 02 jan. 2014. O artigo traça as principais contribuições do historiador Fernand Braudel à chamada Nova História Cultural. Leia o artigo: Além das coisas e do imediato: cultura material, História imediata e ensino de História, escrito por Marcos Silva. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/v11n21a07.pdf>. Acesso em: 02 jan. 2014. Este artigo busca refletir sobre algumas possibilidades do Ensino de História com o universo da Cultura Material e a História Imediata. Ele evoca estas problemáticas nos Parâmetros Curriculares Nacionais – História e comenta dois ensaios da coleção “História da vida privada no Brasil”, que lhe são pertinentes. Leia o artigo: Os objetos, suas características memoriais e documentais, escrito por Rafaela Nunes Ramos. Disponível em: <http://www.eeh2012.anpuh-rs.org.br/resources/anais/18/1346367462_ ARQUIVO_Trabalhocompleto.pdf>. Acesso em 02 jan. 2014. O artigo procura mostrar que a cultura material (muitas vezes enquadrada na categoria de patrimônio) sempre fez parte da dinâmica social, portanto, deve-se entendê-la não somente no seu âmbito artístico ou intelectual, mas também como um amplo sistema simbólico por meio do qual um grupo social interpreta seu presente e seu passado, codifica seus valores e organiza seus padrões estéticos, éticos e morais. Assim, os vestígios culturais podem ser utilizados como documento, como fonte de pesquisa para o levantamento de hipóteses históricas. A partir deste estudo, então, propõe-se ressaltar como se desenvolveu, ao longo do tempo, a constituição do patrimônio tal como é percebido na atualidade, as características memoriais e documentais dos objetos, além de discutir a importância que estes têm para o desenvolvimento da arqueologia, da museologia, bem como da história. Vídeos Importantes Assista ao vídeo: Narrativa histórica e memória oral. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=nxf0rUQSkJk&list=PL916A6A43 3B651439>. Acesso em 02 jan. 2014. O vídeo apresenta a experiência da historiadora Sonia Maria Freitas na constituição do acervo de memória oral do Museu da Imigração e o arquivo do CPDOC, no Rio de Janeiro. LINKSIMPORTANTES http://www.scielo.br/pdf/anaismp/v3n1/a20v3n1.pdf http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/v11n21a07.pdf http://www.eeh2012.anpuh-rs.org.br/resources/anais/18/1346367462_ARQUIVO_Trabalhocompleto.pdf http://www.eeh2012.anpuh-rs.org.br/resources/anais/18/1346367462_ARQUIVO_Trabalhocompleto.pdf http://www.youtube.com/watch?v=nxf0rUQSkJk&list=PL916A6A433B651439 http://www.youtube.com/watch?v=nxf0rUQSkJk&list=PL916A6A433B651439 38 LINKSIMPORTANTES O vídeo-documentário aborda a importância da narrativa, da história oral e de memórias pessoais para a construção da história social. Três exemplos conduzem o programa, mostrando a abrangência e as possibilidades da narrativa histórica e da memória oral. Assista ao vídeo: YAÕKWA, um patrimônio ameaçado. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=VHbPDF9dnMU>. Acesso em: 02 jan. 2014. O vídeo mostra um dos mais importantes rituais indígenas da atualidade, o Yaõkwa dos índios Enawênê Nawê, no rio Juruena no norte de Mato Grosso, que acaba de ser reconhecido como patrimônio imaterial pelo IPHAN, mas está ameaçado pela construção de um complexo de hidrelétricas. Assista ao vídeo: Educação Quilombola. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=o0m88b6y5yg&list=PL916A6A43 3B651439>. Acesso em: 02 jan. 2014. O vídeo apresenta a entrevista com a pesquisadora Luanda Rejane Soares Sito, da Unicamp. Ela responde diversas questões sobre Educação quilombola, entre elas: O que é uma comunidade quilombola? Instruções: Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão. Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas ao tema. AGORAÉASUAVEZ http://www.youtube.com/watch?v=VHbPDF9dnMU http://www.youtube.com/watch?v=o0m88b6y5yg&list=PL916A6A433B651439 http://www.youtube.com/watch?v=o0m88b6y5yg&list=PL916A6A433B651439 39 Questão 1: A História da humanidade pode ser apre- endida pelos vestígios humanos e, portan- to, ela está em todo lugar. Todavia, mui- tas escolas continuam presas em ensinar somente por meio do material didático. A partir de seus conhecimentos, explique por que é possível afirmar que a História não está só no livro didático. Questão 2: No século XVIII, o desenvolvimento cien- tífico assumiu importância crescente, pois as investigações sobre a cultura, os ves- tígios humanos, a biologia e demais ciên- cias exatas assumiram metodologicamen- te o caminho da racionalidade. No século XIX, algumas ciências foram consolidadas como disciplinas e passaram a promover investigações cada vez mais direcionadas. Entre estas ciências encontram-se a: ____________________, uma ciência que estuda a vida do passado da Terra e seu desenvolvimento ao longo do tempo ge- ológico, bem como os processos de inte- gração da informação biológica no registro geológico. _____________________, uma ciência que tem como objeto o estudo sobre o ho- mem e a humanidade de maneira totali- zante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões. _____________________, uma ciência que estuda as culturas e o modo de vida da humanidade no passado, a partir de uma análise dos vestígios materiais. Questão 3: Nas últimas décadas, a arqueologia ga- nhou espaço como campo teórico e me- todológico em diálogo com outros campos científicos. Sobre esta ciência é possível afirmar: a) A arqueologia tem como objeto de estudo todos os vestígios humanos que estão soterrados ou escondidos em cavernas e locais inexplorados. b) A arqueologia estuda a cultura material, ou seja, investiga aqueles que têm acesso à cultura e aos bens materiais. c) A história e a arqueologia diferem-se em seus objetivos, pois, enquanto uma estuda o passado da humanidade a partir da escrita, a outra estuda as sociedades ágrafas. d) A história e a arqueologia não possuem como objetivo a pretensão de comprovar os fatos. e) A arqueologia é uma disciplina que busca a objetividade em seus estudos. AGORAÉASUAVEZ 40 Questão 4: A arqueologia se propõe a estudar a totali- dade material apropriada pelas sociedades humanas, como parte de uma cultural total, material e imaterial. Para isto, ela dialoga com outros campos científicos. Entre eles estão: a) História – Filosofia – Agronomia – Biblioteconomia. b) Psicologia – História – Sociologia – Antropologia. c) Química – Astronomia – Sociologia – Antropologia. d) Ciências Sociais – Genética – Filosofia – Sociologia. e) História – Biblioteconomia – Arquivologia – Sociologia. Questão 5: O morro, antes de ser enredo de escola de samba, são as ladeiras de terra, os barra- cos com seus tetos de zinco, seus utensí- lios domésticos, seus varais com roupas secando... É a partir do concreto quotidiano que se pode compreender e criticar as pró- prias práticas (FUNARI, 1999 apud CAS- TELLAR, 2012, p. 278). A partir do enun- ciado, pode-se concluir que a arqueologia se preocupa com: a) O estudo do relevo e das formas de habitação das pessoas. b) Os elementos subjetivos presentes na cultura material. c) O estudo da história das escolas de samba e dos locais de cultura popular. d) O estudo dos mais diferentes tipos de moradia. e) Roupas, ladeiras, barracos e utensílios domésticos são os únicos elementos que podem ser trabalhados pela arqueologia nas favelas. Questão 6: A Nova História Cultural influenciousigni- ficativamente os estudos Arqueológicos, pois questionava o uso exclusivo de fontes oficiais e incorporava novas fontes, antes ignoradas, como as relacionadas à cultu- ra material. Explique como a arqueologia investigava a cultura material antes deste novo olhar sobre as fontes. Questão 7: No século XX, a ciência arqueológica mo- dificou significativamente a forma como in- terpretava os vestígios materiais. A que se referem estas mudanças? AGORAÉASUAVEZ 41 Questão 8: A visita a um museu é muito significativa ao se ensinar história. Nesta oportunidade, os alunos deixam o espaço habitual da escola e passam a ter contato com novos conhe- cimentos. Explique qual a relação existen- te entre museus e preservação da cultura material. Questão 9: A fotografia é uma fonte muito útil para a análise da cultura material. Por se tratar de um indício de algo que aconteceu no pas- sado, muitos consideram que se trata de uma prova irrefutável de verdade histórica. Explique por que esta afirmação deve ser relativizada. Questão 10: Explique qual a diferença entre as fontes da cultura material e as fontes fílmicas no que diz respeito à sua constituição como fonte. AGORAÉASUAVEZ 42 Neste tema, você aprendeu sobre a importância da cultura material como fonte para o ensino da História. Você pôde perceber que todo tipo de fonte, seja ela escrita, pictórica, oral ou material é transpassado pela subjetividade dos sujeitos que a produziram. Você ficou por dentro das discussões teóricas realizadas pelos historiadores da cultura em relação aos estudos arqueológicos. Compreendeu também a importância de se trabalhar com fontes diversas, a fim de desenvolver a consciência histórica dos alunos. Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de acessar sua ATPS e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons estudos! ANTUNES, Celso. A sala de aula de Geografia e História: inteligências múltiplas, aprendi- zagem significativa e competência no dia-a-dia. 6. ed. Campinas: Papirus, 2001. BURKE, Peter. A Escola dos Annales: 1929-1989. São Paulo: Edit. Univ. Estadual Paulis- ta, 1991. _______. O que é história cultural? 2. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. CASTELLAR, Sonia et al. Ensino de Geografia e História. São Paulo: Cengage, 2012. CERTEAU, Michel de. A operação histórica. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. Histó- ria, Novos Problemas. 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Educar pela pesquisa: formação e processos de estudo e aprendizagem com pesquisa. Revista de Ciências Humanas, Universidade Regional Inte- grada do Alto Uruguai e das Missões, Ano VIII, n. 10, 2007. ROCHA, Antonio Penalves. F. Braudel: tempo histórico e civilização material. Um ensaio bibliográfico. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 3, jan./dez., 1995. SHANKS, Michael; TILLEY, Christopher. Social Theory and Archeology. Oxford: Polity Press, 1987. SILVA, Marcos. Além das coisas e do imediato: cultura material, História imediata e ensino de História. Revista do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense - Revista Tempo, Niterói, n. 21, jul. 2006. SILVA, Marcos; FONSECA, Selva G. Ensino de História hoje: errâncias, conquistas e per- das. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 31, n. 60, 2010. VASCONCELOS, José Antônio. Fundamentos Epistemológicos da História. Curitiba: Ibpex, 2009. (Col. Metodologia do Ensino de História e Geografia, v.5). 44 Antropologia: é a ciência que tem como objeto o estudo sobre o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões. Cotidianas: que ou aquilo que se faz ou que se sucede todos os dias. Cultura material: por cultura material entende-se aquele segmento do meio físico que é socialmente apropriado pelo homem. Por apropriação social convém pressupor que o homem intervém, modela, dá forma a elementos do meio físico segundo propósitos e normas culturais. Essa ação, portanto, não é aleatória, casual, individual, mas se alinha conforme padrões, entre os quais estão inclusos objetos e projetos. Assim, o conceito pode abranger artefatos, estruturas, modificações de paisagem, como coisas animadas (uma sebe, um animal doméstico) e, também, o próprio corpo, na medida em que ele é passível deste tipo de manipulação (deformações, mutilações), ou, ainda, seus arranjos espaciais (um desfile militar, uma cerimônia litúrgica) (MENESES, 1983, p. 112 FUNARI, 2006, p. 13). Paleontologia: é a ciência natural que estuda a vida do passado da Terra e seu desenvolvimento ao longo do tempo geológico, bem como os processos de integração da informação biológica no registro geológico, isto é, a formação dos fósseis. GLOSSÁRIO 45 GABARITO Questão 1 Resposta: Deve-se reconhecer que a história pode ser apreendida por todo e qualquer vestígio material deixado pelos homens. É possível encontrar a história nas ruas, nas fachadas dos prédios, em monumentos, nos utensílios domésticos, nas roupas, na decoração das casas, entre outros. Embora o livro didático seja uma fonte muito útil e rica em informações, o ensino da história não pode se restringir a ele. A história pode ser apreendia a partir da cultura material e imaterial. É possível entender a história a partir dos hábitos, dos costumes, a partir da linguagem, das tradições religiosas, entre outros. Questão 2 Resposta: PALEONTOLOGIA, uma ciência que estuda a vida do passado da Terra e seu desenvolvimento ao longo do tempo geológico, bem como os processos de integração da informação biológica no registro geológico. ANTROPOLOGIA, uma ciência que tem como objeto o estudo sobre o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões. ARQUEOLOGIA, uma