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1 2 SCALPER TRADER CURSOS E TREINAMENTOS www.scalpertrader.com.br contato@scalpertrader.com.br Material Integrante do PROGRAMA SIGMA COPYRIGHT © Scalper Trader Cursos e Treinamentos TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida, transcrita, arquivada eletronicamente ou transmitida por qualquer maneira ou por quaisquer meios, sejam eletrônicos, mecânicos, fotográficos, magnéticos ou similar, sem autorização prévia e por escrito do detentor dos direitos autorais, conforme a Lei 5.988, de 14 de dezembro de 1973, artigos 120 - 130. As ideias aqui apresentadas refletem a opinião do autor, não devendo, portanto, ser confundidas com recomendações de investimento. Cada leitor é responsável por sua suas próprias decisões de investimento. http://www.scalpertrader.com.br/ mailto:contato@scalpertrader.com.br 3 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................... 4 COMO PENSAR E AGIR COMO UM TRADER ATIVO ............................ 8 Capítulo 1 – Introdução ............................................................................. 9 Capítulo 2 - Natureza dos Mercados ....................................................... 29 Capítulo 3 - Percepção e Processo de Pensamento ............................... 43 Capítulo 4 - Acompanhar o Mercado com Objetividade ........................... 67 Capítulo 5 - Interação com os Mercados e Perspectivas ......................... 75 Capítulo 6 - Sincronizando a Mente com o Fluxo dos Mercados ............. 93 Capítulo 7- Sincronizando o Operacional com o Fluxo dos Mercados ..... 97 MANUAL DE VISUALIZAÇÃO ............................................................. 149 1º Exercício ........................................................................................... 175 2º Exercício ........................................................................................... 177 3° Exercício ........................................................................................... 180 4º Mensagem ........................................................................................ 186 4 APRESENTAÇÃO Dentre todas as curiosidades que tínhamos durante nossa fase de aprendizado no trading, a que mais nos chamava a atenção era como e por que alguns traders tinham resultados consistentes e expressivos, ao passo que outros pareciam não sair de uma espiral negativa, marcada por resultados inconstantes e/ou perdas excessivas. Com histórias diferentes, acabamos por frequentar as salas de negociação de uma corretora de valores que, certamente, foi o maior celeiro de traders autônomos do Brasil. Durante anos, pudemos acompanhar traders já consistentes e também os que tentavam se desenvolver. Alguns até conseguiam atingir o tão sonhado nível de consistência de resultados. Já os outros, apesar dos cursos e experiência que acumulavam no mercado, permaneciam estagnados e não evoluíam. Começamos a perceber que a maior parte dos que se destacavam tinham, de alguma forma, convivido com traders veteranos. Percebemos também que a grande maioria dos que não conseguiam se desenvolver sentiam falta de, pelo menos, uma das seguintes particularidades: Ou não possuíam tal harmonia com traders experientes. Ou possuíam uma forma de pensar muito rígida quanto aos aspectos comportamentais e analíticos do trading. Entretanto, a percepção acima, isoladamente, estava longe de ser conclusiva e ainda faltava saber mais. Queríamos saber, se existia algo, concreto e mais específico que separava os traders consistentes dos não consistentes. Quando perguntávamos a todos sobre o que eles nos aconselhariam a fazer para se ter sucesso a resposta era quase que unânime: “corte suas perdas o mais rápido possível e deixe fluir 5 enquanto estiver dando certo”. Esse axioma era dito por todos, tanto pelos experientes quanto pelos aspirantes, o que ainda não respondia nossa pergunta. Outra pergunta típica que fazíamos era: “o que você olha para operar e o que motiva sua decisão”? Ao ouvir as respostas, percebemos algo muito interessante: as dos traders consistentes eram vagas e abstratas, resumindo-se a “vendi porque parou de subir”, “comprei porque parou de cair”, “vendi porque o mercado começou a vender”, “comprei porque o mercado começou a comprar” etc. Por sua vez, os que não estavam se desenvolvendo davam respostas mais claras e objetivas, como por exemplo: “comprei porque rompeu uma resistência”, “comprei porque o IFR estava baixo”, “vendi porque o setup que utilizo mostrou venda” etc. Apesar de interessante, não entendíamos essa diferença de pensamento e também não sabíamos como aplicar os conceitos, até então “vagos”, aprendidos com os veteranos. O tempo foi passando e aos poucos conseguimos observar outras características interessantes: Os melhores traders conheciam pouco ou quase nada de análise técnica. Os melhores traders não possuíam um método rígido de entrada e saída, ou seja, eram discricionários. Os melhores traders também perdiam, mas encaravam esta perda de uma forma totalmente diferente dos demais. Os melhores traders tinham pouca opinião sobre a direção dos preços e conseguiam olhar o mercado de uma forma totalmente objetiva, adaptavam-se rapidamente a cada novo movimento no mercado. Os melhores traders eram extremamente ágeis na execução das operações (entrada, saída e stop). 6 Os melhores traders não tinham medo de operar e não tinham dúvida da sua capacidade de ganhar dinheiro. Eram extremamente confiantes. Contudo, mesmo cientes de tudo isso, a grande questão era: como fazer para operar sem depender de análise técnica, de forma discricionária (sem seguir trading system), sem ter opinião sobre alta ou baixa e encarar de forma saudável as perdas e ainda assim ser confiante? Como replicar tais habilidades e o comportamento de outro trader? Encontramos estas respostas através do conhecimento de Programação Neurolinguística (PNL). PNL é o estudo de como a linguagem, tanto a verbal como a não verbal, afeta nosso sistema nervoso. Nossa capacidade de fazer qualquer coisa na vida é baseada na nossa capacidade de dirigir o próprio sistema nervoso. Em resumo, é a ciência comportamental que estuda formas de colocar nosso cérebro na direção mais favorável à obtenção dos resultados por nós desejados. O principal pressuposto da PNL é que se alguém consegue criar um resultado (ser consistente no trading, por exemplo), é possível replicá-lo. Sob a ótica da PNL, de uma forma bem simplista, para se copiar a forma de pensar de uma pessoa, você teria que copiar sua estrutura de crença (como filtramos e interpretamos a realidade), copiar sua sintaxe mental (ordenação da forma de pensar) e sua fisiologia. Apesar de os adeptos da PNL julgarem necessários os 3 (três) passos citados acima, acreditamos que entender a estrutura de crenças de traders consistentes já garante um enorme avanço. Nosso propósito neste material não é ensinar sobre PNL ou ainda associar conhecimento de PNL ao sucesso como trader. 7 Nosso objetivo é explicar que “modelamos” a forma de pensar dos traders de sucesso e com isso conseguimos os mesmos resultados. Assim sendo, é possível você fazer o mesmo. OBJETIVOS Esse material foi originalmente desenvolvido como suporte para o Curso de Formação de Traders Ativos, cuja estratégia central baseava-se na análise de fluxo de ordens puramente aplicada à Scalping. Apesar de o Programa Tape Reading Automatizado permitir uma gama maior de operações, incluindo Trade Location, Front Running e Trades para Segurar, o material continua perfeitamenteaplicável, uma vez que trata de assuntos inerentes à forma como nós humanos percebemos, pensamos e agimos no mundo. O mercado vem se transformando com frequência e acaba por exigir cada vez mais adaptações em nosso operacional para conseguirmos tirar proveito de todas as oportunidades que ele faz disponível. O Programa Tape Reading Automatizado surge como uma resposta a este ambiente desafiador, de constantes mudanças e superações. Frente ao dinamismo atual, é certo que precisamos nos adaptar mais depressa, explorar oportunidades em mais de um ativo e, eventualmente, incorporar mais essências operacionais, a fim de diluirmos o risco e mantermos um número adequado boas oportunidades. Apesar de toda essa mudança na dinâmica dos ativos, o principal objetivo deste material e do anexo chamado manual de visualização é fazer você pensar e agir como um trader pessoa 8 física consistente. E a melhor forma de conseguir isso é através do entendimento e da mudança de algumas crenças. Neste processo, falaremos muito sobre a importância do controle do seu Estado Mental e da Atitude como fatores determinantes para criar resultados consistentes. Falaremos também sobre a importância de “perceber” a informação proveniente do mercado de forma totalmente objetiva, isto é, sem viés, conflito ou opiniões/expectativas. Esperamos que ao final deste material você tenha um entendimento claro sobre o mindset ideal para se relacionar com o mercado. Muito sucesso, atitude vencedora e ótima leitura! Equipe Scalper Trader 9 COMO PENSAR E AGIR COMO UM TRADER ATIVO 1. INTRODUÇÃO Antes de iniciarmos o texto, gostaríamos de fazer alguns esclarecimentos. O Programa Tape Reading foi elaborado para abordar os aspectos teóricos e práticos de operações day trade, sob a ótica do trader autônomo. Por isso, sempre que mencionarmos à palavra “trader”, estaremos nos referindo especificamente às pessoas físicas que se engajam nesta atividade. É importante fazer esta separação, pois algumas afirmações podem não se aplicar às demais categorias de traders (Traders Institucionais, Sales Trader, Brokers etc.). Outra observação diz respeito às palavras “operação” ou “trade”. Se não houver segmentação, é porque estamos nos referindo às operações day trade, ou seja, operações realizadas dentro de um mesmo dia. 1.1. Atração Você já parou para pensar o que, efetivamente te atraiu nos mercados? Provavelmente, você se enquadre em um ou mais itens abaixo: Enriquecimento rápido. Euforia. Atração pelo desafio. Autopunição gerada pelas perdas: pode parecer incoerente, mas muitos buscam isso inconscientemente. Por mais que estes itens acima atraiam pessoas ao trading, há algo muito mais profundo e que alimenta a vontade dessas pessoas: a LIBERDADE! 