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Tópicos de Contabilidade Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. João Paulo Lima Revisão Técnica: Prof. Me. Wellington Rodrigues Silva Souza Revisão Textual: Prof.ª Me. Luciene Oliveira da Costa Santos A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) • Estrutura conceitual do CPC; • Princípios contábeis e sua evolução no Brasil; • Apresentação das Demonstrações Contábeis – CPC 26. · Compreender a estrutura conceitual (CPC 00) da contabilidade de acordo com as normas internacionais e, também, entender como as demonstrações contábeis devem ser elaboradas com base nas diretrizes estabelecidas no CPC 26. OBJETIVO DE APRENDIZADO Caro(a) aluno(a), Para que você tenha um melhor aproveitamento nesta terceira unidade da disciplina Tópicos de Contabilidade, seguem algumas orientações de estudo. Inicialmente, é fundamental que você compreenda quais são as finalidades do CPC 00 – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro – e do CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis. Dessa forma, eu recomendo que, além de ler o conteúdo teórico da unidade, também, leia as normas em questão na íntegra. As referidas normas estão indicadas no item materiais complementares. Ao longo da leitura do conteúdo teórico, você deve atentar para as importantes discussões acerca da elaboração das demonstrações contábeis com foco nos usuários externos. Após os estudos de todos esses itens, você estará preparado(a) para fazer as atividades desta unidade. Lembre-se de não deixar para estudar e fazer as atividades na última hora do vencimento dos prazos. Crie uma rotina de estudos e seja disciplinado(a). Isso é fundamental para o seu desenvolvimento profissional. Saudações virtuais! ORIENTAÇÕES A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) UNIDADE A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) Estrutura Conceitual do CPC Em 2008, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) aprovou o pro- nunciamento conceitual básico, que era na verdade quase que uma tradução do Conceptual Framework, publicado em 1989 pelo International Accounting Stan- dards Committee (IASC), organismo normatizador antecessor do International Accounting Standards Board (IASB). Em 2011, o CPC revogou o pronunciamento adotado em 2008 e aprovou uma nova versão do pronunciamento conceitual básico, consonante à uma revisão efetua- da pelo IASB um ano antes, em 2010. Houve mudanças significativas nesta revisão, como, por exemplo, a reformulação das características qualitativas da informação. O pronunciamento conceitual tem o claro objetivo de estabelecer conceitos que visam fundamentar a preparação e a apresentação das demonstrações contábeis com foco nos usuários externos. Para tanto, são abordados, dentre outros assuntos, os objetivos das demonstrações contábeis, as características qualitativas da informação, a definição, formas de reconhecimento e critérios de medição dos elementos componentes das demonstrações contábeis (ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas), além dos conceitos de capital e manutenção de capital. Neste sentido, o pronunciamento conceitual básico difere da proposta dos demais pronunciamentos contábeis, os quais têm o objetivo de estabelecer o como fazer e não de explicar as premissas básicas e conceitos do porquê fazer. Essa estrutura conceitual, tanto aqui no Brasil quanto no exterior, surgiu após anos de tentativas de se estabelecerem princípios e conceitos gerais que pudessem orientar os profissionais de modo geral. Discorreremos sobre os tópicos desse pronunciamento conceitual básico, te- cendo comentários sobre a situação atual. Em seguida, apresentaremos uma breve evolução da estrutura conceitual básica da contabilidade até a concepção atual. Capítulos da Estrutura Conceitual: uma breve síntese O atual Pronunciamento Conceitual Básico (R1) – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro (CPC, 2011) é um documento não finalizado. Possui capítulos já previstos mas ainda não redigidos. Tal informação consta, inclusive, no prefácio do pronunciamento: O International Accounting Standards Board – IASB está em pleno processo de atualização de sua Estrutura Conceitual. O projeto dessa Es- trutura Conceitual está sendo conduzido em fases. À medida que um capítulo é finalizado, itens da Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, que foi emiti- da em 1989, vão sendo substituídos. (CPC, 2011, p. 1). 