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Un1_Alfabetização_e_Letramento(1)

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Alfabetização e 
Letramento
1ª edição
2017
Alfabetização e 
Letramento
1
3
Unidade 1
Os conceitos e as abordagens do 
letramento: o modelo Autônomo 
e o modelo Ideológico
Para iniciar seus estudos
Caros (as) alunos (as), nesta unidade, iremos abordar o tema: Os conceitos 
e as abordagens do letramento: o modelo Autônomo e o modelo Ideo-
lógico. Veremos como são entendidas a alfabetização e o letramento em 
cada um dos modelos e que resultados pessoais e sociais eles oferecem.
Bom estudo!
Objetivos de Aprendizagem
• Revisar o conceito tradicional de alfabetização e sua evolução his-
tórica ressaltando o estudo no modelo Autônomo e no modelo 
Ideológico.
4
Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
1.1 O modelo autônomo 
Vamos falar de letramento? O conceito de pessoa letrada tem mudado nos últimos tempos. Antes, no senso 
comum, era considerada letrada a pessoa que dominasse a leitura e a escrita, ou seja, se referia ao ato de escrever 
e falar dentro do padrão da norma culta. Então, de fato, há algumas décadas, essa era a definição exclusiva para 
letrado e alfabetizado. Magda Soares (1998, p.16), em seu livro Letramento: um tema em três gêneros, relata 
que buscou a definição no Novo Dicionário Aurélio de língua portuguesa sobre alfabetizado e letrado e a autora 
encontrou a seguinte explicação: 
[...] alfabetizado ‘é aquele que sabe ler’ (e escrever). Letrado, segundo o mesmo dicionário, é 
aquele ‘versado em letras, erudito’, e iletrado é ‘aquele que não tem conhecimentos literários.” 
(FERREIRA, 2008 apud SOARES, 1998, p. 16, grifos do autor).
A autora ainda ressalta a ausência da palavra letramento no dicionário em que há as definições de alfabetizado 
e letrado. No entanto, a partir da década de 1990, ocorreu uma transformação na maneira de se alfabetizar, e 
o termo letramento começou a fazer parte da linguagem utilizada por professores, principalmente da Educação 
Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Os livros didáticos para este último, por exemplo, começaram 
a ser intitulados: “alfabetização e letramento”. Atualmente, de acordo com Ferreira (2008 apud SOARES, 1998, p. 
36), no seu dicionário, a palavra letramento encontra-se definida da seguinte forma:
Letramento: 1. Ato ou efeito de letrar(-se). 2. Bras. Educ.Ling. Estado ou condição de indivíduo ou grupo 
capaz de utilizar-se da leitura e da escrita, ou de exercê-las como instrumento de sua realização e de seu 
desenvolvimento social e cultural.
Legenda: Letramento.
E letrar, no mesmo dicionário, está definido como: “2. Capacitar ao uso social e cultural da leitura e da escrita”. 
(FERREIRA, 2004, p. 513, grifo da autora).
Em conversas do dia a dia, é comum as pessoas de gerações diferentes compararem a forma como foram alfabe-
tizadas. E, com isso, é possível perceber que, para elas, o correto é a forma como aprendeu a ler e escrever. Logo, 
é comum ouvir situações em que a pessoa explica que foi alfabetizada da seguinte forma: 
 “f-o, Fo. c-a, CA; F.o- C.a- foca.”
“c-a, Ca. v-a, va. l-O, LO. C.a-v.a-l.o- cavalo”.
Decorar palavras, frases e até textos foi bastante utilizado como método de alfabetização. O uso exclusivo desse 
recurso foi direcionado para o indivíduo que tinha habilidade de memorizar mesmo que de forma descontextu-
alizada. De acordo com Soares (1998), esse modelo muito utilizado é conceituado como modelo Autônomo. Ele 
tem como característica o letramento como prática individual, porque não considera esse indivíduo como parte 
de um contexto social. O modelo autônomo reduz a escrita a um resultado linear, entende a aprendizagem como 
uma forma única e sem relação social ou cultural. Não cabe nele refletir sobre o texto lido ou ouvido, porque a 
interpretação é intrínseca ao texto. Além disso, nesse modelo, existe um distanciamento entre linguagem oral e 
escrita, o que reforça as relações de poder.
