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DIREITO PENAL (PARTE ESPECIAL)

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E-book de 
DIREITO PENAL (PARTE ESPECIAL)
 
 
 
Organizado por CP Iuris 
ISBN 978-85-5805-018-0 
 
 
 
 
 
 
 
Direito Penal (Parte Especial) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1° Edição 
Brasília 
CP Iuris 
2019 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA ............................................................................................................. 4 
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO .................................................................................................. 62 
DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL ............................................................................. 123 
DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ....................................................................... 127 
DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O 
RESPEITO AOS MORTOS ..................................................................................................................... 137 
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL ....................................................................................... 141 
DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA ........................................................................................................ 173 
DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA .............................................................................. 189 
DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA ................................................................................................. 226 
DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA.................................................................................................... 234 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................................................... 265 
 
 
 
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DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
Arts. 121 a 154 
 
Crimes contra a vida. 
• O homicídio é o crime central dos crimes contra a vida. 
• O homicídio admite, dentre outras, diversas modalidades: 
▪ Homicídio doloso simples 
▪ Homicídio doloso qualificado 
▪ Homicídio doloso privilegiado 
▪ Homicídio culposo 
▪ Homicídio culposo majorado 
▪ Homicídio doloso majorado 
• Direito à vida é formalmente e materialmente constitucional (art. 5º, CF). Porém, é relativo, podendo 
sofrer restrições. Ex: pena de morte em período de guerra declarada. 
• Direitos e garantias individuais não têm caráter absoluto. Ex: legítima defesa, aborto. 
• Competência constitucional do Tribunal do Júri para os crimes dolosos contra a vida, consumados ou 
tentados (art. 5º, inc. XXXVIII, “d”, da CF) 
- Homicídio (art. 121) 
- Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122) 
- Infanticídio (art. 123) 
- Aborto (arts. 124 a 128) 
 
❖ Art. 121 – HOMICÍDIO 
• Conduta de matar alguém. Crime bi-comum (pode ser praticado por qualquer pessoa; não se exige 
qualidade especial, quer do agente, quer da vítima) e material, isto é, tem um resultado naturalístico. 
De forma livre (pode ser praticado por qualquer meio). Em regra, comissivo. Instantâneo de efeitos 
permanentes. 
• Eliminação da vida humana extrauterina. Se for intrauterina, será aborto. Iniciado o trabalho de parto, 
será homicídio ou infanticídio, a depender do caso. 
 
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- Início da vida extrauterina: processo respiratório autônomo. Prova pericial (docimasias respiratórias). 
• Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do STF: se vítima do 
homicídio, com motivação política, incidirá o autor no art. 29 da Lei 7.170/83 (Crimes contra a Segurança 
Nacional). Aplica-se, portanto, o princípio da especialidade. 
• Genocídio: Lei 2.889/56 – Matar membros com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo 
nacional, étnico, racial ou religioso. Não é crime contra a vida, e sim contra a humanidade. 
• Animus necandi ou occidendi 
• Admite-se o dolo eventual, quando o agente não quer o resultado morte, mas assume o risco de produzi-
lo. 
• Embriaguez ao volante: pode caracterizar dolo eventual ou culpa consciente, a depender do caso 
concreto. A tendência jurisprudencial tem sido afastar qualquer consideração apriorística sobre dolo 
eventual no caso de homicídios praticados por indivíduos que ingeriram bebida alcóolica. Não há que se 
relacionar de imediato que o indivíduo que provoca um homicídio na condução de veículo automotor 
embriagado estará imbuído, necessariamente, de dolo eventual. Há que se ponderar as circunstâncias 
do caso concreto, uma vez que há diferença entre a substância ingerida, a quantidade, a própria 
conduta, etc. (Será melhor analisando posteriormente). 
• Consumação: morte, com a cessação da atividade encefálica (art. 3º, caput, Lei 9.434/97) 
• Prova da materialidade: exame necroscópico (atesta a morte e suas causas) 
• É admissível a tentativa ou conatus (exceto quanto ao homicídio culposo), que pode ser branca ou 
incruenta, quando a vítima não é atingida; vermelha ou cruenta, quando a vítima sofre ferimentos. 
Ex.: O indivíduo encontra um desafeto e, com a arma de fogo municiada, efetua disparos em direção a 
este inimigo. Mesmo seis disparos atingindo o inimigo, este não vem a falecer. Tem-se, portanto, a 
tentativa cruenta. Por sua vez, se o indivíduo efetua todos os disparos, mas não atinge a vítima, tem-se 
uma tentativa branca. 
• Poderá ser hediondo quando for qualificado (art. 121, §2º) ou se praticado em atividade típica de 
grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. 
- A pena é aumentada de 1/3 se o crime é cometido contra: 
- Menor de 14 anos 
- Maior de 60 anos 
 
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A causa de aumento de pena irá repercutir na 3ª fase da dosimetria. 
Homicídio privilegiado 
• Art. 121, § 1º. Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou 
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir 
a pena de um sexto a um terço. 
• O homicídio privilegiado é o homicídio com uma causa de diminuição de pena de 1/6 a 1/3. Uma vez 
reconhecido o privilégio pelo júri, o juiz deve reduzir a pena. Trata-se de uma obrigação. Soberania dos 
veredictos. 
• Caráter subjetivo. Incomunicável aos coautores ou partícipes (art. 30, CP - Não se comunicam as 
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime). 
• O art. 121, §1º, traz 3 hipóteses em que o homicídio é privilegiado: 
- Relevante valor social: se dá quando o interesse é de toda a coletividade. Ex.: matar o traidor da pátria, 
ou matar o estuprador de diversas crianças no bairro. 
- Relevante valor moral: ocorre quando há um interesse individual, havendo um sentimento de 
misericórdia ou compaixão. Ex.: estuprador da própria filha; homicídio eutanásico. 
• Eutanásia: não se admite no direito brasileiro a causa supralegal de exclusão da ilicitude fundada no 
consentimento do ofendido, vez que a vida é direito indisponível. 
- Eutanásia em sentido estrito: agir (modo comissivo) que elimina a vida de pessoa em estado terminal, 
portadora de doença grave ou sem prognóstico de recuperação. Homicídio piedoso, compassivo. 
- Ortotanásia: eutanásia por omissão, moral ou terapêutica. O médico deixa de adotar as providências 
para prolongar a vida do doente terminal. 
• Homicídio emocional: o sujeito ativo reage logo após injusta provocação de vítima, sob o domínio de 
violenta emoção. São requisitos: 
- Domínio de violenta emoção (não basta a influência; deve ser a emoção que retira a capacidade de 
pensar racionalmente) 
- Reação imediata 
- Injusta provocação da vítima 
 
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(CESPE) Considere que José, penalmente imputável, horas após ter sido injustamente provocado por 
João, agindo sob influência de violenta emoção, tenha desferido uma facada em João, o que resultou 
em sua morte. Nessa situação, impõe-se em benefício de José, o reconhecimento do homicídio 
privilegiado. ERRADO 
- “Logo em seguida a injusta provocação (por exemplo: xingamentosdiversos, falar de determinado 
assume que comove ou transtorna a pessoa)”; 
- “Sob o domínio de violenta emoção”; 
- José poderia ser beneficiado com a atenuante genérica prevista no art. 65, III, “c” do CP, a qual admite 
a influência da violenta emoção, em qualquer momento. A atenuante atua de forma residual. 
Homicídio qualificado privilegiado (híbrido) 
• É pacífico o entendimento sobre a possibilidade de homicídio qualificado-privilegiado, desde que a 
qualificadora tenha natureza objetiva (STF). Ex.: matou valendo-se de um meio cruel, mas a motivação 
foi logo após a injusta provocação da vítima, sob o domínio de violenta emoção. 
• O STJ já se manifestou no sentido de que o homicídio qualificado-privilegiado não é hediondo. 
• Qualificadoras objetivas: incisos III e IV do § 2º do art. 121 (meios e modo de execução do crime). 
• De acordo com a doutrina e a jurisprudência dominantes, o chamado homicídio privilegiado-qualificado, 
caracterizado pela coexistência de circunstâncias privilegiadoras, de natureza subjetiva, com 
qualificadoras, de natureza objetiva, não é considerado crime hediondo. 
• A qualificadora objetiva é aquela que, conforme a doutrina, aparece na fotografia, que não está no 
aspecto subjetivo da motivação do agente, é aquela relativa aos meios e modos de execução do crime. 
Homicídio qualificado 
• Art. 121, § 2º 
• Será hediondo, qualquer que seja a qualificadora 
- Incisos I e II: motivos do crime (subjetivas - incompatíveis com o privilégio) 
- Incisos III e IV: meios e modo de execução (objetivas, exceto traição) 
- Inciso V: conexão (especial finalidade do agente; subjetiva) 
- Inciso VI: feminicídio (sexo da vítima e motivo do crime, subjetiva) 
 