6 7 O pronunciamento está divido em quatro capítulos, apresentados na seguinte ordem: 1. Objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro de pro- pósito geral; 2. Entidade que reporta a informação (ainda não redigido); 3. Características qualitativas da informação contábil-financeira útil; 4. Estrutura conceitual (1989): texto remanescente (capítulo no qual concen- tram-se todos os textos ainda não revisados e redigidos na estrutura concei- tual atual, os quais permanecem vigentes). O Alcance O pronunciamento discorre sobre: a) O objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-fi nanceiro: ou seja, o porquê é importante preparar e divulgar adequadamente os relatórios contábeis aos seus usuários; b) As características qualitativas da informação contábil-fi nanceira útil: o capítulo discorre sobre os atributos que as informações de natureza con- tábil devem apresentar. As características, pela atual estrutura conceitual, subdividem-se em fundamentais e de melhoria; c) A defi nição, o reconhecimento e a mensuração dos elementos a partir dos quais as demonstrações contábeis são elaboradas: conceitos e critérios gerais para reconhecimento de ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas – elementos das demonstrações contábeis; e d) Os conceitos de capital e de manutenção de capital: discussão acerca do valor contábil da empresa (patrimônio líquido). Os Usuários e suas Necessidades de Informação No pronunciamento conceitual de 2008 eram previstos diversos usuários da informação contábil: investidores, empregados, credores por empréstimos, forne- cedores e outros credores comerciais, clientes, governo e suas agências e público. No entanto, a revisão de 2011 clarifica que, apesar das informações de natureza contábil serem demandadas por diversos tipos de usuários, as demonstrações pro- duzidas à luz dos pronunciamentos contábeis destinam-se, especificamente, a dois usuários da informação contábil, quais sejam: • Investidores: os acionistas (sócios) da entidade que injetam recursos e espe- ram retornos com seu investimento e, portanto, demandam os relatórios pro- duzidos pela contabilidade os quais mostram a situação econômico-financeira da entidade. • Credores: subdivididos em credores por empréstimos (geralmente bancos) e outros credores (por exemplo, fornecedores), os quais financiam as atividades 7 UNIDADE A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) da entidade e precisam de razoável segurança de que esta cumprirá com as obrigações assumidas. A visibilidade da situação geral da entidade é obtida por meio dos relatórios emanados da contabilidade, preparados sob o prisma dos pronunciamentos contábeis. Nos termos do próprio pronunciamento: O objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral é fornecer informações contábil-financeiras acerca da entidade que reporta essa informação (reporting entity) que sejam úteis a investidores existentes e em potencial, a credores por empréstimos e a outros credores, quando da tomada decisãoligada ao fornecimento de recursos para a entidade. Essas decisões envolvem comprar, vender ou manter participações em instrumentos patrimoniais e em instrumentos de dívida, e a oferecer ou disponibilizar empréstimos ou outras formas de crédito. (CPC, 2011, p. 6, grifo nosso). O Objetivo das Demonstrações Contábeis O relatório contábil-financeiro de propósito geral tem o objetivo principal de fornecer informações que subsidiem as decisões de seus usuários – especificamente os investidores e credores. A administração da empresa também pode ter interesse nas demonstrações contábeis, mas não necessariamente apoiará suas decisões nestas demonstrações, uma vez que possui acesso a informações internas. Outras partes, como governo, por exemplo, podem demandar informações de natureza contábil, mas o relatório contábil-financeiro elaborado à luz dos pronunciamentos contábeis não se destinam especificamente a estas partes, tendo seu objetivo cumprido pelo atendimento às necessidades informativas dos financiadores das atividades da entidade (os investidores e credores). Posição Patrimonial e Financeira e Performance Financeira A posição patrimonial e financeira das entidades está ligada a sua estrutura patrimonial, ou