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Princípios de Razão segundo Leibniz

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LEIBNIZ
Gottfried Wilhelm Leibnitz (1646-1716) nasceu em Leipzig, cinquenta anos depois de Descartes. De uma família de juristas protestantes, com uma biblioteca imensa na própria casa, dedicou-se apaixonadamente ao estudo, especialmente o Latim, o Grego e sua literatura. Promoveu uma intensa revalorização da escolástica. Interessado no Direito, na História e na Política foi diplomata. Foi talvez o homem mais enciclopédico de seu tempo, mestre de Teologia, da Física, da Matemática e até de curiosos estudos de Alquimia. Foi descobridor do cálculo infinitesimal; escreveu quase sempre em Francês ou em Latim. O texto que hoje publicamos é um fragmento de seu "Discurso da Metafísica".
PRINCÍPIOS DE RAZÃO
 Duas relações da teoria de Leibniz com as filosofias anteriores são centrais para compreender o seu sistema filosófico:
-     o ideal de uma explicação matemática do mundo, fornecida por Descartes, a partir da qual Leibniz pretendia lançar as bases de uma combinatória universal, espécie de calculo filosófico que lhe permitiria encontrar o verdadeiro conhecimento e desvendar a natureza das coisas;
-         de Aristóteles e da escolástica, Leibniz assimilou a noção conforme a qual o universo está organizado de maneira teleológica, ou seja, tudo aquilo que acontece, ocorre tendendo para determinados fins.
Isto implica na possibilidade da mediação entre a philosophia perenis e os philosophi novi (Revolução científica e mecanicismo).
Dois conceitos são retomados: a) o conceito de “fim” (ou de “causa final”, juntamente com a visão teleológica geral ou finalística da realidade nele fundada; b) o conceito de “substância”, juntamente com a respectiva visão ontológica da realidade.
a) Princípio da Não contradição
O primeiro "princípio inato", o da "não contradição" diz que, do que é explicado ou demonstrado, é falso o que implica contradição; a este primeiro princípio correspondem as "verdades de razão". São necessárias, têm a razão em si mesmas. O predicado está implícito na essência do sujeito (O predicado já está contido no sujeito: "A casa verde é verde"). As verdades de razão são evidentes a priori, independentes da experiência, prévias à experiência. As verdades de razão são necessárias, fundam-se no princípio da contradição, como na proposição "dois mais dois são quatro": não poderiam não ser. Não cabe contradição possível.
Para Leibniz o princípio da identidade: uma coisa é idêntica a si mesma ou
 A = A
 é a primeira verdade, pois aplicando-se a noções mais determinadas dá lugar a todas as verdades.
Ex.: “A parte é menor que o todo”, baseia-se no princípio da identidade, pois definimos como ‘menor’ = o que é idêntico a parte de uma coisa. 
Proposições verdadeiras são portanto sempre implicita ou explicitamente proposições idênticas...
b) Princípio da razão suficiente
Princípio da razão suficiente. Segundo esse princípio, todas as coisas ou eventos são reais quando existe uma razão suficiente para sua existência. Portanto, qualquer estado de coisas deve ter uma razão que explica porque este e não outro estado existe. Para que uma coisa seja, é necessário que se dê uma razão porque seja assim e não de outro modo. É a "razão suficiente" da existência da coisa em questão. A este princípio correspondem as "verdades de fato". Tais verdades não se justificam a priori, elas são contingentes, a sua razão resulta de uma infinidade de atos passados e presentes que constituem a razão suficiente pela qual elas se dão agora. São atestadas pela experiência. São as verdades científicas; são de um jeito, mas poderiam ser de outro. A água ferve a 100 graus centígrados, mas poderia não ferver, e de fato não ferve, quando é mudada a pressão no seu recipiente. Essas verdades dependem de experiência que as comprove.
A segunda exigência consiste em que, além de explicado ou demonstrado não ser contraditório (e sendo, portanto, possível sua existência), a coisa em questão também existe realmente; é a razão suficiente. Com efeito, uma coisa só pode existir necessariamente se, além de não ser contraditória, houver uma causa que a faça existir.
“Senão haveria uma verdade incapaz de ser demonstrada a priori, que não se resolveria em verdades idênticas, contrariando a natureza da verdade, que é sempre idêntica, implícita ou explicitamente”.
“Nada acontece sem uma razão suficiente; isto é, que nada ocorre sem que seja possível, para aquele que conhece as coisas muito bem, fornecer uma razão suficiente para a determinação do porquê as coisas serem assim e não de outra maneira. Dado esse princípio, a primeira questão que colocamos é: por que há alguma coisa em vez do nada? Afinal, o nada é mais simples e fácil do que alguma coisa. E, ademais, mesmo que assumamos que as coisas devam existir, devemos ser.”
"Ora, essa razão suficiente da existência do Universo não poderia encontrar-se na cadeia das coisas contingentes, ou seja, dos corpos e das representações nas almas. Isso porque a matéria, sendo indiferente em si mesma ao movimento e ao repouso, e a um movimento tal ou outro, não seria possível encontrar a razão do movimento e ainda menos de um tal movimento. E qualquer que seja o movimento que está na matéria, provém ele de um precedente e este ainda de outro precedente e assim por diante tão longe quanto se queira ir, pois permanece sempre a mesma questão. Assim, é necessário que a razão suficiente - que não tem necessidade de uma outra razão - esteja fora dessa cadeia de coisas contingentes e se encontre em uma substância que dela seja a causa ou que seja um Ser necessário que porte a razão de sua existência nele mesmo. Contrariamente, não haveria uma razão suficiente onde se pudesse terminar. E essa última razão das coisas é chamada Deus" (Principes de la Nature et de la Grâce fondés en Raison).
C) Princípio do melhor: O melhor dos mundos
O fim da produção das coisas é a vontade justa, boa e perfeita de Deus, que deseja essa produção. O finalismo é que sustenta o princípio do melhor: Deus calcula vários mundos possíveis, mas faz existir o melhor desses mundos. 
53. Ora, como há uma infinidade de universos possíveis nas ideias de Deus e só pode existir um deles, é preciso que haja uma razão suficiente da escolha de Deus, que o determina a um de preferência a outro. 
54. E essa razão não pode encontrar-se senão na conveniência ou nos graus de perfeição que esses mundos contêm; cada possível tendo o direito de pretender a existência à medida da perfeição que envolve. 
