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TEXTO 1.2 - tecnicas projetivas

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CAPITULO 4 
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E O USO DAS TÉCNICAS PROJETIVAS 
Monilly Ramos Araújo Melo 
 
 
 
Toda avaliação psicológica tem como objetivo fornecer informações, para que, a partir destas, sejam tomadas 
decisões. Existe uma variedade expressiva de instrumentos de avaliação psicológica gerados para a 
exploração de diversas variáveis e processos psicológicos. Cada tipo de instrumento oferece atributos positivos 
e limitações que o psicólogo deve considerar quando o inclui ou o exclui de um processo avaliativo. 
Independente da área de atuação, a atividade profissional do psicólogo vincula-se diretamente ao ato de avaliar 
e, na sociedade contemporânea, cada vez mais é solicitado ao psicólogo preciso avaliar fenômenos e 
comportamentos humanos em diferentes contextos e com alto grau de confiabilidade. 
As técnicas projetivas constituem um caso à parte dentro do espectro das técnicas de avaliação psicológica e 
é sobre suas especificidades que se pretende dissertar neste texto. 
As técnicas baseadas na projeção enfatizam os aspectos qualitativos e psicológicos do indivíduo avaliado, 
identificando tendências espontâneas, motivadas por necessidades implícitas (Villemor-Amaral; Werlang, 
2008). Considerando esta definição, fica clara a ideia de que a apreensão dos dados do mundo externo sempre 
será plasmada por componentes subjetivos. Dessa forma, as autoras salientam que é possível pensar que na 
capacidade de percepção de um individuo existe em um continnum, que pode ir desde a percepção totalmente 
objetiva da realidade até a distorção aperceptiva extrema, presente em alguns quadros psicopatológicos. 
Apercepção é o processo pelo qual uma experiência é assimilada e transformada pelo resíduo da experiência 
passada, ou seja, é a interpretação subjetiva da percepção objetiva de um estímulo (Villermor-Amaral; Werlang, 
2008). Este conceito pode ser tomado para sustentar a legitimidade da interpretação das técnicas projetivas 
por meio de outras abordagens teóricas é o de apercepção, que indica o processo pelo qual a experiência nova 
é assimilada e transformada pelo traço da experiência passada. Portanto, a apercepção é uma interpretação 
e, como tal, dá sentido à experiência do indivíduo, que pode, por sua vez, ser compreendida à luz de diferentes 
correntes teóricas. No momento em que o indivíduo responde a uma instrução, ele lançará mão de recursos 
próprios para realizar a tarefa proposta, construindo-lhe um sentido, a partir de sua subjetividade. Entra em 
jogo, então, além da projeção, a percepção, cognição, apercepção, inscrevendo essas técnicas em outras 
abordagens teóricas, que não exclusivamente a psicodinâmica. Nesse sentido, fica evidente que a forma com 
que cada indivíduo percebe e responde ao teste pode ser interpretada com base em outros parâmetros. 
Na tarefa de interpretação dos testes projetivos, cabe ao psicólogo desvendar as motivações inconscientes que 
se deflagram no momento em que as respostas são elaboradas porque frente a determinada situação, a forma 
como vai experimenta-la é de acordo com sua perspectiva pessoal, e é nisso que se traduz a estrutura de 
personalidade de cada indivíduo. Quando conta histórias, compõem imagens ou constrói formas, a pessoa 
utiliza-se de registros de vivências e imagens passadas para atualizar sua experiência, colocando em ação as 
formas com que lida com as situações de vida. Esse processo sinaliza não apenas como funciona o psiquismo 
da pessoa, mas, também, os elementos que o compõem, descortinando o seu dinamismo. 
As técnicas projetivas, como instrumentos que geram hipóteses interpretativas, são importantes ferramentas 
para a identificação de características e traços de personalidade, bem como de sinais e sintomas relacionados 
a quadros psicopatológicos. 
