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ABORDAGEM CONTIGENCIAL Prof. Fábio Arruda TEORIA DA CONTINGÊNCIA A palavra contingência significa algo incerto ou eventual, que pode suceder ou não, dependendo das circunstâncias. A abordagem contingencial salienta que não se alcança a eficácia organizacional seguindo um único e exclusivo modelo organizacional. A estrutura da organização e o seu funcionamento são dependentes da sua interface com o ambiente externo. Torna-se necessário um modelo apropriado para cada situação. Por outro lado, diferentes tecnologias conduzem a diferentes desenhos organizacionais. Variações no ambiente e na tecnologia conduzem a variações na estrutura organizacional. A Teoria da Contingência enfatiza que não há nada de absoluto nas organizações ou na teoria administrativa. Tudo é relativo. Tudo depende. As variáveis ambientais são variáveis independentes, enquanto as técnicas administrativas são variáveis dependentes dentro de uma relação funcional. TEORIA DA CONTINGÊNCIA A relação funcional entre as variáveis independentes e dependentes não implica que haja uma relação de “causa-e-efeito”, pois a Administração é ativa e não passivamente dependente, procurando aquelas relações funcionais entre o ambiente e as técnicas administrativas que melhorem a eficácia da prática da administração contingencial. Há um aspecto proativo e não meramente reativo na Abordagem Contingencial. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Origens da Teoria da Contingência A Teoria da Contingência é também denominada Escola Ambiental e surgiu a partir dos resultados de várias pesquisas que procuraram verificar os modelos de estruturas organizacionais mais eficazes em determinados tipos de empresas. 1) Pesquisa de Chandler sobre Estratégia e Estrutura Chandler realizou uma investigação histórica sobre as mudanças estruturais de grandes organizações relacionando-as com a estratégia de negócios. A estrutura organizacional das grandes empresas americanas foi sendo gradativamente determinada pela sua estratégia mercadológica. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 2) Pesquisa de Emery e Trist sobre os Contextos Ambientais Para se compreender o comportamento da organização é importante considerar também seu relacionamento com o ambiente. Os quatro tipos de contexto ambiental são: Ambiente tipo 1: Meio plácido e randômico – Corresponde ao “mercado clássico” dos economistas, no qual organizações puramente competitivas vendem produtos homogêneos e que têm objetivos relativamente estáveis distribuídos ao acaso (randomicamente) como, por exemplo: bares, mercearias, oficinas artesanais. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Ambiente Tipo 2: Meio plácido e segmentado - É um meio ambiente também estático, mas os objetivos não são distribuídos randomicamente, porque estão concentrados de alguma forma. Corresponde ao modelo da “competição imperfeita” dos economistas, no qual os produtos ou serviços oferecidos pelas organizações concorrentes são diferenciados. Toda organização pode ter algum controle sobre o mercado, mas não pode afetar as outras organizações. São as empresas que se dedicam a um tipo de produto em uma região na qual não há um mercado competitivo. Esse tipo de organização requer concentração de recursos, subordinação a um plano central principal e o desenvolvimento de “especialização distinta” em sua tecnologia como, por exemplo: know-how de siderurgia, cimento, etc. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Ambiente tipo 3: Meio perturbado e reativo – Neste ambiente mais dinâmico do que estático, desenvolvem-se organizações do mesmo tamanho, tipo, objetivos, dispondo das mesmas informações e pretendendo o mesmo mercado. Corresponde ao “mercado oligopólico” dos economistas, cuja característica primária é o fato de que, como são poucas as organizações, as atividades de uma organização causam repercussões adversas sobre as demais. Exemplo: organizações que se dedicam a negócios diversificados ou alguns tipos de organização que atuam em um mercado estritamente disputado, como companhias de petróleo e de cimento. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Ambiente tipo 4: Meio de campos turbulentos – Caracteriza-se pela complexidade, turbulência e dinamicidade. As organizações não podem adaptar-se com sucesso apenas por meio da competição nas suas interações, mas por meio da colaboração para reduzir a incerteza tecnológica, permitindo um mecanismo de controle obedecido por todas as organizações do complexo. Não há modelo correspondente na teoria econômica em face da complexidade e incerteza. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 3) Pesquisa de Burns e Stalker sobre as Organizações Tom Burns e G.M. Stalker pesquisaram vinte indústrias inglesas para verificar a relação entre as práticas administrativas e o ambiente externo dessas indústrias. Classificaram as empresas pesquisadas em dois tipos: organizações “mecanísticas” e “orgânicas TEORIA DA CONTINGÊNCIA TEORIA DA CONTINGÊNCIA Características Sistemas Mecânicos Sistemas Orgânicos Estrutura Organizacional Burocrática, permanente, rígida e definitiva. Flexível, mutável, adaptativa e transitória Processo Decisorial Decisões centralizadas na cúpula da organização. Decisões descentralizadas: ad hoc (aqui e agora) Comunicações Quase sempre verticais Quase sempre horizontais Princípios Predominantes Princípios gerais da Teoria Clássica Aspectos democráticos da Teoria das Relações Humanas. Desenho de Cargos e Tarefas Cargos estáveis e definidos. Ocupantes especialistas e univalentes Provisório. Cargos mutáveis, redefinidos constantemente. Ocupantes polivalentes. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 4) Pesquisa de Lawrence e Lorsch sobre o Ambiente Lawrence e Lorsh fizeram uma pesquisa sobre o defrontamento entre organização e ambiente que marca o aparecimento da Teoria da Contingência. Os autores concluíram que os problemas organizacionais básicos são a diferenciação e a integração. OBS: A denominação Teoria da Contingência derivou desta pesquisa. TEORIA DA CONTINGÊNCIA a) Conceito de diferenciação - É a divisão da organização em subsistemas ou departamentos, cada qual desempenhando uma tarefa especializada para um contexto ambiental também especializado. Cada subsistema ou departamento reage unicamente àquela parte do ambiente que é relevante para sua própria tarefa especializada. TEORIA DA CONTINGÊNCIA b) Conceito de Integração - A integração refere-se ao processo oposto, gerado por pressões vindas do ambiente da organização no sentido de obter unidade de esforços e coordenação entre os vários departamentos (ou subsistemas). Cada um desses segmentos se relaciona com um segmento do universo exterior à empresa. Essa divisão do trabalho entre departamentos marca um estado de diferenciação. Mas esses departamentos precisam fazer um esforço convergente e unificado para atingir os objetivos globais da organização. Em conseqüência, ocorre também um processo de integração. TEORIA DA CONTINGÊNCIA c) Teoria da Contingência - Em função dos resultados da pesquisa, os autores formularam a Teoria da Contingência: não existe uma única maneira melhor de organizar. Ao contrário. As organizações precisam ser sistematicamente ajustadas às condições ambientais. A Teoria da Contingência apresenta os seguintes aspectos: A organização é um sistema aberto Existe uma íntima relação entre as variáveis externas e as características organizacionais As características ambientais funcionam como variáveis independentes, enquanto as características organizacionais são variáveis dependentes daquelas. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 5) Pesquisa de Woodward sobre a Tecnologia Joan Woodward fez uma pesquisa para saber se os princípios de administração propostos pelas teorias administrativas se correlacionavamcom o êxito do negócio. As firmas foram classificadas em três grupos de tecnologia de produção. a) Produção unitária ou oficina – O processo produtivo é menos padronizado e menos automatizado. É o caso da produção de navios, aviões, locomotivas, geradores e motores de grande porte e confecções sob medida. TEORIA DA CONTINGÊNCIA b) Produção em massa ou mecanizada – A produção é feita em grande quantidade. É o caso da produção que requer máquinas operadas pelo homem e linha de produção ou montagens padronizadas, como empresas montadoras de automóveis, brinquedos, etc. c) Produção em processo ou automatizada – Produção em processamento contínuo em que um ou poucos operários monitorizam um processo total ou parcialmente automático de produção. É o caso do processo de produção de refinarias de petróleo, cimento, produção química ou petroquímica, siderúrgica, etc. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Ambiente É o contexto que envolve externamente a organização. É a situação dentro da qual a organização está inserida. A análise das organizações dentro de uma abordagem múltipla envolvendo a interação entre organizações e o meio ambiente foi iniciada pelos estruturalistas. À medida que essa análise organizacional começou a ser influenciada pelas abordagens de sistemas abertos, aumentou a ênfase no estudo do meio ambiente como base para a compreensão da eficácia na organização. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Mapeamento ambiental Como o ambiente é extremamente vasto e complexo, as organizações não podem absorvê-lo, conhecê-lo em sua totalidade e complexidade. As organizações precisam tatear, explorar e discernir o ambiente para reduzir a incerteza a seu respeito. O mapeamento ambiental não é feito pela organização em si, mas por pessoas – sujeitas ao subjetivismo e a diferenças individuais - que são seus dirigentes. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Seleção Ambiental As organizações não são capazes de compreender todas as condições variáveis do ambiente de uma só vez. Para lidar com a complexidade ambiental, as organizações selecionam seus ambientes e passam a visualizar o seu mundo exterior apenas nas partes escolhidas e selecionadas desse enorme conjunto. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Percepção Ambiental É uma construção ou um conjunto de informações selecionadas e estruturadas em função da experiência anterior, intenções e maneiras de pensar dos dirigentes de cada organização. A percepção está ligada à captação e tratamento da informação externa considerada útil. Um mesmo ambiente pode ser percebido e interpretado diferentemente por duas ou mais organizações. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Consonância e Dissonância A consonância significa que as presunções da organização a respeito de seu ambiente são confirmadas na prática e no cotidiano. Se a comparação revela algum desvio, temos uma incoerência ou dissonância, e a organização tende a restabelecer o equilíbrio desfeito. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Ambiente Geral É o ambiente genérico e comum a todas as organizações. Tudo que acontece no ambiente geral afeta direta ou indiretamente todas as organizações. O ambiente geral é constituído de condições comuns para todas as organizações: 1. Condições tecnológicas: As organizações precisam adaptar-se e incorporar tecnologia que provém do ambiente geral para não perderem a sua competitividade. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 2. Condições legais: Constituem a legislação vigente e que afeta direta ou indiretamente as organizações, auxiliando-as ou impondo-lhes restrições às suas operações. 3. Condições políticas: São as decisões e definições políticas tomadas em nível federal, estadual e municipal que influenciam as organizações e que orientam as próprias condições econômicas. 4. Condições econômicas: Constituem a conjuntura que determina o desenvolvimento ou a retração econômica, que condicionam fortemente as organizações. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 5. Condições demográficas: Aspectos demográficos (distribuição geográfica, taxa de crescimento, raça, religião, sexo, idade) que determinam as características do mercado atual e futuro das organizações. 6. Condições ecológicas: O ecossistema refere-se ao sistema de intercâmbio entre os seres vivos e seu meio ambiente. No caso das organizações, existe a chamada ecologia social: as organizações influenciam e são influenciadas por aspectos como poluição, clima, transportes, comunicações, etc. 7. Condições culturais: A cultura de um povo penetra nas organizações através das expectativas de seus participantes e de seus consumidores. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Ambiente de Tarefa É o segmento do ambiente geral do qual uma determinada organização extrai as suas entradas e deposita as suas saídas. O ambiente de tarefa é constituído por: 1. Fornecedores de entradas: fornecedores de todos os tipos de recursos de que uma organização necessita para trabalhar: recursos materiais, recursos financeiros, recursos humanos. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 2. Clientes ou usuários: consumidores das saídas da organização. 3. Concorrentes: outras organizações que disputam os mesmos recursos e os mesmos tomadores de suas saídas. 4. Entidades Reguladoras: regulam ou fiscalizam as atividades das organizações: sindicatos, associação de classes, órgãos reguladores do governo, órgão protetores do consumidor. TEORIA DA CONTINGÊNCIA É no ambiente de tarefa que uma organização estabelece o seu domínio ou, pelo menos, procura estabelecê-lo. O domínio depende das relações de poder ou dependência de uma organização face ao ambiente quanto às suas entradas ou saídas. As organizações procuram aumentar o seu poder e reduzir sua dependência quanto ao seu ambiente de tarefa e estabelecer seu domínio. Esse é o papel da estratégia organizacional. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Domínio é a área de influência e de poder, como também a área de dependência da organização em relação ao seu ambiente. Dá-se o nome de interface para descrever a área de contato entre uma organização e seu ambiente. É no ponto da interface que as entradas e saídas passam através dos limites ou fronteiras entre uma organização e o seu ambiente. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Tipologia de Ambiente Para facilitar o estudo e a análise ambiental existem tipologias de ambiente, relacionadas com o ambiente de tarefa: 1. Quanto à sua estrutrura: a) Ambiente Homogêneo b) Ambiente Heterogêneo 2. Quanto à sua dinâmica: a) Ambiente Estável b) Ambiente Mutável TEORIA DA CONTINGÊNCIA Tecnologia Ao lado do ambiente, a tecnologia constitui outra variável independente que influencia as características organizacionais (variáveis dependentes). Além do impacto ambiental (imperativo ambiental), existe o impacto tecnológico (imperativo tecnológico) sobre as organizações. A tecnologia adotada pode ser tosca e rudimentar (como a faxina e limpeza através da vassoura ou do escovão) como poderá ser sofisticada (como o processamento de dados pelo computador). TEORIA DA CONTINGÊNCIA A tecnologia pode estar contida em bens de capital, matérias-primas intermediárias ou componentes, etc. Nesse sentido, a tecnologia corresponde ao conceito de hardware. A tecnologia não incorporada encontra-se nas pessoas, sob a forma de conhecimentos intelectuais ou operacionais, facilidade mental ou manual para executar operações. Nesse sentido, a tecnologia corresponde ao conceito de software. Em resumo, a tecnologia é o tipo de conhecimento utilizado no sentido de transformar elementos materiais em bens ou serviços, modificando sua natureza e características. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Tipologias de Tecnologias Devido à complexidade da tecnologia, váriosautores propõem classificações ou tipologias de tecnologias para facilitar o estudo e sua administração. 1) Tipologia de Thompson Thompson propõe uma tipologia de tecnologias, conforme o seu arranjo dentro da organização, a saber: TEORIA DA CONTINGÊNCIA a) Tecnologia de elos em seqüência – Baseada na interdependência serial das tarefas para completar um produto. É o caso da produção em massa. Cada tarefa depende da anterior. b) Tecnologia mediadora – Tem por função interligar clientes que são ou desejam ser interdependentes. O banco comercial liga os depositantes com aqueles que tomam dinheiro emprestado. TEORIA DA CONTINGÊNCIA c) Tecnologia intensiva – Representa a convergência de várias habilidades e especializações sobre um único cliente e a seleção, a combinação e a ordem de aplicação são determinadas pela retroação proporcionada pelo cliente. O hospital geral ilustra a aplicação da tecnologia intensiva: uma internação de emergência exige a combinação de serviços dietéticos, radiológicos, de laboratório, etc. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 2) Matriz de Tecnologia/Produto Em outra obra, Thompson e Bates, classificam a tecnologia em dois tipos básicos: a) Tecnologia flexível: a flexibilidade da tecnologia refere-se à extensão em que as máquinas, o conhecimento técnico e as matérias-primas podem ser usados para outros produtos ou serviços diferentes. b) Tecnologia fixa: é a tecnologia inflexível que não permite a utilização em outros produtos e serviços. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Por outro lado, os autores classificam os produtos em dois tipos básicos: a) Produto concreto: é o produto que pode ser descrito com precisão, identificado com especificidade, medido e avaliado. É o produto palpável e tangível. b) Produto abstrato: não permite descrição precisa nem identificação e especificação notáveis. É o produto não palpável ou intangível. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Ambas as classificações podem ser reunidas em uma tipologia binária de tecnologias e produtos: I. Tecnologia Fixa/Produto Concreto: Empresas do ramo automobilístico. II. Tecnologia Fixa/Produto Abstrato: Instituições educacionais baseadas em conhecimentos especializados e que oferecem cursos variados. III. Tecnologia Flexível/Produto Concreto: Empresas do ramo de plásticos, equipamentos eletrônicos, sujeitos a inovações e mudanças tecnológicas. IV. Tecnologia flexível/Produto abstrato: Empresas de propaganda e relações públicas, de consultoria administrativa, consultoria legal, auditoria, etc. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 3) Tipologia de Perrow As máquinas, equipamentos e suprimentos, naturalmente podem ser considerados como componentes da tecnologia. Porém, o mais importante componente é o processo pelo qual as matérias-primas são transformadas em resultados desejados. Para Perrow, a tecnologia é a técnica que habilita essa transformação. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Impacto da Tecnologia A influência da tecnologia sobre a organização e seus participantes é enorme, pelas seguintes razões: A tecnologia (alguns autores falam de imperativo tecnológico) determina a natureza da estrutura organizacional e do comportamento organizacional das empresas. Apesar do exagero da afirmação, não há dúvida de que existe um forte impacto da tecnologia sobre a vida, natureza e funcionamento das organizações. TEORIA DA CONTINGÊNCIA A tecnologia, isto é, a racionalidade técnica, tornou-se um sinônimo de eficiência. E a eficiência tornou-se o critério normativo pelo qual as organizações são avaliadas pelo mercado. A tecnologia leva os administradores a melhorar cada vez mais a eficácia, mas sempre dentro dos limites do critério normativo de produzir eficiência. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Existe hoje uma distinção entre tecnologias de sustentação – que proporcionam melhor desempenho aos produtos já existentes – e tecnologias demolidoras – que apresentam características inovadoras e que substituem rapidamente as tecnologias existentes por serem mais baratas e fáceis de usar. A tecnologia não é simplesmente a aplicação da ciência a produtos ou processos. Ela se tornou pesquisa, ou seja, uma disciplina separada, com méritos específicos próprios. TEORIA DA CONTINGÊNCIA O Defrontamento com a incerteza A incerteza que se produz na organização acerca do seu ambiente é a incerteza de saber quais as oportunidades e ameaças desse ambiente e como utilizá-las ou evitá-las. Thompson identifica dois componentes que interferem na produção da incerteza: um componente objetivo, que é o ambiente (caracterizado pela pertinência, clareza e suficiência das informações oferecidas), e um componente subjetivo, que é a organização (caracterizado pela capacidade de captar e processar as informações, produzindo um entendimento acerca do fenômeno estudado). TEORIA DA CONTINGÊNCIA O mesmo ambiente pode ser percebido e compreendido de maneira diferente por duas organizações. A incerteza não está no ambiente, mas sim na organização. Todo esse fluxo está aberto à produção de incerteza. Isso explica a substituição do conceito de racionalidade absoluta pelo da racionalidade organizacional. A racionalidade organizacional se desloca para a racionalidade absoluta à medida que produz menos incerteza e se afasta dela quando produz mais incerteza. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Desenho Organizacional A Teoria da Contingência focaliza o desenho das organizações dentro da abordagem de sistema aberto. O desenho organizacional (organizational design) retrata a configuração estrutural da organização e implica no arranjo dos órgãos dentro da estrutura no sentido de aumentar a eficiência e a eficácia organizacional. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 1) Estrutura Matricial É denominada matriz ou organização em grade. Combina duas formas de departamentalização: departamentalização funcional e departamentalização por produtos (ou projetos) – na mesma estrutura organizacional. Trata-se, portanto de uma estrutura mista, ou melhor, híbrida. O desenho matricial é usado em duas dimensões: gerentes funcionais e gerentes de produtos ou de projetos. As pessoas atendem a uma dupla subordinação: a orientação dos gerentes funcionais e a dos gerentes de produto/projeto simultaneamente. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Projetos Ponte Estádio Shopping Funções Compras RH Marketing TEORIA DA CONTINGÊNCIA Vantagens da estrutura matricial: A estrutura funcional enfatiza a especialização, mas não enfatiza o negócio, enquanto a estrutura de produto/projeto enfatiza o negócio, mas não enfatiza a especialização. O desenho matricial permite satisfazer simultaneamente as duas necessidades básicas da organização: especialização e coordenação Limitações da estrutura matricial: Viola a unidade de comando e introduz conflitos inevitáveis de duplicidade de supervisão. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 2) Organização por Equipes Torna as organizações mais flexíveis e ágeis ao meio ambiente global e competitivo, principalmente quando se adota o seu fortalecimento (empowerment). TEORIA DA CONTINGÊNCIA Tipos de Equipes 1. Equipe funcional cruzada: é composta de pessoas de vários departamentos funcionais que resolvem problemas mútuos. 2. Equipes permanentes: são constituídas como se fossem departamentos formais da organização. Os seus participantes trabalham juntos e se reportam ao mesmo gerente para resolver problemas de interesse comum. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Vantagens da estrutura por equipes: Aproveita as vantagens da estrutura funcional, como economia de escala e treinamento especializado. Redução de barreiras entre os departamentos, aumentandoo compromisso pela maior proximidade das pessoas. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Limitações da estrutura por equipes: Conflitos de dupla lealdade. Uma equipe funcional cruzada pode exigir diferentes solicitações aos seus membros provocando conflitos que precisam ser resolvidos. Nem sempre os membros da equipe têm uma noção corporativa e tendem a tomar decisões que são boas para a equipe e que podem ser más para a organização como um todo. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 3) Abordagens em Redes Através da estrutura em rede (network organization) a organização desagrega as suas funções principais e as transfere para empresas ou unidades separadas que são interligadas através de uma pequena organização coordenadora, que detém o aspecto essencial do negócio (core business). TEORIA DA CONTINGÊNCIA Cia Central TV INTERNET SAC TEL TEORIA DA CONTINGÊNCIA Vantagens da estrutura em redes: Competitividade em escala global. Flexibilidade da força de trabalho e habilidade em fazer as tarefas onde elas são necessárias. Custos administrativos reduzidos, pois pode ter uma hierarquia de dois ou três níveis hierárquicos contra dez ou mais das organizações tradicionais. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Desvantagens da estrutura em redes: Falta de controle global, pois os gerentes dependem de serviços e contatos com outras empresas para “tocar” as coisas em conjunto. Maior incerteza e potencial de falhas, pois se uma empresa subcontratada deixa de cumprir o contrato, o negócio pode ser prejudicado. A lealdade dos empregados é enfraquecida, pois as pessoas sentem que podem ser substituídas por outros contratos e serviços. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 4) Adhocracia Em seu livro “Choque do Futuro”, Toffler retoma as conclusões de Burns e Stalker sobre as organizações mecanísticas e orgânicas ao salientar que a nova sociedade do futuro será extremamente dinâmica e mutável. Para acompanhar o ambiente turbulento e mutável, as organizações precisarão ser orgânicas. Uma nova forma de organização surgirá: a adhocracia - o inverso da burocracia. A adhocracia (do latim ad hoc = para isso ou para esse fim) significa uma estrutura flexível capaz de amoldar-se contínua e rapidamente às condições ambientais em mutação. TEORIA DA CONTINGÊNCIA A adhocracia caracteriza-se pelos seguintes aspectos: Equipes temporárias e multidisciplinares. Autoridade totalmente descentralizada. Atribuições e responsabilidades fluidas e mutáveis. Poucas regras e procedimentos, ou seja, muita liberdade de trabalho. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Estratégia Organizacional A abordagem contingencial trouxe novos ares para a estratégia organizacional. Ela passa a ser um comportamento global e contingente em relação aos eventos ambientais. Ela deixa de ser uma ação organizacional unilateral pura e simples para tentar compatibilizar as condições internas da organização às condições externas e ambientais para definir alternativas de comportamento da organização no sentido de tirar vantagens das circunstâncias e evitar possíveis ameaças ambientais. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Abordagens Contingenciais à estratégia organizacional. 1. Escola Ambiental Os autores da Teoria da Contingência visualizam o ambiente mais como um ator do que como um fator. Como consequência, consideram a organização como o elemento passivo e que reage a um ambiente que estabelece as condições do jogo. TEORIA DA CONTINGÊNCIA As principais características da escola ambiental são: a) O ambiente constitui um conjunto de forças gerais e é o agente central no processo de geração da estratégia. b) A organização precisa responder a essas forças ou será “eliminada”. c) A liderança na organização deve saber ler o ambiente e garantir uma adaptação adequada pela organização. d) As organizações acabam se agrupando em nichos distintos, posições nas quais permanecem até que os recursos se tornem escassos ou as condições demasiado hostis. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 2. Escola do Design A escola do desenho estratégico é, sem dúvida, a abordagem mais influente sobre o processo de formação da estratégia organizacional. É também denominada Abordagem de Adequação, pois procura a compatibilização entre os aspectos internos da organização e os aspectos externos do ambiente. TEORIA DA CONTINGÊNCIA As premissas básicas deste modelo são as seguintes: a) Mapeamento ambiental: diagnóstico externo para identificar as oportunidades e ameaças ambientais. b) Avaliação interna da organização: verificar os pontos fortes (que devem ser ampliados) e os pontos fracos (que devem ser corrigidos). c) Compatibilização: compatibilizar os aspectos internos e os aspectos externos. d) Definição da estratégia organizacional: ação, ou seja, a mudança estratégica. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 3. Escola do Posicionamento: Modelo do Boston Consulting Group (BCG) O modelo BCG parte da premissa de que a organização precisa ter um portfólio de produtos com diferentes taxas de participação no mercado. Toda organização necessita de produtos nos quais investir e de produtos que gerem caixa. Todo produto deve vir a ser um gerador de caixa, pois caso contrário, ele não tem valor. Somente a organização com um portfólio integrado e equilibrado pode usar suas forças para aproveitar realmente as oportunidades de crescimento. O portfólio equilibrado deve possuir: TEORIA DA CONTINGÊNCIA Estrelas: produtos cuja alta participação e alto crescimento garantem o futuro. Vacas