55. E reside aí a causa da existência do melhor, que a sabedoria faz com que Deus conheça, que a sua bondade o faz escolher e que a sua potência o faz produzir. 
56. Ora, esta ligação ou este acomodamento de todas as coisas criadas a cada uma e de cada uma com todas as outras, faz com que cada substância simples tenha relações que exprimem todas as outras e que ela é, por conseguinte, um espelho vivo perpétuo do universo (Monadologie, §§ 53-56).
- a razão suficiente é, em Deus, o princípio do Melhor que se concretiza no sistema de possíveis que contém o máximo de realidade, de unidade e de variedade (se não houvesse um mundo melhor, optimum, entre os possí​veis, e se Deus não soubesse identificá-lo, Ele não teria criado nenhum); 
- a máxima conveniência ou ligação de todas as substâncias no Melhor mundo possível implica um sistema de relações entre-expressivas e holo​gramáticas (portanto, a perfeição do Todo exibe-se em cada parte/aconte​cimento). 
d) Princípio da continuidade
O princípio da continuidade afirma que a natureza não dá saltos; assim como não há vazios no espaço, assim também não existem descontinuidades na hierarquia dos seres. Por exemplo, as plantas não passam de animais imperfeitos.
A natureza nunca faz saltos: o que eu denominei Lei da Continuidade, quando dela falei nas primeiras Notícias da República das Letras.' O uso dessa lei é muito considerável na física: ela significa que se passa sempre do pequeno ao grande, e vice-versa, através do médio, tanto nos' graus como nas partes, e que jamais um movimento nasce imediatamentedo repouso nem se reduz, a não ser por um movimento menor, assim como não se chega jamais a percorrer nenhuma linha ou comprimento antes de ter percorrido uma linha menor, se bem que até agora os que elaboraram as leis do movimento não tenham observado esta lei, acreditando que um corpo possa receber em um instante um movimento contrário ao precedente. Tudo isto mostra mais uma vez que as percepções grandes e notáveis provêm por graus daquelas que são excessivamente insignificantes para serem notadas (Novos discursos...) 
Pois odeia o Deus sensato
crescimento intempestivo (Motivkreis der Titanen, Hölderlin).
6. As investigações dos Modernos ensinaram-nos, e a razão aprova-o, que os viventes cujos órgãos conhecemos, quer dizer, as plantas e os Animais, não provêm de uma putrefacção ou de um Caos, como os antigos acreditavam, mas de germes préformados e, por conseguinte, da Transformação de viventes pré-existentes. Há pequenos animais nos germes dos grandes, que, por meio da concepção, assumem um novo revestimento, que fazem seu, e que lhes concede o meio de se alimentarem e de crescerem, para passarem a um teatro mais vasto e produzirem a propagação do grande animal. É verdade que as Almas dos Animais espermáticos humanos de modo nenhum são racionais e não se convertem em tal senão quando a concepção destina esses animais à natureza humanal. E, tal como os animais em geral não nascem totalmente na concepção ou Geração, assim também não perecem totalmente naquilo a que chamamos Morte; pois é conforme à razão que aquilo que não começa naturalmente também não termine na ordem da natureza. Assim, largando a sua máscara ou os seus andrajos, eles limitam-se a regressar a um Teatro mais subtil, onde podem, no entanto, ser tão sensíveis e bem regulados como no maior. E aquilo que acaba de se dizer dos grandes animais ocorre também na geração e na morte dos próprios animais espermáticos, quer dizer, eles são as aumentações de outros espermáticos mais pequenos, em comparação com os quais podem passar por grandes; pois tudo vai até ao infinito na natureza. Assim, não somente as Almas mas também os animais são inengendráveis e imperecíveis: eles não são senão desenvolvidos, envolvidos, revestidos, despojados, transformados; as almas não abandonam nunca todo o seu corpo e de modo nenhum passam de um corpo para um outro que seja completamente novo para elas. Não há, pois, qualquer Metempsicose, mas há Metamorfose. Os animais mudam, assumem e perdem apenas partes: coisa que acontece pouco [602] a pouco e por pequenas parcelas insensíveis, mas de modo contínuo, na Nutrição; e, de repente, de forma notável mas rara, na concepção ou na morte, que os fazem adquirir ou perder muito de uma vez (Natureza e graça).
e) Princípio dos indiscerníveis
O princípio dos indiscerníveis constitui a multiplicidade e a individualidade das coisas existentes. Leibniz afirma que não há no universo dois seres idênticos e que sua diferença não é numérica nem espacial ou temporal, mas intrínseca, isto é, cada ser é em si diferente de qualquer outro. A diferença é de essência e manifesta-se no plano visível das próprias coisas.
“É preciso mesmo que cada Mônada seja diferente de cada uma das outras. Pois nunca há na natureza dois seres que sejam perfeitamente iguais um ao outro e nos quais não seja possível encontrar uma diferença interna ou fundada em uma denominação intrínseca” (Monadologia)
2) E também pretende derivar o PRINCÍPIO DA IDENTIDADE DOS INDISCERNÍVEIS = duas coisas que tem as mesmas propriedades precisam ser uma só, pois que todos os predicados já estão contidos na própria coisa.
Pois se houvessem predicados não contidos na coisa, a coisa seria ela mesma e outra coisa ao mesmo tempo... Contrariando o princípio da não-contradição.
Leis eternas da razão estão na própria alma
“Não se deve imaginar que se possa ler na alma, sem esforço e sem pesquisa, essas eternas leis da razão, como o édito do pretor é lido em seu caderno; mas é bastante que as descubramos em nós por um esforço de atenção, uma vez que as ocasiões são fornecidas pelos sentidos... Nada há no intelecto que não tenha passado primeiro pelos sentidos” – com o adendo ‘a não ser o próprio intelecto’”.