No processo de avaliação psicológica, Anastasi e Urbina (2000) tecem alguns comentários sobre o uso das 
técnicas projetivas pelo psicólogo. O primeiro deles diz respeito ao rapport e à sua aplicabilidade, destacando 
sua capacidade de funcionar como um “quebra-gelo” nos contatos iniciais com o indivíduo que esta sendo 
avaliado. Uma vez que os estímulos são pouco estruturados, não demandam, à primeira vista, respostas certas 
ou erradas, isso costuma reduzir seu constrangimento e sua postura, geralmente, defensiva em processos de 
avaliação. Como se utilizam de respostas orais a estímulos pictóricos, algumas técnicas podem ser de muita 
utilidade na avaliação de crianças pequenas ou pessoas que não leem. Além disso, aspectos não verbalizados 
do comportamento do indivíduo podem ser esclarecidos, inclusive, para ele próprio, através deste tipo de 
instrumento. Outro ponto destacado pelas autoras é a questão da fraude ou da simulação por parte do individuo 
avaliado. Como os estímulos não exprimem diretamente o objetivo da técnica, fica mais difícil para o individuo 
avaliado ‘controlar’ suas respostas e prever a maneira com que elas serão pontuadas e interpretadas, o que 
pode ocorrer com alguns instrumentos de autorrelato. Cabe destacar que mesmo com a possibilidade de fraude 
diminuída, o psicólogo deve ficar atento às inconsistências encontradas, comparando fontes de coleta de 
informações sobre o indivíduo, buscando sempre a intervalidação dos resultados. 
Mesmo destacando os pontos fortes e positivos das técnicas projetivas, parece importante mencionar que elas 
não tem a intenção de substituir os testes psicométricos no processo de avaliação. O estudo das características 
psicodinâmicas dos indivíduos, através de técnicas projetivas, conduz a informações distintas e que não podem 
ser alcançadas com os procedimentos quantitativos disponíveis (Villemor-Amaral; Werlang, 2008). Essas 
informações podem ser importantes para integrar o arsenal de profissionais interessados em conhecer e 
investigar profundamente os processos psicológicos. 
Considerando que em uma situação de avaliação de um indivíduo interessa-se pelas semelhanças e 
singularidades, em relação aos outros indivíduos, as técnicas projetivas são instrumentos privilegiados em sua 
natureza, justamente porque possibilitam que ambas as informações sejam alcançadas. 
Em se tratando de enfermidades mentais, quadros em que, muitas vezes há a associação de patologias, a 
avaliação psicológica traz como expectativa a possibilidade de aprofundar-se a compreensão dessas 
comorbidades, eluciando-se aspectos relativos a estrutura e ao funcionamento da personalidade. Para que este 
objetivo seja alcançado é preciso romper com o uso exclusivo dos sistemas de classificação diagnósticas 
vigentes (O Código Internacional de Classificação das doenças-CID 10 e o Manual de estatístico de diagnóstico 
mental – DSM-IV-R), assumindo uma postura teórica conceitual que busque compreender, também, os 
aspectos dinâmicos e estruturais da personalidade dos indivíduos. Nesse sentido, as técnicas projetivas e sua 
avaliação psicodinâmica possibilitam a integração de indicadores encontrados nos testes e elementos da 
história pessoal e do contexto de vida do individuo avaliado. 
Técnicas projetivas podem ser utilizadas na avaliação da personalidade e de outros elementos como, por 
exemplo, relações interpessoais e dinâmica familiar, que se mostrem importantes para a compreensão sobre a 
forma com que o indivíduo percebe determinadas cenas ou situações, que é influenciada pelo seu mundo 
interno. Essa ideia abre espaço para que as técnicas projetivas sejam utilizadas em outros contextos e não 
apenas na investigação da personalidade. Por isso, concorda-se que a eleição do instrumento que será utilizado 
em cada situação de avaliação deve ser pautada por três grupos de fatores: os objetivos da avaliação, a 
orientação teórica e a preparação do avaliador para o uso de determinada técnica, e as características do 
indivíduo como idade e outras peculiaridades. 
