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Aprendizagem da Geografia e da História Julia Rany Campos Uzun Bianca Scalon Peres de Paula © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidência Rodrigo Galindo Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão Julia Gonçalves Vice-Presidência Acadêmica Marcos Lemos Diretoria de Produção e Responsabilidade Social Camilla Veiga Gerência Sr. de Produção de Conteúdo Fernanda Migliorança Editorial Renata Galdino Revisão Técnica Mariana Coralina do Carmo Rosângela de Oliveira Pinto Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Uzun, Julia Rany Campos U99a Aprendizagem da geografia e história / Julia Rany Campos Uzun, Bianca Scalon Peres de Paula. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 176 p. ISBN 978-85-522-1502-8 1. Geografia – Estudo e Ensino. 2. História – Estudo e Ensino. I. Uzun, Julia Rany Campos. II. Paula, Bianca Scalon Peres de Paula. III. Título. CDD 371.102 Sumário Unidade 1 A BNCC e as novas concepções do ensino de história e geografia ......... 7 Seção 1 As transformações do ensino de história e geografia na contemporaneidade ............................................................................ 8 Seção 2 Os objetivos da BNCC para o ensino de história na educação infantil e anos iniciais .....................................................20 Seção 3 Os objetivos da BNCC para o ensino de geografia nas séries iniciais .....................................................................................31 Unidade 2 Como ensinar história e geografia para a educação infantil ..................51 Seção 1 Autoconhecimento e introdução às noções de espaço ................53 Seção 2 A linguagem como recurso de localização no tempo e no espaço ...........................................................................................64 Seção 3 O corpo como registro do tempo e do espaço ..............................74 Unidade 3 Como ensinar história e geografia para o 1º e o 2º ano do ensino fundamental? ...................................................................................89 Seção 1 Localização no espaço e no tempo .................................................91 Seção 2 Ampliando a noção de comunidade ...........................................104 Seção 3 Registro e narrativa pessoal ..........................................................116 Unidade 4 Como ensinar geografia e história para o 3°, 4° e 5° ano do ensino fundamental..................................................................................131 Seção 1 Conhecendo diferentes paisagens ...............................................133 Seção 2 Mudanças e permanências – como as sociedades se constroem...................................................................................144 Seção 3 Relações humanas e mudanças ....................................................156 Palavras do autor N esta disciplina, vamos estudar as transformações ocorridas no ensino de história e de geografia para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental no início do século XXI. Veremos, ainda, que a prática docente está em constante movimento e atuali- zação. Todo esse conteúdo está dividido em quatro unidades. A primeira, intitulada As transformações do ensino de história e geografia na contemporaneidade, apresenta a forma como esses dois componentes curriculares vinham sendo ensinados no século XX e princípios do século XXI, norteados por outras diretrizes e parâmetros curriculares, situando a Base Nacional Comum Curricular como um marco importante de um novo olhar sobre a educação brasileira. A segunda unidade, com o título de Como ensinar História e Geografia para a educação infantil, traz a proposta da BNCC para o ensino desses componentes curriculares na educação infantil, discutindo propostas de trabalho, de avaliação, possíveis linguagens e ferramentas que o professor pode utilizar, além de apresentar as competências e objetivos a serem desen- volvidos para esta etapa. A terceira unidade avança nas discussões e, com o título de Como ensinar história e geografia para o 1º e o 2º anos do ensino fundamental?, questiona quais os conteúdos e metodologias a serem trabalhados nos primeiros anos do ensino fundamental, buscando desenvolver as competências gerais e específicas, alcançando os objetivos da BNCC e trazendo possibilidades de interdisciplinaridade e de avaliação. Por fim, a última unidade encerra o quadro de atividades e, sob o título de Como ensinar história e geografia para o 3º, 4º e 5º anos do ensino fundamental, mostra como a BNCC pode ser aplicada na expansão dos horizontes infantis para além de sua comunidade expandida, trazendo sugestões de aplicação dos conteúdos, uma grande discussão sobre os objetivos e competências, além de um sério trabalho sobre a interdisciplinaridade e os processos avaliativos. Em conjunto, as unidades de ensino pretendem desenvolver uma série de competências e habilidades no estudante, tais como a capacidade de aprender a aprender, o aumento da independência na busca por novos saberes, a identi- ficação visual do que está sendo ensinado, a criação de formas alternativas de avaliar seu aluno, o desenvolvimento de estratégias individuais de aprendi- zagem, o raciocínio crítico, além da capacidade de ensinar história e geografia para crianças da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental dentro dos parâmetros estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular. Para que tais habilidades e competências sejam desenvolvidas, é estritamente necessário que o estudante pratique o autoestudo com frequência, permi- tindo que ele organize as novas informações recebidas e as incorpore àquelas que ele já possui, gerando assim um novo conhecimento, mais rico e mais completo. Vamos conhecer um pouco mais sobre as transformações no ensino de história e geografia na educação infantil e nas séries iniciais do ensino funda- mental. Juntos, criaremos uma rotina de estudos para, a cada dia, desco- brirmos um pouco mais sobre os fundamentos e os objetivos do que deve ser ensinado nesses dois componentes curriculares, descobrindo quais devem ser os conteúdos para cada etapa, quais as possibilidades de transmiti-los de forma efetiva, quais tecnologias podem ser utilizadas, como eles podem se interligar com outras ciências e como podem ser avaliados. Bons estudos! Unidade 1 Julia Rany Campos Uzun A BNCC e as novas concepções do ensino de história e geografia Convite ao estudo A educação é um processo em constantes mudanças e atualizações. Como o ensino de história e geografia na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental tem se transformado desde quando você estava na escola até este momento em que está se transformando em um professor? Esta unidade convida você a compreender como os componentes de história e de geografia têm sido aplicados nos currículos brasileiros nas últimas décadas, atentando para suas modificações e para os documentos norteadores desse processo transformador. Você é convidado a auxiliar a professora Alice, que assumiu a coorde- nação da área de humanidades de uma escola de educação infantil e ensino fundamental Iapós cursar seu doutorado na Europa. Ela precisa se atualizar para responder às novas demandas colocadas pelos processos educacionais brasileiros depois da implantação de novas normativas que modificaram os currículos. Nesta unidade, você deve ajudar a professora Alice a identi- ficar as transformações sofridas nos conteúdos e na forma de ensinar para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, especial- mente em relação aos componentes curriculares de história e geografia. Ao término desta unidade, é importante que você consiga identificar como era o contexto educacional antes da promulgação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para as séries indicadas, especialmente em história e geografia, e como ele foi transformado com a nova legislação em vigor. Nesse processo, você deve se atentar principalmente às mudanças colocadas pela Base Nacional Comum Curricular em comparação com os Parâmetros Curriculares Nacionais, buscando descobrir quais são os diferen- ciais e as competências específicas dispostas pelo novo documento, promo- vendo uma abordagem ampla e interdisciplinar e desenvolvendo seus conhe- cimentos e habilidades. 8 Seção 1 As transformações do ensino de história e geografia na contemporaneidade Diálogo aberto A Base Nacional Comum Curricular é o atual documento norteador das práticas pedagógicas e dos currículos da educação básica brasileira. Sua versão para a educação infantil e para o ensino fundamental foi validada em dezembro de 2017, trazendo uma série de desafios para os professores e gestores em seu processo de implantação. Na educação infantil, os educa- dores têm se deparado com a tarefa principal de centrar o processo de apren- dizagem na criança, considerando-a um agente de produção de conheci- mento. Já nos anos iniciais do ensino fundamental, a principal empreitada a ser enfrentada é a criação de um novo modelo de educação que dialogue com o cotidiano do aluno, preparando-o para respeitar as diferenças e para compreender a si mesmo e ao seu mundo. A professora Alice assumiu a coordenação de humanidades de um colégio de educação infantil e ensino fundamental I e viu-se com um conjunto de desafios a serem enfrentados antes mesmo do início do ano letivo. O primeiro deles era a atualização do plano de ensino de história e geografia para as novas determinações legais vigentes no país, visto que todo o planejamento do currículo escolar ainda seguia o modelo dos Parâmetros Curriculares Nacionais e precisava ser adequado à Base Nacional Comum Curricular. O que a professora Alice precisa observar para adequar o plano de ensino desses componentes curriculares às propostas do novo documento? Como o tratamento dado aos componentes de história e geografia sofreu transfor- mações nas últimas décadas brasileiras? De que forma o ensino de história e geografia foi realizado nos últimos anos e como foi modificado pela Base Nacional Comum Curricular? Como é possível comparar as metodologias, abordagens e os conteúdos trazidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e pela Base Nacional Comum Curricular? Como ela pode garantir o trabalho interdisciplinar e transdisciplinar a partir dessa nova proposta? 