De que forma isso acontece? 
Street (2013) aponta para pesquisas na área em que esse modelo é baseado na visão etnocêntrica. O resultado 
é a valorização do conhecimento adquirido por meio da escrita formal, ou seja, dentro da escola, onde os segui-
dores desse modelo acreditam que é o lugar prioritário para se construir o pensamento abstrato.
5
Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
Com isso, o modelo autônomo afirma que existe uma inferioridade do uso da fala em relação à escrita. A fala, para 
esse modelo, é primitiva, mas a escrita possui um grau de elevação das pessoas na sociedade, o que é conhecido 
como “Mito do letramento” (STREET apud KLEIMAN, 1995), ideia embutida de preconceito, porque contribui para 
o pensamento de que o sujeito, ao se tornar alfabetizado, é capaz de se libertar do que o prende de crescer social, 
cultural e economicamente. Assim, o sujeito que não tem sucesso na escola não terá sucesso na vida.
Figura 1 – Língua Portuguesa e grupos sociais.
Legenda: Exemplo de Dicionário Contemporâneo de Língua Portuguesa. 
Fonte:<https://pt.123rf.com/search.php?word=Livro+antigo&srch_lang=pt&imgtype=0&Submit=+&t_word=&t_
lang=pt&orderby=0&t_word=&t_lang=pt&oriSearch=Livro++L%EDngua+Portuguesa&sti=nbk9homo1mcd0b6lx9|&medi
apopup=10488244>
O modelo da Figura 1 considera o letramento como dimensão individual, ou seja, a leitura e a escrita são habili-
dades diferentes. A leitura pertence a um conjunto de técnicas que desenvolvem habilidades linguísticas e psi-
cológicas. Elas compreendem a decodificação de palavras escritas até a leitura e compreensão de textos escritos. 
A escrita nesse modelo também é um conjunto de técnicas e de habilidades linguísticas e psicológicas. De acordo 
com Soares (1998), ela envolve a habilidade de registrar unidades de som até a capacidade de reproduzir signi-
ficado para um leitor experiente.
 Etnocentrismo é um conceito da Antropologia definido como a visão demonstrada por 
alguém que considera o seu grupo étnico ou a sua cultura o centro de tudo, portanto, em 
um plano mais importante que as outras culturas e sociedades. .
6
Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
O que se reproduz nesse modelo é o chamado letramento funcional. Soares (1998) classifica o letramento fun-
cional dentro da perspectiva progressista. Nessa visão, a leitura e a escrita têm um uso empírico para “funcionar” 
em um contexto social determinado. Essa definição, no entanto, é considerada “fraca” pela autora, porque limita 
o letramento a um grupo ou cultura. Nessa definição, ele tem como importância ajudar o indivíduo a sobreviver 
na sociedade escrita, haja vista que ele irá precisar usar habilidades básicas de letramento em seu emprego, no 
lazer, no comércio e entre outros lugares que exigirem o uso da leitura ou a produção de símbolos escritos. Isto é, 
ele é capaz de identificar o número de um ônibus, ler e escrever pequenos textos – como avisos, por exemplo –, 
mas terá dificuldade em analisar e refletir textos mais complexos, como um texto jornalístico por exemplo. 
Entretanto, o indivíduo letrado dessa forma se acomoda nessa situação, uma vez que ele consegue sobreviver 
com o conhecimento que tem. O letramento funcional limita a pessoa a pequenas atividades em sua rotina diária 
e a valorizar e considerar, até, como padrão a serem seguidos os comportamentos básicos de grupos dominantes.
 O livro Conhecimento e inclusão social: 40 anos de pesquisa em educação, de Magda Soa-
res, diz respeito à Língua Portuguesa como componente curricular no Brasil. Em relação ao 
que estamos hoje tão familiarizados, a presença da disciplina Língua Portuguesa ou Por-
tuguês na escola, surpreendemo-nos quando verificamos quão tardia foi a inclusão dessa 
disciplina no currículo escolar: ela só ocorre nas últimas décadas do século XIX, já no fim do 
império.
