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“Escutar demanda trabalho e dedicação. É uma forma de cultivo, quase uma arte. Mas uma arte que não deixa obras visíveis e monumentos, mas tão somente efeitos e palavras. Escutar é como polir as palavras, e o escutador é um polidor de palavras, como antigamente existiam os polidores de lentes. Ao final o que se obtém é ver mais nítido e ver melhor, e quanto mais esquecido e transparente o resultado, melhor o efeito obtido. É difícil escutar porque esta arte demanda que renunciemos ao exercício do poder sobre os outros, mas também da glória das obras bem feitas e reluzentes. O terceiro motivo que torna escutar tão difícil é que a escuta começa pela escuta de si. Afinal este é o grande legado que uma psicanálise deixa para alguém: a capacidade de escutar-se, no melhor e o pior, na justa medida e em seus exageros, nos seus fantasmas e no cerne de seu ser. Logo, aprender a escutar é como aprender a perder, como disse Elizabeth Bishop, ou seja, uma arte que não é difícil de dominar, mas é uma arte para viajantes corajosos.” Christian Dunker à HuffPost Brasil (julho/2019) “Podemos partir do ponto de que escutar o outro é despir-se de nós mesmos, é largar a obsessão com nossa identidade, suspender quem somos e quem é o outro. É claro que quando fazemos isso, podemos escutar desse outro coisas que não admitimos em nós. Ângulos que não conseguimos ver, perspectivas que queremos evitar, lembranças que a fala do outro evocam. Ou seja, para escutar o outro é preciso sair de nós mesmos, sair de "si". Esse "si" é tanto nosso material mais precioso quanto nossas defesas. É tudo aquilo que nos ensurdece.” Christian Dunker
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