9 Não pode faltar 1. O ensino de história e geografia nas últimas décadas: os documentos norteadores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental Os anos finais da década de 1980 e o início dos anos de 1990 marcaram um conjunto de grandes transformações políticas, sociais e educacionais no Brasil. Com o fim da ditadura civil-militar, o novo governo viu como um de seus principais desafios reestruturar os currículos escolares para atender aos cidadãos brasileiros de forma mais equiparada, buscando universalizar a educação pública, básica e laica. Esse esforço está sintetizado no artigo 210 da Constituição Federal Republicana, publicada em 1988, que dispunha sobre a necessidade de determinação de conteúdos mínimos para o ensino fundamental que fossem capazes de garantir a formação básica do indivíduo, respeitando seus valores artísticos e culturais, de acordo com as diferentes regionais. A partir de 1990, o Brasil firmou o compromisso internacional com o desenvolvimento de um currículo comum para todo o território capaz de suprir as necessidades básicas de aprendizagem, após a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada na Tailândia, dando início a uma grande pesquisa para a elaboração desse conjunto de conhecimentos básicos (SILVA, 2015). Reflita As necessidades educacionais estão em constante transformação e dialogam diretamente com as questões sociais e políticas pelas quais o país passa. Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Brasil criou vários documentos normativos para a educação pública, sendo os dois mais importantes os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular. Como esses documentos dialogam com as necessidades do país em seus períodos de promulgação (1998 e 2017)? Como suas propostas definem as transformações educacionais sofridas no Brasil entre as duas décadas que os separam? Como resultado desse processo, as diversas propostas curriculares foram consolidadas na primeira versão dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1995, encaminhados para a avaliação e consulta de um grupo de especia- listas e professores. No processo de validação dos PCNs, o governo brasileiro promulgou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), 10 que determinou que a educação deveria ter como finalidade o desenvolvi- mento pleno do aluno, preparando-o para a prática cidadã e para o universo do trabalho. A LDB atribuiu ao componente curricular de história a respon- sabilidade do estudo da realidade política e social, destacando a impor- tância da contribuição das diversas etnias e culturas para a construção do Brasil. Também ressalta a relevância do estudo da história da África e de seus habitantes, da presença negra no Brasil e seu legado. A geografia, por sua vez, seria a responsável pelo conhecimento natural e físico do mundo (FONSECA, 2003). Em 1998, os Parâmetros Curriculares Nacionais tornaram-se as princi- pais diretrizes educacionais brasileiras, orientando que os currículos fossem compostos por uma base comum e outra diversificada, dando origem a três etapas: a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Os PCNs buscavam sugerir tantos os conteúdos como as metodologias gerais de ensino, propondo objetivos comuns para cada disciplina com o intuito de permitir a unificação da educação pública brasileira (CURY, 2003). Os parâmetros dialogavam constantemente com as características regionais, sendo flexíveis e adaptáveis para as diferentes realidades brasileiras, trazendo propostas sobre o ensino e a aprendizagem, critérios avaliativos, orientações didáticas, além de blocos temáticos. Para os anos iniciais, a grande reformu- lação trazida pelos PCNs foi a transformação da disciplina de estudos sociais, característica dos currículos dos anos de 1970 e 1980, por geografia e história (BITTENCOURT, 2001). Além disso, os conteúdos passaram a ser trabalhados por eixos temáticos: em história, o primeiro ciclo do ensino fundamental (1º e 2º anos) traba- lhava com história local e cotidiana, enquanto o segundo ciclo (3º e 4º anos) discutia história das organizações populacionais; em geografia, por sua vez, o primeiro ciclo discutia a relação do indivíduo com a paisagem local e com seu espaço vivido, enquanto o segundo apresentava as diversas dimensões das relações entre campo e cidade, incluindo o papel das tecnologias, dos trans- portes, do trabalho, da comunicação e da informação. Os PCNs também possuíam objetivos gerais para o ensino de cada disciplina, promovendo ao aluno o aumento da compreensão da realidade ao longo dos 8 anos do ensino fundamental (MAGALHÃES, 2007). Ainda em 1998, o governo federal lançou o Referencial Curricular Nacional para a EducaçãoInfantil, buscando estabelecer as bases para as práticas educacionais voltadas a esse segmento, considerando sua diversidade. Esse documento apresenta a importância da institucionalização do atendi- mento infantil entre os 0 e 6 anos como uma forma importante de sociabili- zação e de compreensão do mundo em que a criança vive, pois defende que 11 a criança apenas se desenvolve em momentos de interação social, quando se manifestam os episódios de negociação e conflito. O documento contempla a necessidade de um professor polivalente, com ampla formação e compro- misso com o ato de educar. Apresenta a concepção que entende a criança como um ser histórico, psicológico e social, tendo o construtivismo como referencial teórico e, portanto, partindo do universo da criança para elaborar uma educação transformadora e democrática. Divide a educação infantil por idades, devendo ser oferecida em creches (ou instituições equivalentes) até os 3 anos de idade e pré-escolas, entre os 4 e 6 anos, determinando objetivos para cada faixa etária (CERISARA, 2002). Dessa forma, as propostas para o ensino de história e geografia no início do século XXI eram baseadas em uma perspectiva construtivista. Na educação infantil, partiam do estudo da realidade social e familiar da criança para sua compreensão do espaço e do tempo, além do trabalho com eixos temáticos abordados nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Nos anos iniciais do ensino fundamental, visavam ao desenvolvimento de instrumentos e capaci- dades para intervenção e compreensão da realidade social e histórica. 2. A Base Nacional Comum Curricular e o ensino de história e geografia na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental: principais transformações A Base Nacional Comum Curricular se transformou em uma das propostas da sétima meta do Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014, com o objetivo de ampliar a qualidade educacional brasileira, estabele- cendo e implantando [...] diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos(as) alunos(as) para cada ano do ensino fundamental e médio, respeitada a diversidade regional, estadual e local. (BRASIL, 2017, p. 10). A versão final do documento foi aprovada em 22 de dezembro de 2017, sob a orientação dos princípios políticos, éticos e estéticos para a formação integral do aluno e para a construção de uma sociedade inclusiva, democrá- tica e justa. 12 Pesquise mais A construção da Base Nacional Comum Curricular foi um longo processo envolvendo diversas entidades representativas de suas áreas para definição dos conteúdos, das abordagens e das metodologias mais importantes a serem empregados em cada componente curricular. Por esse motivo, a publicação final do documento foi a sua terceira versão. Para compreender o processo de construção da BNCC para a área de história, confira o artigo indicado a seguir: SILVA, M. O. BNCC e o componente curricular História: como pensaram os seus críticos? Boletim Historiar, n. 23, abr./jun. 2018. p. 85-106. No que tange à educação infantil, o documento estabelece cinco campos de experiência, responsáveis por determinar quais devem ser os tipos de experiência fundamentais para o aprendizado da criança. Essas categorias tratam de valores, atitudes, noções, habilidades e afetos a serem desenvol- vidos pelas crianças entre 0 e 5 anos no ambiente escolar. Nesse sentido, os componentes curriculares de história e geografia serão importantes para a construção da identidade e do campo da subjetividade da criança dentro de sua comunidade escolar, dando início ao reconhecimento da diferença (no campo “O eu, o outro e o nós”). Além disso, auxiliam na exploração do espaço e no reconhecimento de diversas linguagens presentes nas diferentes culturas (no campo “Corpo, gestos e movimentos”); permitem a experi- ência dos alunos com as manifestações culturais, científicas e artísticas de muitos povos, incluindo de diversas áreas brasileiras, permitindo que o aluno reproduza essas práticas (no campo “Traço, sons, cores e formas”); ajudam a reconhecer as variadas formas de comunicação da cultura humana, como os jogos e as brincadeiras, estimulando a imaginação (no campo “Escuta, fala, pensamento e imaginação”); e a construção de noções de espaço, tempo físico, tempo cronológico e medidas (no campo “Espaço, tempo, quanti- dades, relações e transformações”). Dentro dos preceitos da BNCC, a história deve criar um diálogo constante entre o presente vivido e o passado, transformando