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APOSTILA UNIDADE 04 O ESTUDO E A PREGAÇÃO Objetivo: Demonstrar a importância da oração e da pesquisa no processo de aprendizado e como ferramenta para preparo de um bom sermão. Mostrar uma forma de se fazer pesquisa, a partir do processo denominado DOICA. Sumário: 1 Introdução 2 A Importância da Oração 3 O Papel da Pesquisa 4 Como Estudar? 4.1 Delimite corretamente o seu texto de interesse. 4.2 Observe com cuidado todas as informações do texto de interesse 4.3 Interprete corretamente cada parte do texto a ser pregado 4.4 Compare a passagem de estudo com outras afins ou com histórias correlatas 4.5 Aplique, contextualizando as lições bíblicas para os dias de Hoje 5 Resumo 6 Apêndice 1 Introdução Nesta Unidade reforçaremos a ideia da complementariedade que deve existir entre nossa vida devocional, de oração e meditação, com nossa necessidade de buscar auxílio em comentaristas. Como todo e qualquer extremo é danoso ao ser humano, aqui também será. Ou seja, se adotarmos uma postura excludente entre oração e estudo, certamente só sairemos perdendo. Não há como entender aquilo que Deus requer de nós apenas com a oração. Da mesma forma, não importa quão grande seja a tua biblioteca ou o teu acesso ao universo das pesquisas, se Deus não estiver no processo, nossa jornada será meramente mecânica e sem vida. Após alguns parágrafos de conscientização, trabalharemos o DOICA, acróstico formado pelas palavras Delimitação, Observação, Interpretação, Comparação e Aplicação. A nomenclatura até pode ser nossa, mas a ideia e a necessidade de se seguir este trilho rumo ao aprendizado, aprendi quando fiz o curso Seja um Obreiro Aprovado, escrito por Barrat (1986). 2 A Importância da Oração Espero que já tenha ficado claro, mas não nos custa repetir e enfatizar: além das técnicas quanto à estrutura ou dos comentaristas tão importantes para nos ajudar a entender determinados textos bíblicos, qualquer pregador não deve abrir mão, nunca, de uma vida de oração. Deus é um ser revelacional que se relaciona e quer nos ajudar a entender sua mensagem. Por mais dúbio que, hoje, possa parecer determinado texto, não se deixe enganar: não era propósito de nosso Senhor escrever algo para nos confundir. Muitas vezes era muito claro e entendível para a época em que foi escrito e como por muitos séculos, deixamos, como igreja, de meditar na Palavra, acabamos perdendo alguns detalhes preciosos que nos ajudariam a entender melhor determinado assunto. Por isto a grande importância de voltarmos a ter uma comunhão genuína e diária com Deus, a fim de entendermos melhor aquilo que Ele nos disse. Todavia, junto com uma vida de oração, aqui se encaixa uma grande lição da hermenêutica: devemos ter humildade ao nos debruçarmos sobre algum texto de difícil acesso. Infelizmente já presenciei alguns rompantes de fúria e ira contra a Bíblia, porque segundo a ótica de tais leitores continham contradições ou erros grotescos. Devemos entender que a Bíblia, conforme originalmente escrita, é a Palavra de Deus. Ela não tem erro. Mas, nossas versões, por melhor que tenham sido as intenções de cada tradutor, podem conter aspectos que não condizem realmente com aquilo que Deus havia revelado. Por isto, se porventura acharmos algo paradoxal, que aparente alguma contradição, devemos no mínimo entender que temos a obrigação de nos dedicarmos ainda mais ao seu estudo. Por exemplo, quando criança, estava na EBD, na sala dos adultos, não lembro por que razão, quando alguém perguntou ao professor “o porquê de Jesus ter amaldiçoado a figueira, se Marcos disse que não era época de figos” e lembro-me de sua resposta, tão evasiva e sem sentido: “Jesus é soberano! Ele faz o que bem entender”. Sempre concordei sobre a majestosa Soberania de nosso Salvador, mas não aceitei o fato dele ser comparado a um menino mimado que simplesmente quer algo e azar daquele que não lhe der. Resultado: passei a orar e a buscar. Dez anos mais tarde, pela graça de nosso Senhor, encontrei um livro que me explicou que o fato da figueira estar com folhas, era indicativo de ter figo, independente da época do ano. Ou seja, Jesus não a amaldiçoou simplesmente porque era um soberbo, arrogante, mas porque viu nela uma figura de linguagem que ilustra muito bem nossas vidas: devemos produzir frutos de