ciência que estuda as culturas e os modos de vida da humanidade no passado, a partir de uma análise dos vestígios materiais. Questão 3 Resposta: Alternativa D. Questão 4 Resposta: Alternativa B. Questão 5 Resposta: Alternativa B. 46 GABARITO Questão 6 Resposta: A Arqueologia era encarada como adequada para as sociedades que produziram fontes a partir da escrita; quando eram ágrafas, a preocupação recaía, sobretudo, nos elementos estéticos, de cunho artístico. A visão tradicional de História compreendia a Arte a partir das produções de grandes personagens, de estilos considerados mais significativos, e colocava à margem das pesquisas arqueológicas a História Local e dos Costumes. Questão 7 Resposta: A busca por artefatos, por vestígios da cultura material permaneceu como uma das preocupações da Arqueologia; todavia, a pesquisa arqueológica não se restringia somente às escavações, pois, ao assumir os critérios científicos que se sustentam na reflexão metodológica e teórica, reconheceu que os artefatos podiam trazer ricas contribuições para o entendimento dos aspectos culturais da sociedade a que pertenciam. Embora a escavação seja importante, visto que é responsável pela produção de novas documentações arqueológicas, ela passou a ser rigorosamente analisada levando em consideraçãonão somente sua materialidade, mas muitas outras relações que, amparadas por outras áreas do conhecimento científico, como a História, a Geografia, a Psicologia, a Antropologia, resultavam em boas análises sociais e culturais. Questão 8 Resposta: O museu é um espaço complexo no qual ocorrem os processos de pesquisa, guarda, conservação e comunicação à sociedade dos vestígios materiais produzidos pela sociedade. Seu papel na atualidade é definido por uma ação educativa. Os produtos da cultura material, conservados em museus, permitem que o público tenha acesso à produção humana do passado. No museu, os alunos podem conhecer a cultura material que ajuda a explicar aspectos da comunidade/sociedade de diversas épocas e dimensões. Este é um espaço em que os objetos narram histórias, cristalizam memórias que podem ajudar outras histórias, novas narrativas. Questão 9 Resposta: Embora a fotografia apresente um indício gravado de algo que aconteceu, ela precisa ser trabalhada como uma representação da realidade, elaborada a partir de valores, culturais e estéticos de seu autor. A fotografia é carregada de intenção, possui objetivos que precisam ser considerados. A “realidade” situada nas fotografias precisa ser situada em seu 47 GABARITO tempo e espaço. A fotografia pode ser um bom instrumento para que sejam comparadas imagens que retratam o passado e o presente, o que permite que sejam analisadas as mudanças históricas. Questão 10 Resposta: Apesar da tentativa de reconstituir ou explicar o passado, os filmes, sejam eles documentários ou de ficção histórica, remetem a representações e ao conhecimento histórico de seus criadores. Assim, os filmes tornam-se documentos, fontes que podem ser analisadas tanto em relação a seu conteúdo quanto em relação à sua constituição, por serem produções intencionais, produzidos com a consciência de que serão problematizados. Os vestígios humanos não foram produzidos para serem investigados a posteriori como objetos de composição histórica. Estes objetos estavam relacionados a objetivos funcionais. Deve-se ter a consciência de que as imagens são recursos narrativos construídos a partir de intencionalidades e valores, não traduzem a verdade histórica absoluta dos fatos, pois representam a interpretação humana, subjetiva dos fatos. A cultura material apresenta objetos concretos, que também são frutos de intencionalidades, porém que não foram criados para serem investigados, à época de sua produção, pois os objetos foram desenvolvidos com pretensões utilitárias. Enquanto os filmes são construídos a partir da seleção de elementos que irão compor a imagem, do som que os acompanha, da articulação destes elementos a partir da edição, procurando apresentar ideias, valores, sentidos plurais, a cultura material se apresenta tal como foi produzida, sem a intenção de orientar olhares, de interferir nos valores e sentidos dos outros ou de expor conscientemente a subjetividade dos envolvidos em sua produção.
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