o componente curri- cular em uma ferramenta para a compreensão das diferentes sociedades e das formas de se viver. Mais do que conhecer os fatos de outras épocas, os alunos devem ter a capacidade de relacionar os acontecimentos de diversas épocas aos fenômenos da atualidade. Isso deve instigar o aluno a ter um olhar crítico para os fatos históricos, motivando-os a criar suas próprias hipóteses, questionamentos e interpretações, confrontando o conhecimento histó- rico pré-determinado. Para essa mudança no olhar, é preciso levar a cabo cinco processos diferentes: a identificação do objeto de estudo e dos sentidos 13 atribuídos a ele; a comparação entre a realidade do aluno e a do outro (da sociedade de seu objeto), reconhecendo suas semelhanças e suas diferenças; a contextualização dos fenômenos históricos, dotando-os de significados; a interpretação do conteúdo, permitindo o posicionamento crítico sobre ele; e, por fim, a análise do objeto estudado, problematizando, inclusive, as formas de escrever a história. Para que isso seja possível, é necessário que o professor se coloque como um auxiliar no processo de construção do saber, abrindo espaço para que seus alunos desenvolvam um papel ativo na elaboração de seu próprio conhecimento (BRASIL,2017). Exemplificando Dentro da proposta da BNCC, uma aula de história para o ensino funda- mental I sobre a formação da comunidade em que os alunos vivem deve, ao mesmo tempo, mostrar a eles que suas famílias chegaram ao Brasil em um momento em que a mão de obra estrangeira era neces- sária (especialmente no caso de famílias italianas, espanholas, portu- guesas, alemãs e japonesas), apontando os motivos da vinda, as formas de adaptação e as memórias da nação de origem. Ao mesmo tempo, o professor pode questionar porque os movimentos migratórios de refugiados que chegam ao Brasil na atualidade (como é o caso dos sírios e dos latino-americanos) não possuem a mesma receptividade, insti- gando o pensamento crítico nos alunos. A abordagem da BNCC para o ensino de geografia, por sua vez, busca enfatizar o desenvolvimento do raciocínio geográfico e do pensamento espacial para os anos iniciais do ensino fundamental. O conhecimento é dividido em cinco unidades distintas: “O sujeito e seu lugar no mundo”; “Conexões e escalas”; “Mundo do trabalho”; “Formas de representação e pensamento espacial” e “Natureza, ambientes e qualidade de vida”, buscando preparar o aluno para questionar todos os fenômenos que se materializam no espaço ao seu redor, retomando o princípio inicial da BNCC, que é levar a criança e o adolescente a buscarem diversos tipos de informação através dos lugares e paisagens por onde passam, compreendendo suas relações e discu- tindo os motivos de sua ocorrência (BRASIL,2017, p. 358-360). 3. Comparando a Base Nacional Comum Curricular e os Parâmetros Nacionais Curriculares Partindo do escopo histórico apresentado sobre os dois principais referen- ciais curriculares da educação brasileira das últimas décadas, vamos analisar 14 de forma global e sistêmica as semelhanças e as disparidades existentes entre os Parâmetros Nacionais Curriculares e a Base Nacional Comum Curricular, voltando nossa análise principalmente para os componentes curriculares de história e geografia. De forma geral, os dois documentos foram elaborados de forma semelhante, a partir de uma reuniãode professores, pesquisadores e especia- listas, mediada pelo Ministério da Educação, com o estabelecimento de diversas instâncias de debate. Após esse processo, foram levados para a consulta pública antes de sua aprovação final. Além disso, os dois referen- ciais curriculares trazem a necessidade da promoção de um ensino interdis- ciplinar e contextualizado. As duas propostas também dividem-se em áreas do conhecimento: enquanto os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998 elencam 8 grupos fundamentais (língua portuguesa, história, geografia, artes, língua estrangeira, matemática, ciências e educação física), a Base Nacional Comum Curricular define os cinco campos de experiências, para a educação infantil (“O eu, o outro e o nós”; “Corpo, gestos e movimentos”; “Traços, sons, cores e formas”; “Escuta, fala, pensamento e imaginação”; “Espaço, tempos, quantidades, relações e transformações”), e as cinco áreas do conhecimento para o ensino fundamental (linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e ensino religioso) (BRASIL, 2017, p. 23). Os dois referenciais curriculares também defendem a transversalidade entre as disciplinas, evocando-a por meio dos Temas Transversais, nos PCNs, e dos Temas Integradores, na BNCC. Nos dois documentos, são apresentados os objetivos e as competências (gerais e específicas) que todas as áreas do conhecimento devem desenvolver nos diversos níveis de ensino. Os documentos também contemplam a possibilidade de currículos escolares adaptáveis às diversas realidades brasileiras, determinando uma parcela comum a todos os colégios e uma parte diversificada, que deve ser escolhida por cada instituição de ensino em conjunto com sua comunidade. Tanto o PCN quanto a BNCC fazem referências aos materiais, recursos e atividades lúdicas e diversificadas que podem ser realizadas, enfatizando as tecnologias, como jogos, computador e calculadora. Os conteúdos de cada componente curricular são apresentados de forma agrupada, criando os blocos de conhe- cimento, nos PCNs, e os eixos de conhecimento, na BNCC (BRASIL,1998). Assimile A transversalidade é uma proposta educacional que busca estabelecer uma relação entre o aprendizado de conhecimentos sistematizados teoricamente e as questões cotidianas. Ela busca discutir temas que 15 atravessam os vários campos do conhecimento, podendo ser aplicados para a transformação da realidade do aluno. De forma colaborativa, a interdisciplinaridade deve ser compreendida como a troca de conhecimentos entre os diversos componentes curricu- lares, garantindo a elaboração de conceitos que rompam as fronteiras entre eles. A BNCC trouxe uma grande inovação para a educação infantil em relação aos documentos anteriores por avançar de forma significativa no olhar sobre os modos de aprendizagem da criança, criando referências para a elaboração de um currículo a partir de direitos de seu desenvolvimento, colocando a criança como a figura principal em todos os espaços e transformando-a em agente criadora e transformadora da sociedade e da cultura em que vive. Os documentos anteriores, como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil tratavam a criança como mero receptor do conhecimento oferecido pelo professor. Ainda que os documentos possuam algumas semelhanças, a BNCC traz muito mais detalhes em relação às competências e às habilidades a serem trabalhadas em cada componente curricular. Ela também abre maiores possibilidades de adequação do currículo no ensino fundamental, a partir do momento em que apenas define componentes curriculares – e não disci- plinas – que se desenvolvem em habilidades a serem trabalhadas em cada ano. Seu propósito principal é o estabelecimento de um trabalho transdisci- plinar e interdisciplinar mais intenso, por meio de um ensino mais contextu- alizado, dentro das obrigações determinadas pela Lei de Diretrizes e Bases, que afirma que a carga horária anual mínima deve ser aumentada para 1400 horas, de forma gradual. Ela também trabalha com a educação integral do indivíduo, buscando torná-lo capaz para resolver problemas, argumentar, tomar decisões, ser criativo, alcançando o sucesso profissional e pessoal. Sem medo de errar Para elaborar o plano de ensino de história e geografia para a educação infantil dentro das normativas da Base Nacional Comum Curricular, a professora Alice terá como principal desafio centralizar o aluno como agente do processo de ensino-aprendizagem, colocando-o como produtor da cultura e da sociedade em que vive. Nesse sentido, o novo plano de ensino deve responder aos cinco campos de experiência, desenvolvendo práticas em sala de aula que estimulem o trabalho com a identidade, com a alteridade, 16 com o reconhecimento do espaço, do tempo físico, do tempo cronológico, das medidas e do reconhecimento de outras culturas, ampliando o horizonte do aluno para além de sua comunidade de vivência próxima. Cumprida essa tarefa, a professora Alice deverá partir para o desenvolvi- mento do plano de ensino de história e geografia dos anos iniciais do ensino fundamental. Seus preceitos principais deverão ser a articulação dos fatos históricos estudados com o presente vivido do aluno, permitindo desen- volver seu senso crítico e sua capacidade de analisar outras sociedades. Deve, também, ter como prioridade o desenvolvimento do pensamento espacial e do raciocínio geográfico no aluno, tornando-o autônomo para reconhecer e questionar as paisagens e os ambientes por onde passar. A BNCC estimula o trabalho transdisciplinar a partir do momento em que trata dos componentes curriculares e de suas habilidades a serem desen- volvidas sem determinar as disciplinas e suas cargas horárias. Dessa forma, é possível que a professora Alice proponha diversos projetos temáticos para o trabalho com conceitos específicos que ultrapassem as diversas disciplinas e dialoguem com o cotidiano do aluno – como uma prática de reconhe- cimento da comunidade em que o aluno vive (em um contexto social e espacial), a construção histórica da cidade em que o aluno vive e de seus bairros ou a proposta da criação de um álbum da família (e de suas origens). Com isso, o trabalho de colaboração entre as disciplinas também ocorre de forma contínua, permitindo o desenvolvimento dos conhecimentos e habili- dades propostos pela BNCC para os componentes curriculares de história e geografia para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental. Avançando