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0 ASSOCIAÇÃO VITORIANA DE ENSINO SUPERIOR - FAVI ELIANE C. CAVALCANTE IVANI A. OLIVEIRA SOLANGE COSTA SUZANA M. C. OHLSEN THÁBATA M. LEAL ALVES A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS VITÓRIA 2020 1 ELIANE CORNÉLIA CAVALCANTE IVANI A. OLIVEIRA SOLANGE COSTA SUZANA M. C. OHLSEN THÁBATA M. LEAL ALVES A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS Trabalho acadêmico apresentado à Disciplina de História da Psicologia do curso de Graduação em Psicologia da Associação Vitoriana de Ensino Superior - FAVI como requisito parcial da primeira avaliação. Prof.ª Dra. Adriana Macedo. VITÓRIA- ES 2020/1 2 INTRODUÇÃO E VISÃO HISTÓRICA MUNDIAL É preciso iniciar o assunto partindo de um conceito de política pública, mas de acordo com o especialista em Avaliação de Políticas Públicas, Flávio Roberto de Almeida Heringer, existem vários conceitos, o que dificulta definirmos no Brasil o que seria política pública. Aparentemente, pelo fato do Poder Executivo Federal não ter até aquele momento uma definição do que seria uma política pública, ocorre uma desorganização que impede que o Poder Legislativo avalie e a sociedade acompanhe quanto está sendo investido, quais são os objetivos a serem alcançados e os impactos na comunidade. Em que pese tal dificuldade, podemos considerar política pública como programas de governo necessários ao bem estar da população, muitas vezes com garantias constitucionais como acontece no artigo 216-A, que trata da Cultura e 227, que integra o título DA ORDEM SOCIAL, que dedica o capítulo VII à assistência da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso (§6º, II). O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro – CRP/RJ, em seu periódico chamado JORNAL DO CRP, ano 7, nº27, MARÇO/ABRIL 2010, abordou o assunto de vários aspectos, iniciando pela diferenciação entre Política Estatal e Política Pública. Política Estatal seria “aquela criada, sustentada, mantida, subvencionada (no todo ou em parte) e desenvolvida pelo Estado, pelos poderes públicos em suas diversas instâncias (federal, estadual, municipal) ou natureza (poderes executivos, legislativos e judiciários) – não é necessariamente política pública”. Ou seja, nem sempre a política estatal é criada para atender a demandas e anseios da população, o que caracterizaria uma política pública. As políticas públicas têm relação direta com o surgimento dos direitos humanos no pós 2ª Guerra Mundial. A humanidade passara por um dos seus piores momentos e o mundo queria se unir para que não se repetissem fatos tão horríveis. Foi criada a Organização das Nações Unidas - ONU e em 10 de dezembro de 1948 foi feita a Declaração Universal dos Direitos Humanos. No Brasil, já havia uma espécie de previdência social desde 1888 (restrita a setores estratégicos como Correios, estradas de ferro, imprensa nacional, marinha, casa da moeda e alfândega, estendendo-se para portuários, telegráficos, funcionários públicos e mineradores entre 1923 e 1934). A constituição de 1967, criada durante o regime https://www.politize.com.br/constituicao-de-1967/ https://www.politize.com.br/ditadura-militar-no-brasil/ 3 militar, coloca em seus artigos alguns direitos trabalhistas e de seguridade social, incluindo alguns que já existiam como leis durante o governo Vargas. Entre eles estão: salário mínimo, salário família, a proibição de diferenciação de salários por conta de sexo, cor e estado civil, jornada de trabalho de oito horas, férias remuneradas, entre outros. POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL Somente com a Constituição Cidadã de 1988 que se estabeleceram no Brasil os alicerces fundamentais à concretização de políticas públicas, conforme menciona o CLP no trecho que descrevemos abaixo. “A CF/88 foi promulgada por uma Assembleia Constituinte em setembro de 1988, restabelecendo a inviolabilidade dos direitos e liberdades políticas. É nela que temos garantido o direito aos serviços básicos (saúde, educação e trabalho) e as liberdades individuais, consagrando-a como um dos textos constitucionais mais completos do mundo. No que diz respeito à sua influência no modo de se elaborar e executar as políticas públicas no Brasil, a CF/88 inovou ao fomentar os processos participativos