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Obs.: Há entendimento doutrinário que aponta a natureza desta qualificadora como subjetiva, a exemplo do 
professor Rogério Cunha. Porém, a jurisprudência, em especial do STJ, tem apontado no sentido de ser o 
feminicídio uma qualificadora de índole objetiva, o que tornaria possível um feminicídio praticado por motivo 
fútil ou motivo torpe. 
- Inciso VII: contra integrantes dos órgãos de segurança pública ou a pessoas a eles vinculadas por 
casamento, união estável ou parentesco (subjetiva) 
INCISO I – Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe 
• Interpretação analógica. Fórmula casuística seguida de fórmula genérica. 
• Paga (recebimento prévio) ou promessa de recompensa: homicídio mercenário. Cupidez, ambição 
imoderada. 
• Crime de concurso necessário: mandante e executor (sicário) 
• A qualificadora NÃO se aplica ao mandante por se tratar de circunstância de caráter subjetivo (art. 30 
CP – não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares 
do crime) 
• O reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de recompensa" (inciso I do § 2º do art. 121) 
em relação ao executor do crime de homicídio mercenário não qualifica automaticamente o delito em 
relação ao mandante, nada obstante este possa incidir no referido dispositivo caso o motivo que o tenha 
levado a empreitar o óbito alheio seja torpe. STJ. 6ª Turma. REsp 1.209.852-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti 
Cruz, julgado em 15/12/2015 (Informativo 575). 
• Motivo torpe: vil, repugnante, abjeto, moralmente reprovável (Masson) 
• Vingança não necessariamente caracteriza torpeza. 
• Ciúme não é torpe, há que se analisar as circunstâncias concretas. 
INCISO II – Motivo fútil 
• Insignificante, desproporcional, de pouca importância, egoísmo, mesquinhez. Não se confunde com 
motivo torpe. 
• Ausência de motivo (desconhecimento) não é motivo fútil. 
• Um motivo não pode ser simultaneamente torpe e fútil; não há identidade entre essas expressões. 
 
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• Ciúmes e embriaguez não são motivos fúteis (Masson) 
• Há compatibilidade entre o motivo fútil e o dolo eventual? Divergência doutrinária e jurisprudencial. 
1ª corrente: SIM. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado morte, aspecto caracterizador 
do dolo eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o 
dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta, mostrando-se, em 
princípio, compatíveis entre si. STJ. 5ª Turma. REsp 912.904/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/03/2012. 
2ª corrente: NÃO. A qualificadora de motivo fútil é incompatível com o dolo eventual, tendo em vista a 
ausência do elemento volitivo. STJ. 6ª Turma. HC 307.617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. 
Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583). 
“Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP), na hipótese de homicídio supostamente 
praticado por agente que disputava ‘racha’, quando o veículo por ele conduzido - em razão de choque com 
outro automóvel também participante do "racha" - tenha atingido o veículo da vítima, terceiro estranho à 
disputa automobilística. Motivo fútil corresponde a uma reação desproporcional do agente a uma ação ou 
omissão da vítima. No caso de ‘racha’, tendo em conta que a vítima (acidente automobilístico) era um 
terceiro, estranho à disputa, não é possível considerar a presença da qualificadora de motivo fútil, tendo em 
vista que não houve uma reação do agente a uma ação ou omissão da vítima.” STJ. 6ª Turma. HC 307.617-
SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 (Info 583) 
INCISO III – Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou 
de que possa resultar perigo comum 
• Insidioso: traiçoeiro, sorrateiro, enganador, fraude, sabotagem. Exemplo: bebida com veneno, 
sabotagem em automóvel. 
• Cruel: intenso e desnecessário sofrimento físico ou mental. Ex.: A quantidade (reiteração) de golpes é 
um indicativo do meio cruel. 
• Perigo comum: outras pessoas, além da vítima, são expostas. Exemplo: disparos em festa ou em via 
pública. 
Homicídio qualificado pela tortura versus tortura com resultado morte 
• Tortura. Conceito. Decreto 40/91, que promulgou a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos 
ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. “Qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, 
físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira 
pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido 
 
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ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer 
motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos 
por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou 
com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que 
sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas 
decorram.” 
• Pode ser física ou mental 
• Tortura é meio cruel (§ 2º, inc. III) 
• Lei 9.455/97 (Crimes de tortura) 
• Homicídio qualificado pela tortura: art. 121, § 2º, inc. III, CP: dolo de matar (direto ou eventual). A tortura 
é meio empregado, que provoca intenso ou desnecessário sofrimento físico ou mental. Competência do 
Tribunal do Júri. 
• Tortura com resultado morte: art. 1º, § 3º, da Lei nº 9.455/97. Crime preterdoloso (dolo no antecedente; 
culpa no consequente). Competência do juízo singular. 
• Conclusão: a diferença reside na análise do elemento subjetivo (dolo), que se revela pelas circunstâncias 
que estão em torno do crime; se essa intenção for a todo momento a de provocar a morte e se escolhe 
o meio cruel, tem-se o homicídio qualificado pela tortura. No entanto, se o objetivo era torturar para 
obter alguma informação, não sendo a intenção matar, mas ocorrendo por culpa, o tipo penal será o 
tipificado na lei de tortura. 
INCISO IV. À traição,de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne 
impossível a defesa do ofendido 
• Interpretação analógica 
• É uma qualificadora muito frequente nas denúncias. Quando o disparo é efetuado pelas costas, quando 
a vítima é absolutamente surpreendida em sua casa ou local de trabalho, em que esse ataque mostra-
se inesperado, tem-se a possibilidade de enquadramento no inciso IV. 
• A traição pode ser física (tiro pelas costas) ou moral (atrair para um abismo). O agente se vale da 
confiança da vítima. Crime próprio ou especial, pois só pode ser cometido por pessoa que tem a 
confiança da vítima. 
• Dissimulação: atuação disfarçada, modo de agir hipócrita. Exemplo: demonstração de falsa amizade. 
 
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INCISO V – Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime. 
• Natureza subjetiva, relacionada à motivação do agente. Conexão, em face da ligação entre dois ou mais 
crimes. 
• Conexão teleológica: homicídio praticado para assegurar a execução de outro crime. Exemplo: matar 
um segurança para em seguida matar ou sequestrar um empresário. 
• Conexão sequencial: o homicídio é cometido posteriormente ao crime. Exemplo: matar a testemunha 
do crime anterior 
INCISO VI – Feminicídio 
• Art. 121, § 2º, inc. VI, do CP (crime hediondo). Lei nº 13.104/15. 
• Praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (qualificadora de índole subjetiva). 
• Obs.: Doutrina e jurisprudência têm caminhado para reconhecer a possibilidade do transexual feminino 
ser vítima de feminicídio. 
• Femicídio X Feminicídio: Matar mulher, por si só, não é feminicídio. 
• Quando houver: 
- Violência doméstica e (ou) familiar 
- Menosprezo ou discriminação à condição de mulher 
- O autor poderá ser homem ou mulher. 
- Vítima necessariamente do sexo feminino. 
• O conceito de violência doméstica e familiar está no art. 5º da Lei Maria da Penha, sendo qualquer ação 
ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e 
dano moral ou patrimonial. 
• Feminicídio fundado em violência doméstica é uma norma penal em branco imprópria heterovitelina 
(deve-se recorrer ao art. 5º da Lei 11.340/06). 
• Além do feminicídio ser uma qualificadora do crime de homicídio, há a presença de causas de aumento 
de pena aplicáveis ao feminicídio, sendo elas: 
- Se o feminicídio ocorrer durante a gestação ou até 3 meses após o parto. 
 
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- Se o feminicídio ocorrer contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência. 
- Se o feminicídio ocorrer na presença de descendente ou de ascendente da vítima. 
Observação: o agente deve ter conhecimento de tais circunstâncias, sob pena do emprego da 
responsabilidade penal objetiva. 
(CESPE) O crime de homicídio doloso praticado contra mulher é hediondo e, por conseguinte, o cumprimento 
da pena privativa de liberdade iniciar-se-á em regime fechado, em decorrência de expressa determinação 
legal. ERRADO! 
- Nem todo homicídio contra mulher é feminicídio. 
- Haverá feminicídio se o motivo do crime for “por razões da condição do sexo feminino” 
• Compatibilidade entre o feminicídio e o motivo torpe 
• Feminicídio: crime praticado porque a vítima é mulher. Doutrina diverge: natureza subjetiva (Sanches 
Cunha); natureza objetiva (Nucci) 
• Porém, a jurisprudência vem decidindo no sentido de se tratar de qualificadora de índole objetiva, 
compatível com as qualificadoras subjetivas do motivo fútil e torpe. 
 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. SUSTENTAÇÃO 
ORAL. IMPOSSIBILIDADE. HOMICÍDIO QUALIFICADO. QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO. 
BIS IN IDEM COM O MOTIVO TORPE. AUSENTE. QUALIFICADORAS COM NATUREZAS 
DIVERSAS. SUBJETIVA E OBJETIVA. POSSIBILIDADE. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO 
REGIMENTAL IMPROVIDO. 
(...) 
2. Nos termos do art. 121, § 2º-A, II, do CP, é devida a incidência da qualificadora do 
feminicídio nos casos em que o delito é praticado contra mulher em situação de violência 
doméstica e familiar, possuindo, portanto, natureza de ordem objetiva, o que dispensa a 
análise do animus do agente. Assim, não há se falar em ocorrência de bis in idem no 
reconhecimento das qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio, porquanto, a 
primeira tem natureza subjetiva e a segunda objetiva. 
3. Agravo regimental improvido. 
(AgRg no HC 440.945/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 
05/06/2018, DJe 11/06/2018) 
 
