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Thayse Lopes Fonseca de Oliveira CARTAS A UM JOVEM TERAPEUTA: REFLEXÕES PARA PSICOTERAPEUTAS, ASPIRANTES E CURIOSOS. Resenha crítica apresentada na disciplina de introdução à história da psicologia, do Curso de Psicologia, da Universidade Estácio de Sá, para complementação da avaliação da 1° nota do semestre. Professora: Alanne dos Reis Brito de Sena Macapá, maio de 2020 CARTAS A UM JOVEM TERAPEUTA Contardo Calligaris, publicado em 2004 o livro “Cartas a um jovem terapeuta”, apresenta uma série de cartas escritas pelo psicanalista Contardo Calligaris a um jovem que esteja iniciando, considerando iniciar, profissionais já atuantes ou interessados pela área da psicoterapia. Por meio de perguntas e respostas, Calligaris compartilha seu conhecimento, discute e destrincha a profissão de terapeuta, dando as informações necessárias a todos os interessados nessa área O Autor fala sobre a habilidade vocacional, enfatizando que se há algum tipo de dúvida em relação à profissão, e se existem perguntas sobre “o que precisam para dar certo na profissão desejada?”. Segundo Calligaris(20004), o terapeuta precisa ter alguns traços de caráter e de personalidade que dificilmente podem ser adquiridos no decorrer da formação. Essa colocação me faz refletir, pois o aluno já entra com um visão do que é psicologia, e ao passar do tempo suas opiniões podem trilhar outros caminhos sobre os assuntos relacionados à profissão. Dando sequência ao capítulo,Calligaris (2004), diz que se por alguma razão é importante para você se alimentar no reconhecimento e no agradecimento infinito dos outros, então não escolha a profissão de psicoterapeuta, por duas razões: a primeira, porque na vida social o psicoterapeuta não encontrará nada parecido com a espécie de gratidão; e segundo porque o psicoterapeuta não deve esperar a gratidão dos pacientes. O autor segue expondo que nas curas que proporciona, o psicoterapeuta é o remédio, então, penso que este “próprio remédio” é de certa forma a gratidão e o reconhecimento do cliente. Os clientes idealizam seus profissionais da saúde, levando suas dores depositando assim toda sua confiança, esta pode ser excessiva, mas, mesmo em excesso, ela é útil para que a cura funcione. No caso da psicoterapia essa confiança vale mais ainda, é importante para que a cura aconteça. Calligaris (2004), diz que nenhum psicoterapeuta, seja ele qual for, deve almejar a dependência do cliente. Isso faz muito sentido, pois o que se deve fazer é ajudá-lo a manejar sua vida sozinho, não que dependa do psicoterapeuta para qualquer decisão a ser tomada, o cliente precisa viver com suas “próprias pernas”, até porque ele não fará terapia por toda vida. E então o autor segue, dizendo que o que se espera é que o psicoterapeuta faça seu efeito e, que o cliente pare de idealizar o terapeuta. Calligaris (2004) expõem os traços de caráter que procuraria em quem quisesse se tornar psicoterapeuta: 1) um gosto pronunciado pela palavra e um carinho espontâneo pelas pessoas, por diferentes que sejam; 2) extrema curiosidade pela variedade da experiência humana com o mínimo possível de preconceito, pois o bem e o mal de uma vida não se decidem a partir de princípios preestabelecidos, tendo em vista que um psicoterapeuta não deve ter um juízo moral preconcebido sobre tais fantasias ou preferências, caso contrário não seria capaz de respeitar a singularidade de seus pacientes. Pressupõem-se então, que, ou você escuta seu cliente sem juízo moral preconcebido, ou então, vendo ser um limite seu, enquanto terapeuta é preciso ter bom senso e encaminhar para outro terapeuta, afinal de contas em algum momento irá aparecer histórias de vidas parecidas com a sua, pois mesmo sendo terapeuta você continua sendo ser humano e tendo uma vida fora do consultório, como a de seus clientes; 3) variedade de experiência humana; 4) uma boa dose de sofrimento psíquico, desaconselhando