MÔNADAS
Uma mônada (do grego monas, unidade) é uma unidade por si mesma, analisável em princípio ativo denominado alma, forma substancial ou enteléquia e em um princípio passivo dito massa ou matéria primeira. A mônada encerra um tipo de percepção e de apetição. É uma substância simples, sem partes. Toda mônada é um espelho vivo do universo, a partir de seu ponto de vista. Já que tudo que existe é uma mônada, um composto de mônadas, estas são átomos substanciais. [M. 1-21]
Leibniz desenvolveu a teoria das mônadas como alternativa às tendências de sua época. Os filósofos do século XVII usualmente elaboraram uma nova teoria da substância ou desenvolveram a teoria atômica de acordo com os padrões modernos. Leibniz não se satisfez com nenhum desses pontos de vista. Ele chama a filosofia dos atomistas de filosofia "preguiçosa", uma vez que essa concepção, que considera os átomos como os últimos blocos de construção, não analisa profundamente o mundo vivo e mutável. Contrariamente às concepções atomísticas do tempo e do espaço, que comparam essas formas de existência da matéria com um vaso vazio, Leibniz representa uma concepção dialética em que espaço e tempo são relações de ordem no mundo material. O espaço é a ordem das coisas que existem ao mesmo tempo, o tempo é a ordem de suas mudanças contínuas.
Ele retoma a ideia da Mônada da tradição neoplatônica. O termo mônada, "unidade", vem da Stoicheiosis theologike do filósofo antigo Proclus.
Uma mônada - o conceito central da Explicação de mundo de Leibniz - é uma substância simples, não estendida e, portanto, indivisível, inacessível a influências mecânicas externas.
O universo inteiro é refletido nas percepções (percepções) formadas espontaneamente pelas mônadas. Eles são uma espécie de átomos espirituais, eternos, indecomposáveis, únicos. Leibniz representa assim uma visão de mundo pampsiquista. A idéia da mônada resolve o problema da interação entre mente e matéria, que brota do sistema de René Descartes. Também resolve o problema do isolamento, que parece problemático no sistema de Baruch Spinoza. Lá, seres vivos individuais são descritos como meras mudanças aleatórias da substância única. Um exemplo: uma substância pode existir sem pensar, mas o pensamento não é sem substância.
A mônada explica os seres não como máquinas que se movem, mas como forças vivas: Os corpos materiais, por sua resistência e impenetrabilidade, revelam-se não como extensão mas como forças; por outro lado, a experiência indica que o que se conserva num ciclo de movimento não é – como pensava Descartes – a quantidade de movimento, mas a quantidade de força viva. A partir da noção de matéria como essencialmente atividade, Leibniz chega à ideia de que o universo é composto por unidades de força, as mônadas, noção fundamental de sua metafísica.
O universo é composto por unidades de força, as mônadas, noção fundamental de sua metafísica. Chega também à noção de mônada mediante a experiência interior que cada individuo tem de si mesmo e que o revela como uma substância ao mesmo tempo una e indivisível. 
As quatro características da Mônada
1. Percepção
Pela percepção as mônadas representam as coisas do universo.; cada uma de per si espelha o universo todo. A percepção é a ação própria de toda Alma ou substância que consiste em expressar o universo sob um determinado ponto de vista. Ela envolve uma múltipla unidade interna, que expressa ao mesmo tempo o universo; corresponde a um esforço da substância. A percepção, índice da existência, é sempre confiável como percepção imediata e as experiências iniciais são as primeiras verdades de fato. [M. 14-17, 21, 23, 63; DM. 33]
IX. Seguem-se daqui vários paradoxos consideráveis, entre Outros, por exemplo, não ser verdade duas substâncias assemelharem-se completamente e diferirem apenas solo numero;e o que Santo Tomás afirma nesse ponto dos anjos ou inteligências (quod ibi omne individuum sit specie infima) é verdade de todas as substâncias, desde que se tome a diferença específica como a tomam os geômetras relativamente às suas figuras; item, que uma substância só poderá começar por criação, e só por aniquilamento perecer; não se dividir uma substância em duas, nem de duas se formar uma, e assim, naturalmente, o número de substâncias não aumenta nem diminui, embora frequentemente elas se transformem. Ademais, toda substância é como um mundo completo e como um espelho de Deus, ou melhor, de todo o universo, expresso por cada uma à sua maneira, quase como uma mesma cidade é representada diversamente conforme as diferentes situações daquele que a olha. Assim, de certo modo, o universo é multiplicado tantas vezes quantas substâncias houver, e a glória de Deus igualmente multiplicada por todas essas representações de sua obra completamente diferentes. Pode-se até dizer que toda substância traz de certa maneira o caráter da sabedoria infinita e da onipotência de Deus e imita-o quanto pode. Pois exprime, embora confusamente, tudo o que acontece no universo, passado, presente ou futuro, o que tem certa semelhança com uma percepção ou conhecimento infinito; e como todas as outras substâncias por sua vez exprimem esta e a ela se acomodam, pode-se dizer que ela estende seu poder a todas as outras, à imitação da onipotência do Criador (DM).
14. O estado passageiro que envolve e representa uma multiplicidade na unidade ou na substância simples não é outra coisa senão aquilo que se chama de Percepção, que deve ser bem distinguida da apercepção ou da consciência, como se verá adiante. E nisto os cartesianos equivocaram-se muito, ao desconsiderarem as percepções de que não nos apercebemos. Foi isso também que os fez acreditar que só os espíritos eram Mônadas e que não havia Almas dos animais nem outras enteléquias; e confundiram, com o vulgo, um longo atordoamento com morte no sentido rigoroso, o que os fez ainda cair no preconceito escolástico das almas inteiramente separadas, havendo mesmo reforçado nos espíritos mal formados a opinião da mortalidade das almas. 
15 . A Ação do princípio interno que faz a mudança ou a passagem de uma percepção a outra pode ser chamada Apetição; é verdade que o apetite nem sempre pode alcançar inteiramente toda a percepção a que tende, mas sempre obtém algo dela e chega a percepções novas. 
16. Nós mesmos experimentamos uma multiplicidade na substância simples quando descobrimos que o menor pensamento de que nos apercebemos envolve uma variedade no objeto. Assim, todos os que reconhecem que A alma é uma substância simples devem reconhecer esta multiplicidade na Mônada; e o senhor Bayle não devia encontrar dificuldade nisso, como fez no artigo "Rorarius" de seu Dicionário. 