e garantir a obrigatoriedade de instrumentos e mecanismos de controle e transparência na execução do serviço público nos municípios, estados e na União. A seguir, estão as normas legais que garantem: A) participação social, B) responsabilidade fiscal e C) transparência/acesso à informação e como essas questões têm sido regulamentadas nos estados e municípios nas últimas décadas.” Como mencionado acima, desde 1988 a Constituição Federal da República adotou a participação popular na criação de políticas públicas de saúde, assistência social, educação, criança e adolescente, dentre outros, inclusive através da criação dos Conselhos de Políticas Públicas. Seria uma forma democrática de controle social. POLÍTICAS PÚBLICAS E SUA CONCRETIZAÇÃO Entende–se por políticas públicas um “conjunto de ações coletivas, voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa dar conta de determinada demanda, em diversas áreas” (GUARESCHI e outros, https://www.politize.com.br/salario-minimo-como-funciona/ https://www.politize.com.br/jornada-de-trabalho-reforma-trabalhista/ 4 2004, citado por SILVA e CORGOZINHO, 2011). Elas estão presentes em todas as áreas de gestão pública, tais como assistência social, moradia, educação, saúde, entre outras, e devem ser elaboradas mediante a participação dos seus usuários (ou seja, a população), para que estas possam atender às demandas da sociedade (CRP-RJ, 2010). Como já dito, com a Constituição de 1988, os brasileiros passaram a ter direito a diversas políticas públicas, dentre elas o direito à saúde, à previdência social e à assistência social (BRASIL, 1988). A partir da Constituição, foi criada, em 1993, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) (lei nº 8742) que regulamenta e garante a assistência social como dever do Estado e direito do cidadão, e tem por objetivo a proteção social, e defesa de direitos, de forma continuada, dos indivíduos e das famílias em situação de vulnerabilidade, oferecendo serviços e programas socioassistenciais (BRASIL, 1993). Em 2005, foi criado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), um sistema nacional, o qual promove ações de assistência social com base no território onde as pessoas vivem e leva em conta suas demandas e necessidades, buscando atender os locais mais vulneráveis (BRASIL, 2012). O SUAS, se divide em dois níveis de complexidade: a proteção social básica, que inclui os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e a proteção social especial, que pode ser de média ou alta complexidade e incluem o os Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). A proteção especial de média complexidade oferece cuidados às famílias e indivíduos que têm seus direitos violados e que não perderam o vínculo comunitário e familiar. Já a de alta complexidade garante proteção integral de moradia, alimentação, higienização e trabalho aos que necessitam sair de seu lar. (SILVA e CORGOZINHO, 2011). Neste contexto, tornou-se importante a inserção de diversos profissionais nesses programas assistenciais, tais como os psicólogos, os assistentes sociais, dentistas e outros, a fim de promover saúde e melhoria na qualidade de vida da população, desse modo, a psicologia vem se inserindo cada vez mais nas políticas públicas (ARAÚJO e SANTOS, 2013). 5 As políticas publicas, por serem muitas vezes universalistas, não consideram as diferenças culturais e a subjetividade do sujeito, em contrapartida, a psicologia lida com as diferenças dos indivíduos e possui ferramentas potenciais para enfrentar vulnerabilidades sociais, praticando a escuta, o cuidado e realizando intervenções coletivas práticas que podem promover uma “subjetividade cidadã, tornando – se assim importante nessas políticas (SILVA, CARVALHO e SANTOS, 2007). Segundo Trindade (1998), citado por Silva e Corgozinho (2011), a inserção dos psicólogos no CRAS além de contribuir para o desenvolvimento das comunidades, é também uma grande evolução na forma de atuação dos psicólogos, que antes estavam mais voltados para trabalhos clínicos e elitizados e passam a exercer um trabalho que visa mais o social e o comunitário. CREPOP Visando melhorar a atuação dos psicólogos na área social e nas políticas públicas, em 2006, por meio dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRP’s) e