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Psicologia Organizacional Dra. Waldeciria Souza da Costa PALAVRA DO REITOR WILSON DE MATOS SILVA REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Bem-estar, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS WILLIAM DE MATOS SILVA PRÓ-REITOR EXECUTIVO DE EAD Janes Fidélis Tomelin PRÓ-REITOR DE ENSINO EAD Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Débora Leite DIRETORIA DE DESIGN EDUCACIONAL Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. Kátia Coelho DIRETORIA DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO Leonardo Spaine DIRETORIA DE PERMANÊNCIA APRESENTAÇÃO É com enorme satisfação que apresentamos este livro, uma das ferramentas disponibilizadas a você, ao cursar a disciplina de Psicologia Organizacional. Esperamos, sinceramente, que você esteja se sentindo motivado para iniciar os seus estudos neste campo. Para muitos(as) alunos(as), este será o primeiro contato com os conheci- mentos produzidos no campo da Psicologia, e pensando nisso, resolvemos iniciar a primeira unidade esclarecendo os objetivos dessa ciência e seus principais campos de estudo. Você perceberá que muito mais do que o atendimento clínico, que vem à mente de qualquer pessoa quando se fala em Psicologia, ela é uma ciência que pode auxiliar em vários outros cam- pos de estudo e em diferentes práticas profissionais, que, inevitavelmente, envolvem o comportamento humano. Focalizaremos a nossa atenção muito especialmente nas contribuições da Psicologia Organizacional e Comportamento Organizacional, campos que se preocupam em sistematizar o conhecimento psicológico, direcionando-o à compreensão das pessoas no seu contexto de trabalho. A lógica que seguiremos, no desenvolvimento das unidades, pautou-se, primeiramente, em apresentar a psicologia como ciência e discutir o lugar do trabalho na vida humana, analisando como os processos de trabalho foram se desenvolvendo desde a Revolução Industrial, passando pela Ad- ministração Científica no início e ao longo do século passado até a atuali- dade, em que as influências da Escola das Relações Humanas, surgida em meados do século passado, introduziram a preocupação com o bem-estar e satisfação do ser humano no trabalho. Terminaremos a primeira unidade apontando alguns desafios e oportunidades que se colocam aos gestores e administradores ao lidar com as questões humanas no trabalho, como a gestão de pessoas em época de crises, a necessidade de lidar com a diver- sidade, as respostas à globalização e o importante papel das organizações no desenvolvimento e aperfeiçoamento de habilidades daqueles que fazem parte de seus quadros. Na segunda unidade, trataremos de aspectos individuais do ser humano. Algumas teorias sobre a personalidade, inteligência, inteligência emocional, percepção e motivação serãoapresentadas. Essas teorias demonstram que cada ser humano é formado por certos padrões de comportamento mais ou menos coerentes, mais ou menos constantes ao longo do tempo, que distinguem cada pessoa uma da outra, com particularidades que precisam ser consideradas e respeitadas por quem tem a tomada de decisão em suas mãos no contexto de trabalho. APRESENTAÇÃO A saúde, satisfação e qualidade de vida no trabalho são os temas trata- dos na terceira unidade. A ideia central é levá-lo(a) a conhecer os fatores ambientais que influenciam o bem-estar dos trabalhadores, muitas vezes negativamente, e que são responsáveis por afetar a saúde, desencadeando transtornos mentais, como depressão, alcoolismo e estafa profissional, a chamada síndrome de burnout. A análise e reflexão sobre esses fatores demonstram que o comprometimento da saúde mental no trabalho não tem causas puramente individuais, decorrentes do desequilíbrio de “pessoas problemáticas”, mas que, em grande parte, a pressão e situações estressantes pela qual passam os trabalhadores influenciam diretamente na manutenção da sua saúde mental e física. Na quarta unidade, apresentaremos teorias sobre grupos e equipes, dife- renciando os dois conceitos e demonstrando que, ao contrário do que se possa pensar, devido a uma forte tendência de valorização das equipes, nem sempre elas são a melhor alternativa, para maior produtividade e competi- tividade nas empresas. Abordam-se, ainda, outros processos interacionais fundamentais que ocorrem entre as pessoas no trabalho, como os processos de comunicação, liderança e conflitos. Na quinta e última unidade do livro, as organizações serão analisadas nos aspectos que as constituem, no seu modo de funcionamento definido pela sua estrutura e cultura, que as localizam em um continuum que vai da fle- xibilidade à rigidez e as caracterizam como sendo mais autoritárias ou mais democráticas. A gestão da diversidade será abordada, procurando preparar o futuro gestor para lidar com uma força de trabalho heterogênea em ter- mos do Brasil e de contextos internacionais. Veremos como a capacidade de aprendizagem pode preparar as empresas para se adaptarem ao mundo em mudança incessante, e nessa perspectiva, abordaremos o processo de mudança organizacional em suas forças impulsionadoras, as resistências que podem surgir ao se propor mudanças e alguns meios para superação dessas resistências. Há objetivos de aprendizagem indicados ao início de cada unidade, porém você vai perceber que eles são muito mais amplos e devem servir para que você focalize os aspectos primordiais, conforme for realizando a leitura das unidades. Esperamos que este livro seja um bom companheiro na sua trajetória de formação. Bons estudos! CURRÍCULO DOS PROFESSORES Dra. Waldeciria Souza da Costa Possui Doutorado em Psicologia Social pela Universidade do Minho - Braga - Portugal (2011), com título revalidado no Brasil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Especialização em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela UNOPAR - Universidade do Norte do Pa- raná (2001) e Graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Pará (1989). Realizou vários trabalhos na área de gênero, gênero e imigração, violência de gênero e psicologia or- ganizacional. Atualmente é Coordenadora e Professora do Curso de Psicologia da Faculdade Cidade Verde e Professora na Unicesumar - Centro de Ensino Superior de Maringá. Para saber mais, acesse o Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/5105366847351675 Introdução ao Campo do Comportamento Organizacional 15 Comportamento, Personalidade e Processos Individuais 51 Saúde, Satisfação X Transtornos Mentais no Trabalho 89 Processos de Grupos e Equipes 117 Processos Organizacionais 153 17UNIDADE 1 Na sequência, trataremos de uma questão bem presente na Psicologia Organizacional: qual o sen- tido e o lugar do trabalho na vida das pessoas? Esse tema é primordial, considerando que entre os obje- tivos da Psicologia está a compreensão do ser huma- no em sua complexidade para melhorar a sua vida. Serão também abordadas as influências de al- guns movimentos, como a Administração Cien- tífica e a Escola das Relações Humanas sobre as relações de trabalho, que trazem visões diferen- ciadas do trabalho e do trabalhador. A primeira encarando o homem de forma mecanizada e a segunda de forma mais humanizada. Para encerrar a unidade, comentaremos sobre alguns desafios encontrados pelos ad- ministradores/gestores ao lidar com pessoas, acreditando que possam ser oportunidades de desenvolvimento se os conhecimentos cons- truídos no campo da Psicologia e do Compor- tamento Organizacional forem utilizados em benefício de todos. Caro(a) aluno(a), é possível afirmar que, desde os primórdios da história, o ser humano buscou conhecer a si próprio, aos diversos aspectos da vida e do universo. A busca pelo autoconhecimen- to e o desejo por se conhecer levou a especulações e reflexões que remontam à Filosofia na Grécia Antiga. Com os filósofos pré-socráticos, surgiu a tentativa de sistematizar um pensamento sobre a interioridade humana (BOCK; FURTADO; TEI- XEIRA, 2011; FELDMAN, 2015). O termo psicologia vem das palavras gregas psyché (alma) e logos (razão), sendo a alma con- cebida como a parte imaterial do ser humano, que abarcaria os pensamentos, sentimentos de amor e ódio, irracionalidade, desejo, sensação e percepção. Sócrates foi o responsável por dar maior consis- tência ao pensamento sobre o mundo psicológico ao colocar a razão como característica especifi- camente humana, fazendo-nos capazes de sobre- por-nos aos animais, estes totalmente presos aos instintos. Sócrates, Platão e Aristóteles foram alguns dos inúmeros filósofos que deixaram suas contri- buições sobre os aspectos da interioridade humana, temas que, muitos séculos depois e na atualidade, passaram a ser discutidos pelos psicólogos. A Psicologia como disciplina científica foi fundada, apenas, no final do século XIX, quan- do o alemão Wilhelm Wundt criou, em 1879, o primeiro laboratório para estudar os fenômenos psicológicos, em Leipzig, Alemanha. O que significa falar em Psicologia como ciên- cia, considerando que as reflexões nesse campo já vinham sendo realizadas há séculos no campo da Filosofia? Por que os psicólogos buscaram o status de ciência para o seu campo de estudo? De modo bastante resumido, caro(a) aluno(a), relembraremos alguns acontecimentos históricos. Por um longo período da história, as explicações para a vida e para o universo eram baseadas na religião, especialmente durante a Idade Média. Com o surgimento do grande movimento cul- tural denominado Renascimento (século XIV), as explicações para os fatos da vida humana e do universo passaram a ser elaborados com base na razão. René Descartes (1596-1659), considera- do o pai do racionalismo moderno, foi um dos filósofos que mais contribuiu para o avanço do pensamento científico. A partir de então, o pen- samento científico foi ganhando espaço e, com o tempo, passou a ser a forma mais respeitada de construção de conhecimento, por ser fruto da razão, fugindo às explicações anteriormente dominantes de cunho religioso ou místico que predominaram no mundo durante a Idade Média. Embora a origem do pensamento moderno (que dá primazia à razão) tenha suas origens al- guns séculos antes, foi nos séculos XVIII e XIX que a ciência ganhou uma relevância social jamais vista, levando os psicólogos da época a buscar o status de ciência para a Psicologia, com a utiliza- ção do método científico. 