arrependimento e não apenas aparentar tê-los. Devemos ter uma vida frutífera no reino e não uma vida de religiosidade frívola e sem sentido. Enfim, a oração e a humildade são vitais para nos ajudar a entender a mensagem de Deus para as nossas vidas. É claro que às vezes podemos levar anos ou décadas para compreender determinado texto. Presenciei a declaração de um pastor amigo meu antes de uma de suas pregações: “Irmãos, disse ele, tenho 25 anos de ministério e nunca havia pregado sobre esta porção porque nunca havia entendido. Esta semana, acho que entendi e por isto tenho paz para pregar sobre ela”1. Policie-se sempre, porque diante de tanta correria, acabamos deixando de nos apegar ao mais importante: uma vida de intimidade e dependência com Deus. Às 1 Além de pastor e missionário, ele também tem sido professor de seminários teológicos e sua humildade e honestidade em se abrir com a igreja foi vista muito positivamente. Preferi contar esta história porque é comum nos escondermos numa falsa máscara de onipotência, como se fosse pecado um pastor ou professor da EBD ou de Seminários ter que dizer: “não sei” ou “ainda não compreendo este texto”. Sejamos humildes em reconhecer que os desígnios de Deus são tão incrivelmente grandes que nem “toda” a eternidade será suficiente para nós o conhecermos por completo, quanto mais aqui, diante de um mundo de limitações. vezes, corremos o risco de cairmos naquele ditado popular: “nos envolvemos tanto com as coisas de Deus que esquecemos do Deus das coisas”. Não deixe isto acontecer com teu ministério. Priorize e valorize sua devocional diária; pois além de nos manter saudavelmente alimentados, é a partir dela que nos vem a maioria de nossas ideias de sermões. Sigamos o exemplo dos apóstolos, que quando instigados a dar atenção aos órfãos e viúvas, optaram em criar um corpo de diáconos que pudessem cuidar da beneficência, para focarem sua atenção na oração e na Palavra (Cf At 6.1-5). 3 O Papel da Pesquisa Não tem sido tão raro encontrar alunos ou até mesmo membros de igrejas que relutam contra a pesquisa. Ela, por si só, não é bênção nem maldição. Dependerá do uso que nós a dermos. O problema, e neste ponto eu concordo com eles, é que o conhecimento pode nos levar a ser orgulhosos e a preocupação com questiúnculas podem nos afastar dos irmãos e de Deus. Mas isto depende de nossa inclinação. Porque até mesmo a falta de pesquisa e a atitude de dependência total ao Espírito, volta e meia tem levado alguns a se acharem mais santos e mais dignos que outros, o que também é pecado. Temos que entender nosso lugar no processo: somos instrumentos, pelos quais Deus poderá transmitir sua mensagem àqueles que ainda não o conhecem ou à sua igreja. Desta forma, também, não precisamos ter medo, nem preguiça da pesquisa. Temos que “arregaçar as mangas” e nos debruçar na leitura de livros de pessoas, que às vezes gastaram a vida toda estudando e explicando determinados assuntos. É claro que não podemos beber de todas as fontes e aceitar tudo o que todo mundo diz. Pois, como humanos, somos falhos e propensos a erros. Mas, desde que o mundo existe, o ser humano tem aprendido a usufruir do conhecimento adquirido por seus antepassados ou por aqueles que tem uma jornada com maior experiência. Por que seria diferente com o estudo da Bíblia? Quando busco um comentarista posso cortar caminho. Ou seja, em vez de eu gastar dias comparando versículos e procurando-os apenas em uma concordânciapara chegar a uma conclusão, uma simples leitura de um bom comentário, em alguns minutos, pode me levar ao mesmo resultado. O ideal, como em qualquer outra pesquisa, é a gente se debruçar, primeiramente só no texto bíblico. De preferência, sem ver as notas de rodapé. Nem usar qualquer tipo de Bíblia de estudo. Foque na passagem bíblica, leia várias vezes, faça pergunta para o texto, leia em outras versões, tire algumas conclusões (prévias e passíveis de reajustes, mas faça o teu estudo preliminar. Para aí sim buscar os comentaristas que lhe possam dar suporte, confirmando, ampliando ou corrigindo seus pensamentos iniciais. Vou dizer mais uma vez: evite, ao máximo as Bíblias de Estudos. Elas só serão permitidas em casos de emergência e sob cautela. Porque por mais bem intencionados que tenham sido o autor dos comentários e seus editores, não há como chegar à