17. Por outro lado, vemo-nos obrigados a confessar que a percepção e o que depende dela é inexplicável por razões mecânicas, isto é, por figuras e por movimentos. E, supondo que haja uma Máquina cuja estrutura faça pensar, sentir, ter percepção, pode-se concebê-la ampliada e conservando as mesmas proporções, de maneira que se possa entrar nela como em um moinho. Feito isso, ao visitá-la por dentro só encontraremos peças que se põem reciprocamente em movimento e nunca algo que explique uma percepção. Portanto, tem de se buscá-la na substância simples e não no composto ou na máquina. E é só isso que podemos encontrar na substância simples, ou seja, as percepções e suas mudanças. E é também apenas nisso que podem consistir todas as ações internas das substâncias simples. Prefácio Teodicéia. 
21 . Não se segue daí que a substância simples não tenha nenhuma percepção. Isto não pode ocorrer precisamente pelas razões já mencionadas; pois ela não poderia perecer nem tampouco subsistir sem alguma afecção, que outra coisa não é senão sua percepção. Mas, quando há uma grande multiplicidade de pequenas percepções, em que nada é distinto, ficamos aturdidos, como quando seguira continuamente em um mesmo sentido várias vezes seguidas e sobrevém uma vertigem que pode fazer-nos desmaiar e que não nos permite distinguir nada. E a morte pode produzir este estado nos animais por um tempo. 
23. Assim, quando, voltando do aturdimento, apercebemo-nos de nossas percepções, é preciso que as tenhamos tido imediatamente antes, embora sem apercebermo-nos delas, pois uma percepção só pode provir atualmente de outra percepção, como um movimento só pode provir naturalmente de um movimento. Teodicéia, §§ 401-403. 
63. O corpo pertencente a uma Mônada, que é sua Enteléquia ou Alma, constitui com a Enteléquia o que se pode chamar um vivente, e com a Alma o que se pode chamar um mal animal. Ora, esse corpo de um vivente ou de um animal é sempre orgânico, pois cada Mônada sendo a seu modo um espelho do universo, e estando o universo regulado conforme uma ordem perfeita, é preciso que haja também uma ordem no representante, ou seja, nas percepções da alma e por conseguinte no corpo, segundo a qual o universo está representado nela. Teodicéia, § 403. 
XXXIII. Explicação da união da alma e do corpo, tida por inexplicável ou miraculosa, e da origem das percepções confusas
Compreende-se também o inopinado esclarecimento deste grande mistério da união da alma e do corpo 1 2 0 , isto é como acontece que as paixões e as ações de um deles se acompanhem das ações e paixões do outro, ou melhor, dos fenômenos convenientes do outro, porquanto não há meio de se conceber que um tenha influência sobre o outro, nem é razoável recorrer simplesmente à operação extraordinária da causa universal em coisa ordinária e particular. Eis, no entanto, a verdadeira razão1 dissemos que tudo quanto acontece à alma e a cada substância é conseqüência de sua noção, logo a própria idéia ou essência da alma implica também que todas as suas aparências ou percepções devam nascer-lhe (sponte) da sua própria natureza e precisamente de sorte a responderem por si mesmas ao que se passa em todo o universo, mais particular e mais perfeitamente, porém, ao que se passa no corpo que lhe está afeto, pois é, de algum modo e por certo tempo, segundo a relação dos outros corpos com o seu, que a alma exprime o estado do universo. Isto mostra, ainda, como o nosso corpo nos pertence sem estar contudo preso à nossa essência 1 2 2 . E as pessoas que sabem meditar, por poderem ver em que consiste a conexão da alma e do corpo, que parece inexplicável por qualquer outra via, creio que julgarão vantajosamente os nossos princípios. Vê-se também que as 70 percepções dos nossos sentidos, mesmo quando sejam claras, devem conter necessariamente algum sentimento confuso, pois, simpatizando todos os corpos do universo, o nosso recebe a impressão de todos os outros e, embora os nossos sentidos se refiram a tudo, é impossível nossa alma a tudo poder atender em particular. Por isso são osn ossos sentimentos confusos o resultado de uma variedade completamente infinita de percepções. E é quase como o murmúrio confuso ouvido por quem se aproxima da beira do mar e proveniente da reunião das repercussões de vagas inumeráveis 1 ". Ora, se de diversas percepções (que não concordam para fazerem uma) nenhuma há que exceda as outras, e se provocam mais ou menos impressões igualmente fortes ou igualmente capazes de determinar a atenção da alma, esta só pode aperceber-se delas confusamente (DM). 
2. Apercepção 
É a capacidade que a mônada espiritual tem de autorepresentar-se, isto é, de refletir; a mônada é cs. Consciência reflexiva do estado interior, a apercepção acompanha as percepções distintas. Ato pontual, a apercepção acrescenta-se, então, à percepção, permanente atividade expressiva do mundo a partir de um ponto de vista individual. Em resumo, percepção consciente. [M. 14, 19, 23, 29-30] 
19 . Se quisermos chamar de Alma tudo o que tem percepções e apetites no sentido geral que acabo de explicar, todas as substâncias simples ou Mônadas criadas poderiam ser chamadas de Almas; mas, como o sentimentoé algo mais que uma simples percepção, admito que o nome geral de Mônadas e de Enteléquias baste para as substâncias simples que só tenham percepção; e que se chame de almas só aquelas cuja percepção é mais distinta e acompanhada de memória. 
23. Assim, quando, voltando do aturdimento, apercebemo-nos de nossas percepções, é preciso que as tenhamos tido imediatamente antes, embora sem apercebermo-nos delas, pois uma percepção só pode provir naturalmente de outra percepção, como um movimento só pode provir naturalmente de um movimento. (Teodicéia, §§ 401-403). 
29 . Mas o conhecimento das verdades necessárias e eternas é o que nos distingue dos simples animais e nos faz possuidores da razão e das ciências, elevando-nos ao conhecimento de nós mesmos e de Deus. É o que se chama de Alma Racional ou espírito. 
30. Também pelo conhecimento das verdades necessárias e por suas abstrações, elevando-nos aos atos reflexivos, que nos fazem pensar no que se chama Eu e considerar que isto ou aquilo está em nós; e é assim que, ao pensar em nós, pensamos no ser, na substância, no simples ou no composto, no imaterial e no próprio Deus, quando concebemos que o que em nós é limitado, nele é sem limites. E estes atos reflexivos fornecem os objetos principais de nossos raciocínios. (Prefácio Teodicéia).