[...] é que três línguas conviviam no Brasil Colonial, e a língua portuguesa não 
era prevalente: ao lado do português trazido pelo colonizador, codificou-se 
uma línguageral, que recobria as línguas indígenas faladas no território bra-
sileiro [...]; o latim era a terceira língua, pois nele se fundava todo o ensino 
secundário e superior dos jesuítas. 
Na verdade, o que iam os meninos (os poucos privilegiados que se escolarizavam) aprender 
à escola era o ler e o escrever em português; este não era pois, componente curricular, mas 
apenas instrumento para alfabetização. (SOARES, 2011, p. 17-38, grifo da autora). 
7
Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
1.2 O modelo ideológico 
Figura 2 – Língua portuguesa e diversidade sociocultural. 
Legenda: Crianças multiculturais no planeta Terra, a diversidade cultural.
Fonte: <https://pt.123rf.com/photo_14557856_crian%C3%A7as-multiculturais-no-planeta-terra%20-a-diversidade-
-cultural.html?term=14557856>
Contrapondo-se à ideia de segregação e poder embutido no modelo autônomo, temos o modelo ideológico. Ele 
oferece um processo de socialização de saberes. Nele é considerado o ensino da linguagem escrita, mas tendo 
em vista as diversas formas de letramentos que estão interligadas às práticas sociais e culturais. 
Em formação de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, são comuns questionamentos a respeito 
das metodologias aplicadas na alfabetização e no letramento. Um grupo de professores diz que se adéqua à 
teoria da psicogênese da aquisição da escrita, outros aos métodos silábicos, por exemplo. Mas por que isso 
ocorre? Kleiman (2016), em suas pesquisas, aponta que as práticas diversificadas de letramento estão relaciona-
das às condições de letramento de quem alfabetiza, que é o professor.
 Por que falar em letramentos e não letramento? 
8
Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
Entre essas condições, podemos considerar a forma como o professor foi alfabetizado, em que ambiente socio-
cultural ocorreu sua alfabetização e, ainda, que exigências a escola na qual ele trabalha faz para que aconteça a 
alfabetização de seus alunos. É importante ressaltarmos que a escola é o local por evidência do letramento, no 
entanto, a alfabetização ainda está acima dele. O que ainda se vê é a supremacia do modelo autônomo. Por isso, 
o modelo ideológico valoriza o letramento oferecido pelas diversas instituições de nossa sociedade. Como isso 
ocorre?
Você já participou de grupos de igrejas, ou de escoteiros, ou de voluntários? O que você aprendeu nesses grupos? 
Talvez, conceitos e definições que não aprenderia na escola. E, também, conhecimentos escolares que você uti-
lizou para entender algum assunto desses grupos. 
Temos aqui letramentos, porque, tanto no modelo ideológico quanto no modelo autônomo, acontecem práticas 
de letramento diversas. Porém, com consequências distintas. Elas fazem parte e modificam-se nos diferentes 
contextos em que estão presentes a leitura e a escrita. 
.
A função do modelo ideológico é compreender o uso social da escrita nas diferentes culturas. Por isso, enten-
dendo o letramento dessa forma, ele deixa de ser “funcional”, ou seja, de servir exclusivamente a situações de 
experiência vividas no dia a dia e feitas como decodificação de símbolos, e passa a ser intertextual e intercultural, 
porque envolve textos de diferentes grupos sociais e culturais diversos. E mais que codificar símbolos, dialoga-se 
com o significado deles para a sua cultura e a do outro. 
A consequência desse modelo está ligada ao aprofundamento de processos culturais. Para o modelo ideológico, 
o resultado do letramento está, segundo Soares (1998, p. 76), na capacidade “[...] de definir, transmitir e de refor-
çar valores, crenças, tradições e formas de distribuição de poder”. Além disso, a autora define esse modelo como 
versão “forte” do letramento. Para aqueles que o defendem, as consequências são positivas, pois eles acreditam 
em uma sociedade justa e igualitária. 
 psicogênese da aquisição da escrita: De acordo com esse referencial, a apropriação da 
escrita se apoia em hipóteses do aprendiz, baseadas em conhecimentos prévios, assimila-
ções e generalizações, dependendo de suas interações sociais e dos usos e das funções da 
escrita e da leitura em seu contexto cultural. Tais hipóteses oferecem informações relevantes 
sobre níveis ou etapas psicogenéticas no processo de alfabetização e podem se manifestar 
tanto em crianças quanto em adultos. (Glossário Ceale: <https://goo.gl/jTpYSQ>). 
