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APOSTILA UNIDADE 03 O ESBOÇO HOMILÉTICO E OS QUATRO TIPOS DE SERMÕES MAIS COMUNS Objetivo: O estudante ter um vislumbre sobre a estrutura de um esboço homilético e conhecer as principais definições e características dos quatro principais tipos de sermão, entendendo o seu significado, suas peculiaridades e, principalmente, observando alguns exemplos de cada um deles, a fim de fixar melhor suas diferenças. Sumário: 1 Introdução 2 A Estrutura Básica de um Sermão 3 Os Quatro Tipos mais Comuns de Sermões 3.1 O Sermão Temático 3.2 O Sermão Textual 3.3 O Sermão Expositivo 3.4 O Sermão Pseudo-Expositivo 4 Resumo 1 Introdução Nesta unidade teremos um vislumbre sobre as partes que compõem a estrutura homilética de um sermão, para melhor entender a diferença entre os tipos de sermões mais utilizados. Nosso enfoque será sobre a estrutura como um todo; pois na Unidade 05 e 06 voltaremos a gastar mais energia sobre cada uma das partes. Aqui nos convém saber da importância de um esboço bem elaborado e, principalmente, de conhecer a sequência de apresentação de cada uma de suas partes. Também adiantaremos um pouquinho sobre o DOICA, que será estudado com maior profundidade na Unidade 04. Aqui precisaremos apenas ter uma noção de seu funcionamento, pois nosso maior enforque será a diferenciação entre os sermões Temático, Textual e Expositivo. 2 A Estrutura Básica de um Sermão Como mencionamos anteriormente, um bom esboço é a “alma da Homilética”. Não importa se você prega de “improviso, a partir de uns pequenos lembretes, lendo tudo, lendo partes, ou de memória, sem usar nenhuma anotação, seu estilo não precisa ser mudado. Se aprimore nele e procure desenvolvê-lo com cada vez mais maestria. Todavia, uma coisa é certa, se você se deixar ensinar pelas dicas homiléticas sobre como construir um bom esboço sua pregação será muito mais impactante e mais aprazível de ser ouvida. Observe na figura a seguir, a estrutura básica do esboço de um sermão. Sei que mais à frente voltaremos a nos debruçar com mais afinco sobre esta temática, mas precisamos pelo menos entender as partes de um esboço Homilético para melhor compreender os exemplos utilizados para cada Tipo de sermão. Eis abaixo uma estrutura bem enxuta de um esboço: Note que, assim como em qualquer texto, é necessário haver início, meio e fim. Quanto melhor for pensada esta trajetória, melhor ficará na hora de se transmitir a mensagem que estudamos. Observe que temos a leitura do texto bíblico (ou se for muito longo e o tempo curto, pode ser feito um resumo da passagem). Como já falamos anteriormente, não existe sermão sem texto bíblico. A introdução deve ser pensada como uma forma de “atrair” a atenção dos ouvintes aos fatos a serem analisados. Ela pode ser uma música, uma coreografia, um teatro, um fantoche, uma historinha (real ou fictícia), um “estudo de caso”, uma contextualização sobre o que estava acontecendo ou como era na época que aquele texto foi escrito, algum filminho ou cenas de algum filme. Enfim, podemos usar a criatividade procurando responder a seguinte pergunta: qual seria a melhor forma de eu iniciar este ou aquele sermão? A introdução poderá ser apresentada antes ou depois da leitura ou da exposição do título do sermão. Além da introdução e da leitura do texto bíblico, devemos sempre anunciar o título. Não somente nos momentos iniciais (antes ou depois da introdução ou da leitura), mas a cada tópico. Sim, a cada transição de um tópico para o outro Estrutura do Esboço de um Sermão A. Texto Bíblico B. Introdução C. Corpo do Sermão: - No mínimo dois Tópicos (em conexão com o título) - No mínimo dois Subtópicos (em conexão com cada tópico) - Uma Aplicação para cada subtópico (coerentes com cada parte) D. Conclusão: fechamento e apelo Apresentação do Título Lugar das Ilustrações precisamos fazer menção ao título. Assim não precisamos cometer a gafe de ficar falando: “agora vamos ver sobre o segundo ponto:” Além disso, quando terminarmos, as pessoas saberão sobre o que foram desafiadas (título) e como responder a tal desafio (tópicos, subtópicos e aplicações). A diferença entre aplicação e ilustração é que na primeira eu explico como devo usar e aplicar a palavra de Deus aos dias de hoje, enquanto que as ilustrações são exemplos de como foi feito ou praticado a verdade que se está sendo ensinada. Elas devem ser usadas a cada subtópico e na conclusão. Embora na introdução não precisemos falar sobre aplicações. Afinal, estamos atraindo a atenção do ouvinte para o restante do tempo e não precisamos dar a resposta logo de cara, apenas se a situação exigir. Uma prévia sobre o processo como um todo: primeiro a gente lê o texto (várias vezes, em Versões Bíblicas diferentes, procurando Delimitar a perícope (ou parágrafo de pregação), buscando deixar bem definido onde começa e onde termina nosso texto a ser estudado. Após isso, voltamos a lê-lo, Observando com cuidado o que nos diz. Depois, ou simultaneamente, devemos ir Intrepretando, buscando saber o que ele significou na época em que foi dito. Em seguida passamos a Comparar com outros textos bíblicos ou outras situações que possam ilustrar ou clarificar tal conceito. E, por fim, devemos Aplicar a Palavra de Deus aos nossos dias. Assim, temos um sistema de estudo denominado DOICA,1 através do qual, devemos observar o texto bíblico, interpretar o que ele significava, comparar seu ensino, verificando se é exequível em outras situações e ilustrando, a fim de mostrar outros exemplos que possam dar uma luz maior ao assunto, e por fim aplicar a mensagem divina, trazendo seu significado e abrangência aos dias de hoje. Um exemplo prático deste processo: Leia Eclesiastes 11.1 e 2. Já leu? Tem que ler antes de continuar sua leitura aqui conosco. E então, podemos continuar? Como não sei a sua versão favorita, reproduzirei duas versões bem destoantes, que nos ajudarão neste exercício: “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás. Reparte com sete, e ainda até com oito; porque não 1 Esta sigla surgiu, a partir do método OIA, Observação, Interpretação e Aplicação, proposto por Barrat (1986, p. 105-116). Aqui, acrescentamos a importância da Delimitação e das Comparações (ou ilustrações). sabes que mal haverá sobre a terra.” (Ec 11.1,2 – Tradução de João Ferreira de Almeida, 1993) “Empregue o seu dinheiro em bons negócios e, com o tempo, ele aumentará. Empregue-o em vários lugares e em negócios diferentes porque você não sabe o que acontecerá amanhã.” (Ec 11.1,2 – Tradução na Linguagem de Hoje, 1988) Ao observar os textos constatamos que são bem diferentes. Numa primeira leitura, mais superficial, a primeira versão, mais tradicional, pode ser lida como um apelo à beneficência, onde quanto mais eu ajudar, mais poderei ser ajudado. Enquanto que a segunda versão, parece dizer que tenho que ser mais estratégico em minhas ações. Ambas as afirmações são frutos de minha leitura, de minha observação. Qual está certa? Dependerá de quanto mais profunda e melhor for minha pesquisa interpretativa. Preciso interpretar, analisar o texto bíblico, em geral com o auxílio dos comentaristas, para descobrir o que realmente significam tais palavras. Entendendo que estes versículos são dois ditados populares com o sentido de esmero pessoal nos negócios, terei condição de achar outros textos bíblicos ou histórias paralelas que me ajudem a compreender sua verdade. Por exemplo, podemos comparar este trecho ao de Lc 13, quando Jesus menciona sobre a importância de se planejar antes de sair fazendo as