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Aspectos do direito constitucionAl Gianne G. R. Willecke Passold Giovana Mara Reiter Indaial – 2019 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Gianne G. R. Willecke Passold Giovana Mara Reiter Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: P289a Passold, Gianne Giselle Reiter Willecke Aspectos do direito constitucional. / Gianne Giselle Reiter Willecke Passold; Giovana Mara Reiter. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 147 p.; il. ISBN 978-85-515-0326-3 1. Direito constitucional. - Brasil. I. Reiter, Giovana Mara. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 341.2 III ApresentAção A Unidade I, especialmente, irá tratar da Introdução ao Direito Constitucional e fará uma abordagem do Direito Constitucional em si, das constituições e suas classificações e da História das constituições brasileiras. Já a Unidade II irá tratar sobre o constitucionalismo, fazendo uma abordagem sobre o Poder Constituinte. Ainda, serão analisados os princípios, direitos e garantias constitucionais. Por fim, na Unidade III, trataremos do controle de constitucionalidade, conceito e espécies de inconstitucionalidades, sistemas e meios de controle e, ainda, pretende-se esclarecer como funciona o controle abstrato, que é realizado através das ações: direta de inconstitucionalidade, direta de inconstitucionalidade por omissão, declaratória de constitucionalidade e de arguição de descumprimento de preceito constitucional. Gianne G. R. Willecke Passold e Giovana Mara Reiter IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. 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Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL ........................................... 1 TÓPICO 1 – DIREITO CONSTITUCIONAL ..................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 NATUREZA DO DIREITO CONSTITUCIONAL.......................................................................... 3 3 DEFINIÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL ......................................................................... 5 4 OBJETO DO DIREITO CONSTITUCIONAL ................................................................................. 6 5 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL ................................................................................ 7 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 10 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 11 TÓPICO 2 – A CONSTITUIÇÃO ......................................................................................................... 13 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 13 2 A CONSTITUIÇÃO .............................................................................................................................. 13 3 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES ................................................................................... 15 3.1 QUANTO AO CONTEÚDO .......................................................................................................... 16 3.2 QUANTO À FORMA ...................................................................................................................... 16 3.3 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO ................................................................................. 17 3.4 QUANTO À ORIGEM ..................................................................................................................... 17 3.5 QUANTO À ESTABILIDADE ........................................................................................................ 18 3.6 QUANTO À EXTENSÃO E FINALIDADE ................................................................................. 19 3.7 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 .......................................................................................... 20 3.8 PREÂMBULO CONSTITUCIONAL ............................................................................................. 22 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 24 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 25 TÓPICO 3 – A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS ............................................ 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES ............................................................................................. 27 2.1 CONSTITUIÇÃO DE 1824 .............................................................................................................. 28 2.2 A CONSTITUIÇÃO DE 1891 .......................................................................................................... 29 2.3 A CONSTITUIÇÃO DE 1926 .......................................................................................................... 30 2.4 A CONSTITUIÇÃO DE 1934 .......................................................................................................... 31 2.5 A CONSTITUIÇÃO DE 1937 .......................................................................................................... 33 2.6 A CONSTITUIÇÃO DE 1946 .......................................................................................................... 34 2.7 A CONSTITUIÇÃO DE 1967 .......................................................................................................... 36 2.8 A “CONSTITUIÇÃO” DE 1969 ...................................................................................................... 38 2.9 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 .......................................................................................................... 39 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 42 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................46 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 47 sumário VIII UNIDADE 2 – CONSTITUCIONALISMO, PODER CONSTITUINTE E OS PRINCÍPIOS, DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ..................................................... 49 TÓPICO 1 – CONSTITUCIONALISMO E PODER CONSTITUINTE ......................................... 51 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51 2 CONSTITUCIONALISMO ................................................................................................................. 51 2.1 CONSTITUCIONALISMO ANTIGO ............................................................................................ 53 2.2 CONSTITUCIONALISMO MODERNO ...................................................................................... 53 3 PODER CONSTITUINTE – CONCEITO E FINALIDADE .......................................................... 54 3.1 TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE ........................................................................ 55 3.2 FORMAS DE EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE ......................................................... 56 3.3 ESPÉCIES DE PODER CONSTITUINTE ...................................................................................... 57 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 61 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 62 TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS................................................................................... 63 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63 2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ESTADO BRASILEIRO ................................................... 63 3 REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ........................................................................................ 64 4 INTERVENÇÃO .................................................................................................................................... 67 5 PODER E DIVISÃO DE PODERES .................................................................................................. 69 6 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO .................................................................................. 71 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 73 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 74 TÓPICO 3 – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ......................................................... 75 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75 2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ............................................................................. 75 3 DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS ................... 76 4 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ........................................................ 78 5 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .............................................................. 79 5.1 DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO ......................................................................................... 79 5.2 DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO ......................................................................................... 80 5.3 DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO ......................................................................................... 81 5.4 DIREITOS DE QUARTA GERAÇÃO ............................................................................................ 