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Filosofia 1 – Do mito à Filosofia A Filosofia propõe buscar a verdade, mas não de forma qualquer. Ela busca a verdade de todas as coisas usando, para isso, apenas os elementos que se permite: a razão, o pensamento, a lógica, a observação dos fatos. É uma busca de conhecimento, e não conhecimento já dado. História da Filosofia: o início Deduz-se que a Filosofia nasceu na Grécia por volta do século VI a.C. e, ainda, que Tales de Mileto seja considerado o primeiro filósofo. Obs:. Será que as pessoas, antes disso, não pensavam? Com certeza, todos esses povos tinham sua própria visão da natureza. Todos eles olhavam para a terra e o céu e tentavam imaginar e explicar qual era o nosso lugar no universo, qual era nossa melhor maneira de se comportar nele e, é claro, como fazer para conseguir todo esse tipo de conhecimento. O que, então, os gregos faziam, se é que faziam, para serem tidos como os criadores de um tipo novo de pensamento? “Os gregos começaram a usar uma maneira um pouco diferente para responder às questões sobre a vida, sobre o universo e tudo mais: eles não apenas imaginavam, mas tentavam obter resposta de forma filosófica/científica”. O Mito, a Filosofia e as questões: continuidade ou ruptura? Mito = linguagem metafórica das histórias. Filosofia = método rigoroso do conhecimento. Por que o homem criou, além de sua crença, a filosofia e a ciência para compreender o universo? 1º Corrente: A Filosofia grega surge como rompimento com o pensamento metodológico, ou seja, seu caráter é tão original que quase nada tem a ver com a mitologia. A Filosofia e mito não se misturam, visto que há uma ruptura clara e determinante. Dessa maneira, a Filosofia surge como manifestação essencialmente original do pensamento. Hegel e John Burnet – ruptura entre mito e Filosofia Para o filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831], há uma diferença básica entre Filosofia e o pensamento mitológico/religioso que é fundamental. A Filosofia oriental, como ele chama as religiões do Oriente (China, Índia), dizia que a verdade é o absoluto indeterminável, ou seja, a verdade é impossível de ser determinada, de ser apontada. Para o pensamento ocidental, é impronunciável, isto é, as coisas que vemos no mundo não são verdadeiras e a ideia não passa de uma mera ilusão. Obs:. Ainda segundo Hegel, a Filosofia surge na Grécia porque há desaparecimento da sociedade patriarcal e o surgimento das cidades livres organizadas por lei, já que para ele não se pode separar o surgimento da Filosofia da criação da democracia, da política e da lei. Para o historiador inglês John Burnet (1863-1928), a Filosofia apresenta uma fundamentação totalmente nova baseada na lógica da razão. Ele afirmava que a mitologia não fazia questão de esconder suas contradições e alegorias desprovidas de lógica, porque justamente não percebia a importância do conhecimento lógico e de uma necessidade de argumentar suas posições. Além disso, a mitologia sempre quer explicar algo que já aconteceu, conta histórias do passado. Enquanto a Filosofia deseja um conhecimento do presente, além de construir hipóteses e teorias para explicar o mundo; espera encontrar um conhecimento por causas e não por crença. 2º Corrente: A Filosofia é um desenvolvimento contínuo do pensamento mitológico. Nela, a lógica surgida no mito simplesmente perde seu caráter fantasioso para ganhar uma linguagem mais clara e menos religiosa. Werner Jaeger e F, M Conford – continuidade entre mito e Filosofia Para o alemão Werner Jaeger (1888-1961) a Filosofia nasce do mito de tal modo que “o começo da Filosofia científica não coincide com o pensamento racional nem com o fim do pensamento mítico”, ou seja, já no próprio mito existe uma semente de razão. Ex:. a antropomorfização dos deuses. F. M. Conford (1874-1943), estudioso helenista britânico, diz que a Filosofia simplesmente retirou o elemento fantástico do mito, em termos de linguagem, colocando no lugar algo mais secular, com palavras sem conotações mitológicas. Filosofia nascente – características A mitologia é uma história que, por meio de alegorias, tenta compreender o universo. Sua característica própria é o que a limita. Por ser alegórica e metafórica, é preciso que se escolha acreditar em sua história. É necessária a adesão ao mito para que esse faça sentido. Por outro lado, a linguagem filosófica tenta adquirir um conhecimento de caráter lógico, passo a passo, mais lento e seguro (sem dar saltos, sem deixar espaços, pleno, sequencial e contínuo). A filosofia abre mão da referência metafórica, da associação e da comparação. Ela requer conhecer as coisas exatamente como elas são, sem nenhuma interferência de terceiros e sem que haja a necessidade de se acreditar naquilo. Obs:. Conceitos: • Logos = pensamento, inteligência, razão, fundamento, causa, princípio, motivo, discurso racional. Encontrar o logos = buscar a causa racional de tudo. • Physis = natureza. Força responsável pelo surgimento, transformação e morte dos seres. Significa “natureza do ser”, sua característica própria. • Arkhé = aquilo que está a frente, o princípio de tudo. Características: ➢ Caráter Crítico – não se deve tornar nada como verdade antes da investigação. ➢ Racionalidade – deve provar o que diz. ➢ Conclusões – deve-se convencer por argumentos e não por imposições. ➢ Respeito ao argumento racional – a razão é o critério de verdade