leiteiras: produtos que fornecem fundos para aquele crescimento futuro. Crianças-problema: produtos a serem convertidos em estrelas com os fundos adicionais. Cães: produtos desnecessários ao portfólio, pois são evidências de fracasso. TEORIA DA CONTINGÊNCIA TEORIA DA CONTINGÊNCIA 4. Escola do Posicionamento: Modelo de Porter de Análise Competitiva Porter não é um autor da teoria da contingência e sua inclusão neste capítulo foi baseada no seu foco no mercado e na busca por relações entre condições externas e estratégias internas. Para ele a estratégia de negócios deve ser baseada na estrutura do mercado na qual as organizações operam. TEORIA DA CONTINGÊNCIA TEORIA DA CONTINGÊNCIA O Homem Complexo Para a Teoria da Contingência as antigas concepções anteriores a respeito da natureza humana contam apenas uma parte da história e não considera toda a complexidade do homem e os fatores que influenciam sua motivação para alcançar os objetivos organizacionais. A concepção contingencial focaliza o “homem complexo”: o homem como um sistema complexo de valores, percepções, características pessoais e necessidades. TEORIA DA CONTINGÊNCIA TEORIA DA CONTINGÊNCIA Modelo Contingencial de Motivação Os autores da Teoria da Contingência substituem as teorias de McGregor, Maslow e de Herzberg, baseados em uma estrutura uniforme, hierárquica e universal de necessidades por teorias que rejeitam idéias preconcebidas e que reconhecem tanto as diferenças individuais quanto as diferentes situações em que as pessoas estão envolvidas. 1) Modelo de Vroom O modelo contingencial proposto por Victor H. Vroom parte do princípio de que o nível de produtividade depende de três forças básicas que atuam em cada indivíduo, a saber: TEORIA DA CONTINGÊNCIA 1. Expectativas: são os objetivos individuais, que podem incluir dinheiro, segurança no cargo, aceitação social, reconhecimento, etc. 2. Recompensas: é a relação percebida entre produtividade e alcance dos objetivos individuais. 3. Relação entre expectativas e recompensas: é a capacidade percebida de aumentar a produtividade para satisfazer suas expectativas com as recompensas. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Este modelo parte da hipótese de que a motivação é um processo que orienta opções de comportamento(resultados intermediários) para alcançar um determinado resultado final. Quando uma pessoa deseja alcançar um objetivo individual (resultado final) ela o busca através do alcance de vários resultados intermediários. É o que chamamos de objetivos gradativos (path-goal) para o alcance de um objetivo final. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 2) Teoria da Expectância O modelo de Vroom foi desenvolvido por Lawler III que o relacionou com o dinheiro. As conclusões de Lawler III são as seguintes. As pessoas desejam o dinheiro porque o dinheiro permite a satisfação das necessidades fisiológicas e de segurança, como também dá plenas condições para a satisfação das necessidades sociais e auto-realização. Se as pessoas acreditam que a obtenção do dinheiro (resultado final) depende do de desempenho (resultado intermediário), elas se dedicarão a melhorar esse desempenho. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Teoria Contingencial da Liderança A Teoria da Contingência desenvolveu muitas pesquisas para averiguar o estilo de liderança mais adequado para promover um desempenho eficaz do trabalho. O estilo de liderança mais apropriado depende da situação em que o líder e os subordinados estão envolvidos. 1) Abordagem de Fiedler Fiedler desenvolveu um modelo contingencial de liderança segundo o qual não existe um único e melhor (the one best way) estilo de liderança para toda e qualquer situação. Os estilos de liderança são situacionais. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 2) Abordagem de Hersey e Blanchard A partir do modelo de Fiedler, Hersey e Blanchard desenvolveram uma Teoria do “Ciclo Vital de Liderança”, na tentativa de integrar os conceitos de Fiedler, Argyris, Maslow, Herzberg, Likert, Schein, Reddin em uma abordagem única e compreensiva. Os autores utilizam os quatro quadrantes de estilos básicos do Modelo-D de Eficácia do Líder do modelo de Reddin, os componentes do continuum de imaturidade- maturidade de Argyris e o perfil traçado por Fiedler, para descrever o “Ciclo Vital de Liderança”. TEORIA DA CONTINGÊNCIA À medida que o nível de maturidade dos seguidores tende a aumentar, o comportamento adequado do líder passa a exigir cada vez menos estrutura (tarefa) e ao mesmo tempo em que exige relações de apoio socioemocional (relações). (+) Maturidade do grupo (-) Relações Comportamento do Tarefas Líder TEORIA DA CONTINGÊNCIA Apreciação crítica da Teoria da Contingência A Teoria da Contingência representa a mais recente abordagem da teoria administrativa. Os conceitos das teorias administrativas anteriores