Conselho Federal de Psicologia (CFP), foi criado o Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Política Públicas (CREPOP) com o fim de promover qualificação técnica para os psicólogos, consolidando a produção de referências para a atuação dos mesmos através de pesquisas coordenadas nacionalmente. O objetivo geral do CREPOP é “sistematizar e difundir o conhecimento sobre a interface entre Psicologia e políticas públicas” (CREPOP 2010). Já os objetivos específicos do CREPOP são: “Promover o conhecimento sobre as práticas de profissionais psicólogos atuantes no campo das políticas públicas; A partir desse conhecimento, construir e disponibilizar referências técnicas para a atuação do psicólogo no campo das políticas públicas; Oferecer possíveis contribuições para a construção de políticas públicas humanizadas, fortalecendo a compreensão da dimensão subjetiva presente nessas políticas; Identificar oportunidades estratégicas de participação da Psicologia nas políticas públicas; Promover a interlocução da Psicologia com espaços de formulação, gestão e execução em políticas públicas.” Deste modo, o CREPOP é de extrema importância na atuação dos psicólogos nas políticas públicas, tais como as do CRAS e CREAS, pois norteia e embasa 6 como deverá ser o atendimento deste profissional aos que necessitam dos serviços prestados (CREPOP, 2010). ATUAÇÃO DOS PSICÓLOGOS NO CRAS E CREAS Os CREAS são unidades que desenvolvem estratégias de atenção sociofamiliar, e prestam serviços com o fim de reestruturar as famílias, promovendo novos padrões morais e efetivos para os grupos familiares, além de prestar acompanhamento individual, buscando a proteção dos indivíduos e a reinserção social (SILVA e CORGOZINHO, 2011). Os CREAS, por estarem incluídos na proteção social especial, são as unidades que recebem os casos mais complexos no que diz respeito à violação de direitos. Pois, a proteção social especial é destinada à pessoas que se encontram em situação de risco pessoal e social, que podem ocorrer devido a maus tratos físicos e/ou psíquicos, abandono, abuso sexual, situação de rua, exploração infantil, dentre outras (CREPOP, 2007). Já o CRAS atua num contexto mais comunitário, prestando serviços e programas socioassistenciais às famílias e ao indivíduo, buscando orientar sobre o convívio familiar e comunitário, partindo do pressuposto de que as famílias devem prover proteção e socialização a seus membros, e de que ela se torna a referência de moral, vínculos afetivos e sociais, além de influenciar a relação dos membros com a sociedade e o Estado (SILVA e CORGOZINHO, 2011). Os CRAS estão inclusos na proteção social básica, a qual visa prevenir situações de risco, através do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, e por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições. Essa proteção é destinada à pessoas em vulnerabilidade social decorrentes da pobreza, privação e ou fragilização de afetos, sejam relacionais ou de pertencimento (discriminação de raça, gênero, entre outras) (CREPOP, 2007). Desse modo, o CRAS tem o objetivo de realizar o desenvolvimento local, focando na prevenção e promoção de vida, devendo o psicólogo que atua neste setor, priorizar as potencialidades, voltando-se para os aspectos saudáveis presentes nas famílias, nas comunidades e no sujeito. O psicólogo deve desenvolver 7 parcerias com outros profissionais, além de articular ações que complementem a intervenção psicológica, visando a integralidade do sujeito, sem desconsiderar a comunidade local, sendo portanto um grande desafio (CREPOP, 2007). Para isso, é importante que o psicólogo seja inserido na comunidade, para além que de construir um vínculo com a mesma, este possa realizar o reconhecimento do território físico (igrejas, comércios, escolas, etc) e sociocultural da comunidade e dos indivíduos que serão atendidos no CRAS, o que irá possibilitar ao profissional uma visão mais ampla sobre as problemáticas locais (SILVA e CORGOZINHO, 2011). A partir disso, o psicólogo poderá juntamente com os usuários do CRAS, estabelecer objetivos e projetos prioritários para a comunidade, a fim de proporcionar melhor atendimento aos usuários desse sistema. As metas e objetivos traçados para a comunidade devem ser pautadas no respeito ao