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29/08/2019 Aspectos nutricionais relacionados à endometriose www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302015000600519&lng=en&nrm=iso&tlng=en 1/6 Mais Mais Serviços sob Demanda Diário SciELO Analytics Google Scholar H5M5 ( 2019 ) Artigo nova página de texto (beta) Inglês (pdf) Artigo em formato xml Como citar este artigo SciELO Analytics Curriculum ScienTI Tradução automática Indicadores Links Relacionados Compartilhar Permalink Revista da Associação Médica Brasileira Versão impressa ISSN 0104-4230 versão on-line ISSN 1806-9282 Rev. Assoc. Med. Bras. vol.61 no.6 São Paulo Nov./Dec. 2015 http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.61.06.519 ARTIGOS DE REVISÃO Aspectos nutricionais relacionados à endometriose Aspectos nutricionais relacionados à endometriose Gabriela Halpern 1 * Eduardo Schor 2 Alexander Kopelman 3 1 Mestre - Nutricionista da Divisão de Dor e Endometriose do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), São Paulo, SP, Brasil 2 Habilitação (BR: Livre Docência) - Chefe da Divisão de Dor e Endometriose do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, São Paulo, SP, Brasil 3 Doutor em Ciências Médicas - Médico da Divisão de Dor e Endometriose do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, São Paulo, SP, Brasil RESUMO Esta revisão da literatura analisou as evidências sobre os aspectos nutricionais relacionados à patogênese e progressão da endometriose. Dietas deficientes em nutrientes resultam em alterações no metabolismo lipídico, estresse oxidativo e promovem anormalidades epigenéticas, que podem estar envolvidas na gênese e progressão da doença. Alimentos ricos em ômega 3 com efeitos anti-inflamatórios, suplementação com Nacetilcisteína, vitamina D e resveratrol, além do aumento do consumo de frutas, vegetais (de preferência orgânicos) e grãos integrais exercem efeito protetor, diminuindo o risco de desenvolvimento e possível regressão de doença. A reeducação alimentar parece ser uma ferramenta promissora na prevenção e no tratamento da endometriose. Palavras-chave: endometriose; ácidos graxos; ômega-3; dieta; alimentando; hábitos alimentares; vitamina D RESUMO http://www.addthis.com/bookmark.php?v=250&username=xa-4c347ee4422c56df http://www.addthis.com/bookmark.php?v=250&username=xa-4c347ee4422c56df http://analytics.scielo.org/?journal=0104-4230&collection=scl https://scholar.google.com/citations?view_op=list_hcore&venue=prL-u9krMIsJ.2019&hl=en javascript:%20void(0); http://www.scielo.br/pdf/ramb/v61n6/0104-4230-ramb-61-06-0519.pdf http://www.scielo.br/scieloOrg/php/articleXML.php?pid=S0104-42302015000600519&lang=en javascript:void(0); javascript:void(0); http://analytics.scielo.org/?document=S0104-42302015000600519&collection=scl javascript:void(0); javascript:%20void(0); http://www.mendeley.com/import/?url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext%26pid=S0104-42302015000600519%26lng=en%26nrm=iso%26tlng=en javascript:void(0); http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0104-4230&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?lng=en http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0104-423020150006&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302015000600507&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302015000600524&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edramb&index=AU&format=iso.pft&lang=i&limit=0104-4230 http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edramb&index=KW&format=iso.pft&lang=i&limit=0104-4230 http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edramb&format=iso.pft&lang=i&limit=0104-4230 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0104-4230&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_alphabetic&lng=en&nrm=iso 29/08/2019 Aspectos nutricionais relacionados à endometriose www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302015000600519&lng=en&nrm=iso&tlng=en 2/6 Esta revisão de literatura analisa como detectar sobre aspectos nutricionais relacionados com a etiopatogenia e o progresso da endometriose. Dietas deficientes em nutrientes refletidas em alterações no metabolismo lipídico, estresse oxidativo e favoráveis anormalidades epigenéticas que podem estar prejudicadas e progredir na doença. Alimentos ricos em ômega-3, com efeito anti-inflamatório, suplementação com N-acetilcisteína, vitamina D e resveratrol, além do maior consumo de frutas, verduras (preferencialmente