coisas ou então, mencionar outro ditado popular, desta vez brasileiro, “quem muito quer, tudo perde”. Ou ainda, falar de algum caso de fazendeiros que ao saber que o feijão estava em alta, derruboutoda a sua plantação de milho, para ganhar dinheiro e quando a colheita chegou, vários haviam adotado a mesma atitude e o preço foi lá embaixo. Ou seja, passo a me preocupar em achar situações que possam ilustrar melhor a situação mencionada no texto bíblico, mostrando, por comparações, situações similares que ajudem a reter melhor a lição ensinada. E, por fim, devemos aplicar a mensagem aos dias de hoje. Aqui vale a regra da hermenêutica: todo texto tem uma única interpretação correta (aquela intentada pelo autor original) e várias possíveis aplicações. Se interpretarmos errado, fatalmente aplicaremos o ensino de forma distorcida. Por exemplo, se seguíssemos nossa primeira observação de que o texto fala de beneficência, nossa aplicação seguiria o rumo de que devemos ajudar uns aos outros, porque, se no futuro, padecermos, os nossos ajudados poderão ter misericórdia de nós. O que, inclusive destoaria do ensinamento bíblico: devemos amar uns aos outros, com amor genuíno e não meramente interesseiro. Voltando à nossa aplicação a partir de uma ilustração correta, poderemos dizer que embora você deva se aprimorar em sua profissão, não se limite a estudar somente sobre ela, procure ler e estar aberto a outros conhecimentos ou afinidades (caso o nosso público fosse estudantes). Ou, se a palestra for sobre economia, não invista tudo em um único banco ou em um único tipo de aplicação, diversifique. Mais adiante voltaremos a tratar do DOICA, de forma mais pormenorizada, mas por hora é suficiente para entendermos o funcionamento e a estrutura de um sermão. Além disso, como esta tabela mostra apenas o esqueleto de um esboço, obviamente não aparece onde ficariam os estudos. Em geral, ficam logo a partir da escolha prévia do texto a ser pregado. A partir do primeiro insight já devemos ir se aproximando do texto, com mais atenção, mais devoção, mais leitura e mais cuidado. Enfim, assim que eu definir um texto bíblico, começa oficialmente a minha necessidade de me aprimorar em meus estudos relacionados àquele sermão. Agora, observe novamente o quadro a seguir, com as mesmas informações do quadro anterior, mas com números indicando e simplificando o que falamos nos parágrafos antecedentes. Como você deve ter notado, tanto a introdução, quanto a conclusão são as duas últimas coisas a serem planejadas. Para a conclusão isto é ponto pacífico, mas volta e meia ouço estudantes e pregadores caindo na tentação de planejar a introdução antes mesmo de ter o corpo de seu sermão, palestra ou trabalho finalizado. A premissa é bastante simples: como saberei como melhor introduzir, chamando a atenção e cativando aos ouvintes, se ainda não sei sobre o que estarei falando ou escrevendo? Só posso elaborar e mesmo pensar na introdução, após o título e seus tópicos, subtópicos, ilustrações e aplicações estiverem prontos. Somente com o conjunto definido é que saberei ser específico ao dar início ao processo. Por falta de cuidado neste item, muitas introduções são totalmente desnecessárias e sem qualquer relação com o sermão como um todo. Quer um exemplo bem simples? Pensemos numa refeição física. Qual entrada ou antepasto você me indicaria? a) legumes, cogumelo e caviar, b) pipoca caramelizada, c) amendoim chinês, d) canja de galinha, ou e) creme de alcachofra? Consulte o gabarito na... Brincadeira. Não existe gabarito. Afinal, como poderíamos definir uma opção de entrada correta se nem definimos o prato principal? Todos eles podem servir de entrada, dependendo da ocasião ou situação a ser trabalhada. Semelhantemente, no preparo de meu esboço, só poderei saber qual a melhor forma de iniciar a homilia se já saber que rumo ela tomará. 