3. Apetição A apetição consiste na tendência de cada Mônada de fugir da dor e desejar o prazer, passando de uma percepção para outra. Apetição, inclinação: 
A apetição é a tendência que nos impele, continuamente de uma percepção a outra; o princípio de mudança interna. É regida pelas leis das causas finais do bem e do mal. A apetição exprime a mobilidade das almas, as quais não estão jamais em repouso e tendem continuamente a uma melhor harmonia interior. [M. 15, 79] 
15 . A Ação do princípio interno que faz a mudança ou a passagem de uma percepção a outra pode ser chamada Apetição; é verdade que o apetite nem sempre pode alcançar inteiramente toda a percepção a que tende, mas sempre obtém algo dela e chega a percepções novas. 
78. Estes princípios me permitiram explicar naturalmente a união ou, melhor, a conformidade da alma e do corpo orgânico. A alma segue suas próprias leis, e os corpos também as suas, e eles se encontram em virtude da harmonia preestabelecida entre todas as substâncias, pois todas elas são representações de um mesmo universo. Prefácio Teodicéia, §§ 340, 352, 353, 358. 
79. As almas agem segundo as leis das causas finais por apetições, fins e meios. Os corpos agem segundo as leis das causas eficientes ou dos movimentos. E os dois reinos, das causas eficientes e o das causas finais, são harmônicos entre si. 
4. Expressão 
Correspondência meramente formal, tal como uma analogia matemática, entre realidades diversas ou mesmo heterogêneas: basta que existam relações ou propriedades em uma coisa que correspondam às relações ou propriedades de uma outra para que possamos afirmar que uma exprime a outra. [M. 56-57, DM. 14, 16; Correspond. 91-105]
56. Ora, esta ligação ou acomodação de todas as coisas criadas a cada uma e de cada uma a todas as outras faz com que cada substância simples tenha relações que expressem todas as outras, e que seja, por conseguinte, um espelho vivo perpétuo do universo. (Teodicéia, §§ 130, 360). 
57. E assim como uma mesma cidade contemplada de diversos lados parece totalmente outra, e sendo como que multiplicada perspectivamente, o mesmo ocorre quando, devido à multiplicidade infinita de substâncias simples, parece haver outros tantos universos diferentes que, entretanto, nada mais são do que as perspectivas de um só, segundo os diferentes pontos de vista de cada Mônada (Teodicéia, § 147). 
XIV. Deus produz diversas substâncias conforme as diferentes perspectivas que tem do universo e, por sua intervenção, a natureza própria de cada substância implica que o que acontece a uma corresponda ao que acontece a todas as outras, sem que ajam imediatamente umas sobre as outras.
Conhecido, de certo modo, em que consiste a natureza das substâncias, temos de explicar a dependência que têm umas das outras e as suas ações e paixões. Ora, em primeiro lugar, é bem manifesto que as substâncias criadas dependem de Deus, que as conserva e até continuamente as produz por uma espécie de emanação, como produzimos os nossos pensamentos. Pois Deus, virando, por assim dizer, de todos os lados e maneiras o sistema geral dos fenômenos que considera bom produzir para manifestar a sua glória, e observando todos os aspectos do mundo de todas as formas possíveis (porque não existe nenhuma relação que escape à sua onisciência), faz com que o resultado de cada visão do universo, enquanto contemplado de um certo lugar, seja uma substância expressando o universo conforme a essa perspectiva, desde que Deus ache conveniente realizar o seu pensamento e produzir esta substância 4 '. E como a visão de Deus é sempre verdadeira, as nossas percepções igualmente o são, mas nossos juízos, que são apenas nossos, nos enganam. Ora, já dissemos mais acima, e segue-se do que acabamos de dizer, que cada substância é como um mundo à parte, independente de qualquer outra coisa, excetuando Deus. Assim, todos os nossos fenômenos, quer dizer, tudo quanto alguma vez pode acontecer- nos, são apenas consequências de nosso ser. E como esses fenômenos conservam uma certa ordem conforme à nossa natureza ou, por assim dizer, ao mundo existente em nós, o que nos permite, para regular nossa conduta, a possibilidade de efetuar observações úteis, justificadas pelo acontecimento de fenômenos futuros e assim podermos, muitas vezes, sem engano julgar o futuro pelo passado, isto seria suficiente para se afirmar que esses fenômenos são verdadeiros, sem nos afligirmos a investigar se existem fora de nós e se outros os apercebem também. No entanto, é bem verdade que as percepções ou expressões de todas as substâncias se entre correspondem de tal sorte que qualquer um, seguindo atentamente certas razões ou leis que observou, se encontra com outro que fez o mesmo, como quando várias pessoas, tendo combinado encontrar-se reunidas em algum lugar e em um dia prefixado, podem efetivamente fazê-lo, se o desejarem. Ora, se bem que todos exprimam os mesmos fenômenos, nem por isso as suas expressões se identificam; é suficiente que sejam proporcionais. Do mesmo modo vários espectadores creem ver a mesma coisa e efetivamente se entendem entre si, embora cada um veja e fale na medida da sua perspectiva. Somente Deus, de quem todos os indivíduos emanam continuamente, e que vê o universo não só como eles veem, mas também de modo inteiramente diverso de todos eles, pode ser causa desta correspondência dos seus fenômenos e tornar geral para todos o que é particular a cada um. De outra forma não haveria possibilidade de ligação. De certo modo e no bom sentido, embora afastado do usual, poder-se-á dizer que nunca uma substância particular atua sobre uma outra substância particular, e tampouco padece 4 3 , se os eventos de cada uma são considerados apenas como consequência de sua simples ideia ou noção completa; pois esta ideia contém já todos os predicados ou acontecimentos e exprime todo o universo. Com efeito, nada pode acontecer-nos além de pensamentos e percepções, e todos os nossos futuros pensamentos e percepções não passam de consequências, embora contingentes, dos nossos pensamentos e percepções anteriores, de tal modo que, se eu fosse capaz de considerar distintamente tudo quanto nesta hora me acontece ou aparece, nessa percepção poderia ver tudo quanto me acontecerá e aparecerá sempre, o que não falharia e aconteceria da mesma maneira, embora tudo quanto existisse fora de mim fosse destruído, desde que restassem Deus e eu . Visto, porém, atribuirmos a outras coisas, como às causas agentes sobre nós, aquilo de que nos apercebemos de uma certa maneira, é preciso considerar o fundamento deste juízo e o que há de verdadeiro nele.
