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Noam Chomsky_ Quem é o dono do mundo_ - 2013-03-11

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Publicado em Esquerda (http://www.esquerda.net)
Home > Noam Chomsky: Quem é o dono do mundo?
Noam Chomsky: Quem é o dono do mundo?
Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais, podemos ver que há uma mudança do poder mundial, mas a 
direção dessa mudança é da força de trabalho para os donos do mundo: o capital transnacional, as instituições financeiras 
mundiais, diz o pensador norte-americano Noam Chomsky, entrevistado por David Barsamian, do Alternative Radio. 
David Barsamian – O novo imperialismo dos Estados Unidos parece ser substancialmente diferente da variedade 
mais antiga, uma vez que os Estados Unidos são uma potência económica em declínio e, portanto, estão vendo 
minguar seu poder e influência política.
Noam Chomsky – Eu penso que deveríamos assumir certa reserva ao falar sobre o declínio dos Estados Unidos. Foi na 
Segunda Guerra Mundial que os Estados Unidos realmente se converteram numa potência mundial. O país já era a 
maior economia do mundo muito tempo antes da guerra, mas era uma potência regional de certa forma. Controlava o 
Hemisfério Ocidental e tinha feito algumas incursões no Pacífico. Mas os britânicos eram a potência mundial.
A Segunda Guerra Mundial mudou essa situação. Os Estados Unidos converteram-se na potência mundial dominante. O 
país tinha a metade da riqueza do mundo. As outras sociedades industriais estavam debilitadas ou destruídas, enquanto os 
EUA estavam numa posição de incrível segurança. Controlavam o hemisfério, tanto do lado do Atlântico como do Pacífico, 
com uma enorme força militar.
Esse poder sofreu um declínio, sem dúvida. Europa e Japão recuperaram-se e ocorreu um processo de descolonização. Por 
volta de 1970, os EUA acumulavam cerca de 25% da riqueza do mundo; aproximadamente como era esse quadro, 
digamos, nos anos 20. Continuava a ser a potência mundial avassaladora, mas não como havia sido em 1950. Desde 
1970, essa condição está bastante estável, ainda que tenham ocorrido mudanças, obviamente.
Na última década, pela primeira vez em 500 anos, desde as conquistas espanhola e portuguesa, a América Latina 
começou a enfrentar alguns dos seus problemas. Iniciou um processo de integração. Os países estavam muito separados uns 
dos outros. Cada um tinha uma relação própria na direção do Ocidente, primeiro Europa e depois Estados Unidos. Essa 
integração é importante. Significa que não é tão fácil dominar os países um a um. As nações latino-americanas podem 
unificar-se para se defender contra uma força exterior.
O outro acontecimento, que é mais importante e muito mais difícil, é que os países da América Latina estão a começar 
individualmente a enfrentar os seus enormes problemas internos. Com os seus recursos, a América Latina deve ser um 
continente rico, particularmente a América do Sul.
A América Latina tem uma enorme quantidade de riqueza, mas está muito concentrada nas mãos de uma pequena elite, 
de perfil europeizado e branca na sua maioria, existindo ao lado de uma enorme pobreza e miséria. Há algumas 
tentativas de começar a fazer frente a esse quadro, o que é importante – outra forma de integração – e a América Latina 
está, de algum modo, a afastar-se do controlo dos EUA.
Fala-se muito da mudança de poder mundial: a Índia e a China vão converter-se nas novas grandes potências, as 
potências mais ricas?
De novo aqui, devemos guardar reserva. Por exemplo, muitos observadores comentam sobre a dívida dos EUA e o facto 
de que, grande parte dela, está nas mãos da China. Há alguns anos o Japão detinha a maior parte da dívida dos EUA, 
mas foi superado pela China. Além disso, todo o marco para a discussão sobre o declínio dos Estados Unidos é 
enganoso. Ele leva-nos a falar sobre um mundo de estados concebidos como entidades unificadas e coerentes.
http://www.esquerda.net
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Na teoria das relações internacionais, há o que se chama de escola “realista”, que diz que vivemos num mundo de estados 
anárquico e que os estados procuram o seu “interesse nacional”. Isso é, em grande parte, uma mitologia. Há alguns 
interesses comuns, como a sobrevivência. Mas, na maioria das vezes, as pessoas têm interesses muito diferentes no 
interior de uma nação. Os interesses do diretor executivo da General Eletric e do funcionário que limpa o chão da sua 
empresa não são os mesmos.
Parte do sistema doutrinário nos Estados Unidos é formado pela pretensão de que todos somos uma família feliz, que 
não há divisões de classes, e que todos estamos a trabalhar juntos em harmonia. Mas isso é radicalmente falso.
No século XVIII, Adam Smith disse que as pessoas que dominam a sociedade fazem as políticas: os “mercadores e 
manufatureiros”. O poder hoje está nas mãos das instituições financeiras e das multinacionais. Estas instituições têm um 
interesse especial no desenvolvimento chinês. De modo que, digamos, o diretor executivo da Walmart, da Dell ou da 
Hewlett-Packard, sente-se perfeitamente contente de ter uma mão de obra muito barata na China a trabalhar sob condições 
horríveis e com poucas restrições ambientais. Enquanto na China houver o que se chama de crescimento económico tudo 
está bem.
Na verdade, há um pouco de mito neste tema do crescimento económico do país. A China é, em grande medida, uma 
linha de montagem. É um exportador importante, ainda que o défice comercial dos Estados Unidos com a China tenha 
aumentado, o défice comercial com Japão, Taiwan e Coreia diminuiu. O motivo é o desenvolvimento de um sistema de 
produção regional.
Os países mais avançados da região – Japão, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan – enviam tecnologia avançada, partes e 
componentes para a China, que usa a sua força de trabalho barata para montar produtos e enviá-los para fora do país. E 
as corporações norte-americanas fazem a mesma coisa. Enviam partes e componentes para a China, onde são montadas e 
exportadas. É isso o que se chama de “exportações chinesas”, mas são exportações regionais em muitos casos e, noutros, é 
realmente um caso no qual os Estados Unidos estão a exportar para si mesmos.
Uma vez que ultrapassamos o marco dos estados nacionais como entidades unificadas sem divisões internas, podemos 
ver que há uma mudança do poder mundial, mas a direção dessa mudança é da força de trabalho mundial para os donos do 
mundo: o capital transnacional, as instituições financeiras mundiais.
Noam Chomsky é professor emérito de linguística e filosofia no Instituto Tecnológico de Massachusetts, em Cambridge 
(EUA). O seu último livro é "Power Systems: Conversations on Global Democratic Uprisings and the New Challenges 
to U.S. Empire. Conversations with David Barsamian".
Fonte: Futuro MX, via Rebelión
Publicado na Carta Maior. Tradução: Katarina Peixoto
Notícias internacional
URL de origem: http://www.esquerda.net/artigo/noam-chomsky-quem-%C3%A9-o-dono-do-mundo/27038
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21721
http://www.esquerda.net/category/not�cias/not�cias-internacional
http://www.esquerda.net/artigo/noam-chomsky-quem-�-o-dono-do-mundo/27038

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