Métodos silábicos: caracterizam-se pela apresentação visual de sílabas prontas, sem forçar a 
articulação das consoantes com as vogais, e sem destacar as partes que compõem a sílaba. 
O princípio básico é que a consoante só pode ser emitida se apoiada na vogal; logo, somente 
a sílaba (e não as letras) pode servir como unidade linguística para o ensino inicial da lei-
tura. (Glossário Ceale: (<ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/metodo-
-silabico>) 
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Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
1.3 O modelo ideológico e uso social da escrita 
Para continuarmos nossa unidade, vamos conceituar a palavra letramento de acordo com Magda Soares (1998, 
p. 35).
Quadro 1 – Definição de letramento.
 “Do inglês literacy: letra- do latim littera, e o sufixo –mento, que denota o resultado de uma ação (como 
por exemplo, em ferimento, resultado da ação de ferir). Letramento é, pois, o resultado da ação de ensinar 
ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como 
consequência de ter apropriado da escrita.”
Legenda: Definição de letramento.
Fonte: SOARES (1998, p. 35)
O letramento como apropriação mais social que individual vem tomando espaço nas pesquisas e nas práticas 
curriculares. Atualmente, temos visto uma mudança de pensamento, antes voltado para um modelo psicológico, 
em que a apropriação e o uso da escrita eram tidos como habilidade individual, e hoje para uma apropriação que 
envolve práticas socioculturais considerando também o momento histórico. 
Com isso, a própria definição de sucesso e insucesso escolar teve outra conotação. Antes, no modelo autônomo, 
era uma responsabilidade individual, como se a escola fizesse o trabalho dela e cada pessoa tivesse de se adequar 
àquele molde. A própria formação do professor apontava para isso, como descreve Mortatti (2008).
Conforme a formação dos professores primários ocorria, estes deveriam também ensinar a ler e escrever nas 
escolas normais que foram sendo criadas no interior do Estado, especialmente até o final da década de 1920. 
Entre os saberes necessários a esses professores, em particular no que se refere à sua função de ensinar a ler e 
escrever, enfatizavam-se os fundamentos e a aplicação do método analítico para o ensino da leitura (e escrita), 
articuladamente ao método intuitivo para todas as matérias escolares. 
É possível observar a aprendizagem do professor em sua formação de um método exclusivo para o ensino, o qual 
deveria ser usado para todos os alunos. Mortatti (2008) ainda ressalta que, historicamente, a formação do pro-
fessor dos anos iniciais “alfabetizador” foi direcionada a métodos. Assim, aos poucos, caracterizou-se como perfil 
de um bom professor aquele que melhor se adaptasse aos métodos do momento. No entanto, o professor tem 
de ter – ou ao menos deveria – um trabalho intelectual e de pesquisa, avistando às várias mudanças que ocorrem 
na sociedade e, concomitantemente, na educação. 
O professor tem por responsabilidade o ensino convencional da língua escrita, mas isso precisa ser feito conside-
rando as práticas culturais, porém, sem reduzir o ensino a elas. A utilização de um método é eficiente se ele pos-
sui tanto a aquisição do sistema de escrita quanto o uso social dela, isto é, ocorre a alfabetização e o letramento. 
E cabe ao professor, em sua sala de aula, intervir constantemente. Do contrário, vamos continuar reproduzindo o 
“letramento funcional”, ou seja, adequando os sujeitos aos objetivos preestabelecidose às atividades cotidianas. 
Na atualidade, alguns currículos escolares já procuram organizar seu ensino tendo por base o letramento asso-
ciado a um contexto sociocultural. Para Exemplificar, citamos as Proposições Curriculares do ensino Fundamental 
da Rede Municipal de Belo Horizonte. 
[...] os objetivos de alfabetizar e letrar, com vista à integração na vida social, a proposta geral de 
Língua Portuguesa se organiza em função de seis componentes do processo de ensino e apren-
dizagem: a) Desenvolvimento da linguagem falada; b) Apropriação do sistema de escrita; c) Com-
preensão e valorização da cultura escrita; d) Leitura; e) Produção de textos escritos; f) Reflexão 
linguística. (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2010, p. 23).