outro, permitindo às pessoas a criação de vínculos saudáveis e o reconhecimento de suas potencialidades, cooperando para a independência e autonomia individual e comunitária. Desta forma, ao criar novas possibilidades, o psicólogo contribui positivamente na vida dessas pessoas, que poderão desenvolver suas capacidades e melhorar a realidade em que vivem, saindo da situação de vulnerabilidade social (SILVA e CORGOZINHO, 2011). Já atuação dos psicólogos nos CREAS exigem análises mais profundas dos contextos singulares das famílias. O profissional deve contribuir para que os sujeitos ressignifiquem suas histórias e ampliem sua compreensão de mundo, levando em consideração o sofrimento vivido, rompendo com práticas culpabilizadoras, e assim possibilitando enfrentamento dessas situações (CREPOP 2013). No CREAS, o público atendido em sua maioria são de crianças, adolescentes, mulheres e idosos, devendo o psicólogo respeitar a individualidade de cada caso. Na prática, dentre outras condutas técnicas, o profissional deve realizar acolhida dessas pessoas (o que exige uma escuta sensível), acompanhamento psicossocial (que é uma ação conjunta com outros profissionais), entrevista para conhecer melhor os casos, visitas domiciliares (que contribui para maior compreensão da família) e intervenções grupais, nos quais há possibilidade de interação e troca de experiências entre os usuário dos CREAS (CREPOP 2013). 8 Desse modo, o psicólogo deve contribuir para autonomia e conscientização dessas pessoas como sujeitos de direito que têm possibilidade de melhorar sua realidade e superar as violações de direitos vividas (CREPOP 2013). Sendo então esse profissional de extrema importância na assistência social. POLÍTICA PÚBLICA – SEGURANÇA Já estava previsto desde 1988, na Constituição Federal, dentre os direitos e garantias fundamentais, em seu título I, art. 6º, o direito à segurança. O trabalho do psicólogo, dentro do sistema prisional é voltado para a garantia dos direitos humanos, priorizando a autonomia do sujeito e procurando fazer com que a Lei de Execução Penal (LEP) seja efetuada de fato, para que se possa ter um resultado positivo. É importante dizer que o assunto abordado tem um valor tanto moral, como material. Os noticiários referentes aos carcerários são de descaso, violência e reincidência. As famílias das vítimas reclamam, pois não entendem a LEP. O egresso não possui nenhuma base econômica, e a oportunidade de emprego é escassa. (BRASIL ESCOLA, 2020) A Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 é conhecida como Lei de Execuções Penais - LEP e regulamenta esta proteção, impondo respeito ao princípio da dignidade humana,assegurando aos presos o direito à saúde, educação, respeito, trabalho, remição, assistência ao egresso, etc. O Jornal do CRP-RJ (2005), citado por Werle (2016), vem afirmar que o trabalho dos psicólogos no sistema penitenciário só foi delimitado de fato com a criação da Lei de Execuções Penais (LEP) em 1984. Assim dispõe a LEP: Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal. Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária. 9 Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política. Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança (BRASIL, 1984). A LEP estendeu o campo de atuação do psicólogo para as penitenciárias e instituiu o exame criminológico e a comissão técnica de classificação (CTC), dispositivos utilizados para fazer o acompanhamento individualizado da pena. Esta comissão é composta por uma psicólogo, um assistente social, um psiquiatra, dois chefes de serviço e presidida pelo diretor da unidade prisional (WERLE, 2016). A atuação do psicólogo no âmbito prisional é muito recente. Ter um psicólogo dentro de um presídio não significa que ele apenas irá realizar laudos e fazer diagnósticos, o trabalho desse profissional vai muito além dessa prática; é saber ter um olhar diferenciado e acima de tudo, fazer realmente a diferença para as pessoas que lá estão (WERLE, 2016). As principais funções do psicólogo nessa área são: Avaliar detentos nas diferentes fases de internamento: inteligência, personalidade, processos psicológicos, habilidade e outros; Elaborar relatórios psicológicos para as autoridades competentes: mediante solicitação e baseada na abordagem criminológica; Elaborar planos de tratamento para cada pessoa privada de liberdade; Executar programas de intervenção psicoterapêutica: individual e em grupo; Realizar diagnósticos de transtornos mentais, distúrbios de comportamento sexual e de alta periculosidade; Desenvolver programas de saúde social e mental Organizar grupos de apoio com detentos: comissão de saúde, disciplina, higiene, etc. Treinar todos os profissionais da equipe técnica e de vigilância (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2020). 