seja, aos seus ativos (aplicação dos recursos) e passivos e patrimônio líquido (origem dos recursos). Em contabilidade elementar, os ativos são comumente definidos como bens e direitos. No entanto, o pronunciamento conceitual (CPC, 2011, p. 22) traz uma definição mais completa e restrita a respeito dos ativos: “ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade”. Um bem que não gere benefício econômico futuro não pode ser registrado e apresentado nas 8 9 demonstrações contábeis como ativo – por exemplo, uma máquina de escrever, obsoleta. Da mesma forma, elementos que sejam resultados de eventos futuros não se enquadram no conceito de ativo – por exemplo, o firmamento de um contrato de compras de mercadorias no futuro não origina qualquer ativo. Também os recursos não controlados pela entidade jamais podem ser contabilizados e apresentados como ativos nas demonstrações contábeis – por exemplo, o capital intelectual. O passivo é definido pela estrutura conceitual (CPC, 2011, p. 22) como “obriga- ção presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômi- cos”. Apesar da comum percepção de que os passivos são ruins para as entidades por representarem obrigações junto a terceiros, todos eles, em contrapartida, ge- ram algum benefício econômico para a entidade – por exemplo, empréstimos ge- ram ingressos de caixa; dívidas com fornecedores geram ingressos de mercadorias ou matéria prima. O patrimônio líquido representa a riqueza líquida da entidade, ou seja, tudo que esta tem de recursos, menos o que ela tem de dívidas com terceiros. Nos termos do pronunciamento conceitual (CPC, 2011, p. 22), “patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos”. Já a performance financeira pode ser refletida (i) pelo regime de competência (accruals), o qual pressupõe o registro e evidenciação dos eventos econômicos da entidade independentemente se os recebimentos ou pagamentos em caixa foram efetuados em diferentes períodos ou (ii) pelos fluxos de caixa passados, situação em que a entidade demonstra os ingressos ou consumos efetivos de caixa em determinado período, podendo subsidiar os usuários para predição de fluxos de caixa futuros. A demonstração contábil que reflete os eventos pelo regime de competência é a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), ao passo que a demonstração contábil que retrata as mutações de caixa em determinado período é a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). Premissa Subjacente A preparação das demonstrações contábeis pelas entidades parte do pressuposto de que a entidade está em atividade e assim manter-se-á por um futuro previsível (premissa subjacente da continuidade). Isso pressupõe que, em futuro previsível, a entidade não entrará em processo de liquidação e tampouco reduzirá suas operações de forma material. Caso a entidade identifique que essa premissa subjacente não seja mais aplicável, ou seja, no futuro previsível será liquidada (casos de processo de falência) ou reduzirá materialmente suas operações, as demonstrações contábeis devem ser preparadas em bases diferentes, sendo estas bases divulgadas aos usuários da informação. 9 UNIDADE A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) As Características Qualitativas da Informação Contábil-financeira Útil Para ser útil, é imprescindível que a informação contábil-financeira seja relevante e que represente com fidedignidade o que se propõe a representar. Há uma melhoria na utilidade da informação contábil caso esta seja comparável, verificável, tempestiva e compreensível. Isso posto, temos que as características qualitativas da informação contábil podem ser divididas em dois grupos: Grupo Características Características qualitativas fundamentais (mais críticas e obrigatórias) • Relevância; • Representação fidedigna. Características qualitativas de melhoria (menos críticas e suplementares) • Comparabilidade; • Verificabilidade; • Tempestividade; • Compreensibilidade. Fonte: Do autor a partir de CPC (2011) As Características Qualitativas Fundamentais • Relevância: a informação relevante é aquela capaz de fazer diferença nas de- cisões dos usuários. Pode ser relevante a informação que tenha valor preditivo (poder de previsão futura), confirmatório (confirmação ou alteração de avalia- ções prévias passadas) ou ambos. • Representação fidedigna: como o próprio nome sugere, é a