orgânicas) e cereais integrais, exercício de proteção, com redução de risco de desenvolvimento e possível regressão da doença. A reeducação alimentar parece ser uma ferramenta promissora na prevenção e no tratamento da endometriose. Palavras-chave: endometriose; ácidos graxos; ômega-3; dieta; alimentação; hábitos alimentares; vitamina D INTRODUÇÃO As mudanças nos hábitos alimentares que ocorrem desde a domesticação dos animais, até o final da era nômade e com o advento da agricultura, trouxeram conseqüências para a saúde da humanidade em geral, principalmente se considerarmos que o corpo humano ainda está metabolicamente programado para a saúde. dieta de caçadores-coletores (carne magra de animais selvagens e plantas não cultivadas) e um estilo de vida mais ativo. 1 Nas últimas décadas, houve uma mudança no padrão alimentar, uma vez rica em alimentos naturais com ácidos graxos mono e poliinsaturados, fibras, vitaminas, minerais, antioxidantes e fitoquímicos, para alimentos refinados, processados e enlatados, com uma grande quantidade de pesticidas, corantes, conservantes, acidulantes, aromas e estabilizantes. As dietas ocidentais costumam ter alta energia e baixo conteúdo nutricional (alta ingestão de alimentos refinados, fast food e baixo consumo de frutas, legumes e grãos integrais). 2 Fatores como ansiedade, estresse, poluição, estilo de vida sedentário, toxinas ambientais, pesticidas, dioxinas e ftalatos, bifenilos policlorados (PCBs) e xenobióticos, entre outros, geram desequilíbrios no organismo, pois aumentam os radicais livres circulantes, favorecendo o estresse oxidativo com aumento demanda nutricional. Dado que a dieta atual já é deficiente em nutrientes, o desequilíbrio estabelecido pode contribuir para o aparecimento ou agravamento de doenças, como endometriose, abortos recorrentes, menopausa prematura, infertilidade inexplicada e muito mais. 2 Muitas evidências sugerem que o estresse oxidativo está envolvido tanto na patogênese quanto na fisiopatologia da endometriose. 3 Fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida parecem estar associados ao desenvolvimento e manutenção da endometriose. Entre os aspectos ambientais, a nutrição tem sido pouco estudada, apesar das evidências que mostram seu impacto na origem e progressão da doença. 4 , 5 O primeiro artigo científico que trata do assunto foi publicado em 2004, por Parazzini et al. Os autores avaliaram 504 mulheres com idade entre 20 e 65 anos, utilizando um questionário de frequência alimentar. Eles descobriram que o maior consumo semanal de frutas e verduras estava inversamente associado ao risco de desenvolver a doença (verduras: RR 0,3; 95CI 0,2-0,5, p = 0,002; e frutas: RR 0,6; IC95% 0,4-0,8, p = 0,002). Por outro lado, o consumo de carne vermelha, frios e embutidos foi identificado como fator de risco para o desenvolvimento da doença. 6 Nesse campo, estudos têm enfrentado dificuldades decorrentes de diferenças nos hábitos alimentares em diferentes regiões, na composição diferente do mesmo alimento em determinados países e na falta de homogeneização para avaliar hábitos alimentares (questionário de frequência alimentar, recordação habitual, recordação de sete dias, pesagem de alimentos, etc.). 4 Outro obstáculo é a influência da dor nos hábitos alimentares das mulheres afetadas pela mudança de apetite e,consequentemente, pela escolha da dieta. Apesar das dificuldades e divergências entre os autores, o objetivo deste estudo foi avaliar evidências recentes sobre nutrição e hábitos alimentares em relação à endometriose. MÉTODOS Os maiores bancos de dados de informações médicas (MedlinePubmed, Lilacs e Cochrane Library) foram pesquisados pelas palavras-chave "endometriose" AND "nutrição" OR "dieta" AND "estresse oxidativo" OR "inflamação" OU "Ômega" OU "ácidos graxos" OU "antioxidantes "OR" epigenética "OR" n-acetilcisteína "OR" vitamina D "OR" resveratrol ", nos últimos 10 anos. Dos 113 artigos recuperados, 31 foram selecionados em inglês, francês ou espanhol com base no título e no resumo. Ao ler os resumos e artigos, selecionamos 21 artigos considerados mais relevantes para esta revisão. Artigos relacionados à biologia molecular e relatos de casos, que não teriam aplicabilidade prática, foram excluídos. 