As semelhanças existentes entre as diversas técnicas projetivas residem no fato de que todassão reveladoras 
de material dinâmico, normal ou patológico, através da projeção. Entretanto, cabe lembrar que não somente na 
projeção é que se fundamentam as técnicas projetivas, uma vez que aquele fenômeno integra outros processos 
psicológicos em seu dinamismo que participam da estruturação do mundo interno do indivíduo e o auxiliam, 
igualmente, a modelar sua impressão e percepção do meio externo (Fensterseifer; Werlang, 2008) 
Considerando que as técnicas projetivas visam a favorecer intensamente o aparecimento do mundo interno do 
testando, justifica-se o uso de estímulos que contenham os elementos suficientes para eliciar uma resposta 
passível de ser avaliada. Por esse motivo, os estímulos utilizados em técnicas projetivas são de maneira geral 
pouco estruturados, propiciando o aparecimento de elementos do funcionamento interno do indivíduo, 
dificultando que ele se apoie e se refugie em informações ou dados convencionais e que podem ser, por ele, 
manipulados. O estímulo, assim, torna-se um veiculo para que o examinando represente, na tarefa, seus 
sentimentos e suas características de personalidade: é um símbolo, um objeto pleno de significado, que por 
mais concreto que seja enquanto desenho, história ou impressão solicitada ao indivíduo, somente adquire o 
significado que o completa quando associado à singularidade de suas características individuais – sua história 
de vida, sua personalidade e seus processos psíquicos (Bandeira et al., 2006). 
As técnicas projetivas mais conhecidas encontram-se geralmente classificadas em agrupamentos distintos 
devido ao tipo de estímulo e o tipo de tarefa solicitada. Assim, tem-se as técnicas de manchas de tinta, as 
técnicas temáticas, as técnicas gráficas e as técnicas baseadas em estímulos diversos, não passíveis de serem 
agrupadas pelos critérios expostos. Com o objetivo de explicitar o seu uso na avaliação psicológica serão 
brevemente expostas as especificidades de algumas dessas técnicas mais empregadas na atualidade. 
A técnica de interpretação de manchas de tinta de Rorschach é uma prova de avaliação psicológica composta 
por um conjunto de dez pranchas (cartões) com manchas de tinta, padronizadas (Rorschach, 1921 apud 
Arzeno, 1995), constituindo‐se em um instrumento de investigação da estrutura e dinâmica da personalidade. 
Quanto à estrutura, abrange tanto os estados quanto os traços da personalidade do individuo. Em relação à 
dinâmica, investiga suas características subjetivas, necessidades, atitudes, conflitos e preocupações que 
definem o modo como lida com as circunstâncias presentes em sua vida. A aplicação é individual e os cartões 
são apresentados um a um, sendo solicitado ao respondente que faça associações e diga o que podem parecer 
os estímulos apresentados. Frente às respostas obtidas, é possível desenhar um quadro amplo do 
funcionamento psicológico dos indivíduos, seguindo‐se específicos sistemas avaliativos. A abordagem às 
informações coletadas frequentemente adotada é o Sistema Compreensivo para a codificação, interpretação e 
análise dos resultados. As variáveis estruturais da técnica compreendem as seis dimensões do comportamento 
humano – o modo como os indivíduos abordam as experiências e percebem os estímulos, como modulam o 
afeto, como lidam com o estresse, como percebem, como organizam o pensamento e como se relacionam com 
os demais. Este método de investigação pode ser considerado um instrumento tanto projetivo como objetivo, 
uma vez que envolve uma tarefa de estruturação que inclui um conjunto de estímulos uniformes, aplicação 
padronizada, codificação com base em normas pré-estabelecidas e diretrizes interpretativas específicas. 
Também é constituído por um estimulo a capacidade de fantasiar, que permite a exploração subjetiva de 
imagens temáticas que envolve a projeção (ARZENO, 1995). 
Considerando as técnicas temáticas o Teste de Apercepção Infantil com Figuras de Animais – Children’s 
Apperception Test - CAT-A (CUNHA, 2000) tem sido frequentemente utilizado na prática clínica e na pesquisa 
no campo da avaliação psicológica. É composto por uma série de 10 pranchas com figuras de animais em 
várias situações humanas, pretendendo com elas chegar à compreensão da criança em relação com o seu 
mundo externo (figuras importantes) e mundo interno (impulsos e fantasias). Destina-se a crianças de 3 a 10 
anos de ambos os sexos e é analisado a partir de dez variáveis que devem ser observadas em cada história, 
são elas: o tema principal; herói principal; as principais necessidades e impulsos do herói; concepção do 
ambiente; como as figuras são vistas; os conflitos significativos; a natureza das ansiedades; as principais 
defesas; adequação do superego; a integração do ego. 