profundidade exigida de alguns textos com apenas duas linhas de comentário. E, também, muitas delas foram idealizadas a partir de um público alvo. Outra coisa muito importante e espero que você não se escandalize: as notas de rodapé, encontradas em qualquer versão bíblica, não são canônicas, ou seja, foram inseridas recentemente, e são susceptíveis a erros e desencontros. O texto bíblico é inspirado, mas a divisão de capítulos, a separação em versículos, as referências cruzadas e as notas de Rodapé são auxílios extras que às vezes podem ser úteis, mas não são inspirados. Semelhantemente, muito cuidado com aquilo que você encontra na internet. Lá há muita coisa boa e de profundidade, mas de igual modo muita palha e mentiras com cara de verdades. Procure adotar a filosofia dos Bereanos (Cf. At 17.11), sempre procure analisar o conteúdo aprendido e veja se é condizente com a Bíblia como um todo. Sempre procure se perguntar qual impacto uma informação nova poderia trazer para o povo de Deus. 4 Como Estudar? Diante de tamanha responsabilidade, devemos tomar alguns cuidados com relação à nossa forma e eficiência ao estudar. Sim, antes de prepararmos um esboço, é necessário estudarmos o texto que pretendemos pregar. É preciso conhecê-lo, Delimitando seu tamanho, Observando suas palavras, Interpretando seus conceitos, Comparando com outras ocasiões, e propondo Aplicações adequadas para os dias de hoje. O que chamamos anteriormente de processo DOICA. 4.1 Delimite corretamente o seu texto de interesse. Escolha o texto bíblico e confira a perícope. Determine, onde exatamente ela começa e onde é o seu final. Gusso (2005, p. 211s) , que faz uma adaptação de Silva (2000), nos apresenta uma ótima sequência de dicas a fim de nos ajudar a verificar a unidade do trecho em que estamos estudando (isto é fundamental, quando estamos interessados em fazer um sermão expositivo): Elementos que podem nos auxiliar a identificar o início de uma passagem, citados por Gusso (2005, p.211): a) “Tempo e espaço” – por exemplo: “Depois de dizer isto, foi Jesus para Jerusalém” (Lc 19.28); 2 b) “Aparição de novos personagens”; c) “Mudança de argumento, perspectiva ou assunto”; d) “Anúncio em um texto do tema que virá a seguir” – por exemplo: quando encontramos a declaração por conta disto, contou certa parábola. A parábola precisa ser estudada em conjunto com a situação inicial; e) “Alguns títulos deixados pelo próprio autor” – os Salmos, em geral, a primeira parte dos primeiros versículos, dependendo da versão, são bons exemplos disto. f) “A utilização de vocativos” (termo utilizado na gramática grega, no qual alguém está sendo chamado à uma ação, por exemplo, Fl 3.1 “meus irmãos...”) g) “Quando surge uma introdução à fala de algum personagem” – por exemplo, Mt 5.1; h) “Quando ocorre mudança brusca de estilo” – por exemplo, Mt 5-7 são ensinos diversos enquanto que Mateus 8 inicia a história de um leproso que fora curado por Jesus; Elementos, citados por Gusso (2005, p. 211) que podem nos auxiliar a identificar o final de uma determinada passagem: a) “Mudança de foco nos personagens”; porém, em algumas ocasiões este indicador, em vez de nos ajudar, pode nos atrapalhar. Por exemplo: Lc 2.22-36 é uma única passagem que trata sobre a apresentação de Jesus no templo. Mas, podemos ser tentados a separá-la em duas partes, porque dos versos 22- 35 Simeão é quem 2 As palavras entre aspas, no início de cada ítem são citações diretas e as sem aspas são acréscimos nosso, com o intuito de exemplificar cada detalhe. Os versos bíblicos entre aspas são citações da Tradução na Linguagem de Hoje, 1988, ou da Tradução de João Ferreira de Almeida. Assim ocorrerá também com os identificadores finais e os que aparecerem ao longo do texto, citados logo em sequência. interage com José e Maria, enquanto que nos versos 36-38 é a profetisa Ana que entra em cena. b) “Aviso de deslocamento ou partida” – por exemplo: “Então cantaram canções de Louvor e foram para o monte das Oliveiras” (Mt 26.30); c) “Informações temporais” – por exemplo: “E Abraão ficou morando muito tempo na Filistia” (Gn 22.34); d) “Ação descritas por verbos como: sair, expulsar, despachar” – por exemplo: “Quando Esaú acabou de comer e beber, levantou-se e foi embora” (Gn 25. 