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PRINCÍPIO DA AUTONOMIA SINDICAL NO BRASIL

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PRINCÍPIO DA AUTONOMIA SINDICAL APLICADO AO DIREITO 
COLETIVO DO TRABALHO NO BRASIL 
 
A entidade sindical refere-se a uma pessoa jurídica de direito privado, formada 
por membros de uma profissão ou de empregadores, organizada para defender interesses 
comuns, como por exemplo, melhorias no ambiente de trabalho e reajuste salarial por 
categoria, como explicitado na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) nos artigos 
513 e 514. 
O exercício sindical é orientado por dois princípios, a liberdade e a autonomia 
sindical. A Autonomia Sindical é a possibilidade de atuação do grupo organizado em 
sindicato e não de seus componentes individualmente considerado. Foi postulada 
internacionalmente pelas Convenções Internacionais do Trabalho de números 87 e 98, 
mas teve de modo efetivo seus parâmetros legais na Carta Magna de 88, ou seja, em 
nossa Constituição Federal Brasileira, conforme seu texto expresso no artigo 8º. 
Estes mesmos princípios que norteiam os sindicatos no Brasil, surgiram 
também na Europa, como consequência de relações trabalhistas existentes durante a 
Revolução Industrial, que se formavam em razão da situação daqueles trabalhadores que 
se submetiam à condições desfavoráveis, em que a dignidade da pessoa humana não 
passava de ideias daqueles que não pertenciam à mesma classe. 
No Brasil, no início do século XX, onde o trabalho agrícola ainda era 
predominante, percebeu-se então a necessidade de estabelecer princípios protecionistas, 
criando a primeira legislação que resguardava o trabalhador rural, onde seria substituída 
a mão de obra escrava pelo trabalho assalariado. 
Com o surgimento do sindicato, os trabalhos seriam fiscalizados e 
possivelmente, cobrados do empregador o mínimo de respeito para com a classe 
trabalhadora, pois o sindicato tem a função de atuar na defesa dos direitos e interesses 
coletivos, inclusive em questões judiciais e administrativas. 
A autonomia sindical compreende alguns aspectos importantes de serem 
mencionados como: a liberdade de organização interna, a eleição para eleger livremente 
seus representantes, a junção com outro sindicato, tratar de questões profissionais e 
econômicas e filiar-se a outras organizações, inclusive internacionais. 
O princípio da autonomia sindical, ao logo da história jurídica e política 
brasileira sempre sofreu graves restrições, mas somente a partir de 1988, pôde-se 
sustentar que o princípio da autonomia sindical ganhou força na ordem jurídica do país, 
expandindo as prerrogativas de atuação, seja em questões judiciais e administrativas, 
tanto na negociação coletiva quanto na amplitude que assegura o direito de greve. 
Em 2017, o modelo corporativo de organização sindical no Brasil perdeu mais 
uma de suas sustentações com o fim da contribuição sindical obrigatória. A Reforma 
Trabalhista tornou facultativo o pagamento da contribuição sindical, basta verificar a 
nova redação dos artigos 578 e 579 da CLT, comparando com a anterior. 
Antiga redação: 
Art. 578 - As contribuições devidas aos Sindicatos pelos que 
participem das categorias econômicas ou profissionais ou das 
profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a 
denominação do “ imposto sindical”, pagas, recolhidas e aplicadas na 
forma estabelecida neste Capítulo. 
Art. 579 - A contribuição sindical é devida por todos aqueles 
que participarem de uma determinada categoria econômica ou 
profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato 
representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, 
na conformidade do disposto no art. 591. 
Redação atual: 
Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos 
participantes das categorias econômicas ou profissionais ou das 
profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a 
denominação de contribuição sindical, pagas, recolhidas e aplicadas 
na forma estabelecida neste Capítulo, desde que prévia e 
expressamente autorizadas. 
Art. 579. O desconto da contribuição sindical está 
condicionado à autorização prévia e expressa dos que participarem de 
uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma 
profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma 
categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do 
disposto no art. 591 desta Consolidação. 
 
Observa-se que as mudanças na reforma trabalhista provocaram um 
desregramento no que diz respeito à parte econômica sindical. Ao retirar a 
obrigatoriedade da contribuição sindical pelos associados, haverá o enfraquecimento 
financeiro dos sindicatos diminuindo a busca por maior representatividade junto à 
categoria em que representa. 
Outro ponto afetado pela Reforma Trabalhista é a vantagem do negociado sobre 
o legislado, que poderá vir a fragilizar as convenções em detrimento de acordos 
individuais ou coletivos entre empregados e empregadores. 
Com esse novo cenário após a Reforma Trabalhista de 2017 e baseado no que já 
foi exposto anteriormente, a intermediação e atuação dos sindicatos mediante a classe 
hipossufiente e a classe dos empregadores, diminuirá drasticamente, podendo o 
trabalhador voltar a ser vulnerável ao legislado. 
Com o enfraquecimento e desestruturação do poder de representatividade dos 
sindicatos frente aos trabalhadores, muitos deixaram de se filiar, diminuindo a receita 
necessária para sua atividade. 
Pode-se concluir então, que sem a atuação dos sindicatos, todos os trabalhadores 
estão sujeitos a uma negociação individual e expostos a condições de hipossuficiência 
na relação trabalhista, podendo tornar novamente precária as condições de trabalho e 
aumentando a desigualdade social. Destarte, com as mudanças impostas pela reforma de 
2017, a autonomia sindical fica inerente à atuações, podendo vir a necessitar de 
interferência privada ou até mesmo do Estado, perdendo assim sua essência de livre 
estruturação, livre atuação e desvinculação de controles administrativos estatais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16. ed. São Paulo: LTr, 2017. 
BARROS, Alice Monteiro. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2014. 
MARTINS, Sérgio Pinto. Comentários à CLT. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2004. 
Fundamentos de Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2012. 
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Convenção Relativa à Liberdade 
Sindical e à Proteção de Sindicalização. Convenção nº 87/OIT. São Francisco: Assembleia Geral das 
Nações Unidas, 1948.

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