10 Os mercados trabalham de uma maneira muito diferente de que quase tudo que existe na vida. Há mais liberdade neste “mundo do trading” do que provavelmente qualquer outro negócio no mundo. Desde que você tenha recursos e acesso à negociação (plataformas ou home broker), você pode fazer o que quiser e quando quiser. Enquanto o mercado estiver aberto não existe começo, meio e fim formal. Você decide se entra no mercado e com quantos lotes, se permanece na posição ou encerra a operação, no lucro ou no prejuízo. Esse grau máximo de liberdade não é encontrado em nenhum outro negócio. Nem mesmo os jogadores (de cassinos e coisas do gênero) possuem tal liberdade, pois nos jogos há começo, meio e fim. Há regras e essas regras limitam parte de suas decisões, restando a estes apenas escolher quanto apostar e qual a estratégia da aposta. Os jogadores ficam isentos da necessidade de “saírem do jogo”, ou seja, como existe um final formal para cada rodada, não há nada que ele possa fazer a não ser aceitar o ganho ou a perda. Já nos mercados, uma vez posicionado (comprado ou vendido), o trader tem que, necessariamente, tomar uma decisão para sair do jogo, pois nada nem ninguém irá tirá-lo da operação. Repare que isso já faz uma enorme diferença em sua atividade. O jogador é, necessariamente, um perdedor ativo, pois ele perde, no máximo, exatamente aquilo poderia perder quando decidiu apostar. Para perder mais, o jogador tem que tomar uma nova decisão de apostar mais e, consequentemente, errar novamente. O trader, por sua vez, só será um perdedor ativo se tiver discernimento, habilidade e atitude em sair da posição quando esta 11 atingir o nível pré-determinado de perda ou quando não se mostrar mais promissora1. Concorda que há uma decisão a mais? Se por algum motivo, o trader não agir para cortar a perda, esta poderá crescer de forma incontrolável, gerando um prejuízo 2, 3 ou 10 vezes maior que o planejado. Neste caso, o trader está “passivo”, isto é, não tem a necessidade de fazer nada para perder mais e mais dinheiro se o mercado continuar andando contra sua posição. Ser passivo significa estar à espera de um evento externo para salvar sua pele. Além deste importante conceito de ativo e passivo (que inclusive será tratado mais adiante), queremos reforçar a ideia de que, diferentemente de tudo, até do jogo, o trading requer aceitação das escolhas e dos resultados gerados por essas escolhas que trader fizer. O trader que não pensa de forma correta costuma sofrer interferências emocionais e que o deixam mais frustrado que o jogador. De forma resumida, o fato de o trader ter que decidir quando e onde sair no mercado, por si só, explica essa interferência emocional. Arrependimento, raiva, medo e indecisão são mais doloridos quando causados por decisões próprias do que por regras e/ou fatores externos. A liberdade sempre tem seu preço! 1.2. Fases do Trader A grande maioria dos interessados em Bolsa de Valores acaba passando, de alguma forma, pelas fases que iremos descrever. 1 Nós stopamos cada operação baseado sempre na descaracterização dos fatores que nos motivaram entrar no mercado. Dessa forma, cada uma das cinco essências por trás do Trade requer um stop diferente. 12 O que varia de pessoa para pessoa é a duração e esforço emocional/financeiro despendidos em cada fase. Repare que aqui usamos a expressão “interessados em bolsa de valores” e não a palavra “trader”. Traders são mais ativos, ou seja, atuam com mais frequência nos mercados de renda variável. Já os investidores, por sua vez, carregam este rótulo por atuarem no mercado vislumbrando horizontes de tempo mais longos. Apesar de traders e investidores usualmente percorrerem este caminho, nesta sessão nós iremos nos referir apenas aos que se dedicam como traders. 1.2.1. 1ª FASE - Julgar que o caminho do sucesso se dá através de dicas Essa foi minha primeira crença quando decidi, ainda bem novo, me dedicar ao mercado financeiro. Acreditava que relacionamento, contatos e acesso a relatórios relevantes proporcionavam vantagem na hora de atuar como trader. Assim como eu, todos que se encontram nesta fase transferem, ainda que de forma “inconsciente”, a responsabilidade das decisões para terceiros. Essa transferência acaba blindando nossa mente dos danos de errar e perder dinheiro, uma vez que quem errou não fomos nós, mas sim aquele que deu a dica. Esta fase não durou muito para mim e frequentemente também não dura para os outros. A decepção em relação à crença das dicas vem rapidamente, uma vez que é fácil perceber que, além da dificuldade de se construir relacionamentos com as pessoas certas, as “dicas” que chegam geram mais prejuízos do que lucros. Com resultados inconstantes (na maioria das vezes prejuízos), muitos já desistem nessa fase. 13 Abaixo listei alguns outros motivos que explicam o porquê da ineficiência de dependerde dicas/recomendações quando seu objetivo é ser trader. Os analistas de mercado são os grandes fornecedores de informação e os agentes autônomos de investimentos fazem a ponte entre a informação gerada pelos analistas e os clientes: ambos costumam ser remunerados com comissões sobre a corretagem gerada nas operações. Portanto, quanto mais ordens de compra/venda, mais corretagem e mais comissões. Você, por outro lado, procura ganhar dinheiro com estas recomendações e quantidade não significa qualidade. Este é um dos maiores conflitos de interesse na atividade. Falta de disciplina dos traders em cumprir as recomendações assim como são fornecidas: com execuções aleatórias, fica praticamente impossível de atingir as estatísticas positivas de acerto que alguns analistas possuem. Isso ocorre, basicamente por dois motivos: i. Não ter o menor domínio sobre as próprias emoções, sofrendo influência principalmente de medo de operar e arrependimento pelos atos. ii. Começar a ter opinião própria sobre o mercado e julgar em qual das recomendações entrar. Para finalizar, obviamente, algumas poucas pessoas enriqueceram com dicas e recomendações. Contudo, é quase certo que elas conseguem tal façanha pelas dicas recebidas virem de pessoas influentes no mercado. 1.2.2. 2ª FASE – operar por meio de trading systems (o setup perfeito) 14 Na segunda fase, estes mesmos traders mudam um pouco o foco. Eles param de perguntar o que fazer e começam a questionar como fazer. Percebem a possibilidade ou necessidade de seguirem as recomendações geradas por trading systems de terceiros ou de fazerem suas próprias análises. Esta é a etapa da busca pelo conhecimento através de conversas com colegas, corretoras ou na própria internet. A recomendação não poderia ser diferente: “Se quer se tornar um bom trader, faça um curso de análise técnica”. Quem já fez essa pesquisa deve ter reparado este diagnóstico. Com este intuito na mente, o trader aspirante busca o curso mais adequado e após um final de semana de aulas, ganha uma enorme injeção de ânimo e passa a noite de domingo contando as horas para aplicar as novas técnicas aprendidas. É muito comum esse trader começar a operar utilizando indicadores da análise técnica ou trading systems prontos, pois os sinais são gerados pelo sistema e não requer nenhuma interpretação. Um bom exemplo aqui é cruzamento de médias móveis, Hilo, Bandas de Bollinger etc. Após um tempo operando o resultado muitas vezes não é satisfatório. Por que isso acontece? Podemos listar alguns bons motivos: Dificuldade em seguir 100% dos sinais gerados, assim como ocorre nas recomendações dos analistas citados na 1ª fase: esse problema decorre da desconfiança temporária gerada pelo sistema aplicado, devido às perdas seguidas que o trader amarga. É comum que ele tire o pé quando o sistema passa a apresentar prejuízos nas operações realizadas individualmente, fazendo com que o medo de perder mais dinheiro crie uma necessidade pessoal de interferir no sistema, 15 julgando de forma discricionária qual indicação vale ou não à pena seguir. Essa perspectiva seletiva também o tira das operações vencedoras, que muitas vezes pagariam os prejuízos anteriores e/ou ainda garantiriam lucro, trazendo ainda mais frustração ao operacional. Outro ponto crucial é a ineficiência do próprio trading system ou da utilização de indicadores de análise técnica. Para mim, pessoalmente esse é um dos principais pontos. Esses traders realmente acreditam que, assim como ele, todos no mercado operam por meio de indicadores, gráficos ou trading systems. Com essa cabeça de que “se os profissionais fazem, eu também conseguirei fazer”, eles procuram incansavelmente a melhor combinação de indicadores que expliquem o que o mercado fez no passado recente. Veremos um exemplo: Um trader aprende que o sistema baseado em médias móveis mostra resultados positivos no backtesting (significa testar a eficiência da estratégia em