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Acumulação capitalista e questão social Aula 3: Questão social Apresentação Nesta aula, de�niremos o conceito de questão social, que surgiu no modo de produção capitalista. Este estudo trará elementos para que o pro�ssional de Serviço Social tenha acesso à teoria crítica e, assim, possa reconhecer a organização da sociedade capitalista. A construção do saber ocorrerá por meio da re�exão crítica sobre a relevância do tema na busca do caminho para a práxis. Objetivos De�nir o conceito de questão social; Explicar a questão social no sistema capitalista; Desenvolver uma re�exão crítica da prática pro�ssional do assistente social. Conceituação de força de trabalho No capitalismo, ao ser tratada como mercadoria, a força de trabalho possui duplo caráter: ser produtora de valor de uso e valor de troca, ou como explicita Marx (1978, p. 54): "[...] todo trabalho é, de um lado, dispêndio de força humana de trabalho, no sentido �siológico, e, nessa qualidade de trabalho humano igual ou abstrato, cria valor de mercadorias. " Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online As relações capitalistas constituem relações de produção de valores de troca (mercadorias) para acumulação de capital. O sentido do trabalho sofre profunda modi�cação com a instituição das relações capitalistas, assumindo caráter de trabalho abstrato, produtor de valores de troca. As legislações pré-capitalistas eram punitivas, restritivas e agiam na intersecção da assistência social e do trabalho forçado, lançando os pobres à servidão da liberdade sem proteção, provocando o pauperismo como fenômeno mais agudo decorrente da chamada questão social. Fonte: Por Nolte Lourens / Shutterstock. A questão social representa um conjunto das expressões que de�nem as desigualdades da sociedade. A questão social refere-se à ampliação do trabalho na sociedade capitalista. Ela engloba a degradação do trabalho, a perda e o desaparecimento de muitas categorias e postos de trabalho. Isso ocorre quando o estado passa a se retirar do campo social com cortes, privatizações etc. Na história, as “lutas pela jornada normal de trabalho” (MARX, 1987) provocaram o surgimento de novas regulamentações sociais e do trabalho pelo Estado. Saiba mais Para saber mais sobre o assunto, sugerimos que assista ao �lme: DEANS – um grito de justiça. Direção: Stijn Coninx. Bélgica: Look Video, 1992. 138 min, son., color. Assista ao Trailer. O �lme retrata a realidade sociopolítica em plena Revolução Industrial, focando a exploração do capital sob o trabalho. A vida da sociedade local passa a ter uma nova direção quando chega a cidade o padre Daens, um revolucionário, que passou a escrever artigos contra a política e o sistema de trabalho da época. Desta forma, ele despertou o espírito de luta e coragem na população para lutar pelos seus direitos. Com os ideais implantados pelo padre Deans, a sociedade passou a se movimentar e, por conta da exploração do trabalho humano, gerou con�itos entre operários e empresários. Atividade 1. O capitalismo constitui: a) Relações de produção de valores de troca para acumulação de capital. b) Relações de produção sociais de troca para organizar a sociedade. c) Valores essenciais para organização da sociedade. d) Relações de interação entre o que é produzido e ofertado para o trabalhador. e) Relações de produção de valores de troca, mas não tem objetivo de acumular capital. f) Relações de produção de valores ético para manter a sociedade em harmonia social, eliminando a questão social. Questão social e política social O capitalismo encontra nas relações de exploração do capital sobre o trabalho sua força motriz para existir enquanto sistema econômico, com in�uências na esfera da reprodução social no que diz respeito às condições de vida, de cultura e de produção de riqueza. Neste sistema, que é excludente por natureza, a construção de padrões de proteção social con�gura uma resposta ao enfrentamento das expressões multifacetadas da questão social, conceito trabalhado por Marx e Engels na perspectiva de desvelar a gênese da desigualdade social no capitalismo, tendo em vista a instrumentalização dos sujeitos políticos para sua superação. Fonte: Por Hyejin Kang / Shutterstock. javascript:void(0); É correto a�rmar que a teoria marxista empreende um esforço explicativo sobre a questão social, pois o que está subjacente às suas manifestações concretas é o processo de acumulação do capital, acrescido da desigualdade social e do crescimento relativo da pauperização. A lei do valor não trata apenas da produção de mercadorias na sua dimensão econômica. "Se o trabalho é o elemento decisivo que transfere e cria valor, então, tal procedimento se refere, sobretudo, à produção e reprodução de indivíduos, classes sociais e relações sociais: a política e a luta de classes são elementos internos à lei do valor e à compreensão da questão social. " - Behring e Boschetti (2008). Dessa forma, não existem questões sociais, e sim questão social e suas expressões multifacetadas. Saiba mais Para saber mais sobre o assunto, sugerimos que assista ao �lme: MAUÁ, o Imperador e o Rei. Direção: Sergio Rezende. Brasil: RioFilme, 1999. 135 min, son., color. Assista ao trailer. Fonte: Por NothingIsEverything / Shutterstock. Segundo Marx (1998, p. 179): "[...] o capital tem um único impulso vital, o impulso de valorizar-se [...]