19UNIDADE 1 Objetivos da Psicologia e suas Subáreas de Pesquisa Quadro 1 - Subáreas da Psicologia Psicologia clínica Realiza pesquisa, diagnóstico, acompanhamento psicológico, intervenção psicoterápica individual ou em grupo, com enfoque preventivoou curativo, por meio de diferentes abordagens teóricas. Psicologia transcultural Investiga as semelhanças e diferenças no funcionamento psicológico nas várias culturas e nos grupos étnicos. Psicologia educacional Ocupa-se do ensino e dos processos de aprendizagem. Psicologia forense Aborda questões legais, tais como avaliar as condições intelectuais e emo- cionais de crianças, adolescentes e adultos inseridos em processos jurídicos. Psicologia da saúde Explora a relação entre fatores psicológicos e enfermidades físicas. Psicologia Social É o estudo de como os pensamentos, os sentimentos e as ações das pessoas são afetadas pelos outros, ou seja, a integração entre o indivíduo e o social. Psicologia do esporte Estuda e aplica os conhecimentos de várias teorias psicológicas à atividade esportiva. Psicologia organizacio- nal/ Psicologia organi- zacional e do trabalho Estuda o ser humano no contexto de trabalho e aplica os conhecimentos da psicologia para a compreensão, a intervenção e o desenvolvimento das rela- ções humanas, dos processos individuais e grupais no contexto do trabalho. Fonte: adaptado de Feldman (2015). A Psicologia como ciência tem os seguintes objetivos: descrever, prever e explicar o comportamento e os processos mentais, com o intuito de ajudar a melho- rar a vida das pessoas e do mundo em que vivem. Como mencionamos, há inúmeras correntes de pensamento na Psicologia que buscam com- preender o ser humano. Ao longo do tempo, essas correntes foram se desenvolvendo e se especifi- cando em diversas subáreas. Feldman (2015) nos indica 21 subáreas da Psicologia. Apresentamos algumas das principais descritas no Quadro 1. Como você pode perceber pelo exposto até aqui, a Psicologia está longe de ser, apenas, o que se imagina no senso comum: a imagem de um profissional sentado, ouvindo o que diz o seu pa- ciente, para ajudá-lo na cura de algum mal-estar psicológico. Muito mais do que isso, essa é uma ciência que constrói conhecimento e tem suas conclusões aplicadas a inúmeros contextos em que haja seres humanos em relações sociais. Há algumas décadas, mais ou menos desde o início do século XX, os desenvolvimentos alcan- çados no campo da Psicologia têm contribuído com a prática administrativa e, especialmente, a Psicologia Organizacional tem contribuído mais diretamente para os estudos do Comportamento Organizacional, campo que será detalhado mais adiante neste texto. Assim como no Quadro 1, a Psicologia Or- ganizacional estuda o ser humano no contex- to de trabalho e aplica os conhecimentos da Psicologia para a compreensão, intervenção e desenvolvimento das relações humanas, dos processos individuais e grupais nas organiza- ções. Essas características da Psicologia Orga- nizacional leva Banov (2011, p. 4) a afirmar que essa é a área “que se aplica ao gerenciamento de pessoas, com o objetivo de utilizar os prin- cípios científicos do comportamento humano nas organizações”. 20 Introdução ao Campo do Comportamento Organizacional A Psicologia Organizacional no Brasil Nesse sentido, a Psicologia Organizacional de- senvolveu-se em duas vertentes: uma voltada para o domínio de técnicas e práticas, como as de re- crutamento e seleção e avaliação de desempenho, e outra voltada ao domínio das relações humanas. Apesar de surgirem algumas críticas sobre o uso da psicologia para atender aos objetivos da pro- dutividade e do lucro das empresas, não se pode negar que a aplicação dos conhecimentos produ- zidos por essa ciência pode criar nas organizações ambientes mais favoráveis à qualidade de vida das pessoas, juntamente com os resultados favoráveis à organização. Assim, ganham as pessoas, as orga- nizações e a sociedade. Neste material de estudo, abordaremos a segunda vertente da Psicologia Organizacio- nal, voltada às relações humanas no trabalho e que tem contribuído em grande medida com o campo denominado Comportamento Organi- zacional (CO). Segundo Banov (2011) há registros da Psicologia Organizacional no Brasil desde 1924, inicialmente denominada de Psicologia Industrial, direcionada a atender aos interesses da indústria e baseada nos pressupostos do taylorismo, que estudaremos mais adiante. A partir da década de 70, surgiu o termo Psicologia Organizacional, considerando o envolvi- mento da psicologia com a estrutura da organização. Dos anos de 1990 até a atualidade, ocorreram mudanças cruciais no contexto do mercado, ca- racterizado pela globalização, competitividade entre as empresas, substituição de pessoas por máquinas e surgimento da internet. Essas con- tingências levaram à concepção da administração estratégica, em que a mudança de comportamento e o desenvolvimento de competências pelos pro- fissionais tornou-se fator primordial para atender às demandas do mercado e a necessidade de lidar com temas, como diversidade, estresse, responsa- bilidade ambiental e social, entre muitos outros. 21UNIDADE 1 O Campo do Comportamento Organizacional (CO) Na tentativa de explicar as atitudes e comportamentos de nossos semelhantes, é comum que todos nós tiremos conclusões intuitivas e de senso comum. Essas explicações, sem dúvida, nos são úteis, porém as complexidades humanas e do contexto social as tornam limitadas. Não é possível responder de forma efetiva, apenas intuitivamente, a questões do tipo: Como compreender o pensamento e o comportamento de pessoas e equipes? Que fatores que envolvem a atuação dos funcionários levam as organizações a serem admiradas, terem sucesso, serem produtivas e construírem marcas confiáveis? Como melhorar o bem-estar dos funcionários e impulsionar equipes a serem bem-sucedidas? Qual o papel das relações interpessoais no contexto do trabalho? Como motivar pessoas para empregarem o seu talento na organização? 22 Introdução ao Campo do Comportamento Organizacional Para responder a algumas dessas questões, a atua- ção das pessoas no mundo do trabalho tornou-se objeto de estudo de várias ciências, além da Psico- logia. É reconhecido que os profissionais precisam estar conectados com as diversas “descobertas” no campo, que são sistematizadas na disciplina Com- portamento Organizacional. As descobertas desse campo de estudo irão ajudar os profissionais a basear as suas explicações em evidências estu- dadas sob condições suficientemente rigorosas, para a atribuição de causa e efeito a respeito dos comportamentos e atitudes apresentados pelas pessoas no cotidiano de seu trabalho. O que é Comportamento Organizacional Para explicitar em que se constitui o campo do Comportamento Organizacional, apresentaremos duas definições, dadas por diferentes autores e, em seguida, faremos algumas considerações que julgamos pertinentes. “ O Comportamento Organizacional (CO) é um campo de estudo voltado a prever, expli- car, entender e modificar o comportamento humano no contexto das empresas (WAG- NER III; HOLLENBECK; SILVA, 2012, p. 5). “ O Comportamento Organizacional (CO) é um campo de estudos que investiga o im- pacto que indivíduos, grupos e a estrutura organizacional têm sobre o comportamento das pessoas dentro das organizações, com o propósito de utilizar esse conhecimen- to pra melhorar a eficácia organizacional (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2011, p. 7). Vejamos por partes o que os autores pretendem esclarecer. Wagner III, Hollenbeck e Silva (2012) apresen- tam o CO como um campo de estudo, ou seja, tra- ta-se de uma especialidade com um corpo comum de conhecimentos e acentuam como subjacentes a sua definição três fatores importantes quanto ao comportamento humano: 1. O campo do CO focaliza os comportamentos observáveis, como falar em público, elaborar um documento ou manejar um equipamento e, também, enfoca os estados internos, como pensar, perceber, refletir e decidir, que acom- panham os comportamentos observáveis. 