na prática A BNCC e a rotina na educação infantil Após alinhar o plano de ensino da área das humanidades da educação infantil, a professora Alice se reuniu com o corpo docente do colégio que atua nessa etapa de ensino para discutir as possíveis dúvidas que viessem a surgir com a nova proposta curricular, que transforma o aluno em um agente de sua cultura e de sua sociedade, tornando-o ativo no processo de ensino-aprendizagem. A professora Leila, que leciona para crianças de 2 a 3 anos, solicitou a ajuda da coordenadora acerca da nova organização do tempo dentro da dinâmica escolar: se a BNCC determina que os professores devem desenvolver cinco campos de experiência, de que forma o tempo de 17 aula deve ser dividido para que todas as atividades sejam realizadas a ponto de estimular todos os campos, visto que as professoras são polivalentes? Resolução da situação-problema A coordenadora Alice indicou para a professora Leila a necessidade de criar uma rotina no ambiente da sala de aula como mais um elemento educa- tivo, que permite que as crianças aprendam sobre as convenções sociais e se acostumem à passagem do tempo físico, dentre os quais estão os horários para o cuidado com a higiene e para a alimentação. De acordo com a BNCC, o reforço à rotina transmite segurança para as crianças, a partir do momento em que são criados episódios diários repetidos, diminuindo sua ansiedade. Isso responde a uma dasprincipais determinações do documento para a educação infantil, que é a criação da autonomia e da autorregulação. No entanto, a coordenadora atentou para a necessidade de não centrar a rotina diária em um grande bloco para o trabalho com os campos de experiência, mas sim criar diversos momentos para a interação da criança em grandes grupos, permitindo, inclusive, a interação entre os grupos com faixas etárias distintas, nos quais ela deve ter liberdade para interação com a natureza e com o ambiente. Assim, a nova rotina deve incluir alguns tempos fixos, outros modificáveis, sem trabalhar em blocos e com atividades curtas, dando bastante atenção para sua ludicidade. Faça valer a pena 1. A Base Nacional Curricular Comum transformou a forma de ensinar geografia para os anos iniciais do ensino fundamental. Ela tirou o foco do estudo de paisa- gens e da relação entre campo-cidade, como era disposto nos Parâmetros Curricu- lares Nacionais, para incentivar os tipos de atitudes nos alunos, estimulando sua autonomia. As duas atitudes principais que a BNCC pretende desenvolver no ensino de geografia são: a. O raciocínio lógico e o senso crítico. b. O raciocínio geográfico e o pensamento espacial. c. O raciocínio lógico e o pensamento espacial. d. O senso crítico e o pensamento espacial. e. O raciocínio geográfico e o raciocínio lógico. 18 2 . A Base Nacional Comum Curricular transformou a concepção do aluno na Educação Infantil. Ela determina cinco campos de experiência, através dos quais são especificados os processos fundamentais pelos quais as crianças entre 0 e 5 anos devem passar para realizar o desenvolvimento e a aprendizagem, tratando de afetos, valores, habilidades, atitudes e noções no ambiente escolar. Analise as asserções a seguir: I. A BNCC é considerada um marco para a educação infantil ao considerar a criança como um agente produtor de sua cultura e da sociedade em que vive, centralizando o processo de aprendizagem no aluno. PORQUE II. Os documentos normativos anteriores, como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, trouxeram inúmeras regulações para os conteúdos da educação infantil, mas determinavam que o professor era o provedor de todo o conhecimento adquirido nesta etapa, colocando o aluno sob sua total dependência. Agora, assinale a alternativa com a relação correta entre as asserções: a. As duas asserções são falsas. b. A asserção I é verdadeira, mas a II é falsa. c. A asserção I é falsa, mas a II é verdadeira. d. As asserções são verdadeiras e a II justifica a I. e. As duas asserções são verdadeiras, mas a II não justifica a I. 3 . As aulas de história nos anos iniciais do ensino fundamental têm passado por um processo de adaptação para se adequar à proposta da Base Nacional Comum Curri- cular, aprovada em 2017. A história factual, baseada exclusivamente no ensino de datas e fatos, foi substituída por um outro modelo de trabalho. Leia com atenção as afirmativas abaixo acerca da proposta da BNCC para o ensino de História: I. Uma das prerrogativas da história como componente curricular para os anos iniciais do ensino fundamental é a criação de um diálogo entre o cotidiano do aluno e o passado, transformando-se em uma ferramenta para a compreensão das diversas formas de vida e das diferentes sociedades. II. A BNCC determina cinco processos diferentes para a formação de um sujeito crítico dentro deste componente curricular: a identificação do objeto de 19 estudo; a comparação entre o objeto e outras realidades; a contextualização do objeto; sua interpretação e, por fim, sua análise crítica. III. Para tornar este modelo possível, a BNCC indica que o professor se coloque como o líder do processo de construção dos saberes, transmitindo aos seus alunos o conhecimento elaborado e debatido. Agora, assinale a alternativa correta: a. Apenas I está correta. b. Apenas II está correta. c. Apenas III está correta. d. Apenas I e II estão corretas. e. Apenas II e III estão corretas 20 Seção 2 Os objetivos da BNCC para o ensino de história na educação infantil e anos iniciais Diálogo aberto A Base Nacional Comum Curricular traz um conjunto de 10 competên- cias gerais a serem implementadas em todos os componentes curriculares, além de dispor de uma série de determinações para cada área do conheci- mento. Cada um dos componentes curriculares possui um conjunto especí- fico de desafios a serem enfrentados, divididos a partir das competências específicas (o conjunto de aptidões a serem desenvolvidas pelo aluno que dialogam com as questões de seu cotidiano) e das habilidades (ligadas aos conteúdos teóricos de cada ano da educação básica). A professora Lídia foi recém-contratada para lecionar história para a educação infantil e para as séries iniciais do ensino fundamental no mesmo colégio em que a professora Alice assumiu a coordenação da área de humani- dades. A coordenadora decidiu se reunir com a professora Lídia para a elabo- ração da metodologia de trabalho com o componente curricular e para a criação das estratégias a serem utilizadas no desenvolvimento dos conteúdos. Para que a abordagem da nova professora esteja dentro dos padrões estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular, quais objetivos os programas de curso devem priorizar? Quais habilidades e competências devem ser desenvolvidas junto aos alunos da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental? Os programas de curso devem diferir dos anteriores em quais pontos? Não pode faltar 1. Objetivos e competências gerais para o ensino de história na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental A Base Nacional Comum Curricular reorganizou as expectativas para a educação básica brasileira, criando novos pontos de partida para a deter- minação dos currículos. Para a educação infantil, foram estabelecidos os direitos de aprendizagem, substituindo o conceito de “competências” presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (CURY, 2003), com o objetivo de enfatizar o desenvolvimento da criança de forma completa, para 21 além de sua aprendizagem escolar, dentre os quais estão os direitos éticos (como o brincar e a convivência), os estéticos (como o autoexpressão e explo- ração do mundo) e políticos (como o autoconhecimento e a participação). Nesse sentido, a história deve ser empregada por meio do diálogo com as experiências e situações concretas da vida do aluno, os chamados campos de experiência. Para os anos iniciais do ensino fundamental, os objetivos principais são a construção do sujeito (a partir do estabelecimento das figuras do “eu”, do “outro” e de coletividade) e o reconhecimento das noções de espaço e de tempo, tendo como referência a comunidade de pertencimento. Tais objetivos devem ser desenvolvidos a partir de 10 competências gerais, estipuladas pela BNCC como a capacidade de mobilizar atitudes, habilidades, conhecimentos e valores para resolver as demandas cotidianas, para garantir o exercício da cidadania e para responder às necessidades do mundo do trabalho (BRASIL, 2017). É a primeira vez que essas propostas são organizadas dessa forma, mas a maioria delas não é inédita, já tendo sido discutidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (como a necessidade de trabalhar com a cooperação e a empatia). Assimile As competências presentes na Base Nacional Comum Curricular (sejam gerais ou específicas) apontam para o diálogo entre os conhecimentos adquiridos em sala de aula e as situações cotidianas, respeitando os direitos humanos, os princípios éticos, a sustentabilidade e a justiça social, garantindo a promoção física, cultural, emocional e social do aluno. As habilidades, por sua vez, tratam dos conteúdos essenciais que devem ser estipulados para cada componente curricular, em cada ano, determinando somente os processos cognitivos da aprendizagem. Quais são as competências gerais e como a história dialoga com elas? A primeira das competênciasgerais se refere à utilização e à valorização dos conhecimentos construídos ao longo do tempo acerca da sociedade, da cultura, do mundo digital e físico para a explicação da realidade do aluno. Nesse sentido, a história pode ajudar no reconhecimento de diversos tipos de fontes para a construção do conhecimento ético e na aplicação intencional desse conhecimento em diversos contextos distintos. A segunda propõe o desenvolvimento do raciocínio