33); e) “Ações terminais como morrer, sepultar, glorificar a deus etc” – por exemplo: “E Tera morreu em Harã...” (Gn 11.32); f) “Ruptura do diálogo”; g) “Comentário feito pelo narrador” – por exemplo: “Foi assim que ele desprezou os seus direitos de filho mais velho” (Gn 25.34) h) “Apresentação resumida do que acabara de ser dito” – por exemplo: Mt 7.28s Elementos encontrados ao longo da passagem, que podem nos ajudar a confirmar a unidade da perícope que pretendemos estudar, citados a partir de Gusso (2005, p. 212): a) “Ação”; Isto é, o tipo de ação usada para descrever o relato; b) “Palavras relacionadas com o campo semântico”. Isto é bem interessante, e como pregadores, devemos tomar cuidado, porque em muitos casos, no texto bíblico, palavras sinônimas são ditas para enfatizar a mesma coisa, e às vezes somos tentados a vislumbrar diferenças entre elas. – por exemplo: quando o salmista diz “Do Senhor é a terra e a sua plenitude. O mundo e tudo o que nele habita”. Não está querendo fazer distinção entre a terra como planeta representando os elementos físicos e o mundo como representante das pessoas. Não. Tão somente ele está enfatizando e dizendo a mesma coisa: absolutamente tudo pertence ao nosso Deus. c) “Intercalação, ou episódio dentro do episódio” – um bom exemplo disso é o caso de Lucas 9.1-17, onde são colecionadas várias historias curtas, aparentemente, distintas entre si, mas que comporão a mensagem central, maior. d) “Palavra ou frase que aparece no início e no fim, servindo como um enquadramento da passagem”. e) “Palavras, ideias ou frases utilizadas em padrão quiástico” – um tipo de poesia hebraica onde a ideia A é seguida da ideia B que é seguida da ideia B’ (pois usa a mesma tonalidade da ideia B) e termina com a ideia A’ (que também tem similaridade com a ideia A).3 4.2 Observe com cuidado todas as informações do texto de interesse Concluída a Delimitação do texto a ser estudado, leia o texto atentamente. Observando todos os detalhes possíveis e imagináveis. É com muita tristeza que tenho ouvido heresias sendo ditas nos púlpitos, por simples falta de atenção na leitura. Os dois casos mais grotescos de que me recordo foram denunciados pela rede Globo de Televisão. O primeiro deles, foi noticiado no programa do Jô, há vários anos atrás, quando o apresentador levou umas três pessoas que já estavam há anos se alimentando da energia da luz solar e da própria urina. Num determinado momento da entrevista foi-se mencionado o texto de Pv 5.15, como base bíblica para o fato. O outro, passou mais recentemente no Fantástico,4 falando sobre o caso de um “suposto” pastor que adulterou com aesposa de um diácono porque leu errado o texto de Oséias. Mas ainda há outros equívocos, de menores proporções, mas tão vergonhosos quanto. Já ouvi dizer que Noé tinha vários filhos, mas dois deles ficaram de fora: Cam e Jafé. Foram os únicos descendentes de Noé punidos por Deus e que não entraram na arca. Porque a pessoa leu “e entraram na arca Noé e seus filhos, sem Cam e Jafé”. Em vez de ler o nome Sem, leu como se fosse uma preposição. A aplicação foi até bonita; no sentido de que não devemos nos encostar na espiritualidade de nossos pais, pois 3 Veja o exemplo do Salmo 67: A - Compadeça-se Deus de nós, e nos abençoe, e sobre nós faça resplandecer o seu rosto; (v.1) B - para que seja, na terra, conhecido o seu caminho, entre todas as nações a sua salvação. (v.2) C - Deem-te graças, ó Deus, os povos; deem-te graças os povos todos. (v.3) D- Alegrem-se e cantem de júbilo as nações, pois julgarás os povos com equidade e governarás as nações sobre a terra. (v.4) C’ - Deem-te graças, ó Deus, os povos; deem-te graças os povos todos. (v.5) B’ - A terra tem produzido o seu fruto. Deus, o nosso Deus, nos abençoará, A’ - Deus nos abençoará, e todos os confins da terra o temerão. (Sl 67) 4 O Caso do Pastor Adúltero. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tl5n7tHGD_o> Acesso em Setembro de 2017. cada um é responsável perante Deus pelos seus próprios atos. Mas, deveria ter utilizado outra passagem para pregar sobre isto. Aqui, errou feio. Outra pessoa disse que Jesus repreendeu a Pedro porque em vez de ter cortado a orelha do servo do sumo-sacerdote, deveria ter enfiado a espada na banha. Mas, como você já deve imaginar, a versão que ele estava lendo dizia bainha e não banha (Cf Mt 26.52). Ele acabou ignorando a letra i. São exemplos, que acabam virando piada, mas que mostram o perigo de se ler errado ou às pressas. Precisamos ler com atenção, de preferência em mais de uma versão. Além disso, se tivermos estudando uma passagem que haja paralelo, por exemplo: o texto sobre a tentação de Jesus, seria interessante, além dos conselhos já dados, ver as várias versões para captar suas possíveis variações. 