XVI. O concurso extraordinário de Deus está compreendido no que a nossa essência exprime, pois esta expressão se estendea tudo, mas ultrapassa as forças da nossa natureza ou da nossa expressão distinta, que é finita e segue certas máximas subalternas. 
Presentemente, só resta explicar a possibilidade de Deus exercer algumas vezes influência sobre os homens ou sobre as outras substâncias por um concurso extraordinário e miraculoso, pois, segundo parece, lhes de extraordinário ou de sobrenatural já que todos os seus acontecimentos são apenas consequências da sua natureza. Mas é preciso recordar o que dissemos antes relativamente aos milagres do universo, sempre conformes à lei universal da ordem geral, embora acima das máximas subalternas. E, desde que toda pessoa ou substância é como um pequeno mundo exprimindo o grande, pode-se dizer, igualmente, que essa ação extraordinária de Deus sobre essa substância não deixa de ser miraculosa, muito embora compreendida na ordem geral do universo, enquanto expressado pela essência ou noção individual dessa substância 4 9 . Por isto, se compreendemos na nossa natureza tudo que ela expressa, nada é nela sobrenatural, pois se estende a tudo, já que um efeito exprime sempre a sua causa e Deus é a verdadeira causa da substância. Porém, como o que a nossa natureza expressa com maior perfeição lhe pertence de maneira particular (pois nisto consiste a sua potência, e esta é limitada, como acabo de explicar), há muitas coisas ultrapassando as forças da nossa natureza e ainda a de todas as naturezas limitadas. Por conseguinte, no intuito de 34 falar mais claramente, digo que os milagres e concursos extraordinários de Deus possuem de característico o não poderem ser previstos pelo raciocínio de algum espírito criado, por mais esclarecido que seja, porque a distinta compreensão da ordem geral ultrapassa a todos, ao passo que tudo o que chamamos de natural depende das máximas menos gerais, que as criaturas podem compreender. Para as palavras serem tão irrepreensíveis como o sentido, seria bom unir certas maneiras de falar a certos pensamentos, e poderia denominar-se nossa essência ou ideia o que compreende tudo quanto exprimimos, e, como exprime a nossa união com o próprio Deus, não tem limites e nada a ultrapassa. Porém, o que em nós é limitado poderá chamar-se a nossa natureza ou potência, e, a esse respeito, tudo o que ultrapassa as naturezas de todas as substâncias criadas é sobrenatural. 
Graus das mônadas segundo a consciência
A continuidade existente entre os seres não anula a diferença de natureza entre as simples mônadas e os espíritos. Há dois tipos de inconsciente: inconsciente da percepção, próprio das simples mônadas enquanto são apenas “espelhos do universo”, e o inconsciente de imitação, pertencente apenas aos espíritos enquanto não são apenas espelhos, mas espelhos dotados de reflexão. 
Acima das mônadas nuas (corpos brutos que só têm percepções inconscientes e apetições cegas) existem mônadas sensitivas (animais dotados de apercepções e desejos) e as mônadas racionais, com consciência e vontade.
Deus sempre dá à criatura e produz continuamente o que existe de positivo, de bom e de perfeito nela, todo dom perfeito vindo do pai das luzes; enquanto as imperfeições e os defeitos das operações vêm da limitação original que a criatura não pôde deixar de receber com o primeiro começo de seu ser pelas razões ideais que a limitam. Pois Deus não podia lhe dar tudo sem fazer dela um Deus; seria preciso, então, que houvesse diferentes graus na perfeição das coisas, e que também houvesse limitações de toda sorte (Teodiceia, n. 31) 
O MELHOR DOS MUNDOS
 a) A harmonia pré-estabelecida
O universo é concebido à semelhança de um organismo pleno, cujas partes convivem numa harmonia natural e onde tudo é análogo a tudo.
A harmonia é a justa proporção, a unidade na multiplicidade ou a diversidade compensada pela identidade. Descobrir prazer em alguma coisa é vivenciar sua harmonia, sua variedade contrabalançada pela semelhança. Deus é, Ele mesmo, princípio de beleza e harmonia das coisas. A harmonia é, portanto, o objeto natural de amor. No sistema da harmonia, da concomitância ou hipótese dos acordos, todas as coisas e acontecimentos do universo conspiram em conjunto para o mais belo. [M. 56; DM. 9, 15; SN. 14-15]
56. Ora, esta ligação ou acomodação de todas as coisas criadas a cada uma e de cada uma a todas as outras faz com que cada substância simples tenha relações que expressem todas as outras, e que seja, por conseguinte, um espelho vivo perpétuo do universo (Teodicéia, §§ 130, 360). 
57. E assim como uma mesma cidade contemplada de diversos lados parece totalmente outra, e sendo como que multiplicada perspectivamente, o mesmo ocorre quando, devido à multiplicidade infinita de substâncias simples, parece haver outros tantos universos diferentes que, entretanto, nada mais são do que as perspectivas de um só, segundo os diferentes pontos de vista de cada Mônada (Teodicéia, § 147). 
58. E este é o meio de obter toda a variedade possível, mas com a maior ordem possível, ou seja, é o meio de obter tanta perfeição quanto possível (Teodicéia, §§ 120; 124, 241 ss., 214, 243, 275). 
b) Cada mônada é um espelho do mundo
Altamente influenciado por esse pensamento de Cusa, Leibniz procura compreender esse estado de coisas através do modelo do “espelho” (miror). Tudo espelha tudo. Não existe nenhuma coisa sozinha; ali onde vemos uma coisa sozinha (Einzelding) encontra-se um espelho que reflete o todo do mundo de modo pleno e exato, mesmo que não possamos vê-lo em toda sua claridade, mas temos de deixar a maior parte do mesmo no obscuro.
Cusano. Tudo em tudo’ (omnia in omnibus). Esse significado quer dizer que na estrutura, qualquer modificação em qualquer ponto/lugar leva a uma modificação característica em todos os demais pontos. Pode-se constatar a mudança num ponto portanto também observando outros pontos (p. 53, Usprung). 
Em Leibniz temos um exemplo extremado, pelo qual numa determinada folha de árvore poderíamos ler a situação da totalidade do mundo, se pudéssemos ver num movimento retroativo de todos os nexos de atuação que podem ser encontrados nessa folha.