81 6 DESTINATÁRIOS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................. 82 7 CONFLITO (OU COLISÃO) DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................ 83 8 RENÚNCIA AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .......................................................................... 84 9 DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 .................................................. 85 9.1 DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS ................................................................................... 85 9.2 DIREITOS SOCIAIS ......................................................................................................................... 86 9.3 DIREITOS DE NACIONALIDADE ............................................................................................... 86 9.4 DIREITOS POLÍTICOS .................................................................................................................... 86 9.5 DIREITOS À EXISTÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO EM PARTIDOS POLÍTICOS ....................................................................................................................................... 87 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 88 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 94 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 95 IX UNIDADE 3 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS E ATOS NORMATIVOS............................................................................................................. 97 TÓPICO 1 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ........................................................... 99 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 99 2 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ............................................................................... 99 2.1 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE FORMAL E MATERIAL ................................ 101 2.2 ORIGEM DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL ............................. 102 3 CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE ................................................................................... 103 4 O BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE ................................................................................... 105 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 107 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 108 TÓPICO 2 – INCONSTITUCIONALIDADE ..................................................................................... 109 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 109 2 CONCEITO DE INCONSTITUCIONALIDADE ........................................................................... 109 3 NULIDADE OU ANULABILIDADE? .............................................................................................. 110 4 ESTADO DAS COISAS INCONSTITUCIONAL .......................................................................... 111 5 ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE .............................................................................. 111 5.1 INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO ......................................................................... 112 5.2 INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO ............................................................................... 114 5.3 INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL E MATERIAL ..........................................................114 5.4 INCONSTITUCIONALIDADE TOTAL E PARCIAL ................................................................. 116 6 EFEITOS DA INCONSTITUCIONALIDADE ................................................................................ 117 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 119 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 120 TÓPICO 3 – SISTEMA DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E AS AÇÕES ESPECIFICAS DE CONTROLE CONCENTRADO................................................... 121 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 121 2 SISTEMA DE CONTROLE ................................................................................................................. 121 3 MODELOS DE CONTROLE .............................................................................................................. 122 3.1 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO ............................................................ 124 3.1.1 Cláusula de Reserva de Plenário .......................................................................................... 125 3.1.2 Súmula Vinculante 10 ............................................................................................................ 126 3.2 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO ........................................... 127 3.3 VIAS DE AÇÃO ............................................................................................................................... 128 4 AÇÕES ESPECÍFICAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO ................................................................................................................................. 130 4.1 AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE ............................................................... 130 4.1.1 Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica (ADI GENÉRICA)................................ 131 4.1.2 Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (ADI INTERVENTIVA) ................. 131 4.1.3 Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) ............................................. 132 4.2 AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE ....................................................................... 132 4.3 ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF) ............. 133 4.3.1 Arguição de descumprimento de preceito fundamental (preventiva e repressiva) ..... 133 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 135 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 138 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 139 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 141 X 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender os conceitos iniciais e definições referentes ao Direito Constitu- cional e obter uma visão sobre a matéria e objeto de estudo; • identificar as características do Direito Constitucional, suas fontes e sua história; • compreender o significado da constituição e suas classificações. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DIREITO CONSTITUCIONAL TÓPICO 2 – A CONSTITUIÇÃO TÓPICO 3 – A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DIREITO CONSTITUCIONAL 1 INTRODUÇÃO Este tópico destina-se a apresentar a disciplina ao acadêmico, tornando o estudo e a compreensão da disciplina trabalhada de forma mais simplificada. Pretende-se trazer um panorama sobre o Direito Constitucional desde a sua natureza, definição, objeto e fonte. Serão abordados conteúdos referentes à natureza do direito constitucional, que pode ser entendido como um conjunto de normas que regulam o Estado. Também serão trazidos conceitos e definições que têm o intuito de sintonizar o aluno na área objeto de estudo. Ainda, se tem a expectativa de elencar as fontes do direito constitucional, trazendo a conceituação e os tipos de Constituição. Então, teremos uma compreensão da matéria em comento. Assim, você, acadêmico, terá uma compreensão maior do enorme significado da disciplina no contexto de estudo a ser realizado. 2 NATUREZA DO DIREITO CONSTITUCIONAL Para dar início aos estudos, faz-se necessária uma abordagem sobre o Direito Constitucional, sua natureza, definição, objeto e fontes. Assim, “o direito constitucional costuma ser classificado como um ramo interno do direito público” (NOVELINO, 2018, p. 34). Pode-se entender direito público como um conjunto de normas que regula os interesses do Estado, internamente ou em relação aos interesses particulares. Abrange a legislação com o formato público e social, que tem o intuito de garantir a soberania da nação e as relações na sociedade. A nação é a junção de cidadãos, geralmente do mesmo grupo étnico, que falam a mesma língua e têm os mesmos costumes, formam um povo. Uma nação se mantém pelas tradições, religião, língua e consciência nacional. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 4 Por ser o “fundamento de validade de todas as normas do ordenamento jurídico, seria mais exato afirmar que o direito constitucional, mais do que um simples ramo, é o tronco do qual derivam todos os demais ramos do direito” (NOVELINO, 2018, p. 34). Em relação à supremacia do direito constitucional, tem-se que: É um pressuposto da função desempenhada pela Constituição como ordem jurídica fundamental da comunidade. Todos os poderes públicos, inclusive o legislativo, encontram-se subordinados à Constituição, razão pela qual a validade de seus atos dependerá da compatibilidade. Como decorrência da superioridade hierárquica, surge o caráter vinculante da Constituição. Na qualidade de Lei Maior, esta impõe que os atos estatais guardem correlação com os seus dispositivos, sob pena de serem invalidados (NOVELINO, 2018, p. 34). Assim, os poderes executivo, judiciário e legislativo têm a obrigação constitucional de respeitar e de serem subordinados à Constituição. Ressalta-se que a superioridade hierárquica referenciada tem o condão de vincular os atos administrativos realizados pelos entes públicos aos preceitos contidos na “Lei Maior”. Em caso contrário, podem ser considerados inválidos. NOTA Lei Maior pode ser entendida como carta magna, constituição, magna-carta, carta constitucional, lei básica, carta política, por exemplo. Os atos administrativos, no entendimento de Di Pietro (2006, p. 206) são, “de maneira mais restrita, excluindo da conceituação, além dos atos normativos da administração pública e dos contratos administrativos, os atos de conhecimento, opinião, juízo ou valor (como pareceres, atestados e certidões)”. Retornando aos poderes, para um maior esclarecimento, pode-se entender por poder judiciário a administração da justiça na sociedade, através do cumprimento de normas e leis judiciais e constitucionais. Ainda, é constituído por ministros, desembargadores, promotores de justiça e juízes, que têm a obrigação de avaliar ações ou situações que não se enquadram com as leis criadas. Já o poder legislativo é aquele que tem a tarefa de legislar, ou seja, fazer as leis. No Brasil, o poder legislativo é composto pela Câmara dos Deputados e Senado Federal. As casas estão localizadas em Brasília. Lembrando que os estados têm o poder legislativo,composto pelos deputados estaduais, e os municípios também, com os vereadores. https://www.sinonimos.com.br/carta-magna/ https://www.sinonimos.com.br/constituicao/ https://www.sinonimos.com.br/magna-carta/ https://www.sinonimos.com.br/lei-basica/ TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 5 O poder executivo, segundo o próprio termo, é o poder que executa, coloca em prática assuntos previamente deliberados pelo legislativo, ou seja, por aqueles que legislam e criam leis. 3 DEFINIÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL Teixeira (1991, p. 3) define o direito constitucional de duas formas distintas. Em particular, como o “estudo da teoria das constituições e da Constituição do Estado brasileiro”. De forma analítica, como “o conjunto de princípios e normas que regulam a própria existência do Estado moderno, na sua estrutura e no seu funcionamento, o modo de exercício e os limites de sua soberania, seus fins e interesses fundamentais, e do Estado brasileiro, em particular” (TEIXEIRA, 1991, p. 3). Na visão de Silva (1997, p. 38), o Direito Constitucional, enquanto ciência positiva das constituições, pode ser definido como “o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado”. Já no entendimento de Moraes (2017, p. 29), “o Direito Constitucional é um ramo do direito público e destacado por ser fundamental à organização e funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários e ao estabelecimento das bases da estrutura política”. Miranda (1990, p. 13-14) define o Direito Constitucional como: A parcela da ordem jurídica que rege o próprio Estado, enquanto comunidade e enquanto poder. É o conjunto de normas (disposições e princípios) que recordam o contexto jurídico correspondente à comunidade política como um todo e aí situam os indivíduos e os grupos uns em face dos outros e frente ao Estado-poder. Ao mesmo tempo, definem a titularidade do poder, os modos de formação e manifestação da vontade política, os órgãos e os atos. Assim, observa-se, na leitura das definições trazidas, que o Direito Constitucional é um ramo do direito público e que tem como finalidade principal organizar o funcionamento do Estado, delimitando desde os princípios fundamentais ao exercício dos direitos. Estuda a Constituição, a estrutura e o funcionamento do Estado no intuito de viabilizar as estruturas fundamentais que balizam a administração pública em um todo. Também é preciso lembrar que os limites da organização são os limites territoriais. Temos, ainda, o Direito Público, que é o conjunto de normas que regula os interesses do Estado. É competência do Direito Público determinar a subordinação entre o público e o privado. Destina-se à regulamentação das atividades estatais, às relações do Estado e às ações dos cidadãos dentro da esfera pública. Ainda, defende o interesse público. https://www.politize.com.br/trilhas/processo-legislativo/ https://www.politize.com.br/como-se-cria-uma-lei/ UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 6 Quando se fala em administração pública, “referimo-nos ao aparelho estatal, ou seja, ao conjunto formado por um governo e seus agentes administrativos, regulado por um ordenamento jurídico” (BRESSER PEREIRA, 1995, s.p.). 4 OBJETO DO DIREITO CONSTITUCIONAL O Direito Constitucional tem por objeto o estudo das normas fundamentais de organização do Estado. Trata dos seguintes temas: estrutura de seus órgãos, distribuição de competências, aquisição, exercício e transmissão da autoridade, direitos e garantias fundamentais etc. (NOVELINO, 2018). Seu objeto é a “constituição política do Estado, no sentido amplo de estabelecer sua estrutura, a organização de suas instituições e órgãos, o modo de aquisição e limitação do poder, através, inclusive, da previsão de diversos direitos e garantias fundamentais” (MORAES, 2017, p. 29). Estudar a Constituição não é estudar apenas o texto da Constituição Federal de 1988, deve-se estudar também os aspectos teóricos que cercam o tema, ou seja, as teorias que foram criadas acerca da Constituição, formadas por especialistas no assunto, e o texto da própria Constituição (ANGELFIRE, s.d.). De acordo com o seu objeto de estudo, o Direito Constitucional é dividido por García-Pelayo (1993, p. 22-23) em três disciplinas: I) direito constitucional positivo (particular ou especial): tem por objeto a interpretação, sistematização e crítica das normas constitucionais vigentes em um determinado Estado; II) direito constitucional comparado: tem por finalidade o estudo comparativo e crítico das normas constitucionais positivas, vigentes ou não, de diversos Estados. O estudo teórico é feito com o intuito de destacar singularidades e contrastes entre as diversas ordens jurídico- constitucionais; III) direito constitucional geral: compreende a sistematização e classificação de conceitos, princípios e instituições de diversos ordenamentos jurídicos visando à identificação dos pontos comuns, isto é, das características essenciais semelhantes de um determinado grupo de constituições. Por meio da disciplina, procura-se estabelecer uma teoria geral do direito constitucional. Visando à melhor compreensão, pode-se afirmar, de forma ampla, que o objeto de estudo do Direito Constitucional é a própria Constituição, que é a norma fundamental e que estrutura a organização do Estado. Estuda a estrutura do Estado desde as suas instituições até as suas aquisições e limitações. TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 7 5 FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL Inicialmente, cabe ressaltar o que vem a ser fonte. Segundo Novelino (2018, p. 36), “tradicionalmente, as fontes do direito são definidas como os fatos ou atos dos quais o ordenamento jurídico faz depender a produção de normas jurídicas”. Em relação à classificação das fontes do Direito Constitucional, podemos perceber que são diferenciadas, inclusive, os autores não são consensuais sobre elas. A abordagem que se levará em consideração é a adotada por Bobbio (2010, p. 37). Para ele, “as fontes de juridicidade do direito constitucional podem ser divididas em originárias e derivadas”. DICAS Faça uma leitura do artigo disponibilizado no link. Assim, compreenda melhor as fontes do Direito. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/48588/fontes-do-direito>. Acesso em: 15 jan. 2018. No entendimento de Novelino (2018, p. 36), “no sistema da civil law, a constituição escrita é a fonte originária do direito constitucional. Na qualidade de fonte principal e suprema, a Constituição pode delegar competências a outros poderes ou reconhecer, ainda que implicitamente, normatividade a outras fontes (fontes derivadas)”. Assim, tem-se, das explicações, que a fonte originária é a própria Constituição, e as derivadas são as que a Constituição delega, como as leis e a jurisprudência. Nessa linha de raciocínio, as fontes derivadas podem ser divididas em delegadas ou reconhecidas. Uma das fontes do Direito Constitucional pode ser classificada como fonte delegada: São as resultantes de competências atribuídas pelo legislador constituinte a órgãos inferiores para a produção de normas jurídicas regulamentadoras de dispositivos constitucionais, como no caso das leis ordinárias e complementares, decretos e regulamentos que servem de apoio à Constituição. A jurisprudência criada a partir da interpretação ou integração da Constituição feita pelos Tribunais também pode ser considerada como fonte do direito constitucional, ainda que o Poder Judiciário deva atuar dentro da moldura constitucionalmente estabelecida (NOVELINO, 2018, p. 36). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 8 “Como fontes reconhecidas pela Constituição, podem ser mencionadas as normas jurídicas. Produzidas antes ou durante a sua vigência, são acolhidas por ela. É o caso, por exemplo, das leis recepcionadas e dos costumes constitucionais” (NOVELINO, 2018, p. 36). Exemplificando, as fontes delegadas são as leis, os decretos e a jurisprudência.Elas advêm das capacidades conferidas a órgãos inferiores que produzem normas jurídicas. Já as fontes reconhecidas são as leis recepcionadas e costumes constitucionais. São normas acolhidas antes ou durante a vigência da constituição. No Direito Constitucional distinguimos, ainda, duas modalidades de fontes: as escritas e as não escritas: As fontes escritas abrangem: a) as leis constitucionais; b) as leis complementares ou regulamentares - figura especial de leis ordinárias que servem de apoio à Constituição e fazem com que numerosos preceitos constitucionais tenham aplicação; c) as prescrições administrativas contidas em regulamentos e decretos, de importância para o Direito Constitucional, desde que recebendo a delegação de poderes entre o governo no exercício da delegação legislativa; d) os regimentos das Casas do Poder Legislativo, ou do órgão máximo do Poder Judiciário; e) os tratados internacionais, as normas de direito Canônico, a legislação estrangeira, as resoluções da comunidade internacional pelos seus órgãos representativos, sempre que o Estado aprovar ou reconhecer; f) a jurisprudência, não obstante, o caráter secundário que as normas revestem, visto que, em rigor, a função jurisprudencial não cria Direito, senão que se limita a revelá-lo, ou seja, a declarar o direito vigente; g) finalmente, a doutrina, a palavra dos tratadistas, a lição dos grandes mestres (ANGELFIRE, s.d., s.p.). Quanto às fontes não escritas, são “duas: o costume e os usos constitucionais. O costume forma-se quando a prática repetida de certos atos induz uma determinada coletividade à crença ou convicção de que os atos são necessários ou indispensáveis” (ANGELFIRE, s.d., s.p.). “Sua importância para o Direito Constitucional é imensa. Os usos constitucionais compõem, enfim, a segunda categoria das fontes não-escritas. Sua relevância é maior nos países desprovidos de Constituição escrita ou que a possuem em textos sumários” (ANGELFIRE, s.d., s.p.). Também pode-se considerar fonte do Direito Constitucional a doutrina. Com o crescimento e casos complicados nas sociedades, tem-se “conferido à doutrina um papel fundamental na formulação de critérios e parâmetros decisórios capazes de contribuir para a sofisticação do debate e para a redução do ônus argumentativo e da complexidade decisória” (NOVELINO, 2018, p. 39). Dentro da proposta, em especial nos casos difíceis, pondera Maia (2009, p. 125): “O trabalho doutrinário procura lançar pontes entre a teoria e a prática, municiando os operadores do direito com instrumentos capazes de conduzi-los a respostas pertinentes para os problemas jurídicos”. TÓPICO 1 | DIREITO CONSTITUCIONAL 9 “A equação é simples: considerando as limitações de tempo e espaço no processo judicial e a ampliação da complexidade dos critérios de decisão, cada vez mais se torna necessário o recurso a critérios de decisão previamente formulados no âmbito doutrinário” (NOVELINO, 2018, p. 39). A doutrina deve estar sempre pronta a conceituar e a auxiliar, dando formas e recursos que podem servir como fundamento para resolução de conflitos, antecipando, muitas vezes, formas de resolver casos reais. “A partir da antecipação de conflitos constitucionais feita com o auxílio de situações hipotéticas, a doutrina pode fornecer um conjunto de soluções ponderativas pré-fabricadas capazes de servir como parâmetros para a solução de um caso concreto” (BARCELLOS, 2005, p. 150-151). Uma vez que as circunstâncias fáticas imaginadas pela doutrina se reproduzam no caso real, ou se repitam em hipóteses já verificadas anteriormente, o juiz terá, à disposição, modelos de solução pré-prontos (BARCELLOS, 2005). Os “modelos pré-prontos” seriam situações já estudadas e que ajudariam os julgadores na tomada das decisões. Os doutrinadores estudam a legislação e a sociedade como um todo e determinam conceitos e fundamentos que podem servir de parâmetro na consecução da finalidade da lei, ou seja, na aplicação de forma eficaz da legislação com base nos anseios da sociedade. Na verdade, “os subsídios oferecidos ao aplicador pela ponderação em abstrato acabam por transformar muitos conflitos normativos, que seriam casos difíceis, em fáceis, simplesmente porque já há um modelo de solução que é aplicável” (BARCELLOS, 2005, p. 150-151). Os “modelos” têm o intuito de facilitar, agilizar e respaldar as decisões dadas a conflitos. Então, tem-se como fonte a nascente, onde brota o Direito Constitucional. As fontes norteiam toda e qualquer criação legislativa no ramo do direito. Assim, temos que a divisão do direito em ramos tem o intuito de facilitar a compreensão do direito como um todo. DICAS Para entendermos melhor as divisões do direito em ramos, façamos uma leitura do conteúdo. FONTE: <http://faculdadearnaldo.com.br/quais-sao-os-ramos-do-direito/#> e <https://www.coladaweb.com/direito/ramos-do-direito>. Acesso em: 15 jan. 2018. http://faculdadearnaldo.com.br/quais-sao-os-ramos-do-direito/# 10 Neste tópico, você aprendeu que: • O Direito Constitucional tem natureza jurídica de direito público fundamental. • Existem várias definições do Direito Constitucional, trazidas por diversos autores. • O Direito Constitucional é um ramo do direito público. • O Direito Constitucional é fundamental à organização e ao funcionamento do Estado. • O objeto do Direito Constitucional é o estudo das normas fundamentais e a organização do Estado, bem como a Constituição em si. • Tem-se entendido como fonte a nascente, onde brota o Direito Constitucional. • As fontes do Direito Constitucional são muito diferenciadas. RESUMO DO TÓPICO 1 11 1 Com relação ao conceito e às fontes do direito constitucional, julgue o item seguinte. Considerando-se a experiência histórica dos Estados, é correto afirmar que a própria Constituição é fonte formal do direito constitucional. ( ) Certo ( ) Errado 2 Acerca da Constituição Federal, julgue o item seguinte: No Brasil, segundo a doutrina dominante, os usos e costumes não são fontes do direito constitucional, pois o poder constituinte originário optou por uma Constituição escrita e materializada em um só código básico. ( ) Certo ( ) Errado 3 O Estado constitui a nação politicamente organizada, enquanto a administração pública corresponde à atividade que estabelece objetivos do Estado, conduzindo politicamente os negócios públicos. ( ) Certo ( ) Errado 4 O vocábulo nação é bastante adequado para expressar tanto o sentido de povo quanto o de Estado. ( ) Certo ( ) Errado AUTOATIVIDADE 12 13 TÓPICO 2 A CONSTITUIÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Este tópico destina-se a apresentar a disciplina ao acadêmico, tornando o estudo e a compreensão da disciplina trabalhada de forma mais simplificada. Pretende-se trazer o conceito de Constituição, suas classificações e, ainda, o que vem a ser o Preâmbulo Constitucional. Ao estudar a Constituição, pretende-se fazer uma análise da sua conceituação bem como de seus diversos sentidos, em especial o sentido sociológico, o sentido político e o sentido jurídico. Ainda, serão realizados estudos sobre a classificação das constituições, que podem ser divididas em relação ao seu conteúdo, forma, origem, finalidade etc. Assim, acadêmico, você terá uma visão mais abrangente dos vários tipos de Constituição, o que facilitará a análise dos demais conteúdos a serem trabalhados. 2 A CONSTITUIÇÃO A Constituição, em um Estado democrático, não estrutura apenas o Estado em sentido estrito, mas também o espaço público e o privado, constituindo assim a sociedade (NERY JUNIOR; ABBOUD, 2017). “Constituição significa ordem jurídica fundamental do estado e da sociedade. A Constituição não é apenas a Constituição “do estado”, mas possui um conceito mais amplo que compreende as estruturas fundamentais da sociedade” (NERY JUNIOR; ABBOUD, 2017, p. 99). A Constituição determina regras e estabelece critérios que devem ser respeitados por todos e de forma indiscriminada,ou seja, a Constituição é a regra maior e se encontra no topo da pirâmide da legislação pátria. Assim, temos um Estado Democrático de Direito, que foi uma das grandes conquistas da humanidade. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 14 No correr de milênios, as formas de convivência humana foram sendo modificadas em decorrência de múltiplos fatores, como a percepção da necessidade de um governo do grupo social que definisse e implantasse formas de organização que fossem benéficas para todos os componentes do grupo (DALLARI, 2017, s.p.). DICAS Para compreender melhor o vocábulo “constituição”, faça uma leitura do conteúdo do artigo disponibilizado. FONTE: <https://www.educacao.cc/cidada/o-que-e-a-constituicao-brasileira-e-para-que- serve-a-carta-magna/>. Acesso em: 15 jan. 2018. A Constituição é uma ordenação fundamental no sentido quantitativo, quando não libera nada. Portanto, para tudo tem, à disposição, ou um mandamento ou uma proibição (NERY JUNIOR; ABBOUD, 2017). A “Constituição, lato sensu, é o ato de constituir, de estabelecer, de firmar. Ainda, o modo pelo qual se constitui uma coisa, um ser vivo, um grupo de pessoas, organização, formação” (GUETZEVICH, 1933, p. 45). Segundo Canotilho e Moreira (1991, p. 41), a Constituição deve ser entendida como: A lei suprema e fundamental de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos. Forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos. Além disso, é a Constituição que individualiza os órgãos competentes para a edição de normas jurídicas, legislativas ou administrativas. Considerando o círculo de alcance da Constituição, Carvalho (1982, p. 13) percebe que “a Constituição se definirá como o estatuto jurídico fundamental da comunidade e abrangendo, mas não se restringindo, estritamente, ao político”. Na Constituição, podemos encontrar as regras de regulação, princípios individuais e coletivos, regras de criação e organização de estados e municípios e a serem seguidas pelos servidores públicos em todas as suas categorias. Importante destacar o chamado conceito ideal de constituição, imposto a partir do triunfo do movimento constitucional no início do século XIX (MORAES, 2017). Como leciona Canotilho e Moreira (1991, p. 42): https://www.educacao.cc/cidada/o-que-e-a-constituicao-brasileira-e-para-que-serve-a-carta-magna/ https://www.educacao.cc/cidada/o-que-e-a-constituicao-brasileira-e-para-que-serve-a-carta-magna/ TÓPICO 2 | A CONSTITUIÇÃO 15 o conceito ideal identifica-se fundamentalmente com os postulados políticos-liberais, considerando como elementos materiais caracterizadores e distintivos os seguintes: (a) a constituição deve consagrar um sistema de garantias da liberdade (esta essencialmente concebida no sentido do reconhecimento de direitos individuais e da participação dos cidadãos nos atos do poder legislativo através do parlamento); (b) a constituição contém o princípio da divisão de poderes, no sentido de garantia orgânica contra os abusos dos poderes estatais; (c) a constituição deve ser escrita (documento escrito). Paulo e Alexandrino (2017, p. 8) expressam vários sentidos para a Constituição e ressaltam o sentido sociológico, político e jurídico: FIGURA 1 – SENTIDOS (SOCIOLÓGICO, POLÍTICO E JURÍDICO) FONTE: Paulo e Alexandrino (2017, p. 8) Em relação aos conceitos e sentidos dados pelos doutrinadores sobre o que vem a ser uma Constituição, observa-se que cada um deles, especialmente os aqui referenciados, têm características próprias e cada um expressa de acordo com seus convencimentos. Contudo, todos entendem que a Constituição seria uma ordem fundamental de determinado país. 3 CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES Moraes (2017) explana, de forma concisa, a classificação das constituições nos seguintes termos: UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 16 FIGURA 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES FONTE: Moraes (2017, p. 29) 3.1 QUANTO AO CONTEÚDO Segundo Moraes (2017), quanto ao conteúdo, as constituições podem ser classifi cadas em materiais ou substanciais e formais. A Constituição material “consiste no conjunto de regras materialmente constitucionais, que estejam ou não codifi cadas em um único documento. Já a Constituição formal é aquela consubstanciada de forma escrita, por meio de um documento solene estabelecido pelo poder constituinte originário” (MORAES, 2017, p. 29). Contudo, o que são as regras materialmente constitucionais? Estas determinam as formas de governo, do Estado, de aquisição e exercício do poder, da estrutura dos órgãos de poder do Estado e dos limites da atuação estatal. 3.2 QUANTO À FORMA Ainda segundo Moraes (2017), as constituições se dividem em escritas e não escritas. A Constituição escrita é o conjunto de regras codifi cado e sistematizado em um único documento, para fi xar-se à organização fundamental. Canotilho (1991) denomina de Constituição instrumental, apontando seu efeito racionalizador, estabilizante, de segurança jurídica e de calculabilidade e publicidade. A Constituição escrita, portanto, é o mais alto estatuto jurídico de determinada comunidade, caracterizando-se por ser a lei fundamental de uma sociedade. À Constituição corresponde o conceito de Constituição legal, como resultado da elaboração de uma Carta escrita fundamental, colocada no ápice da pirâmide normativa e dotada de coercibilidade (HESSE, 1981). Como salienta Canotilho (1991, p. 65): TÓPICO 2 | A CONSTITUIÇÃO 17 A garantia da força normativa da constituição não é tarefa fácil, mas se o direito constitucional é direito positivo, se a constituição vale como lei, então as regras e princípios constitucionais devem obter normatividade regulando jurídica e efetivamente as relações da vida, dirigindo as condutas e dando segurança a expectativas de comportamento. Constituição não escrita é o conjunto de regras não aglutinado em um texto solene, mas baseado em leis esparsas, costumes, jurisprudência e convenções (exemplo: Constituição inglesa) (MORAES, 2017). Salienta Miranda (1990, p. 126): Diz-se, muitas vezes, que a Constituição inglesa é uma Constituição não escrita (unwritten Constitution). Só em certo sentido o asserto se afigura verdadeiro: no sentido de que uma grande parte das regras sobre organização do poder político é consuetudinária; e, sobretudo, no sentido de que a unidade fundamental da Constituição não repousa em nenhum texto ou documento, mas em princípios não escritos assentes na organização social e política dos Britânicos. Tem-se, então, que a Constituição da República Federativa do Brasil é uma Constituição escrita. 3.3 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO Em relação à elaboração, segundo Moraes (2017), as constituições se classificam em dogmáticas e históricas. Enquanto a Constituição dogmática se apresenta como produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a partir de princípios e ideias fundamentais da teoria política e do direito dominante, a Constituição histórica é fruto da lenta e contínua síntese da História e tradições de um determinado povo (exemplo: Constituição inglesa) (MORAES, 2017). 3.4 QUANTO À ORIGEM Em relação à origem, Moraes (2017) entende que as constituições se classificam em promulgadas e outorgadas. São promulgadas, também denominadas “democráticas ou populares, as constituições que derivam do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte composta de representantes do povo, eleitos com a finalidade de sua elaboração (exemplo: Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988)” (MORAES, 2017, p. 30). Já as Constituições outorgadas são “as elaboradas e estabelecidas sem a participação popular, através de imposição do poder da época (exemplo: Constituições brasileiras de 1824, 1937, 1967 e EC nº 01/1969)” (MORAES, 2017, p. 30). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 18 Existem, ainda, as chamadas Constituiçõescesaristas, que são aquelas que, não obstante outorgadas, dependem da ratificação popular por meio de referendo (MORAES, 2017). Então, observando os conceitos, tem-se que a Constituição Brasileira de 1988 é escrita, dogmática e promulgada. NOTA O significa uma promulgação? É o instrumento que declara a existência de uma lei e ordena a execução. 3.5 QUANTO À ESTABILIDADE No quesito em questão, conforme Moraes (2017), as constituições podem ser classificadas em imutáveis, rígidas, flexíveis e semirrígidas. São imutáveis as constituições quando se veda qualquer alteração, constituindo-se em relíquias históricas. Em algumas constituições, a imutabilidade poderá ser relativa, quando podemos prever as chamadas limitações temporais, ou seja, um prazo em que não se admitirá a atuação do legislador constituinte reformador (MORAES, 2017, p. 30). Assim, a Constituição de 1824, em seu art. 174, determinava: “Art. 174. Se passados quatro anos, depois de jurada a Constituição do Brazil, se conhecer, que algum dos seus artigos merece reforma, se fará a proposição por escripto, a qual deve ter origem na Câmara dos Deputados e ser apoiada pela terça parte deles” (BRASIL, 1824). Apesar da previsão, a Constituição de 1824 era semiflexível (semirrígida), como se nota por seu art. 178, que afirmava: “Artigo 178. É só constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos poderes políticos e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos. Tudo, o que não é constitucional, pode ser alterado sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinárias” (BRASIL, 1824). Rígidas são as constituições escritas, que poderão “ser alteradas por um processo legislativo mais solene e dificultoso do que o existente para a edição das demais espécies normativas. Por sua vez, as constituições flexíveis, em regra, não escritas, excepcionalmente escritas, poderão ser alteradas pelo processo legislativo ordinário” (MORAES, 2017, p. 30). TÓPICO 2 | A CONSTITUIÇÃO 19 “Como um meio-termo entre as duas anteriores, surge a constituição semiflexível ou semirrígida, na qual algumas regras poderão ser alteradas pelo processo legislativo ordinário, enquanto outras somente por um processo legislativo especial e mais dificultoso” (MORAES, 2017, p. 30). Ressalta-se que a “Constituição Federal de 1988 pode ser considerada como super-rígida, uma vez que, em regra, poderá ser alterada por um processo legislativo diferenciado. Excepcionalmente, em alguns pontos, é imutável” (MORAES, 2017, p. 30). IMPORTANT E Pode-se afirmar que Cláusula Pétrea é o dispositivo constitucional que não pode ser alterado, nem mesmo por proposta de emenda à Constituição (PEC). As cláusulas pétreas inseridas na Constituição do Brasil de 1988 estão dispostas no art. 60, § 4º. O ar. 60, § 4º da Constituição Federal de 1988 tem a seguinte redação: Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: [...] § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais (BRASIL, 1988). Continuando a análise e relembrando os conceitos, tem-se que a Constituição de 1988 é escrita, dogmática, promulgada e rígida, porque tem cláusulas que são consideradas imexíveis. 