assim, a profissão para quem “está muito bem”, pois o futuro terapeuta deve ser paciente por um bom tempo, e porque no futuro, muitas vezes você duvidará da eficácia de seu trabalho. O Autor dá ênfase também nos momentos em que o terapeuta ou analista é levado a apontar um caminho e mesmo a empurrar o paciente na direção que parece mais certa, ou seja, na direção de seu desejo. É por isso que uma terapia leva tempo, porque, antes de empurrar, é preciso que esse desejo consiga se manifestar um pouco. Há também necessidade de carinho e aceitação por parte do terapeuta, pelas variedades das vidas com todas as suas diferenças. De acordo com o autor, o atendimento ao primeiro paciente, onde o autor diz preferir encaminhar pacientes aos analistas cuja curiosidade para com o mundo, a vida e a cultura se estenda além das quatro paredes do consultório. No entanto, enfatiza que nem sempre os clientes preferem terapeutas experientes e, que é preciso que sejamos nós mesmos na hora do atendimento, apesar de a experiência ajudar na conduta das curas, é muito bom que continuemos com muita curiosidade e vontade de escutar como um terapeuta iniciante. É destacado também em seu livro o tema “amores terapêuticos”, onde o autor cita a importância dos sentimentos negativos, como o ódio, durante a terapia permitem e facilitam o trabalho , tanto quanto o amor. A psicanálise deu a essa paixão o nome de amor de transferência, o qual teria sido transferido, e é a “mola da cura”, pois possibilita que a cura continue apesar de alguns empecilhos, e permite ao paciente viver ou reviver, na relação com o terapeuta, a gama de afetos e paixões que são ou foram dominantes em sua vida, onde se dará a ocasião de modificar os rumos e desfechos dos padrões afetivos que assolam sua vida. Como o cliente idealiza seu terapeuta acaba se apaixonando, porém, é um equívoco, e uma relação amorosa e sexual não é boa quando construída sobre um equívoco, porque depois a decepção poderá vir de um lugar que foi idealizado além da conta. Por isso a relação amorosa e sexual com clientes é desaconselhada.É ressaltado em seu livro, que o essencial da formação acontecerá depois da faculdade, ou, durante os estudos. Uma peça-chave da formação de um psicoterapeuta é o tratamento ao qual ele mesmo se submete. Para Calligaris (2004) o ser humano é capaz de inventar patologias para explicar seus mal-estares, por isso à necessidade que o terapeuta escolha uma “direção” e o percorra detalhadamente.É útil que o psicoterapeuta conheça os diagnósticos do Manual Estatístico Diagnóstico adotado pela Organização Mundial de Saúde, pois mesmo que não prescreve psicotrópicos irão atender clientes que fazem uso, então a necessidade de conhecer os princípios ativos dos remédios. As novas gerações estão valorizando a reprodução e a preservação da doutrina na qual se formaram, e não o compromisso com os clientes, porém a orientação terapêutica não é uma ideologia na qual se faz necessário e obrigatório à repetição fiel (CALLIGARIS, 2004). A explanação “sobre curar ou não curar”, onde as definições tradicionais dizem que curar significa restabelecer a normalidade funcional ou, então, levar o sujeito a seu estado anterior à doença. Contudo a psicanálise não quer ter uma noção preestabelecida de normalidade, ou seja, o ideal de normalidade é o estado em que o sujeito se permite realizar suas potencialidades, conseguindo viver plenamente dentro de seus limites impostos pela própria história e constituição. Sendo definida desta forma, a normalidade pode ser o alvo da cura dos terapeutas. Calligaris (2004) diz que a decisão possa depender simplesmente de uma questão de conforto, seu e de seu paciente. Penso que não seja uma regra, cada um trabalha da maneira que lhe convém. O autor prossegue expondo que existem pacientes que não aguentam a ideia de falar sem ver a cara de quem escuta, também tem aqueles pacientes contrários, que não aguentam encontrar o