períodos de tempo passados). Pressupondo que o trader não incorra no problema do julgamento seletivo descrito no tópico anterior, o que é de se esperar? Se o sistema der lucro, ok, mas e se der prejuízo? Quantos de vocês continuariam seguindo as recomendações se o sistema, por exemplo, gerasse 6 prejuízos seguidos? Alguns podem argumentar que a disciplina, neste caso, é justamente continuar seguindo as recomendações uma vez que o sistema possui um histórico positivo no backtesting. Contudo, aqui vai um questionamento para todos os leitores: quando devo reavaliar meu sistema? Quando sei que o resultado gerado no teste passado não deve mais ocorrer no futuro? Duvido que haja outra resposta a não ser quando o sistema apresentar prejuízos frequentes. A questão é que você sempre reavaliará o trading system quando estiver perdendo dinheiro e, na 16 busca pela calibragem perfeita, estudará outra combinação de indicadores ou ainda algum tipo de filtro (por exemplo, combinar mais indicadores técnicos), que teriam funcionado durante a fase de perdas do sistema antigo. Essa tentativa de equacionar o passado é uma das maiores armadilhas em que o trader cai. É praticamente um círculo vicioso, onde a perda financeira gera um ímpeto de se encontrar uma fórmula mágica, capaz de controlar ao máximo todos os movimentos que o mercado realiza e assim, evitar novas perdas no futuro. Além da dificuldade para resolver essa situação (para isso tem que efetivamente entender a natureza do mercado), ela começa a gerar sérios danos psicológicos nos traders, tais como falta de confiança, medo de executar ordens ou ainda medo de perder dinheiro. Os poucos que não desistem do mercado, superam esta fase porque buscam alternativas aos modelos mecânicos (indicadores de análise técnica ou trading systems) e começam a atuar olhando apenas preço. Nos EUA, esta modalidade é conhecida como price action e consiste em, basicamente, o trader procurar por suportes e resistências de preços, LTA’s, LTB’s etc. Essa forma de atuação também é uma grande mudança de perfil operacional, pois os traders começam a analisar melhor o comportamento do mercado e atuar de forma mais discricionária. Passam a estudar rompimentos de preços, questionar quais deles possuem melhor potencial de ganho, quais os que apresentam as melhores projeções etc. Também consideram a possibilidade de atuar contra o mercado, o que é considerado uma heresia nos fóruns. Começam a enxergar a possibilidade de vender em resistências de preço e comprar em suportes. Essa é, de fato, uma evolução em relação à fase anterior, pois aqui, o trader desenvolve timing (preocupação com entrada e saída) e passa a perceber que não são os indicadores de análise técnica que causam os movimentos de 17 preço. Nesta fase, os resultados tendem a ser, muitas vezes, melhores e alguns começam a se destacar. Essa segunda fase é geralmente onde a grande maioria fica por muito tempo. Alguns desistem do mercado por não conseguirem resultados adequados e outros por perdas financeiras geradas, principalmente, por falta de disciplina. Para que traders garantam sucesso permanente, faltam ainda 2 ingredientes essenciais: Entender profundamente a natureza do mercado e o que efetivamente causa movimentos de preço. Desenvolver uma mentalidade que lhe permita olhar o mercado de forma 100% objetiva, na qual a informação é interpretada sem nenhum viés ou interferência, as emoções encontram-se neutralizadas e o risco de operar é plenamente aceito, ainda que diante de uma situação adversa. 1.2.3. 3ª Fase – Entender a Natureza do Mercado Essa é justamente a essência da 3º fase. Percebemos que um trader está se aproximando dela quando os questionamentos e dúvidas são similares às descritas abaixo: Quem e por que operamentre as minhas indicações de entrada e saída? Muitas vezes eu “sinto” que é para comprar/vender, mas não tenho indicações objetivas do sistema que utilizo (mesmo que seja price action). O que, de fato, está causando as oscilações nos preços? Qual a dinâmica de funcionamento deste mercado? São raríssimos os traders que chegam a essa fase e percebem, efetivamente, o que é o trading. Percebem que trading não tem nada a ver com ser bom analista, com prever preço e ou ainda 18 com análise técnica. Percebem que atitude e estado mental são os principais fatores que determinam o sucesso, uma vez que já aprenderam a enxergar e a ficar no fluxo do mercado. Infelizmente a maioria chega nesse estágio depois de meses ou anos e após acumularem muitas perdas financeiras. Raríssimos são os que pulam etapas e já entram no mercado com este pensamento. 1.3. Por que é tão difícil ser um Trader Autônomo? São várias as dificuldades em se tornar um Trader Autônomo Independente e nós vamos discorrer sobre elas, mas a primeira e mais abrangente de todas é não ter alguém para se espelhar. Em qualquer atividade na qual nos engajamos, nós buscamos um molde. Como alguém aprende a jogar tênis? Provavelmente treinando a assistindo jogadores experientes jogarem. Como um médico aprende a operar um paciente? Provavelmente após várias cirurgias assistidas. Acreditem, em todas as atividades nós, de uma forma ou de outra, buscamos um molde. No trading não poderia ser diferente. Se você possuir todos os pré-requisitos e conseguir se tornar um trader corporativo2, certamente terá convívio com traders experientes. Mesmo que de forma inconsciente, esse convívio te molda para o trading e você aprenderá as crenças e a maneira de interpretar o mercado dos sêniores, bem como o seu modo de pensar e agir como trader. É nessa fase também que aprenderá que perder e errar são características inevitáveis do trading e como se comportar diante de tais circunstâncias. 2 As classificações se encontram em artigo do site www.scalpertrader.com.br http://www.scalpertrader.com.br/ 19 Fora a dificuldade em conviver com traders experientes, listaremos pontos mais específicos que tornam a atividade de trading muito desafiadora. Vejamos: a) Errar e perder dinheiro figuram entre as maiores fontes de stress (e geradoras de medo), de acordo com a pesquisa “Fear Factor” - Fator de Medo - realizada por acadêmicos da Universidade de Cambridge e apresentada no livro Finanças Comportamentais de Aquiles Mosca. Entretanto, errar e perder dinheiro no trading são situações vivenciadas quase que a todo instante (especialmente se for um day trader). Se errar e perder dinheiro geram dor emocional ou stress, nossa mente, mesmo que de forma inconsciente, fará o possível para evitar tais sentimentos, alterando nossa percepção sobre a informação vinda do mercado ou ainda bloqueando nossa capacidade de atuação. Fomos criados assim, aprendemos que errar é feio e perder nos diminui. Essas são crenças quase que universais. Se operarmos com a perspectiva de evitarmos o erro e a perda, fatalmente cairemos em uma dessas grandes armadilhas: i. Só entrar no mercado quando tiver certeza: essa é uma armadilha muito perigosa, pois não importa o que você olhe e quão bom analista você seja: uma hora sua operação vai dar errado e isso será explicado quando falarmos da natureza do mercado. Contudo, como você está cercado de sinais e argumentos que o convenceram de que está certo na sua posição, dificilmente você fará algo para se proteger, pois estar errado não faz parte do rol de possibilidades da operação. Essa armadilha, normalmente, é a causadora das grandes perdas, uma vez que, convencido da certeza de acertar a operação, o trader não aceita uma realidade contrária. Assim, ele não aciona o stop nem sai da posição perdedora, porque isso seria o mesmo que aceitar que errou, aceitar que todos os 20 argumentos que o convenceram a entrar no mercado estavam errados. ii. Distância do Sucesso: se operarmos com foco em evitar perda e erro, cada vez estas que acontecerem (e irão acontecer), nossa mente entenderá que estamos cada vez mais longe do nosso objetivo. Concordam que se o objetivo for estar certo e ganhar dinheiro, cada erro e perda que ocorrer nos deixam mais distantes do objetivo? Perceba que o foco desse trader não está nas oportunidades que o mercado gera, e sim em como evitar errar e perder dinheiro. iii. Tentar amenizar o efeito negativo do erro e da perda, aprendendo o máximo sobre os mercados. Talvez essa seja a pior das armadilhas e foi parcialmente abordada na segunda fase dos traders. Depois de passar a dor da perda, é muito comum que traders saiam em busca de conhecimento, justamente para não sofrerem novamente. Buscar conhecimento é bom e saudável, mas reparem que o motivador da busca por conhecimento neste caso é evitar perdas e erros, e não aumentar o leque de oportunidades. Com esse intuito, o trader busca cada vez mais ter certeza sobre o movimento futuro do mercado antes de entrar na operação. Quanto mais certeza e convencimento sobre a direção, mas difícil de reconhecer que errou. Quanto mais difícil reconhecer o erro, mais difícil será agir e stopar para evitar grandes perdas. Percebe que não tem saída? É, de fato, um ciclo vicioso onde o medo do erro e da perda só geram mais medo e desconfiança. 