10 Assis (2007), citado por Werle (2016) faz uma ressalva de que a sociedade não pode esquecer que 95% do contingente carcerário, ou seja, sua esmagadora maioria é oriunda da classe dos excluídos sociais, pobres, desempregados e analfabetos, que, de certa forma, na maioria das vezes, foram “empurrados” ao crime por não terem tido melhores oportunidades sociais. Há de se lembrar também que o preso que hoje sofre essas penúrias no ambiente prisional será o cidadão que dentro em pouco estará de volta ao convívio social, novamente no seio dessa própria sociedade. POLÍTICA PÚBLICA – SAÚDE BÁSICA Considerando o documento “Referências Técnicas para atuação de psicólogas (os) na Atenção Básica à Saúde”, produzido em 2019 no âmbito do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP, 2019), entendamos por Atenção Básica como “o conjunto de ações em saúde, tanto no âmbito individual como no coletivo, que visa a desenvolver uma atenção integral que impacte positivamente as necessidades de saúde das coletividades e que busca, assim, minimizar as condições de vulnerabilidade da população”. Em abril de 2001 foi sancionada pelo Presidente da República no Brasil uma moderna lei de saúde pública, a Lei 10.216 de 06/04/2001, que dispõe sobre a proteção e direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, impondo novos desafios à sociedade e aos gestores públicos. Na conferência sobre o mesmo tema em dezembro de 2001, houve deliberações importantes para a construção de marcos balizadores de uma nova época na saúde mental conforme fundamentos de justiça e inclusão sociais propugnados pelo SUS (CREPOP, 2019). A relação entre a Psicologia e a saúde no âmbito da Atenção Básica (AB) é profundamente recente, visto que a atuação do Núcleo de Saúde da Família (NASF) foi publicado em 2008. Diante disso, o artigo discute alguns aspectos problemáticos da gestão do trabalho das(os) psicóloga(os) no SUS, como condições de trabalho, vicissitudes do trabalho em equipe, formação na graduação em Psicologia e a educação permanente no SUS, o excesso de demanda presente no trabalho e 11 algumas de suas determinações e dificuldades adicionais do trabalho nos municípios, tanto nos aspectos salariais, quanto na amplitude de responsabilidades. A prática da Psicologia na Atenção Básica, nível primário do cuidado em saúde preconizado pelo SUS, é uma grande conquista, tanto da Psicologia, como da população, que pode agora acessar este saber-fazer. Para tanto, foi preciso garantir, a partir da legislação específica e de muita luta, este espaço de atuação, consolidado pela criação do NASF. Além disso, anteriormente, toda uma legislação sobre a Atenção Básica (PNAB) foi constituída para atender as demandas das populações. Segundo FINKELMAN, o Brasil na agenda tradicional de discussões sobre Saúde Pública, tema Higiene Mental, foi um dos primeiro países da América Latina a criar o curso de Psiquiatria, e o primeiro, em todo o continente americano a fundar uma sociedade nessa área: a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal em 1907. Na mesma obra, FINKELMAN (2002), menciona a mudança do modelo assistencial da saúde mental no Brasil, seguindo os ditames internacionais, saindo de uma centralização de tratamento aos portadores de transtornos mentais em hospitais psiquiátricos especializados (modelo excludente e com estigmatização frequente, cronificação e isolamento) para um modelo de base comunitária. Isso ocorreu após a Conferência de Caracas em 1990 sob a égide da Organização Panamericana de Saúde – OPAS que gerou uma declaração, da qual o Brasil é signatário, implementando um processo de reestruturação de sua assistência psíquica sob a coordenação do Ministério da Saúde. Resultado disso foi a exclusão de inúmeros leitos inadequados e a ampliação da rede de atenção psicossocial de base comunitária. Insta ressaltar, portanto, que a atuação da(o) Psicóloga(o), além de garantir a máxima da Constituição Federal que diz que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”, reflete um dos princípios fundamentais do Código de Ética do Psicólogo (inciso II – O psicólogo trabalhará visando a promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão), demonstrando a relevância das contribuições das práticas psicológicas na política pública de saúde do Estado. 