científico e a criatividade, utilizando a história como um meio para conectar duas ou mais ideias distintas (distantes no tempo e/ou no espaço); enquanto a terceira aborda a inclusão do aluno no universo da produção cultural e artística do mundo, fazendo-o participar de 22 práticas produtivas, usando a história como uma forma de compreensão da própria cultura do aluno e de suas identidades e diferenças. A quarta competência geral visa ao estímulo à expressão e à troca de informações e experiências por meio de diversas formas de linguagem, sendo o componente curricular disposto como um instrumento para o compartilhamento de experiências pessoais e de aprofundamento de ideias colocadas por outros. Já a quinta competência pretende levantar a impor- tância do bom uso das tecnologias digitais de informação, utilizando-se da história para discutir as formas éticas de realizar práticas digitais e levantar os pontos negativos e positivos da presença da tecnologia na vida cotidiana. A sexta competência geral valoriza a variedade de vivências culturais para a compreensão sobre o mundo do trabalho e o exercício da cidadania, contri- buindo para a construção, de forma livre, do projeto de vida profissional e pessoal do aluno. A sétima competência busca desenvolver a capacidade de defender ideias e negociar pontos de vista – sendo uma das mais desenvol- vidas no componente curricular – pois, desperta no aluno a capacidade de argumentar com base em diferentes evidências, dando exemplos pertinentes e interagindo com questões do seu cotidiano. A oitava competência leva o aluno ao cuidado de sua própria saúde física e emocional, sendo trabalhada na história como uma forma de auxiliar na construção da identidade pessoal da criança e no reconhecimento de seus interesses e de suas características. A nona competência geral, por sua vez, deve exercitar a cooperação, o diálogo e a resolução de conflitos, sendo muito importante para o trabalho do componente curricular no reconhecimento do preconceito, na valorização de diferentes perspectivas e na abertura do olhar da criança para culturas diferentes da sua (desenvolvendo o princípio da alteridade). Por fim, a última competência busca estabelecer a consciência no aluno de que ele deve se tornar um agente transformador da sociedade de forma democrática, inclusiva, ética, solidária e sustentável. Nesse sentido, é importante que a história desenvolva no aluno o senso pessoal de julgamento sobre o que é certo e errado e o respeito por seus valores e crenças fundamen- tais (BRASIL, 2017). 2. O ensino de história na educação infantil sob o olhar da BNCC Uma das grandes transformações trazidas pela BNCC para a educação infantil foi a criação de seis direitos fundamentais, responsáveis por substi- tuir a noção de “competência” e enfatizar o desenvolvimento completo da criança. O primeiro deles é o direito à convivência com seus pares, em grandes 23 e pequenos grupos, utilizando as mais variadas linguagens com o objetivo de aumentar o autoconhecimento e o conhecimento sobre o outro, respei- tando a diversidade individual e cultural. Nesse sentido, o ensino de história pode estimular o desenvolvimento de atividades que levem ao conhecimento de outras culturas e ao reconhecimento da identidade do educando, desen- volvendo seu olhar para si e para o mundo. O direito de brincar também é assegurado pelo documento, como forma de ampliar a criatividade e as experiências emocionais, cognitivas, sociais e relacionais, sendo a história o componente curricular responsável por apresentar as diferentes formas do brincar no espaço e no tempo. A Base Nacional Comum Curricular também salienta a importância da participação ativa da criança no planejamento das atividades na educação infantil, como a escolha dos ambientes, materiais e a produção do conheci- mento. No trabalho em história, pode ser realizada a construção de pequenas maquetes de brinquedo, nas quais os alunos vão decidir as cores, as estru- turas e os produtos para a reprodução dos elementos que os cercam, como a escola ou a casa. A história também contribui para o desenvolvimento do direito fundamental de explorar, pois amplia os conhecimentos da criança sobre a cultura ao apresentar as diversas modalidades tecnológicas, artísticas, científicas e de escrita, permitindo que o aluno explore com autonomia esses materiais. O quinto direito fundamental definido pela BNCC é o da autoexpressão, colocando a criança como sujeito sensível, criativo e dialógico. Nesse contexto, a história transforma-se no componente curricular capaz de criar rodas de conversa para que as crianças exponham seus argumentos, criando momentos de fala e de voto em decisões que vão afetar o coletivo, como a escolha de uma atividade ou a definição de grupos para um trabalho. Por fim, o ensino de história torna-se o responsável pelo desenvolvimento do direito de construir a identidade individual, cultural e social da criança, permitindo que ela se conheça e crie uma imagem positiva de sua comunidade de perten- cimento (BRASIL, 2017). Exemplificando Uma das possibilidades para o ensino de história na Educação Infantil é a criação de um álbum coletivo de comemorações locais e regionais, a ser preparado ao longo do ano. Com o auxílio do professor, os alunos devem criar desenhos, trazer fotografias, elaborar colagens e diversas outras formas de expressão das principais manifestações culturais de sua região, divididas pelos meses do ano, a serem reunidas em um mural ou encadernadas no formato de um álbum físico. Com essa ativi- 24 dade, a turma passa a valorizar as manifestações culturais locais, conhe- cendo diversas expressões artísticas e criando suas próprias versões das festividades. Assim, os alunos transformam-se em agentes culturais e produtores de conhecimento, o que responde às propostas da BNCC para a educação infantil. Além da determinação dos direitos fundamentais, a BNCC estipulou uma mudança conceitual para os currículos da educação infantil, considerando a criança como uma produtora da sociedade e da cultura na qual ela se insere. Com isso, ela fixou cinco campos de experiência como fundamentos básicos para cada etapa do desenvolvimento, inspirados nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (SILVA; FONSECA, 2010). O ensino de história, nesse sentido, torna-se questão primordial para o trabalho em todos eles. No campo “O eu, o outro e o nós”, a história age como ferramenta para auxiliar a criança na construção de sua identidade, na percepção do outro e no reconhecimento das diferenças, permitindo o contato com grupos culturais e sociais distintos. Para o campo “Corpo, gestos e movimentos”, o componente curricular permite o estabelecimento de relações e expressões; a produção de conhecimentos sobre si mesmos, sobre o outro e sobre a comunidade social e cultural na qual o aluno se insere. Por meio do campo “Traços, sons, cores e formas”, a história permite que a criança vivencie vários tipos de linguagens, expressões e experiências, entrando em contato com manifestações cientí- ficas, artísticas e culturais no cotidiano escolar. Ao participar de rodas de história e conversa, a história permite o desenvolvimento do campo “Escuta, fala, pensamento e imaginação”, garantindo que a criança seja estimulada a falar e a ouvir. Por fim, é por meio da história que são criadas experiências para situar a criança em seu universo sociocultural, levando-a a compreender as relações sociais e de parentesco,promovendo, assim, o campo “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”. 3. A BNCC e o ensino de história nos anos iniciais do ensino fundamental: competências específicas e habilidades A Base Nacional Comum Curricular traz diversas orientações sobre o processo de ensinar história também para os anos iniciais do ensino funda- mental, discutindo a importância do estabelecimento de relações entre o passado e o presente como questão principal a ser levada em consideração na determinação dos currículos. O documento ressalta a necessidade de criar referenciais teóricos para tornar os objetos históricos escolhidos inteligíveis, 25 sugerindo o trabalho com fontes diversificadas – como documentos icono- gráficos, cultura material e imaterial, além dos registros escritos – transfor- mando o processo de produção e de transmissão dos conhecimentos em uma atividade flexível, dinâmica e interdisciplinar, questionando as fronteiras disciplinares e garantindo o reconhecimento da íntima relação entre os saberes escolares e a vida social (FONSECA, 2003). Segundo o documento, existem alguns processos que devem ser conside- rados como imperativos para o desenvolvimento dos alunos nos anos iniciais do ensino fundamental: a identificação; a comparação; a contextualização; a interpretação e a análise crítica dos objetos históricos. Nesse sentido, o texto defende a construção de conceitos e situações-problema para o desenvolvi- mento dos processos de argumentação e para a elaboração de argumentos que levem o aluno a explicar sua própria realidade e a do outro, desen- volvendo nele uma percepção maior acerca da condição humana em suas diferentes realidades (KARNAL, 2004). Contudo, o texto do documento fala pouco sobre a problematização desses objetos. Acerca do processo de identificação, a BNCC busca estimular os alunos a questionarem o objeto histórico a partir de indagações como: quais os signi- ficados deste objeto ao longo do tempo? De que ele é feito? Para quem e por quem foi feito?, ampliando a compreensão sobre o processo de elabo- ração do documento e das relações sociais. Em relação aos procedimentos de comparação, o documento determina o exercício da alteridade. A etapa da contextualização permite que o aluno localize o objeto histórico no tempo e no espaço. O processo de