 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL. HOMICÍDIO TRIPLAMENTE 
QUALIFICADO. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. ALEGADO BIS IN IDEM DO MOTIVO TORPE COM 
A AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 61, INCISO II, ALÍNEA "F", DO CP. NÃO OCORRÊNCIA. 
(...) 
2. O Tribunal a quo decidiu em conformidade com o entendimento desta Corte superior, 
porquanto, tratando-se o motivo torpe (vingança contra ex-namorada) de qualificadora 
 
13 
 
de natureza subjetiva, e o fato de a vítima e o acusado terem mantido relacionamento 
afetivo por anos, sendo certo, que o crime se deu com violência contra a mulher na forma 
da Lei n° 11.340/2006, ser uma agravante de cunho objetivo, não se pode falar em bis in 
idem no reconhecimento de ambas, de modo que não se vislumbra ilegalidade no ponto. 
3. Nessa linha, trecho da decisão monocrática proferida pelo Ministro Felix Fischer, REsp 
n. 1.707.113/MG (DJ 07/12/2017), no qual destacou que considerando as circunstâncias 
subjetivas e objetivas, temos a possibilidade de coexistência entre as qualificadoras do 
motivo torpe e do feminicídio. Isso porque a natureza do motivo torpe é subjetiva, 
porquanto de caráter pessoal, enquanto o feminicídio possui natureza objetiva, pois 
incide nos crimes praticados contra a mulher por razão do seu gênero feminino e/ou 
sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita, 
assim o animus do agente não é objeto de análise. 
4. Agravo regimental não provido. 
(AgRg no REsp 1741418/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA 
TURMA, julgado em 07/06/2018, DJe 15/06/2018) 
 
ATENÇÃO: Lei 13.771/2018, publicada em 20 de dezembro de 2018.1 
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime 
for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela 
Lei nº 13.104, de 2015) 
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com 
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição 
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 13.771, 
de 2018) 
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da 
vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018) 
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos 
I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela 
Lei nº 13.771, de 2018) 
Mudança no inciso II: 
Foi acrescentada a seguinte hipótese: 
- A pena imposta ao feminicídio será aumentada de 1/3 a 1/2 se, no momento do crime, a mulher (vítima) 
era portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou 
mental. Como exemplo, podemos citar a esclerose lateral amiotrófica. 
- A vítima, nesse caso, apresenta uma fragilidade (debilidade) maior, de forma que a conduta do agente se 
revela com alto grau de covardia. 
 
 
1 Explanação retirada do site Dizer o direito. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13771.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13771.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13771.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22ihttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22i
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22ii
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22iii
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13771.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13771.htm#art1
 
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Mudança no inciso III: 
- A pena imposta ao feminicídio será aumentada se o delito foi praticado na presença (física ou virtual) de 
descendente ou de ascendente da vítima. 
- Aqui a razão do aumento está no intenso sofrimento que o autor provocou aos descendentes ou 
ascendentes da vítima que presenciaram o crime, fato que irá gerar graves transtornos psicológicos. 
- Desse modo, poderá haver a causa de aumento de pena do inciso III do § 7º do art. 121 do CP mesmo que 
o ascendente ou descendente não esteja fisicamente no mesmo ambiente onde ocorre o homicídio. É o caso, 
por exemplo, em que o filho da vítima presencia, por meio de webcam, o agente matar sua mãe; ele terá 
presenciado o crime, mesmo sem estar fisicamente no local do homicídio. 
 Obs.: não haverá a causa de aumento se o crime é praticado na presença de colateral (ex: irmão, tio) ou na 
presença do cônjuge da vítima. 
 
Inserção do inciso IV: 
- Vamos entender melhor esse inciso com um exemplo: 
 
Carla decidiu se separar de Pedro. Este, contudo, continuou a procurá-la insistentemente e a fazer 
ameaças caso ela não reatasse o relacionamento. Diante disso, Carla procurou a Delegacia pedindo que 
fossem tomadas providências. 
A autoridade policial lavrou o boletim de ocorrência e enviou um expediente ao juiz com o pedido de 
Carla para que Pedro não se aproximasse mais dela (art. 12, III, da Lei nº 11.340/2006). 
O juiz deferiu o pedido da ofendida e determinou, como medidas protetivas de urgência, que Pedro 
mantivesse distância mínima de 500 metros de Maria e não tentasse nenhum contato com ela por qualquer 
meio de comunicação, conforme autoriza o art. 22, III, “a” e “b”, da Lei nº 11.340/2006. 
Na decisão, o magistrado consignou ainda que, em caso de descumprimento de quaisquer das 
medidas impostas, seria aplicada ao requerido multa diária de R$ 100, conforme previsto no § 4º, do art. 22 
da Lei nº 11.340/2006. 
Quais as consequências caso o indivíduo descumpra as medidas protetivas de urgência? 
• é possível a execução da multa imposta; 
• é possível a decretação de sua prisão preventiva (art. 313, III, do CPP); 
• o agente responderá pelo crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha: 
Pedro foi regularmente intimado. Apesar disso, uma semana depois procurou Carla em sua casa 
pedindo para que ela retomasse o relacionamento. Como ela não aceitou, Pedro a matou com uma faca. 
 
15 
 
Neste caso, Pedro responderá por feminicídio e incidirá a causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 
7º, IV, do CP. 
Pergunta: responderá também pelo art. 24-A do CP? 
- NÃO. Isso porque o delito do art. 24-A do CP é absorvido pela conduta mais grave, qual seja, a prática do 
art. 121, § 7º, IV, do CP. 
- Fazer incidir o art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 e também pelo inciso IV do § 7º do art. 121 do CP 
representaria punir duas vezes o agente pelo mesmo fato (bis in idem), o que é vedado. 
 
INCISO VII – Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes 
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência 
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa 
condição. 
• Gravidade da conduta, atentatória à estrutura do Estado Democrático de Direito 
• Norma penal em branco de fundo constitucional. 
Art. 142. Integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) 
Art. 144. Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares 
e Corpos de Bombeiros Militares. 
- Guardas municipais também se incluem (art. 144, § 8º, CF) 
- Integrantes do sistema prisional (agentes penitenciários) 
- Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública 
• Preocupação com a função pública exercida e não propriamente com a pessoa atingida. Se o indivíduo 
está afastado das funções ou aposentado, não incidirá nesta qualificadora, mas, tão somente aos 
servidores na ativa. 
Homicídio culposo 
• Art. 121, § 3º, do CP. 
• Competência da Vara Criminal Comum. 
• Culpa é elemento normativo do tipo, a ser verificada por meio de um juízo de valor. 
 
16 
 
• O desvalor do resultado é idêntico ao do homicídio doloso. O que é substancialmente menor é o desvalor 
da conduta, já que a morte advém de uma escolha equivocada, de imprudência, negligência e imperícia, 
e não de um agir deliberado para produzir a morte. 
• Violação ao dever objetivo de cuidado. Imprudência (culpa positiva; agir), negligência (culpa negativa; 
deixar de fazer) ou imperícia (culpa profissional). 
IMPORTANTE: crime culposo não é compatível com a tentativa (exceção feita à culpa imprópria. O agente 
age dolosamente, mas em erro). Na tentativa há dolo idêntico ao da consumação do crime. No crime culposo 
não há dolo. 
• Homicídio culposo no trânsito: art. 302 do CTB (Lei nº 9.503/97). Princípio da especialidade. Aqui as 
penas são maiores do que as previstas no Código Penal. 
• Perdão judicial: art. 121, § 5º: “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, 
se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se 
torne desnecessária”. 
- Princípio da infração bagatelar imprópria. Tem-se um fato típico, ilícito e culpável, porém, a 
punibilidade resta afastada, o Estado entende desnecessária a aplicação de penal àquele indivíduo que 
praticou o fato criminoso, já que as consequências deste crime já exercem a função retributiva da pena. 
- Causa de extinção da punibilidade (art. 107, inc. IX, do CP). Súmula 18 do STJ. 
- O resultado do crime já exerce a função retributiva da pena. 
- Avaliação do caso concreto. Condições pessoais do agente e da vítima. 
- Somente pode ser concedido por sentença. 
STJ: Necessário vínculo de parentesco ou afinidade entre agente e vítima; deve existir uma relação muito 
próxima, íntima entre vítima e autor. 
• Em caso de concurso formal de crimes, o perdão judicial concedido para um deles não necessariamente 
deverá abranger o outro. O fato de os delitos terem sido cometidos em concurso formal não autoriza a 
extensão dos efeitos do perdão judicial concedido para um dos crimes, se não restou comprovada, 
quanto ao outro, a existência do liame subjetivo entre o infrator e a outra vítima fatal. 
- Réu, dirigindo seu veículo imprudentemente, causa a morte de sua noiva e de um amigo; o fato de ter 
sido concedido perdão judicial para a morte da noiva não significará a extinção da punibilidade no que 
 
17 
 
tange ao homicídio culposo do amigo. STJ. 6ª Turma. REsp 1444699-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, 
julgado em 1/6/2017 (Informativo 606). 
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa 
de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave (gravíssima). 
Parágrafo único - A pena é duplicada: 
Aumento de pena 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. 
• Suicídio é a destruição deliberada da própria vida. Deve ser voluntária. Não se fala em consentimento 
da vítima. 
• Crime comum, material, condicionado à produção de resultado naturalístico, de forma livre. 
• A participação pode ser moral (induzir e instigar) ou material (auxílio). 
- Induzir: incutir a ideia, até então inexistente 
- Instigar: reforçar o propósito suicida preexistente- Auxiliar: concorrer materialmente (empréstimo de arma) 
• O sujeito passivo deve ter um mínimo de capacidade de resistência e de discernimento. Do contrário, 
haverá homicídio. 
• Não há modalidade culposa 
• A consumação depende do resultado morte ou lesão corporal de natureza grave (gravíssima) 
• Roleta russa: aos sobreviventes será imputado o crime de participação em suicídio. 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após. 
Infanticídio 
• Pena - detenção, de dois a seis anos. 
• Forma privilegiada de homicídio. Crime próprio (só pode ser cometido pela mãe). Admite coautoria e 
participação. Pode ocorrer por omissão (deixar de amamentar, por exemplo) 
 