3 Os Quatro Tipos mais Comuns de Sermões Você deve se recordar, que anteriormente procuramos dar uma breve definição sobre os sermões Temático, Textual, expositivo, Pseudo-Expositivo e Exegético ou Analítico. Neste capítulo gastaremos energia mostrando a distinção entre os quatro primeiros. O sermão exegético ou analítico ficará de fora daqui pra frente por não seguir a estrutura de esboço que estaremos aprendendo. 3.1 O Sermão Temático Geralmente é pensado a partir de um versículo (ou partes de um versículo); A partir de um tema, escolhe-se o texto bíblico e depois o título, ou então, a partir de um texto, um tema ou o próprio Título; As divisões do sermão precisam estar relacionadas com o texto base escolhido e podem ser escolhidas em toda a Bíblia; Desvantagem: superficialidade na análise bíblica. Embora seja o preferido, porque esteticamente é muito simples de pensar em sua estrutura, torna-se o mais difícil, no que diz respeito à hermenêutica do texto. O ideal seria uma análise profunda em cada trecho escolhido para ver se de fato, o texto bíblico diz aquilo que o pregador quer dizer. Um exemplo de esboço com estrutura ruim: Texto: Mt 8.10 (do texto só retiramos a lição de que houve uma fé que foi elogiada por Jesus, o que nos servirá como exemplo)2 Tema: Fé3 Título: Um Exemplo de Fé Tópicos: 1 Quem tem fé é humilde (Fp 2.6-7); 2 Quem tem fé age com amor (Dt 10.19); 3 Quem tem fé reconhece a autoridade de Cristo (2 Re 18.5); 4 Quem não tem fé não tem valor para Cristo (Hb 12.6). Como eu sei que é uma estrutura ruim? A chamada “prova dos nove” da homilética é lermos o título acompanhado do tópico. Por exemplo “Um Exemplo de Fé Quem tem fé é humilde”. Note que o título não casa com o tópico. Parecem mais duas frases soltas e desconexas. Soaria melhor se fosse “Como ter uma fé exemplar? Sendo humilde”. Outro detalhe importante: os três primeiros tópicos são afirmativos enquanto que o último é bastante negativo, sendo quase uma bronca. Não é bom concluirmos uma meditação de forma negativa. O ideal é sempre concluir em alta. O mesmo esboço, mas sob uma estrutura melhorada: Texto: Mt 8.5-13 Tema: Exemplo de fé Título: Como saber se minha fé é exemplar? 2 No temático, não gastamos tempo explicando como aquele personagem teve fé nem tão pouco o que poderíamos aprender com ele 3 Muito provavelmente você já saiba, mas não custa relembrar a diferença entre tema e título. Tema é o mesmo que assunto, algo genérico, e na grande maioria das vezes com uma ou duas palavras. O título já é algo mais definido, e é ele que será anunciado em harmonia com cada tópico. Há autores que além disso, usam a nomenclatura “proposição”. Como a própria palavra diz, ela seria aquilo que o pregador está propondo em sua pregação, contendo uma introdução geral à meditação, que pode ser usada, no lugar do título, como transição entre os tópicos, servindo para dar unidade a estes e continuidade ao sermão. Tópicos: 1 Quem tem fé é humilde (Fp 2.6-7); 2 Quem tem fé age com amor (Dt 10.19); 3 Quem tem fé reconhece a autoridade de Cristo (2 Re 18.5); Texto: Fp 3.134 Tema: Coisas a Esquecer Título: Para avançarmos na vida, precisamos esquecer... Tópicos: 1 Sofrimentos; 2 Derrotas; 3 Desaforos 4 Pecados; 5 Egoísmo. Deixei os tópicos sem texto bíblico, só para mostrar que é muito simples montar uma estrutura a partir da estética visual do esboço. O grande desafio, agora, seria achar versículos que, de fato, ensinem o que cada tópico quer dizer. E, em contrapartida, quando eu não encontrar um versículo devo extinguir o tópico e nunca adulterar ou torcer o texto bíblico só para favorecer a minha ideia. Dois exemplos catastróficos: a) um amigo norte-americano me disse que