2. O CO analisa o comportamentodas pessoas tanto de forma individual quanto como fazendo parte de grupos, de unidades sociais maiores. 3. O CO avalia o “comportamento” de grupos e organizações, que se “comportam” de forma diferente das pessoas individualmente. Esses modos de atuar dos grupos devem ser exa- minados em termos de processos grupais ou organizacionais. Na definição de Robbins, Judge e Sobral (2011), o CO também aparece como um campo de estu- do, em que os temas relacionados ao ser humano no trabalho são estudados em múltiplos níveis de análise: o individual, em grupos (incluindo o aspecto interpessoal) e a organização. Os autores ressaltam, ainda, o objetivo maior do CO: aplicar o conhecimento obtido sobre as pessoas, os grupos e os efeitos da estrutura sobre os comportamen- tos para tornar o trabalho das organizações mais eficaz. A ideia central é compreender o que as pessoas fazem no trabalho e como seus compor- tamentos afetam o desempenho organizacional. Nessa perspectiva, Wagner III, Hollenbeck e Silva (2012) explicam que os estudos de CO vêm se desenvolvendo em três áreas distintas, que se organizam da seguinte forma: comportamento mi- cro-organizacional, comportamento meso-organi- zacional e comportamento macro-organizacional. 23UNIDADE 1 As Organizações COMPORTAMENTO MICRO-ORGANIZACIONAL Estuda o indivíduo ao trabalhar sozinho. Com orientação claramente psicológica, examina temas, como a produtividade do trabalhador, motivação, percepção e diferenças individuais. COMPORTAMENTO MACRO-ORGANIZACIONAL Estuda os comportamentos de empresas inteiras. A ciência política, a sociologia, a antropologia e economia são as disciplinas que contribuem mais diretamente com os temas nessa área, tratando de temas, tais como status sociais, poder, conflito, negociação, influência cultural, competição e eficiência. COMPORTAMENTO MESO-ORGANIZACIONAL Estuda o comportamento das pessoas ao trabalharem em grupos e equipes. As pesquisas nos campos da comunicação, psicologia social e da sociologia contribuem com essa área, examinando temas, como socialização, liderança e dinâmica de grupo. Utilizando a definição de McShane e Von Glinow (2013, p. 5), esclarecemos que “organizações são grupos de pessoas que trabalham de maneira interdependente com alguma finalidade comum”. Elas não dependem da existência de prédios ou documentações, existem desde que os seres humanos passaram a trabalhar juntos há mi- lhares de anos e caracterizam-se pela interação das pessoas de maneira organizada, o que exige algum nível de comunicação, coordenação e colaboração para o alcance de objetivos. Em outra unidade deste material de trabalho, trataremos mais detalhada- mente sobre o conceito de organização ao falarmos sobre estrutura, clima e cultura organizacional. 25UNIDADE 1 Para contribuir com esse debate, o sociólogo Paul Lazarsfeld elaborou uma lista resumida de “constatações óbvias” (segundo os críticos) a que chegaram inúmeros estudos realizados pelo De- partamento da Guerra dos Estados Unidos, em que foram entrevistados mais de 600 mil soldados. Entre as várias constatações que Lazarsfeld (apud VECCHIO, 2008, p. 17) apresenta, citamos três delas e, baseado em sua intuição e senso comum, vejamos qual a sua conclusão a respeito: 1. Enquanto a guerra continuava, os homens alistados manifestavam maior vontade de retornar aos Estados Unidos do que após o colapso do regime nazista, ou seja, após o fim da guerra (alguém ficaria surpre- so em descobrir que esses soldados não queriam ser mortos e queriam voltar para suas famílias?). 2. Homens brancos convocados demonstra- vam mais vontade de serem promovidos do que os negros (por causa da falta de oportunidades reais para os negros nas Forças Armadas naquela época, isso não seria de se estranhar). 3. Soldados criados em áreas rurais foram mais capazes de se ajustar à vida do exér- cito do que os de áreas urbanas (acostu- mar-se a dormir ao ar livre é mais difícil para quem raramente, ou nunca, deixou de viver debaixo de uma laje de concreto). A natureza óbvia dessas afirmações poderia apon- tar como inúteis o empenho nas pesquisas sobre as pessoas em ambiente organizacional, porém o fato importante é que as afirmações acima são falsas em relação aos resultados realmente encon- trados. O oposto das afirmações foi verificado: os soldados, pelo seu envolvimento, preferiam per- manecer no estrangeiro até que a guerra terminas- se e desejavam voltar para casa só depois; negros manifestavam maior vontade de serem promovi- dos, porque eram privados de oportunidades em outros contextos; os soldados criados em áreas rurais tinham mais dificuldade em se adaptar às exigências e limitações impostas aos soldados. Vecchio (2008) afirma que a ideia ou noção de que os fenômenos comportamentais são ób- vios é uma ilusão. Quando se ouve uma explica- ção, imediatamente se imagina que “logicamen- te se teria pensado nisso”, ocorre um fenômeno que o autor denomina de viés da percepção tardia: acreditar que todo comportamento hu- mano é concebível, pode levar à armadilha de acreditar apenas na própria intuição, opinião e em teorias afastadas da realidade. Para Vecchio (2008, p. 18): “ Precisamos pesquisar os fatores conjuntos, pessoais e situacionais responsáveis por uma determinada regularidade do compor- tamento humano. Um ceticismo positivo se torna necessário, porque quase toda expli- cação do comportamento, independente de sua validade ou falsidade, pode ser conside- rada óbvia após a termos escutado. Assim, prezado(a) aluno(a), é que chamamos a sua atenção para não cair na tentação de agir simples- mente por intuição ou opinião quando tratar com seres humanos no trabalho. Procure conhecer o que as ciências humanas e sociais, especialmente a Psicologia e o os estudos de CO têm a dizer. Feita essa reflexão, verifique o que você co- nhece sobre o comportamento humano. Ana- lise as questões do Quadro 2 e escreva V (verda- deiro) ou F (falso) ao lado de cada afirmação, para indicar se você concorda ou discorda. As respostas encontram-se ao final da unidade. 26 Introdução ao Campo do Comportamento Organizacional Quadro 2 - Afirmações sobre o comportamento humano Afirmação* Resposta V ou F As pessoas são inerentemente sociais. Os introvertidos são mais sensíveis às ideias abstratas e aos sentimentos do que os extrovertidos. Os gênios geralmente têm uma adaptação social pobre. As pessoas que falam em suicídio são pouco propensas a tentar se matar. As pessoas muito religiosas parecem ter como origem condições muito humildes. Bons líderes têm se tornado muito comuns na maior parte das organizações. As mulheres visivelmente possuem maior intuição do que os homens. As pessoas que, muitas vezes, são silenciosas, em geral, pensam cuidadosamente. Na média, os homens conduzem melhor veículos do que as mulheres. Um número maior de pessoas que obtêm grande sucesso origina-se da classe média superior. Parece que a maioria das pessoas trabalha principalmente por dinheiro. O estresse no trabalho é indesejável e deve ser evitado sempre que possível. Os professores universitários apresentam maior autoestima do que os membros de qualquer outro grupo profissional. Quando as pessoas chegam à velhice, suas atividades de lazer mudam radicalmente. A maioria das pessoas se recusaria a aplicar choques elétricos dolorosos em outras pessoas. Os pais devem fazer tudo o que puderem para garantir que seus filhos tenham alta autoestima e uma forte sensação de que são muito competentes. A melhor maneira de garantir que um comportamento desejado irá continuar depois de concluído um treinamento é recompensar esse comportamento toda vez que ele ocorre durante o treinamento em vez de recompensá-lo apenas periodicamente. Tentar influenciar o comportamento de outras pessoas é umatendência natural dos seres humanos. As mulheres, nas interações sociais, olham mais para a outra pessoa do que os homens. As pessoas têm maior probabilidade de atribuir o seu sucesso à sorte ou às oportuni- dades. Fonte: adaptado de Vecchio (2008) e Feldman (2015). *Os autores informam que as respostas às afirmações são baseadas em pesquisas psicológicas empíricas, ou seja, em res- postas dadas pela ciência e não pela intuição ou opinião. 