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Fisiopatologia da IC Introdução Síndrome Caracterizada por um distúrbio funcional ou estrutural do coração, levando a manifestação de baixo débito ou de congestão. Seja ela pulmonar ou sistêmica. Síndrome clinica caracterizada pela incapacidade do coração de fazer sua função de bomba. Ñ necessariamente por ñ estar conseguindo bombear bem, mas por encher mal à custa de alta pressão Por trás da Insuficiência Cardíaca (IC) estão entidades extremamente comuns, como a hipertensão arterial sistêmica e a doença coronariana, além de outras como etilismo, infecções virais, disfunções valvares, diabetes mellitus e doença de Chagas. Definição Insuficiência Cardíaca (IC): Condição em que o coração não consegue bombear o sangue de acordo com a demanda tecidual, ou só o faz à custa de aumentos na pressão de enchimento (pressão diastólica final). A maioria dos casos é devida à perda de massa miocárdica, cursando com dilatação e/ou hipertrofia compensatória do VE. Resposta compensatória envolve ativação neuro-hormonal (sistema adrenérgico, sistema renina-angiotensina-aldosterona), e é justamente a hiperatividade neuro-hormonal a responsável direta pelas alterações deletérias observadas no cardiomiócito (isto é, há cardiotoxicidade de mediadores como epinefrina, angiotensina II e aldosterona) Fisiopatologia Função Sistólica e Diastólica Coração é um órgão muscular, encarregado de bombear o sangue. Mecânica depende do relaxamento/contração dos ventrículos e, em menor grau, dos átrios. Denominamos diástole a fase de enchimento ventricular e sístole a fase de ejeção O bom funcionamento cardíaco exige que tanto a sístole quanto diástole estejam normais. Função Sistólica Capacidade que o ventrículo possui de ejetar o sangue nas grandes artérias. Dinâmica Cardíaca: o Ventrículo normal contém cerca de 100 ml de sangue no final da diástole –> Volume Diastólico Final (VDF); faixa normal: 80- 150 ml. o Deste total, ≈ 60 ml são ejetados a cada batimento –> Débito Sistólico (DS); faixa normal: 40-100 ml. o Após ejetar o sangue, o que sobra na cavidade (≈ 40 ml) é o Volume Sistólico Final (VSF); faixa normal: 30-60 ml. VDF - DS = VSF 100 – 60 = 40 ml o O fluxo total gerado pelo coração na unidade de tempo é o Débito Cardíaco (DC), determinado pelo produto do débito sistólico com a Frequência Cardíaca (FC). DC = DS x FC O valor normal é de 4,5-6,5 L/min. O Índice Cardíaco (IC) é o DC corrigido pela área de superfície corporal. O valor normal do índice cardíaco é de 2,8-4,2 L/min/m2 A função sistólica pode ser estimada pela Fração de Ejeção (FE), definida como o percentual do volume diastólico final que é ejetado, ou seja: o FE = DS/VDF x 100. o Normal = 50-70%. Função Diastólica: Capacidade que o ventrículo possui de se encher com o sangue proveniente das grandes veias, sem aumentar significativamente sua pressão intracavitária. Determinada: Grau de relaxamento atingido, de modo que o sangue proveniente do retorno venoso se acomode nos ventrículos. Não é passivo Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) É um termo Refere-se à principal consequência clínica da insuficiência cardíaca -> congestão venocapilar Se o coração não bombeia o sangue adequadamente, uma parte fica estagnada na circulação venosa (incluindo a rede capilar). Consequente aumento na pressão venocapilar provoca extravasamento de líquido para o interstício, determinando seu acúmulo (edema ou “congestão”). A congestão explica boa parte dos sinais e sintomas da IC. Tipos de Insuficiência Cardíaca Quanto ao Lado do Coração Insuficiência Cardíaca Esquerda: o Maioria dos Casos o Decorre da disfunção do Coração E. o Geralmente Insuficiência Ventricular Esquerda (IVE). o Cursa com congestão pulmonar (dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna). o Ex’s: infarto agudo do miocárdio, cardiopatia hipertensiva Insuficiência Cardíaca Direita: o Decorre da disfunção do “Coração Direito” o Geralmente Insuficiência Ventricular Direita (IVD). o Cursa com congestão sistêmica (turgência jugular patológica, hepatomegalia, ascite, edema de membros inferiores, Derrame Pleural). o Ex’s: Cor pulmonale (relacionado à DPOC, obesidade mórbida, pneumopatias, tromboembolismo pulmonar ou hipertensão arterial pulmonar primária), infarto do ventrículo direito e miocardiopatias. Insuficiência Cardíaca Biventricular: o Há disfunção esquerda e direita. o Cursa com congestão pulmonar e sistêmica. o A maioria das cardiopatias que levam à insuficiência cardíaca inicia-se como IVE e