29/08/2019 Aspectos nutricionais relacionados à endometriose www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302015000600519&lng=en&nrm=iso&tlng=en 3/6 Foram analisados 10 estudos de caso-controle, 2 estudos prospectivos, 1 estudo prospectivo randomizado, 1 estudo de coorte, 6 artigos de revisão, 2 comunicações e 2 capítulos de livros. Fisiopatologia e nutrição Nas lesões típicas da doença, as células crescem, diferenciam-se do útero e mantêm sua capacidade de responder a estímulos proliferativos hormonais. Além disso, o excesso de estrogênio estimula a formação de grandes quantidades de prostaglandinas (da série par), promovendo inflamação e, consequentemente, um estímulo doloroso. 7 , 8 Durante a progressão da doença, ocorrem alterações que resultam em reações imunológicas antígeno-anticorpo anormais, contribuindo para o aumento de agentes pró-inflamatórios. 7 Mulheres com endometriose apresentam maior concentração de marcadores de peroxidação lipídica no sangue e no líquido peritoneal, o que promove a adesão celular e a ativação de macrófagos. Estes, por sua vez, liberam espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, levando ao estresse oxidativo. 9 A deficiência de nutrientes (ácido fólico, vitamina B12, zinco e colina) pode interferir na metilação do DNA, resultando em anormalidades epigenéticas, uma vez que altera a expressão ou o silenciamento de certos genes de CpG (citosina-fosfato-guanina). Na endometriose, a hipometilação da CpG pode levar à superexpressão do fator esteroidogênico 1 (SF1) ou do receptor de estrogênio β (ER-β), com consequente aumento dos níveis de estradiol e prostaglandina E2 (PGE2), favorecendo a inflamação e o crescimento celular. 8 Além disso, a mudança na metilação de embriões de cinco semanas pode predispor ao desenvolvimento de endometriose na idade adulta. 8 Vários tipos de alimentos demonstram a capacidade de interferir nesses estágios da fisiopatologia. Entre os que diminuem o risco de desenvolver a doença, citamos vegetais, legumes e grãos integrais, ricos em nutrientes (folato, metionina, vitamina B6, vitaminas A, C e E) que atuam no genoma, alterando a expressão gênica e influenciando Metilação do DNA. Dietas deficientes nesses nutrientes mostram alterações no metabolismo lipídico, estresse oxidativo e anormalidades epigenéticas. 4 Embora controverso, em 2011, Trabert et al. verificaram que quanto maior o consumo de frutas (2 porções ou mais versus uma porção ou menos por dia), maior o risco de desenvolver a doença (RR = 1,5, 95CI 1,2-2,3, p = 0,04). Em relação aos vegetais, os autores não encontraram associação. Esses dados podem ser justificados, considerando que atualmente os pesticidas (organoclorados, organofosforados, bipiridínicos) e dioxinas são utilizados no cultivo de frutas - esses pesticidas geram espécies reativas de oxigênio e reduzem a capacidade antioxidante de frutas e vegetais, efeito que pode ser revertido através da consumo de frutas orgânicas. Além de interferir na capacidade antioxidante das frutas, o organoclorado interfere nas vias hormonais, atuando nos receptores de estrogênio e androgênio. 5 , 10 Vale ressaltar que a presença de organoclorados e pesticidas nas frutas não deve contraindicar seu consumo. Isso é apenas um aviso para prescritores e consumidores, que devem preferir ingredientes orgânicos e, sempre que possível, remover a pele dos alimentos que geralmente estão contaminados. Além de ser uma fonte de antioxidantes nutricionais, frutas e vegetais favorecem o aumento da excreção de estrogênio, contribuindo para a regulação hormonal 11 , pois esses alimentos contêm uma quantidade significativa de fibras e nutrientes. Nutrientes como cálcio, zinco, selênio, vitamina C, vitamina E e compostos bioativos em alimentos (como fitoquímicos - carotenóides, flavonóides, indóis, isotiocianatos) influenciam a saúde, interferindo em processos intimamente relacionados à fisiopatologia da endometriose, bem como nos hormônios equilíbrio, sinalização celular, controle do crescimento celular, apoptose e assim por diante. 12 Polifenóis (antocianinas, ácidos hidroxibenzóicos, flavonas, isoflavonas, lignanas, resveratrol) são compostos presentes em alimentos que têm a capacidade de modular a atividade de enzimas, além de fortes propriedades antioxidantes. 13 O resveratrol, um polifenol encontrado na casca de uvas escuras e jabuticaba ( Myrciaria cauliflora , também conhecida como uva brasileira) demonstrou ação antineoplásica, anti-inflamatória e antioxidante. A administração de 10mg / kg / dia de resveratrol em modelo de rato (comparado com solução salina) reduziu o tamanho dos implantes endometriais, bem como os níveis de fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) no plasma e no líquido peritoneal e nos monócitos proteína quimiotática (MCP-1) no líquido peritoneal. Além disso, aumentou a supressão do VEGF no tecido endometrial e favoreceu alterações histológicas no ponto focal da doença após o tratamento. 