27UNIDADE 1 Razões para Estudar o Comportamento dos Indivíduos no Trabalho Se as considerações anteriores ainda não foram suficientes para esclarecer sobre a importância para um profissional em estudar o Comportamento Organizacional, reforcemos essa ideia com o que nos colocam autores da área da Administração e da Psicologia. Para Vecchio (2008), existem três razões principais para o estudo do CO: aplicações práticas, crescimento pessoal e maior conhecimento. Analisemos as razões apontadas pelo autor: APLICAÇÕES PRÁTICAS O autor refere-se, aqui, às vantagens práticas para se compreender os princípios do CO: a aprendizagem sobre liderança, resolução de conflitos, desempenho humano no trabalho entre tantos outros temas que trazem a possibilidade de desenvolvimento de um estilo pessoal do profissional na condução da sua atuação e/ou gestão. Vecchio (2008) considera a importância do elemento humano para a excelência da organização como fator primordial e o conhecimento das conclusões dos estudos de CO favorece o desenvolvimento individual e dos membros da organização. MAIOR CONHECIMENTO Conhecer sobre as pessoas no local de trabalho a partir do conhecimento sistematizado na área de CO pode ajudar o profissional a pensar de modo crítico sobre temas relacionados ao trabalho, a desenvolver aptidões para analisar problemas pessoais e dos funcionários e realizar os encaminhamentos adequados e implementação de políticas e estratégias para lidar com essas questões humanas. CRESCIMENTO PESSOAL Compreender outras pessoas pode trazer grande realização pessoal, conduzindo-nos a um maior autoconhecimento e autopercepção. Para Vecchio (2008), grande parte das contratações feitas pelas empresas baseia-se na capacidade técnica, porém as promoções envolvem, muitas vezes, a capacidade para compreender e trabalhar eficazmente com superiores hierárquicos, colegas e clientes, ou seja, envolve as relações interpessoais. 28 Introdução ao Campo do Comportamento Organizacional MacShane e Von Glinow (2013) apontam que as pessoas com experiência profissional valori- zam claramente o conhecimento de CO, porque descobriram como isso as ajuda a fazer as coisas acontecerem, ou seja, descobriram que podem utilizar de forma prática os conhecimentos e ferramentas para trabalhar eficazmente com as pessoas. Pelo lado das empresas, o trabalho eficaz significa qualidade de produtos e serviços e saúde financeira. Os autores citam um estudo em que se verificou que os hospitais com níveis mais elevados de atividades de CO, como trei- namento, recompensas, entre outros, obtiveram taxas de mortalidade mais baixas entre os pa- cientes. Em outro exemplo, os autores relatam pesquisa em que as empresas que receberam prêmios como “as melhores empresas para se trabalhar” têm, a longo prazo, um desempenho financeiro superior em relação a outras empre- sas que não estão nesse ranking. Vecchio (2008) utiliza um exemplo para jus- tificar as razões de se estudar o CO, diz respeito à importância do fator humano para o sucesso das organizações e que pode ser observado em qualquer lugar do mundo: as instituições de ensino superior que possuem os mesmos re- cursos materiais irão se diferenciar em termos de excelência e de sua reputação pelas pessoas que farão parte do corpo docente, administra- tivo e pelo corpo discente. Portanto, “o sucesso é alcançado considerando a equipe de trabalho como uma fonte estratégica de vantagem com- petitiva - em vez de simplesmente um custo” (VECCHIO, 2008, p. 5). 29UNIDADE 1 Contribuições da Psicologia Organizacional e dos Estudos sobre o Comportamento Organizacional para a Administração Entre as contribuições da Psicologia para a ad- ministração de uma empresa, Fiorelli (2006, p. 26-30) enumera os seguintes temas de interesse: a) O comportamento das pessoas em dife- rentes condições de trabalho. Procuram- -se maneiras de conciliar as características das pessoas e grupos aos requisitos das ta- refas a desempenhar. As ações preventivas, com utilização de técnicas e treinamentos adequados podem desenvolver comporta- mentos eficazes, reduzindo insatisfações, prevenindo prejuízos emocionais e, por conseguinte, reduzindo o absenteísmo e a rotatividade. b) Os efeitos das condições de trabalho so- bre o desempenho. Este aspecto inclui as condições ligadas à ergonomia (que busca tornar compatíveis o ambiente de trabalho, máquinas e equipamentos às necessidades, habilidades e limitações das pessoas), longos deslocamentos entre trabalho e moradia, a presença de fuman- tes, períodos de esforço concentrado e os efeitos dessas variáveis no desempenho humano no trabalho. c) As alterações em desempenho e relações interpessoais ocasionadas pela presença de profissionais com transtornos men- tais no ambiente de trabalho. As respos- tas sobre como lidar e encaminhar esses profissionais serão fatores imprescindíveis para evitar o sofrimento daquele que está acometido com o transtorno e dos colegas de trabalho. d) Os aspectos psicológicos relacionados com seleção e desenvolvimento de pes- soas. Inclui o lidar com os aspectos psico- lógicos dos candidatos e do empregador. Fiorelli (2008, p. 28) afirma que “a admi- nistração da ‘porta de entrada’ tem impor- tância estratégica, porque a ‘porta de saída’ é estreita e dispendiosa”. e) As relações interpessoais no âmbito do trabalho. São abordadas técnicas para dar e receber feedback, para trabalho coope- rativo e procura-se responder a questões ligadas à liderança, à motivação e ao tra- balho em equipe. Muitos outros temas poderiam ser citados, mas acreditamos que, de forma geral, esses são exem- plos claros da aplicação da Psicologia e sua contri- buição direta ao trabalho para quem vai adminis- trar e participar da gestão de pessoas e do trabalho de qualquer profissional no desempenho de suas funções dentro de uma organização. 31UNIDADE 1 Com a Revolução Industrial, iniciada em fi- nais do século XVIII, o trabalho artesanal nas oficinas foi substituído pelo trabalho assalaria- do nas fábricas. A utilização das máquinas no processo de produção não exigiam dos operá- rios grandes aptidões para o exercício de suas funções. O crescimento econômico foi mar- cante, porém, para os trabalhadores, as mudan- ças tiveram aspectos bastante negativos, como ressaltaram Adam Smith e Karl Marx, levando à exploração e à alienação do trabalhador no processo produtivo (VECCHIO, 2008). Com a chegada do século XX, os processos de produção foram se tornando mais com- plexos, sendo adotada a linha de produção ou produção em série, idealizada por Henry Ford (1863-1947) na fábrica de automóveis que leva seu nome. Os objetivos do sistema de Ford eram, simplesmente, o de aumentar a produção e, logo, foi seguido por muitas outras indústrias. Os trabalhadores eram treinados para realizar tarefas repetitivas de forma or- ganizada, sendo tratados como uma peça da engrenagem industrial (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Na primeira década do século XX, o enge- nheiro americano Frederick Taylor (1856-1917) criou um método denominado administra- ção científica, baseado na engenharia e que consistia na análise detalhada de tarefas, em estudos de tempo e movimento e esquemas de pagamento por unidade produzida. Da mesma forma que no fordismo, a preocupação centra- -se no aumento da produtividade. A meta de maximizar a eficiênciaa curto prazo buscada por Taylor não levava em consideração qual- quer preocupação com as implicações negativas impostas aos trabalhadores, executando tarefas simplificadas e repetitivas. Os princípios da administração científica criados por Taylor foram levados para a organi- zação dos trabalhadores na linha de montagem e ficou conhecida como modelo Taylor-fordista. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 250), esses princípios são os seguintes: • Princípio do planejamento. • Princípio da preparação dos trabalhadores. • Princípio do controle. • Princípio da execução. Os preceitos da administração científica foram sendo aperfeiçoados e colocados em prática ao longo do século XX e, ainda hoje, são pratica- dos em vários contextos. O modelo de Taylor inaugurou os estudos organizacionais, conheci- dos, inicialmente, como Psicologia Industrial. Hugo Musterberg é considerado o fundador da Psicologia Industrial com a publicação, em 1913, do livro Psychology and industrial efficiency, fortemente influenciado pelas ideias de Taylor. Crítica ao Modelo de Taylor Você pode verificar pelo exposto sobre o modelo de Taylor que a preocupação com o bem-estar do trabalhador era algo absolutamente secundário. Essa, provavelmente, seja a principal crítica a esse sistema de trabalho. Embora Bergamini (2011) atribua à administração científica o mérito de aten- der a algumas necessidades básicas do ser humano no trabalho, como prover maior conforto físico na organização do ambiente de trabalho e maior segu- rança pelo pagamento por peça, a autora considera que Taylor, com seus princípios genéricos para a organização do trabalho, não levou em conta um aspecto primordial da conduta humana que reside nas diferenças individuais entre as pessoas. 32 Introdução ao Campo do Comportamento Organizacional Para Bergamini (2011, p. 105), as pessoas apre- sentam diferenças individuais de desempenho em seu trabalho por dois motivos principais: 1. Porque nasceram diferentes umas das ou- tras, seu DNA já contém uma programação que as caracteriza. 