característica que pressupõe a apresentação do evento econômico da melhor forma possível a fim de refletir nas demonstrações contábeis a realidade da transação que se propõe representar. Para ser representação fidedigna, a informação deve ter três atributos. Obrigatoriamente, deve ser: • Completa: toda a informação necessária à compreensão do fenômeno retratado deve ser fornecida nas demonstrações contábeis; • Neutra: não pode haver vieses no processo de seleção e apresentação de informações, ou seja, não se deve selecionar informações positivas e omitir informações negativas à entidade; • Livre de erro: representação fidedigna não significa total exatidão nos nú- meros apresentados. Aliás, a contabilidade trabalha com muitas estimativas (por exemplo, as provisões, as perdas estimadas com créditos de liquidação duvidosa, a redução ao valor realizável líquido de estoques etc.). Uma in- formação está livre de erro “se o montante for descrito claramente e pre- cisamente como sendo uma estimativa, se a natureza e as limitações do processo forem devidamente reveladas, e nenhum erro tiver sido cometido na seleção e aplicação do processo apropriado para desenvolvimento da estimativa. (CPC, 2011, p. 15). Em outras palavras, a informação está livre de erros quando a entidade adotou os melhores e adequados procedimentos para registrá-la e divulgá-la, ainda que se trate de uma estimativa. 10 11 As Características Qualitativas de Melhoria • Comparabilidade: decisões dos usuários envolvem alternativas de investimen- tos em determinada empresa, em detrimento de outras. Neste sentido, uma informação será mais útil caso possa ser comparada com informação similar de outras entidades. A comparabilidade também pode se dar entre períodos de uma mesma entidade. Diferente das demais características qualitativas, a com- parabilidade é a única característica que requer pelo menos dois itens (duas oumais empresas distintas, ou dois ou mais períodos de uma mesma empresa). Embora pareça sinônimo de comparabilidade, a consistência refere-se ao uso dos mesmos métodos para os mesmos itens, ou seja, comparabilidade é o ob- jetivo; consistência é o meio para seu alcance. • Verificabilidade: pressupõe que dois ou mais observadores, cônscios e inde- pendentes, devam chegar a um consenso, embora muitas vezes não cheguem a um completo acordo, de que a informação apresentada retrata fidedigna- mente o que se propõe a retratar. Esta verificação pode ser direta (por exem- plo, a contagem do dinheiro físico em confronto ao saldo contábil do caixa) ou indireta (por exemplo, o recálculo do saldo final de estoques por meio de dados de saldo inicial, compras e custos, em confronto com o saldo contábil dos esto- ques). Uma informação é verificável, por exemplo, se tanto os administradores da entidade quanto seus auditores independentes chegarem ao consenso de que ela está fidedignamente apresentada. • Tempestividade: para ser útil, a informação deve ser divulgada a tempo de influenciar seus usuários em seu processo decisório. Pouco ou nada servirá aos usuários uma informação demasiadamente antiga. O processo de preparação e divulgação das demonstrações contábeis, obviamente, demanda certo tempo para que haja fidedignidade nas informações reportadas. Dessa forma, deve haver um equilíbrio entre fidedignidade da informação e tempo de preparação e divulgação das demonstrações contábeis. • Compreensibilidade: é preciso classificar, caracterizar e apresentar a infor- mação de forma clara e concisa para que esta informação seja compreensível. Isso não significa que informações complexas devam ser omitidas, pelo con- trário, por mais complexo que seja determinado fenômeno, se relevante, não há dúvida de que deve ser divulgado. A opção pela não divulgação, apesar de tornar as demonstrações contábeis mais facilmente compreensíveis, também as tornariam incompletas. Os usuários que não detém conhecimento específi- co sobre determinada informação de natureza complexa, mas julgam que esta é pertinente aos seus interesses, podem procurar consultores especializados no assunto para auxiliá-los no entendimento e avaliação da informação e con- sequente tomada de decisão. 