presenciou um pastor que, no domingo após o grande desastre do Word Trade Center, quis levar uma palavra de consolo e pregou com o seguinte título “Nas Mãos do Deus Vivo”. O curioso é que todos os seus tópicos foram bem positivos e de esperança. Todavia, o texto de Hb 10.31, de onde ele retirou o seu título, só fala de condenação. b) recentemente ouvi uma pregação explicando afunção do escudo, pois a ideia era mostrar que Deus é o nosso escudo e por isto, não há o que temer. Mas, sabe qual texto o pregador utilizou? I Sm 17.41, que menciona que o escudeiro de Golias ia à sua frente. Ficou tão empolgado com a ideia de um escudeiro à frente para nos defender e a vantagem de termos algo assim no campo espiritual que não levou em consideração 4 O ideal é que a cada exemplo, você gaste tempo lendo o texto bíblico em sua Bíblia, afim de assimilar melhor o que formos falando. Não ficarei insistindo nisto, nem relembrando a cada exemplo, isto estará sob sua responsabilidade. o óbvio: o escudeiro de Golias não lhe serviu pra nada, pois oito versículos mais adiante, Davi derrotaria Golias com uma “simples” pedrada na testa. 3.2 O Sermão Textual Geralmente é um sermão baseado em dois ou três versículos, um texto curto; Tanto o título quanto os tópicos saem do texto escolhido. Não precisa ser literal. Claro que podemos trabalhar a ideia, fazendo com que cada tópico concorde plenamente uns com os outros e com o próprio título. Texto: Mt 11.28 Tema: Descanso Título: Quando resolvemos nossos problemas? Tópicos: 1 Quando reconhecemos (retirado da frase: “todos os que estiverem cansados de carregar o seu próprio fardo”) 2 Quando entregamos; (tópico criado a partir do convite “Vinde a mim”) 3 Quando descansamos em Deus. (retirado da expressão: “lhes darei descanso”) Outros exemplos. Duas formas para um mesmo texto: Texto: Mc 10.17-22 Tema: Salvação Título: Requisitos para Herdar a Vida Eterna Tópicos: 1 Buscar a pessoa certa v.17; 2 Aceitar a resposta certa v.20; 3 Aplicar a Palavra de forma certa v. 21 4 Tomar a decisão certa v.22. Texto: Mc 10.17-22 Tema: Salvação Título: Como Herdar a Vida Eterna? Tópicos: 1 Busque a pessoa certa v.17; 2 Aceite a resposta certa v.20; 3 Aplique a Palavra de forma certa v. 21 4 Tome a decisão certa v.22. Observe que os tópicos estão em sintonia com o título, respondendo-o e, simultaneamente, concordando entre si. No primeiro caso todos os tópicos iniciaram com o verbo no infinitivo, enquanto que na segunda demonstração, todos eles começaram com um imperativo. A seguir, observe mais dois exemplos de esboço de sermão textual, onde tudo é retirado do texto: Texto: 1 Jo 2.16 Tema: Desejos impuros Título: Expressões do mundanismo Tópicos: 1 Concupiscência da carne; 2 Concupiscência dos olhos; 3 A vaidade da vida. Texto: Mt 22.29 Tema: Religiosidade Título: Causas do Erro Religioso ou Causas de uma Vida Sem Sentido5 Tópicos: 1 Ignorância das Escrituras; 2 Falta de experiência do poder de Deus. Muito provavelmente, se você for daqueles observadores, deve estar se perguntando: “mas cadê os subtópicos, as ilustrações e as aplicações? Elas não fazem parte do esboço?” Sim, quando levamos nosso esboço ao púlpito (quer seja escrito ou mentalizado) devemos leva-lo por completo. Mas aqui, por hora, queremos que você 5 Qual dos dois títulos seriam mais apropriados? Dependerá de seu público alvo. Se por exemplo, for pregado em uma igreja onde se percebe certa recorrência, no que diz respeito à religiosidade ou a uma teologia baseada na obras, a primeira opção seria mais indicada. Já, se fosse uma pregação para um grupo de jovens, num momento mais informal, ou mais filosóficos, a segunda opção traria uma impacto melhor. veja bem, e gaste energia procurando entender a correlação ou harmonia entre título e tópicos. 