posteriormente evolui com comprometimento do VD. –logo-> causa mais comum de IVD é a própria IVE. Quanto ao Mecanismo Fisiopatológico Insuficiência Cardíaca Sistólica: o Constitui 50 – 60% dos casos. o Problema -> Perda da capacidade contrátil do miocárdio. o Geralmente provoca -> Dilatação Ventricular (cardiopatia dilatada) e tem como marco laboratorial uma redução significativa da fração de ejeção (≤ 50%). o 2 Consequências: Baixo DC. Aumento do VDF (Vol. de Enchimento) e, portanto, da pressão de enchimento ventricular. –transmitida-> átrios e sistema venocapilar. o Ex’s: IAM, a isquemia miocárdica, a fase dilatada da cardiopatia hipertensiva e a miocardiomiopatia dilatada idiopática Insuficiência Cardíaca Diastólica: o 40 a 50% dos casos o Contração miocárdica está normal (com FE > 50%), mas existe restrição patológica ao enchimento diastólico. –Leva-> elevação nas pressões de enchimento e, consequentemente, aumento da pressão venocapilar (congestão). o O mecanismo pode ser uma alteração no relaxamento muscular e/ ou uma redução na complacência ventricular (“ventrículo duro” por excesso de tecido conjuntivo). o Maioria das vezes existe hipertrofia muscular concêntrica, com redução da cavidade. o Ex’s: Fase hipertrófica da cardiopatia hipertensiva e a cardiomiopatia hipertrófica. Quanto ao Débito Cardíaco Insuficiência Cardíaca de Baixo Débito: o Maioria dos casos. o Disfunção sistólica do VE reduz o Débito Cardíaco (DC). –Leva-> hipoperfusão tecidual. Nas fases iniciais: o DC pode se manter normal no estado de repouso, mas durante esforço físico o aumento fisiológico do DC não acontece. Na fase avançada: o DC estará reduzido mesmo em repouso, trazendo constantes limitações ao paciente. o IC diastólica também se observa uma limitação do DC, especialm. Durante atividade física: não há como elevá-lo sem aumentar a pressão de enchimento em demasia. o Podemos afirmar que todas as cardiopatias intrínsecas que promovem ICC o fazem gerando um quadro de IC de baixo débito. Insuficiência Cardíaca de Alto Débito: o Ocorre nas condições que exigem um maior trabalho cardíaco. o Como: Atender demanda metabólica: Tireotoxicose, anemia grave. Desvio de sangue do leito arterial para o venoso, através de fístulas arteriovenosas: beribéri, sepse, cirrose, doença de Paget óssea, hemangiomas. Em todos esses casos, apesar do débito cardíaco estar alto, ele está abaixo do desejado em face da alta requisição da função cardíaca. Mecanismos Compensatórios Lei de Frank-Starling Quanto maior for o Volume Diastólico Final (VDF), maior será o débito sistólico e a fração de ejeção. Um maior volume diastólico distende mais os sarcômeros (unidades contráteis dos miócitos), permitindo aos filamentos de actina e miosina um maior potencial para interação bioquímica e gasto energético. Por esse motivo, o ventrículo dilata, aumentando o VDF e, com isso, evitando a queda do débito cardíaco São dois os mecanismos dessa dilatação ventricular na IC sistólica: o (1) esvaziamento incompleto do ventrículo; o (2) hipervolemiadecorrente da retenção de sódio e água pelos rins. –depende-> da ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona (ativado pela hipoperfusão renal), que age aumentando a reabsorção hidrossalina dos rins. A lei de Frank-Starling, no entanto, possui uma importante limitação: um aumento excessivo do volume diastólico final acabará dificultando a performance ventricular, com desestruturação da mecânica das fibras, levando ao aumento das pressões de enchimento e à redução do débito sistólico A tendência é a evolução (após anos) para um estado de retenção volêmica exagerada, responsável pelos quadros de síndrome de insuficiência cardíaca congestiva. Quanto pior a função ventricular, menor será o volume diastólico final em que o ventrículo atingirá seu débito cardíaco máximo Contratilidade dos Miócitos Remanescentes Contratilidade (inotropismo) dos cardiomiócitos é modulada pelo sistema adrenérgico através da ação da noradrenalina e da adrenalina sobre receptores beta-1 e alfa- 1, especialmente o primeiro. Baixo DC estimula barorreceptores arteriais, ativando o sistema nervoso simpático (adrenérgico) que, agindo sobre os receptores citados, induz aumento na contratilidade dos miócitos que ainda não foram lesados gravemente. Até certo ponto na evolução inicial da doença o débito cardíaco pode ser “compensado” pelo maior trabalho desses miócitos remanescentes “sobrecarregados”. Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE) Definida como um aumento da massa de miocárdio ventricular. Representa o principal mecanismo compensatório inicial nos casos de sobrecarga de pressão ou volume ventriculares Sobrecarga de pressão (hipertensão arterial, estenose aórtica), ocorre uma hipertrofia concêntrica -> aumento da espessura da parede ventricular, sem aumentar a cavidade. Sobrecarga de volume (regurgitações valvares), ocorre hipertrofia excêntrica -> aumento da cavidade predominando sobre o aumento da espessura da parede ventricular. A hipertrofia, além de aumentar o número de sarcômeros e, portanto, a capacidade contrátil total, também reduz a tensão ou estresse da parede ventricular, melhorando a performance cardíaca. Quando o processo inicial é a perda de miócitos, a hipertrofia compensatória pode ocorrer nos miócitos remanescentes. A angiotensina II é um dos principais agentes indutores de hipertrofia ventricular na insuficiência cardíaca. Embora seja um mecanismo compensatório, traz sérios problemas: arritmogênese, piora da função diastólica, além de ser um fator de risco independente para eventos cardiovasculares. Aumento da Frequência Cardíaca: O que não pode ser compensado pelo aumento do débito sistólico em si pode ser alcançado pelo aumento da frequência cardíaca, mantendo, assim, o débito cardíaco estável. O sistema adrenérgico se encarrega de aumentar o cronotropismo, agindo sobre os receptores beta-1 no nódulo sinusal. Remodelamento Cardíaco Inicialmente, a queda no DC é percebida pelos barorreceptores periféricos que estimulam um aumento no tônus adrenérgico. A elevação da noradrenalina, além de seus efeitos cardiotrópicos, estimula diretamente a liberação renal de renina. Contudo, o principal estímulo à ativação do sistema SRAA é a hipoperfusão renal, devido à diminuição do sódio filtrado que alcança a mácula densa e à hipodistensão da arteríola aferente glomerular. A angiotensina e a aldosterona, também possuem o efeito de estimular a produção (ou inibir a recaptação) de noradrenalina. Ação dos Mediadores: o Noradrenalina: age sobre receptores beta-1 e beta-2 desencadeia a injúria do miócito (efeito “miocardiotóxico” das catecolaminas). O miócito se torna alongado e hipofuncionante, podendo evoluir com apoptose. Como uma espécie de “defesa”, o número de receptores beta- adrenérgicos é reduzido na insuficiência cardíaca avançada (downregulation). o Angiotensina II: age sobre os receptores AT1, promove os seguintes efeitos danosos: apoptose do miócito, proliferação de fibroblastos, liberação local de noradrenalina e da própria angiotensina. A ação pelos receptores AT2 ainda é desconhecida. o Aldosterona: agindo sobre receptores citoplasmáticos leva à hiperproliferação de fibroblastos. Ação desses três mediadores, acrescida do efeito de algumas citocinas (ex.: TNF-alfa), contribui sobremaneira para a piora progressiva da disfunção ventricular. Alteração na forma e função do miócito, sua degeneração e a fibrose intersticial resultam no “remodelamento cardíaco”. A parede ventricular será alongada, e sua espessura será reduzida. A forma elipsoide da cavidade é substituída por um formato esférico Pós-Carga Cardíaca Consiste: “Dificuldade” imposta ao esvaziamento ventricular. Se expressa na tensão da parede miocárdica durante a sístole. O aumento da pós-carga reduz o débito sistólico, e eleva o consumo miocárdico de oxigênio. Tudo que dificulta a ejeção ventricular faz parte da pós-carga. O principal fator é o tônus arteriolar periférico. A vasoconstrição arteriolar aumenta a pós-carga, enquanto a vasodilatação a reduz. O aumento na impedância aórtica (por calcificação) e a estenose da valva aórtica são outros possíveis mecanismos de aumento da pós-carga. Finalmente, o fator relacionado à própria geometria ventricular tem um papel de extrema importância, através da lei de Laplace Lei de Laplace: Diz que o “estresse” na parede ventricular (E) é diretamente proporcional ao raio cavitário (R) e à pressão intracavitária (P), sendo inversamente proporcional à espessura da parede (h). o Representada da seguinte forma: E = P x R/h. o Termo “estresse da parede ventricular” pode ser entendido como análogo à tensão superficial desta parede. o Esquecendo a interpretação matemática da lei de Laplace, podemos entendê-la de outra forma: um ventrículo que apresenta diâmetro cavitário muito grande e parede fina precisa fazer um esforço muito maior para ejetar o sangue do que um ventrículo de cavidade menor e maior espessura de parede! Se precisa fazer um esforço maior, é porque sua pós-carga é maior.
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