interpretação, por sua vez, desenvolve o criticismo. Em última instância, a análise crítica do objeto histórico pede a problemati- zação da escrita da história, exigindo habilidades mais complexas (FRANCO et al., 2018). Para os anos iniciais do ensino fundamental, a BNCC define nove compe- tências específicas para o ensino de história, responsáveis pelo reconheci- mento dos diferentes sujeitos. Elas consistem na descrição e seleção dos registros de memória produzidos em tempos e espaços distintos; no estabele- cimento de relações entre sujeitos no diferentes espaços e tempos; no sequen- ciamento dos acontecimentos históricos de forma linear; na elaboração de hipóteses, questionamentos e argumentos; na identificação de possíveis interpretações que tragam diferentes visões de mundo; na descrição, análise e comparação dos processos históricos; na compreensão sobre os movimentos populacionais; e na problematização acerca dos conceitos específicos ao conhecimento historiográfico (BRASIL, 2017). Nesse sentido, o ensino de história é moderado a partir de três proce- dimentos primordiais: a identificação dos acontecimentos mais relevantes 26 para a história da América, da África e da Europa, organizando-os no espaço geográfico e em uma linha cronológica; o desenvolvimento de condições para a seleção, a compreensão e a reflexão por parte dos alunos acerca dos sentidos dos usos, da produção e da circulação desses documentos; e, por fim, a interpretação das diversas versões de um mesmo objeto histórico. Para essa finalidade, a BNCC divide-se em unidades temáticas, objetos de conhe- cimento e habilidades, que devem ser trabalhadas em cada ano do ensino fundamental. Nos anos iniciais, as temáticas selecionadas são aquelas já tradicionalmente prescritas para os currículos, como a história da criança, a história da família, a história da escola, a história comunitária, além das noções de patrimônio histórico e de tempo físico e cronológico. Ainda que a questão da diversidade seja um tema muito presente na BNCC para os anos iniciais do ensino fundamental, ela é estabelecida a partir do olhar da naturalização da identidade e da diferença (SILVA, 2000, p. 85). Em diversos momentos, o documento toma as diferenças como elementos dados na vida social, sem questioná-los como processos culturais ou dentro de embates de poder. Mais do que identificar e respeitar a diversidade, uma das propostas do ensino de história é que o aluno reconheça a construção histórica das diferenças e as relações de poder imbricadas nesse processo, responsáveis por privilegiar determinados grupos e submeter outros. Reflita Naturalizar uma questão é considerá-la como da ordem da natureza, sem intervenção da cultura ou das relações de poder. Qual é o problema da naturalização das diferenças para o ensino de história? A partir do momento em que os conteúdos propostos pela BNCC nas unidades temáticas mantêm a perspectiva eurocêntrica, eles tratam as culturas americanas e africanas de forma marginal, sugerindo a existência de uma “história oficial e normativa” e de “outras histórias”, mantendo o olhar sobre o colonizado como membro de uma cultura naturalmente subalterna. Quais os perigos de aceitar a naturalização das diferenças em uma sociedade? Por que é importante relativizar com os alunos a construção das diferenças étnicas, de gênero e sociais a partir da história para a delimitação de uma sociedade mais justa e igualitária? Sem medo de errar Em conjunto, a professora Lídia (responsável pelo componente curricular de história para a educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental) e a coordenadora da área de humanidades estudaram a Base Nacional Comum 27 Curricular e estabeleceram os objetivos principais para os programas de história: na educação infantil, tais objetivos são sintetizados a partir do cumprimento dos seis direitos de aprendizagem, enfatizando o desenvol- vimento do aluno de forma integral, empregando a história por meio do diálogo com as situações concretas e as experiências da vida cotidiana da criança, dentro dos cinco campos de experiência. Já para os anos iniciais do ensino fundamental, esses objetivos devem ser guiados para a construção do sujeito, para o estabelecimento das figuras do “eu”, do “outro” e da identidade coletiva, além do reconhecimento das noções de tempo e espaço, utilizando como referência a comunidade de pertencimento do aluno. Nas duas etapas da educação básica, as duas professoras devem levar em consideração as 10 competências gerais estipuladas pela BNCC. A partir da determinação desses objetivos, as professoras Lídia e Alice devem se atentar para a criação de um programa de curso para a educação infantil que desenvolva os seis direitos fundamentais na criança (conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se), além de trabalhar os cinco campos de experiência fundamentais (Eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação e Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações). Para a reformulação dos programas de curso dos anos iniciais do ensino fundamental, as professoras precisam observar as nove competências especí- ficas de história para essa etapa da educação, que consistem: • Na descrição e seleção dos registros de memória produzidos em tempos e espaços distintos. • No estabelecimento de relações entre sujeitos nos diferentes espaços e tempos. • No sequenciamento dos acontecimentos históricos de forma linear. • Na elaboração de hipóteses, questionamentos e argumentos. • Na identificação de possíveis interpretaçõesque tragam diferentes visões de mundo. • Na descrição, análise e comparação dos processos históricos. • Na compreensão sobre os movimentos populacionais. • Na problematização acerca dos conceitos específicos ao conheci- mento historiográfico. • Nas habilidades específicas para cada ano (que contêm os conteúdos a serem ensinados). 28 Avançando na prática A promoção da inclusão por meio do ensino de história Durante a elaboração dos programas de curso de história dos anos iniciais do ensino fundamental, a coordenadora Alice e a professora Lídia realizaram um mapeamento dos alunos que iriam compor as turmas de primeiro ao quinto ano. Como o colégio tem realizado um programa de bolsas de estudo, oferecendo gratuidade para alunos com talentos diferenciados vindos de comunidades carentes próximas ao bairro onde se localiza, as professoras perceberam que os grupos dos anos iniciais do ensino fundamental seriam compostos por alunos oriundos de uma grande diversidade étnica, cultural e social. Quais estratégias elas podem utilizar para desenvolver o respeito às diferenças e a lógica da alteri- dade nas turmas dos anos iniciais do ensino fundamental? Como a proposta da BNCC pode auxiliá-las nessa tarefa? Quais cuidados elas precisam tomar? Resolução da situação-problema Para realizar o trabalho com as diferenças e as múltiplas identidades presentes nas turmas dos anos iniciais do ensino fundamental, as professoras Lídia e Alice devem priorizar o trabalho com as competências gerais que visam desenvolver no aluno a consciência de si e de seu meio, colocando-as em diálogo com as competências específicas de história, que permitem ao grupo o reconhecimento da identidade individual, da identidade coletiva e das diferenças. A BNCC tem como um de seus principais objetivos para os anos iniciais do ensino fundamental garantir que o aluno se reconheça em sua comunidade de pertencimento e em seu mundo. Cabe ressaltar que as duas professoras precisam mostrar para os grupos como se deu a construção histórica das diferenças, esclarecendo aos alunos que as diferenças não são naturais, incentivando-os a perceber a importância das diferenças como forma de complementar e unir os membros de uma mesma sociedade. Faça valer a pena 1. A Base Nacional Comum Curricular, aprovada em dezembro de 2017, criou uma série de determinações para a educação infantil e para o ensino fundamental. Dentre essas determinações, estão um conjunto de capacidades para a mobilização 29 de atitudes, valores e conhecimentos, buscando resolver as demandas cotidianas, garantir o exercício da cidadania e responder às necessidades do mundo do trabalho, que são válidas para todos os componentes curriculares. Estas capacidades são dispostas na BNCC com o nome de: a. Habilidades. b. Objetivos gerais. c. Competências gerais. d. Competências específicas. e. Campos de experiência. 