21 b) Não temos nenhum controle sobre o mercado, apenas sobre nós mesmos. Em muitas situações cotidianas, nossa capacidade de influenciar pessoas ou processos muitas vezes nos garante sucesso. Logo, em nossas relações, opinião firme e poder de persuasão são fatores determinantes. Por exemplo: se você quiser ouvir alguma música, você pode ligar o rádio que ela tocará. Se não ligar o rádio, a música não toca. Outro exemplo: dependendo do seu cargo e nível hierárquico, você consegue controlar o rumo das atividades. Basta uma ordem para que projetos sejam alterados, pessoas reordenadas ou até mesmo substituídas, alterações físicas em ambientes etc. Em atividades cotidianas, muitas vezes temos condições de influenciar o ambiente ou ainda de alterar o rumo das coisas. Fomos criados e adquirimos crenças de relacionar tudo, com causa e efeito. Diferentemente de muitas coisas que acontecem em nossas vidas, no mercado, nós não temos o menor controle do que irá acontecer (considerando que você seja um Trader Autônomo e que não opere volumes exorbitantes). Não importa quem você é, o quanto estudou e nem mesmo o quanto você queira que o mercado ande em certa direção: não há nada que você possa fazer para isso acontecer. Nada mesmo! No trading, quanto mais esforço você colocar em dominar a situação, mais vai dar errado. Umas das maiores virtudes no trading talvez seja a flexibilidade, isto é, a capacidade de moldar-se ao ambiente e dançar conforme o ritmo da música que alguém escolheu e esse alguém não foi e nunca será você. A única alternativa que temos é nos controlar, pois, já que não podemos escolher a música, devemos nos contentar em saber se vale a pena dançá-la ou não. c) Aleatoriedade de resultados. 22 No trading, independente do que você fizer, não há garantias de sucesso nas operações que realizar. Mesmo que você tenha recursos financeiros, tempo e alguém para se espelhar, algumas operações (ou até mesmo várias) serão perdedoras. Faz parte e ninguém, nem os melhores, conseguem evitar. A diferença é que os melhores traders percebem, objetivamente, que estão errados e agem rapidamente cortando a perda pela raiz enquanto ela é pequena. E mais: não sofrem por isso. A grande questão é: como lidar com resultados incertos e ainda se manter confiante? Fique tranquilo que trataremossobre isso mais para frente. d) Dificuldade em cumprir regras. Conforme citado na Introdução, a atividade de trading, ainda mais a de forma autônoma, é uma das atividades que mais permitem liberdade de expressão. A liberdade é quase que total: não há regras ou limites, além, é claro, do seu capital disponível para operação. Você pode operar ou não, decidir o que operar, quando entrar, quando sair, quando parar etc. Enfim, você decide tudo. Portanto, é muito fácil cair nas tentações e se autossabotar, pois ninguém estará “te cobrando”. Ter regras bem definidas e cumpri- las é um dos grandes passos a serem dados. Saber quando descumprir suas regras é uma virtude a ser adquirida com o tempo. e) Assumir responsabilidade total sobre os atos. Além de aprender e ressignificar os sentimentos causados pelos erros e perdas nas operações, assumir a responsabilidade pelos próprios atos talvez seja uma das tarefas mais difíceis no trading. É muito raro ouvirmos das pessoas “eu errei”. O mais natural é ouvirmos “deu errado porque tal coisa aconteceu...”. No trading, ninguém é culpado por seus resultados a não ser você mesmo. 23 Lembre-se: nada acontece até que você decida entrar e, após a entrada, ninguém lhe dirá até quando permanecer na posição e nem o momento de sair dela. Mesmo que você não seja um trader discricionário e utilize um sistema mecânico3, a escolha deste sistema foi sua. Logo, você foi responsável tanto pelo ganho quanto pela perda gerados pelo sistema. f) Toda e qualquer decisão de entrada, manutenção e saída resultam de ações tomadas pela nossa interpretação das informações geradas pelo mercado. Não assumir a responsabilidade é uma forma indireta de não assumir o risco de estar errado e de perder dinheiro. Este tipo de comportamento é típico de quem deseja ganhar passivamente e de quem espera que os outros, ou até mesmo o mercado, façam o trabalho. g) Empenho. Assim como tudo na vida, empenho é uma condição básica para dar certo no trading. Sem empenho ou dedicação é quase impossível ser bem sucedido em qualquer área da vida. Pense de uma maneira mais objetiva: é possível um advogado também ser médico nas horas vagas? O exemplo pode parecer inoportuno, mas não é. A grande questão aqui é que, apesar da facilidade de acesso aos instrumentos financeiros (aplicações em ações, futuros, poupança, CDB, fundos etc.), ser Trader é uma profissão. Não estamos dizendo que para aplicar na poupança você precisa ser trader, mas se você quiser fazer day trade, por exemplo, o componente “dedicação + empenho” será fundamental para êxito da atividade. 3 Que indique compra e venda sem sua interferência. 24 h) Recursos financeiros suficientes. Não é necessário muito dinheiro para se tornar um trader autônomo, mas você deve levar em conta que durante a fase de formação (que dura aproximadamente seis meses), você dificilmente conseguirá ganhar dinheiro para se sustentar. De forma bem generalista você deve possuir recursos para dois objetivos: 1) financiar sua conta de trading e 2) arcar com, pelo menos, 6 meses o seu custo de vida. O montante destinado para a segunda finalidade varia de pessoa para pessoa. Já o primeiro não deveria variar muito, porque, independentemente de quanto capital você tenha, como o objetivo desta fase é o aprendizado, o foco é operar e “gastar” o mínimo possível, pois no fechamento da conta temos que levar em consideração os custos com Bolsa (emolumentos, registro etc.), Corretagem e eventuais prejuízos das operações. É muito complicado precisar o capital mínimo para se colocar na conta trading. Se você tiver pouco dinheiro, a margem de folga fica comprometida e você, provavelmente, irá zerar a conta antes de desenvolver as habilidades necessárias. Esse montante também varia em função do perfil, pois traders mais ativos4 vão demandar mais capital que traders menos ativos. Aproveito este item para fazer uma observação interessante: quando você tem os pré-requisitos e decide ser um trader do mundo corporativo, você garante pontos a seu favor, porque você ganha um salário para aprender e aprende com quem já sabe fazer. Agora como um Trader Autônomo, além da dificuldade de conviver com traders consistentes, o tempo é passa a correr contra 4 Que escolherem scalping, ou que escolherem trading como principal atividade. 25 você, pois quanto mais tempo demorar em aprender, maior será o custo de oportunidade de fazer outra coisa da vida. Perceba que decidir ser trader é similar a decidir empreender. Os riscos e custos são muito similares. i) Acompanhar o mercado com 100% de objetividade. Objetividade significa não interpretar de forma distorcida as informações geradas pelo mercado, nem por fatores pessoais nem por fatores técnicos. Neste exemplo, fatores pessoais podem ser: precisar do dinheiro, não poder perder, ter errado as operações anteriores, estar recuperando prejuízo ou ainda ser influenciado pela posição atual. Concorda que o mercado não tem o menor conhecimento sobre sua situação financeira, sobre o resultado das operações anteriores e muito menos sobre sua posição atual? Então por que essas questões influenciam nossa capacidade de perceber e interpretar a informação do mercado? Esse ponto será discutido mais adiante quando falarmos especificamente do processo de percepção. Já fatores técnicos podem ser definidos como sendo as ferramentas adequadas que permitem o trader perceber o que, de fato, está acontecendo no mercado, bem como o que os traders formadores de preço percebem a partir da mesma perspectiva. Ser objetivo é a base do alinhamento coletivo que tanto falamos. Para ser claro, o que queremos dizer é que a análise técnica não é a ferramenta adequada para acompanhar o mercado, pois ela não garante a objetividade necessária. Costumo citar esse exemplo nos cursos e palestras que ministro: o que você vê no gráfico abaixo? 26 É muito provável que cada um de vocês tenha opiniões, observações ou conclusões heterogêneas sobre a mesma informação. E por quê? Única e exclusivamente porque você vê somente o que aprendeu a ver. Nós filtramos a realidade através das nossas crenças e cada um possui uma estrutura particular. A grande questão aqui é como aprender a filtrar a realidade de forma objetiva, como ela de fato é e consequentemente como os traders consistentes também o fazem. j) Não entender a natureza do mercado. Esse é o ponto que certamente gera mais polêmica entre os alunos de cursos e palestras que ministramos. A maioria dos que procuram viver de bolsa de valores acredita haver uma forma antecipar as oscilações do mercado. Alguns podem dizer que não, mas a grande maioria sonha em criar um indicador, ou mesmo um robô, que seja praticamente perfeito, que acerte tanto e que erre tão pouco a tal ponto que os erros sejam quase que financeiramente e emocionalmente indolores. 