3.3 O Sermão Expositivo Geralmente é a partir de um texto longo. Sua preocupação é pegar uma perícope completa, ou seja, um recorte ou parágrafo que tenha de fato um início, meio e fim bem definidos. O problema é que às vezes os títulos dados nas versões em português (os quais não são inspirados) acabam nos atrapalhando. Por exemplo: Lucas 9.1-17 trata-se de uma única unidade de pensamento que precisa ser trabalhada em conjunto, mas numa simples leitura parecem ser a junção de quatro histórias distintas entre si. No sermão expositivo devemos buscar a ideia principal, trabalhada pelo autor bíblico; esta ideia será nosso tema, que obviamente precisará ser transformada em um título (ou proposição). A partir deste título, exposto como tema central no texto bíblico, é que retiramos os tópicos, do mesmo texto. Desvantagem: dá muito trabalho; o primeiro sermão pode levar até 40 horas de estudo, pois não podemos nos contentar em estudar apenas a porção selecionada, temos que procurar entender quem foi o autor, pra quem ele escreveu, por que ele escreveu? Qual estrutura utilizada? Onde foi escrito, questões relacionadas à cultura, religiosidade, economia, política entre outras, que possam nos dar maior luz ao assunto. Vantagens: a) é o que consegue maior fidelidade ao texto bíblico; b) dá mais tranquilidade ao pregador, afinal foi o texto quem disse; c) facilita o uso de sermões em séries, num determinado livro, pois não precisamos deixar de tratar certos assuntos com receio de melindrar alguém. Veja um exemplo de um sermão que preguei, como avaliação da disciplina, lá no milênio passado. Ele apresenta uma estrutura ruim, mas tente descobrir o que seria: Texto: Mt 6.25-34 Tema: Ansiedade Título: Como vencer a ansiedade? Tópicos: 1 Estruturando prioridades (meio material) – v.25; a) A vida é mais importante que o alimento b) O corpo é mais importante que o vestuário Ilustração: Mulher que pediu oração por emprego pois estava em vistas de ser despejada. O pastor prometeu que iria orar para Deus lhe dar uma casa nova, com piscina e até mordomo (então ela, com o pé no chão, volta a dizer, mas também peça pelo emprego; pois não me adiantará nada tanta bênção se eu não tiver como pagar tantos gastos extras) 2 Não se “pré-ocupar” com o amanhã – v.34; a) A preocupação como uma ocupação extra e muitas vezes desnecessárias b) A importância de se focar nos problemas reais Ilustração: Aluna na prova de grego que estava muito apavorada antes da prova, mas na hora gritou de alegria: “só isso?” 3 Observando os cuidados de Deus – vv.26-27; a) Temos a tendência de esquecer que Deus tem cuidado de nós b) Temos a tendência de achar que nosso problema é pequeno ou grande demais pra Deus Ilustrações: Moisés e a travessia do Mar vermelho Observando, vc passa a descansar (Sl 37.5) Pela fé, projetamos o futuro, fundamentados no passado 4 Por que não buscar a soberania de Deus? a) O significado de ser soberano? b) A importância de se buscar a Deus, embora Ele seja Onisciente Ilustração: “Os planos de Deus não são os nossos planos” (Jeremias) Conseguiu observar o que tem de errado na estrutura? Lembra da “prova dos nove” da homilética? Volte no exemplo anterior e leia apenas o título e em seguida o tópico (identificado com os números 1, 2, 3 e 4). Depois, só depois, leia o exemplo abaixo, numa estrutura mais enxuta, para realçar melhor a sintonia entre título e tópicos. Texto: Mt 6.25-34 Tema: Ansiedade Título: Como vencer a ansiedade? Tópicos: 1 Estruture suas prioridades (meio material) – v.25; 2 Não se “pré-ocupe” com o amanhã – v.34; 3 Observe os cuidados de Deus – vv.26-27; 4 Busque a soberania de Deus – v.33. Notou a diferença? Na primeira versão, os tópicos são uma mistura de verbos infinitivos com gerúndios e afirmações com