18 
 
• Iniciado o trabalho de parto, não há crime de aborto, mas sim homicídio ou infanticídio, conforme o 
caso. 
- O parto tem início com a dilatação do colo do útero, seguida das contrações expulsórias. 
• Estado puerperal: conjunto de alterações físicas e psíquicas em decorrência das circunstâncias 
relacionadas ao parto. 
• Não é necessária perícia para constatação do estado puerperal (efeito normal e inerente ao parto) 
• Não se confunde com inimputabilidade ou semi-imputabilidade, nada obstante o estado puerperal 
altere a saúde mental da mulher. 
Aborto 
• Interrupção da gravidez, com a morte do fruto da concepção. 
• Início da gravidez: fecundação. 
• Haverá aborto em qualquer fase da evolução fetal. 
• Com o início do processo de parto haverá homicídio ou infanticídio, e não aborto. 
• Espécies de aborto: 
- Aborto criminoso: interrupção dolosa da gravidez. Artigos 124 a 127 do CP. 
- Aborto legal ou permitido: feito de forma voluntária e com amparo legal. Art. 128 do CP. 
Aborto legal ou permitido – art. 128, CP 
• Apesar do legislador ter usado a expressão “Não se pune o aborto praticado por médico”, em verdade 
o CP arrola causas de exclusão da ilicitude. Assim, tecnicamente, o correto seria “não há crime”. 
• Art. 128 do CP : duas hipóteses 
A) Se não há outro meio de salvar a vida da gestante. É o chamado aborto “necessário” ou “terapêutico”, 
previsto no inciso I. 
B) No caso de gravidez resultante de estupro. Trata-se do aborto “humanitário”, “sentimental”, “ético” ou 
“piedoso”, elencado no inciso II. 
• Exceções criadas pela jurisprudência do STF 
 
19 
 
- ADPF 54: STF decidiu que a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta atípica. Assim, por força 
de interpretação jurisprudencial, realizar aborto de feto anencéfalo não é crime. 
- STF: não há crime de aborto quando a interrupção voluntária da gravidez ocorrer no primeiro trimestre de 
gestação (Info 849). Decisão da 1ª Turma em sede de HC. Interpretação conforme à CF. Direitos fundamentais 
da mulher. Questão subjacente: prisão preventiva de dois médicos. Questão polêmica. 
• Aborto e exceção à teoria unitária ou monista quanto ao concurso de pessoas 
• Art. 29 do CP – Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na 
medida de sua culpabilidade. 
- Todas as pessoas que tomam parte na infração penal cometem idêntico crime. 
- A teoria unitária ou monista é aquela adotada, como regra, pelo CP. 
• Porém, no que tange ao crime de aborto, tem-se a adoção da teoria pluralista (ou da cumplicidade do 
delito distinto). Verifica-se com a pluralidade de agentes, diferentes condutas e um único resultado. 
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou permitir que outrem lho provoque (artigo em que estará incursa 
a gestante) 
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante (artigo em que estará incurso o agente 
provocador do aborto). Não será coautor da figura do art. 124 do CP. 
• Forma qualificada 
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em 
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de 
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
• O dispositivo traz, em verdade, causas de aumento de pena, em que pese o legislador tenha usado a 
expressão “formas qualificadas”. As qualificadoras modificam os limites das penas em abstrato. 
(CESPE 2015) Dalva, em período gestacional, foi informada de que seu bebê sofria de anencefalia, diagnóstico 
confirmado por laudos médicos. Após ter certeza da irreversibilidade da situação, Dalva, mesmo sem estar 
correndo risco de morte, pediu aos médicos que interrompessem sua gravidez, o que foi feito logo em 
seguida. Nessa situação hipotética, de acordo com a jurisprudência do STF, a interrupção da gravidez 
A) deve ser interpretada como conduta atípica e, portanto, não criminosa. CERTO 
B) deveria ter sido autorizada pela justiça para não configurar crime. 
 
20 
 
C) é isenta de punição por ter ocorrido em situação de aborto necessário. 
D) configurou crime de aborto praticado por Dalva. 
E) configurou crime de aborto praticado pelos médicos com consentimento da gestante. 
 
Das lesões corporais. 
 Art. 129 – LESÃO CORPORAL 
Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. 
Pena – Detenção, de três meses a um ano. 
 
• Podem ser dolosas ou culposas 
• As lesões dolosas (animus laedendi ou nocendi) podem ser: 
- Leves (caput). Infração de menor potencial ofensivo. Submetida à ação penal condicionada à 
representação. 
- Graves (§ 1º) 
- Gravíssimas (§ 2º) 
- Seguida de morte (§ 3º). Crime preterdoloso. 
- Violência doméstica e familiar (§§ 9º e 10). Não necessariamente contra a mulher, a vítima também 
poderá ser homem. 
Obs.: As lesões leves do art. 129, CP, caput, são obtidas por exclusão. Se não enquadradas nas hipóteses dos 
parágrafos, será considerada lesão leve. 
• Classificação: crime comum (praticado por qualquer indivíduo; é bi-comum, qualquer pessoa pode 
figurar no polo passivo), material (possui resultado naturalístico), de dano, comissivo ou omissivo, 
instantâneo, de forma livre. 
• Crime hediondo: lesão corporal gravíssima ou seguida de morte contra integrantes de órgãos de 
segurança pública (art. 1º, inciso I, Lei 8.072/90). 
Servidores dispostos nos artigos 142 e 144 da CF – Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal, 
Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos de 
Bombeiros Militares, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no 
 
21 
 
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente 
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. Afasta-se, portanto, o parentesco por 
afinidade, inclui-se a figura do filho adotivo. 
• Ofensa direcionada à integridade corporal ou saúde (ponto de vista anatômico, fisiológico ou mental) 
• Necessária a produção de dano no corpo da vítima, interno ou externo. 
• Abrange alterações psíquicas 
• Dor, por si só, não caracteriza lesão corporal 
- Eritema (vermelhidão, tapa, bofetada) não caracteriza lesão corporal 
• Autolesão: não é punida, a menos que viole outro bem jurídico tutelado (fraude para recebimento de 
seguro – art. 171, § 2º, V, CP) 
• As lesões corporais de natureza leve e as culposas (art. 129, caput, e § 6º do CP) são crimes de ação 
penal pública condicionada à representação (art. 88 da Lei 9.099/95). As demais espécies são de ação 
penal pública incondicionada. 
- Na primeira hipótese, tem-se o prazo decadencial de 6 (seis) meses do conhecimento da autoria delitiva 
para se promover a representação, que é uma condição de procedibilidade da ação penal (art. 88 da Lei 
9.099/95). 
• Art. 129, § 9º, CP (Lei Maria da Penha). Súmula 542 do STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão 
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. Exceção à regra. 
• Tentativa: possível nas lesões dolosas, especialmente se o crime for plurissubsistente (se 
desempenharem diferente atos em diferentes momentos). Incabívelna lesão culposa e na lesão seguida 
de morte. 
- Tentativa de lesão corporal versus contravenção de vias de fato (art. 21 da LCP): a diferença reside no 
dolo. Na contravenção, o dolo é de agredir, sem lesionar. Ex.: empurrão; vias de fato – não atinge a 
integridade física da vítima. 
LESÕES CORPORAIS LEVES 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
• Será leve por exclusão (quando não se caracterizar uma forma mais grave) 
 
22 
 
• Ação penal pública condicionada à representação (prazo decadencial de 6 meses a partir do 
conhecimento da autoria). 
• Lei 9.099/95. Admite transação penal 
• Consentimento do ofendido como causa supralegal (ou extralegal) de exclusão da ilicitude. Há diversas 
práticas do cotidiano que são consideradas como lesão corporal lesão, mas são consentidas pelos 
ofendido. 
- As pessoas podem dispor de sua integridade física (esportes, lutas, tatuagens, piercings) 
• O consentimento deve ser expresso (oral ou escrito); livre (sem coação ou ameaça); respeitar os bons 
costumes (aquilo que é socialmente aceito); ser manifestado previamente à prática do ato; capacidade 
do ofendido em consentir (maior de idade e o uso e gozo das faculdades mentais). 
• Consentimento não é admitido nos demais tipos de lesão (grave, gravíssima e seguida de morte) 
LESÕES CORPORAIS GRAVES 
§ 1º Se resulta: 
I – Incapacidade (temporária) para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
II - perigo de vida; 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV - aceleração de parto: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
Inciso I: Crime a prazo – depende do implemento de uma condição futura; somente se verifica após o 
transcurso do prazo previsto em lei. 
Art. 168, § 2º, do CPP: necessidade de um exame pericial inicial e outro complementar, decorrido o 
prazo de 30 dias. Prova da materialidade do crime. 
Inciso II: Perigo de vida deve ser concreto, comprovado por perícia médica; não basta a mera impressão 
subjetiva do indivíduo de que correu perigo de vida. 
• Perda de dentes: pode ou não caracterizar lesão grave (§ 1º, inc. III – se houver debilidade permanente 
de membro, sentido ou função), a depender da comprovação pericial acerca da debilidade ou não da 
função mastigatória. Necessidade de laudo pericial. Se a lesão se enquadrar em questões estéticas, será 
considerada leve. 
LEI SECA!!! 
Decorar as hipóteses de 
lesões GRAVES e 
GRAVÍSSIMAS! O examinador 
gosta de confundir! 
 