3.6 QUANTO À EXTENSÃO E FINALIDADE Conforme Moraes (2017), as constituições, em relação à extensão e finalidade, podem ser classificadas em analíticas (dirigentes) e sintéticas (negativas, garantias). As constituições sintéticas contam somente os princípios e as normas gerais de regência do Estado, organizando-o e limitando seu poder, por meio da estipulação de direitos e garantias fundamentais (por exemplo: Constituição norte-americana). Já as constituições analíticas examinam e regulamentam todos UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 20 os assuntos relevantes à formação, destinação e funcionamento do Estado (por exemplo: Constituição brasileira de 1988) (MORAES, 2017). Como afirmado por Silva (1992, p. 8), a Constituinte rejeitou a constituição sintética, que é constituição negativa, porque é construtora apenas de liberdade-negativa ou liberdade-impedimento, oposta à autoridade, modelo de constituição que, às vezes, se chama de constituição garantia [...]. Assumiu o novo texto a característica de constituição-dirigente, enquanto define fins e programas de ação futura. Segundo Canotilho (1991, p. 257), ao serem definidos os limites de uma constituição dirigente, o núcleo principal de estudo é “o que deve (e pode) uma constituição ordenar aos órgãos legiferantes e o que deve (como e quando deve) fazer o legislador para cumprir, de forma regular, adequada e oportuna, as imposições constitucionais”. IMPORTANT E O que se entende por Constituição Dirigente? É a Constituição que regula as bases da vida não estatal, intervindo na área social, cultural e econômica. Inclui o planejamento como forma de execução de políticas públicas. Assim, lembrando novamente, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é escrita, dogmática, promulgada e rígida, porque tem cláusulas que são consideradas imexíveis, além de igualmente ser analítica e dirigente. 3.7 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 “A atual Constituição Federal apresenta a seguinte classificação: formal, escrita, legal, dogmática, promulgada (democrática, popular), rígida, analítica” (MORAES, 2017, p. 31). Ainda, temos outras classificações doutrinárias sobre as constituições. Assim, as “constituições dualistas ou pactuadas são aquelas em que se efetiva um compromisso entre o rei e o poder Legislativo, sujeitando-se o monarca aos esquemas constitucionais, e resultando na constituição de dois princípios: o monárquico e o democrático” (MORAES, 2017, p. 31). TÓPICO 2 | A CONSTITUIÇÃO 21 Por sua vez, a constituição nominalista é aquela “cujo texto da Carta Constitucional já contém verdadeiros direcionamentos para os problemas concretos, a serem resolvidos mediante aplicação pura e simples das normas constitucionais” (MORAES, 2017, p. 31). Ao intérprete caberia, somente, interpretá-la de forma gramatical e literal. Por outro lado, a constituição semântica é aquela cuja interpretação de suas normas “depende da averiguação de seu conteúdo significativo, da análise de seu conteúdo sociológico, ideológico, metodológico, possibilitando uma maior aplicabilidade política, normativa e social” (MORAES, 2017, p. 31). Ainda, a Constituição de 1988 pode ser considerada reduzida e normativa. Considerando, de forma sistemática, a Constituição pode ser reduzida e considerada quanto à relação com a realidade, por ser entendida como normativa. A Constituição reduzida contém suas determinações em um só documento ou código e, a normativa, é aquela que possui valor jurídico, cujas normas dominam o processo político, logrando submetê-lo à observação e adaptação de seus termos. É aquela, na qual, há uma adequação entre o texto e a realidade social, e o seu texto traduz os anseios de justiça dos cidadãos. Finalizando, podemos afirmar que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é: • escrita; • dogmática; • promulgada; • rígida (porque tem cláusulas que são consideradas imexíveis); • analítica; • dirigente; • reduzida e normativa. DICAS Agora que você já sabe a classificação da Constituição, exercite seu conhecimento! Vá ao link informado e veja algumas questões sobre o assunto. FONTE: <https://www.estudegratis.com.br/questoes-de-concurso/materia/direito- constitucional/assunto/classificacao-das-constituicoes>. Acesso em: 15 jan. 2018. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL 22 3.8 PREÂMBULO CONSTITUCIONAL Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, asegurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (BRASIL,1988). O preâmbulo de uma Constituição pode ser definido como “documento de intenções do diploma. Consiste em uma certidão de origem e legitimidade do novo texto e uma proclamação de princípios, demonstrando a ruptura com o ordenamento constitucional anterior e o surgimento jurídico de um novo Estado” (MORAES, 2017, p. 31). “Em nosso Direito Constitucional devem constar os antecedentes e enquadramento histórico da Constituição, bem como suas justificativas e seus grandes objetivos e finalidades” (MORAES, 2017, p. 31). Miranda (1990) aponta para a existência de preâmbulos em alguns dos mais importantes textos constitucionais estrangeiros: Estados Unidos (1787), Suíça (1874), Alemanha de Weimar (1919), Irlanda (1937), França (1946 e 1958), Japão (1946), Grécia (1975) e Espanha (1978). Podemos acrescentar as constituições do Peru (1979), da antiga Alemanha Ocidental (1949) e da Alemanha Oriental (1968) com as emendas de 7 de outubro de 1974, da Polônia (1952), Bulgária (1971), Romênia (1975), Cuba (1976), Nicarágua (1987), Moçambique (1978), São Tomé e Príncipe (1975) e Cabo Verde (1981) (MIRANDA, 1990). DICAS O preâmbulo da constituição federal é muito importante e, para saber mais sobre ele, leia o artigo. FONTE: <https://jus.com.br/artigos/10823/o-preambulo-da-constituicao- brasileira-de-1988>. Acesso em: 15 jan. 2018. https://jus.com.br/artigos/10823/o-preambulo-da-constituicao-brasileira-de-1988 https://jus.com.br/artigos/10823/o-preambulo-da-constituicao-brasileira-de-1988 TÓPICO 2 | A CONSTITUIÇÃO 23 Apesar de não fazer parte do texto constitucional propriamente dito e, consequentemente, não conter normas constitucionais de valor jurídico autônomo, o preâmbulo não é juridicamente irrelevante, uma vez que deve ser observado como elemento de interpretação e integração dos diversos artigos que seguem. Segundo Alberdi (1959), o preâmbulo deve sintetizar sumariamente os grandes fins da Constituição, servindo de fonte interpretativa para dissipar as obscuridades das questões práticas e de rumo para a atividade política do governo. O preâmbulo, portanto, por não ser norma constitucional, não poderá prevalecer contra texto expresso da Constituição Federal, e tampouco poderá ser paradigma comparativo para declaração de inconstitucionalidade. Contudo, por traçar as diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição, será uma das linhas mestras interpretativas (LAVIÉ, 1993; EKMEKDJIAN, 1993; MELLO FILHO, 1986; BASTOS; GANDRA, 1988; DANTAS, 1994; FERREIRA, 1989). Já outros autores entendem de maneira diferente, ou seja, que o preâmbulo teria um caráter normativo (NASCIMENTO, 1997; FERREIRA, 1989). Observe-se que a evocação à “proteção de Deus”, no preâmbulo da Constituição Federal, não a torna confessional, mas sim: Reforça a laicidade do Estado, afastando qualquer ingerência estatal arbitrária ou abusiva nas diversas religiões e garantindo tanto a ampla liberdade de crença e cultos religiosos, como também ampla proteção jurídica aos agnósticos e ateus, que não poderão sofrer quaisquer discriminações pelo fato de não professarem uma fé (MORAES, 2017, p. 34). Agora, acadêmico, você conseguiu compreender que o preâmbulo não é uma norma constitucional, mas traça, baliza, delineia as diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas de uma Constituição. 24 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Existe o conceito de Constituição e as suas características. • Existem várias classificações das constituições. • Há uma classificação da Constituição Federal de 1988. • Temos um significado para Preâmbulo Constitucional. 