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P á g i n a | 1 Introdução Doenças pulmonares intersticiais, mas que na verdade não acometem somente o interstício. Grupo heterogêneo de doenças que acomete o interstício pulmonar, alvéolos e vias aéreas, com achados clínicos e funcionais semelhantes. É um desafio diagnóstico porque pode ter um grande número de causas diferentes, sendo que a maioria é rara. Associado a isso, muitas vezes temos uma dificuldade de discussão multidisciplinar. Classificação Isabela Terra Raupp Doenças Pulmonares Intersticiais Causas ou Associações conhecidas 1) Pneumocistoses 2) Infecções 3) Drogas 4) Colagenoses (16%) 5) Aspiração gástrica 6) Imunodeficiência 7) Proteínopatias 8) Metal duro 9) Tabaco- relacionadas Pneumocistose Intersticiais Idiopátiicas 1) Fibrose Pulmonar Idiopatica (15%) 2) Pneumonia Intersticial não específica 3) Pneumonia organizante 4) Pneumonia intersticial aguda 5)Pneumonia Intersticial Bronquiolocêntric a Linfoides 1) Bronquiolite Linfoide 2) hiperplasia linfoide reativa 3) Pneumonia Intersticial Linfoide 4) Granulomatose linfomatoide 5) Linfoma Granulomatosas 1) Sarcoidose (14%) 2) Pneumonite de hipersensibilidade (15%) 3) Infecções Miscelânea 1) Linfangioleiomiomatose 2) Proteinose alveolar 3) Pneumonia eosinofilica 4) bronquiolite constritiva 5) Doenças de depósito CAUSAS ASSOCIADAS: Pneumoconioses: doenças respiratórias intersticiais associadas a exposição ocupacional (ex.: asbesto, berílio, sílica). Infecções: a maioria são granulomatosas. o Das não granulomatosas, temos a pneumocistose, COVID-19 Drogas: Amiodarona, metotrexate, sinvastatina, nitrofurantoina (principalmente em idosos que usam como profilaxia para ITU de repetição). Colagenoses: LES, artrite reaumatoide, esclerose sistêmica... Aspiração gástrica/broncoaspiração de repetição: Idosos, pós-sequela de AVE, principalmente se tem broncoaspiração silenciosa. Doenças tabaco-relacionadas: pneumonia intersticial descamativa e bronquiolite respiratória. P á g i n a | 2 Pneumonia intersticial aguda é uma doença grave, que acaba levando ao óbito 90% dos pacientes. Pneumonia Intersticial Linfoide tem grande associação com HIV. Infecções granulomatosas: tuberculose, Mycobacterium não-tuberculose e micoses pulmonares. Descartando as infecções, temos 60% de todas as doenças difusas em 4 doenças: 16% colagenose 15% Fibrose Pulmonar Idiopatica 14% Sarcoidose 15% Pneumonite de hipersensibilidade História Clínica Sintomas pulmonares: o Dispneia normalmente progressiva o Tosse normalmente seca, mas pode ter catarro na tuberculose e nas micoses, por exemplo. o Sibilância Tabagismo → doenças tabaco-relacionadas Medicações História familiar → doenças como fibrose pulmonar idiopática podem apresentar um cluster familiar. História ocupacional → pneumoconioses Sintomas digestivos → disfagia, pirose e regurgitação → DRGE, esclerose sistêmica. Sintomas de doenças reumatológicas: o Dor, edema, rigidez muscular → artrite o Raynaud, rash cutâneo, fototossensibilidade → LES o Boca e olhos secos e úlceras orais e genitais Avaliar exames radiológicos antigos o Nos auxilia a estabelecer uma lógica temporal nos pacientes. o Auxilia na diferenciação entre doenças com padrões radiológicos semelhantes mas com evoluções diferentes. o Algumas doenças em 2 anos podem destruir o parênquima pulmonar. Outras demoram anos evoluindo e acabam estabilizando. Exame físico Pouco ajuda Ausculta pulmonar: estertorem em velcro (crepitantes). Baqueteamento digital. Apresentações radiológicas Auxilia no diagnóstico. Frequentemente se apresentam sem alterações – não menosprezar sintomatologia se raio-x estiver normal. Estabelecer lógica temporal entre os sintomas. Geralmente eles são mais crônicos. P á g i n a | 3 TC Melhor para a diferenciação dos padrões das doenças. Raramente se