14 As carnes vermelhas estão associadas a maiores concentrações de estradiol e sulfato de estrona, e seu consumo contribui para o aumento dos níveis de esteróides circulantes, colaborando com a manutenção da doença. 6 É um 29/08/2019 Aspectos nutricionais relacionados à endometriose www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302015000600519&lng=en&nrm=iso&tlng=en 4/6 alimento que contém ácido araquidônico (ômega 6) que, em excesso, aumenta substâncias pró-inflamatórias e contém dioxinas - xenobióticos que atuam como desreguladores endócrinos. 5 O ácido araquidônico, um ácido graxo poliinsaturado ômega-6 (ω6) - derivado de alimentos de origem animal e decomposto de óleos vegetais - é um substrato para a síntese de prostaglandinas e leucotrienos da série par (PGE e LTB4) com acentuada ação inflamatória. O ômega 3 (ω3) - ácido eicosapentaenóico e docosahexaenóico - (óleo de peixe, óleo de chia e óleo de linhaça) é um substrato para a síntese de mediadores químicos de séries ímpares (PGE3 e LTB5) com menos atividade inflamatória. 15 , 16 O ômega 3 e o ácido araquidônico são sintetizados pelas delta 5 e delta 6 dessaturase; portanto, quanto mais ômega 3, menos substâncias inflamatórias são sintetizadas. 15 , 16 Embora não haja consenso, é sugerida uma proporção de cerca de 2: 1 a 4: 1 (ω6: ω3). Algumas décadas atrás (o período anterior à era da industrialização), a proporção ω6: ω3 era de 1: 1 a 2: 1, como resultado do maior consumo de vegetais e frutos do mar. Nos últimos anos, esses índices atingiram proporções entre 10: 1 e 20: 1 e até 50: 1, devido ao aumento do consumo de óleos vegetais refinados, menor consumo de frutos do mar e menor consumo de frutas e legumes. 15 A mudança na razão ω6: ω3 está associada ao aumento da dor menstrual e distúrbios hormonais e autoimunes em mulheres com endometriose. 17 Em 2011, Savaris e Amaral descobriram que mulheres com endometriose tinham um consumo menor de ácidos graxos poliinsaturados (ω3 e ω6) que o grupo controle e inferiores ao recomendado, resultando em um desequilíbrio na formação de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa(ω3) . Alguns autores sugerem que a suplementação com ômega 3 pode retardar o crescimento de implantes endometriais, reduzir dor e inflamação e melhorar a qualidade de vida de mulheres com endometriose nos estágios III e IV. 16 Em 2008, Natsu et al. constataram que a suplementação com EPA (ácido eicosapentaenóico) levou a uma redução na espessura do interstício do tecido endometrial, sugerindo que o processo inflamatório da endometriose deve estar concentrado nessa região. A ingestão de gordura trans foi avaliada pelo Nurses Health Study II. 18 Mulheres que consumiram alimentos contendo mais gordura vegetal hidrogenada (margarina, alguns pães e biscoitos, salgadinhos, frituras, produtos processados) tiveram 48% mais chances de desenvolver a doença do que aquelas que consumiram menos (RR = 1,48 - 95CI 1,17- 1,88 p = 0,001). Esse tipo de gordura está associado a moléculas metabólicas que participam de processos inflamatórios (TNF, receptor de TNF, IL-6, PCR). Considerando ainda a população do Nurses Health Study, os autores descobriram que alimentos (não suplementos) ricos em tiamina, folato, vitamina C e vitamina E estavam relacionados a uma menor taxa de diagnóstico de endometriose. Acredita-se que os suplementos não exerçam o mesmo efeito que os alimentos, porque vários nutrientes e compostos bioativos que interagem entre si são encontrados na dieta. 19 As vitaminas A, C e E são nutrientes antioxidantes que impedem a peroxidação lipídica, fenômeno que contribui para o desenvolvimento e progressão de doenças crônicas com características inflamatórias. 