. Se o trabalhador consome seu tempo disponível para si, então rouba ao capitalista. " javascript:void(0); Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Com o monopólio da força, em meio embebido da luta de classes, atua o Estado, sob a direção do capital, mas com relativa autonomia. "O Estado reprimia duramente os trabalhadores, de um lado, e iniciava a regulamentação das relações de produção, por meio da legislação fabril, de outro. A luta em torno da jornada de trabalho e as respostas das classes e do Estado são, portanto, as primeiras expressões contundentes da questão social. Tem-se o ambiente cultural do liberalismo e a ênfase no mercado como via de acesso aos bens e serviços socialmente produzidos. " - Behring e Boschetti (2008). Veri�ca-se um deslocamento burguês em relação ao problema da jornada de trabalho quando os capitalistas passam a incrementar cada vez mais a maquinaria e a se interessar por uma jornada “normal” de trabalho. Atividade 2. A questão social de�ne: a) As desigualdades sociais da sociedade. b) A igualdade trabalhista que emerge nas leis. c) O ponto principal sobre as conquistas da qualidade de vida do trabalhador. d) A base do crescimento econômico. e) A busca pela excelência social. Liberalismo e luta da classe trabalhadora Na segunda metade do século XIX, o pensamento liberal ganha força na história da humanidade. Entre seus princípios: O trabalho Era visto como uma mercadoria capaz de ser regulada pelo próprio mercado. O papel do Estado Era uma espécie de mal necessário na perspectiva do liberalismo, resume-se em fornecer a base legal com a qual o mercado pode melhor maximizar os benefícios aos homens. Adam Smith criticou duramente o Estado intervencionista e o Estado mercantilista, mas não defendeu sua extinção, rea�rmando a existência de um corpo de leis e da ação do Estado para que fosse garantida mais liberdade ao mercado livre. Adam Smith criticou duramente o Estado intervencionista e o Estado mercantilista, mas não defendeu sua extinção, rea�rmando a existência de um corpo de leis e da ação do Estado para que fosse garantida mais liberdade ao mercado livre. No �nal do século XIX, surgem algumas leis que propõem melhorias parciais nas condições de vida dos trabalhadores, incorporando apenas algumas demandas da classe trabalhadora, sem atender com profundidade à questão social que emergia na época. Adam Smith (05/06/1723 — 17/07/1790) foi um filósofo e economista britânico. | Fonte: http://pt.braudel.org.br/ <http://pt.braudel.org.br/media/img/noticias/noticia/> Não existe polarização irreconciliável entre Estadoliberal e Estado social. Houve uma mudança profunda na perspectiva do Estado, que abrandou seus princípios liberais e incorporou orientações social- democratas num novo contexto socioeconômico e de luta de classes, assumindo um caráter mais social, com investimentos em políticas sociais. A mobilização e a organização da classe trabalhadora foram determinantes para a mudança da natureza do Estado liberal no �nal do século XIX e início do século XX. Pautada na luta pela emancipação humana, na socialização da riqueza e na instituição de uma sociabilidade não capitalista, a classe trabalhadora conseguiu assegurar importantes conquistas na dimensão dos direitos políticos, como o direito de voto, de organização em sindicatos e partidos, de livre expressão e de manifestação. Veja a seguir os elementos essenciais do liberalismo: http://pt.braudel.org.br/media/img/noticias/noticia/ Clique nos botões para ver as informações. Os liberais consideram o indivíduo como sujeito de direito. Predomínio do individualismo Para os liberais, cada indivíduo deve buscar o bem-estar para si e para sua família por meio da venda de sua força de trabalho no mercado. Bem-estar individual e maximização do bem-estar coletivo A liberdade e a competitividade são entendidas como formas de autonomia do indivíduo para decidir o que é melhor para si e lutar por isso. Predomínio da liberdade e competitividade Os liberais veem a miséria como natural e insolúvel. Ela é compreendida como resultado da moral humana. Naturalização da miséria Os liberais entendem que as necessidades humanas básicas não devem ser totalmente satisfeitas, pois sua manutenção é um instrumento e�caz de controle do crescimento populacional e do consequente controle da miséria. Predomínio da lei da necessidade Para os liberais, o Estado deve assumir o papel neutro de legislador e árbitro e desenvolver apenas ações complementares ao mercado. Manutenção de um Estado mínimo Para os liberais, o Estado não deve garantir políticas sociais, pois os auxílios sociais contribuem para reproduzir a miséria, desestimulam o interesse pelo trabalho e geram acomodação. As políticas sociais estimulam o ócio e o desperdício Na perspectiva liberal, a miséria é insolúvel e alguns indivíduos não têm condições de competir no mercado de trabalho. Então, cabe ao Estado apenas assegurar assistência mínima a esses segmentos, como um paliativo. A política social deve ser um paliativo Sistema fordista/taylorista O sistema fordista/taylorista diz respeito a um padrão produtivo capitalista desenvolvido ao longo do século XX, que tem como fundamento a organização da produção em massa. As unidades produtivas são concentradas e verticalizadas, apresentam controle rígido dos tempos e dos movimentos, desenvolvidos por um proletariado coletivo e de massa, sob forte despotismo e controle fabril. Saiba mais Para entender mais sobre o assunto, leia o texto Fordismo, taylorismo e toyotismo: apontamentos sobre suas rupturas e continuidades. Panorama geral das expressões da questão social Con�gura-se como expressão da questão social a instabilidade do emprego por contrato de tempo determinado, temporário, interino ou parcial, que alimenta o desemprego, deixando as pessoas mais frágeis e numa condição mais vulnerável. Na sociedade brasileira, todas as categorias sociais são atingidas, sendo os trabalhadores menos quali�cados os que mais sofrem com o desemprego, baixa remuneração, trabalho informal, temporário etc. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Os trabalhadores quali�cados não escapam das perturbações e da competitividade produzidas pelas transformações aceleradas no mundo do trabalho. Os desempregados temporários ou estruturais enfrentam outras exclusões: quebra, fragilização ou extinção dos laços e vínculos de amizade e solidariedade com os colegas de trabalho. Na família, emergem con�itos e isolamento, que provocam a perda da autoestima e da afetividade. A rede de sociabilidade apresenta-se esgarçada pelos rompimentos dos liames do trabalho, da família e do afeto. Os dados dessa realidade concreta con�rmam a tese de Castel (1998) sobre o processo de cristalização da questão social, que pode ser expressa através da: javascript:void(0); 1 Desestabilização dos estáveis. 2 Instalação da precariedade dos mais jovens que alternam períodos de atividades, de desemprego, trabalho temporário e ajuda social. 3 Formação dos sobrantes .1 No campo, há destaque para a questão agrária intocável e para a dominação oligárquica patrimonialista integradas à modernização conservadora da atualidade, cujas externalidades são os sem-terra, os sem-emprego �xo, a priorização de mercados externos, a sazonalidade das atividades e a migração. As pressões por políticas agrárias e agrícolas não têm sido su�cientemente fortes para atacar a raiz do problema que, ao contrário do senso comum, vem sendo alimentado pelas políticas de caráter paliativo e assistencialista. Essas políticas não se fundam no reconhecimento do direito social de seus usuários, mas no paternalismo e no clientelismo, que é marcado pela inexistência de vontade política. Elas constituem, ainda, as manifestações da questão social embutidas ou não nas expressões já indicadas, as problemáticas indígena, racial, da mulher e da pessoa idosa. Fonte: Por Brian Eichhorn / Shutterstock. Fonte: Por Doidam 10 / Shutterstock. Também é preciso salientar a exploração do trabalho infantil e da violência contra crianças e adolescentes, que não somente expressam realidades do cotidiano da sociedade brasileira, com as quais os pro�ssionais se defrontam, mas indicam toda a gravidade que assume uma das facetas da questão social produzida e reproduzida socialmente. Segundo Iamamoto (1998), o pro�ssional de Serviço Social, por ter sua prática situada num terreno movido por interesses distintos e contraditórios, precisa, além de decifrar as formas e expressões da questão social, atribuir transparência às iniciativas voltadas à reversão ou ao enfrentamento imediato. Na próxima aula, serão discutidos o aprofundamento do entendimento sobre a intervenção do Estado no funcionamento das políticas sociais e a importância do Estado no processo de de�nição, implantação e avaliação das políticas sociais. Assim, será possível transitar pelos fundamentos legais que integram as diversas políticas públicas. http://estacio.webaula.com.br/cursos/acqs01/aula3.html Atividade 3. No pensamento liberal da sociedade capitalista, o trabalho é visto como uma: a) Atividade social. b) Mercadoria. c) Atividade que integra socialmente. d) Atividade necessária para a socialização humana. e) Atividade social para ser dividida entre todos da sociedade. Notas Sobrantes 1 Nova categoria social constituída pelos que não têm vez, nem lugar na sociedade. Os chamados sobrantes inúteis são a produção mais degradada que a conjuntura econômica e social já fabricou. Essa expressão da questão social se manifesta no mundo rural e no ambiente urbano, envolvendo homens, mulheres e crianças. Referências BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2008. CASTEL, R. As metamorfoses da questão social, uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1998. IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação pro�ssional. São Paulo: Cortez, 1998. IAMAMOTO, M. V. Renovação e conservadorismo no Serviço Social: ensaios críticos, São Paulo: Cortez, 2000. MARX, K. Para a crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1978. MARX, K. O capital: crítica da economia política: livro I, volume 1. 16. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. NETTO, J. P. Transformações societárias e Serviço Social: notas para uma análise prospectiva da pro�ssão no Brasil. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, 1996. Próxima aula Intervenção do Estado no funcionamento das políticas sociais; Importância do Estado no processo de de�nição, implantaçãoe avaliação das políticas sociais; Fundamentos legais que integram as diversas políticas públicas. Explore mais javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Leia o texto: Serviço Social e “Questão Social”: fundamentos teóricos e análise contemporânea. javascript:void(0); javascript:void(0);
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