apresenta com padrão normal. Raio x normal Espessamento broncovascular mais acentuado nas bases Padrão salpicado (multiplos micronódulos) ex.: TB miliar Opacidades em vidro fosco Opacidades mais consolidativas e coalescentes + formação vidro fosco Padrão normal Espessamento septal liso Espessamento septal nodular (irregular) Cistos pulmonar na região subpleural em direção a medular (Faveolamento) múltiplos micro nódulos cistos dispersos no interior do parênquima pulmonar P á g i n a | 4 O padrão de múltiplos micro nódulos pode se apresentar como centrolobular, perilinfática (acompanha a cissura) ou de distribuição randômica. o Distribuição randômica: pensar em TB miliar. Laboratório Geralmente acrescenta poucas informações. o Exceção: colagenoses (autoanticorpos) Função pulmonar Padrão restritivo é a regra. o Espirometria com redução proporcional de VEF1 e CVF, mantendo a relação VEF1/CVF dentro da normalidade. Fluxo aéreo do paciente está preservado. o Volumes pulmonares com redução de CPT. Redução da DCO (difusão) é o achado mais precoce → porque acomete o parênquima que é justamente a área de difusão. Dessaturação nos testes de exercício é comum. Padrão de vidro fosco e um pouco de parênquima preservado (padrão em mosaico) Pavimentação maluca (parênquima normal + vidro fosco + consolidação) P á g i n a | 5 Pletismografia - redução na CPT Difusão pulmonar: Teste de caminhada por 6 minutos: Começa a caminhada saturando 92-93% e em menos de 1 minuto de caminhada ele dessatura violentamente (perto dos 70%). Então, ele para para voltar a saturação ao basal. Diminui a distância percorrida – limitação aos esforços. Bem característico principalmente da fibrose pulmonar. P á g i n a | 6 Broncoscopia Broncoscopia com lavado broncoalveolar Entra na via aérea inferior do paciente, que está sedado, escolhe o segmento que vai ser feita a coleta, baseado na TC (mais acometido ou melhor rendimento diagnóstico) o Quando chega no segmento, é colocado 100 a 200mL de SF na via aérea do paciente (dentro do parênquima pulmonar), até inundar o parênquima e depois aspira. Bastante útil no fluxograma de investigação Define aspecto, microbiologia e citologia. o Citologia: geralmente analisado em doenças idiopáticas, como a fibrose idiopática, sarcoidose... Eventualmente pode definir o diagnóstico: 4 Biopsia Transbrônquica convencional o Menos invasiva, mais disponível o Através da broncoscopia o Geralmente, retira uma pedaço de parênquima da via aérea distal “às cegas”. o Fornece fragmentos de 2-3 mm (limitação) o Doenças que acometem o feixe broncovascular Criobiópsia o Broncospcopia o Maior risco de pneumotórax e sangramento (limitação)!! o Fragmentos de 5-10mm o Ponteira congela via aérea e parênquima na volta e retira um pedaço. o Bom rendimento para doenças do parênquima pulmonar também. Cirurgia (Videotoracoscopia ou toracotomia) o Padrão-ouro o Risco de morbi-mortalidade de 2-16% Diagnóstico: Proteinose alveolar Pneumocistose, infecção por citomegalovírus, fungos e micobactérias. Carcinoma bronquíolo-alveolar difuso, na TC aparece como consolidação do parênquima e na citologia vem células malignas. Hemorragia alveolar difusa. Pneumonia eosinofílica. Diagnóstico altamente sugestivo se dados clínicos + TC: Pneumonite de hipersensibilidade: linfocitose, células plasmáticas e macrófagos xantomatosos Sarcoidose: linfocitose associada com relação CD4/CD8> 3,5. Bronquiolite respiratória + doença pulmonar intersticial: macrófagos com inclusões tabágicas, sem outras células expressivas. Pneumonia com organização criptogênica: celularidade mista com predomínio de linfócitos,macrófagos xantomatosos e relação CD4/CD8 reduzida. P á g i n a | 7 Equipe Multidisciplinar Mesmo assim, 15% das doenças difusas do parênquima permanecem não classificáveis. Fibrose pulmonar idiopática Doença fibrosante