27 Sejamos sinceros: quantos de nós já não esteve nessa situação? É comum encontrarmos afirmações nos livros, na internet ou em cursos, de que o mercado se comporta em padrões e estes padrões se repetem, sendo que segredo é desenvolver ou adotar um trading system e testá-lo até comprovar sua eficiência. Quem já tentou sabe: isso não funciona! E não funciona por um único motivo: cada momento no mercado é único, ou seja, o que está acontecendo agora é diferente de tudo o que já aconteceu um dia. É difícil de acreditar, mas é a mais pura verdade. No mercado tudo é novo: cada oscilação, cada alteração de bid/ask, cada tick , cada operação que fazemos etc. A solução para este dilema não é aprender o máximo possível sobre análise técnica, massim entender a dinâmica do mercado e aprender a ser levado pelo fluxo. São pontos de vista totalmente diferentes, pois o primeiro parte da premissa de ter que adivinhar o futuro para operar e o segundo de que não é necessário saber para onde o mercado vai, bastando apenas segui-lo para onde está indo. Poderia listar outros motivos que explicam a dificuldade em se tornar um Trader Autônomo consistente, porém acredito que estas sejam as mais profundas e diretamente ligadas à forma de pensar da maioria das pessoas. Perceba que falta de recursos financeiros e falta de conhecimento sobre a natureza dos mercados são os únicos empecilhos que não estão diretamente relacionados à nossa forma de pensar. Todos os demais são reflexos da forma como percebemos o mundo, que por sua vez é reflexo de nossa criação ou de nossos relacionamentos. Se tiver uma forma de resumir tudo que disse até o momento seria: a maior parte dos traders autônomos aprende a 28 pensar (construiu crenças) de uma forma totalmente diferente da que é exigida pelas particularidades do mercado. Se você quiser se tornar um Trader Consistente, o melhor caminho é se conscientizar disso e reconhecer e canalizar esforços em mudar sua forma de pensar (crenças). Nos próximos capítulos falaremos sobre os seguintes assuntos com a finalidade de fazê-lo pensar como um trader consistente: Aprender sobre percepção e crenças para acompanhar o mercado de forma 100% objetiva. Aprender a aceitar o risco de operar, fazendo com que errar e perder dinheiro não sejam fontes geradoras de dor e stress. Aprender sobre as possíveis formas de atuação (perspectivas individual e coletiva) e acreditar que a atuação discricionária5 é mais adequada à realidade do mercado. 5 Ter discrição não o impede de utilizar estratégias automatizadas. Discrição inclui saber que tipo de automação usar em cada situação de mercado. 29 2. NATUREZA DOS MERCADOS Uma das primeiras frases que ouvi de um trader renomado, enquanto estava no processo de aprendizado era: “Você começará a ganhar quando perceber aquilo que o mercado realmente é, e não o que você gostaria que ele fosse”. Confesso que nas primeiras vezes julguei tal conselho como abstrato e vago demais, assim como os axiomas citados lá no início da apostila. Entretanto, depois de percorrido um longo caminho e olhando a situação de fora, não tenho dúvidas de que este seja um dos grandes conselhos já recebidos. Durante o início do processo de aprendizado, eu realmente acreditava que os gráficos refletiam, de maneira objetiva, as informações de mercado e que o conhecimento sobre padrões, setups e técnicas operacionais eram determinantes para ganhos consistentes. Era comum eu gastar horas olhando gráficos a fim de reconhecer padrões (candlesticks, formações gráficas como W, M, OCO etc..) e buscar combinações de indicadores técnicos que melhor explicavam uma grande oscilação de preço passada. Além disso, ainda otimizava os setups em backtestings, com o intuito de gerar o melhor resultado possível dentro de um período pré-estabelecido. Eu achava que conhecendo sobre estes assuntos eu ganharia confiança e com confiança poderia operar e obter ganhos frequentes. De fato, convivi neste círculo vicioso (atualmente eu classifico desta maneira) durante toda a fase em que fui Analista Técnico da Interfloat Corretora de Valores. Naquela época, possuía um nível de acerto nas análises extremamente elevado e não duvidava de que este era o caminho correto. A primeira grande decepção veio quando decidi parar de fazer análises e efetivamente operar. Já no primeiro dia de operações percebi a dificuldade em aplicar os conceitos, que até o dia anterior 30 eram incontestáveis. Eu reconhecia os padrões, mas hesitava em entrar, ou quando entrava, não cumpria 100% do que havia planejado. Como já havia lido alguns livros sobre psicologia do trade, eu reconheci que estava sendo influenciado por fatores psicológicos específicos, os quais já foram citados no início deste material. Era justamente o que estava escrito nos livros: a diferença entre analisar e operar é justamente o gap psicológico e isso ocorre porque quando fazemos análise não há nada em jogo. Logo, errar e perder dinheiro não geram dor/stress. A partir do momento em que o dinheiro entra no jogo, o trader tende a ser influenciado por fatores emocionais que ora distorcem a informação gerada pelo mercado, ora atuam bloqueando sua capacidade de atuação (entrar, sair e stopar a operação). No português claro, a melhor definição para este gap é “a diferença entre o que você percebe analisando as oscilações de preço e a capacidade de transformar essa percepção em ganho consistente” 6. Existem duas formas de solucionar esse gap psicológico: a) Entendê-lo e tratá-lo. b) Ou automatizar os critérios operacionais (setups, trading systems etc.) baseados em análise técnica. Escolheremos a primeira opção como solução definitiva e a partir do próximo capítulo aprofundaremos os aspectos que viabilizarão alterar sua forma de pensar. Expliquei tudo isso justamente com um propósito: provar que a segunda opção NÃO É solução para atingir ganhos consistentes como trader. Se eu dissesse que tentei automatizar os critérios operacionais baseados em análise técnica e não obtive sucesso, ainda assim haveria alguém que julgasse tal possibilidade possível e eu concordo plenamente com tal julgamento, pois, o fato 6 Iremos aprofundar mais as diferenças entre analisar e operar quando falarmos de perspectivas do trade. 31 de eu não ter conseguido algo, não significa que outra pessoa não o faça. Por isso que escolhi a estratégia de explicar a natureza do mercado, isto é, explicar o nível mais profundo da composição e interação dos players, que é o principal fator de oscilação dos preços praticados no mercado. Acredito que dessa forma, consiga transmitir, sem opinião pessoal, o porquê a desta escolha. 2.1. Princípio da INCERTEZA A frase que melhor reflete nossa interação com o mercado é: “tudo pode acontecer a qualquer momento”. Não há nada que alguém possa fazer para alterar isso. Por mais que você se mate de estudar ou desenvolva um método quase perfeito, ainda assim não há garantias de antecipar todas as possíveis formas de comportamento do mercado. Pode parecer mais um dos axiomas vagos, mas não é. E é a partir deste ponto que começam as frustrações mais comuns. Para provar que tudo pode acontecer a qualquer momento iremos dissecar o mercado em suas partes e como em qualquer mercado, as partes são compostas por traders7. Traders individualmente agem como uma força sobre os preços, fazendo-os subir quando aceitam colocar ordens de compra cada vez mais altas ou cair quando aceitam colocar ordens de venda cada vez mais baixas. E por que traders aceitam pagar cada vez mais caro ou aceitam vender cada vez mais barato que o momento anterior? Na verdade, não precisamos saber exatamente todas as razões que motivamos os traders agirem, porque, em última instância, todas elas se resumem a um único propósito: ganhar dinheiro. 7 Mesmo com a presença massiva de inúmeros robôs, são humanos que desenvolvem robôs e, portanto, no nível mais profundo podemos dizer que traders são o nível mais profundo dos mercados. 32 Há apenas duas maneiras de ganhar dinheiro no trade: 1) comprar para revender mais caro ou 2) vender para recomprar mais barato. Se for verdadeiro que todos querem ganhar dinheiro, logo há uma só razão para que qualquer trader aceite pagar mais caro que o preço vigente: porque acredita que pode vender tudo o que eleestá comprando a um preço maior ainda, instantes após ou em algum momento no futuro. O mesmo ocorre com o trader que está disposto a vender algo a um preço menor que o vigente: porque acredita que ele poderá recomprar o que ele está vendendo a um preço mais baixo no futuro. Repare que todo movimento de preço ocorre em função do que os traders acreditam, naquele exato instante, sobre o futuro e sobre o que é caro ou barato. Aqui vale uma explicação adicional: mesmo que um trader esteja vendendo só para zerar uma posição de compra (o que significa sair do mercado), ele só vende em determinado preço por acreditar que não deverá subir mais, naquele momento. Portanto, mesmo sem estar exposto, ele tomou uma decisão baseada na sua expectativa sobre o futuro, corroborando com a descrição acima. O mesmo exemplo serve para o trader que recompra um ativo, zerando a venda anteriormente realizada. Voltando ao nosso raciocínio, há apenas 3 (três) forças primárias que movem qualquer mercado: a) Os traders que acreditam, por qualquer motivo, que o preço atual é barato e, por isso, compram. b) Os traders que acreditam, também por qualquer motivo, que o preço atual está elevado e, por isso, vendem. c) Os traders que no momento atual, estão esperando para atuar ou na compra ou na venda, caracterizando-se como força potencial futura. 