2. Porque passaram por experiências de vida diferentes na infância, adolescência e fase adulta e foram submetidas a variáveis que as influenciaram de maneira ímpar. O reconhecimento da importância desses dois as- pectos citados pela autora e a preocupação com o indivíduo no trabalho, de uma forma geral, começou a surgir a partir da Escola das Relações Humanas. A Escola das Relações Humanas: Uma Visão Humanizada do Trabalho e dos Trabalhadores Ao mesmo tempo em que se disseminavam e de- senvolviam as ideias e princípios da administração científica, na década de 30, iniciou-se o movimento denominado Escola das Relações Humanas a partir do trabalho do psicólogo e sociólogo australiano George Elton Mayo (1880-1949). Mayo realizou uma extensa pesquisa entre 1927 e 1932 em uma das fábricas da Western Eletric Com- pany, em Hawthorne, Chicago, Estados Unidos. As conclusões do pesquisador e sua equipe possibilita- ram uma nova visão do indivíduo no trabalho, agora visto não mais como uma peça da engrenagem, mas como um recurso humano. Embora ainda não fosse o bastante, já significava um avanço no sentido de valori- zar e estudar sistematicamente o comportamento dos trabalhadores (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Um dos experimentos realizados é citado por Vecchio (2008) como de interesse particular. Nele, os pesquisadores pretendiam testar os efeitos de al- gumas alterações no contexto de trabalho e sua re- lação com a produtividade. Os procedimentos eram realizados em uma sala separada, fora do ambiente habitual de trabalho das mulheres. As alterações constavam de: introdução de períodos de descanso, um lanche gratuito no meio da manhã, semana de trabalho de cinco dias, entre outras. Em vez de cons- tatarem o aumento ou redução de produtividade com a introdução ou retirada de algumas condições, os pesquisadores verificaram que a produtividade aumentava gradativamente ao longo do estudo, in- dependentemente da variável introduzida. As faltas ao trabalho das mulheres se reduziram enquanto participavam do experimento. Tais resultados levaram Mayo (VECCHIO, 2008) e sua equipe a teorizar que a atenção e reconhecimen- to recebido pelas mulheres por parte dos pesquisado- res geravam os resultados favoráveis no aumento da produção e isso pelo fato das mulheres ficarem satis- feitas com o tratamento cordial recebido em compa- ração com o tratamento dispensado aos empregados naquela época. Verificou-se, assim, que a alteração de aspectos sociais e psicológicos resultaram em melhor desempenho, em grande parte, pelo fato das funcionárias estarem sendo observadas, fenômeno que foi denominado de efeito Hawthorne. A partir das ideias de Mayo, vêm sendo reali- zadas pesquisas para estudar a vinculação entre a satisfação do trabalhador com o seu desempenho, algumas trazem resultados que não comprovam tão diretamente as conclusões de Mayo (VECCHIO, 2008), mas grande parte delas indicam que as em- presas podem reduzir custos com a força de trabalho e aumentar os lucros “se mantiverem os trabalha- dores satisfeitos e, consequentemente, produtivos, estáveis na organização e assíduos no trabalho” (SI- QUEIRA; GOMIDE JÚNIOR, 2014, p. 318). O fato é que, a partir das ideias da Escola das Re- lações Humanas, o tema do bem-estar e satisfação dos trabalhadores passou a ser considerado como relevante nas Ciências Humanas e na Administração. 34 Introdução ao Campo do Comportamento Organizacional As inúmeras áreas científicas que estudam o mundo do trabalho em diferentes teorias e ver- tentes de pensamento concordam com a concep- ção de que a humanidade surgiu com o trabalho. As Ciências Humanas concluem que, com o tra- balho e a consciência de que pode transformar a natureza para atender às próprias necessidades, a humanidade vai criando e aperfeiçoando no- vos instrumentos, o que evoluiu desde o lascar uma pedra para fazer um objeto cortante até os avançados instrumentos que a tecnologia permite desenvolver, chegando à micro e nanoeletrônica. A Socialização e as Relações do Indivíduo com o Trabalho Na perspectiva de Kanaane (2006) o processo de socialização por que passa cada indivíduo tende a direcionar sua vontade e seus valores, pela incor- poração de normas e valores vigentes no grupo da família e da sociedade. Para o autor, essas normas e valores não são incorporados na sua totalidade, mas são formadoras do caráter do indivíduo e in- fluenciarão diretamente o modo como este se re- lacionará no ambiente de trabalho com os colegas, chefes e subordinados e com o seu trabalho em si. Para Kanaane (2006, p. 55) “ [...] as relações estabelecidas no ambiente de trabalho tendem a estar associadas à ex- periência de vida; isto nos leva a crer que a conduta é caracterizada por um conjunto de condicionamentos e aprendizados que afetam sistematicamente as interações so- ciais e profissionais, mantidas no ambiente de trabalho. É possível considerar por esse pensamento do autor que as condutas humanas são reflexos de suas interações familiares e demais experiências sociais, projetando, ainda, expectativas e valores advindos da classe social a que pertence cada indi- víduo. Assim, desde o operário de chão de fábrica, funcionários administrativos, supervisores, gerên- cias, até os diretores de empresa, evidenciam-se, em seus comportamentos e atitudes, as caracterís- ticas específicas de suas diferentes classes sociais e diferentes categorias profissionais. Em cada uma das categorias, há uma consciên- cia distinta sobre o valor e o significado do trabalho na sua vida, em parte porque algumas possuem um poder de manobra maior em sua interação com as pessoas e a organização, com status e poder reconhecidos. Ainda do ponto de vista psicológico, Kanaane (2006) afirmaque a percepção do pro- fissional sobre o seu trabalho e o seu lugar nesse contexto dependerá das condições existentes no ambiente organizacional, conforme visto como facilitadora ou não do alcance de seus objetivos. Pela perspectiva sociológica Kanaane (2006), o trabalho é um elemento chave na formação de co- letividades humanas, sendo um fator fundamental na estratificação social e na mobilidade social. As abordagens sociológicas e psicológicas as- sinalam a interdependência de fatores intrínsecos e extrínsecos ao trabalhador, sendo necessário analisar esses aspectos para a compreensão dos processos sociointerativos no mundo do trabalho. Lugar e Papel do Trabalhador: Perspectiva Atual Algumas mudanças têm vindo a ocorrer no mundo do trabalho e têm alterado a consciência do lugar e papel que cada trabalhador ocupa no mundo do trabalho, assim como vêm se alterando os sentidos e significados do trabalho em si. Podem ser citados entre os principais aspectos que vêm ocasionando mudanças significativas no contexto laboral, algu- mas das assinaladas por Pontes (2014, p. 19): 35UNIDADE 1 • Os avanços tecnológicos, que ocorrem de forma cada vez mais veloz, exigindo das empresas uma evolução constante, logo, exigindo das pessoas uma flexibilidade e capacitação constante de forma nunca antes vista. • O fenômeno da globalização, em que o mercado impõe uma concorrência não mais local, regional ou nacional, mas a nível mundial, exigindo que os profissionais transformem-se nos “talentos”, essenciais para a sobrevivência das empresas. • A disseminação da visão holística, ou seja, a verificação do todo. As organizações buscam profissionais que tenham uma atuação global e não reducionista, profissionais que entendam do negócio, dos processos de trabalho e de estratégias organizacionais, independentemente da área de atuação. • A busca pela satisfação no trabalho. É uma mudança de perspectiva por parte do próprio trabalhador e do senti- do de seu trabalho. Esse fator faz com que o trabalhador encare o seu trabalho não apenas como meio de subsis- tência, mas como espaço para sua satisfação pessoal e profissional. No atual contexto socioeconômico, podemos verifi- car que as demandas surgidas com a globalização têm levado as organizações a fazerem ajustes e realinhamentos no seu quadro de pessoal, exigindo dos trabalhadores flexibilidade para a realização de diferentes tarefas. Em con- sequência, a segurança que algumas categorias profissionais mais qua- lificadas tinham anteriormente vem sendo substituída por uma fragilidade que as obriga a uma preocu- pação constante com a aquisição de novos co- nhecimentos, revisão de posturas e comportamentos que sejam mais compatíveis com as demandas organizacionais impostas pelo mercado e pelos seus próprios anseios enquanto profissional. 