12 Atualmente, estamos vivendo uma pandemia do Coronavírus no mundo, e o Ministério da Saúde, através da Portaria n.º 639/2020, está cadastrando e capacitando profissionais de várias especialidades da saúde para o enfrentamento deste mal. Os Conselhos Federal e os 24 Conselhos Regionais reconhecem a conjuntura inédita que atravessa o país e a importância da construção de alternativas à emergência sanitária em que vivemos e que assegurem o reconhecimento doprofissional de Psicologia e da ciência psicológica como necessários no enfrentamento à pandemia. Eles estão orientando os psicólogos sobre a oportunidade de contribuir para a construção de uma sociedade que reconheça a afirmação e a proteção da vida como absoluta prioridade (CRP-ES, 2020). Inclusive, no Município de Guarapari (ES), a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), está ofertando serviço gratuito de apoio psicológico aos profissionais de saúde da SEMSA que atuam no enfrentamento da pandemia da COVID-19 e aos servidores que estão afastados por medidas preventivas. O serviço será ofertado a distância, por telefone. Tal iniciativa está amparada na Resolução CFP n.º 4/2020, publicada no Diário Oficial da União no dia 30/03/2020, que flexibiliza a atuação destes profissionais de forma remota, revoga a proibição de atendimento remoto em emergências e desastres, mas reforça necessidade de cumprimento do Código de Ética e obrigatoriedade de cadastro prévio na plataforma e-Psi para tal atendimento remoto (GUARAPARI, 2020). CONTROLE SOCIAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Falando em controle social das políticas públicas pela sociedade, as demandas pela atuação do psicólogo têm crescido cada vez mais, e nessa seara o CRP do Rio de Janeiro iniciou seus estudos em 2007, inicialmente por uma profissional e depois tal responsabilidade ficou com a Comissão Regional de Psicologia e Políticas Públicas – CRPPP. “Nosso trabalho é articulado com todos os nossos representantes nos espaços de Controle Social, através de reuniões e outras atividades. O trabalho é de legitimação desses espaços e de articulação política”, explica a colaboradora Suzana Libardi, responsável pelo Controle Social dentro do CRPPP. 13 O conselheiro-coordenador da CRPPP, Lindomar Darós, porém, chama atenção para que o papel do psicólogo não se restrinja a uma representação apenas figurativa dentro dos espaços de Controle Social. “É importante que os psicólogos que estão no Controle Social pensem a potência desse lugar. Os conselheiros estão ali para apresentar posicionamentos e decidir coisas. A discussão é fundamental, mas ela há de ter eficácia”, afirma ele (CRP-RJ, 2010). Marília Veríssimo Veronese questiona no capítulo Práticas Institucionais da obra de Rivero que: “Um sujeito empobrecido economicamente, ou dependente da instituição, ou subjugado em relações de dominação de gênero, classe ou raça, poderá exercer plenamente sua cidadania, seus direitos? Ser é devir, nunca poderemos afirmar algo como necessário. Portanto, é aí que a Psicologia , com suas especificidades (a despeito de sua imensa pluralidade), tem de contribuir. (...) A psicologia precisa então desvelar junto com esse sujeito desejante, que se organiza em instituições, quais as práticas que comporiam um conjunto de ações libertário, que tornasse mais realizado esse sujeito. As práticas institucionais que desejamos levam em consideração a saúde física / psíquica / social do sujeito (este etimologicamente ligado à subjetividade: portanto não é sinônimo de indivíduo, e sim de ator / dispositivo social). A nocividade dos ambientes de trabalho, estudo, convivência, precisa ser trabalhada. A violência da organização do trabalho que se manifesta nas instituições, necessita, para