Dentre as técnicas gráficas, os desenhos fornecem dados menos suscetíveis a várias das distorções e 
restrições que afetam a comunicação verbal, em geral, a tarefa é simples e familiar, provocando menos 
ansiedade. O procedimento de Desenhos – Estórias (abreviadamente, D – E) é uma técnica gráfica de 
investigação da personalidade, esta emprega, basicamente desenhos livres associados a estórias, que eles 
contam também de modo livre, servindo como estímulos de apercepção temática no contexto de diagnóstico 
psicológico de tipo compreensivo. Este instrumento de investigação foi introduzido por Walter Trinca, em 1972, 
no intuito de explorar profundamente a dinâmica inconsciente da personalidade, especialmente queixas e 
outras angústias emergentes em dada situação. Ao resultado desta técnica, os desenhos que eliciam as 
estórias e formam um todo, soma-se ainda a utilização de inquérito para obter alguns esclarecimentos, sendo 
finalmente solicitado um título ao material produzido. O uso do D – E expressa-se com grande valor não 
somente na detecção de componentes das experiências subjetivas, mas também no reconhecimento das 
características formais e estruturais da personalidade. A avaliação baseia-se na análise a partir do conjunto da 
produção (desenhos – estórias, respostas aos inquéritos e outras associações), são levantadas hipóteses 
referentes às angústias e conflitos predominantes, à natureza dos impulsos, das fantasias inconscientes, dos 
vínculos mais significativos, das defesas mais utilizadas, entre outros aspectos. Esses aspectos são 
relacionados com as queixas. 
Acerca das técnicas gráficas com estímulos diversos, o Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister (TPC) tem se 
destacado como recurso pertinente à abordagem projetiva na avaliação psicológica: compreende em um jogo 
com três cartões em papel bege com um esquema de pirâmide desenhado em cada um deles (Villemor-Amaral, 
2005), sendo que a forma padrão da pirâmide possui uma direção que se orienta da base para o ápice, estando 
subdivida em 15 campos, podendo sugerir tridimensionalidade. Além disso, há um conjunto de quadrículos 
coloridos nas cores verde, azul, vermelho, amarelo, laranja, marrom, violeta, preto, cinza e branco, distribuídas 
em 24 tonalidades diferentes e a folha de aplicação. As vantagens do TPC são evidenciadas pelo fato de ser 
uma técnica não verbal, com características lúdicas, que requer um tempo curto de aplicação (de 15 a 20 
minutos) e pode ser aplicado em qualquer pessoa com idade superior a 7 anos. Trata-se de um instrumento de 
fácil aplicação, na qual é solicitado que o testando preencha um esquema de pirâmide com quadrículos 
coloridos de diferentes tonalidades para que fiquem bonitas ao seu gosto. Após o preenchimento da primeira 
pirâmide é solicitado que preencha outra e depois uma terceira pirâmide. Ao término da terceira pirâmide 
preenchida é realizado um inquérito para verificar a preferência do examinando pelas pirâmides (Villemor-
Amaral, 2005). Recomenda-se que os dados sejam analisados com base nos indicadores processo de 
execução, que reflete o modo como a pessoa aborda a tarefa. Os indicadores permitem que se conheçam 
aspectos da dinâmica afetivae emocional, bem como das funções estruturais e cognitivas do examinando. Ou 
seja, o teste permite verificar se o examinando reage aos estímulos emocionais com menor ou maior controle 
das funções cognitivas (ARZENO, 1995). 
Seguindo o percurso histórico do conceito de projeção, fica clara a sua relação com a teoria psicanalítica, o 
que, em um primeiro olhar, aplica-se também às técnicas projetivas. No entanto, atualmente, alguns autores 
tem usado outras abordagens teóricas para a interpretação de técnicas de cunho projetivo, as quais tem 
demonstrado sua utilidade. Como exemplo pode ser citado o uso do TAT em uma abordagem gestaltica ou 
simplesmente através da técnica da análise de conteúdo (AZEVEDO, 2002) a partir do que o indivíduo relata. 