40 Introdução ao Campo do Comportamento Organizacional Inúmeros outros desafios e oportunidades se apresentam no contexto organizacional e não se- ria possível esgotá-los aqui. Eles são tantos e tão complexos quanto a diversidade humana. Com certeza, ao ler o que foi exposto, você conseguiu identificar vários desses desafios e oportunidades como similares a outros que já tenha vivenciado no seu local de trabalho. Esperamos que tenham contribuído para uma leitura contextualizada das unidades que serão apresentadas a seguir. Caro(a) aluno(a), ao final desta primeira uni- dade, esperamos ter alcançado o objetivo de co- locá-lo em contato com o campo da Psicologia de forma clara e objetiva. Talvez, para você, esta tenha sido a primeira vez que realizou alguma leitura sistemática sobre o tema e deve ter percebido que essa ciência ainda é recente e que já possui um grande espaço de reconhecimento social. Nesta primeira unidade, seguimos a lógica de procurar fazer não apenas uma contextualização histórica da Psicologia e suas subáreas, mas também propiciar o conheci- mento sobre a evolução do pensamento sobre as relações de trabalho, a busca da eficácia pelas or- ganizações, refletida em lucro e alta produtividade e o lugar do ser humano no mundo do trabalho. É possível verificar que, após a Revolução Industrial, houve a preocupação crescente com o aumento da produtividade, dando-se pouca importância às necessidades humanas de quem realizava essa produção. A Administração Cien- tífica de F. Taylor é um exemplo de teoria que colocou a produtividade em primeiro lugar, até por considerar que o sentido do trabalho para o ser humano era simplesmente suprir suas neces- sidades de sobrevivência, em uma visão a nosso ver reducionista de que os ser humano trabalha, apenas, pelo salário. Os estudos da Psicologia Or- ganizacional, muito influenciados pela Escola das Relações Humanas, colocam as necessidades das pessoas como primordiais, respeitando suas tão complexas atitudes, comportamentos, sentimen- tos, desejos e aspirações. Os desafios e oportunidades que se apresentam ao gestor e que foram apontados no último tópico da unidade procuraram fazer uma leitura bastan- te atualizada do nosso contexto e esperamos que tenha levado você a questionamentos e reflexões sobre a complexidade de se lidar com pessoas. Es- peramos, nas próximas unidades, apresentar mo- delos e teorias úteis e eficazes para a sua formação e futura (ou atual) prática profissional. 44 BANOV, M. R. Psicologia no gerenciamento de pessoas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. BERGAMINI, C. W. Psicologia Aplicada à Administração de Empresas. Psicologia do comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011. BOCK, A. M.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias. Uma introdução ao estudo de Psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. FELDMAN, R. S. Introdução à psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. FIORELLI, J. O. Psicologia para administradores. Integrando teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006. KANAANE, R. Comportamento Humano nas organizações: o homem rumo ao século XXI. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2006. McSHANE, S. L.; VON GLINOW, M. A. Comportamento organizacional. Porto Alegre: AMGH, 2013. PONTES, B. R. Planejamento, recrutamento e seleção de pessoal. 7. ed. São Paulo: LTr, 2014. ROBBINS, S. P. Fundamentos do Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. ROBBINS, S. P.; JUDGE, T. A.; SOBRAL, F. Comportamento Organizacional. Teoria e prática no contexto brasileiro. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. SIQUEIRA, M. M. M.; GOMIDE JÚNIOR, S. Vínculo do Indivíduo com o trabalho e com a organização. In: ZANELLI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J. E.; BASTOS, A. V. B. Psicologia Organizações e Trabalho no Brasil. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. VECCHIO, R. P. Comportamento organizacional: conceitos básicos. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. WAGNER III, J. A.; HOLLENBECK, J. R; SILVA, R. O. Comportamento organizacional: criando vantagem competitiva. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. REFERÊNCIA ON-LINE 1Em: <https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2015/10/29/taxa-de-desemprego-no-brasil-atinge-87-no- -tri-ate-agosto-e-renova-maxima-pela-4-vez.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. 45 Gabarito da Atividade – Afirmações sobre o comportamento humano 1.V - 2.V - 3.F - 4.F - 5.F - 6.F - 7.F - 8.F - 9.F - 10.V - 11.F - 12.F - 13.V - 14.F - 15.F - 16.F - 17.F - 18.V - 19.V - 20.F Gabarito das atividades de Estudo 1. Significa dizer que ela estuda os comportamentos observáveis das pessoas, isto é, o que as pessoas fazem. Também estuda os processos mentais, ou seja, que não podem ser diretamente observados, como os pensamentos, os sentimentos, a memória, entre outros. 2. Uma das definições de CO é apresentada por Wagner III, Hollenbeck e Silva (2012, p. 5): “o Comportamento Organizacional (CO) é um campo de estudo voltado a prever, explicar, entender e modificar o comporta- mento humano no contextodas empresas”. Os conhecimentos produzidos nesse campo são importantes para o administrador, porque lidar com pessoas é parte integrante do seu trabalho e quanto mais ele tiver conhecimentos sobre o comportamento humano, sobre o que pensam e sentem as pessoas, terá melhores condições de enfrentar os desafios surgidos no contexto do trabalho. 3. As áreas de estudo do CO são: Comportamento micro-organizacional, que estuda o indivíduo ao trabalhar sozinho e temas, como a pro- dutividade do trabalhador, motivação, percepção e diferenças individuais. Comportamento meso-organizacional, que estuda o comportamento das pessoas ao trabalharem em grupos e equipes e estuda temas, como a socialização, a liderança e a dinâmica de grupo. Comportamento macro-organizacional, que estuda os comportamentos de empresas inteiras e estuda temas, tais como status sociais, poder, conflito, negociação, influência cultural, competição e eficiência. 4. No modelo da Administração Científica, o ser humano é visto de forma mecanizada, como uma peça da engrenagem no processo de produção. No modelo da Escola das Relações Humanas, ele é visto de forma mais humanizada, tendo considerado como importante os seus aspectos psicológicos e sociais. 5. Dizer que os conceitos refletem situações contingenciais e situacionais significa dizer que eles são úteis para compreender as pessoas e seus comportamentos e devem ser utilizados pelos gestores adaptando-se às particularidades das pessoas e das situações. Não há receitas prontas para resolver os problemas humanos. 46 49UNIDADE 2 mais credibilidade para a compreensão dos com- portamentos humanos, especialmente quando defende que nosso sucesso pessoal e profissional está mais relacionado às capacidades emocionais do que às cognitivas. Por fim, apresentaremos algumas teorias mo- tivacionais, indo das mais tradicionais, como a hierarquia das necessidades de Maslow e a teoria dos dois fatores de Herzberg até outras mais con- temporâneas, como a teoria da equidade e a teoria das expectativas de Adams. É bastante clara para nós a importância dos temas tratados para quem vai lidar com pessoas em sua vida profissional, o caminho é repleto de desafios. Esperamos que as teorias aqui reunidas possam ajudá-lo(a) neste caminho. Na convivência diária com nossos semelhan- tes, percebemos diferenças comportamentais mar- cantes, e no ambiente de trabalho não é diferente: mesmo em face das mesmas condições, alguns tra- balham com empenho e dedicação e outros se aco- modam, alguns falam muito nas reuniões e outros se mantêm calados, alguns estão sempre sorrindo e outros mantêm uma atitude séria na maior parte do tempo, alguns falam muito de seus sentimentos e outros jamais tocam em qualquer assunto pessoal, e são infinitas as diferenças que podem se apresentar entre o comportamento de uma pessoa e outra. É inegável que, como seres humanos, procura- mos interpretar e dar sentido ao mundo ao nosso redor, com uma constante busca por compreender o comportamento das pessoas e a nossa própria maneira de agir. O que somos? O que desejamos? Por que agimos desta ou daquela maneira? São per- guntas que se reportam diretamente às preocupa- ções da Psicologia e que colocam os estudos sobre a personalidade como cruciais quando se pretende compreender o comportamento das pessoas. Dizer que uma pessoa tem a personalidade “forte” ou que “não tem personalidade” são expres- sões bastante correntes no cotidiano, porém, fazem parte do senso comum e vão contra as definições científicas do termo que, como veremos, procuram explicar a causalidade, ou seja, “porquê” as pessoas são como são e ainda explicar “como” elas se dife- renciam das outras (BERGAMINI, 2008). Para exemplificar, pode-se afirmar “como” a pessoa é: calada, não expressa opiniões, não en- tra em conflitos etc., explicando o “porquê” ela é assim: foi reprimidas pelos pais e professores em suas manifestações quando era criança. Claro que esse é apenas um exemplo simples e reduzido, mas indica as direções e o que se procura determinar em geral com os estudos sobre a personalidade. Existem dezenas de definições de personalidade dadas por inúmeros autores, e elas nem sempre são concordantes. Várias abordagens psicológicas têm teorizado sobre a personalidade. Ressaltemos duas definições: para McShane e Von Glinow (2013, p. 28) falar em personalidade implica falar “no pacote de características que nos fazem similares ou diferentes das outras pessoas”. Isto significa que, ao estudar a personalidade, procura-se uma forma de compreen- der e unificar algo que expresse a individualidade de cada um, somos um pacote de características. Vecchio (2008, p. 26), nos apresenta uma de- finição esclarecedora, que coincide com a de di- versos outros autores: “ Personalidade pode ser definida como tra- ços e características individuais de longa duração, formadores de um padrão que distingue uma pessoa de todas as demais. Com certeza é o que procuramos: padrões que possam nos dar caminhos para reconhecer os es- tilos de comportamento das pessoas e compreen- dê-los. A definição também nos dá a noção de que os traços de personalidade são relativamente duráveis a longo prazo, que as pessoas não são imutáveis, mas que o ritmo de mudança normal- mente é muito gradual. 