11 UNIDADE A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) Restrição de Custo na Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-financeiro Útil A coleta, processamento, verificação e disseminação de informações por meio das demonstrações contábeis implicam em custos, repassados aos usuários da informação na forma de retornos reduzidos (por exemplo, a remuneração dos profissionais de contabilidade geram despesas para a entidade, reduzindo o lucro a ser distribuído aos acionistas). Neste sentido, é fundamental que no processo de disclosure (divulgação) das informações seja sempre analisado se o custo de produzir a informação justifica o benefício que esta informação gerará aos seus usuários. Informações relevantes e que sejam representação fidedigna da realidade eco- nômica das entidades auxiliam os usuários da informação a tomarem decisões com maior grau de confiança. No entanto, o CPC reconhece que nem toda informação que cada usuário, individualmente, repute ser relevante será divulgada nas demons- trações contábeis. Neste sentido, tais usuários poderão incorrer em custos adicio- nais para obter e interpretar tais informações. O organismo normatizador, no processo de determinação de normas que reque- rem divulgações na demonstração contábil, deve avaliar junto às partes envolvidas (entidades, auditores independentes e acadêmicos, por exemplo) a natureza e quan- tidade esperada de benefícios e custos desses padrões, justificando-os, mutuamente. As Mudanças em Relação à Antiga Estrutura Conceitual A estrutura conceitual revisada pelo IASB em 2010 e adotada pelo CPC em 2011 trouxe algumas alterações quanto a princípios de contabilidade anteriormente abordados pela estrutura conceitual aprovada pelo IASC (antigo IASB) em 1989, adotada pelo CPC em 2008. As principais alterações foram: • Retirada da prudência (conservadorismo) como característica qualitativa da informação, uma vez que seu conceito, consistente na premissa de que ativos e receitas não devem ser superestimados, e passivos e despesas não devem ser subestimados, é conflitante com a proposta de representação fidedigna a qual requer, dentre outros atributos, a neutralidade da informação. • Retirada da essência sobre a forma como característica qualitativa da infor- mação separada, uma vez que esta característica está intrínseca à característica qualitativa fundamental de representação fidedigna da informação, inserida na atual estrutura conceitual. Esta decisão baseia-se no raciocínio de que não há re- presentação fidedigna da informação se a essência econômica da transação não prevalecer sobre a sua forma jurídica, incorrendo-se em redundância se mantida a essência sobre a forma em separado da representação fidedigna. Neste senti- do, o CPC deixa claro que a representação fidedigna continua bandeira insubs- tituível na estrutura conceitual, mas está intrínseca à representação fidedigna. 12 13 A busca por princípios Desde o início da fase científica da contabilidade e com o surgimento das escolas de pensamento contábil, houve uma preocupação em se estabelecerem de forma mais consistente os conceitos, expressões e procedimentos da contabilidade. Nesta busca, certamente havia contradições conceituais, pensamentos diferentes a respeito de determinados procedimentos contábeis e visões diferenciadas sobre a natureza e abrangência da ciência contábil. A preocupação de todos os profissionais, estudiosos e pesquisadores sempre foi tornar a contabilidade mais eficaz, mais interativa com as necessidades da sociedade em cada momento. Inicialmente, alguns procedimentos divergentes não causavam tanto dano aos usuários da contabilidade. No entanto, a partir do desenvolvimento da sociedade, do crescimento das empresas, do aumento do volume de recursos envolvidos nos negócios, do aumento considerável do número de empresas, era necessário que tais divergências pudessem ser minimizadas ou mesmo dissipadas. A ideia ou busca por princípios norteadores tem esse pressuposto: é necessário haver convergência de entendimentos sobre as práticas contábeis, regras que sejam aceitas e obedecidas por todos, a fim de dar uniformidade e harmonia à ciência contábil. A palavra princípio origina-se do latim e, em nosso idioma, apresenta significados variados. Se utilizada no singular, por exemplo, pode significar “origem” ou “começo”. Mas a palavra princípio pode estar associada também à ideia de “regra a seguir”. No plural, essa palavra é geralmente entendida como “convicções” e, também, como começo, na perspectiva de regra