10
Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
Veja o exemplo do 1º ciclo no Quadro 2.
Quadro 2 – Exemplo de planejamento com a apropriação social da escrita. 
CAPACIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NO 1º. CICLO (1º ao 3º ano do Ensino Fundamental).
Compreensão e produção de textos orais 
Capacidades básicas: 
• Compreender textos orais de diferentes gêneros, em diferentes situações comunicativas. 
• Produzir textos orais de diferentes gêneros, com adequação à situação comunicativa.
Compreensão e valorização da cultura escrita 
Capacidade básica: 
• Conhecer e valorizar práticas sociais letradas.
Apropriação do sistema de escrita 
Capacidade básica: 
• Compreender a natureza alfabético-ortográfica da escrita da Língua Portuguesa.
Leitura Capacidades básicas: 
• Ler e compreender textos de diferentes gêneros textuais. 
• Posicionar-se criticamente diante de textos lidos.
Produção de textos escritos 
Capacidade básica: 
 • Produzir textos de gêneros variados, adequados aos objetivos comunicativos, ao interlocutor, ao contexto e 
ao suporte de circulação.
Legenda: Capacidades - 1º ciclo.
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE (2010, p. 46) 
A aquisição da leitura e da escrita caminha junto com a valorização da cultura escrita. Na prática, ela envolve 
portadores de textos cotidianos, como avisos, cartazes, o caderno, o quadro, a internet. 
A criança, no dia a dia, convive com esses portadores e eles vão sendo registrados em sua memória. 
No ano de 2016, foi desenvolvido em uma escola da rede pública de Belo Horizonte um projeto interdiscipli-
nar sobre a cultura afro-brasileira. A turma do 3º ano do Ensino Fundamental trabalhou dentro da proposta do 
projeto o tema O samba e a nossa gente. Para a exposição em sala, foi montado um mural representando a 
periferia da cidade. Para isso, produziu-se casinhas com diferentes dobraduras. Quando a professora foi recolher 
o primeiro modelo que as crianças fizeram, ela viu que algumas crianças haviam escrito na frente das casinhas: 
“Vende-se esta casa”, “Hotel”, “Vende-se chup-chup”, “bar”. 
Um olhar superficial traria apenas palavras decorativas em um trabalho de arte, mas, com um olhar mais apro-
fundado, podemos observar a identidade de um grupo ali representada.
É importante ressaltar que os alunos dessa escola são de uma periferia da cidade. Essas palavras demonstram o 
tipo de contato que eles têm com a linguagem escrita e de que forma ela é apresentada no grupo social que eles 
vivem.
Esse sentimento de pertença de um grupo caracteriza sua identidade. E ela é de fundamental importância para o 
desenvolvimento da pessoa, principalmente seu desenvolvimento emocional. Retomando Magda Soares (1998) 
a respeito do ensino da Língua Portuguesa no Brasil, observamos que havia uma segregação de culturas. Em 
outra parte do texto, ela comenta a respeito das famílias pobres que usavam a língua indígena (principalmente o 
tupi) dentro de suas casas e o português nas ruas.
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Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
A língua é uma forte expressão cultural e de fundamental importância para a construção da identidade. Somente 
poder falar do jeito que sabia no interior das casas ou naquele grupo restrito da comunidade local certamente 
gerou um sentimento de inferioridade. A língua falada em público detinha o poder e suprimia as demais. 
No Brasil colonial, é possível observar que, de fato, a língua falada no interior das casas (a língua geral, originada 
do tupi) foi perdendo espaço até desaparecer do dia a dia das pessoas. E hoje o que representa essa língua? 
Desde o início da alfabetização, a criança traz para a escola sua forma de falar, símbolos presentes em sua expe-
riência, os quais podem ser usados como recurso na construção da escrita. A linguagem oral que traz traços de 
uma cultura não deveria ser negligenciada. A cada passo que a criança dá na alfabetização, é preciso que ela se 
conscientize das diferenças entre a língua falada e a língua escrita. Isso não como forma de anular uma e perma-
necer a outra, mas de saber empregar cada uma em seu tempo e lugar. 