IX Cada substância singular exprime todo o universo à sua maneira; e em sua noção estão compreendidos todos os seus acontecimentos com todas as circunstâncias e toda a série das coisas exteriores. 
IX. Seguem-se daqui vários paradoxos consideráveis, entre Outros, por exemplo, não ser verdade duas substâncias assemelharem-se completamente e diferirem apenas solo numero; e o que Santo Tomás afirma nesse ponto dos anjos ou inteligências (quod ibi omne individuum sit specie infima) é verdade de todas as substâncias, desde que se tome a diferença específica como a tomam os geômetras relativamente às suas figuras; item, que uma substância só poderá começar por criação, e só por aniquilamento perecer; não se dividir uma substância em duas, nem de duas se formar uma, e assim, naturalmente, o número de substâncias não aumenta nem diminui, embora frequentemente elas se transformem. Ademais, toda substância é como um mundo completo e como um espelho de Deus, ou melhor, de todo o universo, expresso por cada uma à sua maneira, quase como uma mesma cidade é representada diversamente conforme as diferentes situações daquele que a olha. Assim, de certo modo, o universo é multiplicado tantas vezes quantas substâncias houver, e a glória de Deus igualmente multiplicada por todas essas representações de sua obra completamente diferentes. Pode-se até dizer que toda substância traz de certa maneira o caráter da sabedoria infinita e da onipotência de Deus e imita-o quanto pode. Pois exprime, embora confusamente, tudo o que acontece no universo, passado, presente ou futuro, o que tem certa semelhança com uma percepção ou conhecimento infinito; e como todas as outras substâncias por sua vez exprimem esta e a ela se acomodam, pode-se dizer que ela estende seu poder a todas as outras, à imitação da onipotência do Criador (DM).
c) O mal
1) O mal metafísico 
O mal metafísico é a fonte do mal moral e deste decorre o mal físico. O mal metafísicoé a imperfeição inerente a própria essência da criatura, pois se ela não fosse imperfeita, seria o próprio Deus. O que é perfeito pode contemplar o bem, sem possibilidade de erro, mas uma substância imperfeita não é capaz de apreender o todo, tem percepções inadequadas e se deixa envolver pelo confuso. Não se deveria responsabilizar o criador, pois, pela existência do mal, porque Deus proporciona a todos as mesmas graças, mas cada um pode se beneficiar delas de acordo com sua limitação original. 
Ao produzir o mundo tal como ele é, Deus escolheu o menor dos males, de tal forma que o mundo comporta o máximo de bem e o mínimo de mal.
Relativo ao bem, que o limita ou enfraquece, o mal não possui realidade clara. Sua natureza é relativa ou privativa: “o mal é uma privação do ser, ao passo que a ação de Deus é positiva” (Teodicéia § 29). Leibniz o compara com a inércia natural dos corpos. Sem realidade ontológica, corresponde a uma limitação de perfeição do ser. O mal, estritamente falando, não é nada.
Os antigos atribuíam a causa do mal à matéria, que acreditavam não ser passível de criação e independente de Deus: mas nós, que derivamos tudo d’Ele, onde encontraremos a fonte do mal? A resposta é que ela deve ser buscada na natureza ideal da criatura, na medida em que essa natureza está contida nas verdades eternas que estão no entendimento de Deus, independentemente de Sua vontade. Pois devemos considerar que há uma imperfeição original na criatura antes do pecado, porque a criatura é limitada em sua essência; donde resulta que ela não pode conhecer tudo e que pode se enganar e cometer outros erros (Teodiceia 20).
b) O mal moral
Deus sempre dá à criatura e produz continuamente o que existe de positivo, de bom e de perfeito nela, todo dom perfeito vindo do pai das luzes; enquanto as imperfeições e os defeitos das operações vêm da limitação original que a criatura não pôde deixar de receber com o primeiro começo de seu ser pelas razões ideais que a limitam. Pois Deus não podia lhe dar tudo sem fazer dela um Deus; seria preciso, então, que houvesse diferentes graus na perfeição das coisas, e que também houvesse limitações de toda sorte (Teodiceia, n. 31) 
Nós estabelecemos que o livre arbítrio é a causa próxima do mal da culpa, e em seguida do mal das penas, embora seja verdadeiro que a imperfeição original das criaturas que se encontra representada nas ideias eternas delas é a primeira e a mais distante de suas causas (Teodiceia n. 288)
c) O mal físico
Sobre o mal físico, pode - se dizer que Deus muitas vezes o quer como uma pena decorrente da culpa. Também com frequência, ele o quer como um meio adequado para um fim, isto é, para impedir maiores males ou para obter maiores bens. A pena funciona também como corretivo e como exemplo. E o mal amiúde serve para que melhor se aprecie o bem e para maior perfeição daquele que sofre (Teodiceia, n. 23 ). 
É imperioso que tenha havido razões determinantes ou ocultas que levaram a sabedoria divina a permitir o mal que tanto nos choca, pelo próprio fato de tê-las permitido, pois nada que não seja perfeitamente conforme à sua bondade, justiça e santidade pode provir de Deus. Consequentemente, podemos julgar pelo evento, a posteriori, que essa permissão era indispensável, embora não possamos demonstrar detalhadamente, a priori, as razões que Deus pode ter tido para isso (LEIBNIZ apud ESTRADA, 2004, p. 225). 
Experimenta-se suficientemente a saúde, sem nunca se ter estado doente? Não é preciso que um pouco de mal torne o bem sensível, isto é, maior?
MELHORIZAÇÃO
Pode-se duvidar se o mundo avança sempre em perfeição ou se avança e recua por períodos... Pode-se pois questionar se todas as criaturas avançam sempre, ao menos no final de seus períodos, ou se existem também aquelas que perdem e recuam sempre, ou, enfim, se existem aquelas que realizam períodos no final dos quais percebem não ter ganho nem perdido; da mesma forma que existem linhas que avançam sempre, como a reta, outras que voltam sem avançar ou recuar, como a circular, outras que voltam e avançam ao mesmo tempo, como a espiral, outras, finalmente, que recuam depois de terem avançado, ou avançam depois de terem recuado, como as ovais. 