progressiva limitada aos pulmões → evolui com fibrose do parênquima pulmonar por depósito de colágeno (cicatriz). Etiologia incerta o Certamente fatores genéticos contribuem. Mais comum em: o Homens o Idosos o Tabagista ou Ex-tabagista (sem associação causal) Clínica: o Estertores em velcro em 90% (MARCA REGISTRADA – crepitante bibasal) Pode não aparecer em quadros muito iniciais, mas isso dificulta ainda mais o diagnóstico de certeza de FPI. o Baqueteamento digital em 30-40% Diagnóstico: o Radiológico: TC com faveolamento Não é exclusivo da FPI Múltiplos pequenos cistos dispostos em camadas, mais comuns nas bases pulmonares que no ápice (crânio-caudal). o Anatomopatológico: pneumonia intersticial usual (PIU) Sobrevida média de 2-5 anos TC: o Padrão de PIU na TC: confirma FPI. Se o paciente não tem faveolamento não é PIU. o PIU possível: outros critérios mas não faveolamento. o Incosistente: Sem características principais DPPD Patologista Cirurgião torácico Pneumologista Radiologist a P á g i n a | 8 Critérios diagnósticos: Paciente com clínica compatível, com padrão de PIU clássica → biopsia dispensada. Tratamento: o Nintedanib 150 mg o Pirferidona o Transplante Pulmonar → indicado avaliação em todos os pacientes no momento do diagnóstico. É o único tratamento que resolve a doença. Sarcoidose Doença granulomatosa sistêmica (acomete qualquer órgão) Etiologia incerta Pode acometer todos os sexos e idades o Mais comum em mulheres (2:1) o Mais comum em negros (3:1) Apresentações clínicas diversas: o Síndrome aguda auto-limitada o Doença crônica persistente. Comportamento imprevisível → alguns pacientes tratam em melhoram, outros melhoram sem o tratamento, outros nunca melhoram. Diagnóstico anatomopatológico: o Granuloma sarcoide (Células epitelioides sem necrose caseosa). Com necrose caseosa: TB o Essencial excluir causas conhecidas de inflamação. Protocolo de avaliação: 1. História: sintomas, exposição ocupacional e ambiental. Anti-fibróticos - lentificam a progressão da doença, mas não param a evolução nem melhoram o paciente. P á g i n a | 9 2. Exame físico detalhado. 3. Radiografia simples e TCAR do tórax 4. Função pulmonar: espirometria, DLCO e troca gasosa após exercício. 5. Hemograma completo 6. Bioquímica sanguínea: cálcio sérico, enzimas hepáticas, ureia e creatinina. 7. Urina I. 8. Urina de 24 h: calciúria, 9. Imunoeletroforese de proteínas. 10. Avaliação cardíaca: ECG, holter 24h e ecocardiograma 11. Exame oftalmológico 12. PPD Tratamento: o Imunossupressão: o Corticoide sistêmico é pedra angular – Prednisona 3-6 meses. o Doença refratária: Metotrexate Azatioprina Leflunomida Micofenolato Antagonista do TNF-alfa (Infliximabe, adalimumabe, etanercepte) Prognóstico: o Depende da apresentação clínica e da resposta ao tratamento. Pneumonite de hipersensibilidade Doença granulomatosa limitada aos pulmões. Causada por inalação de agentes antigênicos (geralmente orgânicos) o Agentes microbianos como bactérias e fungos. o Proteínas animais, como penas, pelo e saliva. o Substâncias químicas de baixo peso molecular, como pintura, plásticos e indústria eletrônica. Tabagismo parece ser fator de proteção. Apresentação clínica aguda, subaguda ou crônica. Diagnóstico clínico-radiológico- anatomopatológico. Aguda: padrão em mosaico Subaguda: Nódulos centrolobulares em vidro fosco. Crônica: fibrose, bronquiectasias + padrão em mosaico P á g i n a | 10 Anatomopatológico: granulomas mal formados (frouxos) sem necrose caseosa. Tratamento: o Identificar e afastar exposição. o Corticoide sistêmico quando necessário - prednisona 4-8 semanas o Azatioprina ou micofenolato são opções para casos crônicos, graves e refratários. o Rituximabe tem mostrado benefícios. o Antifibróticos estão sendo estudados para tratamento.
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