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Curso de Odontologia Veterinária em Cães e Gatos MÓDULO III: ORTODONTIA Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 102 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO III ORTODONTIA A Ortodontia é o ramo da odontologia que trabalha com o reposicionamento dos dentes visando conforto e prevenção de doenças. Cães e gatos podem apresentar lesões na cavidade oral ou fraturas dentais em decorrência de um mau posicionamento de um ou mais dentes, levando à formação de abscessos, infecção, dor, excesso de salivação e anorexia. Por esta razão, a correção das maloclusões em animais, pouco tem a ver com uma questão puramente estética e sim, uma alternativa na melhoria da qualidade de vida desses pacientes. As causas mais freqüentes estão relacionadas à persistência de dentes de leite, hábitos mastigatórios inadequados, vícios de roer objetos duros (ossos, pedras, coco, etc.), traumas, iatrogenias e alterações adquiridas, congênitas ou genéticas. 1. INTRODUÇÃO Ortodontia é o ramo da odontologia responsável pelo estudo do posicionamento, movimentação dental e sua repercussão nas estruturas anatômicas adjacentes de forma funcional e harmônica durante o processo de oclusão. Assim como uma lesão na pele ou dores articulares, os distúrbios no posicionamento dental podem causar desconforto ou levar a problemas periodontais, perda de dentes e lacerações dos tecidos bucais em cães e gatos. A ortodontia tem como objetivo corrigir as alterações de oclusão e relações interdentais adjacentes e antagônicas. Estas alterações podem surgir durante o desenvolvimento e apresentam diferentes etiologias, tais como comprimento maxilar e mandibular, a relação entre os ramos maxilomandibulares, desenvolvimento muscular, dentições temporárias atrasadas e persistentes, polidontias, oligodontias, peças inclusas, traumatismos, hábitos, etc. Todas estas causas produzem alterações estéticas e funcionais como desgaste de dentes, dificuldades na 103 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores mastigação e suas conseqüentes alterações periodontais secundárias ao acúmulo de alimentos e placa nas áreas de contato interdentais, alterações na articulação temporomandibular (ATM), falta de espaço resultando em apinhamento e deslocamento dental. Nos cães e gatos, em relação aos seres humanos, os parâmetros fisiológicos de modificação oclusal podem variar dramaticamente de uma raça para outra. Um dos fatores será definido de acordo com o formato do tipo de crânio. Tabela 1. Resumo dos tipos craniais de acordo com seu formato nas diferentes espécies e raças de cães e gatos. Tipo de Crânio Descrição Cães Gatos Dolicocefálicos ou Dolicocéfalos Diâmetro ântero-posterior da cabeça é longo, dentes pré-molares estão bastante espaçados. Doberman Greyhounds Saluki Siamês Braquicefálicos ou Braquicéfalos Diâmetro ântero-posterior da cabeça é curto, “face achatada”, dentes pré- molares apinhados e/ou giro-vertidos. Shih-tzu Bulldog Pequinês Persa Mesocefálicos ou Mesocéfalos Maioria das raças, são diâmetros intermediários entre os dois primeiros. Poodle Spaniels Labrador SRD 104 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2008. 2. DIAGNÓSTICO Os defeitos de mordida são comuns na prática clínica de pequenos animais, principalmente em cães. Para diagnosticar defeitos na oclusão e formular um planejamento do tratamento ideal para cada caso, é fundamental que o veterinário reconheça o posicionamento correto dos dentes nas espécies domésticas. Existe uma série de fatores nos quais devemos nos concentrar no momento em que avaliamos a oclusão de nossos pacientes, embora existam particularidades anatômicas com fenótipo diferente, dependendo da raça do cão ou gato que estamos estudando. Além disso, existem conjuntos de alterações que podem ser admitidos por alguns padrões raciais. Por isso, devemos ter conhecimento das generalidades e especificações raciais estabelecidas pelas correspondentes federações caninas e felinas. As alterações no posicionamento dentário podem ser subdivididas em três categorias; maloclusões tipo I, II e III. As do tipo I são mais freqüentemente observadas; dentre elas podemos citar a mordida cruzada anterior, mordida em Figura 1. Normoclusão. Incisivos ocluindo em tesoura, posicionamento das cúspides de pré-molares superiores entre os espaços interdentais dos inferiores, 4º pré-molar superior cobrindo parcialmente 1º molar inferior e contato oclusal na relação entre os últimos molares. 