interrogação. Enquanto que num segundo momento, já calibrada, de forma mais coerente, todos os tópicos estão em sintonia entre si ao utilizarem o verbo em uma única ação, neste caso o imperativo. Mais um exemplo, agora em outra passagem, para mostrarmos melhor a definição de um sermão expositivo: Texto: 2 Rs 5.1-196 Tema: Cura de Naamã Título: Deus cura (GUSSO, 2014, p. 49-52)7 Tópicos: 1 Quem Ele quiser (v.1 Naamã era inimigo do povo de Deus e leproso);2 Usando quem Ele quiser (v.2-4 aqui uma menina participa do processo e mais a frente é o profeta Eliseu quem participa) 3 Onde Ele quiser (v.7-13 não foi na Síria, nem no palácio ou na casa do profeta, foi num rio sem muita importância para Naamã); 6 Este é outro exemplo de um texto que pode nos trair. Ou seja, já preguei apenas sobre os versículos 1 a 4, com o título Cinco Características de um Crente. Na época preguei achando se tratar de um sermão expositivo, mas a homilia que ministrei era pseudo-expositiva, pois se pudéssemos perguntar ao autor sobre qual o assunto principal do trecho todo ele jamais iria dizer que era para valorizar a fé e o amor de uma menina escrava. 7 Esta estrutura é uma adaptação, a partir da citação referendada. O titulo e alguns tópicos são literais. 4 Quando Ele quiser (v.14 depois de mergulhar sete vezes, não havia nada mágico nisto, Deus tem poder para curar instantaneamente, mas não o fez); 5 Como Ele quiser (v.7-13 Naamã tinha tudo planejado em sua mente como seria, mas a ordem foi apenas para mergulhar no rio Jordão); 6 Por quanto Ele quiser (v.15 e 16, Naamã quis oferecer uma oferta, mas Eliseu não recebeu). 7 O que Ele quiser (v. 18 e 19, Naamã percebe que não deveria mais adorar outros deuses e Eliseu entende que Deus vê além da atitude física. Em outras palavras, Deus não cura só o físico da pessoa). Com o intuito de clarificar um pouco mais a diferença entre os tipos textual e expositivo, observe a tabela abaixo. Note que em ambos, tanto o título, quanto os tópicos saem do próprio texto. A grande diferença está em que o expositivo, depende da ideia central do autor. Lucas 19.1-10 Esboço de um sermão Textual Esboço de um sermão Expositivo Tema: Conversão de Zaqueu Título: 5 Atitudes para mudar de vida Tema: Jesus veio procurar e salvar o perdido Título: Jesus veio nos buscar - Busque a Jesus (v.3) - Seja criativo (v.4) - Seja perseverante (v.2-5) - Não ligue para o que os outros falam (v. 7-8) - Dê ouvidos a Jesus - Ele procura o perdido (v.10) - Ele veio até nós (v. 5a) - Ele conhece o coração das pessoas (v.5b) - Ele nos transforma por completo (v. 8) - Ele garante salvação (v. 9a) Observe que o foco é Zaqueu e o que ele fez a fim de ser salvo, culminando em sua transformação (v.8,9) Aqui o foco está em Jesus e sua procura (busca) pelo perdido. A conversão de Zaqueu seria uma mensagem secundária. Ele também está presente nos 10 versos, mas Esta foi a razão de Lucas ter escrito esta história e da forma em que fez. Sua estrutura é paradigmática, ou seja, certamente não foi só para contar sobre a vida de Zaqueu, que Lucas relatou estes versos, mesmo porque, se a intenção fosse somente Zaqueu, não deveria acabar tão abruptamente, como acabou. toda a história de Zaqueu, foi contada para enfatizar e explicar o último versículo. Infelizmente o título dado no início da passagem: “A conversão de Zaqueu” ou “O Rico também pode salvar- se”, acabam dando a ideia de que o sujeito principal é o pecador e não o salvador. 