 
23 
 
• Na hipótese de órgãos duplos (rins, pulmões, olhos), a perda de um deles caracteriza lesão grave pela 
debilidade permanente de membro/sentido/função. A perda de ambos configura lesão gravíssima pela 
perda ou inutilização. 
LESÕES GRAVÍSSIMAS 
§ 2° Se resulta: 
I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
II - enfermidade incurável; (Ex.: aids) 
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
IV - deformidade permanente; 
V - aborto: (Nas lesões graves tinha-se a aceleração de parto) 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 
• Segundo o STJ, o indivíduo que tenha a intenção de transmitir vírus HIV ao parceiro pratica o delito de 
lesão corporal de natureza gravíssima, tendo em vista se tratar de enfermidade incurável. (HC 
160.982/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/05/2012, DJe 28/05/2012) 
- Divergência doutrinária. O professor Cleber Masson entende que seria hipótese de tentativa de 
homicídio. 
- A aids não é considerada uma doença venérea, uma vez que pode ser transmitida de outras maneiras, 
e não apenas pela relação sexual. 
• A qualificadora “deformidade permanente” do crime de lesão corporal (art. 129, § 2º, IV, do CP) não é 
afastada por posterior cirurgia estética reparadora que elimine ou minimize a deformidade na vítima. 
Isso porque, o fato criminoso é valorado no momento de sua consumação, não o afetando providências 
posteriores, notadamente quando não usuais (pelo risco ou pelo custo, como cirurgia plástica ou de 
tratamentos prolongados, dolorosos ou geradores do risco de vida) e promovidas a critério exclusivo da 
vítima. (STJ. 6ª Turma. HC 306.677-RJ, Rel. Min. Ericson Maranho [Desembargador convocado do TJ-SP], 
Rel. para acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/5/2015). Informativo 562. 
LESÃO CORPORAL DOLOSA PRIVILEGIADA 
• Art. 129, § 4º 
Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio 
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um 
sexto a um terço. 
• Causa de diminuição de pena. 
• Não é cabível na lesão culposa. 
 
24 
 
• Lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: aplicação do art. 303 do CTB, pelo princípio da 
especialidade. 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
• § 9o 
Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com 
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de 
coabitação ou de hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste 
artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). 
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido 
contra pessoa portadora de deficiência. 
 
• Somente aplicável às lesões leves §9º 
• Se a lesão for grave, gravíssima ou seguida de morte, aplica-se o §10 (aumento de 1/3 da pena). 
• O sujeito passivo pode ser homem (esposo, companheiro, irmão) 
• Busca-se tutelar de modo mais eficaz o convívio pacífico na unidade doméstica. 
• No caso de lesões leves, a ação continua sendo condicionada à representação se o sujeito passivo for 
homem. Se mulher, a ação será incondicionada, por força da Súmula 542, do STJ. 
LESÃO CORPORAL CULPOSA 
• A lesão corporal culposa é a ofensa à integridade física de outrem por negligência, imprudência ou 
imperícia (culpa como elemento normativo do tipo penal) 
• O § 6º afirma que no caso da lesão corporal culposa, a pena será de detenção, de 2 meses a 1 ano. 
• Neste caso, trata-se de uma infração de menor potencial ofensivo. Dessa forma, a intensidade da lesão 
é irrelevante na aferição do dolo ou da culpa para efeito de tipificação, podendo ter consequências na 
dosimetria da pena. É a intenção do agente que será verificada. 
• A lesão não deixa de ser culposa, caso tenha gerado um resultado de natureza grave ou de natureza 
gravíssima. Ela é culposa ou é dolosa. Se for dolosa, interessa a intensidade da lesão. 
• LESÃO CORPORAL CULPOSA MAJORADA – aumento de pena 
- §7º e 8º 
 
25 
 
- A lesão corporal culposa será majorada de 1/3 (na terceira fase da dosimetria), quando: 
O crime resultar de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício 
O agente deixar de prestar imediato socorro à vítima 
O agente não procura diminuir as consequências do seu ato 
O agente foge para evitar prisão em flagrante 
• A lesão foi culposa, mas em razão dessas peculiaridades, a pena será majorada. 
PERDÃO JUDICIAL 
• Admite-se o perdão judicial no caso de lesão corporal culposa, nas mesmas circunstâncias em que se 
admite perdão judicial no crime de homicídio culposo. 
• Portanto, o STJ entende que, para aplicar o perdão judicial, é preciso uma dessas situações: 
- Vítima tenha relação de parentesco com o agente do crime; 
- Vítima tenha relação de afeto com o agente do crime; 
- Agente do crime tenha sofrido sequelas físicas. 
• Não é toda e qualquer situação que envolva a prática de uma lesão culposa que vai ensejar o perdão 
judicial como causa extintiva da punibilidade e aplicação do princípio da bagatela imprópria. Se a lesão 
corporal for dolosa, não caberá perdão judicial! 
 ARTIGOS 130 a 136 – PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 
• Aqui são tratados os crimes de perigo. Prescindem do dano. É suficientepara a consumação a exposição 
do bem jurídico a uma probabilidade de dano. 
• Os crimes de perigo podem ser subdivididos em: 
- Crime de perigo concreto: é indispensável que se comprove a situação de perigo no caso concreto. Ex.: 
crime de perigo de vida – art. 132, CP. 
- Crime de perigo abstrato (presumido/iuris et de iure): é desnecessário que se comprove a situação de 
perigo. Presunção absoluta de que determinadas condutas acarretam perigo a bens jurídicos. Ex.: tráfico 
de drogas (art. 33, Lei 11.343/06). 
 ART. 130 – PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO 
 
26 
 
• Segundo o art. 130, é crime expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a 
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado. 
• A pena desse crime é de detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa. Trata-se de infração de menor 
potencial ofensivo, cabendo transação penal e suspensão condicional do processo (institutos 
despenalizadores da Lei 9.099/90). 
• É necessário o efetivo contato físico entre autor e vítima; não é um crime de forma livre, sendo 
imprescindível a existência de ato libidinoso ao sexual capaz de transmitir a doença venérea. 
• Se o indivíduo sabe, é o dolo direto. Se o indivíduo deveria saber, é dolo eventual (entendimento 
majoritário da doutrina). 
• Se é intenção do agente transmitir a moléstia e não apenas expor a vítima ao perigo de contágio, a pena 
é de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa (§1º). Aqui há uma qualificadora, deixando de ser de menor 
potencial ofensivo, passando a ser de médio potencial ofensivo, admitindo a suspensão condicional do 
processo (ou sursi processual), nos termos do art. 89, Lei 9.099/90. 
• A ação penal é pública condicionada à representação. Isso porque se quer proteger a vítima, a fim de 
não expor esse risco que correu no processo penal (art. 131, § 2º). A intenção do legislador é evitar o 
strepitus judicii, isto é, o constrangimento, o vexame provocado pelo processo. 
• O bem jurídico tutelado é a incolumidade física e da saúde da vítima. 
• Sujeitos do crime: 
- ATIVO: qualquer pessoa que esteja contaminada por uma moléstia venérea. 
- PASSIVO: poderá ser qualquer pessoa que não tenha essa moléstia venérea. 
• Supondo que a mulher saiba que o parceiro tenha a moléstia venérea e consinta que o agente pratique 
o ato sem o uso de preservativo, o crime ocorrerá da mesma forma, pois se trata de um bem indisponível 
(integridade física, saúde). Portanto, o consentimento é ineficaz para ilidir a prática delitiva. 
• Atente-se que a AIDS não é considerada moléstia venérea (pois pode ser transmitidas de outras 
maneiras diversas da relação sexual), podendo ser uma tentativa de lesão corporal de natureza 
gravíssima, por se tratar de uma enfermidade incurável. Para Cleber Masson, seria hipótese de 
homicídio tentado ou consumado. 
• Exemplos de moléstias venéreas: aquelas transmitidas pelo contato sexual, atos libidinosos ou 
conjunção carnal; sífilis e gonorreia. 
 