25 1 A CF vigente, quanto à alterabilidade, é do tipo semiflexível, dada a possibilidade de serem apresentadas emendas ao seu texto. Contudo, possui quórum diferenciado em relação à alteração das leis em geral. ( ) Certo ( ) Errado 2 Uma Constituição do tipo cesarista se caracteriza, quanto à origem, pela ausência da participação popular na sua formação. ( ) Certo ( ) Errado 3 Um partido político ajuizou ação direta de inconstitucionalidade devido à omissão da expressão "sob a proteção de Deus" do preâmbulo da Constituição de determinado estado da Federação. Para tanto, o partido alegou que o preâmbulo da CF é um ato normativo de supremo princípio básico com conteúdo programático e de absorção compulsória pelos estados, que o seu preâmbulo integra o texto constitucional e que suas disposições têm verdadeiro valor jurídico. A partir dessa situação hipotética, julgue o próximo item. A invocação a Deus, presente no preâmbulo da CF, reflete um sentimento religioso, o que não enfraquece o fato de o Estado brasileiro ser laico, ou seja, um Estado em que há liberdade de consciência e de crença. Ninguém é privado de direitos por motivo de crença religiosa ou convicção filosófica. ( ) Certo ( ) Errado 4 Julgue o item seguinte, relativo à aplicabilidade de normas constitucionais e à interação destas com outras fontes do direito. Embora o preâmbulo da CF não tenha força normativa, podem os estados, quando elaboram as suas próprias leis fundamentais, reproduzi-lo, adaptando os seus termos naquilo que for cabível. ( ) Certo ( ) Errado AUTOATIVIDADE 26 27 TÓPICO 3 A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Este tópico destina-se a apresentar a disciplina ao acadêmico, tornando o estudo e a compreensão da disciplina trabalhada de forma mais simplificada. Pretende-se trazer, de forma clara, o histórico das Constituições Brasileiras, tendo o intuito de fazer com que o acadêmico compreenda a evolução histórica do país. Abordaremos a Constituição de 1824, ainda da época do Império, que determinava a forma unitária de Estado; a Constituição de 1891, a primeira Constituição Republicana; a Constituição de 1934, que manteve a forma republicana e a Constituição de 1937, que concentrava os poderes Executivo e Legislativo na mão do presidente e eleições indiretas para presidente. Ainda, serão abordadas também a Constituição de 1946, que também manteve a forma republicana e tornava inviolável a correspondência e a casa como asilo do indivíduo; a Constituição de 1967, que estabelecia a pena de morte e restringia o direito de greve; a Constituição de 1969, que concedeu anistia aos perseguidos políticos e, por fim, a Constituição de 1988, essa que perdura até hoje. Vamos aos estudos! 2 HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES Para uma visão panorâmica sobre o que será tratado no presente tópico, traz-se o quadro disponibilizada por Lenza (2012), que demonstra, de forma ilustrativa, o ano, a data de surgimento e a vigência de cada uma das constituições que serão o objeto de estudo. 28 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL QUADRO 1 – ANO, DATA DE SURGIMENTO E VIGÊNCIA DAS CONSTITUIÇÕES FONTE: Lenza (2012, p. 100) 2.1 CONSTITUIÇÃO DE 1824 Em 1808, a Família Real Portuguesa se transfere para o Brasil. A colônia brasileira passou a ser designada Reino Unido a Portugal e Algarves (LENZA, 2012). Em 1821, “devido à Revolução do Porto, o rei D. João VI retorna para Portugal deixando no Brasil seu filho, o Príncipe Real do Reino Unido e Regente do Brasil D. Pedro de Alcântara” (HEMÉTRIO, 2017, p. 6). Em 9 de janeiro de 1822, desrespeitando a ordem da Coroa Portuguesa para que voltasse para Portugal e tendo em vista o recebimento de assinaturas advindas de liberais radicais, Dom Pedro I disse: “Se é para o bem de todos e a felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico” (HEMÉTRIO, 2017). Esses acontecimentos, sem dúvida, contribuíram para a intensificação dos movimentospela independência do Brasil. Após ter declarado a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro I convoca, em 1823, uma Assembleia Geral Constituinte e Legislativa, com ideais marcadamente liberais (LENZA, 2012). A assembleia foi dissolvida em razão de desacordos com os pensamentos de Dom Pedro I. Em substituição (da Assembleia Constituinte), D. Pedro I cria um Conselho de Estado para tratar dos “negócios de maior monta” e elaborar um novo projeto em total consonância com a sua vontade de “Majestade Imperial” (LENZA, 2012). A Constituição Política do Império do Brasil foi outorgada em 25 de março de 1824 e foi, dentre todas, a que durou mais tempo, tendo sofrido considerável influência da francesa de 1814. Foi marcada por forte centralismo administrativo e político, tendo em vista a figura do poder Moderador, constitucionalizado, e também por unitarismo e absolutismo (LENZA, 2012). Segundo Paulo e Alexandrino (2017, p. 26), a Constituição de 1934 foi: TÓPICO 3 | A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 29 O texto constitucional de maior longevidade em nossa história (1824- 1891). Não obstante, foi uma Constituição que se poderia classificar de nominativa, porque não conseguiu fazer com que as práticas constitucionais adotadas na realidade correspondessem às previstas em seu texto. As principais características da Constituição brasileira de 1824 eram: a) Brasil como um Estado unitário que seria governado por um imperador. b) Monarquia como regime: Poder adquirido por sucessão hereditária. c) Escravos, indígenas e pobres não eram considerados cidadãos. d) Eleições censitárias: Somente poderão votar e serem votados os “cidadãos”. e) Estado unitário: Estado em que não há divisão territorial de poder político. f) Religião oficial: Católica Apostólica Romana. g) Quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador, este exercido pelo imperador h) Os “cidadãos” elegiam os deputados e o senadores (HEMÉTRIO, 2017). Em 1888 a escravatura é abolida pela Princesa Isabel. Já em 1889, um golpe militar tira D. Pedro do poder e, em 15 de novembro de 1889, é proclamada a República por Marechal Deodoro da Fonseca (HEMÉTRIO, 2017). Entre 1889 e 1891 o Brasil é então governado por Marechal Deodoro, sob um Governo Provisório, que ficara incumbido de instalar a nova forma de governo e elaborar uma Constituição então republicana (HEMÉTRIO, 2017). 2.2 A CONSTITUIÇÃO DE 1891 Neste período, tem-se uma nova fase do Brasil. Eis que se sai do período imperial e passa-se ao período republicano, que traz inovações jurídicas e muito mais direitos ao povo brasileiro. Segundo Hemétrio (2017, p. 8), vários fatores contribuíram para o fim do Império e a queda de D. Pedro II: Certamente o fim do império se deveu, em grande parte, à abolição da escravatura, o que feriu os brios de um dos setores mais adeptos ao império, os grandes proprietários de escravos. Ficaram muito insatisfeitos com a política de D. Pedro. No entanto, talvez a mais importante foi a pressão por um novo regime, a partir do exército, e a pressão pela autonomia por parte de uma elite civil. A junção das duas forças, por um tempo, embora distintas, resultou na República. 30 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL Tem-se que a “Assembleia Constituinte foi nomeada em 1890 e, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira Constituição da República do Brasil que vigorou até 1930” (HEMÉTRIO, 2017, p. 8). Paulo e Alexandrino (2017, p. 27) descrevem que: Em 15 de novembro de 1889, com a edição do Decreto 1, de 15.11.1889, foi declarada a República. Nos termos do decreto, as províncias, agora como estados integrantes de uma federação, formaram os Estados Unidos do Brasil. Foi instaurado um governo provisório que, em 3 de dezembro, nomeou uma comissão para elaborar um projeto de Constituição, o qual, em 22.06.1890, foi publicado como "Constituição aprovada pelo Executivo". Em 15 de setembro de 1890 foi eleita a Assembleia Geral Constituinte, que se instalou em 15 de novembro e, em 24 de fevereiro de 1891, promulgou a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (democrática), com poucas modificações em relação ao projeto que fora aprovado pelo Executivo (cujo principal mentor, diga-se, foi o grande Rui Barbosa). Na Constituição, o poder Moderador é eliminado, permanecendo o que se tem até hoje na separação dos poderes: poder Executivo, poder Legislativo e poder Judiciário. Também foi nessa Constituição que os direitos individuais foram fortalecidos e tendo, como acréscimo, o habeas corpus. Adota-se a forma rígida também, que somente pode ser alterada com procedimento especial, o que perdura até hoje. “O Relator da Constituição de 1891 foi o então Senador Rui Barbosa, apaixonado pelo Direito norte-americano, o que influenciou fortemente na Constituição do país. Prova da grande influência foi o nome dado ao Brasil na Constituição de 1891, Estados Unidos do Brasil” (HEMÉTRIO, 2017, p. 9). “A Câmara dos Deputados era composta de representantes do povo eleitos pelos Estados e pelo Distrito Federal, mediante sufrágio direto, garantida a representação da minoria. Cada Deputado exercia mandato de três anos” (LENZA, 2012, p. 106). 2.3 A CONSTITUIÇÃO DE 1926 Nesta fase, o Brasil passa por novas mudanças e são extintas as penas de galés, banimento e da morte. A pena de galés era a pena cumprida com regimes forçados e, a de banimento, era a perda da nacionalidade. Segundo Bastos (2000, p. 110), a Reforma de 1926 foi “[...] marcada por uma conotação nitidamente racionalista, autoritária, introduzindo alterações no instituto da intervenção da União nos Estados, no poder Legislativo, no processo legislativo, no fortalecimento do Executivo, nos direitos e garantias individuais e TÓPICO 3 | A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 31 na Justiça Federal”. “Isso tudo vai diminuir a sua “longevidade”, especialmente em razão do movimento armado de 1930, que pôs fim ao período chamado de “Primeira República”” (BASTOS, 2000, p. 110). Em 1926, a Constituição sofre uma profunda reforma, de cunho marcadamente centralizador e autoritário, que acabou por precipitar a sua derrocada, ocorrida com a Revolução de 1930 (PAULO; ALEXANDRINO, 2017). DICAS Para entender melhor os fatos da revolução de 1930, acesse o link a seguir. FONTE: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/eravargas/p3.php>. Acesso em: 15 jan. 2018. As principais características da Constituição de 1926 estão descritas a seguir: a) Federalista: estados com certa autonomia. b) O art. 2º da Constituição previu uma área de 14.400 km2 no planalto central para construção da capital federal. c) O Brasil é um Estado leigo, laico e não confessional; d) Três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário; e) Constituição rígida: Não existe mais distinção ente norma material e formalmente constitucional. f) Extinção da pena de galés, banimento e da morte. g) Remédio constitucional de habeas corpus: No início, servia para tutela qualquer direito mas, em 1926, foi restrito exclusivamente à liberdade de locomoção. h) Controle difuso de constitucionalidade: Qualquer juiz pode declarar uma lei inconstitucional. i) Fim do voto censitário: Exige alfabetização para votar. j) Mandado de quatro anos para presidente, sendo proibida a reeleição. k) Estado laico (HEMÉTRIO, 2017). 