50 Comportamento, Personalidade e Processos Individuais Fatores Determinantes da Personalidade: Genética e Socialização Desde os filósofos da antiguidade, há a discussão sobre até que ponto os atributos humanos, como a inteligência e a agressividade, são herdados gene- ticamente ou adquiridos com a experiência. Esse debate gerou duas correntes distintas de pensa- mento, o Nativismo e o Empirismo. Os Nativistas ressaltam a ideia de que os atribu- tos humanos têm suas bases na herança biológica, podendo-se, por exemplo, falar em natureza hu- mana boa ou má. Os empiristas defendem que as pessoas são como são em decorrência da sua expe- riência. Na atualidade, não se pode dizer que alguém defenda, totalmente, apenas uma das duas correntes de pensamento em psicologia. O que se verifica é a importância que se dá mais para um aspecto do que para outro, em termos da determinação do comportamento e da personalidade das pessoas. Já foram realizados muitos estudos sobre a in- fluência dos genes que herdamos dos nossos pais na determinação do que somos. Alguns destes estudos feitos com gêmeos idênticos, separados ao nascer, verificaram que as semelhanças entre eles são ine- gáveis e sugerem que até 50%, na variação no com- portamento, e 30%, na variação do temperamento, podem ser atribuídas às características genéticas de uma pessoa. Não apenas nossas características físicas, mas nossas atitudes e comportamentos são afetados de forma significativa pelo nosso código genético (McSHANE; VON GLINOW, 2013). Mesmo com a verificação da forte influência da genética em nossa personalidade seria, no mínimo, ingênuo desconsiderar o forte papel da educação e da socialização, ou seja, da experiência vivida e outras formas de interação com o ambiente na formação da nossa personalidade. McShane e Von Glinow (2013) referem-se a estudos que indicam que a estabilidade da personalidade de uma pessoa é alcançada até os 30 anos de idade ou mesmo até os 50 anos, com a formação ao longo do tempo de autoconceitos mais estabelecidos e rígidos, tornan- do a personalidade mais estável e coerente. Tipologias de Personalidade Existe um grande número de características de personalidade que podem ser observadas na maneira de ser das pessoas, em seus hábitos mo- tores, motivações psíquicas e tipos de relações interpessoais que desenvolvem. Há traços espe- cíficos, como introversão e extroversão, amabili- dade, persistência, entre tantos outros. Segundo Vecchio (2008), estima-se que existam cerca de cinco mil adjetivospara descrever os traços de personalidade. A partir de diferentes teorias psi- cológicas, foram criados modelos de tipologia de personalidade, dos quais destacaremos dois dos mais reconhecidos no mundo: modelo dos cinco fatores (“Big Five”) e o Indicador de tipos de per- sonalidade de Myers-Briggs. Modelo dos Cinco Fatores da Personalidade (Big Five) O modelo dos cinco fatores da personalidade vem sendo um instrumento bastante utilizado no meio corporativo e tem sido validado por diferentes estudiosos, por analisar traços relevantes para o comportamento organizacional. Esse instrumento para mensuração da personalidade procura captar como as pessoas são de uma forma abrangente, ou seja, em termos da sua reputação social, em como ela é vista socialmente pelas outras pessoas. O caráter de mensurar os traços da persona- lidade a partir do modo como a pessoa interage com o meio torna o modelo dos cinco fatores mui- to relevante para a compreensão do comporta- 52 Comportamento, Personalidade e Processos Individuais No Quadro 1, apresentamos alguns exemplos de como os traços de personalidade indicados no “Big Five” influenciam no comportamento organizacional (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010, p. 132) . Quadro 1 – Influência dos traços de personalidade do Big Five no comportamento organizacional Traço do modelo Big Five Porque é importante? O que afeta? Extroversão Melhores habilidades interpessoais Maior dominância social Mais expressão emocional Desempenho melhor* Liderança aumentada Maior satisfação na vida e no tra- balho Amabilidade Mais ‘amado’ Menos contestador e mais confor- mado Melhor desempenho* Níveis menores de desvio de com- portamento no trabalho Conscienciosidade Maior esforço e persistência Mais energia e disciplina Mais organizado e planejador Melhor desempenho Liderança aumentada Maior longevidade Estabilidade emocional Menos pensamentos e emoções negativas Menor hipervigilância Maior satisfação pessoal e no tra- balho Menores níveis de estresse Abertura para experiências Aumento do nível de aprendizagem Mais criatividade Maior flexibilidade e autonomia Desempenho no treinamento Liderança aumentada Mais adaptável a mudanças Fonte: Robbins, Judge e Sobral (2010). Os estudiosos ressaltam que essas dimensões de personalidade são interdependentes entre si e sempre são necessárias análises aprofundadas para compreender as associações entre perso- nalidade e vários comportamentos e resultados profissionais. Embora vários estudos indiquem que a conscienciosidade e a estabilidade emo- cional são os traços que melhor prevêem o de- sempenho individual em quase todos os grupos de trabalho (McSHANE; VON GLINOW, 2013), outros traços de personalidade estão ligados a re- sultados de desempenho em algumas situações. Avalia-se que todas as dimensões possuem dife- rentes implicações para o trabalho e para a vida. 53UNIDADE 2 Indicador tipológico de Myers Briggs No mundo corporativo, tem se tornado cada vez mais comum utilizar os testes de personalidade para o mapeamento de perfis com a intenção de programar recrutamento e seleção de pessoal e treinamento de colaboradores. Uma das ferramentas mais utilizadas tem sido o Indicador de tipos de personalidade Myers-Briggs (MTBI). Vários autores, e o próprio manual do teste, desencorajam o seu uso para construir prognóstico de desempenho e sucesso profissional, indicando que pode ser muito útil para autoconhecimento e consequente busca por mudança em fatores desfavoráveis para a pessoa em suas interações sociais. cientes, são mais criativas e têm uma visão ampliada das situações. • T ou F – Racionais ou Emocionais: pes- soas racionais usam a lógica e o raciocício para lidar com problemas, tomando deci- sões objetivas. As emocionais tomam as decisões baseadas em valores pessoais e sentimentos acerca do assunto. • J ou P – Julgadoras ou Perceptivas: pes- soas julgadoras gostam de ter controle e querem ter seu mundo estruturado e or- ganizado. As perceptivas são flexíveis e es- pontâneas e tendem a sentirem-se ansiosas e inseguras ao tomar decisões. O MTBI é um dos testes mais comumente uti- lizados, nas mais diversas instituições, para me- dir a personalidade. Apesar desse amplo uso do MTBI, McShane e Von Glinow (2013) afirmam que seus resultados parecem muito adequados para aumentar a autoconsciência para o desen- volvimento de carreira e a compreensão mútua entre as pessoas, porém parece não ser adequado para prever o desempenho profissional, sendo, por isso, contraindicado para servir de base na seleção de pessoal ou promoção de funcionários. Baseado na proposta da tipologia de personali- dade do psicólogo e psiquiatra suíço Carl Jung, as estudiosas Katharine Cook Briggs e Isabel Briggs Myers desenvolveram o teste psicológico que le- vou seus nomes: indicador de tipos de personali- dade Myers-Briggs – MTBI, em sua sigla inglesa. O MTBI traz questões que avaliam o que as pessoas sentem ou como agem em diversas situa- ções. Os resultados classificam as pessoas como E ou I – extrovertidas ou introvertidas; S ou N – sensoriais ou intuitivas; T ou F – racionais ou emocionais; J ou P – julgadoras ou perceptivas (siglas em inglês). Perceba que essa classificação em muito se assemelha às descritas pelo “Big Five”, que vimos anteriormente, porém há algumas par- ticularidades. Vejamos, segundo Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 129), a especificação e a descrição das personalidades segundo essa classificação: • E ou I - Extrovertidas ou Introvertidas: pessoas extrovertidas são expansivas, so- ciáveis e assertivas. As introvertidas são quietas e tímidas. • S ou N - Sensoriais ou Intuitivas: pes- soas sensoriais são pragmáticas e preferem ordem e rotina. Elas focam os detalhes. As intuitivas confiam em processos incons- 54 Comportamento, Personalidade e Processos Individuais Considerações Sobre o Uso dos Testes de Personalidade nas Organizações indicando traços de personalidade que acreditem que a empresa valorize (McSHA- NE ; VON GLINOW, 2013). • Os traços de personalidade nem sempre são preditores adequados de desempenho profis- sional (McSHANE ; VON GLINOW, 2013). • Em relação especificamente ao MTBI (My- ers-Briggs), a crítica é de que esse teste força as pessoas a se classificarem como uma coi- sa ou outra (você é introvertido ou extro- vertido), sem uma condição intermediária (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). • Os resultados são interessantes para auto-a- valiação e autoconhecimento, não podendo