2. A Base Nacional Comum Curricular trouxe uma série de transformações para a educação infantil, trazendo uma grande mudança curricular ao considerar a criança como produtora da cultura e da sociedade na qual está inserida. Leia com atenção as afirmativas a seguir acerca das prerrogativas da BNCC para o ensino de história na educação infantil, julgando com V para as verdadeiras e um F para as falsas. ( ) Através do direito de conviver, a história estimula o desenvolvimento de atividades que promovam o conhecimento de outras culturas e o reconhecimento da identidade da criança, desenvolvendo seu olhar sobre si mesma e sobre o mundo ao seu redor. ( ) De acordo com a BNCC, ainda que a criança seja produtora de conhecimento, ela não deve ter participação ativa no planejamento das atividades da educação infantil. Assim, a escolha dos materiais, das atividades e dos ambientes deve ser realizada exclusivamente pelos professores e gestores. ( ) A história é a responsável pela construção da identidade individual, cultural e social da criança, permitindo que ela crie uma imagem positiva de si mesma e de sua comunidade de pertencimento, ainda que não trabalhe com a autoexpressão e não dialogue com o desenvolvimento criativo e sensível do aluno. ( ) O ensino de história torna-se questão primordial para o trabalho com os campos de experiência, a partir do momento em que age como ferramenta auxiliar na construção da identidade da criança e no reconhecimento das diferenças, permite a expressão do aluno através de diversas linguagens, estimula o aluno a falar e ouvir e situa o educando em seu universo sociocultural. Assinale a alternativa com a sequência correta: a. F – F – V – V. b. F – V – F – V. 30 c. V – V – F – F. d. V – F – V – F. e. V – F – F – V. 3. A Base Nacional Comum Curricular criou um conjunto de determinações para o trabalho com cada componente curricular: são as competências específicas, as habilidades e os objetivos. Para os anos iniciais do ensino fundamental, o documento sugere que o ensino de história enfatize a transmissão e a produção do conhecimento como uma atividade dinâmica, flexível e interdisciplinar, reconhecendo a estreita ligação entre a vida social e os saberes escolares. Leia com atenção as afirmativas a seguir acerca das determinações da BNCC para o ensino de história nos anos iniciais do ensino fundamental: I. O documento define cinco processos fundamentais para o trabalho com o componente curricular: a identificação; a comparação; a contextualização; a interpretação e a análise crítica dos objetos históricos. II. A BNCC define como objetivo principal do ensino de história nos anos iniciais do ensino fundamental a ênfase ao desenvolvimento do aluno de forma completa, para além somente de sua aprendizagem escolar, dentre os quais estão contemplados os direitos éticos (como o de brincar e da convi- vência), os estéticos (como o da autoexpressão e da exploração do mundo) e políticos (como o autoconhecimento e a participação). III. Para os anos iniciais do ensino fundamental, a BNCC define cinco competên- cias específicas para o ensino de história, responsáveis pelo reconhecimento dos diferentes sujeitos. Assinale a alternativa correta: a. Apenas I é verdadeira. b. Apenas II é verdadeira. c. Apenas III é verdadeira. d. Apenas I e III são verdadeiras. e. Apenas II e III são verdadeiras. 31 Seção 3 Os objetivos da BNCC para o ensino de geografia nas séries iniciais Diálogo aberto De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, cada componente curricular deve trabalhar com um conjunto de competências específicas e com vários objetivos de aprendizagem (as habilidades), que são próprios para cada etapa da educação básica, para além das 10 competências gerais (que são comuns a todos os componentes curriculares). As competências específicas compõem as aptidões a serem desenvolvidas pelos estudantes para o diálogo com suas questões cotidianas, enquanto as habilidades devem trazer respostas para os conteúdos de cada etapa. Além disso, há ainda as unidades temáticas, que agregam os valores e objetivos gerais a serem traba- lhados de forma gradativa em todas as etapas. No colégio em que a professora Alice assumiu a coordenação da área de humanidades, a professora Sandra é a responsável pelo desenvolvimento das atividades do componente curricular de geografia, ministrando as aulas para a educação infantil e para as séries iniciais do ensino fundamental. A coorde- nadora Alice e a professora Sandra se reuniram para discutir as possíveis estratégias de trabalho com o componente curricular e para propor aborda- gens mais adequadas para o ensino de geografia dentro das novas orientações designadas pela Base Nacional Comum Curricular. Para que a proposta de trabalho com o componente curricular na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental esteja de acordo com os padrões estabelecidos pela Base Nacional Comum Curricular, quais tecnolo- gias (digitais ou não) a professora Alice pode sugerir para que a professoraSandra desenvolva o trabalho com as aulas de geografia? E quais laços as duas professoras podem desenvolver para propor uma abordagem interdisciplinar no desenvolvimento de importantes objetivos desse componente curricular? Não pode faltar 1. A Base Nacional Comum Curricular e o ensino de geografia: os recursos e as competências específicas 32 A Base Nacional Comum Curricular reformulou a abordagem sobre o ensino de geografia na educação básica, dispondo o componente curricular desde a educação infantil e propondo que ele se transforme numa ferramenta importante para a percepção e a análise crítica da realidade do aluno. Para que isso seja possível, o documento propõe o desenvolvimento de dois conceitos principais em todas as etapas da aprendizagem de geografia: o pensamento espacial e o raciocínio geográfico, que devem ser trabalhados por meio de cinco unidades temáticas, subdivididas em objetos de conhecimento e em objetivos de aprendizagem (as habilidades), organizando a construção grada- tiva dos conhecimentos geográficos mediante várias linguagens diferentes (ALMEIDA, 2017). A principal proposta da BNCC é permitir que o aluno aprenda a captar as informações do espaço vivido, dos lugares e paisagens pelos quais transita, compreendendo como seu entorno foi construído e modificado pelas relações entre o homem e a natureza. Assimile A principal inovação proposta pela BNCC para o ensino de geografia é a ênfase na aplicação do raciocínio geográfico, um conceito que pode ser definido como a possibilidade de estabelecer relações em variadas escalas geográficas, entre os processos e fenômenos no tempo e no espaço, permitindo ao aluno explicar o cotidiano, a vida e o mundo ao seu redor, articulando uma série de recursos para formular esta visão de mundo. Buscando desenvolver este novo modo de entender o espaço, a BNCC propõe sete recursos específicos para o trabalho em sala de aula. O primeiro deles é a analogia, a partir do qual é possível comparar fenômenos e aconteci- mentos que ocorrem em dois ou mais locais, compreendendo suas caracterís- ticas comuns (definindo os princípios de um tsunami ou de um maremoto, por exemplo) ao mesmo tempo em que investiga as diferentes consequências de fenômenos semelhantes em espaços diferentes. Isso se dá por meio da análise das condições geográficas e geológicas de cada ambiente, das formas de ocupação do espaço, das dinâmicas de construção dos edifícios e dos mecanismos prote- tivos diversos, entendendo as particularidades de cada região e as potenciali- dades para a ocorrência de novos episódios na mesma área, facilitando, assim, a sua compreensão e mapeamento (CASTELLAR, 2017). O segundo recurso é a diferenciação, que busca explicar as particulari- dades de cada área a partir de suas características locais e individualizando as regiões. Trata-se de um princípio relacionado à analogia. A conexão é o terceiro recurso, responsável por interligar os aspectos humanos e naturais do espaço geográfico, unindo suas diversas escalas geográficas (local, regional, 33 nacional, internacional e global) e concebendo as diferentes espacialidades e temporalidades por meio da leitura o espaço geográfico de forma completa (CAVALCANTI, 2012). O quarto recurso é a distribuição e se relaciona à ocupação do espaço e às características da natureza. Deve ser apropriado pelo aluno como um princípio para a leitura e compreensão do mundo de forma ampla, buscando definir o espaço geográfico por meio de questio- namentos sobre onde se localizam as cidades, a infraestrutura, as estradas, os elementos naturais, os solos férteis e o que está disposto em cada área (SEEMANN, 2012). A extensão é o quinto recurso proposto pela BNCC para o ensino de geografia e permite que o aluno reflita sobre o espaço a partir de outra perspectiva, questionando a extensão territorial de um município ou de uma área florestal, comparando o tamanho de uma pequena propriedade campe- sina ao de um latifúndio, além de levar à reflexão acerca da dimensão de um fenômeno natural, como uma enchente. O sexto recurso, a localização, relaciona-se à identificação dos objetos territoriais no espaço, garantindo que os alunos diferenciem os conceitos de lugar (estabelecido a partir das relações sociais criadas, sendo determinado pelo sentimento de pertenci- mento, pela identidade e pela afetividade) e de local (definido pelas coorde- nadas geográficas como uma referência fria, sem relação com a sociedade). O último recurso é a ordem, que busca relacionar as formas de utilização do território com um novo olhar sobre seu ordenamento. Sugere-se ao professor crie práticas para que os alunos entendam o conjunto de políticas públicas de planejamento territorial, que são necessárias para que se passe por determinado caminho para alcançar uma localidade e não por outro, permitindo uma análise crítica sobre as finalidades políticas que influenciam a construção de obras públicas e os fluxos migratórios. Esses recursos devem ser utilizados para o trabalho com as sete compe- tências específicas de geografia para o ensino fundamental, sugeridas pela Base Nacional Comum Curricular como instrumentos norteadores do componente curricular. Em primeiro lugar, os conhecimentos geográficos devem ser utilizados para a compreensão da interação entre a sociedade e o meio físico natural, permitindo que o aluno exercite o espírito cientí- fico e a resolução de problemas. Ele também deve conseguir criar conexões entre as diversas temáticas do conhecimento geográfico, considerando a relevância dos objetos técnicos para compreender como o homem se utilizou dos recursos naturais em diversos momentos históricos. Por meio dos sete recursos, acredita-se que o aluno pode desenvolver seu senso crítico e sua autonomia para entender e aplicar o raciocínio geográfico na produção do espaço e para examinar a ocupação do homem sobre o território. O estudante também precisa desenvolver o pensamento espacial, utilizando-se 34 de diversas linguagens, buscando resolver problemas relacionados às infor- mações geográficas e, para isso, ele precisa receber a alfabetização cartográ- fica. Os recursos também devem ajudar o aluno a desenvolver e a usar as práticas e processos de pesquisa para entender o mundo econômico, social, político, natural, técnico-científico e informacional, propondo questões e soluções para os problemas que busquem conhecimentos geográficos. A BNCC também propõe que o componente curricular busque construir argumentos a partir da defesa de ideias, debates e informações geográficas, desenvolvendo pontos de vista para a promoção do respeito à biodiversidade, da alteridade e da consciência ambiental, ajudando a acabar com qualquer tipo de preconceito. Por fim, o ensino de geografia deve promover a resili- ência, a ação individual e coletiva com responsabilidade e autonomia, a flexi- bilidade e a determinação, a partir de preceitos solidários, sustentáveis, éticos e democráticos. Saiba Mais As competências específicas para o ensino de Geografia e as habili- dades dispostas para os anos iniciais do Ensino Fundamental, bem como o trabalho realizado com o componente curricular na Educação Básica, dialogam diretamente com as disposições da Agenda 2030 para o Desen- volvimento Sustentável, um plano de atividades assinado por diversas nações em setembro de 2015, cujos objetivos principais são a erradicação da pobreza, a garantia da prosperidade e da paz, além da proteção da Terra. Ela determina 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que devem ser tomados por todos em todas as partes do mundo. 