4.3 Interprete corretamente cada parte do texto a ser pregado Após o período de leitura de sondagem e garimpagem, precisaremos verificar o significado das coisas que não compreendemos e, às vezes, tentar descobrir o porquê de certa palavra ter sido utilizada em lugar da outra. Sim, devemos procurar conhecer o significado das coisas, Interpretando-as. Buscando compreender o que significaria aquela determinada palavra ou ordem para aquela época. Quando buscamos pelo real significado, ficamos livres de dizer besteira como uma que também ouvi: “Pastor, o senhor sabia que Jesus era músico? Achei um versículo que diz que ele tocava Esquife.”. O versículo a que este irmão se referia, é Lucas 7.14, que segundo o ‘Almeidão’: quando Jesus percebeu a dor da viúva de Naim, se aproximou e “tocou o esquife”. Mas esquife não é um instrumento musical, é um ataúde, uma embarcação, um caixão. 4.4 Compare a passagem de estudo com outras afins ou com histórias correlatas Ao concluir o processo de pesquisa interpretativa, passe a Comparar com outras passagens bíblicas, histórias reais ou algo fictício, mas que seja relevante no processo ilustrativo. Este passo é basicamente o momento em que você deverá gastar energia procurando uma boa ilustração (bíblica ou não) para dar uma maior clareza àquilo que está ensinando. Mesmo se uma determinada lição aparentemente for bem clara e específica: por exemplo, o fato de sermos chamados a beber da água da vida. Assisti uma pregação onde o pregador levou para o púlpito um jarro d’água e de vez em quando, quando precisava enfatizar seu título, tomava um bom gole. Algo simples, mas impactante e elucidativo.Numa outra prédica, o pregador falava sobre as lições que Neemias nos deixou sobre estarmos unidos e, num determinado ponto, que trabalhava sobre o efeito da união, projetou no multimídia, a cena do filme do Gladiador, quando estão no centro da arena e ele diz a seus colegas mais ou menos assim: “não importa o que saia daqueles portões, se estivermos juntos, teremos muito mais chance de vencer”.5 Temos que tomar cuidado para usar coisas conhecíveis e de fácil assimilação; pois não podemos gastar 5 minutos explicando os detalhes de uma ilustração, para ela poder fazer sentido, senão seria uma “nova pregação” ou uma mini palestra no meio do sermão. 4.5 Aplique, contextualizando as lições bíblicas para os dias de Hoje Por fim, nesta fase de estudo e assimilação do conteúdo, precisaremos dizer qual a mensagem que ainda fica e serve aos dias de hoje, Aplicando a lição para os nossos ouvintes. Por exemplo, quando lemos Efésios 4.29 “não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe”, num primeiro momento podemos perceber que Paulo nos dá um conselho referente ao nosso falar (neste momento, estamos na fase da Observação). No senso comum, sempre ouvi dizer que Paulo estaria proibindo o uso de palavrão (uma possível aplicação, prévia, para o caso). Mas, quando vou para o dicionário e descubro que torpe significa algo estragável, estou na fase da Interpretação, o que me ampliará o sentido da mesma, pois eu posso dizer uma palavra estragável sem dizer um palavrão, assim, não é apenas a obscenidade que está sendo condenada. Ao lembrar de Pv 25.11, estou comparando com outro texto bíblico que me ensina para cuidar, inclusive, sobre a hora certa de dizer as coisas. E quando eu lembro do ditado popular “uma maçã podre apodrece o cesto todo”, estou Comparando com uma situação do dia-a-dia, bem comum, que vem esclarecer a grande verdade enunciada na Bíblia. Assim, estarei pronto para aplicar aos dias de hoje. Por isso, embora o texto inicialmente não fizesse alusão a piadas, eu posso dizer que há piadas, mesmo sem palavrões ou duplo sentido, que blasfemam contra nosso Deus. Então falar determinadas piadas seria uma aplicação aos nossos dias de Ef 4.29. 