27 
 
• Voluntariedade (elemento subjetivo): 
- A figura do caput trata-se de um crime doloso, na forma de dolo de perigo, já que expõe alguém ao 
contágio de doença venérea. Esse dolo poderá ser direto ou eventual. 
• Se o agente se relaciona com a intenção de transmitir a doença, o dolo não é mais de perigo na figura 
qualificada, e sim dolo de dano, já que o sujeito pretende alcançar o resultado, havendo o crime 
qualificado do §1º. 
- O agente somente responderá pelo crime se não alcançar o intento danoso que tinha, pois se tiver 
alcançado, haverá outro crime (lesão corporal). Dessa forma, aplica-se o princípio da consunção (o crime 
de dano absorve o de perigo). 
• Se o agente quer efetivamente transmitir a doença e consegue contaminar a vítima, produzindo o 
resultado danoso à saúde do indivíduo que pretendia produzir, estaremos diante de uma lesão corporal, 
podendo ser de natureza grave, gravíssima ou até mesmo seguida de morte, já que se trata de crime 
preterdoloso. 
• Consumação e tentativa 
- Por se tratar de crime de perigo abstrato, não é preciso comprovar que a pessoa foi submetida a uma 
situação de risco, bastando que se comprove a prática do ato sexual, ainda que a vítima não tenha sido 
contaminada. Trata-se de crime formal, prescinde do resultado naturalístico, a exposição do bem já se 
presume já que o bem foi ofendido. 
• Há uma presunção de perigo, mas se ficar demonstrado que, por meio do ato sexual, a vítima não foi 
posta em perigo em momento algum, pois era impossível o seu contágio, não haverá o crime, a conduta 
é atípica. Ex.: o agente usou preservativo. Neste caso, o sujeito não agiu com dolo direto e nem com 
dolo eventual. 
• Se for demonstrado que era impossível o contágio, não haverá o crime. 
• A ação penal é pública condicionada à representação, tanto na figura simples do caput quanto na 
qualificada (§1º). 
 ART. 131 – PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE 
• Segundo o art. 131, é crime a conduta de praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de 
que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio. 
• Aqui já não se fala mais em moléstia venérea. 
 
28 
 
• A pena é de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. Cabível a suspensão condicional do processo. 
• O tipo exige o especial fim de agir. É o elemento subjetivo do tipo (dolo específico). Atenção à expressão 
“com o fim de” presente no tipo penal. 
• Não é necessário que o ato se dê por meio sexual, podendo ser qualquer ato capaz de produzir o 
contágio. 
• O bem jurídico é incolumidade física e da saúde. 
• Sujeitos do crime 
- ATIVO: é pessoa contaminada pela moléstia (crime próprio). 
- PASSIVO: poderá ser qualquer pessoa que não tenha essa moléstia grave, pois, do contrário, haveria 
crime impossível. 
• Exemplos de moléstia grave: febre amarela, tuberculose, poliomielite, etc. 
• Voluntariedade (elemento subjetivo) 
- O crime é punido a título de dolo. Há um dolo direto de dano, querendo transmitir a doença, agindo 
com o especial fim de agir. 
• Não se admite o dolo eventual, por conta da exigência do dolo específico. 
• Consumação e tentativa 
- A consumação se dá com a prática do ato perigoso, ainda que não ocorra a transmissão da moléstia 
grave. Trata-se de crime formal, de consumação antecipada. Os crimes em que há a tendência interna 
transcendente (especial fim de agir) são crimes formais. 
- Se o contágio ocorrer e resultar lesão corporal leve, esta ficará absorvida pelo crime de perigo de 
contágio de moléstia grave. 
- Por outro lado, se ocorrer uma lesão corporal de natureza grave, ou se resultar em morte, o sujeito 
responderá por lesão corporal de natureza grave ou pelo homicídio preterdoloso, eis que haverá a 
consunção (o crime de perigo será absorvido pelo crime de dano). 
- A tentativa é possível, se houver uma conduta plurissubsistente. 
• Ação penal 
 
29 
 
- O art. 131 não fala de representação da vítima, motivo pelo qual a ação penal é pública incondicionada. 
 ARTIGO 132 – PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM 
• Segundo o art. 132, é crime a conduta de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente 
(prestes a ocorrer). 
• Trata-se de um crime de perigo concreto. 
• A pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano, se o fato não constitui crime mais grave. Trata-se de uma 
infração de menor potencial ofensivo e caso de subsidiariedade expressa. O art. 132 só será utilizado na 
hipótese de existir soldado de reserva, caso não se verifique o dolo de praticar uma conduta mais grave. 
Ex.: se o indivíduo tem a intenção de lesionar/matar pessoa específica, não incidirá no crime do art. 132, 
CP; responderá pela lesão corporal ou homicídio. 
• O parágrafo único diz que a pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se a exposição da vida ou da saúde de 
outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos 
de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais (incide na terceira fase dadosimetria). A 
ideia é proteger os trabalhadores rurais, vulgo “boias frias”. 
• O objeto jurídico é a vida e a saúde das pessoas. 
• Sujeitos do crime: 
- ATIVO: Qualquer pessoa poderá praticar, sendo crime comum. 
PASSIVO: O ofendido deve ser uma pessoa determinada. Se a infração coloca em risco um número 
indeterminado de pessoas, o sujeito ativo responde por crime de perigo comum (art. 250 e seguintes do 
CP). 
• Voluntariedade (elemento subjetivo) 
- O crime deve ser doloso (dolo direto ou eventual). O dolo é de perigo e não de dano. O sujeito quer ou 
assume o risco de expor a vida ou a saúde de outrem a uma situação de perigo concreto. Se a intenção 
é de provocar um mal, o crime será de lesão corporal ou homicídio. Trata-se de subsidiariedade 
expressa. 
• Consumação e tentativa 
- A consumação se dá quando há o efetivo risco, ou seja, quando a pessoa é exposta a uma situação de 
risco a sua saúde ou a sua vida. 
 
30 
 
- Se da conduta perigosa sobrevier um dano à pessoa, deverá ser verificado se o dano é mais grave ou 
mais leve do que o crime em apreço. 
- Sendo mais leve, o sujeito responde pelo crime de perigo para a vida ou saúde de outrem. Mas se o 
crime for mais grave, o indivíduo passará a responder pelo crime mais gravoso. 
- A tentativa é admissível quando o crime for comissivo. 
• Ação penal 
- Diante da inexistência de qualquer ressalva no texto legal, a ação é pública incondicionada. 
 ARTIGO 133 – ABANDONO DE INCAPAZ 
• Segundo o art. 133, é crime a conduta de abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância 
ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono. 
• Não necessariamente o sujeito passivo será um menor, podendo ser um ébrio, alcoólatra doentio, etc. 
Não se trata somente de incapacidade civil, mas sim de natureza real. 
• A pena é de detenção, de 6 meses a 3 anos. É uma infração de médio potencial ofensivo, cabendo 
suspensão condicional do processo. 
• O §1º diz que, se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave, a pena será de reclusão, de 1 a 
5 anos. Ainda caberá suspensão condicional do processo. 
• Todavia, resultando em morte o abandono de incapaz, a pena será de reclusão de 4 a 12 anos. 
• Em qualquer uma dessas qualificadoras, haverá um crime preterdoloso (dolo quanto ao abandono, culpa 
quanto ao consequente, ao resultado, seja lesão grave, seja a morte), visto que o agente não tinha a 
intenção de causar a morte ou a lesão grave. 
• O §3º diz que as penas serão aumentadas de 1/3: 
- Se o abandono ocorre em lugar ermo; 
- Se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. 
-Se a vítima é maior de 60 anos 
• Observe que não está escrito o companheiro, motivo pelo qual não será considerado, sob pena de 
analogia in malam partem. 
• Sujeitos do crime 
 
31 
 
- ATIVO: somente pode ser quem tenha a autoridade sobre o incapaz, ou que tenha sob seus cuidados 
ou vigilância. Trata-se de crime próprio. 
- PASSIVO: também somente pode ser quem está sob a vigilância ou autoridade do sujeito ativo. 
• Voluntariedade (elemento subjetivo) 
- O crime exige um dolo de perigo, ou seja, o dolo de abandonar, colocando o incapaz numa situação de 
risco. 
- O dolo de dano altera a natureza da infração penal, pois se o sujeito abandonar a criança para que ela 
morra, o dolo será de matar, estando diante de um homicídio. 
- Não se admite o crime na forma culposa. 
• Consumação e tentativa 
- A consumação se dá no exato momento do abandono, colocando o incapaz em uma situação de risco 
concreto. 
- É necessário então a demonstração de que a vítima foi submetida a uma situação de perigo. 
- Caso tenha sido praticado mediante ação, admite-se a tentativa. 
- Mas caso praticado por meio de omissão, não se admite a tentativa. 
• Ação penal 
- diante da inexistência de qualquer ressalva, será pública incondicionada. 
 ARTIGO 134 – EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO 
• Segundo o art. 134, é crime a conduta de expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra 
própria. A pena será de detenção, de 6 meses a 2 anos. 
• Forma privilegiada de abandono de incapaz. Há um especial fim de agir, pois o sujeito age para ocultar 
desonra própria. 
Obs.: O termo desonra está relacionado a questões sexuais, dado à época de elaboração do Código Penal. 
Trata-se de gravidez indesejada, advinda de estupro, incesto, etc. 
• Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, em razão da pena cominada em abstrado. Cabe 
transação penal. 
 