e não nossa opinião. ➢ Inexistência de pré-conceitos – nada pode ser colocado como sabido antes que se faça uma investigação racional. ➢ Generalização – resposta geral, que sirva para o todo. Condições históricas para o surgimento da filosofia Vários fatores históricos podem indicar por que a Filosofia surgiu na Grécia do século VI a.C. • A criação da moeda, que obrigou o homem a pensar em símbolo abstrato para as trocas comerciais; • O surgimento da escrita alfabética, que permitiu a transcrição abstrata do pensamento; e • A criação do calendário, que traduz a ideia de tempo. A condição considerada principal, entretanto, e a criação da polis, ou cidade-estado. Democracia Ateniense = exigia a participação dos cidadãos nas discussões públicas. Na Ágora (centro, praça, local de reunião da cidade), havia as discussões em conjunto de todas as decisões que envolviam os assuntos da cidade. Um conjunto de homens tomavam as decisões pela e para a cidade (polis). Ao afirmar que “todos são iguais perante a lei”, chega-se à conclusão de que todos estão livres e aptos a pensar por si mesmos, desde que usem de uma reflexão rigorosa para tentar encontrar conhecimento. O filósofo ocidental, então, não é mais um sacerdote, e sim um homem público. Obs:. Em Atenas, apenas o homem grego não escravo era considerado cidadão. Mulheres, estrangeiros e escravos não tinham direito de participar da vida pública. Exercício 1 – Por que é importante diferenciar a mitologia da Filosofia? 2 – Quais são as duas teorias que tentam explicar a passagem entre mitologia e Filosofia? 3 – Por que dizemos que a Filosofia nasceu da Grécia Antiga? 4 – Isso quer dizer que outras culturas não possuíam conhecimento? 5 – O que significa dizer que na Filosofia oriental a realidade é o absoluto indeterminável? 6 – O que, segundo Hegel, há na Filosofia ocidental que não há na oriental? 7 – Qual a posição de John Burnet em relação à questão do mito e da Filosofia? 8 – Por que diz o autor Jaeger que já na mitologia havia um certo tipo de razão? 9 – O que quer dizer logos? 10 – Você leu que “a razão é o critério de verdade, acima da crença ou da revelação mística/poética e da tradição”. O que isso significa? 11 – Comente sobre a relação entre polis e o início da Filosofia. 12 – Por que a criação da lei se aproxima do pensamento filosófico? 13 – (UEL) Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deusesdisputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com eles? Quem são eles?” (VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Trad. de Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 56.) O texto acima é parte de uma narrativa mítica. Considerando que o mito pode ser uma forma de conhecimento, assinale a alternativa correta. a) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de comprovação. b) O conhecimento mítico segue um rigoroso procedimento lógico-analítico para estabelecer suas verdades. c) As explicações míticas constroem-se, de maneira argumentativa e autocrítica. d) O mito busca explicações definitivas acerca do homem e do mundo, e sua verdade independe de provas. e) A verdade do mito obedece a regras universais do pensamento racional, tais como a lei de não-contradição. 14 – (Enem 2015) A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e leva-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um. NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999 O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos? a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais. b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas. c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes. d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas. e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real. 15. (Uema 2015) Leia a letra da canção a seguir. Nada do que foi será De novo do jeito que já foi um dia Tudo passa Tudo sempre passará A vida vem em ondas Como um mar Num indo e vindo infinito Tudo que se vê não é Igual ao que a gente Viu há um segundo Tudo muda o tempo todo No mundo […] Fonte: SANTOS, Lulu; MOTTA, Nelson. Como uma onda. In: Álbum MTV ao vivo. Rio de Janeiro: Sony-BMG, 2004. Da mesma forma como canta o poeta contemporâneo, que vê a realidade passando como uma onda, assim também pensaram os primeiros filósofos conhecidos como Pré- socráticos que denominavam a realidade de physis. A característica dessa realidade representada, também, na música de Lulu Santos é o(a) a) fluxo. b) estática. c) infinitude. d) desordem. e) multiplicidade. 16 – De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo é feito? A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas. Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.43-44. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da filosofia, assinale a alternativa correta. a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável as histórias contadas acerca do mundo dos deuses. b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma substância básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as transformações na natureza e, a partir da observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas. c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas de pensamento por volta do século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo por sua enorme capacidade de transformação. d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e regular acerca dos primeiros princípios que originam todas as coisas. e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e Heráclito, há um princípio originário único denominado o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível que os olhos humanos podem observar no nascimento e na degeneração das coisas. 