33 A movimentação dos preços, ou a falta de movimentação, é uma função do equilíbrio ou desequilíbrio entre essas duas forças principais: traders que compram por acreditarem que o preço vai subir, e os traders que vendem por acreditarem que o preço vai cair. Se há equilíbrio entre os dois grupos, os preços vão estagnar, porque cada lado irá absorver a força do outro lado. Se existe um desequilíbrio, os preços irão mover-se na direção do lado com maior disposição em dispender lotes. Agora, faça essa pergunta para você mesmo: Qual o limite para a oscilação dos preços? Quanto é, de fato, o extremo do barato e o extremo do caro? Repare que se descermos ao menor nível da composição do mercado, o limite dos preços é o máximo ou o mínimo que cada trader, individualmente, está disposto a comprar ou vender? O fato é que não há nada para frear a alta ou a queda de preço, a não ser pelo menos um trader, com lote suficiente para movimentar o mercado, acreditar que os preços baratos ou caros e assim agir no mercado. Como há inúmeros traders atuantes no mercado operando por razões diversas, com horizontes diversos e com acesso diferenciado à informação, é fácil perceber que a todo instante ESTÃO PRESENTES opiniões diferentes sobre o que é barato e caro e, sob esta perspectiva, tudo é possível de acontecer (um único trader no mundo é suficiente para definir novas métricas sobre o que é barato ou caro no mercado). Você pode dizer “ok, parece óbvio”, mas qual a implicação disso nas minhas operações? Aqui esta a resposta: nós também tomamos uma posição de compra ou de venda (independentemente do que nos motivou entrar) acreditando, que, naquele momento, os preços estejam baratos ou caros respectivamente e, uma vez dentro do mercado, o resultado de nossa operação depende única e exclusivamente da atuação dos demais traders. Significa dizer 34 que o resultado de nossa operação depende da atuação individual de cada trader, que por sua vez carrega um número ilimitado de opções. Não há nada que você possa fazer para estar certo 100% do tempo, pois basta um trader com lote relevante atuar, para ter o potencial de ganho do seu trade negado. Certa vez ouvi de um trader que julgo um dos melhores traders autônomos de dólar futuro do Brasil, uma frase que eu lembro e uso até hoje: “Somos passageiros no mercado”. Essa frase carrega um enorme componente de verdade, pois resume tudo o que estávamos falando. Uma vez posicionados, estamos na mão da decisão de outras pessoas, estamos na mão de um clique, de uma ordem. Basta uma ordem de uma só pessoa para seu trade dar certo ou errado e não temos controle sobre essa ordem. Esse é o princípio da incerteza e essa é uma das duras e frias realidades do mercado: não há nada que você possa fazer para evitar estar errado e perder dinheiro, pois sempre estaremos dependentes da decisão de alguém. Se você ainda não estiver convencido pense sobre isso: a atuação de cada trader não deixa de ser uma variável de mercado, pois tem o poder de influenciar o preço vigente. Mas, é possível saber quantos traders estão olhando para tela ao mesmo tempo em que você olha? É possível saber quantos estão prestes a entrar no mercado? Saber quantos lotes estão dispostos a comprar ou vender? Saber quanto lotes estão refletidos no preço atual? Saber o momento em que mudarão suas mentes e sairão de suas posições? E se o fizerem, por quanto tempo ficarão fora do mercado? Saber quando e em que direção eles voltarão ao mercado? É uma dúvida interminável, mas que deve ser considerada, pois só assim é possível acreditar no princípio da incerteza. 35 Quem efetivamente acredita em incerteza, não hesita nem um pouco em agir para cortar o prejuízo na hora em que operação se mostrar perdedora. Quem acredita em incerteza, aceita estar errado e não “casa com a posição”, pois reconhece que o resultado da operação decorre de variáveis desconhecidas. Quem acredita em incerteza, tem flexibilidade e consegue mudar facilmente de opinião, características estas essenciais para estar no fluxo do mercado. Para finalizar este princípio, farei uma última comparação entre as duas formas de pensar: quem desconhece ou duvida deste princípio acaba operando com a perspectiva de ter de saber o que vai acontecer no futuro, enquanto quem acredita em incerteza opera com a perspectiva de não criar expectativa sobre o futuro. Quando você precisa saber o que vai acontecer, você busca uma relação de causa e efeito baseada no histórico de preços. Nada mais é do que definir uma série de variáveis que indiquem maior probabilidade de subir ou de cair. Muitos chamam isso de setup e já que temos uma necessidade de achar o melhor deles, cairemos na interminável tentativa de equacionar o passado, buscando a melhor forma de explicar o que poderá acontecerá no futuro. Mesmo que encontremos um ótimo setup, isto é, que gere um excelente resultado nos testes para período específico, concordam que, ao aplicarmos este setup, no futuro incorreremos do mesmo problema? Estaremos sempre na mão de um clique, de uma ordem? Nunca conseguiremos encontrar o setup perfeito, pois o futuro não está escrito! Já quem opera aceitando o princípio da incerteza não tenta equacionar o passado nem adivinhar o futuro. É uma perspectiva que permite atuar de forma livre e adaptada à realidade do mercado. Permite aceitar errar e agir sem hesitar. Entender esse princípio é um grande passo para sua evolução como trader, mas assim como 36 sempre repetimos: ter ciência é muito, mas muito diferente de acreditar. Ter ciência é superficial, enquanto acreditar envolve o nível mais profundo de nossas mentes. Para acreditar, temos que incorporar a crença da imprevisibilidade em nossa estrutura de pensamento e ensinaremos como fazer isso mais adiante, quando falarmos sobre “crenças”. 2.2. Princípio da SINGULARIDADE DO MOMENTO Tenho certeza que a maioria não gostou do que leu até o momento. Falo isso porque é exatamente o contrário do que a maioria dos sites, livros, corretoras, chats fomentam. E por que é difícil de acreditar? Justamente porque é diferente de tudo que aprendemos na vida. Tudo tem uma relação de causa e efeito, tudo tem uma explicação, quase tudo tem um padrão, mas em se tratando de trading, infelizmente isso não é verdade no mercado. A segunda grande verdade sobre o comportamento do mercado é que cada momento é único, singular. Isso mesmo: o que aconteceagora NUNCA aconteceu antes e NUNCA acontecerá no futuro. Esse é um dos grandes problemas da tentativa de encontrar padrões de comportamento ou julgar que o seu setup, no futuro, gerará os mesmos resultados que apresentou no backtesting. Vamos às explicações: O mercado não mais é do que o produto de frequente e constante avaliação e intervenção nos preços, realizadas por diversos players. Certamente, a avaliação e atuação dos players são divergentes em grande parte do tempo, o que justifica os preços oscilarem. Em um dado instante do tempo, encontraremos players comprados e/ou aumentando a posição, players já vendidos e/ou aumentando a posição e potenciais players que estão esperando algo novo acontecer para entrar no mercado. 37 Agora gostaria que você saísse um pouco da sua perspectiva de pessoa física e se imaginasse como um trader corporativo de médio/grande porte. Por exemplo, se você estivesse atuando na compra, o que precisaria ocorrer para que mudasse sua posição? (neste exemplo, “mudar” significa intensificar a compra, parar de comprar, zerar a compra ou ainda inverter para vendido). Você pode dizer: muitas coisas me fariam mudar a atuação. De fato, há inúmeras variáveis a serem levadas na operação, ainda mais quando você é um trader corporativo (price maker – que tem o potencial de influenciar o mercado devido ao tamanho dos lotes) e que carrega posições relevantes. Abaixo, listei algumas variáveis frequentemente levadas em conta e que contribuem para qualquer decisão, seja ela de comprar, vender, zerar ou mesmo ficar de fora do mercado: Avaliação pessoal do cenário e/ou ativo (fundamentos); Publicação de notícias e/ou informações capazes de influenciar a avaliação do cenário e/ou ativo; Intervenção de governo, órgãos ou empresas; Informação privilegiada; Obrigação e/ou necessidade; Atuação dos demais players. A ideia não é discorrer os itens um a um, mas sim deixar claro que todas essas variáveis influenciam constantemente a tomada de decisão do trader corporativo. Voltando ao meu questionamento sobre o que faria sua opinião mudar, caso fosse um trader corporativo, pense: qual das variáveis acima é a mais dinâmica, isto é, a que muda com mais frequência? Se você respondeu “atuação dos demais players” você acertou. Não quero dizer que ela é a mais ou menos importante, só estou afirmando que a nossa contraparte e os demais players também 38 podem mudar de opinião a qualquer instante, em função de todas as demais variáveis. Isso nos leva a uma conclusão: de que a atuação de um trader, por qualquer que seja o motivo, pode, por si só, motivar a atuação de outro trader. Um bom exemplo disso é o trader que está carregando uma posição de compra a um preço médio desfavorável e já muito próximo de stopar, pois atingiu o limite pré-estabelecido de perda da instituição. Se o preço atingir em certo patamar, ele stopa toda a posição, caso contrário ele não stopa. Se o mercado atingir o nível de stop, o trader irá atuar vendendo uma grande quantidade de contratos de maneira rápida, muito provavelmente alimentando o processo de queda. Agora, nesse mesmo contexto, imagine outro trader que está fora do mercado, esperando uma queda nos preços para comprar o ativo que deseja. Se o 1º trader do exemplo entrar stopando, muito provavelmente os preços irão ceder e atingir o patamar que interessa ao trader que estava de fora, querendo comprar. Entretanto, se o primeiro trader não acionar o stop, provavelmente é porque o mercado parou de vender e, pelo menos naquele momento, não deve cair até o nível de preço que o segundo trader teria interesse em comprar. Percebeu que basta um evento para desencadear outro? Basta uma decisão de um trader com um lote relevante, para gerar outras decisões relevantes de outros traders e alimentar novos negócios no mercado. Outro bom exemplo seria um player com necessidade de comprar 3.000 lotes de dólar. Não foi uma escolha dele; ele simplesmente tem que comprar 3.000 lotes a fim de travar uma outra