ser preditores de desempenho profissional futuro (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010). Como você pode verificar pelo exposto, caro(a) aluno(a), são inúmeros, e importantes, os estudos sobre a personalidade e a sua mensuração. Vimos que os testes procuram traçar o perfil das pessoas por meio das respostas que elas dão a diversas questões, porém vimos que deve haver muito cuidado quanto à utilização dos seus resultados. O ser humano apresenta imensa complexidade e é importante verificar, nos processos de análi- se realizados nas empresas, como determinado traço de personalidade irá interagir com outros traços e em situações específicas, dentro ou fora das organizações de trabalho, levando a pessoa a se comportar desta ou daquela maneira. É muito provável que a sua curiosidade tenha le- vado você a responder a testes de personalidade que circulam nas redes sociais e na internet de forma geral. Tenha cuidado para não dar impor- tância a seus resultados, pois a maioria deles é fruto de elaborações pouco sérias e sem qualquer rigor científico. É importante ressaltar que os tes- tes científicos nesta área, pelo menos no Brasil, só podem ser adquiridos e aplicados por psicó- logos. Esses testes só poderão ser utilizados pelas organizações quando houver esses profissionais na equipe de RH ou quando forem contratadas consultoriasespecializadas em que haja psicólo- gos para prestação desse serviço. Atualmente, devido ao reconhecimento da im- portância do fator humano, para o sucesso das organizações, conforme já discutimos na Unida- de 1, a personalidade das pessoas tem sido mais valorizada, pois elas são encaradas como fator de competitividade por serem responsáveis pela qualidade de produtos e serviços. Assim sendo, o resultado dos testes são vistos como a possibilida- de de compreender, prever e mudar os comporta- mentos nos contextos organizacionais. Na verdade, alguns autores defendem que as expectativas sobre o uso dos testes talvez sejam exageradas. Vejamos algumas das principais res- salvas indicadas pelos autores: • A maioria dos testes são escalas de autoin- formação, permitindo aos candidatos ou funcionários direcionarem suas respostas, 56 Comportamento, Personalidade e Processos Individuais Sensação: O que Captam os Nossos Sentidos Quatro ilusões perceptivas comuns A. Há dois ou três dentes neste objeto? C. As quatro linhas do quadrado interior são linhas retas? B. Ignorando as setas, qual é a linha vertical mais comprida? D. Qual círculo pontilhado é maior? lhadas Júnior (2004 apud BANOV, 2011, p. 57) para que você possa entender a importância dos nossos sentidos no processo de percepção. Sensação é a operação responsável pela comu- nicação entre o mundo interno do indivíduo e o mundo externo, por meio dos órgãos dos sentidos. Sem ela, nenhuma atividade –física ou mental – seria possível. Vale ressaltar que o processamento das infor- mações que chegam ao cérebro é repleto de falhas e distorções. A simples observação de figuras e objetos demonstram isso. Analise a Figura 1. Figura 1 – Quatro ilusões perceptivas comuns Fonte: Wagner III, Hollenbeck e Silva (2012). Todo nosso contato com o mundo externo acontece por meio dos nossos sentidos. A visão, a audição, o olfato, o tato e o paladar coletam os dados do am- biente, nosso cérebro irá processar essas informa- ções e dará um significado a elas. A esse significado é que se denomina percepção. Dizendo de outra ma- neira, o nosso cérebro recebe os dados por meio das sensações, realiza o processamento e os interpreta. Podemos afirmar, conforme Banov (2011, p. 57), que “perceber é dar significado às sensações, é a capacidade de interpretar o mundo externo”. Vejamos uma definição da sensação dada por Ma- 59UNIDADE 2 Comunicações não Verbais e a Percepção das Pessoas Você deve se lembrar que desde muito cedo foi aprendendo a interpretar e entender as pessoas, identificando seus estados emocionais a partir de seu olhar, seus gestos e expressões faciais, o que deve ter livrado você de algumas situações “peri- gosas” desde criança. Com certeza sabe identificar quando pode ou não tocar em certos assuntos com seus pais, irmãos e pessoas próximas pela observação de elementos não verbais, percebendo se estão bravos, calmos, impacientes, e assim por diante. Esses são conhecimentos adquiridos no cotidiano do senso comum. Contudo, as ciências humanas, especialmente a psicologia, têm se preocupado em estudar de forma rigorosa esses aspectos. Vecchio (2008) analisou estudos realizados por diversos autores, desde Charles Darwin, que trazem algumas conclusões importantes sobre as expressões faciais e outras formas de comunicação não verbal, que apresentamos: Expressões faciais Diversas expressões faciais são conhecidas univer- salmente e estudos em várias culturas já compro- varam tal fato: sorrir e franzir sobrancelhas, por exemplo, têm o mesmo significado em qualquer cultura. Em laboratório é mais fácil interpretar expressões, pois as pessoas têm a probabilidade de serem mais honestas na expressão das emoções. Na vida real, no entanto, todos nós nos deparamos com situações difíceis de avaliar: um vendedor de carro ou político (ou quaisquer outras pes- soas!) em geral desenvolveram certas habilidades, podendo ser mestres em iludir, em ocultar seus sentimentos e falsear suas expressões faciais. Os comportamentos de falsear ou esconder as emoções não são infalíveis e há pesquisas que descobriram que alguns aspectos podem ser indi- cativos da sinceridade ou não de certas emoções: a. O tempo de reação entre a ocorrência de um evento e a expressão facial dada em resposta. b. Diferentes aspectos, como expressão das sobrancelhas, discordando da expressão da boca numa situação de surpresa. c. Microexpressões que aparecem em fra- ções de segundos e que transmitem emo- ções genuínas e que são rapidamente substituídas por expressões que a pessoa quer falsear. Os estudos mostram que o controle facial não é imediato ao evento, e um bom observador poderá interpretar adequadamente certas expressões. Outras comunicações não verbais Entre muitas outras vivências no nosso cotidia- no, as entrevistas de emprego são um exemplo de momentos em que as pessoas tentam controlar a impressão que passam para os demais. Vecchio (2008) menciona um experimento em que os candidatos eram preparados a terem certos comportamentos considerados mais ou menos adequados para serem avaliados, sem que os en- trevistadores soubessem. Os resultados foram cla- ros em mostrar que os candidatos que mantinham contato visual com o entrevistador, sentavam-se corretamente, sorriam e se inclinavam em direção ao entrevistador foram positivamente avaliados, enquanto que os que se recostavam na poltrona, afastando-se, mantinham pouco contato visual e não sorriam foram mal avaliados. 63UNIDADE 2 Habilidades Intelectuais As habilidades intelectuais incluem a capacidade de pensar, raciocinar e resolver problemas, o que se conhece mais popularmente como inteligên- cia. De forma simplificada, podemos dizer que a inteligência “seja uma função psíquica responsável pelo conhecimento” (BERGAMINI, 2008, p. 114). É comum chamarmos de inteligente uma pessoa que, de forma geral, tem facilidade para a resolução de problemas. Segundo Wagner III, Hollenbeck e Silva (2012) o termo inteligência pode ser também denominado de aptidão cog- nitiva geral para diferenciar uma compreensão leiga e popular que se tem de inteligência. A inteligência é denominada por alguns autores como habilidades intelectuais, e por outros como aptidão cognitiva geral, mas de qualquer forma há consenso no reconhecimento de que ela possui dimensões diferentes, como: aptidão numérica, compreensão verbal, rapidez perceptual, raciocínio indutivo, raciocínio dedutivo, visualização espacial e memória (ROBBINS, JUDGE; SOBRAL, 2010). Quanto mais a pessoa conseguir utilizar as suas funções psíquicas para adaptar-se a novas circuns- tâncias e encontrar soluções inéditas para novos problemas, mais complexas serão as atividades que ela poderá desenvolver no seu trabalho. O uso de testes psicológicos, que se desenvol- veram especialmente a partir do início do século XX, foi estabelecendo medidas de QI – Quociente Intelectual – indicando quocientes de inteligência em que as pessoas são classificadas. Bergamini (2008) afirma que a partir da utilização dos testes, fez-se projeções que consideram que a população se distribua em: 50% de pessoas com nível mental normal; 20% abaixo e 20% acima do normal; 5% muito abaixo ou muito acima do normal. Robbins, Judge e Sobral (2010) nos fornecem uma representação das sete dimensões da inteli- gência, apresentando exemplos de que tipos de funções as pessoas com alto grau dessas aptidões poderiam desempenhar com mais sucesso. Veja essas representações no Quadro 2. Quadro 2 – Dimensões da habilidade intelectual Dimensão Descrição Exemplo funcional Aptidão numérica Habilidade para fazer cálculos aritméticos rá- pidos e precisos. Contador: calcular o imposto sobre ven- das de vários itens. Compreen- são verbal Habilidade para entender o que é lido ou ou-
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