transformar-se, de muita discussão, de programas de desenvolvimento de cunho social e psicológico para gestores e trabalhadores, abordando temas considerados tabus pelas instituições (pobreza, exclusão, sofrimento, coerção, etc) e que ressignifiquem as relações humanas em termos de solidariedade, auxílio-mútuo, justiça e cooperação.” Concluindo, podemos dizer que por várias décadas a psicologia trabalhava voltada não ao coletivo, mas ao indivíduo, o que trouxe a patologização de questões que seriam resultado de problemas sociais. De acordo com o CRP do Rio de Janeiro, isso vem mudando nos últimos anos, mas é preciso consolidar frente à formação do profissional psicólogo. A universidade precisa se atentar para isso, pois em vários cursos não existe sequer a matéria de políticas públicas. 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando em consideração os argumentos apresentados, saber o significado e a importância da políticas públicas é algo básico e essencial, afinal de contas, elas estão diretamente relacionadas à questão do planejamento no setor público e a qualidade desse planejamento e sua efetivação está relacionada totalmente com a qualidade da nossa vida. As políticas públicas afetam diretamente a nós, cidadãos, independente de escolaridade, sexo, raça, religião ou nível social. Ela também abrange todas as áreas como; educação, saúde, segurança, mobilidade, meio ambiente dentre outras, ou seja, políticas públicas são conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelo governo (federal, estadual e municipal) com a participação, direta ou indireta, de entes públicos ou privados. Quando falamos em psicólogo, sempre pensamos na clínica e no atendimento individual, sem considerar as outras formas de desenvolvimento desse profissional, porém, com base no que foi dito, podemos dizer que, com relação às políticas públicas de saúde, a psicologia atua com foco na atenção, promoção, prevenção de saúde, não apenas nos casos de doença mas nas ações que visam a melhoria de qualidade de vida da população. Já na psicologia social, vemos que o psicólogo social pode servir como um auxiliar para elaboração de políticas públicas, seja elas voltadas ao lazer, ao trabalho ou à inclusão social. Quando falamos da importância do psicólogo na segurança pública, nos referimos a garantia dos direitos humanos, procurando fazer com que as leis sejam efetuadas da melhor forma possível para que se possa ter um resultado positivo. Ou seja, a conclusão que tomamos com base em nossas pesquisas, é que o psicólogo em políticas públicas será sempre uma construção, pois deve acompanhar as mudanças sociais e as demandas da comunidade em questão. 15 REFERÊNCIAS AGUIAR, João Paulo de Vasconcelos. História da Previdência Social Brasileira. Nov. 2019. Disponível em <https://www.politize.com.br/historia-da-previdencia-no- brasil/>. Acesso em 04.05.2020. ARAÚJO, Laiana Melo de; SANTOS, Anita Coelho dos. Inserção do psicólogo nas políticas públicas de saúde e assistência social na microrregião de Gurupi, estado do Tocantins. Set. 2013. Rev. Políticas Públicas Psicologado. Disponível em <https://psicologado.com.br/atuacao/politicas-publicas/insercao-do-psicologo- nas-politicas-publicas-de-saude-e-assistencia-social-na-microrregiao-de-gurupi- estado-do-tocantins>. Acesso em 15.04.2020. BRASIL ESCOLA – Lei de execução penal e sua finalidade. 2020. Disponível em <https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/lei-execucao-penal-sua- finalidade.htm>. Acesso em 05.05.2020. BRASIL - Ministério da Saúde. Assistência Social/SUAS. 2012. Disponível em <http://mds.gov.br/acesso-a-informacao/mds-pra-voce/carta-de- servicos/gestor/assistencia-social/suas>. Acesso em 13.03.2020. BRASIL - República Federativa do Brasil. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 15.04.2020. BRASIL - República Federativa do Brasil. Casa Civil. Lei nº 8.742 de 7 de dezembro de 1993. 1993. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742compilado.htm>. Acesso em 15.04.2020. BRASIL - República Federativa do Brasil. Casa Civil. Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984. 1993. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em 04.05.2020. CLP, Liderança Pública. 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