operação ou qualquer coisa do tipo. Quem já acompanhou o book de ofertas dólar deve ter reparado que a média de lotes em cada nível de preço, atualmente, está entre 50 e 200 lotes. Assim, faço outra 39 pergunta: ele consegue comprar 3.000 lotes de dólar de uma vez, se cada nível de preço apresenta essa média de 50/ 200 lotes? Provavelmente sua resposta será: conseguirá comprar se aceitar pagar os preços cada vez mais altos que os demais vendedores estão dispostos a ofertar. Agora volte e reflita sobre o conceito aprendido no exemplo anterior. Se é verdade que cada trader considera a atuação dos demais em sua tomada decisão, ao perceber que existe alguém comprando 3.000 lotes no mercado (obviamente ninguém sabe ao certo a quantidade de lotes, mas estima pela agressividade), outros traders podem aproveitar a oportunidade para vender rapidamente, já que há demanda no mercado? Concorda que podem aproveitar para comprar junto com ele, esperar a compra toda terminar para aí sim tomar uma decisão (provavelmente vender) ou ainda cancelar ordens de venda ou alterá-las para cima, já que perceberam a demanda do mercado? A melhor definição para isso seria “efeito cascata” ou mesmo “choques”, pois cada atuação gera uma nova rodada de avaliações por todos os players que, potencialmente, podem atuar alimentando o círculo. Quando disse no item 2.1 que a história não estava escrita, estava querendo dizer exatamente isso: tudo é novo, agora e sempre! Outra forma de entender o conceito de singularidade é explorar um exemplo sob a perspectiva do trader pessoa física. Digamos que o sinal preferido para operar de um determinado trader seja rompimento de suportes/resistências, mas poderia ser IFR, MACD, Bollinger, Formações como W, M, OCO ou qualquer outro sinal. No exemplo abaixo, seguem duas situações no mesmo ativo, mas em dias distintos. Perceba que em ambos os casos houve a perda do suporte e a queda posterior foi similar em amplitude. 40 Repare que o ativo é o mesmo, o setup é o mesmo e se olhar no gráfico a queda é geometricamente e matematicamente a mesma. Enfim, podemos considerar que isso é um padrão, ou ainda que os movimentos sejam iguais? Por mais que pareçam idênticos graficamente, na realidade não são. O entendimento desse conceito é essencial para você entender a realidade do mercado. Se fossem idênticos, concorda que todo trader que participou do evento um teria que estar presente no evento dois? Todos com as mesmas posições prévias, com os mesmos tamanhos, com as mesmas ordens presentes na tela e atuando da mesma forma e intensidade a cada evento novo? Não beira o impossível? Independentemente do resultado dessa operação ter sido o mesmo, a forma de atuação entre os traders certamente foi diferente nas duas situações. Por exemplo: dificilmente quem stopou a compra no evento um é o mesmo trader que a stopou no evento dois e mesmo que fosse, dificilmente os vendedores eram os mesmos ou estavam vendendo pelo mesmo motivo e ainda dificilmente as contrapartes eram as mesmas. 41 É extremamente importante que você compreenda este fenômeno, pois ele gera implicações psicológicas de extrema relevância. Nossas mentes funcionam associando coisas e criando constantes relações de causa e efeito. Tudo é assim: quando o céu nubla, você logo associa que vai chover. Quando uma criança cai, você logo associa que irá chorar e por aí vai. É assim porque aprendemos assim. Essas são nossas crenças básicas. O grande problema do mercado é que não dá para fazer associações porque tudo é diferente sempre. Se você olhar para o mercado com perspectiva de associação, ou seja, com cabeça de que encontrou um padrão de comportamento, você provavelmente terá dificuldades emocionaispara operar., pois ao associar, automaticamente você estará criando uma expectativa sobre o futuro (no exemplo, expectativa de queda se perder suporte). Quando você cria expectativa e a operação dá certo, reforça a sua associação. Porém, quando a operação dá errado, há frustração. É muito raro não ficar frustrado quando se espera algo que não ocorre, ou, muitas vezes, quando ocorre justamente o contrário do que você esperava. Lembre que estou falando de dinheiro. Errar uma aposta sem valor é uma coisa, errar uma previsão valendo dinheiro é outra. A solução para esse dilema será dada mais adiante, mas a ideia aqui é fazer você entender e acreditar que o mercado é imprevisível E novo, SEMPRE! Se você realmente acreditar nisso, você aceitará que errar e perder dinheiro são impossíveis de serem evitados e, portanto, aceitará o risco de operar. 2.3. DINÂMICA DE MERCADO Neste último item sobre a natureza do mercado, falarei sobre o conceito de dinâmica de mercado. Confesso que nunca li nada sobre esse tema assunto e que só o por meio do mesmo trader 42 autônomo que dizia que éramos “passageiros do mercado”, ao se referir à sua imprevisibilidade. Dinâmica de mercado nada mais é do que a forma pela qual os agentes operam cada mercado em determinado período de tempo. Entender a dinâmica é um dos passos para acompanhar o mercado alinhado com crenças coletivas. Diferentemente dos conceitos que tratamos até agora, dinâmica de mercado é mais voltada à habilidade técnica do que habilidade comportamental e emocional. Para facilitar o entendimento, listarei agora todos os conceitos que devem ser levados em conta quando estudamos a dinâmica de mercado: Quem opera, por que opera e como opera determinado ativo? O que, de fato, move e o que tem potencial de mover os preços? Qual a relação de causa e efeito atual (cenário econômico)? Se é mercado de fluxo ou volatilidade (quantidade de lotes na tela); Participação de day trade no volume total do dia; Nível de aposta dos players (se estão apostados na compra/venda e quanto); Grau de operabilidade (quantas oportunidades o mercado faz disponível). Quantidade de players “parceiros” (grau de divergência de opinião). Grau de elasticidade (o quanto retorna a cada inflexão de preço). 43 Estes conceitos ajudam a definir como o trader autônomo pode e deve interagir com o mercado. É fundamental responder estas questões antes de decidir operar para valer. Claro que algumas delas só serão compreendidas quando você já estiver operando, tais como: Como os players estão operando: se de maneira mais ou menos agressiva, em quais circunstâncias as ordens são enviadas, que tipo de ordem está sendo enviada etc. A quantidade de players parceiros: justamente quem gera o fluxo onde nos escoramos. O grau de elasticidade: forma e intensidade com que um ativo rejeita um preço novo. Outro ponto crucial que devemos considerar e que corrobora com a premissa de singularidade do momento é que todos os itens que compõem a dinâmica de mercado estão em constante processo de transformação. Entender a dinâmica é fundamental para que essa interação seja sob a ótica da perspectiva coletiva, da qual falaremos mais adiante. 3. PERCEPÇÃO E PROCESSO DE PENSAMENTO Na sessão anterior, trabalhamos o real comportamento do mercado (natureza) e a partir de agora iremos falar sobre percepção, com o único intuito de fazer você consiguir olhar o mercado de forma 100% objetiva. Olhar o mercado de forma objetiva significa perceber a informação gerada pelo mercado da forma como ela realmente é e sem filtros, indicadores técnicos ou qualquer outra coisa que tenha o potencial de distorcê-la. Esse conceito é extremamente importante, porque é um dos pré-requisitos essenciais para entender a perspectiva coletiva e fluir sempre com o mercado. 3.1. Como Funciona Nossa Mente – Processo de Percepção 44 Neste capítulo, abordaremos conceitos aparentemente abstratos ou fora do contexto da apostila, tais como “processo de percepção humana”, “versão” “verdade” e “crenças”, mas que são cruciais para sua evolução como trader. Lembre-se que o maior desafio é ter total controle sobre seus atos e emoções e, neste sentido, conhecer um pouco da mente humana é um dos passos mais importantes para o alcance deste objetivo. Como o foco desta apostila não é torná-lo psicólogo ou expert no assunto, o tema será abordado superficialmente e talvez a melhor forma de explicar a percepção seja exemplificando. Anote em um pedaço de papel o que está desenhado na figura abaixo: O que você vê? Provavelmente muitas coisas, como por exemplo o que alguns consideram ser um chapéu de perfil, uma peça de quebra-cabeça ou até mesmo uma flecha apontando para baixo. Entretanto, é importante que escreva em algum lugar o que vê. Após ter escrito no papel, repare e tente ver a palavra “fly". Se você viu rapidamente a palavra “fly”, muito provavelmente sua estrutura de percepção está adequada à esta realidade. Caso contrário, se você não a vê, por que será que isso ocorre? Agora já visualiza? Se você demorou para perceber ou ainda não viu a palavra, provavelmente é porque sua estrutura de percepção atual te faz ler 45 palavras escritas com tinta preta em papel branco. Repare que a palavra “fly” está escrita em branco com bordas laterais pretas. Se você, de fato, nunca tinha visto este teste você terá que aprender a perceber ou mesmo reestruturar sua perspectiva até perceber o que realmente está sendo mostrado8. Outro bom exemplo de percepção seria avaliar como duas pessoas distintas, com histórias diferentes, interpretam e reagem a um mesmo evento. Imagine que estas duas pessoas estão caminhando juntas pela calçada e ouvem um carro frear bruscamente. A pergunta é: como seria a interpretação e reação delas? A resposta, na verdade, depende de vários motivos, os quais não conseguiríamos explicar em detalhes, mas vamos analisar os extremos. Imagine que uma das pessoas tenha uma vasta experiência de vida e inclusive já tenha sido atropelada em um evento similar. Como é de se esperar que esta pessoa interprete e reaja ao barulho da freada? Provavelmente ela fará uma associação imediata com o seu incidente passado e entrará num estado mental com características de medo, preocupação e outros similares. Agora imagine que a outra pessoa seja um adolescente de 12 anos de idade e que não tenha passado por uma experiência similar negativa. Como ele interpretará e reagirá ao barulho? Não podemos afirmar, mas é possível que este garoto entre num estado de êxtase ao ouvir o barulho do carro derrapando. Para ele, a informação pode ser legal, divertida ou mesmo desafiadora, pois terá assunto para contar a todos os seus colegas. Repito mais uma vez que isso é apenas um exemplo e não uma afirmação, mas certamente é uma possibilidade concreta. Duas pessoas distintas podem e devem interpretar e reagir aos eventos externos de forma totalmente distinta, porque ambas possuem 8 Este trecho foi extraído do livro “Poder sem Limites” de Anthony Robbins. 