32 
 
• Honra com aspecto sexual. Nascimento sigiloso da criança. 
• Se do abandono do recém-nascido resulta lesão corporal de natureza grave, há uma pena de detenção, 
de 1 a 3 anos. Admite-se a suspensão condicional do processo. 
• Mas se ocorre a morte, por conta do abandono, a pena será de detenção de 2 a 6 anos. 
• Em qualquer um desses casos, o crime será preterdoloso (dolo quanto ao abandono, culpa quanto ao 
resultado lesão grave ou morte), causando o resultado culposamente. 
• O bem jurídico é proteger a incolumidade física e a saúde do recém-nascido. 
• Sujeitos do crime 
- ATIVO: Cezar Roberto Bitencourt diz que somente a mãe poderá ser o sujeito ativo do crime. No 
entanto, majoritariamente, entende-se que tanto a mãe quanto o pai poderá ser sujeito ativo do crime 
em apreço, pois ambos poderão abandonar o recém-nascido para ocultar desonra própria. Ex.: sujeito 
casado que abandona o recém-nascido para que não se descubra a gravidez da amante ( Clebrer 
Masson). 
- PASSIVO: recém-nascido. 
Trata-se, portanto, de crime próprio ou especial. 
• Conduta 
- A conduta é a de expor ou abandonar o recém-nascido, colocando em risco concreto para ocultar uma 
desonra própria. 
- Portanto, é indispensável que haja o dolo de agir, uma honra a preservar. Se não há honra para 
preservar, não há que se invocar o art. 134 do CP. Por isso, doutrina dirá que a prostituta não poderia 
praticar este crime. 
Obs.: Tal conceito já sofreu modificações ao longo do tempo. 
• Voluntariedade 
- O crime é doloso, exigindo-se o elemento subjetivo específico do tipo, ou seja, com o fim de ocultar 
desonra própria. 
- Se o marido da mulher que o traiu abandona o recém-nascido adulterino (filho resultante do adultério), 
ele não pratica o crime do art. 134, pois ele não age para ocultar desonra própria, mas age para ocultar 
 
33 
 
desonra alheia. Ou seja, o indivíduo estaria cometendo o crime do art. 133 (abandono de incapaz sem o 
aspecto privilegiador de ocultar a própria desonra), que é mais grave do que esse. 
 ARTIGO 135 – OMISSÃO DE SOCORRO 
• Segundo o art. 135, é crime deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à 
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente 
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública. 
• A pena é de detenção, de 1 a 6 meses, ou multa. É uma infração de menor potencial ofensivo. 
• O agente poderia fazer, mas não o fez, ou deixa de solicitar socorro da autoridade pública (solidariedade 
social). Crime omissivo puro ou próprio, pois o tipo penal já descreve a omissão – deixar de prestar ou 
não pedir. 
• Esse é um dever imposto a todos, e não um dever jurídico específico. Portanto, qualquer um poderá 
cometer o crime de omissão de socorro. 
• O parágrafo único diz que a pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de 
natureza grave. Incide na terceira fase da dosimetria. 
• A pena será triplicada, se resulta a morte. Ainda que tenha resultado morte, a infração continuará sendo 
de menor potencial ofensivo, mas a pena é majorada. 
• Sujeitos do crime 
- ATIVO: é qualquer pessoa, sendo um crime comum. 
Esse dever de assistência recai sobre todas as pessoas. Por isso a doutrina vai dizer que esse crime não admite 
coautoria. Dever de solidariedade. 
Diante de uma situação em que váriaspessoas podem ajudar alguém, mas elas omitem o socorro, cada uma 
pratica o crime de omissão de socorro, não há que se falar em coautoria. Mas se apenas uma pessoa ajudar 
a vítima, nenhuma das outras cometerá o crime, pois estaria desaparecida a obrigação. 
- PASSIVO: 
Criança abandonada ou extraviada (idade inferior a 12 anos) 
Inválido ou ferido desamparado 
O que se achar em grave e iminente perigo 
 
34 
 
• Conduta 
A conduta pode ocorrer de duas formas: 
- Deixar de atender determinada norma, sendo um crime omissivo 
- Deixar de solicitar socorro à autoridade pública, sendo um caso de assistência mediata 
- Se o crime é omissivo próprio, não admitirá tentativa. 
• Voluntariedade (elemento subjetivo) 
- A omissão deverá ser dolosa, não admitindo a conduta culposa. 
• Consumação 
- A consumação se dá no momento da omissão. Trata-se de crime omissivo próprio/puro. 
• Majorante de pena 
O crime tem a sua pena aumentada de: 
- Metade: resultar lesão corporal de natureza grave (aumenta a pena na metade) 
- Triplicada: resultar em morte. 
• Em qualquer dos casos, a infração continuará sendo de menor potencial ofensivo. 
• Se a morte do periclitante for inevitável, responderá o agente pela omissão do comportamento devido, 
apesar de este não ter a capacidade para evitar o resultado danoso? 
Não responderá, na medida em que a atuação do omitente não evitaria o resultado. Exige-se para a 
incidência da qualificadora que se prove no caso concreto que a conduta omitida seria capaz de impedir 
o resultado mais gravoso. Ex.: se a morte da vítima se deu por lesões no cérebro, cuja assistência 
prestada jamais impediria a superveniência do evento letal, não há como atribuir esse resultado ao 
agente. 
 ARTIGO 135-A – CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR EMERGENCIAL 
• Esse tipo penal surgiu para combater condutas abusivas em hospitais particulares. 
• Segundo o art. 135-A, é crime a conduta de exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer 
garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o 
atendimento médico-hospitalar emergencial. A pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa. 
 
35 
 
• A pena é aumentada até o dobro (2x) se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza 
grave. E será aumentada até o triplo (3x) se resulta a morte da vítima. 
• Este tipo penal é alvo de críticas, considerando o caráter fragmentário, subsidiário, ultima ratio do 
direito penal. Muitos doutrinadores entendem que tais situações seriam melhor solucionadas no juízo 
cível, já que não se trataria propriamente crime, mas de uma situação que poderia ser resolvida no 
âmbito do direito do consumidor ou cível. 
• Sujeitos do crime 
- ATIVO: Somente poderá ser sujeito ativo do crime os administradores de hospitais particulares, 
funcionário de hospital particular. 
Isso porque hospital público não pode exigir garantia, pois, neste caso, poderia haver outro crime, como o 
de concussão. 
Guilherme Nucci entende que há um duplo requisito cumulativo no tipo, devendo haver uma prestação de 
garantia e o preenchimento de formulário. Mas prevalece o entendimento que tanto a exigência de um como 
a exigência do outro tipifica o crime. 
- O tipo fala em situação emergencial. Com relação à situação de urgência, esta é uma situação de menor 
gravidade/imediatidade do que a emergência. 
- Há o entendimento de que a situação de urgência está abrangida pelo tipo penal. Outra corrente entende 
que a situação emergencial não abrange a situação de urgência (Professor Samer Agi). 
• Voluntariedade (elemento subjetivo) 
- O crime é praticado de forma dolosa, tendo um elemento subjetivo específico, exigindo a garantia ou 
o preenchimento de formulário como condição para viabilizar o atendimento médico emergencial. 
• Consumação e tentativa 
- O crime se consuma com a exigência indevida, condicionando o atendimento emergencial à prestação 
de uma garantia ou à prestação de um formulário. É crime de perigo concreto, devendo provar a situação 
de perigo e que ela não foi atendida. 
- A tentativa será possível, desde que, antes que exija, alguém atenda sem ter sido imposta esta 
condição. 
• Ação penal 
 
36 
 
- diante da ausência de dispositivo legal em sentido contrário, é pública incondicionada. 
ARTIGO 136 – MAUS-TRATOS 
• Segundo o art. 136, configura o crime de maus-tratos a conduta de expor a perigo a vida ou a saúde de 
pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, 
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou 
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina. 
• Tipo misto alternativo, de ação múltipla ou conteúdo variado; diferentes verbos são nucleares do tipo e 
vão perfectibilizar a conduta, a prática de mais de um dele em um mesmo contexto fático ensejará crime 
único. 
• Portanto, há 3 condutas possíveis para o crime de maus-tratos, quando o sujeito expõe a perigo de vida 
ou a saúde de pessoa sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para fim de educação, ensino, 
tratamento ou custódia. Crime de forma vinculada: 
- Privando de alimentação ou cuidados indispensáveis 
- Sujeitando a trabalho excessivo ou inadequado 
- Abusando de meios de correção ou disciplina 
• A pena será a de detenção, de 2 meses a 1 ano, ou multa. Admite-se a suspensão condicional do processo 
e transação penal, eis que se trata de infração de menor potencial ofensivo. 
• Segundo o §1º, se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena será de reclusão, de 1 a 4 
anos. 
• Se resulta a morte, a pena será de reclusão, de 4 a 12 anos. 
• Se o crime é praticado contra pessoa menor de 14, haverá o aumento de 1/3, não havendo bis in idem, 
ou seja, pode ser aplicada a majorante ainda que se trate da forma qualificada do crime. 
• Sujeitos do crime 
- ATIVO: Poderá ser sujeito ativo do crime a pessoa que tenha autoridade, vigilância ou guarda em 
relação à vítima da infração penal (crime próprio). 
Há uma discussão doutrinária se o companheiro poderia praticar esse crime em face do seu enteado. 
1ªC: é possível, desde que comprove que a vítima estivesse sob a sua autoridade, vigilância ou guarda. 
 