5 O filme referido é “Gladiador” com o ator Russel Crowe, lançado em 2000 sob a direção de Ridley Scott e produção de David Franzoni, Branko Lustig e Douglas Wick. http://portaldecinema.com.br/Diretores/ridley_scott.htm Outra lição para os dias de hoje seria: “devemos pensar antes de sair dizendo qualquer coisa”, precisamos avaliar se o que formos dizer, mesmo que seja verdade, pode ser dita naquele momento, daquela forma e sob a presença de testemunhas. Falar palavrão continua no bojo aplicativo, mas observe que não é só isto. Mentira ou fofoca, também poderiam ser mencionados aqui. Ou seja, o que Paulo nos adverte é que pelo fato de sermos filhos de Deus, devemos nos preocupar em abençoar os outros, inclusive com nossas palavras e jamais o contrário. Didaticamente, no DOICA, seguimos a seguinte sequência: Delimitação, Observação, Interpretação, Comparação e Aplicação. Mas, se você está na fase de delimitação da perícope e nem iniciou de fato o processo, mas acabou lembrando uma pergunta que parece ser interessante, anote-a em um cantinho, para depois refletir melhor sobre a mesma e verificar sua real possibilidade de utilização em alguma parte de seu sermão. Ou mesmo, se já começou a ter alguns insights sobre como aplicar aos dias de hoje, deixe registrado em algum lugar e quando tiver maior conhecimento dos estudos, decidirá se tal aplicação ou insigh caberá plenamente ou apenas em parte, ou ainda se foi mera empolgação do momento. Só seja honesto ao seguinte: não importa o quão bonito ou extraordinário foi a palavra ou a situação visualizada, se ela não estiver em sintonia com aquele texto bíblico estudado, deixe-a de lado, para ser utilizada em outra situação. No quadro a seguir temos um resumo da explicação que temos dado sobre o DOICA. Para o seu dia-a-dianão precisa seguir o esquema em formato de tabela. Procure usar as informações ao longo de uma página ou mais, você deve escolher o que melhor se encaixa ao teu perfil. O importante é lembrar seu princípio e adotar suas regras de estudo: Delimitação do Texto Observação Interpretação Comparação Aplicação Escolhido em oração e checado a partir das sugestões Anote o que você vê, com suas palavras, e, por fim, Busque o significado das coisas difíceis e os sinônimos para as fáceis. Procure Procure algum versículo que tenha a mesma ideia. Ou história que Após estudar todo o trecho escolhido, proponha exemplos de dadas. procure descrever o assunto central ser o mais detalhado possível possam ilustrar. como eu posso viver a verdade Bíblica de que o texto fala. 1º verso: 2º verso: Destaque 1 Destaque 2 Destaque 3... Destaque 1 Destaque 2... O que significa? Quando aconteceu? Como aconteceu? Por que aconteceu? O que me lembra? Como explicar? Pra que serve? O que Deus quer que eu mude ou faça? Como mudar? Colocando em prática parte do conhecimento adquirido: Delimitação do Texto Observação Interpretação Comparação Aplicação Sl 42.1-26 Escrever o que estou vendo Explicar o que significa cada coisa Procurar paralelos que possam ilustrar e trazer luz ao assunto Propor exemplos de como devemos viver hoje, a verdade ensinada v.1 a- O salmista se compara a um servo Comparações eram comuns na poesia hebraica Outra versão diz que a corça suspira. Se um animal, irracional sabe que precisa de 6 Por ser um Salmo, deveria ser analisado por inteiro. Mas, para servir como exemplo prático elucidativo, ficaremos apenas com os dois primeiros versículos. v.1 Como o Cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minh’alma por Ti, oh meu Deus. v.2 A min’alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar na presença de Deus? b- O cervo brama pelas correntes das águas c- A alma do salmista suspira por Deus Cervo = Corça = veado Bramar = gritar, clamar Corrente das águas = água corrente, água limpa 7 Suspirar = ansiar, desejar Citar Jesus como a água viva (em João) água, no deserto. Por que continuamos a achar que podemos viver sozinhos, sem Deus? Verso 2 a- A alma do salmista tem sede de Deus b- Deus é um Deus vivo Alma em hebraico é sinônimo para a própria vida Pode ser sinônimo e um Deus que se relaciona A pergunta não é Isaias 55.1-6 o profeta diz que aquele que tem sede deve ir até Deus para saciar-se. Dn 6.20 Dario se refere a Daniel como o servo do Deus vivo Salmos 15.1e 2 o salmista Quando você está com sede, o que você faz? Come um punhado de farinha? Não né. A gente procura água. Então, por que, que na vida espritual, quando precisamos de Deus geralmente acabamos buscando outras coisas? 