105 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores pinça, rotações e apinhamento dental, deslocamento lingual de caninos inferiores, e dentes retidos ou impactados. Tabela 2. Sistema de classificação oclusal em cães e gatos. 2.1 Persistência de Dentes Decíduos Sabe-se que a queda dos dentes de leite é feita pela estimulação do permanente na região apical das raízes. Se os botões germinativos dos dentes permanentes encontrarem-se deslocados, conseqüentemente, não estarão na posição para induzir ação reabsortiva (risólize) na raiz do canino de leite, resultando em retenção deste decíduo. A persistência dos dentes decíduos é rara nos gatos. Nos cães, é vista ocasionalmente em animais de médio e grande porte e comum nos cães de raças pequenas. Esta condição deve ser evitada ao máximo, ou seja, deve-se extraí-los no momento em que os permanentes começarem a eclodir para que distúrbios de oclusão sejam evitados. Por isso, a extração do decíduo persistente deve ocorrer o mais cedo possível, favorecendo a oclusão normal. Ortoclusão Tipo 0 Maloclusão Tipo I Maloclusão Tipo II Maloclusão Tipo III Relação oclusal normal ou normoclusão Mordida cruzada anterior Mordida cruzada posterior Apinhamento dental Caninos de base estreita Persistência de decíduos Outros Braquignatismo Mandibular ou Maxilar Prognatismo Mandibular ou Maxilar 106 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2006. apical. 2.2 Caninos de Base Estreita O desvio lingual de caninos inferiores é um problema ortodôntico relativamente comum em cães jovens de várias raças. Este tipo de maloclusão é normalmente observado em animais com persistência de dentes decíduos podendo ser decorrente de uma anormalidade dental, óssea oudental e óssea. Estas más oclusões acarretam em desconforto e dor para os pacientes, podendo levar a traumatismo do palato duro, problemas periodontais, fístulas oronasais, sialorréia e dificuldade ou incapacidade de abrir e fechar a boca. O desvio lingual de dentes caninos inferiores ocorre freqüentemente em cães que tiveram retenção de dentes decíduos. Há uma discussão se os caninos de base estreita representam uma anomalia no desenvolvimento ou se são resultados dos dentes decíduos retidos. Alguns autores afirmam que este tipo de alteração ocorre, principalmente, pela suspeita genética e que sua correção é de fácil técnica. O tratamento ortodôntico indicado para casos de caninos mandibulares deslocados lingualmente é o aparelho de plano inclinado. Figura 1. Persistência de caninos inferiores e incisivos decíduos (setas amarelas) em cão. 107 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2004. apical. 2.3 Mordida Cruzada Anterior É uma alteração relativamente comum em cães. Acontece quando um ou mais incisivos superiores ou inferiores então deslocados à frente da linha de oclusão em relação aos seus antagonistas. A mordida cruzada anterior pode ser um reflexo de uma alteração genética como prognatismo ou braquignatismo mandibular ou maxilar, mas em geral estão relacionados a problemas adquiridos, como hábitos de morder objetos muito duros. Esta distinção pode ser constatada analisando-se a oclusão lateral entre pré-molares e molares. Figura 3. Caninos de base estreita evidenciados pela radiografia periapical intra- oral em um cão. Relação paralela entre os dentes e seu próprio eixo. 108 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2006. Figura 4. Mordida cruzada anterior de um mesmo cão em diferentes ângulos. A, Aspecto frontal com distalização de incisivos superiores. B, Ausência de espaço entre incisivo lateral e canino inferior. C, Vista lateral mostrando oclusão normal na relação entre pré-molares superiores e inferiores, caracterizando a maloclusão tipo I. 109 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 2.4 Mordida Cruzada Posterior Ocorre quando a linha de oclusão entre pré-molares e molares está desviada bucolingualmente, ou seja, os dentes pré-molares e molares superiores estão posicionados lingualmente em relação aos pré-molares e molares inferiores. Esta é uma condição pouco freqüente, encontrada especialmente em raças dolicocefálicas, podendo ser uma alteração congênita relacionada ao teto palatino muito estreito nessas raças ou pode estar associada a traumatismos com desvio de peças dentários. 