olhar de seu terapeuta. E conclui que o setting não vai curar ninguém, e seu propósito é permitir que o paciente se engaje na cura, ou seja, o setting não é condição nem garantia de nada. Uma análise ou uma terapia acontecem pelas palavras trocadas e pelas relações que elas organizam. Nas entrevistas preliminares é possível se colocar duas questões durante os primeiros encontros com o paciente: se perguntar se neste caso poderia ser de algum auxílio; e pedir ao paciente o que espera da terapia.Segundo o autor, uma sessão fixa tem duração de 45 ou 50 minutos, mas também pode-se fazer uma sessão com tempo variável. Particularmente Calligaris (2004) gosta de trabalhar com um tempo em que o paciente possa evocar algumas lembranças e explorá-las.O autor expõe que acontecem atrasos em suas sessões, não só porque às vezes as sessões duram mais do que o previsto, mas, sobretudo porque ele tenta estar disponível em uma urgência. Mas e, por exemplo, os pacientes que estão aguardando para serem atendidos? O respeito com estes? Realmente é preciso ser muito bem analisado o caso de passar do tempo estipulado para as sessões, pois pode ser também que o paciente esteja inventando situações para que se prolonguem seu tempo. Calligaris (2004) finaliza dizendo que quer sobretudo encorajar-nos a inventar uma maneira de atender que seja nossa. O livro expõe sobre alguns conflitos inúteis, como o uso de fármacos e da neurociências. Sabe-se que a farmacologia e a neurociência está evoluindo cada vez mais, porém creio que apenas pílulas ou intervenções cirúrgicas não bastem para que as pessoas não tenham mais transtornos. Por exemplo, como citado no livro, “todos sabemos que, por mais que eu tome a pílula mágica na hora da morte de meu amigo, algum dia terei de enfrentar a dor de um luto. A não ser que decida viver para o resto de minha vida sob anestesia” (CALLIGARIS, p.130).Calligaris (2004) pressupõem no décimo capítulo causas internas e externas da infância e atualidade. Diz que os acontecimentos da infância deixam vestígios para a vida inteira, e qualquer evento nos marca e nos transforma apenas na repetição, ou seja, quando é evocado, retomado, revivido. Os fatos de nossas vidas agem em nós pela história em que se integram. Segundo o autor, reinterpretar o passado, descobrir novos sentidos para o que aconteceu é quase sempre uma maneira de mudar nosso presente. Porém, não concordo, pois o que adianta vivermos nossos sofrimentos, se o que nos move é o hoje, o agora, sendo que o que pode ser modificado é o futuro. Tendo em vista também a questão de nossos clientes querem soluções imediatas, como vamos reviver o passado (que é um processo demorado). Penso que, por este motivo que à necessidade de analisar o presente, para alterar o futuro. No último capítulo o autor finaliza seu livro dizendo que no decorrer da cura, haverá momentos em que será inevitável que o paciente nos considere e nos use como modelo. São efeitos da identificação ao analista. Em um momento ou outro serviremos de exemplo para nossos clientes. Seria fácil chegar à ideia de que o terapeuta deve mostrar ao mundo uma face feita de normalidade tranquila, de bem-estar equilibrado. Com isso, sugere-nos sermos nós mesmos se nos sentirmos responsáveis por tais identificações que ocorreram futuramente.No parágrafo final ele fez-se entender o que o livro todo queria mostrar aos jovens terapeutas: “Eles querem mudar, e você também, junto com eles, pode querer que eles mudem. Mas uma mudança não é coisa que possa ser imposta. Ela não virá da imposição do rigor abstrato da técnica que você aprendeu, do setting no qual você se formou ou da teoria com a qual você escolheu justificar suas palavras e seus atos terapêuticos. Ao contrário, para que uma mudança aconteça um dia, é preciso que uma relação comece; e uma relação só pode começar nas condições que são irrenunciáveis por seu paciente.”
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