7 Aqui, o pregador se pergunta pelo significado e descobre quais são suas possíveis explicações. Na hora da exposição, este passo acaba virando explicação. Como aqui estamos na fase da pesquisa, usamos apenas a ideia de Interpretação: a necessidade de se buscar o sentido de algo do texto. c- Faz uma pergunta sobre estar com Deus de dúvida, mas de desejo, no sentido de que não vê a hora de usufruir a presença gloriosa de nosso Senhor pergunta sobre quem poderá subir ao monte santo de Deus Será que não está na hora de você se perguntar, até quando ficará longe da presença de Deus? Até quando lutarás sozinho? Até aqui nós vimos como estudar e extrair os ensinamentos do texto bíblico. Mas ainda não terminamos. Não basta apenas saber corretamente o que o texto bíblico está dizendo, agora será necessário gastarmos energia pensando em como transmitir isto para os nossos ouvintes. Sim saber o que levar ao púlpito, quando falar e como apresentar é tão fundamental quanto todos os cuidados iniciais com os estudos. O que será visto em nossa próxima Unidade. Até lá e bons estudos. 5 Resumo Como vimos, não há como debruçar-me na ministração da Palavra de Deus, sem que antes Ele tenha falado conosco. E isto só é possível por meio de uma vida séria de oração, estudo e meditação. Temos que aprender a mesclar e a dosar estas duas ferramentas que temos à disposição: oração e estudo. São complementos e de maneira alguma se excluem mutuamente. Quando isto acontece, não importa se o motivo parecer nobre, quando separamos os dois, nossa pregação tende a ser superficial e nosso povo padecerá. Também aprendemos que devemos tomar cuidado com aquilo que lemos. Nem tudo o que lemos é totalmente válido ou verdadeiro. Infelizmente há muita coisa que foi escrita pensando-se apenas em vender ou atrair seguidores nas redes sociais. Por esta razão devemos sempre estar atentos para as informações obtidas. Além disso, apresentamos um método próprio de estudo e meditação da Palavra. Nada revolucionário nem tão pouco que venha a substituir outros que estão por aí. Nossa intenção foi apresentar algo que possa capacitá-lo, no dia-a-dia, a preparar o seu próprio esboço de sermão. Por isto, quanto mais nos esforçarmos para usar e aprimorar os conceitos do DOICA: Delimitação, Observação, Interpretação, Comparação e Aplicação, maior será nossa profundidade no processo de aprendizagem, aumentando a chance de uma meditação bem sucedida. De início pode parecer difícil, mas não desista. Certamente logo você vai perceber as vantagens oriundas da utilização deste método. 6 Apêndice Exemplo da utilização do DOICA, no texto de Mateus 15.19-30: Texto: Leia Mateus 15.19-30 e veja qual seria o versículo inicial e final para trabalharmos o texto da mulher canaanita. Depois, leia-o para extrair seu tema principal. Tema: Fé. Aparentemente também teríamos a perseverança se destacando. Assim, teríamos um “empate” entre fé e perseverança. Às vezes é possível encontrarmos dois temas unidos num mesmo texto, mas não é este o caso. Portanto, como poderíamos buscar um possível desempate? Uma dica, seria reler o texto sob a perspectiva de um dos temas e, depois, sob a ótica do outro para ver qual dos dois conseguiriam abarcar o máximo do texto analisado. Outra dica é procurar no próprio texto, algo que possa dizer qual dos dois temas seriam o mais importante. Neste caso leia o texto e responda: “O que foi que Jesus elogiou naquela mulher? A fé ou a perseverança? Logo, o próprio texto nos diz qual deles é o mais preeminente. O outro passa a ser possível, a partir do primeiro. Na observação – DOICA eu percebo que: v. 21-22 – uma mulher canaanita, da região de Tiro e Sidônia, com uma filha endemoninhada buscou ajuda em Jesus. v. 22b – a mulher chama Jesus de Senhor e de Filho de Davi v. 23 – Jesus não lhe responde nada e ela mesmo assim persevera v. 24-25 – mesmo sem uma resposta positiva, a mulher tem uma postura de adoração diante de Jesus v. 26-27 – A mulher não rebate a “acusação de ser como os cachorrinhos” e diz que busca apenas as migalhas da mesa v. 28 – Jesus elogiou a grande fé daquela mulher e curou sua filha A partir dos estudos, chegaríamos à seguinte estrutura, com seu título e tópicos: Uma grande fé... • É possível a qualquer um (v. 22a); • Reconhece