2.5 Apinhamento Dental Incisivos apinhados são comuns em algumas raças de cães com mandíbulas pequenas e estreitas e é uma condição congênita. Nas raças braquicefálicas os dentes mais freqüentemente envolvidos nesta condição são os pré-molares e molares. Estes dentes têm uma anatomia normal, mas o espaço restrito leva à giroversão ou rotação em seu eixo ao longo da maxila ou mandíbula, levando a um enfileiramento, aglomeração ou apinhamento destes elementos. Na maioria das raças os dentes estão posicionados lado a lado. Isto favorece o mecanismo de autolimpeza bucal onde o alimento é empurrado dos dentes para a gengiva. Se os dentes não estiverem alinhados corretamente haverá uma retenção maior de resíduos alimentares na região afetada, levando ao acúmulo de placa bacteriana, inflamação e instalação da doença periodontal precocemente. 110 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2006. apical. 2.6 Prognatismo e Braquignatismo Quando falamos em prognatismo, automaticamente pensamos em animais com mandíbulas longas, mas nem sempre isto está correto. O termo refere-se à protrusão ou adiantamento e pode estar relacionado à mandíbula, maxila ou ambos. O desenvolvimento dos ossos da face, tanto em mandíbula como maxila, é independente e se estabiliza por volta dos dois anos de idade. Por isso, alterações no comprimento podem acontecer separada ou concomitantemente. Em virtude disto, o posicionamento dental poderá ser alterado em conseqüência da falta de espaço pelo encurtamento das estruturas. Devemos examinar a angulação e a posição da articulação temporomandibular, assim como a relação entre os pré-molares e molares, para determinar qual das estruturas, maxila ou mandíbula, está mais desenvolvida ou alongada em relação à outra. Geralmente observa-se um espaçamento maior que o normal entre os elementos dentários pertencentes à mandíbula ou maxila protrusa. O diagnóstico das maloclusões tipo II e III devem ser feitos considerando-se o posicionamento de todos os dentes, não só incisivos e caninos como nas maloclusões tipo I. Portanto, o animal poderá ser prognata mandibular, se esta Figura 5. Dentes pré-molares superiores girovertidos e apinhados em cão braquicefálico. 111 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores estrutura apresentar-se com um comprimento maior que o normal, em relação à maxila, para sua espécie e raça, ou ainda, será prognata maxilar se a mesma encontrar-se mais proeminente que o padrão esperado em relação à mandíbula. No braquignatismo, a idéia é a mesma só que a alteração será pelo encurtamento excessivo da mandíbula, maxila ou ambas. A maioria dos animais braquicefálicos é erroneamente considerada prognata, por possuir “mandíbulas longas”, ex. boxer, buldog. Porém, na verdade, são em sua maioria braquignatas maxilares fisiológicos, sua mandíbula tem o tamanho normal, porém a maxila é muito curta; basta observar a correlação entre pré-molares e molares antagonistas, com muitos dentes superiores girovertidos pela falta de espaço característica da condição. Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2006. Figura 6. Mordida cruzada anterior (setas verdes) associada ao encurtamento da maxila ou braquignatismo superior, demonstrado pelo desvio de pré-molares e molares do seu eixo oclusal padrão (setas vermelhas). 112 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3. TRATAMENTO A prevenção é sempre melhor que o tratamento. O reconhecimento precoce do problema é essencial para minimizar o desconforto e a dor que podem estar envolvidos, além da prevenção no agravamento da condiçãopatológica. Nos casos onde maloclusões afetam a dentição primária, pode-se optar pela ortodontia interceptiva, onde a redução da coroa clínica, seguida de pulpotomia ou mesmo a extração dental são aplicadas. Quando os dentes permanentes estão envolvidos, nem sempre há necessidade de tratamento ortodôntico se o problema não reflete em desconforto ou prejuízos para a saúde