3.4 O Sermão Pseudo-Expositivo Basicamente é um sermão expositivo que não se preocupou com a temática inicial do texto. Ou seja, embora tenha tanta pesquisa quanto o outro, não conseguiu desvendar o real significado que a passagem procurou transmitir. Até usa palavras presentes na perícope, mas gira em torno de uma mensagem secundária ou terciária. A qual, certamente, não teria sido imaginada pelo autor sagrado. Tem cara e porte de expositivo, mas fica somente com as ideias secundárias do texto, ignorando o tema central abordado pelo autor. A desvantagem é que deixa assuntos importantes de lado. Por ignorar a intenção do autor. Eis um exemplo de esboço Pseudo-expositivo: Texto: Jo 11.1-44 Tema: Atitude Título: Tirai a pedra Como Introdução trabalhei parte do poema de Carlos Drummond de Andrade “No meio do caminho havia uma pedra”, mencionando que às vezes, na vida espiritual, não avançamos porque ficamos só resmungando sobre o obstáculo, em vez de superá-lo. 1 Do comodismo (tópico criado a partir do fato dos amigos de Lázaro terem ido até Jesus, v. 3); 2 Do medo (tópico criado a partir da disposição dos discípulos em morrer com Jesus, v. 16); 3 Da fé pequena (tópico criado a partir da declaração tão bonita de Marta, no v 21: “sei que tudo podes”, e de sua declaração de descrença, logo em seguida, v. 39a “não há o que fazer, ele já cheira mal”; 4 Do Pré-conceito (tópico criado a partir da declaração no v. 39b que menciona que Lázaro estava morto há 4 dias. Havia uma teologia pré- concebida de que somente Deus poderia devolver a vida a alguém após o terceiro dia); 5 Da Obstinação (tópico criado a partir dos v. 44-47 que mencionam que, enquanto alguns creram, outros continuavam incrédulos, procurando ocasião para matar a Jesus) Conclusão: Tirai a pedra e verás a glória de Deus (v. 39 e 40) Agora, como tarefa, leia João 11.1-44 e me diga qual a grande verdade por trás desta história, que acabou ficando de fora neste sermão? Já leu? E então, qual foi a mensagem? Não conseguiu pegar? Vou dar uma dica: é um dos versos muito usados em funerais e tem tudo a ver com a ressurreição em 4 dias e com o objetivo global do livro, como um todo, destacado em Jo 20.31. Dá uma olhada lá. Como já deve ter observado, este sermão não pode ser considerado expositivo, porque faltou a mensagem principal. O sermão deixou de fora o versículo que declara que Jesus é a Ressurreição e a Vida, de tal modo, que nem a morte pode nos separar de nosso Deus. 4 Resumo No início foi trabalhado a ideia do esboço em si, sua estrutura de modo mais genérico, afinal, para distinguir entre os tipos de sermões mais utilizados precisaremos usar uma estrutura, por mais simples que seja, que ajudará na visualização de suas diferenças. Em síntese, um esboço precisa ter a indicação do texto bíblico, a declaração do tema, a enunciação do título, a apresentação dos tópicos, as ilustrações, aplicações, introdução e conclusão. Com isto em mente e cientes de que ao ler o texto bíblico, primeiro nos certificamos de sua delimitação e depois observamos as informações e/ou lições encontradas em cada parte, interpretamos a fim de descobrir seu real significado, comparamos com outros textos bíblicos ou histórias similares e por fim pensamos nas possíveis aplicações para cada verdade bíblica. Mais adiante voltaremos a ver tudo isso de forma mais clara e profunda. Aqui, nos restou concentrarmos os esforços no sentido de diferenciarmos os quatro principais tipos de sermões utilizados em nossas igrejas. Vimos que no Sermão Temático, o texto base só serve para nos fornecer o título; pois cada tópico deverá vir de outros textos bíblicos. O Sermão textual é aquele em que tudo, tanto título quanto tópicos, saem do mesmo texto bíblico sem se preocupar com a ideia pela qual o autor bíblico foi levado a escrever o texto. Já no Sermão Expositivo, nossa preocupação deverá ser em procurar qual a ideia central trabalhada pelo autor bíblico, para daí tirarmos o título, e com isto feito, voltamos ao texto bíblico atrás das lições que servirão de tópicos.
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