37 
 
2ªC: não poderia praticar o crime de maus-tratos, pois o agente não tem o poder correicional sobre o 
enteado. 
Pela legalidade estrita, não é possível. Portanto, prevalece a segunda corrente, vedando a analogia in 
mallan partem. 
• Voluntariedade (elemento subjetivo) 
- O crime é de ação múltipla, ou de conteúdo variado, podendo ser cometido pela privação de alimentos, 
ou sujeito a ela a trabalho excessivo, etc. 
- No caso do abuso do meio corretivo ou disciplinar, o meio empregado para expor a perigo, a vida ou a 
saúde do corrigido ou do disciplinado deve ser idôneo. 
- Se não se verificar que houve a exposição do perigo ou da vida, ou ainda da saúde da vítima punida 
gravosamente, ainda que seja vexatória a punição, não há que se falar em crime de maus-tratos. Ex.: A 
mãe que raspa os cabelos da filha não comete o crime de maus-tratos, pois não houve perigo à vida da 
filha neste caso. 
• Consumação e tentativa 
- Atente-se que essa conduta de maus-tratos não se confunde com o crime de tortura, previsto no art. 
1º, II, Lei 9.455/95. Isso porque: 
- No caso da tortura: a vítima deverá ser submetida a intenso sofrimento físico ou mental. A intensão 
do agente é ocasionar o intenso sofrimento físico ou mental na vítima. 
- No crime de maus-tratos: basta a exposição à situação de perigo à saúde ou à vida da pessoa. A 
intenção do agente pode ser a disciplina, mas exerce abusando desse poder. 
- A consumação se dá no momento em que o agente cria o perigo real, visto que há perigo concreto. 
Deve ser demonstrada a situação de perigo para que fique tipificado o delito. 
 
 
38 
 
Da rixa 
 Art. 137 – RIXA 
• Rixaé uma briga entre ao menos três pessoas, em que cada um age por sua conta, não havendo grupos 
determinados, acompanhada de vias de fato ou violências recíprocas. 
- Segundo a doutrina, quando o CP não faz referência expressa ao número exato de pessoas para a 
tipificação da conduta, entende-se que a lei prevê a necessidade de, ao menos, três indivíduos. 
- Não há rixa quando tem-se apenas a altercação verbal, ofensas ou trocas de xingamentos verbais. A 
rixa pressupõe o contato físico, agressões, vias de fato. 
• Segundo o art. 137, configura o crime a conduta de participar de rixa, salvo para separar os contendores 
(sem o dolo de agredir). A pena é de detenção, de 15 dias a 2 meses, ou multa (infração de menor 
potencial ofensivo – competência do JECrim). 
• Se ocorrer morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena 
de detenção, de 6 meses a 2 anos. Trata-se de uma rixa qualificada, mas continuará sendo infração de 
menor potencial ofensivo, cabendo transação penal e suspensão condicional do processo. 
• O bem jurídico tutelado é a incolumidade física ou mental da pessoa humana. 
I. Sujeitos do crime 
• O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. 
• O agente, no crime de rixa, será sujeito ativo e simultaneamente sujeito passivo. Crime de condutas 
contrapostas. 
• O crime é de concurso necessário (obrigatório), pois exige ao menos 3 pessoas brigando entre si para 
haver a rixa. Computa-se o inimputável, visto que ser imputável não é exigência para a rixa, basta um 
imputável envolvido para que se caracterize o crime em análise. 
• A participação da rixa pode ser material. Mas nada impede que seja moral, como é o caso do indivíduo 
que incentiva/motiva/instiga moralmente os demais a brigarem. 
• Essa participação poderá ocorrer desde o início (normalmente não há pré-ordenação da briga, ocorre 
em razão do momento) , ou o sujeito poderá aderir ao crime de rixa ao longo de sua realização. 
 
II. Voluntariedade 
• É necessária uma conduta dolosa. 
• Há aqui o dolo de perigo, que é a vontade consciente de tomar parte na briga. 
III. Consumação e tentativa 
 
39 
 
• O crime de rixa se consuma no momento em que tem início o conflito, sendo um crime de perigo 
presumido ou abstrato, não sendo necessário comprovar nenhum resultado naturalístico (dano, perigo 
concreto), isto é, que o efetivo risco à incolumidade física ou mental ocorreu. 
• Trata-se de um crime unissubsistente, motivo pelo qual prevalece que o crime de rixa não admite 
tentativa (rixa subitânea ou de improviso – a que acontece instantaneamente, de inopino, sem prévio 
ajuste, por exemplo, as que ocorrem em bares, estádios de futebol). A doutrina aponta ser possível a 
tentativa na rixa preordenada ou premeditada (Cleber Masson); quando há um prévio acordo entre os 
indivíduos. 
PERGUNTA: Há legítima defesa na rixa? 
- Via de regra, não se admite legítima defesa em caso de rixa, pois um dos requisitos da legítima defesa 
é que a agressão seja injusta, e portanto quem repele a agressão agride justamente quem agride 
injustamente 
- No caso da rixa, todos estão agredindo injustamente. Logo, por não haver agressão injusta, não há 
falar em legítima defesa. 
- A doutrina traz uma exceção, possibilitando a legítima defesa na rixa quando esta tiver um padrão, mas 
um dos rixosos sai do padrão. Ex.: a briga é de socos e chutes, mas um dos indivíduos pega uma arma 
de fogo. Logo após, sofre uma pedrada de um dos indivíduos, havendo legítima defesa. 
IV. Qualificadora 
• Ocorrendo lesão grave ou morte, a pena da rixa passará a ser de detenção de 6 meses a 2 anos. 
• Existem alguns sistemas que vão justificar a punição dos rixosos no tocante as outras infrações: 
• Sistema da solidariedade absoluta: todos os participantes da rixa vão responder também pelo outro 
crime mais grave, lesão corporal grave ou homicídio, ainda que não tenham sido os provocadores diretos 
do resultado mais gravoso. 
• Sistema da cumplicidade correspectiva: havendo morte ou havendo lesão grave, e não sendo possível 
apurar quem foi o autor da morte ou da lesão corporal grave, todos responderão pelo crime. No entanto, 
a pena será a média da sanção do autor e do partícipe. Nesse sistema, há uma pena atenuada para 
aqueles que participaram da rixa, mas não causaram o resultado agravador. 
• Sistema da autonomia: a rixa é punida por si mesmo, independentemente do resultado agravador. Caso 
tenha ocorrido, haverá qualificação do crime de rixa. Pelo resultado agravador, só responderá aquele 
que o praticou. Ex.: João, José, Carlos e Antônio participaram de uma rixa. Antônio morreu. Os outros 3 
respondem por rixa qualificada. Mas se João foi quem matou, responderá por rixa qualificada e pelo 
homicídio. 
 
40 
 
- Há uma autonomia em relação aos crimes, somente o indivíduo que provocar o resultado morte 
responderá em concurso pela rixa qualificada e homicídio. Este é o sistema adotado pelo CP. 
• No caso da rixa, todos estão agredindo injustamente. Logo, por não haver agressão injusta, não há falar 
em legítima defesa. 
• A doutrina traz uma exceção, possibilitando a legítima defesa na rixa quando esta tiver um padrão, mas 
um dos rixosos sai do padrão. Ex.: a briga é de socos e chutes, mas um dos indivíduos pega uma arma 
de fogo. Logo após, sofre uma pedrada de um dos indivíduos, havendo legítima defesa. 
• Se houver vários homicídios, a rixa qualificada será uma só, sendo os demais homicídios delitos 
autônomos. 
• Caso o agente tenha participado da rixa, mas deixou o local antes da ocorrência do resultado morte, ou 
seja, se a morte ocorreu posteriormente à saída desse indivíduo, responderá pela rixa qualificada. Isso 
porque a participação do indivíduo deu condições para que o evento morte ou lesão corporal grave 
viesse a ocorrer. 
• Por outro lado, se o indivíduo ingressa na rixa após a morte de José, João não responderá pela rixa 
qualificada, eis que não contribuiu para que o desfecho morte tivesse ocorrido. 
V. Ação penal 
A ação penal é pública incondicionada. 
 
Crimes contra a honra 
 Calúnia (art. 138) 
 Difamação (art. 139) 
 Injúria (art. 140) 
 
• Previsão em leis especiais (CPM, Código Eleitoral). O Código Penal tem natureza subsidiária por ser lei 
geral. Prevalece o princípio da especialidade. 
• Honra: direito fundamental (art. 5º, X, CF: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a 
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua 
violação). 
• A doutrina conceitua a honra como o conjunto de qualidades físicas, morais e intelectuais de um ser 
humano, que o fazem merecedor de respeito no meio social e promovem sua autoestima. A ofensa 
produz dor psíquica, abalo moral. É patrimônio moral que merece proteção (Cleber Masson). 
 
• Classificação da honra: 
 
41 
 
a) Honra objetiva: visão que a sociedade tem acerca das qualidades físicas, morais e intelectuais de 
determinada pessoa. Reputação social. Julgamento que as pessoas fazem de alguém. 
b) Honra subjetiva: sentimento pessoal acerca das próprias qualidades físicas, morais e intelectuais. 
Juízo individual (autoestima). Divide-se em honra-dignidade (qualidades morais) e honra-decoro 
(qualidades físicas e intelectuais). 
c) Honra comum: refere-se à pessoa, independentemente das suas atividades. Exemplo: chamar 
alguém de idiota, gordo, safado, ofende a honra comum. 
d) Honra especial: também chamada de honra profissional, relaciona-se às atividades exercidas pela 
vítima. Exemplo: chamar um motorista de barbeiro, ou um médico de açougueiro/carniceiro, ofende 
a honra especial. 
 
 Art. 138 – CALÚNIA 
Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime. 
• O crime de calúnia ataca a honra objetiva (conceito que a sociedade tem sobre o indivíduo). Atribuição 
a alguém de fato definido em lei como crime que não ocorreu,

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