do animal. O princípio de qualquer tratamento ortodôntico deve ter como base fundamental o conforto do paciente; questões estéticas devem ser colocadas em segundo plano. O planejamento do tratamento ortodôntico inclui a escolha da técnica mais indicada para cada caso, de acordo com o tipo de alteração, temperamento do animal, disponibilidade do proprietário e custos operacionais, visto que a anestesia geral é necessária em pelo menos dois tempos: colocação e retirada do aparelho. Diferentemente dos seres humanos, a movimentação ortodôntica no cão ocorre de forma mais rápida. Assim podemos concluir um tratamento em até 90 dias, dependendo da idade do animal e tipo de alteração. A escolha do paciente deve ser bem avaliada, para que não haja nenhuma interferência durante o tratamento, visto que alguns animais não toleram o aparelho na cavidade oral. Existe uma gama de materiais usados na confecção de moldes e aparelhos ortodônticos que variam em custo e tipo de movimento dental desejado; os mais comuns são os expansores (confeccionados pelo protético), plano inclinado (resina acrílica), brackets e botões com elástico. A cooperação do proprietário é fundamental, tanto no uso de técnicas onde são necessárias ativações do aparelho em casa ou mesmo nos cuidados com a higienização e, principalmente, em executar medidas para evitar que o animal danifique a peça, o que impossibilita o sucesso do tratamento. 113 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Para a correção ortodôntica devem ser considerados fatores como a ética profissional e a possível transmissão genética de características indesejáveis, o que pode, eventualmente, colocar o profissional numa situação delicada frente a colegas e proprietários. Desta forma, o veterinário dentista deve diagnosticar a possível origem da maloclusão e orientar o proprietário quanto à melhor alternativa para cada caso. As radiografias dentais ajudam na detecção de determinadas condições que devem ser bem avaliadas e, se for o caso, corrigidas, antes de se iniciar o tratamento ortodôntico, pois podem interferir diretamente no resultado e planejamento desejado, como, por exemplo, reabsorções, abscessos, dentes inclusos, anormalidades radiculares, etc. As fotografias são recursos importantes no acompanhamento dos casos. De maneira prática e fácil de arquivar junto ao histórico e registro da evolução de cada caso, servem ainda como forma de estudo do diagnóstico e planejamento do tratamento indicado. Faça projeções frontais e laterais direito e esquerdo. Dê preferência por câmeras com lentes e resoluções apropriadas para uso em odontologia. Os cursos de fotografia odontológica são aconselhados e aplicados em todas as áreas da odontologia; podem ser oferecidos por Universidades, SEBRAE/SENAC, cursos de pós-graduação, clínicas particulares, etc. Existem basicamente três tipos de classificação quanto aos tratamentos: Ortodontia preventiva – cuja finalidade é eliminar condições que determinam irregularidades no desenvolvimento ou no complexo de maturação da oclusão enquanto os ossos e dentes ainda estiverem em crescimento. Ortodontia Interceptiva – consiste em eliminar problemas ou defeitos de oclusão já instalados, por meio de técnicas cirúrgicas de exodontia ou redução de coroa clínica seguida de pulpotomia. Ortodontia Corretiva – estabelece o princípio da movimentação dental por meio da ação de forças diretas provindas, geralmente, da utilização de aparelhos fixados sobre os elementos dentários. Apresenta-se em dois estágios fundamentais: tratamento ativo e retenção. Durante o tratamento ativo são aplicadas forças que 114 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores irão atuar remodelando as estruturas de suporte periodontais, causando episódios de reabsorção e deposição óssea aceleradas, levando aquele dente à posição ideal. Após esta etapa é necessário que o periodonto de adapte a esta nova condição (reposicionamento dental), para permitir um estágio de desenvolvimento harmonioso, chamado estágio de retenção. 