46 crenças distintas (falaremos mais sobre crenças nas próximas páginas). Os exemplos podem parecer simplistas, mas carregam um grande fundo conceitual, pois significa dizer que “nós vemos ou percebemos somente o que aprendemos a perceber”. Você pode até duvidar ou ser resistente em aceitar, mas muitas vezes nós não vemos o mundo como ele é. Nós vemos o mundo a partir da nossa interpretação individual, ou melhor, do que julgamos ser verdade. Agora gostaria que parasse um pouco para refletir: o que é verdade? Será que sempre vemos a verdade? E pior, será que existe verdade? 3.2. Versão e Verdade Em certa ocasiãofiz um curso chamado “Olho de Tigre” da empresa Gauss Consulting. Este curso objetivava a transformação pessoal, justamente o que eu buscava quando decidi me tornar trader autônomo. Apesar de ter traçado toda minha carreira na área de mercado financeiro e ter atuado como trader corporativo, as dificuldades em se tornar trader autônomo eram grandes e vi neste curso uma possibilidade de crescimento intelectual. Bom, o que quero passar a você é a definição de “versão” e “verdade” escrita pelo instrutor do curso, de nome Orlando Pavani. “Verdade é a mais pura manifestação dos fenômenos quanto à sua previsibilidade. Aquilo que é previsível e acaba acontecendo na realidade, transforma-se em conhecimento científico que conclui que aquela previsibilidade era verdadeira, portanto, transformando a previsibilidade em lei, diante da qual, não adianta discutirmos, pois ela está acima de nossa vontade ou interpretação, nos cabendo apenas constatar, assumir e utilizar a lei para alguma aplicação inteligente. Já versão é a primeira verdade por nós assumida, sem qualquer questionamento catalisador uma vez que não cabe discuti-la, ou porque nos falta oportunidade experimental para testá-la na prática ou porque confiamos de sobremaneira na fonte de onde é oriunda aquela versão ou ainda por absoluto acomodamento intelectual”. 47 É muito pertinente diferenciar versão de verdade em se tratando de mercado financeiro, pois muitos de nós assumimos versões pessoais como verdades absolutas. Toda e qualquer análise de mercado é uma versão pessoal, independentemente da experiência da pessoa que formule tal análise. Toda e qualquer estratégia operacional é uma versão pessoal. No mercado, verdade é o que está na tela no presente. A melhor oferta de compra e a melhor oferta de venda são o maior reflexo da verdade. Você pode analisar, fazer contas, torcer, chorar, mas a verdade é o que está na tela. Dessa forma, quanto mais próxima da verdade for sua versão pessoal a respeito das informações do mercado, maior será sua chance de estar em linha com o mercado. 3.3. Crenças “O homem é o que ele acredita ser” Anton Tchecóv Num primeiro contato, ao falarmos de crenças podem vir à cabeça assuntos como credos, doutrinas ou quaisquer aspectos religiosos. Na verdade, tratarei crença no sentido mais básico da palavra, sendo um princípio orientador, máximas, fé ou paixão que podem proporcionar significado e direção em tudo que pensamos e fazemos na vida. Crenças são filtros pré-arranjados e organizados para nossas percepções do mundo. São como comandos para o nosso cérebro interpretar a informação recebida. As crenças atuam de forma a moldarem nossa forma de interpretar os eventos do mundo, ao passo que no momento em que alguém acredita efetivamente em algo, para esta pessoa, isto se torna verdade, independentemente de ser apenas uma versão. 48 Outra maneira de abordar o assunto é através da distinção entre memória e crença. Memórias são informações gravadas em nosso cérebro enquanto crenças são “memórias energizadas” construídas a partir de experiências vividas no passado (positiva ou negativamente) e aprendidas através de linguagem (palavras ou frases). Vamos pegar um exemplo: uma pessoa que tenha tido diversos problemas conjugais durante toda a vida com mais de um matrimônio desfeito, pode dar um significado especial à palavra “casamento” ou ainda à palavra “fidelidade”. Se esta pessoa, de fato, tiver sido traída mais de uma vez, sua experiência de vida vai energizar negativamente as palavras “casamento” e “fidelidade”. Essa pessoa, provavelmente irá desenvolver uma crença de que casamento é ruim e que não existe fidelidade. É provável que venha ter problemas ao estabelecer novos relacionamentos com este tipo de crença, pois o menor sinal de desconfiança reforçará sua crença sobre a infidelidade com energia negativa. Apesar de muitos casamentos não darem certo e de existir infidelidade, não é verdade que todos são ruins ou que não exista fidelidade. A crença é uma verdade para quem a possui, mas não necessariamente é uma verdade absoluta, científica ou justificável. 3.3.1. De Onde Vêm as Crenças Certa vez, li um artigo chamado “O mal de nossos pais” de Orlando Pavani que retratava exatamente a fonte primária de nossas crenças. O texto começava assim: “Quando nascemos, iniciamos um processo de absorção de informações sem precedentes e que acaba formatando nossa percepção das coisas e, consequentemente, nosso comportamento, sem estimular um processo crítico que venha a catalisar e consolidar as informações absorvidas. Os primeiros emissores dessas informações foram nossos pais, depois, amigos e em seguida professores, dentre várias outras fontes de absorção em nossas vidas”. 49 O que está escrito no texto acima é que aprendemos a pensar como os outros pensam e a se comportar como os outros se comportam. Assim, a experiência de vida de cada um irá energizar os frases, palavras e conceitos aprendidos, que por sua vez definirão nossas crenças. De forma resumida, a crença é criada a partir de nossa interação com o ambiente (convívio) e energizada, positiva ou negativamente, por aquilo que experimentamos em nossa vida individual. É importante dizer que há diversos níveis de energia sobre uma crença. A presença desta hierarquia faz com que tenhamos crenças mais energizadas (mais sólidas) e crenças menos energizadas. O principal determinante do grau de intensidade de uma crença é a quantidade de vezes, ou ainda, a quantidade de energia armazenada sobre ela. Quanto mais vezes vivenciarmos determinada situação, mais expressiva será a energia depositada sobre ela. Ou ainda, quanto mais intensa for a situação vivenciada, maior será o potencial de validação da crença. Por exemplo: você já deve ter ouvido de alguém que fazer day trade é perigoso. Esta pessoa pode nunca ter feito um day trade, mas terá aprendido com alguém que day trade é arriscado. Imagine que esta mesma pessoa, por qualquer motivo, decida fazer day trade, mas continue acreditando que é arriscado. Se ela errar a primeira operação, o que é de se esperar? É provável que ela valide sua crença de que day trade é, de fato, arriscado. A cada operação perdedora haverá um depósito de energia sobre a ideia “operar no intra day é arriscado”, chegando ao ponto de tal afirmação se transformar na mais pura verdade para ela. Com essa crença consolidada, as possibilidades de sucesso são irrisórias, já que esta pessoa interpretará toda informação proveniente do mercado partindo da premissa de que “day trade é arriscado”. Ela dará muito mais peso às informações que 50 corroborarem com esta afirmação do que às oportunidades de lucro geradas pelo mercado. 3.3.2. Impacto das Crenças em Nossas Vidas No sentido mais amplo, nossas crenças moldam a maneira como vivemos nossas vidas. Como descrevi acima, não nascemos com elas, mas sim as adquirimos e acumulamos conforme o que experimentamos e aprendemos a acreditar. No livro “Trade in the Zone”, Mark Douglas faz quatro segmentações sobre a maneira pela qual as crenças impactam nossas vidas. Vejamos: 1ª - Crenças gerenciam nossa percepção e interpretação sobre as informações provenientes do mundo. A intensidade da crença pode e muitas vezes causa a alteração da percepção, isto é, esta mesma pessoa na maioria das vezes não consegue mudar de opinião, mesmo diante de algo objetivo que contraponha a opinião gerada pela crença. Essa “cegueira” é causada pelo desconhecimento de outra versão sobre a informação, ou ainda, pela falta de aceitação de outras possibilidades. Nos cursos e palestras que ministro sobre trading, costumo colocar um gráfico no projetor e perguntar aos presentes o que cada um vê. Agora te pergunto, quão homogêneas você acha que são as
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