De forma prática, como fazer?
No 4º ano do Ensino Fundamental, um dos conteúdos presente são os tempos verbais e a linguagem oral e 
escrita. Uma boa sugestão para introduzir esses temas é a utilização de um gênero textual bem conhecido pelas 
crianças dessa faixa etária: os diários. Eles são escritos de maneira informal, apresentam traços da cultura de 
quem escreve, é escrito em primeira pessoa, o diário exerce a função de 2ª pessoa e demonstram o tempo que 
foi escrito. Por exemplo: 
Quadro 3 – Gênero textual.
Belo Horizonte, 12 de junho de 2015.
Querido diário, 
Hoje acordei muito ansiosa, porque era meu aniversário! Minha mãe disse que íamos sair cedo para comprar 
meu presente. Ela gosta de ir para lojas bem cedo para sobrar mais tempo para fazer outras coisas durante o 
dia.
Ela me disse que esse ano eu não ia ter festinha de aniversário, porque ela e meu padrasto precisam guardar 
dinheiro para comprar o carro novo.
Fomos ao centro e ela deixou eu escolher uma roupa e um brinquedo. Daí, eu escolhi um vestido azul com um 
lindo cinto vermelho! E de brinquedo eu escolhi um estojo de maquiagem (para mim não é brinquedo, mas 
para minha mãe é).
Cheguei em casa ela deixou eu ir para a casa da minha madrinha. Lá eu brinquei com a Carla e a Sabrina. 
Almocei com eles. Depois minha mãe me chamou. Vi um episódio de desenho na TV, aí ela falou para eu 
tomar banho. Ela disse que ia pedir uma pizza para comemorar meu aniversário.
Aí, diário você não sabe o que aconteceu... A campainha tocou. Minha mãe pediu para eu abrir o portão. 
Pensei que fosse o motoboy com a pizza... Levei um baita susto! Era um monte de amigos meus! Minha mãe 
fez uma festa surpresa para mim! Tinha salgadinhos, docinhos e um bolo que era muito bonito e muito 
gostoso! Foi tão divertido diário!
Mas, agora vou dormir porque o dia foi muito agitado.
Ah, esqueci de falar o Luquinha veio na minha festa surpresa S2.
(Texto da autora).
Legenda: Gênero textual diário pessoal.
Fonte: Elaborado pela autora.
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Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
Para trabalhar em sala de aula, com alunos, o uso social da escrita, podemos explorar a linguagem oral presente 
no texto com perguntas e reflexões, como segue o exemplo:
- Qual a função do gênero apresentado no texto?
- Você tem ou já teve um diário? Conhece alguma pessoa que tem um diário? Quem? 
- Copie do texto palavras ou expressões que parecem mais com a forma que falamos do que da forma que 
escrevemos.
- No trecho: Pensei que fosse o motoboy com a pizza... Levei um baita susto!
O que quer dizer a expressão em destaque?
- “Eu brinquei com a Carla e a Sabrina. Almocei com eles.”
A frase em destaque indica:
( ) presente
( ) passado
( ) futuro
A música de Caetano Veloso apresenta em seus versos, de forma crítica, a relação de cultura e de poder presentes 
na língua escrita e falada. Vejamos no Quadro 4.
13
Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
Quadro 4 – Poema.Legenda: Língua.
Língua
Gosto de sentir a minhalíngua roçar 
A língua de Luís de Camões 
Gosto de ser e de estar 
E quero me dedicar 
A criar confusões de prosódia 
E um profusão de paródias 
Que encurtem dores 
E furtem cores como camaleões 
Gosto do Pessoa na pessoa 
Da rosa no Rosa 
E sei que a poesia está para a prosa 
Assim como o amor está para a amizade 
E quem há de negar que esta lhe é superior 
E quem há de negar que esta lhe é superior 
E deixa os portugais morrerem à míngua 
Minha pátria é minha língua 
Fala Mangueira 
Fala! 