2.4 A CONSTITUIÇÃO DE 1934 Neste período, o Brasil continua sendo uma República. As mulheres passam a ter direito ao voto e este passa a ser secreto e obrigatório para maiores de 18 anos. Tem-se, nesta fase, a criação da Justiça do Trabalho e do salário mínimo. 32 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL No entendimento de Lenza (2012, p. 111): A crise econômica de 1929, bem como os diversos movimentos sociais por melhores condições de trabalho, sem dúvida, influenciaram a promulgação do texto de 1934, abalando, assim, os ideais do liberalismo econômico e da democracia liberal da Constituiçãode 1891. Descrevem Paulo e Alexandrino (2017, p. 28) que: A Constituição de 1934, democrática, decorrente do rompimento da ordem jurídica ocasionado pela Revolução de 1930, a qual pôs fim à era dos coronéis, à denominada Primeira República, costuma ser apontada pela doutrina como a primeira a preocupar-se em enumerar direitos fundamentais sociais, ditos direitos de segunda geração ou dimensão. Os direitos, quase todos traduzidos em normas constitucionais programáticas, tiveram como inspiração a Constituição de Weimar, da Alemanha de 1919. Assim, a Constituição de 1934 é apontada como marco na transição de um regime de democracia liberal, de cunho individualista, para a chamada democracia social, preocupada em assegurar, não apenas uma igualdade formal, mas também a igualdade material entre os indivíduos (condições de existência compatíveis com a dignidade da pessoa humana). Assim, as principais características da Constituição eram: a) Brasil continuou sendo uma Republica Federativa. b) Três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. c) Estado laico. d) Aumento dos poderes da União com relação aos estados: Diminuição dos poderes do Senado; e) Voto feminino. f) Voto secreto. g) Voto obrigatório para maiores de 18 anos. h) Criação da Justiça do Trabalho e do salário mínimo. i) Criação da Justiça Eleitoral. j) Direitos de segunda geração: Direitos sociais (saúde, educação etc.). k) Nacionalização das riquezas do subsolo. l) Nacionalização dos bancos e das empresas de seguros. m) As empresas estrangeiras devem ter, pelo menos, 2/3 de empregados brasileiros. n) Proibição do trabalho infantil, menor de 14 anos. Determina jornada de trabalho de oito horas, repouso semanal obrigatório, férias remuneradas, indenização para trabalhadores demitidos sem justa causa, assistência médica e dentária, assistência remunerada a trabalhadoras grávidas, bem como a instituição do sindicalismo. o) Proibição da diferença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil. p) Lei especial para regulamentar o trabalho agrícola e as relações no campo. q) Criação de educação: intuito de criar mão de obra especializada (HEMÉTRIO, 2017). TÓPICO 3 | A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 33 2.5 A CONSTITUIÇÃO DE 1937 O Brasil retroage em alguns aspectos, instituindo, novamente, a pena de morte, como também a dispensa de funcionários contrários ao regime. Nesta fase, também houve a diminuição de direitos e garantias fundamentais. No “mandado de Vargas, ainda de caráter politicamente legal, percebeu-se uma forte incompatibilidade entre a direita fascista (Ação Integralista Brasileira, que defendia um Estado autoritário) e o movimento de esquerda (ideais socialistas, comunistas e sindicais – Aliança Nacional Libertadora)” (HEMÉTRIO, 2017, p. 12). Em 10 de novembro de 1937, “Getúlio Vargas, no poder, dissolve a Câmara e o Senado, revoga a Constituição de 1934 e outorga a Carta de 1937, dando início ao período ditatorial conhecido como Estado Novo” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 28). Percebe-se que a Constituição de 1937 não teve como prioridade assegurar direitos. O intuito era reforçar o regime autoritário. Não havia praticamente a divisão de poderes, contudo eles existiam. Entende-se que era mesmo uma ditadura pura e simples, que se agrupava nas mãos do Executivo e Legislativo, em especial do Presidente da República. Na época, este legislava através de decretos e leis. IMPORTANT E Decreto-lei: Decreto com força de lei promulgado pelo chefe de Estado, quando concentra em suas mãos as atribuições do poder Legislativo. Na utilização, o Presidente da República acaba fazendo as vezes do poder Legislativo, criando uma legislação e a executando, o que realmente seria a sua tarefa. A situação concentra poder demais nas mãos de uma só pessoa. Em 1945, o chamado Estado Novo teve seu encerramento, por conta das crises sofridas em um nível internacional, quando o Brasil participa da Segunda Guerra Mundial, caindo em certa contradição (HEMÉTRIO, 2017). 34 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO AO DIREITO CONSTITUCIONAL IMPORTANT E O Estado Novo foi um regime ditatorial arregimentado por Getúlio Vargas, instituído em 10 de novembro de 1937. Desde 3 de novembro de 1930, Vargas governava o país (RODRIGUES, 2018). Iniciou em 1930, no chamado Governo Provisório, e ficou até decretação da Constituição de 1934. As principais características da Constituição eram: a) Concentração dos poderes Executivo e Legislativo na mão do presidente. b) Eleições indiretas para presidente. c) Propósito de fim do liberalismo. d) Pena de morte. e) Dispensa de funcionários contrários ao regime. f) Plebiscito para referendar a constituição, mas nunca aconteceu. g) Diminuição de direitos e garantias fundamentais (greve, mandado de segurança, ação popular etc.). h) Diminuição do controle de inconstitucionalidade (HEMÉTRIO, 2017). 2.6 A CONSTITUIÇÃO DE 1946 Neste momento, o país mantinha a forma republicana e o estado laico. Ainda se tem a liberdade de pensamento, sem censura, e é mantida a inviolabilidade do sigilo à correspondência e da casa como asilo do indivíduo. Em 29 de janeiro de 1945, após tentar nomear seu irmão Benjamin Vargas para chefe da polícia do Rio de Janeiro, Getúlio foi deposto por um grupo de generais que faziam parte do seu ministério. A Era Vargas iniciou-se com um golpe e terminou com um golpe (HEMÉTRIO, 2017). Em 1º de fevereiro de 1946 foi instalada a Assembleia Constituinte, criando-se um texto baseado em ideais liberais e ideais sociais advindos das antigas constituições, a chamada redemocratização do país, afastando-se do Estado totalitário (HEMÉTRIO, 2017). https://www.infoescola.com/biografias/getulio-vargas/ https://www.infoescola.com/direito/constituicao-de-1934/ TÓPICO 3 | A HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 35 IMPORTANT E Bobbio (1992), em seu dicionário de política, define a Assembleia Constituinte como “um órgão colegial, representativo, extraordinário e temporário. Tem a função de elaborar a Constituição do Estado” (BOBBIO, 1992, p. 61). Tendo como premissa o conceito trazido, pode-se afirmar que a Assembleia Constituinte é o órgão responsável pela elaboração da Constituição de um país, é um órgão temporário, colegial e representativo. É composta por indivíduos escolhidos para tal atribuição. Paulo e Alexandrino (2017, p. 29) descrevem que o rol de direitos fundamentais retoma o que existia na Constituição de 1934: Com alguns importantes acréscimos, como o do princípio da inafastabilidade de jurisdição, e supressões relevantes, como a exclusão da pena de morte, do banimento e do confisco. Os direitos dos trabalhadores, muitos surgidos durante o Estado Novo, são constitucionalizados, com alguns acréscimos como o do direito de greve. Trata também, pela primeira vez, dos partidos políticos, instituindo o princípio da liberdade de criação e organização partidárias. Conforme Carvalho (2002, p. 128): [...] de um lado estavam os nacionalistas, defensores do monopólio estatal do petróleo e de outros recursos básicos, como a energia elétrica, partidários do protecionismo industrial, da política trabalhista, da independência na política externa. Para eles, os inimigos eram entreguistas, pró-americanos, reacionários, golpistas. Do outro lado estavam os defensores da abertura do mercado ao capital externo, inclusive na área dos recursos naturais, os que condenavam a aproximação entre o governo e os sindicatos, os que queriam uma política externa de estreita cooperação com os Estados Unidos. As principais características da Constituição promulgada em 18 de setembro de 1946 eram: a) República Federativa. b) Estado laico. c) A liberdade de pensamentos, sem censura, a não ser em espetáculos e diversões públicas. d) A inviolabilidade do sigilo da correspondência. e) A liberdade de consciência, de crença e de exercício de cultos religiosos. f) A liberdade de
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