O começo da estrutura
O nascimento pressupõe um entorno prévio, mas não pode ser deduzido dele. Ele se organiza de acordo com as formas básicas da auto-origanização do seu entorno, mas lhe dá um caráter próprio de totalidade e uma nova autenticidade, uma si-mesmidade, um si-mesmo, mesmo usando formas, fórmulas e princípios gerais. Nascimento: Dostoiévski.
Constituição do eu na antropologia estrutural
Toda estrutura apresenta algo como um corpo como centro de seu eu. Todo corpo possui um centro-eu, cada eu só é possível como centro de uma corporeidade. O eu se desdobra nos momentos de uma corporeidade, e dessas recolhe-se de volta em sua unidade, e a corporeidade só é “sadia” enquanto se dá esse recolhimento. Doença e dor são divisões dessa totalidade, ruptura na harmonia do todo.
Esse processo não se desdobra só na relação do si-mesmo com o corpo, mas tb. na relação do organismo com o mundo circunstante. O eu deve viver para dentro de seu mundo circunstante de modo a transformá-lo num outro “corpo”. Do mesmo modo que não se pode viver num corpo estranho, tampouco se pode viver com seu corpo num entorno totalmente estranho. O entorno deve poder ser incorporado, somatizado. Relação dentro-fora.
Todo vivente tem esse processo de autoconstituição que, através da alienação num fora leva para um interior mais elevado. (meliorização). Trata-se de uma auto-ampliação do si-mesmo. 
Quando se estende demais, e isso sempre ocorre, começa o processo de recolhimento e morte. Folhas caem da árvore, maturidade.
http://leibnizbrasil.pro.br/leibniz-glossario.htm
LEIBNITZ E O CONHECIMENTO
Para melhor entender a natureza das idéias, é preciso tratar da variedade dos conhecimentos. Quando posso reconhecer uma coisa entre as demais, sem poder dizer em que consistem suas diferenças ou propriedade, o conhecimento é confuso. Assim, às vezes conhecemos claramente, sem dúvida alguma, se um poema ou um quadro está bem feito ou mal feito, porque há um "não sei quê" que nos agrada ou nos irrita. Mas quando posso explicar as notas que tenho, o conhecimento se chama distinto. É o caso, por exemplo, do conhecimento de um contraste, que distingue o ouro verdadeiro do falso, por meio de certas provas ou sinais que constituem a definição do ouro.
Mas o conhecimento distinto tem seus graus, pois, de um modo geral, as noções que entram na definição necessitam, também elas, ser definidas, e só se conhecem confusamente. Mas quando tudo que entra numa definição ou conhecimento distinto se conhece distintamente até em suas noções primitivas, pode-se, então, dizer que estamos diante de um conhecimento adequado.
Quando minha mente compreende de uma vez e distintamente todos os ingredientes primitivos de uma nação, tem dela então um conhecimento intuitivo, que é muito raro, pois, na maioria, os conhecimentos humanos são apenas confusos e fundados na suposição. Convém também distinguir as definições nominais e as reais. Falo de definição nominal quando se pode ainda duvidar se a noção definida é possível, como, por exemplo, se digo que um parafuso sem fim é uma linha sólida cujas partes são congruentes ou podem incidir uma sobre a outra. Uma pessoa que, além disso, não conhece um parafuso sem fim, poderá duvidar se é possível uma linha desse tipo, embora ela seja uma propriedade específica do parafuso sem fim. Pois, as demais linhas cujas partes são congruentes (que são unicamente a circunferência do círculo e a linha reta), são planas, isto é, podem ser descritas "in plano".
Toda propriedade recíproca pode, portanto, servir para uma definição nominal. Mas quando a propriedade dá a conhecer a propriedade da coisa, torna real a definição. E quando só se tem uma definição nominal, não será possível conhecer as consequências que dela resultam, pois, se houveralguma contradição ou impossibilidade, pode-se tirar consequências opostas.
As verdades, por isso, não dependem dos nomes e não são arbitrárias, como imaginavam alguns filósofos novos. Quanto ao mais, há também uma diferença entre as espécies de definições reais, pois quando a possibilidade só se prova por experiência, como na definição do mercúrio, cuja possibilidade se conhece porque se sabe que efetivamente se encontra um corpo que é um fluído extremamente pesado e, apesar disso, extremamente volátil - a definição é apenas real, e nada mais.
Quando porém a prova da possibilidade se faz "a priori", a definição é também real e causal, como quando contém a possível geração da coisa. E quando leva a análise ao extremo, até as noções primitivas, sem supor nada que necessite uma prova "a priori" de sua possibilidade, a definição é perfeita ou essencial.
Mas é evidente que não temos nenhuma idéia de uma noção quando ela é impossível. E quando o conhecimento é apenas supositivo, embora tenhamos a idéia, não a contemplamos, pois uma noção semelhante só se conhece do mesmo modo que as noções ocultamente impossíveis. E se são possíveis, a maneira de conhecer é outra. Por exemplo, quando penso em mil, ou num quiliógono (polígono regular de mil lados - N.T.), faço-o frequentemente, sem contemplar sua idéia - como quando digo que mil é dez vezes cem - sem fazer questão de pensar o que é realmente 10 e o que é 100, porque parto da suposição de que já sei e imagino que não preciso me deter no assunto para concebê-lo.
Desse modo, poderá muito bem acontecer, como de fato acontece com muita frequência, que eu me engane a respeito de uma noção que suponho e julgo entender, embora seja na verdade impossível, ou ao menos incompatível, em referência às outras com que as relaciono. E quer me engane ou não me engane, esse modo supositivo de conhecer é sempre o mesmo. Assim, pois, só quando nosso conhecimento é claro nas noções distintas, é que realmente vemos uma idéia inteira.
Para compreender bem o que é uma idéia, é preciso evitar o equívoco. Muitos tomam a idéia pela forma ou diferença de nossos pensamentos, e desse modo só temos a idéia na mente enquanto nelas pensamos de novo, retemos outras idéias da mesma coisa, embora geralmente semelhantes umas às outras. Parece, porém, que outros tomam a idéia como um objeto imediato do pensamento ou alguma forma permanente que persiste quando não a contemplamos.
Na verdade, nossa alma tem sempre em si a qualidade de representar-se qualquer natureza ou forma, sempre que se apresenta uma ocasião de pensar em alguma delas.

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