Flor do Lácio Sambódromo 
Lusamérica latim em pó 
O que quer 
o que pode 
Esta língua 
(3X) 
Vamos atentar para a sintaxe paulista 
E o falso inglês relax dos surfistas 
Sejamos imperialistas 
Cadê? Sejamos imperialistas 
Vamos na velô da dicção choro de Carmem Miranda 
E que o Chico Buarque de Hollanda nos resgate 
E Xeque-mate, explique-nos Luanda 
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo 
Sejamos o lobo do lobo do homem 
Sejamos o lobo do lobo do homem 
Adoro nomes 
Nomes em ã 
De coisa como rã e ímã... 
Nomes de nomes como Scarlet Moon Chevalier 
Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé, Maria da Fé 
Arrigo Barnabé 
Trecho da música: Língua
Compositor: Caetano Veloso 
ouça em: <https://www.youtube.com/watch?v=n2KttEYpURI>
Legenda: Língua
Fonte: < https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/44738/>.
14
Alfabetização e Letramento | Unidade 1 -Os conceitos e as abordagens do letramento
Podemos observar que a leitura e a escrita se complementam e ambas fazem parte de nossa vida cotidiana. 
Aqueles que priorizam, no fenômeno letramento, a sua dimensão social, argumentam que ele 
não é um atributo unicamente ou essencialmente pessoal, mas é, sobretudo, uma prática social: 
o letramento é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e escrita, em um contexto 
específico, e como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais 
[...] (SOARES, 1998, p.72, grifos da autora).
Reforçamos que o letramento como prática social abrange não somente a cultura local, mas as diversas culturas 
orais e escritas existentes. Do contrário, ele passa a ser a um instrumento de poder e hierarquia. Dessa forma, 
repetiríamos o uso da língua como segregação de poder. E uma cultura se sobreporia a outra.
A função do letramento como modelo Ideológico é entendido como mecanismo de mudança social. Isso porque 
a pessoa letrada dentro dessa perspectiva é capaz de fazer relações entre diferentes formas sociais e culturais e 
promover ações de reconhecimento e valorização de identidades, mesmo que elas sejam diferentes das que ela 
está habituada. O letramento na dimensão social, de acordo com Soares (1998), não é um atributo pessoal, mas 
uma prática social. 
15
Considerações finais
Nesta unidade, vimos os conceitos e as abordagens do letramento: o 
modelo Autônomo e o modelo Ideológico. Nele refletimos sobre o con-
ceito tradicional de alfabetização e letramento por meio do modelo autô-
nomo. Neste modelo, o conceito de letramento se baseia na codificação 
de símbolos. Seu ensinamento envolve métodos individuais e psicológi-
cos. Assim, ele reproduz o chamado “mito do letramento”, em que se con-
sidera que a pessoa com sucesso escolar terá sucesso na vida; e a pessoa 
que tem insucesso escolar terá insucesso na vida.
No modelo Autônomo, o letramento é funcional, ou seja, a pessoa 
aprende a ler e escrever o suficiente para realizar funções cotidianas, como 
fazer compras e trabalhar e conviver com o grupo social a que pertence. 
Essa aprendizagem se dá necessariamente na sala de aula com recursos e 
métodos próprios da escola. Como resultado, esse modelo traz a segrega-
ção de poder e sobrepõe uma cultura a outra. 
Em seguida, conceituamos o modelo Ideológico. Nele ocorre a alfabeti-
zação por meio da codificação de símbolos, mas o que o diferencia do 
modelo anterior é que nele ocorre um aprofundamento do uso social da 
leitura e da escrita. O resultado desse modelo é um letramento com defi-
nição de crenças e valores do próprio grupo social e cultural e de outros 
grupos, propagando igualdade social e cultural.
Contudo, ambos os modelos têm a função de alfabetizar, de ensinar a ler 
e a escrever, o que os diferencia é a forma que eles se apropriam do uso 
social da escrita. O modelo Autônomo reproduz um letramento funcional 
com forma hierárquica e de poder. Já o modelo Ideológico apresenta, por 
meio dos textos lidos e ouvidos, diferentes formas de leituras e escritas. 
Ele está presente em diversos setores da sociedade, como igrejas, asso-
ciações, grupo de escoteiros, entre outros; e, na escola, eles são dialoga-
dos, refletidos e utilizados na alfabetização. O resultado é a apropriação 
da própria cultura, respeito à cultura do outro. 
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