básica e inicial da qual sobrevêm todas as demais normas. É nesse último sentido que a palavra princípios está associada à contabilidade. Os princípios são, portanto, regras gerais ou normas fundamentais e devem constituir o núcleo essencial no qual todo profissional deve vislumbrar a essência de sua ação. A busca por princípios tem sido uma preocupação constante de vários profissionais em diversos países. No entanto, mais recentemente, o IASB, por meio do pronunciamento (IAS 1), no qual se baseou o pronunciamento do CPC sobre a estrutura conceitual básica, substitui a palavra princípios por pressupostos básicos. Entretanto, a ideia do estabelecimento de princípios visava não só formar uma uniformidade terminológica, mas também criar bases para a normalização dos procedimentos contábeis a serem utilizados por todos os profissionais. Dentro dos embates filosóficos e posições conceituais muitas vezes antagônicas oriundas das váriasescolas de pensamento contábil, havia concordância de todas as escolas e dos contadores em vários conceitos e proposições contábeis, como, por exemplo, o método das partidas dobradas, o balanço, o diário, o razão, a organização dos lançamentos contábeis com os conceitos de débito e crédito etc. No entanto, a complexidade crescente das operações da empresa, fruto da industrialização e da tecnologia, traria muitas dificuldades. À medida que a sociedade evoluía, novas necessidades iam surgindo, e as dificuldades de consenso aumentando. 13 UNIDADE A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) Em muitas situações, dependendo do ponto de vista do contador ou de outros interesses, como, por exemplo, dos proprietários das empresas da época, utilizavam- se procedimentos distintos para situações idênticas. Até mesmo nos Estados Unidos, passaram a despontar como potência contábil a partir do século XX; tais divergências também estavam presentes, e alguns esforços começaram a ser feitos no intuito de eliminar variações aleatórias de procedimentos resultantes, não das peculiaridades de cada empresa, mas das diferentes ideias de financistas e executivos. Já em 1992, um renomado contador e estudioso da área contábil norte- americano, Willian Paton, publicou uma obra intitulada Accounting Theory, na qual enunciava seis postulados. Essa expressão ‘postulado’ objetivava enunciar algo mais genérico e abrangente do que a palavra ‘princípio’ e representava uma espécie de base conceitual para a realização dos próprios princípios contábeis. Eram eles: • Entidade empresarial; • Continuidade; • Equação do balanço; • Postulado monetário; • Custos; • Reconhecimento de receitas. No entanto, no cenário contábil norte-americano um importante fator na busca de uma harmonização dos princípios ocorreu a partir de uma mudança de foco da contabilidade, que passou da antiga ótica do fornecimento de informações para credores e administradores para a ênfase nos investidores e acionistas. Tal mudança reduziu um pouco a ênfase do balanço, transferindo-a para a demonstração do resultado, visto que é nesse demonstrativo que se indica o valor do lucro apurado pela companhia. Além disso, houve uma busca por certa apresentação uniforme dos lucros contábeis a fim de ser possível realizar análises e comparações entre empresas. A crise de 1929 com a queda da Bolsa de Nova York alimentou ainda mais essa busca. Em 1934, foi criada nos Estados Unidos a Securities and Exchange Commision (SEC), órgão fiscalizador independente do governo federal que tinha como objetivo supervisionar o cumprimento das leis e organização para a emissão e negociação de títulos entre as empresas na bolsa de valores. Em 1938, após estudos de renomados professores de importantes universidades americanas, originou-se um trabalho denominado A statement of accounting principles, que fazia alusão ao termo Convenção, que os autores definiam como práticas consolidadas subjacentes à preparação de balanços (HENDRIKSEN; BREDA,1999). 