20 Corroborando esses dados, Mier-Cabrera et al. 9 encontraram redução nos marcadores de estresse oxidativo em pacientes com endometriose com administração de dieta rica em vitaminas A, C e E por quatro meses. Nos últimos anos, a vitamina D tem sido extensivamente estudada por sua ação anti-inflamatória, imunomodulatória e antiproliferativa, além de sua conhecida ação no metabolismo ósseo. Os linfócitos CD4, CD8, macrófagos e células dendríticas expressam receptores e enzimas que metabolizam e ativam a vitamina D, sugerindo que a 1,25-dihidroxivitamina D (forma metabolicamente ativa) pode ser produzida localmente, desempenhando um papel autócrino e parácrino no foco ou na lesão da endometriose 21 . No endométrio, a forma ativa da vitamina D reduz a síntese de IL-6, TNF 20 e prostaglandinas, suprimindo a expressão da COX-2. Além de aumentar a inativação da 15-hidroxi prostaglandina desidrogenase pela prostaglandina, altas concentrações de 1,25 (OH) -D inibem a expressão do receptor PG (prostaglandina) 21 . Quando um grupo de mulheres com dismenorreia recebeu uma dose de 300.000 UI de vitamina D antes do ciclo menstrual, houve uma redução da dor e do uso de anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) durante o estudo de dois meses, em comparação ao grupo placebo. A resposta foi maior nos pacientes que relataram pior gravidade da dor no início do estudo. 21 Ngô et al. descobriram que a N-acetilcisteína (encontrada em alimentos com pigmentos vermelhos, alho, cebola, brócolis, couve de Bruxelas, aveia e gérmen de trigo) regula a proliferação celular e a ativação do ERK 1/2 nas células endometrióticas e reduz a produção de peróxido de hidrogênio, reduzindo estresse oxidativo. 22 N-acetilcisteína (NAC) é a forma acetilada de cisteína (aminoácido) que, quando suplementada, demonstrou reduzir o tamanho do endometrioma , substituindo o comportamento proliferativo por um comportamento diferenciador e diminuindo a atividade inflamatória e invasiva. 23 29/08/2019 Aspectos nutricionais relacionados à endometriose www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302015000600519&lng=en&nrm=iso&tlng=en 5/6 Em um estudo caso-controle, Porpora et al. avaliaram o diâmetro e o volume do endometrioma em mulheres suplementadas com 1800 mg de NAC (600 mg / 3 vezes ao dia ou placebo). 24 Essa suplementação foi dada por 3 dias em uma semana, com uma lavagem de 4 dias, por um período de 3 meses. Foi observada uma redução no diâmetro do cisto nos pacientes tratados em comparação aos não tratados (-1,5 mm x 6,6 mm, p = 0,001). CONCLUSÃO Existem poucos estudos sobre os aspectos nutricionais relacionados à endometriose; no entanto, como em várias doenças crônicas, o papel dos nutrientes na fisiopatologia dessas doenças tem recebido mais atenção. Para o tratamento e controle da endometriose, os medicamentos hormonais são as únicas opções atualmente disponíveis, geralmente sem sucesso terapêutico e com inúmeros efeitos colaterais. Esta revisão permite concluir que existem evidências de que alimentos e nutrientes influenciam a patogênese e a progressão da doença, levando à possibilidade de tratamentos alternativos e adjuvantes para aqueles que sofrem da doença. Sabe-se que o tratamento da endometriose é multidisciplinar. Dessa forma, interferências nesse campo, através da incorporação de nutricionistas em equipes, podem, nos próximos anos, assumir um papel importante nos resultados preventivos e terapêuticos no combate à doença. Estudo realizado no Setor de Algia e Endometriose, Departamento de Ginecologia, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil REFERÊNCIAS 1 O'Keefe JH, Cordain L. Doença cardiovascular resultante de uma dieta e estilo de vida em desacordo com o nosso genoma paleolítico: como se tornar um 21º. caçador-coletor do século. Mayo Clin Proc. 2004; 27: 101-8. [ Links ] 2 Halpern G. Nutrição e (In) fertilidade. In: Melamed RM, Seger L, Borges Jr E. Psicologia e reprodução humana assistida - uma abordagem multidisciplinar. São Paulo: Gen, 2009. [ Links ] 3 Augoulea A, Alexandrou A, Creatsa M, Vrachnis N, Lambrinoudaki I. Patogênese da endometriose: o papel da genética, inflamação e estresse oxidativo. Arco Ginecol Obstet. 2012; 286: 99-103. 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[ Links ] Received: July 03, 2014; Accepted: March 23, 2015 *Correspondence: Address: Rua Loefgreen, 1570 São Paulo, SP - Brazil Postal code: 04040- 002gabriela@halpern.com.br This is an Open Access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution Non-Commercial License which permits unrestricted non-commercial use, distribution, and reproduction in any medium provided the original work is properly cited. R. São Carlos do Pinhal, 324 01333-903 São Paulo SP - Brasil Tel: +55 11 3178-6800 Fax: +55 11 3178-6816 ramb@amb.org.br javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); mailto:gabriela@halpern.com.br http://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.en mailto:ramb@amb.org.br
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