O uso da teoria sistêmica para a interpretação das respostas dadas à uma técnica projetiva também pode ser 
citado como outro exemplo. A leitura que se fará do material produzido pelo individuo é orientada por 
pressupostos sistêmicos, revelando, além dos seus conteúdos intrapsiquícos singulares, a forma com que ele 
percebe e discrimina o jogo interativo entre os demais membros da família (Osório, 2002). Em tempos de 
utilização da testagem computadorizada Valle (2002) utilizando o computador como um recurso de avaliação 
visava diferentes objetivos, entre eles o projetivo, uma vez que a tela funcionava como um estímulo à projeção, 
um espaço onde o indivíduo poderia expressar seus sentimentos e conflitos internos. 
Observa-se, então, que as técnicas projetivas tem um papel definido nos processos de avaliação psicológica e 
que, por essa razão, a preocupação coma a qualidade das informações geradas por esses instrumentos deve 
ser considerada e é pertinente somar esforços no sentido de submetê-los a estudos e pesquisas sobre suas 
qualidades psicométricas, fortalecendo seu status científico. Villemor-Amaral e Werlang (2008) compartilham 
dessa posição salientando que é falsa a ideia de que pouca validade e pouca confiabilidade lhes são 
características inerentes. 
Uma forma de se aproximar dessa garantia é sempre basear as interpretações nos fundamentos teóricos da 
técnica e em dados de pesquisas, considerando conhecimentos gerais da Psicologia, como, por exemplo, as 
fases de desenvolvimento humano. 
Com a Segunda Guerra Mundial o entusiasmo que cercou o advento das técnicas projetivas pode ser 
sintetizado em dois fatores: o fato de que os testes valorizados na época anterior, principalmente na área militar 
e da indústria, já não pareciam tão úteis e adequados para a avaliação de problemas clínicos (como por 
exemplo, psicose, neurose), e a valorização atribuída pela comunidade psiquiátrica ao entendimento dinâmico. 
Entretanto, a crescente necessidade de criação de classes para análise formal e validação de técnicas 
projetivas, exigiu a maior concentração de uma teoria da psicologia projetiva, sugerindo e explicitando conceitos 
claros para condutas e para a personalidade, passíveis de verificação. A partir de então, as técnicas projetivas 
começaram a apresentar certo declínio em seu uso, por problemas metodológicos, pelo incremento de 
pesquisas com instrumentos psicométricos alternativos, como os inventários de personalidade, por sua 
associação com uma perspectiva teórica, notavelmente a psicanalítica, e pela ênfase na interpretação intuitiva 
apesar dos esforços para o desenvolvimento de sistemas de escore (CUNHA, 2000). 
É certo que as concepções que guiam a interpretação e o uso de técnicas projetivas devem ser explicitadas e 
estudadas, buscando cada vez mais a solidez e confiança em seus resultados, bem como nos pulares que 
sustentam a psicologia projetiva. Entretanto Villemor-Amaral e Werlang (2008) enfatizam que o critério de 
cientificidade das técnicas projetivas não pode se fundamentar apenas nos parâmetros da psicometria, 
desconsiderando-se o raciocínio clínico e o estudo de aspectos idiográficos, presentes em determinados 
instrumentos. 
Especificamente para as técnicas projetivas, as críticas centralizam-se na suposta ausência de espírito 
científico por parte daqueles que constroem esses instrumentos como para os que os utilizam. Os críticos 
sustentam o excessivo subjetivismo na interpretação desses instrumentos – a grande influência que sofrem do 
ambiente e do examinador, a baixa fidedignidade, poucos trabalhos de validação e a necessidade de dados 
normativos. Os defensores, por sua vez, destacam a riqueza qualitativa das informações produzidas pelas 
técnicas projetivas e a possibilidade de investigar comportamentos de grande complexidade. Talvez, 
justamente por essas qualidades, ainda são frequentemente utilizadas. 
Dessa maneira, vê-se que muitas críticas e objeções podem ser, no mínimo, discutidas e, inclusive, refutadas. 
Vale lembrar que ainda não se dispõe de técnicas de pesquisa totalmente adequadas para a investigação 
envolvendo as técnicas projetivas, o que gera dificuldades. 
De acordo com Tavares (2003) as críticas deveriam fundamenta-se mais no processo de verificação da validade 
da informação do que na forma de apresentação dos instrumentos, por exemplo, objetivos versus projetivos. 
Isso, entretanto, não exclui a necessidade de se verificar por meios científicos a validade das inferências feitas 
a partir do desempenho dos indivíduos nas técnicas projetivas. 