14 15 Em 1959, com a expressão ‘princípios de contabilidade’ geralmente aceita já sedimentada entre os contadores locais, desenvolveram-se, por meio de recomendações de um Comitê Especial de Programas de Pesquisa, atividades de pesquisa que pudessem municiar conceitualmente a contabilidade em quatro níveis: 5. Estabelecimento de postulados básicos; 6. Formulação de princípios amplos; 7. Desenvolvimento de regras ou outras normas para aplicação de princípios em situações específicas; 8. Pesquisa. No entanto, em função das várias reclamações e questionamentos de muitos contadores sob o enfoque dado ao binômio postulados/princípios à teoria da contabilidade, a Associação Americana de Contabilidade emitiu, em 1966, um novo documento intitulado A Statement of Basic Accounting Theory, conhecido pela sigla ASOBAT, e que tinha uma preocupação básica de atendimento ao usuário da contabilidade. Esse documento não relacionava as expressões postulados e princípios, mas sua proposta baseava-se em objetivos, padrões e diretrizes. Quadro 1 - Statement of Basic Accounting Theory – ASOBAT. Fonte: Hendriksen e Breda, 1999. OBJETIVOS · Tomar decisões a respeito do uso de recursos limitados, incluindo a identificação de áreas cruciais de decisão e a determinação de objetivos e metas, ou seja, decisões de acionistas, credores e outros a respeito de alternativas de investimentos; · Direcionar e controlar eficazmente os recursos humanos e materiais de uma organização, ou seja, decisões da administração em relação à empresa; · Manter e informar a respeito da gestão de recursos, ou seja, a função de custódia da administração; · Facilitar funções e controles sociais, ou seja, facilitar as operações da sociedade organizada para o bem-estar de todos. PADRÕES · Relevância, ou seja, deve estar associado, em bases úteis, à ação que visa facilitar; · Verificabilidade, ou seja, indivíduos qualificados, agindo independentemente, devem chegar ao mesmo resultado; · Ausência de viés, ou seja, não deve favorecer um conjunto de usuários para expensas de outro conjunto; · Quantificabilidade, ou seja, deve ser possível mensurar, mesmo que não necessariamente em termos monetários. DIRETRIZES · Adequação ao uso esperado; · Divulgação de relações significativas; · Inclusão de informação sobre o ambiente; · Prática uniforme dentro de cada entidade e entre entidades; · Práticas uniformes de um período a outro. 15 UNIDADE A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) Na década posterior, foi criado o FASB (Financial Accounting Standards Board), que propôs uma nova mudança de termos. Ao invés de padrões, sugeriram substituí-lo por princípios e, dessa forma, a estrutura conceitual estaria organizada em objetivos, princípios e diretrizes. Princípios contábeis e sua evolução no Brasil Desde o início do século XX, o Brasil vinha carecendo de uma normatização mais adequada sobre questões relativas aos princípios de contabilidade. Existiam algumas regras que eram aceitas por quase todos os profissionais, mas não representavam unanimidade. Pode-se afirmar que um dos fatores mais representativos para o fortalecimento e busca de um arcabouço teórico da contabilidade no Brasil foi a influência norte- americana no ensino de graduação em ciências contábeis. Além disso, a criação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nos moldes da SEC norte-americana e a edição da Lei 6.404/76, em seu artigo 177, descrito a seguir: A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. Dez anos após a emissão da Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), através da Deliberação nº 29, de 5 de fevereiro de 1986, aprovou e referendou o pronunciamento do Instituto Brasileiro de Contadores (IBRACON) sobre a estrutura conceitual básica da contabilidade. Nela, além de apresentar os objetivos da contabilidade e os cenários contábeis, discorre também sobre os princípios fundamentais da contabilidade. No escopo da Deliberação nº 29, os princípios fundamentais dividem-se em: • Postulados ambientais; • Princípios propriamente ditos; • Convenções (restrições aos princípios). Observa-se claramente a adoção de estrutura já evidenciada após anos de estudos na contabilidade norte-americana. Essa é a razão pela qual uma análise no desenvolvimento e busca de princípios naquele país éimportante para entendermos certos conceitos e práticas adotas por aqui. 16 17 Apresentação das Demonstrações Contábeis – CPC 26 O CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis – têm por objetivo definir a base para a apresentação das demonstrações contábeis, para assegurar a comparabilidade tanto com as demonstrações contábeis de períodos anteriores da mesma entidade quanto com as demonstrações contábeis de outras entidades. Para tanto, esse Pronunciamento