17. (Unimontes) O primeiro filósofo de que temos notícias é Tales, da colônia grega de Mileto, na Ásia Menor. Tales foi um homem que viajou muito. Entre outras coisas, dizem que, certa vez, no Egito, ele calculou a altura de uma pirâmide medindo a sombra da mesma no exato momento em que sua própria sombra tinha a mesma medida de sua altura. Dizem ainda que, em 585 a.C., ele previu um eclipse solar. (GAARDER, J. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995). Aos primeiros filósofos que se debruçaram sobre os problemas do cosmo, podemos chamá-los, além de pré-socráticos, de a) naturalistas ou fisicistas. b) existencialistas. c) empiristas. d) espiritualistas. 18 –Tales de Mileto se indaga sobre a totalidade de tudo o que existe, não para se perguntar qual foi a origem mítica do mundo, mas o que na verdade é a natureza. Desta forma afirma que o princípio de todas as coisas é: a. ( ) o ar. b. ( ) a água. c. ( ) a terra. d. ( ) o fogo. e. ( ) a divindade. 19 – Sabe-se que a filosofia é um modo de pensar sobre a realidade além da aparecia geral dos fatos. Pois em, marque a alternativa que indica corretamente onde a filosofia nasceu: a) Grécia Antiga. b) Império Romano. c) Mesopotâmia d) Egito Antigo. e) No Império Persa 20 –“A Filosofia confia na Razão, para a filosofia a realidade é racional, ou seja, é passível de compreensão”. Ao analisar a frase a cima pode-se afirmar que ela explica sobre: a) Nunca poderemos entender a realidade, uma vez que, ela é muito complexa. b) A Razão incluída em cada ser humano, e a capacidade que o homem não tem em compreender sobre a sua realidade. c)A capacidade que os Seres Humanos têm em entender a nossa realidade através de um posicionamento filosófico na busca do conhecimento. d)O posicionamento da Filosofia como forma de tentar entender todos os problemas do homem e do mundo. e)A Razão seria algo estritamente ligado aos filósofos e pensadores que tem na filosofia uma forma absoluta de se conceber a verdade. 21 –Tendo em vista as características do mito e da filosofia na Grécia Antiga, relacione as colunas. I. Mito. II. Filosofia. ( ) Opera, discursivamente, por meio de analogias, metáforas e parábolas. ( ) Não se preocupa com as contradições e irracionalidades de seu discurso. ( ) Exige investigação para responder aos problemas postos pela natureza. ( ) Pergunta e narra sobre o que era antes que tudo existisse. ( ) Pergunta e explica como as coisas existem e são agora. ( ) Explica os fenômenos da natureza a partir de causas puramente naturais. A sequência correta de cima para baixo encontra-se na alternativa: a) I, I, II, II, I e II. b) II, I, I, II, II e I. c) II, II, I, I, II e I. d) I, I, II, I, II eII. e) I, II, I, II, I e II. 22 –O mito é essencialmente uma narrativa (...) que não se define apenas pelo tema ou objeto da narrativa, mas pelo modo de narrar. (M. Chaui) O modo de narrar característico do pensamento mítico pode ser corretamente definido como uma forma que recorre (A) à fantasia somente para descrever o sobrenatural. (B)) ao mágico para descrever o mundo e o homem. (C) à experimentação para explicar a natureza. (D) à descrição para compreender o progresso histórico. (E) à experimentação para descrever o mundo e a história. 23 – Assinale a alternativa CORRETA a respeito do mito. a) Mito é uma história imaginária ou alegórica falada ou escrita em obra literária que não encerra um fundo moral. b) São narrativas transmitidas apenas na forma escrita de uma geração para outra ao longo dos séculos. c) O mito é uma narrativa fictícia e imaginária, cujo objetivo é explicar alguma coisa, ou algum acontecimento. d) Assim como o Mito a Filosofia deve ser entendida como uma história sobrenatural criada pela imaginação para explicar o mundo. e) O mito não deve ser entendido como uma forma de explicar algo que os seres humanos observam na natureza. 24 – Assinale a alternativa INCORRETA: a) O mito é uma forma de explicação da realidade que utiliza narrativas imaginárias, sobrenaturais, em geral transmitidas oralmente. b) Com o mito, os seres humanos podem apenas oferecer explicações para os fenômenos, mas sem intervir neles, ou mesmo controlá-los. c) Se o mito era uma narrativa sobrenatural, uma história criada pela imaginação para criar o mundo, a filosofia pretendia ser um pensamento não fantasioso, que se baseava no raciocínio, no exame criterioso e consciente das coisas, buscando uma explicação racional e não sobrenatural. d) A filosofia, contudo, não substituiu a mitologia: elas passaram a conviver. Platão, em alguns de seus diálogos filosóficos, fez o uso de narrativas míticas para, com base nelas, elaborar suas explicações racionais. e) O mito sempre recorre as forças sobrenaturais para explicar fenômenos naturais. Um exemplo: na mitologia grega, Zeus, deus dos deuses que habitam o monte Olimpo, tem o poder de lançar raios. Essa é uma forma de explicar algo que os seres humanos observam na natureza – a ocorrência de raios – e que, a princípio, não compreendem. Gabarito: 13-D/ 14 –C/ 15 –A/ 16 –B/ 17 –A/ 18 –B/ 19 –A/ 20 –E/ 21 –D/ 22 –A/ 23 –C/ 24 –D
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