Não há dúvidas da utilidade da técnicas projetivas no processo de avaliação psicológica, tampouco da 
frequência com que vem sendo utilizada no campo clínico e em outros campos de atuação profissional. 
Entretanto, também não há dúvidas de que esse tipo de instrumento carece de mais estudos de validade e 
fidedignidade. 
O status científico das técnicas projetivas é algo sempre discutido. Dados sobre a validade e a fidedignidade 
desse tipo de instrumento psicológico são alvos de críticas há várias décadas. A popularidade no uso clínico 
das técnicas projetivas continua muito expressiva, apesar de nem sempre apresentarem resultados 
psicométricos positivos, o que demarca uma discrepância entre a pesquisa empírica em psicologia e a pratica. 
No Brasil, Noronha, Primi e Alchieri (2005), demonstraram em levantamentos nos mais variados contextos que, 
apesar de certo descrédito existente em relação aos parâmetros de validade e fidedignidade produzidos por 
testes projetivos, muitos psicólogos utilizam-nos em suas práticas. 
A asserção atual acerca da validade dos instrumentos psicológicos de que um teste não é válido por si só, mas 
apresenta evidências cumulativas de validade para as inferências feitas a partir dos resultados, considerando-
se determinados contextos e determinados fins é, especialmente verdadeira no caso das técnicas projetivas. 
É preciso persistir no estudo de procedimentos metodológicos que demonstrem e acrescentem evidências de 
validade a técnicas projetivas, uma vez que o rigor psicométrico agrega confiabilidade aos instrumentos, quesito 
não apenas importante, mas necessário. Entretanto, não se pode esquecer da validade de um enfoque clínico 
aplicado a interpretação dos resultados, em correlação com outros dados coletados sobre o sujeito avaliado, 
sobretudo, quando se pensa na complexidade da natureza humana e na importância de buscar uma 
compreensão mais global e dinâmica da singularidade dos indivíduos, tendo como objetivo primordial a 
implementação de propostas de intervenção mais eficazes, em diferentes campos de atuação do psicólogo. 
Uma das dificuldades na investigação de propriedades psicométricas das técnicas projetivas vincula-se ao fato 
de, normalmente, não fornecerem um escore, mas sim um protocolo não quantitativo, inicialmente não 
suscetível de tratamento estatístico pelas técnicas convencionais. Além disso, a falta de um sistema único de 
avaliação também dificulta a categorização objetiva das respostas dadas ao teste (Villemor-Amaral; Werlang, 
2008). Desse modo, não se pode esquecer que os procedimentos de validação utilizadosna investigação de 
testes psicométricos não se aplicam, exatamente da mesma maneira, às técnicas projetivas. As autoras em 
referência destacam que pelo fato de esta diferença ter sido ignorada é que se tem tantos resultados 
inconsistentes no campo de verificação das qualidades psicométricas das técnicas projetivas. 
Villemor-Amaral e Werlang (2008) destacam que o importante é saber exatamente as capacidades e limitações 
de cada técnica projetiva, assim como de qualquer outra técnica, verificando sua validade para o propósito 
específico para o qual se deseja utilizá-la. Sem a confiança de que a técnica produz resultados úteis que 
contribuem para o tratamento do sujeito avaliado, é difícil justificar seu uso. Com as técnicas projetivas não é 
diferente. 
Tavares (2003) destaca que uma das tarefas do psicólogo clinico é demonstrar a validade das informações 
produzidas, circunstanciando as afirmações por meio de exemplos e observações confirmatórias externas aos 
instrumentos utilizados. Essa tarefa põe a perspectiva clínica no centro do processo, desloca o foco exclusivo 
do conceito de validade dos parâmetros estatísticos dos instrumentos. A concepção de validade clínica 
(TAVARES, 2003) permite demonstrar que as técnicas projetivas podem trazer informações baseadas na 
inferência diagnóstica, isso não significa que a interpretação será baseada apenas na opinião do psicólogo, e 
sim que o julgamento profissional faça referencia a características que possa, ser comprovadas e justificadas, 
até porque o próprio método clínico em psicologia não se reduz a simples intuição. A validade clínica vem 
oferecer uma concepção mais contextualizadora dos resultados produzidos em uma avaliação psicológica, 
caracterizando assim uma das questões-chave para que seja assegurada a legitimidade das técnicas 
projetivas. A importância desse conceito, particularmente, toma forma quando se pensa que a atribuição de 
significados aos resultados obtidos através de instrumentos psicológicos é um processo complexo, que só pode 
ter sua validade garantida se todas as fontes de informações possíveis, quantitativas e qualitativas, que são 
recursos com princípios diferentes, forem integradas. 