3.1 Movimento Ortodôntico O movimento ortodôntico pode ser definido como a aplicação prolongada de uma pressão controlada sobre o elemento dentário, resultando em movimento do dente e remodelação do osso alveolar. Para a movimentação do dente são necessários espaço suficiente, pressão adequada e ancoragem. O osso em contato com a compressão sofre uma reabsorção resultante do processo inflamatório produzido pela força aplicada, e no lado da tensão ocorre uma deposição óssea fazendo com que aquele dente permaneça na nova posição. Numa situação ideal os processos de reabsorção e deposição óssea permanecem em equilíbrio e até a completa maturação óssea neoformada é necessário um período de retenção no posicionamento ideal atingido. A força ortodôntica ótima é aquela que realiza o movimento rápido sem resultar em danos às estruturas de suporte com mínimo desconforto ao paciente. As forças aplicadas nos dentes são transmitidas através do ligamento periodontal. Existem vários tipos de forças: - Inclinação - movimento da coroa, sem a troca de posição com o ápice da raiz. - Giroversão ou movimento de corpo - todas as partes do dente devem movimentar-se em conjunto, ou seja, a raiz do dente é movimentada ao longo do mesmo nível da coroa. - Rotação – o dente é movimentado em conjunto no seu próprio eixo. 115 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores - Intrusão – movimento do dente para dentro do alvéolo. - Extrusão – movimento para fora do alvéolo. Fatores que devem ser considerados são relativos à dimensão da força e à distribuição dessas forças sobre os tecidos e seu tempo de duração. Distinguem-se três tipos de duração: - Contínua – a força aplicada no aparelho decresce gradualmente entre os ajustes e um novo aparelho ou fio ortodôntico deve ser instalado; ex. aros ou eláticos com brackets. - Interrompida – a força diminui até zero entre os ajustes e quando isso ocorre, o aparelho é novamente ativado; ex. expansores. - Intermitente – a força anula-se quando se remove o aparelho e volta a ser exercida quando de coloca novamente; ex. aparelhos móveis. A força ideal deve ser suave e contínua. Se a pressão for demasiada, além de muita dor poderão ocorrer danos periodontais, necrose, anquilose, fraturas dentais, lesões endodônticas e perda do dente envolvido. Possíveis complicações do tratamento ortodôntico incluem pulpites, reabsorções radiculares, mobilidade dental e desconforto. Em resumo, os tratamentos em ortodontia devem incluir um programa prévio de acompanhamento do caso tanto clinicamente como, se necessário, radiograficamente. 116 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2008. A ortodontiaoferece inúmeras vantagens quando comparada à extração e pulpotomia, que são formas alternativas de aliviar o trauma palatal; porém, as pulpotomias vitais podem falhar, tendo por resultado a terapia endodôntica. Técnicas ortodônticas além de assegurarem a funcionalidade e vitalidade endodôntica são uma alternativa prática e eficaz para corrigir maloclusões em cães e gatos. 3.2 Aparelho de Plano Inclinado O princípio básico deste método é que, a cúspide “toca” as áreas de deslizamento criadas no aparelho, desviando o dente para a posição desejada. O plano inclinado construído de resina acrílica é aplicado, direta ou indiretamente, no palato duro, de forma a provocar uma área de inclinação no momento de contato entre o canino inferior e o plano, levando, pelas forças mastigatórias, os caninos inferiores a deslocarem- se para a face vestibular. A finalidade principal do tratamento ortodôntico é aliviar a dor e o desconforto causados pelas maloclusões, restabelecendo ao paciente uma oclusão satisfatória, além da preservação anatomofisiológica das estruturas dentais e de suporte. Figura 7. Esquema ilustrativo demonstrando aplicação de força ortodôntica ideal e excessiva e suas conseqüências sobre as estruturas periodontais adjacentes. 117 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na maioria das vezes o aparelho é confeccionado na própria cavidade oral, mas algumas vezes é necessário processá-lo em laboratório de forma indireta, por meio da confecção de modelos em gesso, das arcadas do animal. A ação da correção ortodôntica dá-se de forma passiva pela força de mastigação do canino inferior diretamente no plano inclinado. As possíveis complicações estão relacionadas à recusa do animal em ocluir ou pressionar os dentes sobre o aparelho, levando à persistência do problema. Neste caso deve-se optar pela técnica ativa, de expansores. Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2003. Figura 8. Confecção de aparelho de plano inclinado em resina acrílica, aplicado diretamente sobre a maxila em paciente canino. 3.3 Aparelho Expansor Esta é uma técnica ativa, ou seja, a força exercida na movimentação dental provém da ativação de um mini parafuso metálico inserido em placa de resina e fixado sobre os dentes. Por não depender da oclusão para movimentação dental, é mais confiável em termos de resultados. Para realização desta técnica serão necessários, mo mínimo, três procedimentos distintos: moldagem, colocação e 118 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores retirada do aparelho. Em todas estas ocasiões o animal deve ser submetido à anestesia geral. A moldagem é o primeiro passo na confecção do modelo de estudos em gesso; para isso é necessário tirar a impressão das arcadas superiores e inferiores com uma mistura à base de alginato. Uma moldeira deve ser usada, proporcional ao tamanho da boca do animal, com delicadeza para que os relevos não deformem; por isso a importância desta etapa ser realizada com o animal anestesiado, para que este não realize movimentos bruscos o que inviabilizaria todo o processo. Em seguida, envie o material o mais rápido possível ao protético para confecção do aparelho. Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2007. Figura 9. Confecção de modelos em gesso das arcadas dentárias superiores e inferiores, logo após moldagem, para estudo e planejamento ortodôntico em paciente canino. 119 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2007. A etapa de colocação do aparelho deve ser marcada tão logo ele seja entregue pelo protético. Novamente sob anestesia geral, o aparelho deve ser posicionado na arcada onde se espera um encaixe perfeito. Os dentes devem ser preparados para fixação, após limpeza e polimento; são condicionados com ataque ácido. A fixação do aparelho pode ser feita com resina fotopolimerizável ou acrílica, aplicada sobre as bandagens e fios metálicos que envolvem os dentes. O proprietário deve ser instruído quanto aos cuidados em casa, evitando ao máximo alimento ou objetos duros (comedouros, grades, ossos, etc.). O aparelho deve ser ativado em ¼ de volta no sentido indicado, em dias alternados, por um período inicial de 30 dias. O acompanhamento e monitorização da movimentação dental devem ser constantes pelo veterinário dentista. A resposta ao tratamento é individual, podendo alguns animais responderem mais rápido que outros, e claro, se não houver intercorrências, como quebra do aparelho. Figura 10. Confecção de aparelho expansor em resina acrílica, sobre modelo em gesso de paciente canino. 120 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2005. apical. Ao definir que a movimentação ortodôntica foi concluída, ou seja, os dentes atingiram a posição ideal, o aparelho deve ser mantido na cavidade oral por, no mínimo, período igual ao tempo necessário da correção para que ocorra a estabilização periodontal dos dentes que sofreram o movimento. O tratamento é somente concluído com a retirada do aparelho, em nova anestesia, com auxílio de brocas de alta rotação e de acabamento. 3.4 Brackets e botões com elástico São peças metálicas fixadas nos dentes com resina composta fotopolimerizável. É necessário que haja um preparo na superfície dental, ou seja, após a remoção da placa bacteriana e polimento, aplica-se ataque ácido, lava-se e seca-se bem com a seringa tríplice, e só então, o bracket ou botão é colado com resina. Só após a fixação das peças são colocadas as correntes elásticas para obterem-se forças adequadas que consigam o deslocamento dos dentes envolvidos. São indicados para pequenos deslocamentos em incisivos inferiores e para atrair caninos divergentes. Figura 11. Aparelho expansor fixado em palato com ancoragem em caninos superiores em um cão. 121 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fonte: Mariana Ramos da Silva, 2007. apical. ------------FIM DO MÓDULO III------------- Figura 12. Aparelho de brackets com corrente de elástico em incisivos inferiores com ancoragem em caninos, associado ao expansor palatino em um cão.
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