são redimensionados, atualizados e integrados dentro da abordagem sistêmica para permitir uma visão conjunta, molar e abrangente. Segundo alguns autores a relação existente entre a Abordagem Contingencial e a Teoria de Sistemas é paralela à relação existente entre a Abordagem Neoclássica e a Abordagem Clássica. Os neoclássicos tentaram estender a Teoria Clássica adicionando aspectos das teorias comportamentais mantendo, contudo, intactas as premissas básicas da Teoria Clássica. TEORIA DA CONTINGÊNCIA A Abordagem Contingencial fez a mesma coisa com relação à Teoria de Sistemas: aceitou as premissas básicas da Teoria dos Sistemas a respeito da interdependência e natureza orgânica da organização, bem como o caráter aberto e adaptativo das organizações e a necessidade de preservar sua flexibilidade em face das mudanças ambientais. Porém, como a Teoria de Sistemas é muito abstrata e de difícil aplicação a situações gerenciais práticas, a Abordagem Contingencial permite proporcionar meios para mesclar a teoria com a prática dentro de uma integração sistêmica. TEORIA DA CONTINGÊNCIA Os principais aspectos críticos da Teoria da Contingência são: 1) Relativismo em Administração A Teoria da Contingência rechaça os princípios universais e definitivos de administração. A prática administrativa é situacional e circunstancial, pois depende de situações diferentes e variadas. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 2) Bipolaridade Contínua Quase todos os conceitos básicos da Teoria da Contingência são utilizados em termos relativos, como em um continuum. Os autores desta abordagem não utilizam conceitos únicos e estáticos e em termos absolutos e definitivos, mas como conceitos dinâmicos e podem ser abordados em diferentes situações e circunstâncias e, sobretudo, em diferentes graus de variação. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 3) Ênfase no Ambiente De todas as teorias administrativas, a abordagem contingencial desloca o eixo de atenção para fora da organização. Muito embora alguns autores mais exacerbados tenham pregado um determinismo ambiental, o que certamente é um exagero, o fato é que a abordagem contingencial mostra a influência ambiental na estrutura e no comportamento das organizações. Para ser bem sucedida, a organização deve localizar e aproveitar rapidamente as oportunidades antes que outras organizações o façam e, simultaneamente, localizar e neutralizar as ameaças que provêm do ambiente. Este “jogo de cintura” constitui o aspecto central da estratégia organizacional. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 4) Ênfase na Tecnologia A visão contingencial focaliza a organização como um meio de utilização racional da tecnologia. Alguns autores apregoam um imperativo tecnológico: a tecnologia constitui a variável independente que condiciona a estrutura e o comportamento organizacional, que constituem as variáveis dependentes do sistema. Embora se trate de um evidente exagero, não resta dúvida de que a tecnologia impacta fortemente as características organizacionais. A tecnologia representa simultaneamente uma importante variável ambiental e uma variável organizacional, ou seja, uma variável exógena e uma variável endógena para as organizações. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 5) Compatibilização entre Abordagens de Sistema Fechado e Sistema Aberto A Teoria da Contingência mostrou que as abordagens mecanísticas preocuparam-se com os aspectos internos e íntimos da organização, enquanto as abordagens orgânicas voltaram-se para os aspectos da periferia organizacional e dos níveis organizacionais mais elevados. TEORIA DA CONTINGÊNCIA A princípio, pensava-se que as organizações deveriam ser burocráticas/mecanísticas, de um lado, e adhocráticas/orgânicas, de outro. Na verdade, uma organização pode possuir características mecanísticas e orgânicas, simultaneamente. Enquanto os níveis inferiores e situados no âmago da organização trabalham dentro da lógica de sistema fechado, os níveis mais elevados e situados na periferia organizacional e servindo como interface para os eventos ambientais, trabalham dentro de uma lógica aberta. TEORIA DA CONTINGÊNCIA 6) Caráter Eclético e Integrativo A abordagem contingencial é eclética e integrativa, absorvendo os conceitos das diversas teorias administrativas no sentido de alargar horizontes e mostrar que nada é absoluto. Cada teoria administrativa foi forjada e desenvolvida para uma dada situação dentro da qual funciona adequadamente. Mudando-se a situação, ela deixa de proporcionar resultados. É com a Teoria da Contingência que se nota com mais nitidez que as fronteiras entre as diversas teorias administrativas estão se tornando cada vez mais permeáveis e incertas devido a um crescente e pujante intercâmbio de idéias e conceitos.
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