Mais do que em outros instrumentos psicológicos, nos projetivos, o sistema de interpretação é o responsável 
por transformar uma “massa de dados qualitativos – as respostas livres do indivíduo, em uma forma acessível 
à interpretação, para tanto, antes de ser possível codificar, é preciso ter definido as categorias fundamentais 
em função das quais as respostas vão ser classificadas (ANZIEU, 1981). Com base nesses apontamentos, 
parece que, considerando essas técnicas, é possível dizer que a fidedignidade do sistema de classificação das 
respostas dadas ao instrumento que deve ser investigada. 
A técnica mais utilizada na verificação de sua fidedignidade é a que se baseia na consistência das avaliações 
feitas por diferentes examinadores. É fundamental lembrar que o domínio teórico e a experiência na técnica em 
questão, por parte dos examinadores consultados, é indispensável na implementação desta técnica. 
Visando aproximar-se e atender aos critérios científicos de coleta de informações sobre os indivíduos, vários 
estudos tem sido realizados, através das técnicas projetivas, às s quais se aplicam tratamentos estatísticos, 
buscando dados que comprovem sua validade e confiabilidade. Dentre as técnicas projetivas que vem sendo 
foco de investigação empírica, o Rorschah, o Teste de Apercepção Temática (TAT), o Teste de apercepção 
Temática Infantil (CAT) e as técnicas projetivas gráficas de desenho, são as que tem sido mais frequentemente 
analisadas. Estas foram as técnicas apresentadas anteriormente neste texto. Quanto ao Rorschah, o 
reconhecimento gradativo de alguns sistemas demonstra que foi possível registrar diversas pesquisas de 
validação, normatização e precisão mais recentes. Técnicas como o CAT - A e o procedimento de desenhos-
estória (D-E) puderam também ser atualizadas devido a alguns estudos sobre os seus parâmetros e sistemas 
de interpretação. Contudo, outras técnicas ainda restam na espera de maiores evidencias de validade. 
Sendo assim, observa-se que, embora lentamente, ocorrem avanços no contexto das técnicas projetivas no 
que diz respeito a sua cientificidade, que a tarefa é árdua mas não impossível e que a escassez de estudos 
reflete a dificuldade metodológica, mas não atesta pouca confiabilidade dos métodos, e os obstáculos 
assinalados são desafios para seguir sempre adiante. 
Por isso que o desmerecimento do aporte projetivo, baseando-se em uma fundamentação incoerente ou até 
discriminatória, significaria um retrocesso em tempos que demandam a integração e o discurso dialético na 
teoria e na prática psicológica. 
REFERÊNCIAS 
ANZIEU, D. Os métodos projetivos. Rio de Janeiro: Campus, 1981. 
ARZENO, M. E. G. Psicodiagnóstico clínico: novas contribuições. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 
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Angerami-Camon (Org.). Psicoterapia fenomenológico-existencial. São Paulo: Pioneira Thompson Learning 
Ltda, 2002, p. 93-121. 
BANDEIRA, M.; GUAGLIA, M. A. C.; FREITAS, L. C.; de SOUZA, A. M.; COSTA, A. L. P.; GOMIDES, M. M. P.; 
LIMA, P. B. Habilidades interpessoais na atuação do psicólogo. Interação em psicologia, Curitiba, v. 10, n. 1, 
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TAVARES, M. (2003). Validade clínica. Psico USF, Campinas, 8, 2, p. 125-136. 
Villemor-Amaral, A. E.; Primi, R.; Franco, R. R. C; Farah, F. H. Z.; Cardoso, L. M.; Silva, T. C. (2005). O teste 
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Villemor-Amaral, A. E.; Werlang, B. S. G. (Orgs.). (2008). Atualizações em Métodos Projetivos para Avaliação 
Psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo.

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