2. O ensino de geografia na educação infantil por meio dos pressupostos colocados pela BNCC A proposta da Base Nacional Curricular Comum para a educação infantil trouxe uma grande inovação em relação aos documentos anteriores ao definir seis direitos de aprendizagem para os alunos de 0 a 5 anos e reconhecer esta etapa essencial para a formação da criança. O documentopropõe que o professor leve esses direitos em consideração sempre que for propor uma experiência ou uma vivência, considerando-os como elementos fundamen- tais no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, a educação infantil passa a ser tratada como um momento muito importante para a construção da subjetividade e da identidade do indivíduo, que deve desenvolver as habili- dades para a formulação de perguntas, criar possibilidades de observações, 35 elaborar narrativas e hipóteses e começar a refletir sobre o universo que o rodeia (LOPES; MELLO, 2017). O documento também orienta sobre a importância da participação do aluno de forma ativa no planejamento das principais atividades e na produção do conhecimento, visto que a Base Nacional Comum Curricular passa a ver a criança como produtora ativa do conhecimento na educação infantil. As atividades desenvolvidas no componente curricular de geografia devem priorizar a utilização de diversas fontes e a produção de tipos diferentes de trabalhos, como a construção de maquetes e cartazes das paisa- gens do entorno dos alunos, que devem participar ativamente da escolha dos materiais. O ensino de geografia também é essencial para o desenvolvimento do direito de explorar, visto que expande os conhecimentos das crianças acerca dos diversos espaços e sobre seus usos ao longo do tempo, discutindo as interações do homem com a natureza em diferentes lugares, em vários intervalos de tempo. O quinto direito fundamental proposto pela BNCC é o da autoexpressão, definindo o aluno como um sujeito dialógico e sensível, transformando a geografia no componente curricular responsável por conscientizá-lo sobre as determinações do espaço em que vive, da região de origem e das forças que agem sobre sua comunidade de pertencimento. Por fim, o ensino de geografia é um dos responsáveis pelo desenvolvimento da identidade indivi- dual e social da criança, pelo sentimento de alteridade e pela elaboração de uma imagem positiva de si mesma e de seu entorno (BRASIL, 2017). Exemplificando Uma das propostas para o ensino de geografia na educação infantil consiste na reprodução de diversos lugares de convivência dos alunos por meio de formas de representação geográfica. Com o auxílio do professor, os alunos devem escolher os principais lugares de sua comunidade de pertencimento (como a casa, a escola e o parque), elaborando desenhos, maquetes e mapas simplificados, dentre outras possiblidades, reunindo-as em um compêndio que deve guiar o início da alfabetização cartográfica dos alunos. Com esta atividade, o grupo passa a reconhecer e a valorizar os diversos espaços de sua convi- vência, aprendendo os principais conceitos do raciocínio geográfico, transformando-se em produtores de conhecimento, de acordo com as demandas da BNCC para a educação infantil. A Base Nacional Comum Curricular também criou os campos de experi- ência, cada um deles com objetivos de aprendizagem direcionados para 36 três grupos etários diferentes (os bebês, as crianças menores e as crianças maiores). Essas divisões não possuem caráter curricular, mas devem ser encaradas como um auxílio para o planejamento das atividades pelo professor. Nesse sentido, a geografia se torna uma ferramenta útil para a construção da identidade do aluno e para o reconhecimento do outro, permitindo que ele compreenda e respeite as diferenças ao se trabalhar campo “O eu, o outro e o nós”. O componente curricular também auxilia na produção de conhe- cimentos e na criação de relações sobre a comunidade cultural e social à qual o aluno pertence, dentro do campo “Corpo, gestos e movimentos”. Por meio da geografia, o aluno pode ter muitos tipos de experiências e conhecer várias linguagens, incluindo a cartográfica e a geográfica, desenvolvendo o campo “Traços, sons, cores e formas”. Ao permitir a criação de debates e do trabalho em grupo, a geografia também proporciona o desenvolvimento das habilidades do falar e do ouvir o outro, contribuindo para o campo “Escuta, fala, pensamento e imaginação” – para o qual o desenvolvimento da alfabe- tização geográfica é muito importante. Por fim, ao situar criança no tempo e no espaço vivido e construído, a geografia permite que a criança compre- enda as relações de parentesco e da sociedade em que vive, levando à organi- zação do campo “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações” (JULIAZS, 2017). 3. A BNCC e o ensino de geografia nos anos iniciais do ensino fundamental: as unidades temáticas A Base Nacional Comum Curricular determinou um sistema específico para o componente curricular de geografia, no que tange ao trabalho com as competências específicas e com as habilidades. O ensino de geografia em todo o ensino fundamental deve ser norteado a partir de cinco unidades temáticas, que foram estabelecidas com o objetivo de incentivar o aluno a expandir sua visão de mundo e a entender as relações que determinam a realidade a partir de um viés crítico, ultrapassando somente a preocupação com transmissão dos conteúdos (AZEVEDO; LASTÓRIA, 2018). Cada uma das cinco unidades temáticas deve ser trabalhada de forma progressiva, tendo objetivos e conteúdos sugeridos para cada etapa do desenvolvimento do aluno. A primeira das unidades temáticas, intitulada O sujeito e seu lugar no mundo, nos anos iniciais do ensino fundamental, tem como principal objetivo o desenvolvimento de elementos identitários e de noções de perten- cimento. Por meio dessa unidade, o professor é chamado a criar brincadeiras e jogos para proporcionar maior aprofundamento dos estudantes acerca de si mesmos, de sua família e da comunidade em que vivem, ampliando, assim, as experiências das crianças com os conceitos de tempo e de espaço. Nesse sentido, o professor deve garantir que os alunos compreendam como ocorrem as dinâmicas que formatam suas relações sociais, de gênero e étnicas, para que aprendam a respeitar os diversos cenários socioculturais e se identifi- quem melhor com a própria comunidade. O professor deve, ainda, oferecer ferramentas para que seus alunos construam suas identidades a partir das relações com o outro, valorizando seu passado e sua memória vivenciada em espaços distintos. Assim, conforme forem se alfabetizando, os alunos vão expandindo a compreensão que possuem sobre o mundo. A unidade temática também permite ao professor o estímulo ao desenvolvimento do raciocínio geográfico e das relações espaciais projetivas, topológicas e eucli- dianas, de grande importância tanto para o aprendizado de diversas lingua- gens (por meio do pensamento espacial e das várias formas de representação) como para os processos de alfabetização cartográfica (GUIMARÃES, 2018). Pesquise mais O conceito de espaço é muito abstrato e, por isso, os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental podem apresentar dificuldades para assimilá-lo. Nesse sentido, é importante que os conhecimentos cartográficos sejam ensinados a partir de um processo que envolva a realidade dos estudantes, seu espaço concreto, percebido e vivido. Tal processo é conhecido como alfabetização cartográfica e é parte fundamental do ensino de geografia. Para saber mais sobre como esse processo se desenvolve, confira: • ALMEIDA, L. C. de; NOGUEIRA, R. E. Iniciando a alfabetização cartográ- fica. Extensio: Revista Eletrônica de Extensão. V. 6, n. 7. Florianópolis: UFSC, 2009. p. 117-125. • PISSINATI, M. C.; ARCHELA, R. S. Fundamentos da alfabetização carto- gráfica no ensino de Geografia. Geografia. v. 16, n. 1, jan./jun. 2007. Londrina: Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Geociências, 2007. p. 169-195. O foco da segunda unidade temática é articular as diferentes escalas de análise com os diversos espaços, discutindo as possíveis relações entre o nível global e o nível local. Sob o título de Conexões e escalas, a unidade busca estimular os alunos a entenderem as múltiplas interações existentes entre as sociedades e a natureza, permitindo
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