o senhorio de Cristo (v. 22b); • Persevera mesmo no silêncio (v. 23); • Adora mesmo diante de um não (vv. 24-25); • Contenta-se com migalhas (vv. 26-27); • Agrada a Deus (v. 28). Observe que cada tópico tem a vercom a lição extraída de cada versículo, apresentadas anteriormente. Título: Uma Grande Fé Mt 15.21-28 – Pensando na Interpretação - DOICA 1 É possível a qualquer um (v. 22a); Aqui deveremos pesquisar e descrever8 o significado de ser estrangeiro falar sobre o papel da mulher para aquela sociedade 2 Reconhece o senhorio de Cristo (v. 22b) Aqui devemos falar sobre o que significa chamar Jesus de Senhor e de Filho de Davi 3 Persevera mesmo no silêncio (v. 23); Aqui devemos explicar por que Jesus a ignorou9 4 Adora mesmo diante de um não (vv. 24-25); Aqui podemos explicar a diferença de louvor e adoração e que Deus não é obrigado a nos responder e, também falar sobre o fato de nossa adoração não ser somente quando as coisas vão bem. 5 Contenta-se com migalhas (vv. 26-27); 8 Deverei pesquisar, interpretando, quando eu estiver estudando o texto. Mas, deverei interpretar também para o povo, ou seja, deverei descrever ou explicar estes significados, para um melhor entendimento da passagem como um todo. 9 Aproveito aqui para dar uma palavrinha de atenção sobre não aceitarmos tudo o que lemos ou ouvimos. Já ouvi, de pessoas bem estudadas, a seguinte frase: “Ainda bem que aquela mulher canaanita se envolveu nos caminhos de Jesus, senão ele teria continuado pensando que seu ministério era apenas para os judeus.” Muito cuidado. Pois num primeiro momento até pode parecer isto, afinal, no texto parece que Jesus não estava muito interessado em atende- la. Todavia, quando observamos o ministério todo de Jesus, que nunca se recusou a atender uma pessoa se quer e, principalmente, sua grande habilidade como mestre, de sempre aproveitar a situação para extrair o máximo de lições para seus seguidores, é muito mais fácil entender e perceber que Jesus sabia sim de seu Ministério, mas ali, ao perceber a fé daquela mulher, a provou para que ficasse de exemplo para todos nós. Afinal, uma estrangeira, teve mais fé do que muitos do próprio povo de Deus. Aqui poderemos explicar o erro da teologia da prosperidade. 6 Agrada a Deus (v. 28). Precisamos explicar que Deus é um Deus pessoal e relacional. Agora, pensando na comparação com outras passagens bíblicas ou demais histórias e também nas possíveis aplicações para cada tópico teremos: Uma Grande Fé Mt 15.21-28 1 O - É possível a qualquer um (v. 22a); I - Descrever o significado de ser estrangeiro e Falar sobre o papel da mulher para aquela sociedade C - Gn 21.17 – “a voz do menino”; A - Uma mulher, uma estrangeira, com a filha endemoninhada, buscou a Jesus. Qual o tamanho do seu problema? Porque somos tão orgulhosos em pedir ajuda para Deus? 2 O - Reconhece o senhorio de Cristo (v. 22b) I - Explicar o que significa chamar Jesus de Senhor e de Filho de Davi C - Os dois ladrões na cruz; A - Qual o lugar que você tem dado a Deus? 3 O - Persevera mesmo no silêncio (v. 23); I - Explicar por que Jesus a ignorou C - Ana perseverou em oração; A - Mostrar diferença entre vãs repetições e perseverança 4 O - Adora mesmo diante de um não (vv. 24-25); I - Trabalhar a diferença de louvor e adoração e mostra que Deus não é obrigado a nos responder C - Citar o exemplo de Jó; A - A história de dois presos olhando diante da mesma janela. Um olhava para o céu e sempre vislumbrava ter uma vida melhor, quando dali saísse, enquanto que o outro só olhava para baixo, para o mato e o lixo acumulado e só murmurava. 5 O - Contenta-se com migalhas (vv. 26-27); I - Trabalhar o erro da teologia da prosperidade C - Hb 3.19 – Jesus é misericordioso e preocupa-se em nos atender. A - Mulher com dois filhos: um vendia ventilador e o outro guarda-chuva. Aquela mãe vivia chorando, porque quando chovia o filho do ventilador não vendia nada, assim não poderia ajuda-la em casa. Quando fazia sol, chorava, porque as vendas de guarda-chuva eram nulas e seu filho não poderia ajuda-la em casa. Só vivia murmurando e choramingando. 6 O - Agrada a Deus (v. 28). I - Explicar que Deus é um Deus pessoal e relacional C - “se sois meus discípulos, fazei o que vos mando” Jo 15 A - A quem você tem agradado/obedecido?
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