Técnico estabelece: • Requisitos gerais para a apresentação das demonstrações contábeis; • Diretrizes para estrutura das demonstrações contábeis; • Requisitos mínimos de conteúdo das demonstrações contábeis; O referido CPC estabelece que a finalidade das demonstrações contábeis é evidenciar uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira e do desempenho da entidade, de maneira a proporcionar informação acerca da posição patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada de decisões econômicas. Para divulgação das demonstrações contábeis as mesmas devem ter uma representação fidedigna da realidade, devem ter sido elaboradas em bases anuais com dois períodos comparativos. Além disso, contas que sejam semelhantes podem ser agrupadas e por fim deve existir uma identificação da empresa e dos seus principais dados nas demonstrações contábeis apresentadas ao público em geral. Nos dados de identificação, obrigatoriamente, a empresa deve divulgar as seguintes informações: nome da entidade; entidade individual ou grupo de identidades; data de encerramento ou período coberto; moeda de apresentação e nível de arredondamento (milhares ou milhões). O conjunto de demonstrações contábeis obrigatórias, de acordo com o CPC 26, é: • Balanço Patrimonial ao final do período • Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) • Demonstração do Resultado Abrangente do período • Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) • Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) • Notas Explicativas • Demonstração do Valor Adicionado (DVA) 17 UNIDADE A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) Segundo o CPC 26, a entidade deve apresentar com igualdade de importância todas as demonstrações contábeis que façam parte do conjunto completo de demonstrações contábeis. Para que você tenha acesso aos aspectos estruturais das demonstrações contábeis abordados no CPC 26, eu lhe convido para fazer a leitura integral do referido pronunciamento. http://goo.gl/jssY1v Ex pl or Por fim, para ampliar os seus conhecimentos, eu recomendo que você acesse o caso prático da Gerdau S.A. e verifique como essa empresa elaborou as suas Demonstrações Contábeis de 2015. http://goo.gl/P0s12J Ex pl or 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Curso de contabilidade avançada em IFRS e CPC. ALMEIDA, M. C. São Paulo: Atlas, 2014. (e-book) Contabilidade avançada e internacional. MULLER, A. N.; SCHERER, L. M. 3 ed. São Paulo : Saraiva, 2013. (e-book) IFRS e CPC: guia de aplicação contábil para contexto brasileiro. OLIVEIRA, Antonio Benedito; SIQUEIRA, Dalgi. São Paulo: Saraiva, 2013. (e-book) Sites CPC 00 – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80 CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=57 19 UNIDADE A Estrutura Conceitual da Contabilidade (CPC 00) e a Apresentação das Demonstrações Contábeis (CPC 26) Referências CARVALHO, L. Nelson; LEMES, Sirlei; COSTA, Fábio Moraes da (Colab.). Contabilidade internacional: aplicação das IFRS 2005. São Paulo: Atlas, 2011. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico: CPC 00. Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos- Emitidos/Pronunciamentos COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico: CPC 26. Apresentação das Demonstrações Contábeis. Disponível em: http:// www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos ERNST & YOUNG; FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS CONTÁBEIS, ATUARIAIS E FINANCEIRAS. Manual de normas internacionais de contabilidade: IFRS versus normas brasileiras. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS CONTÁBEIS, ATUARIAIS E FINANCEIRAS; IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de contabilidade das sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. 7. ed., rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2010. SCHMIDT, Paulo; SANTOS, José Luís; FERNANDES, Luciane Alves. Contabilidade internacional avançada. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010. NIYAMA, Jorge Katsumi. Contabilidade internacional: causas das diferenças internacionais, convergência contábil internacional, estudo comparativo entre países, divergências nos critérios de reconhecimento e mensuração, evidenciação segundo FASB e IASB. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 20
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